Tag: Biologia

17 jan 2021
NA ERA DA BIOLOGIA O BIOCENTRISMO PRECISA PROSPERAR

NA ERA DA BIOLOGIA O BIOCENTRISMO PRECISA PROSPERAR

Resumo: O texto traz uma reflexão sobre a necessidade de uma visão biocêntrica e da manutenção de posturas sustentáveis para garantir a permanência da Espécie Humana na Terra. É feita uma discussão breve e genérica do conhecimento científico que nos propiciou grandes avanços tecnológicos, mas nos privou de qualidade de vida e nos propiciou riscos planetários, por conta do desleixo com o planeta e os organismos vivos aqui existentes.


Como eu tenho dito, histórica e repetidamente, para os meus alunos, a verdade é que, de fato, estamos vivendo à era da Biologia, como previram NAISBITT & ABURDENE (1990) e nós, Biólogos, temos que tirar toda vantagem possível desse momento. Quero deixar claro que a palavra vantagem nesse contexto, não quer trazer nenhuma conotação de benefício pessoal ou profissional, até porque estou me referindo à Biologia como ciência, cuja preocupação primária é a vida na Terra.

Nesse contexto, estritamente científico, a Biologia e os Biólogos consequentemente não querem, não devem e não podem determinar uma vantagem exclusiva para a espécie humana e muito menos ainda admitir uma vantagem específica para um indivíduo ou um grupo social único isolado dentro de determinado ecossistema, de qualquer bioma do planeta.

A Biologia e os Biólogos estão preocupados com a vida e com o planeta e nesse momento, com a Biologia em alta, nós devemos criar os mecanismos que permitam garantir a vida planetária, inclusive a vida humana.

Estou apenas me referindo ao fato de que a realidade física e química dos diferentes ecossistemas planetários não consegue se manter sem os organismos vivos, suas atividades e suas peculiaridades, como se pensava em outros tempos, quando a Biologia ainda estava por baixo. Ou seja, na atualidade, quando o mundo científico finalmente entendeu, que qualquer ambiente resulta, além das condições físicas e químicas, também da influência exercida pelas diferentes ações dos organismos vivos nele existente a sociedade precisa fazer coro com essa condição. Deste modo, a Biologia e os Biólogos têm que demonstrar, cada vez mais à Humanidade, a importância de todos os organismos vivos para o equilíbrio ambiental do planeta.

Os organismos vivos importam, explicam, atuam e em determinado sentido, até condicionam certos mecanismos e ações planetárias. Esse fato, que ficou esquecido e não foi considerado pela humanidade ao longo da história, atualmente é protagonista das preocupações humanas e das ações dos pesquisadores nas mais diversas áreas do conhecimento. A Biologia deixou de ser considerada uma ciência pouco importante e agora tem começado a explicar melhor o seu papel, além de obrigar a física e a química a se explicarem de maneira mais efetiva no contexto planetário, onde a vida se manifesta.

Se, primitivamente, a física e a química podiam explicar o planeta, sua composição, sua estrutura e seus mecanismos, hoje nós sabemos que a ação dos organismos vivos pode modificar e certamente modifica todo o contexto inicial e isso pode interferir significativamente nos diferentes ecossistemas. Pior ainda, quando consideramos os efeitos produzidos por uma espécie tremendamente adaptável e modificadora da condição planetária e por isso mesmo cosmopolita, como é a espécie humana, principalmente nos tempos modernos com os efeitos tecnológicos influindo diretamente nos diferentes ambientes de toda Terra.

Na verdade, nossa era tecnológica, só passou a ser assumida efetiva, real e totalmente, quando passamos a aceitar e começamos a entender os padrões biológicos nela contidos. Nossa compreensão sobre os vírus e os demais microrganismos, nossa condição de qualificar e quantificar a biodiversidade orgânica, nosso entendimento do DNA e suas consequências, nossa capacidade de encarar e aceitar realmente a evolução biológica como um processo natural da vida.

O momento crucial das ações tecnológicas humanas só se efetivou quando aceitamos o fato de que os fenômenos e atividades físicos e químicos não existem apenas aleatoriamente e que, de alguma maneira, eles estão ligados à possibilidade e à existência da vida no planeta. Em suma, a presente onda tecnológica só acontece verdadeiramente, porque entendemos que Ecologia, Genética e Evolução são partes importantes da Biologia, que atuam na composição de qualquer mecanismo planetário, independentemente daquilo que possamos, a priori, pensar ou querer demonstrar sobre esse mesmo mecanismo, suas causas e suas consequências.

Quando finalmente passamos a conversar mais proximamente com Newton, Lavoisier, Proust, Einstein, Haeckel, Mendel, Darwin e alguns outros estudiosos e cientistas naturais não menos importantes, todos eles ao mesmo tempo, é que começamos a compreender um pouco mais das coisas que acontecem no nosso planeta Terra. Antes disso, criávamos “monstros tecnológicos” puramente físico-químicos, sem nenhuma possibilidade biológica e obviamente o resultado era sempre fictício e improvável, ainda que até pudéssemos dirigir alguns desses resultados aos nossos interesses. Entretanto, hoje sabemos que a realidade biológica vai além daquilo que podemos controlar e estamos meio perdidos no controle de determinadas ações.

Nos últimos anos, entretanto, a evolução da Biologia como ciência natural e a demonstração, cada vez maior, de sua necessidade na “tecnologização” do mundo, trouxe à baila resultados significativos e nos levou a um momento histórico fundamental, que nos permite afirmar que a física e a química não são capazes de produzir o “mundo ideal” sem a presença dos organismos vivos, sejam eles quais forem e que assim o homem não pode assumir seu pretenso poder absoluto sobre as atividades no planeta. Aliás, talvez, até por isso, é que a vida tenha se desenvolvido aqui na Terra, da maneira como nós a conhecemos, mas essa é outra questão, que não queremos e não vamos discutir aqui e agora.

Ao longo dos anos da história humana, sempre nos preocupamos exclusivamente com a vida humana e isso não nos permitiu, em muitos casos (a maioria deles), estabelecer parâmetros comparativos até confiáveis em comparação com a realidade natural. Criamos sempre uma cultura egoísta e antropocêntrica, na qual só tinha valor aquilo que basicamente era referente ao ser humano, as outras espécies vivas não tinham absolutamente nenhum significado na grande maioria das vezes.
Desta forma, colocamos a Sociologia à frente da Biologia e trabalhamos a natureza pela Física e pela Química caminhando sempre na direção e no interesse da humanidade. Na realidade era como se a Biologia, a exceção dos seres humanos, não existia na natureza, para a grande maioria dos pensadores e estudiosos. Tudo era sempre pensado, produzido e dirigido para a espécie humana.

O Homo sapiens, a espécie superior, sempre esteve no centro e acima de todas as demais espécies. Todo o restante do mundo vivo não era importante, pois era meramente considerado. O mundo vivo não humano, consistia apenas de uma “consequência natural” para as nossas necessidades materiais, as espécies vivas que nos servem como recursos e das nossas benesses e virtudes antrópicas, as espécies vivas que nos são agradáveis e por isso nós as deixamos dividir o nosso espaço planetário.

Isto é, toda a inteligência humana, historicamente, foi usada a serviço exclusivo dos seres humanos, como se fôssemos efetivamente a única espécie viva de importância significativa para o planeta. Nunca questionamos os seguintes fatos: por que o mecanismo evolutivo da natureza permitiu a produção de alguns milhões de espécies no planeta? Será mesmo que elas são necessárias? Para que tanto desperdício de matéria orgânica? Ou ainda, como eu já ouvi algumas vezes, para que serve, por exemplo, a barata?

Caramba! Quanto se deixou de entender e fazer sobre o planeta e sobre a vida por conta dessa arrogância humana. Por outro lado, quando se deixou de lado essa visão deturpada e caolha do planeta e dos demais organismos vivos, as coisas passaram vagarosamente a mudar. Finalmente, o mundo, na metade final do Século XX, talvez um pouco tarde, começou a pensar diferente e hoje estamos vivenciando um momento de muitas dificuldades, por um lado, mas de grandes expectativas e de crescentes possibilidades por outro. Certamente ainda existe saída para os erros cometidos pela nossa espécie, mas essa saída será difícil e bastante complicada.

Enquanto a Física e a Química desenvolveram tremendamente e a Sociologia se diversificou muito, a Biologia, até a metade do século XIX, continuava sendo puramente descritiva e informativa, apesar de algumas tentativas de cientistas importantes, como Georges Cuvier e Jean Baptiste Lamarck. Apenas em 1859, com a publicação da Origem das Espécies de Charles Darwin, onde ele apresentou a Teoria da Seleção Natural, desenvolvida com a colaboração de Alfred Wallace, houve uma sacudidela no mundo e só aí, a Biologia começou, mas ainda de maneira rudimentar, a se manifestar como ciência.

Depois vieram Gregor Mendel, Hugo de Vries, Thomas Morgan, Theodosius Dobzhansky, Ernest Mayr, Francis Crick, James Watson, Eduardo Wiley. Richard Dawkins, Edward Wilson, Stephen Gould e vários outros Biólogos menos famosos, mas não menos importantes, que com seus trabalhos contribuíram muito para a ascensão da Biologia. Assim, os Físicos e os Químicos também passaram a observar novos aspectos e outras possibilidades de aplicações de seus respectivos interesses.

A era tecnológica que já se vislumbrava e que já vinha sendo incrementada, desde a invenção da lâmpada, do telefone, do motor, do rádio, da televisão, do cinema, do transistor, do fax e com o conhecimento e aperfeiçoamento do átomo e dos estudos nucleares, passou incluir as ideias da Biologia no seu universo, e aí vieram os submarinos nucleares, os foguetes espaciais, o computador (“cérebro eletrônico”), o computador pessoal, o “chip”, o “notebook”, o telefone celular, os “vírus” e as “vacinas eletrônicas” e tantos outros artefatos assumiram conceitos de base biológica.

Entretanto, a humanidade sempre se esqueceu, ou melhor, não percebeu, que tudo vem da natureza e que todas as coisas, mesmo aquelas produzidas pelo trabalho da própria humanidade, demandam recursos naturais e que os recursos naturais não são eternos. Isto é, essas coisas criadas pela mão humana, também são feitas a partir da natureza e toda vez que se cria algo, são utilizados recursos naturais, e em contrapartida são destruídos (transformados) esses mesmos recursos. Na verdade, em essência, nada é artificial, porque tudo vem da natureza. Além disso, o homem, não sei o porquê, demorou mais enfim, também terminou descobrindo que o uso contínuo e exacerbado de recursos naturais pode levar ao esgotamento de alguns deles.

O homem pode modificar umas coisas e produzir outras, mas a base para a produção é sempre um ou mais recursos naturais e não há como fugir disso. Tudo que existe vem da própria natureza planetária. As maravilhas que a tecnologia cria seriam impossíveis se não existissem os recursos naturais. A Biologia vem gritando isso para a humanidade já faz muitos anos, mas muitos indivíduos dentro dos diferentes setores das sociedades humanas têm sido renitentes e alguns deles parecem que ainda não estão querendo ouvir.

A Humanidade nunca se preocupou muito (na verdade, não se preocupou praticamente nada) em saber, se aquele artefato ou produto que estava sendo feito (produzido ou transformado), era necessário, ou se era muito ou pouco importante, ou se era apenas algo acessório, ou ainda se era tão somente um apetrecho diletante. Quase nunca se avaliou, o quanto a existência desse artefato ou produto se contrapunha a algo (recurso natural) que poderia deixar de existir e que talvez fosse tão importante ou mais que o produto em si.

O que interessava era somente o produto, porque a “mãe natureza” foi uma dádiva do Criador, que está aí apenas para servir a humanidade. Infelizmente, em pleno século XXI, ainda existem muitos seres humanos que acreditam piamente que os recursos naturais do planeta, foram postos por Deus, simplesmente para servir aos interesses do homem. Para esse tipo de ser humano, os recursos estão aí para serem usados e as demais espécies são contingências desagradáveis da própria existência humana. E não se preocupem, porque Deus sempre nos dará recursos.

Entretanto, nós sabemos que tudo aquilo que se usa sem critério um dia acaba e esse fato já aconteceu com vários recursos naturais. Muitos recursos naturais foram destruídos e exterminados em produtos que muitas vezes acabaram sendo também inutilizados posteriormente, pela mesma tecnologia que os havia criado. Foi nessa hora que o homem entrou mais seriamente num conflito incoerente e direto com a natureza. Isto é, no exato instante em que o homem passou a produzir aquilo que não precisa, gastando sem sentido o recurso que a natureza possui pouco ou que já não possui mais. De repente, o recurso natural em questão acabou e aí, também foi o fim também daquele produto.

Além disso, é preciso considerar outro aspecto fundamental, que, no passado, foi costumeiramente deixado de lado. Todo o processo de transformação e produção ocasiona alguma sobra, algum resíduo (poluição e lixo) desinteressante, que muitas vezes é contaminante ou tóxico e pode ser danoso à saúde. Porém, mesmo não sendo prejudicial à saúde, o resíduo ocupa espaço e geralmente não tem onde ser devidamente guardado e muito menos, como ser tratado de maneira segura ao ambiente.

Aliás, aqui cabe lembrar que esse resíduo (poluição e lixo) também é uma invenção exclusiva da humanidade, porque a natureza não produz poluição e nem lixo, porque tudo que a natureza produz, ela mesma desenvolveu um mecanismo para decompor e transformar. O problema é que tem coisas que o homem produz, que natureza não conhece e assim a natureza não conhece e não tem como decompor ou que o processor de decomposição é demasiadamente lento.

Por isso mesmo, ao longo do tempo, o homem sempre teve o problema de se livrar do resíduo e sempre quis se livrar do resíduo e “jogar o lixo fora”. Entretanto, a questão é bem mais complicada, porque não existe “fora”, porque o planeta é um só e tudo fica mesmo aqui dentro mesmo.

Historicamente, nós apenas conseguimos mudar o resíduo de posição. Sendo assim, há necessidade de tratar os resíduos para resolver alguns problemas. Recomendo a leitura dos artigos anteriores, LIMA (2014a e 2014b), onde discuto melhor essa questão.

A humanidade se acostumou com essa triste situação: usar recurso natural e produzir poluição e lixo. Entretanto, ao acabar o recurso, automaticamente ela passava a se utilizar de outro e produzia mais poluição e lixo. Assim, este ciclo infeliz tem continuado indefinidamente até quando o Planeta puder aguentar e, ao que parece, a Terra já não está aguentando e tem, cada vez mais, produzido provas desse fato.

O momento que estamos vivenciando é exatamente esse: já chegamos (na verdade, já passamos) ao limiar do suporte planetário. Muitos dos recursos já acabaram ou estão acabando e muitos de nós, seres humanos, parece que não conseguimos ou não queremos entender que existe necessidade de parar de utilizar esses recursos naturais e de produzir poluição e lixo ou de usar os recursos com parcimônia e com coerência, impedindo ao máximo à formação de poluição e do lixo e reaproveitando de alguma maneira os resíduos possíveis. Precisamos mudar o nosso comportamento em relação ao planeta e ao uso dos recursos naturais.

Por outro lado, com o reconhecimento desses fatos, muitos seres humanos têm tentado frear o abuso do consumo indiscriminado de recursos naturais e da produção de lixo. Ao contrário do que alguns dizem, esses seres humanos não são contra as benesses da tecnologia, mas estão preocupados com a destruição e com o desperdício inconsequente dos recursos naturais.

Finalmente, muitos dos líderes e aficionados da tecnologia já perceberam os riscos e tem feito tudo o que podem para gastar menos recursos naturais. Isto é, usar apenas o necessário e gerar a menor quantidade de resíduos possível. Entretanto, alguns setores da sociedade continuam insistindo em manter o “status quo”, alegando interesses dúbios e se justificando com coisas e situações absurdas.

Desta maneira, estamos numa encruzilhada na qual temos duas alternativas: ou a Sociologia assume as mesmas posições da Física e da Química, fazendo coro com os interesses da vida e do planeta, antes de promover os diletantismos da humanidade ou a espécie humana está fadada à extinção precoce, por conta da carência dos recursos naturais que ela tanto necessita e por conta do acúmulo de resíduos que ela produz. Sempre é bom lembrar, que o resultado do impasse depende única e exclusivamente de nós.

Se a segunda alternativa vier realmente acontecer, a própria humanidade será a única responsável pelo fim da espécie humana. Entretanto, o problema não reside só aí, pois muitas outras espécies, que não têm nenhuma culpa no que se refere ao caos planetário instalado, também perecerão em consequência dessa ocorrência. A Biologia também permite afirmar que o planeta é resiliente e seguirá mantendo os organismos vivos que resistirem e obviamente as novas formas que ao longo do tempo surgirão. Há até quem diga que essa será a “Terra ideal”, ou seja, a Terra sem os seres humanos, mas essa também é outra discussão que fica para depois.

Para concluir, quero registrar que se essa postura for realmente assumida pelo Homo sapiens, ela será ao mesmo tempo criminosa, porque destrói e degrada parte significativa do planeta; assassina, porque mata indivíduos e extermina outras espécies vivas e suicida, porque acabará por extinguir a humanidade. Somente com uma atitude biocêntrica efetiva da sociedade, com respeito a todas as espécies vivas da Terra, com o uso parcimonioso dos recursos naturais e controle efetivo da produção de resíduos e que teremos algumas perspectivas de sobrevivência.

Enfim, na Era da Biologia temos que ter coragem para entender que somente com o desenvolvimento de uma tecnologia sustentável, favorável ao planeta e respeitando a vida nele existente é que poderemos escapar desse futuro degradante e terrível que já está assombrando a muitos seres humanos e que se aproxima rapidamente.

REFERÊNCIAS

LIMA, L. E. C., 2014. O Consumismo e o Grande Erro da Expressão; “jogar o lixo fora”,
www.profluizeduardo.com.br, 2014a.
LIMA, L. E. C., 2014. O Lixo na Natureza e a Guerra Homem X Terra, www.profluizeduardo.com.br, 2014b.
NAISBITT, J. & ABURDENE, P. Megatrends 2000 – Ten New Directions for the 1990’s. New York, William Morrow and Co., 1990.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (64) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.

30 jan 2018

Discurso aos Formandos de Licenciatura Plena em Biologia do Centro Universitário UNIFATEA/2017

Resumo: Discurso proferido, como Paraninfo da Turma de Formandos do Curso de Licenciatura Plena em Biologia (2017) do Centro Universitário Teresa D´Ávila – UNIFATEA, em 24/01/2018, Lorena/SP.


Discurso aos Formandos de Licenciatura Plena em Biologia do Centro Universitário UNIFATEA/2017

Senhor Reitor, Professores e Professoras, Pais e Amigos dos Formandos, Senhoras e Senhores, Meus caros ex-alunos e colegas de profissão, Boa Noite. Meus queridos formandos, não sei se vocês estão lembrados, mas no primeiro dia de aula eu disse para vocês: “doravante vocês são meus colegas de profissão, eu vou fazer a minha parte tentando passar um pouco do que aprendi sobre a Biologia, mas espero que vocês façam sua parte também. Para mim, todos aqui já estão aprovados e eu não gostaria que se preocupassem muito com notas, mas sim que se dispusessem a estudar e aprender”. Pois então, como eu disse, eis que minha previsão estava certa e vocês estudaram, procuraram aprender e hoje estão confirmando o que eu já sabia, desde o primeiro dia em que vi vocês. Posso dizer, sem medo, que certamente vocês constituem uma das melhores turmas que já passaram nesses 15 anos do Curso de Biologia do UNIFATEA.  Muito obrigado por terem me permitido fazer parte dessa bela história que vocês estão escrevendo. Por outro lado, eu também disse para vocês que: “eu sou muito bom naquilo que faço e desafio a quem quiser mostrar o contrário e gostaria que vocês também fossem assim”. Certamente vocês se assustaram com a minha audácia e pretensão. Alguns até disseram para si mesmo: “qual é a desse “velho metidão?” Porém, mais uma vez, parece que eu estava certo, porque se hoje vocês me colocaram na condição de Paraninfo da turma é porque concordaram com aquela afirmativa. Obviamente, que eu fico feliz e envaidecido, porque depois de 62 anos de idade, 42 anos de magistério e quase 40 anos formando Biólogos, ainda sou capaz de ser lembrado e homenageado pelos meus alunos. Muito obrigado mesmo e podem ter certeza que é exatamente isso que me dá força e anima a continuar falando da nossa Biologia. Bem, mas vamos ao que interessa, isto é, a mensagem do Padrinho aos Afilhados. Diz a lenda que o Padrinho é o segundo Pai e que na falta do Pai, o Padrinho assume a responsabilidade de seu afilhado. Sendo assim, quero desde já reafirmar o meu compromisso e no que tange à Biologia e à Educação, podem continuar contando comigo, enquanto eu ainda estiver por aqui, vivendo nesse planeta, o único que parece abrigar essa coisa maravilhosa denominada vida e que hoje está poluído, degradado e esquecido, graças às ações de indivíduos de nossa espécie.  Pois então, vou conduzir minha fala exatamente nesse tema da degradação ambiental planetária pelo Homo sapiens e da grande possibilidade de que brevemente desapareçamos da superfície terrestre, por conta exclusiva de nosso egoísmo e de nossa pretensa superioridade sobre as demais formas vivas. Enganados e pretensamente apoiados por Deus, por conta de uma leitura errada e mal entendida do livro do Gênesis, os seres humanos resolveram se assumir como “Herdeiros de Deus” e “Donos do Planeta”. Nos apropriamos da Terra de forma tal, que não medimos as consequências dos nossos atos. Particularmente, nos últimos 100 anos, reproduzimos e crescemos a população humana de maneira tão absurda, que mesmo com duas grandes guerras e outros flagelos significativos, dos pouco mais de 2 bilhões que haviam nos idos de 1930, hoje já passamos dos 7,5 bilhões de seres humanos e precisamos de espaço para ocupar, de casas para morar, de água para beber, de ar para respirar, de alimentos para comer, de roupas para vestir e de inúmeras outras coisas que a Terra nos fornece gratuitamente. É bem verdade que, apesar de tudo o que fazemos de errado, temos vivido mais tempo, porém às custas daqueles que ainda não nasceram e que talvez nem consigam nascer, porque talvez esgotemos tudo antes de suas vindas e nem tenhamos muito tempo para produzir novos seres humanos para o futuro. Nunca nos preocupamos coletivamente com a espécie, só nos preocupamos individualmente, como se fôssemos seres absolutos. Nossos maiores problemas são o “Rei Dinheiro” e o “Imperador Consumo”, que nos iludem e nos levam rapidamente ao caos, esgotando os recursos naturais. Esquecemos do “Ser” e só pensamos no “Ter”. É preciso lembrar que antes de ter precisamos ser e que só seremos realmente, enquanto o planeta, nosso verdadeiro e único eldorado, nos permitir, porque tudo que utilizamos é o planeta quem nos fornece. Entretanto, a maioria dos humanos não está nem aí com as coisas de natureza, nem com a diversidade planetária. O que a história geológica e toda a evolução levou de 5 bilhões de anos para produzir, nós destruímos em poucas séculos, particularmente no último, e nem demos uma parada para descansar e olhar para trás. Na verdade, somos um grande foguete à busca do “armageddon” que infelizmente deverá levar nossa espécie ao apocalipse final, ao extermínio e a extinção. Em suma, estamos acabando com todo o patrimônio natural, utilizando os recursos de maneira insana e inconsequente. Ocupamos os espaços a nosso bel prazer sem considerar o equilíbrio e a manutenção dos ecossistemas naturais. Passamos toda a nossa história humana produzindo resíduos de todo tipo e nunca nos preocupamos efetivamente em entender o grande mal que isso causa ao planeta, à todas espécies vivas e principalmente à nossa própria espécie, que é a mais dependente de todas. Victor Hugo, famoso poeta francês, que viveu entre 1802 e 1885 já dizia: “é triste pensar que a natureza fala e que a humanidade não a ouve”. Pois então, tem gente, assim como Victor Hugo, preocupada com a situação planetária faz mais de 200 anos, mas os governantes historicamente pertencem ao grupo daqueles que não ouvem a natureza e assim nada fazem para minorar essa situação caótica. Bem, meus amigos, essa é uma formatura de Biólogos, de Licenciados em Biologia e eu também sou Biólogo e Licenciado em Biologia e nós homens da Biologia, melhor que ninguém, sabemos que a humanidade tem caminhado de maneira errada e acreditamos que ainda é possível mudar o rumo, minorar a situação e progressivamente caminhar na linha contrária de tudo que temos visto e feito até aqui. A tecnologia que nos levou ao caos, há de ser a mesma tecnologia que nos levará ao “éden” novamente e que garantirá a vida, além da vinda efetiva e da sobrevivência dos futuros seres humanos. Nós, biólogos do mundo inteiro, temos uma obrigação com o planeta e com a humanidade, porque nós somos os mensageiros da “boa nova”, que permitirá a continuidade da espécie humana na Terra. Infelizmente, temos que estar sempre mostrando o lado ruim, para que as pessoas entendam, mas também temos que apresentar os caminhos que permitirão as devidas soluções. Poucos seres humanos e pouquíssimos profissionais tem a dimensão real da vida como nós temos. Nós sabemos que a Terra é uma grande aeronave e que todos que nela estão são apenas passageiros. Precisamos continuar a nossa viagem evolutiva nesse planeta fabuloso, junto com outras espécies vivas. Aqui no Brasil, nossa responsabilidade é maior ainda, porque apesar de sermos o país possuidor da maior biodiversidade planetária, suportamos os piores administradores públicos do planeta. Um bando de políticos embusteiros e incompetentes que não visualizam, nem de longe, a importância e o significado do Brasil ser um país de megabiodiversidade. Além disso, adicione-se o fato desses sujeitos serem corruptos contumazes e insaciáveis que só se preocupam consigo mesmo, com suas contas bancárias e que se aproveitam do patrimônio natural brasileiro, apenas para aumentar suas riquezas pessoais. Mas, deixemos essa discussão para outro momento. Nós Biólogos sabemos que a Evolução é uma imensa viagem e também sabemos que nossa espécie ainda está muito jovem para chegar ao fim de sua linha evolutiva. A nossa extinção não pode e nem deve continuar sendo antecipada nesse um suicídio coletivo que a humanidade está cometendo e o tempo, cada vez mais curto, segue na direção contrária aos interesses da continuidade de nossa espécie. Nós, os amantes da Biologia, não podemos desistir e temos que lutar firmemente para mudar esse quadro. Para tanto, necessitamos de vontade efetiva, de uma fé imensa, de muito conhecimento e de bastante esperança. Pois então, além de Biologia, foi exatamente isso que procurei colocar na cabeça de vocês, ao longo desse quatro anos de convivência efetiva: “nós Biólogos, temos um compromisso com a vida e com o planeta e não podemos desistir dele”. Meus amigos, colegas de profissão, tenham fé na humanidade, trabalhem para que ela continue existindo e desenvolvam todo o conhecimento possível para demonstrar que tudo pode ser diferente e melhor. É bom lembrar que o impossível não existe, que a esperança é a última que morre e, principalmente, que enquanto há vida há esperança e nós ainda estamos vivos. Desta maneira, enquanto houver vida humana e esperança, tudo sempre será possível. Eu já estou naquela fase em que a gente tem menos tempo para viver do que já viveu e por isso mesmo brevemente não estarei mais aqui na Terra, pelo menos nessa forma humana, mas tenho vontade que a humanidade prossiga e acredito piamente no desenvolvimento científico e na ampliação do conhecimento humano para o bem maior da humanidade. Espero sinceramente que os netos, bisnetos, tataranetos e toda a linhagem evolutiva daqueles que herdarão a Terra, constituam uma plêiade de seres humanos renovados e preocupados com a planeta e com a continuidade de nossa espécie na Terra. Doravante, na condição de Biólogos e Professores de Biologia, cada uma de vocês tem uma missão que vai além da vida de todos nós e de muitas gerações à frente. Biólogos, façam o dever de casa e trabalhem duro para cuidar do planeta para garantir o bem de nossa espécie. Conto com vocês e espero ter feito a minha parte, como exemplo vivo, daquilo que acredito. Vocês me fizeram de espelho ao me escolher Paraninfo, então acreditem como eu e, por favor, façam as suas respectivas partes, porque Deus e a própria humanidade certamente um dia agradecerão a todos aqueles que não mediram esforços para manter a vida no planeta, em particular a vida humana. Abraços a todos e sejam felizes. Lorena, 24 de janeiro de 2018

Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima

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05 set 2016

QUANDO A BIOLOGIA TEM QUE FAZER A DIFERENÇA

Resumo: O texto atual é na verdade uma homenagem em comemorativa do Dia do Biólogo (03/09) e também um chamamento aos Biólogos brasileiros para que invistam melhor e divulguem mais sobre a importância da Biologia e do conhecimento biológico nos tempos atuais. O texto ressalta a necessidade do governo e da mídia promoverem e intensificarem as ações em prol da manutenção da vida humana sobre a Terra e indica que a Biologia e os Biólogos devem ser os principais protagonistas dessas respectivas ações.


QUANDO A BIOLOGIA TEM QUE FAZER A DIFERENÇA

Nos tempos atuais é relativamente comum encontrarmos aleatoriamente, aqui e ali, pessoas envolvidas com as questões ambientais e particularmente preocupadas e com a degradação ambiental em escala planetária causada pelas atividades antrópicas. A Terra já não suporta mais o “bicho homem” e por conta das nossas ações, o ano que deveria durar 365/366 dias completos, “tem terminado cada vez mais cedo”. Este ano de 2016, até aqui o mais curto, chegou ao fim no dia 8 de agosto. Vou esclarecer melhor, pois obviamente o ano continua, de fato, tendo 365/366 dias, mas os recursos possíveis de serem utilizados pela humanidade por ano, têm progressivamente acabado bem antes do final do ano. Embora o ano não tenha acabado, os recursos teoricamente disponíveis deste ano já se foram.

Assim, dos 365 dias deste ano de 2016, os últimos 145, já foram tomadores de recursos que seriam programados para o ano que vem. O pior é que esses recursos também estão se perdendo na ampliação do passivo ambiental que a humanidade tem construído ao longo da história. Na verdade temos vivido uma ilusão semelhante ao “cheque especial”, você gasta aquilo não tem e depois tem que pagar os débitos, com os devidos juros. O problema é que na natureza não existe juros, para cobrir o rombo e o que está perdido, está real e efetivamente perdido. Ou seja, a cada ano perdemos um pouco mais do planeta e de acordo com a maneira como vivemos, não temos como recuperar essa perda e assim o débito só aumenta. Essa situação, obviamente precisa ter um fim, porque se isso continuar, muito brevemente a coisa vai ficar totalmente inviável e aí ninguém, de antemão, pode afirmar o que irá acontecer.

Obviamente existem vários profissionais, das mais diversas áreas do conhecimento e atividades, envolvidos direta ou indiretamente com as questões ambientais em todo o mundo e obviamente todo esse pessoal está bastante preocupado com a situação crítica que se apresenta na Terra. Entretanto, a maior parte desse contingente de ambientalistas, constitui-se de pessoas abnegadas, as quais, por puro “feeling”, ou por fatores e interesses próprios, se engajaram na luta pela melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente, mas sem nenhum jeito e principalmente, sem qualquer conhecimento de causa. Na realidade, não existe quase nada institucionalizado na maioria dos países e assim essas pessoas lutam por que querem, por causa própria ou como se fossem rebeldes sem causa.

A Organização das Nações Unidas (ONU), por sua vez, através do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a partir de agosto de 2000, criou os 8 Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), os quais foram recentemente substituídos e ampliados pelos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e incluídos na chamada “Agenda 2030”. Porém, esses ODS parecem ter sido criados, muito mais como justificativa para apresentar trabalho do que efetivamente para resolver problemas. A “Agenda 2030”, embora muito interessante, não parece ter contagiado a maioria dos 165 países signatários e assim, tudo continua como “dantes no quartel de Abrantes”.

Na área estritamente ambiental, de fato, nada se faz para reduzir o uso dos recursos naturais e reduzir os impactos planetários, ao contrário a exploração insana continua progressivamente. Na área econômica, nada se faz para conter o consumismo inconsequente, ao contrário a propaganda praticamente obriga o cidadão comum a comprar e consumir. Na área social as coisas continuam seguindo praticamente da mesma maneira que estavam antes da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio, 92) e pouco se fez para melhorar de fato a vida das comunidades mais carentes do mundo. Quer dizer, na realidade nós continuamos na mesma balada de violência contra o planeta e as ações efetivas de mudança são muito tímidas ou não acontecem. É claro que existiram melhorias pontuais, mas essas foram pouco significativas para mudar a tendência do quadro drástico que se vivencia.

Por outro lado, nós Biólogos, somos profissionais que temos a devida dimensão da desgraça, pois sabemos exatamente ou deveríamos saber, o que está realmente acontecendo e temos a responsabilidade maior de informar a verdade, de maneira clara e correta, para os demais setores da sociedade, além de exigir a postura adequada dos administradores públicos e sugerir as mudanças efetivas. Cabe lembrar que, pelo menos aqui no Brasil, o governo e a mídia não cumprem bem a obrigação de proteger e divulgar sobre o meio ambiente e tudo que a ele se relaciona.

A Constituição Federal no artigo 225 diz que: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. (Grifo nosso), porém isso tem sido mais “para inglês ver”, do que para orientar os cidadãos brasileiros sobre as verdades. É aquele binômio antagônico que todos já conhecem: “a lei é boa, mas o governo é ruim” e assim o que está no papel, continua apenas e tão somente no papel.

Por conta desse lamentável clima de irresponsabilidade generalizada do governo e pelo desinteresse da mídia, só sobraram a Biologia, o conhecimento biológico e os Biólogos para tentar informar sobre como proceder nas questões ambientais e assim tentar separar o joio do trigo, entre a picaretagem imposta por setores do governo e principalmente da mídia, que só se manifesta quando tem algum interesse significativo, mas sempre tangenciando a questão para não se envolver e correr o risco de perder alguma vantagem adicional. É preciso estar atento à Legislação que anda em constante mudança para atender aos interesses escusos e inverídicos e também a propaganda perniciosa que circula por aí deformando a realidade das questões ambientais.

Recentemente foi encaminhado ao Congresso, o Projeto de Lei (PL) 3200/15, do deputado Covatti Filho (PP-RS). O citado deputado tratava agrotóxico (veneno), com o singelo nome de “produto fitossanitário” e pretendia substituir a atual Lei de Agrotóxicos (Lei Federal 7.802/1989) e ninguém ouviu falar nada sobre isso, tão pouco a imprensa publicou alguma coisa, sobre a tal “comissão especial” que seria criada para analisar o referido projeto e muito menos sobre o andamento desses trabalhos. Em março de 2016, o referido projeto foi apresentado e aprovado por unanimidade no Parlamento do Mercosul sob coordenação do senador Roberto Requião (PMDB-PR) e teria sido aprovado no Senado se não fossem as pressões dos ambientalistas e da sociedade civil em geral, através das redes sociais e também através de cobranças mais diretas sobre alguns parlamentares. Mas, por felicidade, os ambientalistas, aqueles abnegados de quem falei acima, ganharam mais uma batalha e o projeto foi arquivado.

Entretanto, não dá para esmorecer, porque outros do mesmo nível, visando facilitar os interesses das empresas produtoras desses venenos estão embrionados por aí e breve vão tentar eclodir. É preciso ficarmos atentos, porque os interesses são muitos e a mídia não fala nada sobre o assunto. O lobby do setor agroquímico é muito grande e muito forte, pois cala a boca da imprensa, ludibria alguns setores do governo que deveriam impedir certas leis e “gratifica” outros setores governamentais para conseguir seu intento. Então, a diferença para tentar equilibrar essa balança absurda de interesses perniciosos para alguns ambientes específicos, ou para o planeta como um todo, só pode ser feita pelos setores mais radicais do ambientalismo e por setores técnicos e científicos da Biologia Ambiental (Ecologia) como ciência e pelos respectivos profissionais dessa área.

As questões ambientais necessitam ser tratadas como prioridades científicas, antes de interesse políticos e principalmente devem ser entendidas especificamente como necessidades ambientais e sociais, antes de quaisquer interesses puramente econômicos. Essas questões precisam ser consideradas como prioridades máximas, dentro de preceitos estritamente biológicos, porque do contrário, não haverá solução para a maioria das questões planetárias e para a continuidade da espécie humana na Terra.

É necessário que sejam desenvolvidos programas de orientação e divulgação verdadeiros, com boas técnicas de linguagem e comunicação, para que o Brasil possa recuperar o passivo ambiental, além de promover e aplicar novos padrões tecnológicos no setor de meio ambiente. Esses programas deverão divulgar, informar e principalmente transmitir para as comunidades todas as alternativas possíveis nas diferentes questões. Os órgãos ambientais precisam cumprir as suas obrigações legais e desta maneira se estabelecerem como órgãos ambientais de fato e de direito, deixando de fazer concessões absurdas para grupos de interesses.

Como já foi dito, no atual estado de coisas, além dos ambientalistas, apenas a Biologia e nós Biólogos, somos os responsáveis primários por levantar os problemas, identificar suas causas e propor metodologias para as respectivas soluções, encaminhando essas informações aos governos (nas 3 esferas do Poder) e à mídia. Por outro lado, existe a necessidade de que essas coisas sejam efetivamente promovidas pela mídia e tratadas com a devida austeridade pelos governos. Os setores de meio ambiente dos governos foram criados e existem para garantir a manutenção dos ambientes em condições sadias e equilibradas, perpetuando a qualidade ambiental e não para defender interesses corporativistas de quem quer que seja.

Transparência nas ações é a condição primária para a manutenção da qualidade ambiental e somente a Biologia, como ciência da vida, desobrigada de qualquer envolvimento com outras causas e interesses, será capaz de produzir ressonância e trazer as respostas comunitárias e sociais, integralmente compatíveis com os verdadeiros interesses planetários. Os anseios de vida longa para a nossa espécie, dependem totalmente das condições planetárias favoráveis e somente atitudes biocêntricas poderão conduzir a humanidade à possibilidade de uma existência mais longa no planeta.

Nós Biólogos, temos, pois, que fazer o dever de casa, que consiste em: introduzir o cérebro na pesquisa, enfiar a mão na massa e a colocar a boca no trombone. Só nós, profissionais da Biologia, de fato e de direito, somos capazes de entender que a extinção prematura da espécie humana se aproxima de forma clara e rápida. Por outro lado, também só nós somos capazes de interceder e tentar impedir que essa desgraça ocorra tão rápido quanto se desenha. Parece incrível, mas o mundo necessita de nós e conforme o tempo passa, essa dependência está ficando cada vez maior e não é possível que apenas alguns de nós participem mais ativamente dessa luta pela manutenção da vida humana na Terra.

Essa verdade insofismável e também bastante inconveniente, de que a espécie humana está perto do fim, ainda não parece ter sido entendida pelas comunidades pelo mundo afora e aqui no Brasil menos ainda. Aliás, a sociedade em geral, nem tem, absolutamente, nenhum conhecimento de que esse é um risco real iminente, até porque, além da própria mídia não acreditar nisso e dos governos não estarem nem aí para esse fato, muitas religiões atuam na contramão da humanidade e a favor da extinção da espécie, porque se mantêm arcaicas e reforçam os erros produzidos ao longo da história. Assim, ninguém encara as questões ambientais globais dentro da realidade e seguimos “brincando com fogo”, até que o fim da humanidade chegue.

Somente com uma mudança radical de comportamento é que vamos conseguir nos manter vivos no planeta por um tempo mais significativo. A Biologia tem que fazer a diferença para que essa mudança aconteça. Isto é, as verdades biológicas relacionadas com a dinâmica das populações, com o crescimento exacerbado das populações, com a resistência do meio, com a limitação física dos ambientes e outras, precisam ser ditas e evidenciadas para toda população humana, independentemente de qualquer interesse contrário.

É preciso dar uma chance a humanidade para que ela, pelo menos, possa tentar não sucumbir tão rápida e assustadoramente. Questões individuais ou mesmo de grupos específicos não podem mais ser respaldadas ou consideradas interessantes e nem devem servir de modelos, pois apenas os interesses planetários coletivos e a manutenção da espécie humana têm que ser as únicas prioridades para a humanidade e o povo brasileiro precisa estar efetivamente engajado nesse princípio.

Que nesse 3 de setembro, em que completamos 37 anos de regulamentação de nossa profissão, nós Biólogos brasileiros, sejamos capazes de levar a cabo essa ideia da importância da Biologia na luta pela preservação do planeta e da vida, particularmente aqui no Brasil, onde ainda existe bastante falta entendimento e interesse dos governantes, da mídia e consequentemente das comunidades. E necessário também, que esse 3 de setembro seja um marco para que nossa profissão possa crescer para tentar alcançar o mesmo nível de importância que já conseguiu em outros países.  Se a Biologia como ciência e possivelmente a única alternativa viável para as soluções planetárias, o Biólogo como profissional da Biologia tem que ser o ator principal no solucionamento dos problemas planetários e o Brasil precisa saber disso. Parabéns a todos e vamos à luta.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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03 set 2014

A Biologia, o Pensamento Evolutivo e a Sociedade

Se formos levar em consideração o fato de que a Biologia como Ciência não pode existir sem a Teoria da Evolução, facilmente iremos entender e concordar que nós, Biólogos, somos pessoas diferentes da maioria das pessoas e acabamos incomodando bastante a sociedade por conta de nossas atitudes naturalmente desenvolvidas em prol do evolucionismo. Essa nossa maneira generalizada de pensar e de agir evolutivamente contraria direta e indiretamente certos preceitos e desagrada muitos setores da sociedade, mormente alguns dogmas religiosos. Além disso, essa nossa postura ainda questiona certos conceitos inverídicos (crendices) e padrões sociais absurdos arraigados em muitos indivíduos dentro dos mais diversos grupos sociais. Isso obviamente também esbarra no conceito que a Sociedade em geral tem sobre nós e nossa profissão.

Há momentos em que somos venerados por conta de nossa preocupação com a vida, somos quase “super-heróis da natureza” e há outros momentos em que somos odiados pela nossa pretensa condição ateísta, manifestada por alguns setores da sociedade, no intuito exclusivo de nos colocar contra a opinião pública. Assim, quando nos referimos as questões relacionadas a salvar a vida humana no planeta e a biodiversidade, por exemplo, somos adorados pela sociedade em geral, porém, quando nos referimos ao pensamento darwiniano básico da seleção natural ou ao nosso parentesco evolutivo com os demais Primatas, por exemplo, vamos ao inferno no conceito social.

Em suma, a Sociedade nos vê de uma maneira bastante controvertida e às vezes totalmente contraditória, embora cada um de nós seja uma pessoa única, parecemos ser camaleões, como se sofrêssemos uma adaptação mimetista no pensamento social. Nossa profissão, por sua vez, flutua desde a mais total pureza, chegando às raias da ingenuidade, até a absoluta maldade, com todos os ares de perversidade que se puder conceber. Num instante somos bons e justos e no momento seguinte somo maus e perversos.

Eu tenho mesmo alguns amigos que aparentemente me adoram pela minha preocupação com a natureza e com a vida, porém sou proibido de comentar com eles sobre qualquer tema relacionado à Evolução das espécies. Pois é, por mais que a Evolução tenha a ver com a Biodiversidade planetária, grande parte da sociedade separa essas questões de forma diametralmente oposta. Quer dizer, a verdade natural do processo evolutivo que permitiu construir toda diversidade orgânica do planeta ainda não consegue ser percebida pela maioria da sociedade e, o que é pior, por questões alheias ao problema em si.

Conheço mesmo algumas pessoas que acreditam que Darwin e seus seguidores (eu inclusive) são pessoas incoerentes e mal intencionadas que querem negar a existência de Deus e descaracterizar toda e qualquer crença divina. Por outro lado, fico pensando o que é mais incoerente: o Deus bom que deixa acontecer coisas ruins ou o homem ignorante que se mantém alheio à realidade planetária e que atribui a Deus os absurdos que são cometidos pelo próprio homem contra a natureza? Além disso, parece que para alguns basta pensar assim: “como foi Deus quem criou as espécies, então Ele que cuide, pois o homem não tem nenhuma responsabilidade sobre a natureza”. O homem se coloca numa condição de exclusão da natureza, esquecendo que também é produto dela e, o que é pior, que tem tudo a ver com o atual estado de coisas.

Assim, a humanidade pode ficar esperando que Deus resolva todos os problemas naturais que a própria humanidade criou, porque, segundo esse pensamento, a espécie humana obviamente é uma entidade diferente, que se encontra acima de toda a Biodiversidade planetária. Essa transferência de responsabilidade é, no mínimo, mais cômoda para a humanidade, entretanto, é tremendamente drástica para o planeta. A atitude humana, oriunda desse pensamento incoerente e inconsequente é mais ou menos o seguinte: “Deus que se vire e o planeta que se dane!” Até aqui, com esse pensamento irresponsável e anti-evolucionista da sociedade humana o planeta e a própria espécie humana só tiveram prejuízo.

Mas, por que isso acontece dessa maneira? O que faz a maioria das pessoas pensar e agir dessa forma tão radical e antagônica aos interesses planetários e mesmo humanitários? E nós, Biólogos, temos realmente alguma coisa a ver com isso?

Provavelmente eu também não tenha as respostas corretas para nenhuma dessas questões propostas, entretanto eu gostaria de dar alguns palpites e opinar um pouco sobre o assunto. É bem possível que eu não convença ninguém com meus argumentos, mas discutir certas questões é um bom exercício de intelecto, além de ser algo fundamental para o desenvolvimento final de conceitos e eu quero aqui expor e defender o meu pensamento.

Primeiramente eu quero dizer que independente de qualquer religião ou filosofia de vida, não dá mais, de maneira absolutamente nenhuma, para não se aceitar a Evolução como um fato natural, ao qual estão sujeitas todas as espécies vivas do planeta, inclusive nós, os seres humanos. Até porque, além da incoerência apresentada anteriormente, já está cientificamente provado, faz pelo menos 60 anos, que a vida teve uma origem bioquímica a cerca de 3,5 bilhões de anos atrás e a Evolução foi o mecanismo que permitiu a existência da grande diversidade de espécies vivas. O que ainda se discute e provavelmente nunca se deixe de discutir, são os diferentes mecanismos que propiciaram e capacitaram o acontecimento evolutivo ao longo do tempo.

Aliás, é exatamente aqui, onde a Ciência discute o “como acontece”, que os anti-evolucionistas, os embusteiros e os picaretas de plantão, teimam em questionar o “que acontece”, alegando os maiores absurdos possíveis e tentando negar à realidade científica, através de argumentos risíveis e que chegam às raias da idiotice. Lamentavelmente a opinião pública é facilmente direcionável e sofre grande influência da mídia, enquanto a Ciência não faz proselitismo de suas descobertas e convicções, até porque essa não é sua função. A Ciência apenas tenta progredir no conhecimento das coisas para tentar melhorar a vida da humanidade, enquanto alguns segmentos retrógrados dessa mesma humanidade querem continuar a demonstrar o que não existe para defender interesses questionáveis, burlescos e algumas vezes até mesmo escusos.

De qualquer maneira, é claro que eu entendo que seja pouco provável que a maioria das pessoas simplesmente abandone, de uma hora para outra, a ideia de que um demiurgo seja o criador de todo o Universo e do planeta Terra em particular, com todas as formas vivas nele existente. Até porque, isso envolve uma série de questões que, lamentavelmente, ainda não podem ser entendidas pela maioria da população humana, por conta da falta generalizada de informações e de conhecimentos, mormente conhecimentos científicos. Assim, não vou aqui tentar brigar com as crendices e nem com os picaretas de plantão, que se aproveitam da situação de ignorância da população. Vou apenas apresentar a minha opinião e sugestão sobre a questão que poderia ser bem aproveitada pela mídia, se existisse, de fato, um interesse em tirar a humanidade da ignorância.

Proponho que sejam unidas as duas maneiras fundamentais de pensar e que se crie uma terceira maneira oriunda dessa união e que possa ser admitido o demiurgo e também a Evolução concomitantemente. Quero deixar claro que não é impossível pensar assim, até porque eu e muitas outras pessoas que conheço somos exemplos vivos desse tipo de pensamento. Ao contrário do que muitas pessoas são levadas a pensar, acreditar em Deus não impede que se admita a Evolução e muito menos a Evolução impede ou desqualifica a crença em Deus. Como eu já disse lamentavelmente isso é um mito desenvolvido pelos picaretas de plantão, infelizmente reforçado pela mídia e distribuído para sociedade. Na minha maneira de pensar, Deus e a Evolução não são apenas compatíveis, ambos podem até serem concludentes.

Admitindo, a priori, que Deus tenha efetivamente criado o Universo como ele está até hoje e considerando o grau de diversidade biológica e de fenômenos naturais que existem no universo, certamente não haveria possibilidade nenhuma de manter o controle efetivo de todas as coisas ao mesmo tempo, pois o grau de complexidade de fenômenos é quase que infinito. Assim, certamente as coisas se organizam por processos físicos e químicos que acontecem por causas estritamente naturais e assim a Evolução, independente de Deus, segue seu curso. Deus pode ter definido os extremos, mas não tem como controlar indistintamente todos os processos ao mesmo tempo e assim esses processos só podem ocorrer aleatoriamente, isto é, ao acaso e por conta dos mecanismos evolutivos. As coisas que existem aqui no planeta podem até terem sido estabelecidas, a priori, por um Deus, mas sua continuidade é obra da seleção natural e do acaso evolutivo.

É bom a gente recordar que a Seleção Natural não dimensiona o acaso, mas dimensiona os resultados evolutivos como sendo obras do acaso que tenham valor de sobrevivência para as espécies. Na verdade, o que se chama de acaso é a escolha da melhor opção entre as inúmeras que são apresentadas. O que é vantajoso tende a sobressair sobre o que não é vantajoso e assim tende também a se manter evolutivamente. É importante que não se coloque uma condição totalmente aleatória e desvinculada do interesse da espécie em sobreviver quando se pensa em Evolução, porque é exatamente isso que as pessoas de má índole, que estão apenas preocupadas em negar o processo evolutivo a qualquer custo, fazem para tentar ridicularizar o pensamento e a lógica evolutiva aos que desconhecem totalmente o assunto.

A Evolução não tem nenhum propósito em si mesmo, a vida é que tem objetivos estabelecidos. O principal propósito da vida, aquele que realmente interessa, é continuar a viver e vivendo cada vez melhor. Isto é, a vida está sempre querendo melhorar a vida e o resultado dessa melhora é o que se chama Evolução. Assim, a Evolução se estabelece através de mudanças ocasionais boas e ruins. Entretanto, como as mudanças boas (aquelas que favorecem a vida) são mais interessantes ao propósito da própria vida, então elas tendem a se manter e a continuar ao longo do tempo. Já as mudanças ruins (aquelas que não favorecem ao propósito da vida) tendem a não se manter e assim desaparecer ao longo do tempo. Esse mecanismo que tende aglutinar o bom e rechaçar o ruim é muito fácil de ser entendido e não há nenhuma necessidade de interferência divina para que ele possa ocorrer. Além disso, também não há, a priori, nada de imoral, de herege ou contra a aceitação de um Deus nessa maneira de pensar e proceder. Esse é apenas um mecanismo natural e admitir que isso ocorra não é, em hipótese nenhuma, negar a existência de Deus ou tentar reduzir sua importância.

Se existe mesmo aquilo que grande parte da sociedade convencionou chamar de pecado, quero acreditar que pecado é negar a realidade biológica e natural para satisfazer interesses outros e se aproveitar da condição de dependência intelectual ou mesmo psíquica das outras pessoas, como fazem alguns setores da sociedade, particularmente certas religiões e alguns falsos profetas de determinadas religiões. Entretanto, em contra partida, é bom lembrar que existem outras religiões que entendem e acatam perfeitamente o processo evolutivo como sendo a única maneira possível de esclarecer o alto grau de diversidade biológica planetário.

Não há pecado e nem crime nenhum em admitir a Evolução e muito menos certamente existe ateísmo nessa maneira de pensar. Ao contrário, para os mais religiosos, talvez até o mecanismo evolutivo possa ser considerado uma maneira mais eficaz de demonstrar a beleza, a capacidade e a grandeza de Deus, quando deixa a vida traçar o seu ritmo a partir do interesse e da necessidade natural da própria vida em se manter e continuar. A genialidade de Deus poderia estar demonstrada no fato de ter permitido a existência de um mecanismo que se auto gerencia e se mantém independente de qualquer infortúnio ou ação externa. A natureza segue seu caminho no interesse único da vida.

A perfeição de Deus poderia ser dimensionada quando atribuiu a possibilidade da Evolução produzir uma espécie como a nossa. Pena que as pessoas são tão pequenas que se quer se disponham a parar, pensar e tentar compreender que se Deus existe, Ele é algo muito maior e está muito acima dessa discussão tola que só favorece a alguns embusteiros e que acaba por garantir à manutenção da ignorância de muitos indivíduos da espécie humana.

Mas a manobra articulada foi tão bem feita, que os embusteiros de plantão polarizaram a coisa de tal forma que parece que humanidade é composta apenas de dois grupos radicais e distintos de pessoas: os cegos pela fé e os cegos pela razão. Talvez, seja melhor a espécie humana começar a enxergar e ver que cegueira nenhuma é boa e que a manutenção do planeta e da vida independem das pessoas serem evolucionistas ou não. Com ou sem pensamento teísta, pelo menos até aqui, só destruímos o planeta e a vida. Isso certamente não é bom e o pensamento evolucionista sempre nos mostrou essa verdade, mas a maioria de nós nunca se dispôs a ver a realidade natural.

Alguns amantes da Biologia e os Biólogos mais especificamente, talvez componham o grupo profissional em que a realidade do processo evolutivo esteja mais clara, mais evidente e mais presente. Por isso a sociedade algumas vezes desconfia desses profissionais de Biologia. Estou convicto de que a sociedade quer estar do nosso lado, mas ela precisa ser mais bem informada sobre a realidade e nós temos que continuar fazendo o nosso trabalho, procurando trazer a sociedade cada vez mais próxima de nós. Isso só será possível, quando conseguirmos fazer com que as verdades sejam ditas e popularizadas nas populações sem qualquer conotação pejorativa e sem qualquer atitude inconveniente dos setores que querem manter o atual status quo.

Albert Einstein disse certa vez que só existem duas maneiras de pensar sobre milagres: “ou os milagres não existem ou todas as coisas são milagres”. Pois então, eu sugiro que fiquemos com a segunda alternativa, isto é, que “todas as coisas são milagres”, inclusive Deus e a Evolução. Porque só assim, independente de nosso nível intelectual e de nossa posição pessoal em relação à aceitação da Evolução Biológica e dos processos evolutivos, seremos capazes de deixar o milagre da vida continuar existindo em nosso planeta. Que Deus tenha pena de nós, mormente daqueles entre nós que insistem em negar a realidade natural, pois, a meu ver, esses é que são os verdadeiros ateus e que fazem um grande mal à humanidade e ao planeta.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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