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09 mar 2014

O País do Futebol, do Carnaval e dos “Black Blocs”

Por conta do Carnaval, estamos tendo uma trégua nas “manifestações” contra o aumento das passagens e os gastos da Copa do Mundo de Futebol, porque obviamente os “black blocs” e outros baderneiros menos conhecidos estarão muito ocupados com outras questões que, para eles, talvez sejam mais importantes, pois estão relacionadas com a segunda maior paixão nacional, o carnaval. E assim, não é hora de fazer reivindicação política e muito menos social, no período do carnaval é só folia e prazer. Aliás, “é só alegria”, como diz o ditado popular. Durante o carnaval as passeatas são outras, elas consistem nos diferentes desfiles das Escolas de Samba e dos Blocos Carnavalescos nas avenidas pelo país afora, ou nos Grandes Cordões em Clubes, Praças e Ruas do Brasil, onde vão se desenvolvendo importantíssimas atividades festivas e carnavalescas, mas que não acrescentam efetivamente nada à vida das pessoas. Enfim, cobrança política não existe em tempos de carnaval.

Nessa época, nem mesmo o futebol é capaz de ser considerado algo de destaque no interesse nacional. O carnaval supera tudo e os “black blocs” estão aí para confirmar esse fato, tirando férias para se divertirem um pouco durante o carnaval. E assim, no momento presente, futebol não pode, política não pode, mas carnaval não só pode, como deve. Passeata só mesmo das agremiações carnavalescas como já foi dito e obviamente essas passeatas são regadas a muito álcool e outras drogas mais sofisticadas, mas, graças a Deus, nunca de “coquetéis molotov”. Como só se morre e se mata de prazer, costumam ser encontradas também muitas mulheres peladas e homens travestidos, além de obviamente muito samba no pé. Mas os “black blocs” continuam mascarados, apenas por hábito, mas não têm medo de que suas respectivas identidades sejam reconhecidas. É curioso, mas a máscara é uma característica marcante e comum nos carnavais e nas manifestações políticas.

Eu sinceramente não sei se o pior é o futebol ou é o carnaval para o Brasil e toda a sociedade brasileira, mas sei que ambos têm imensa capacidade massificante e que ambos fazem muito mal à política do país. De qualquer maneira, nesta semana, tudo será possível em nome da grande festa do Rei Momo. Aliás, é bom que se diga, uma festa efêmera e profana, que costuma trazer grandes prejuízos sociais, apesar da aparente alegria. Entretanto, por causa desse efêmera alegria, o carnaval sempre foi tempo de trégua e engodo para as lutas políticas.

Francisco Buarque de Holanda, o velho Chico Buarque, (o velho, porque o atual já mostrou que politicamente também é um mal caráter), já falou sobre o engodo carnavalesco no samba “Vai Passar”. Existe dois momentos da letra, particularmente interessante, no primeiro ela diz assim: “e um dia afinal, tinham direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia, que se chamava carnaval” e no segundo ela diz: “meu Deus vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar a evolução da liberdade, até o dia clarear”. Pois é, será que é isso mesmo que estamos vivenciando?

Sérgio Porto, o saudoso Stanislaw Ponte Preta, conta em seu “Samba do Crioulo Doido”, que o compositor crioulo ficou doido com tanta informação histórica e acabou trocando tudo e todos. O que chama a atenção nos inúmeros erros de fatos históricos apresentados na letra desse samba é que isso pode ser um indicativo de que a história do Brasil, talvez seja menos importante do que o carnaval e assim tanto faz os erros, o que importa é o samba e o carnaval.

É como disse o Músico Marcelo Nova, líder da Banda Camisa de Vênus, quando entrevistado pelo repórter de uma rádio de Taubaté/SP, na véspera de um show que a banda fez na cidade há alguns anos atrás. “Música aqui no Brasil é bumbo e bunda o resto não importa”. Pois é, embora o repórter estivesse se referindo à Música em geral, o Marcelo Nova respondeu que onde tem samba mulher de bunda de fora, todo o restante é insignificante. Pois então, é por isso mesmo que o Carnaval assume essa importância magnânima na massificação da população do país. Confesso que mesmo não gostando do tipo de música de Marcelo Nova e sua banda, tenho que concordar que ele tem razão.

João Bosco e Aldir Blanc também relatam a importância do futebol na letra do samba “Se meu time não fosse o campeão”, quando dizem assim: “e ele gritou gol, fiel a paixão. Salve o meu time querido do meu coração. Hoje eu só quero saber da comemoração e nem quero pensar, se meu time não fosse o campeão. Sorrindo ele me segredou, nós fazia uma revolução”. Os mesmos autores, na letra do samba “De frente para o Crime”, também citam “tá lá o corpo estendido no chão, em vez de rosto uma foto de um gol” …. “sem pressa foi cada um pro seu lado, pensando numa mulher ou num time, olhei o corpo no chão e fechei minha janela de frente pro crime”.

Bem, em suma, no carnaval tudo pode, até mesmo os Ministros do Supremo Tribunal Federal voltarem atrás, absolvendo e liberando bandidos políticos consagrados e contumazes, contrariando os interesses da opinião pública nacional e manifestando total dependência política do governo. Interessante é que sobre esse fato, estranhamente, não apareceu nenhum “black bloc” para fazer qualquer quebradeira ou mesmo alguma caminhada ou comentário crítico. Por que será?

Eu particularmente não sou nada a favor do Brasil sediar uma Copa do Mundo, mas confesso que gosto de futebol, da mesma forma que gosto de samba, mas odeio o carnaval, porque acho que o carnaval é apenas um circo a mais nesse país tumultuado, onde o povo, infelizmente, ainda vive de pão e circo. Entretanto, independentemente desse meu sentimento pessoal, acredito que agora essa discussão sobre a ocorrência da copa do mundo no Brasil é inócua e inoportuna, porque agora, lamentavelmente, Inês é morta e não há como mudar a situação.

Minha dúvida é a seguinte: por que não se brigou contra a possível vinda de uma Copa do Mundo para o Brasil, no momento em que ainda era possível impedir a sua vinda? Será que esses “manifestantes” estão mesmo contrários à Copa do Mundo? Não sei não, mas para mim, isso é só pretexto para fazer tumulto e acabar, ainda que ocasionalmente, como já aconteceu, cometendo assassinatos de pessoas que estão trabalhando durante as passeatas.

Aliás, o que é típico da esquerda festiva que só sabe “agitar a massa para fazer bolo” e infelizmente nada mais. Infelizmente os manifestantes acabam sendo rebeldes sem causa que são usados como massa de manobra de alguns grandes figurões. Pena que os efeitos colaterais produzidos por essas “manifestações”, como a morte do jornalista da Bandeirantes, não sejam punidos exemplarmente. Alguém morre no exercício de sua profissão e fica por isso mesmo, pois tem até Deputado pronto para oferecer ajuda aos criminosos. Caramba! Esse país é coisa de doido mesmo.

O Governo Brasileiro que anda muito preocupado com a situação econômica dos médicos cubanos, com auxílio aos pobres do Haiti, com a crise política na Venezuela e outras coisas que não têm nada a ver com o Brasil, talvez precisasse passar a lembrar que foi eleito para administrar o Brasil e não outros países, por mais que eles necessitem. Além disso, precisa lembrar ainda que o Brasil tem mais de 200 milhões de pessoas e não apenas aqueles cerca de 60 milhões que estão sendo compradas e usadas politicamente com inúmeros tipos de “Bolsas e de Cotas de qualquer coisa”. Mais uma vez eu pergunto: porque os “black blocs” não reclamam desses fatos? Será que essas “manifestações” são apenas para desviar a atenção?

É claro que, mesmo gostando de futebol, esse custo absurdo em estádios superfaturados é uma afronta e obviamente incomoda muito a mim e a qualquer brasileiro sensato, porém os estádios construídos serão de TODOS os brasileiros e “as bolsas e as cotas qualquer coisa” são apenas para os AMIGOS e algumas outras pessoas ocasionais, para fazer de contas que a coisa é séria. Além disso, aqueles que não recebem “as bolsas e cotas qualquer coisa”, acabam pagando para aqueles que recebem. Aqui cabe lembrar que o governo, em momento algum, questionou se aqueles que pagam, gostariam de estar pagando por tudo isso. O governo apenas decidiu que ia ser assim e pronto. Esse governo, na sua artimanha política de “favorecer aos pobres”, usa o dinheiro de alguns, no interesse de outros e que se exploda o avião. Aqueles que pagam não têm nem onde reclamar desse descalabro. O pior é que os membros do governo chamam isso de Democracia.

Não sei, mas eu devo ser muito ignorante, porque eu acho uma grande incoerência um governo que se diz democrático governar promovendo Medidas Provisórias, impondo regras absurdas, arbitrárias e ilógicas de distribuição de benefícios e de renda, definindo coisas a “bel prazer” e mandando os contribuintes pagarem, através da Maior Carga de Impostos do Mundo. Pois é, e o “black blocs” não parecem estar preocupados com isso. Os problemas deles são apenas as passagens de ônibus e os estádios da Copa do Mundo. Está parecendo até que os “black blocs” não são atingidos em nada pelos outros fatos. Para eles, legal mesmo é cobrir a cara com uma máscara e quebrar o patrimônio dos outros que trabalharam para conseguir, haja vista que nenhum deles e nem quem os financia deve pagar impostos normalmente e muito menos deve ser dono de lojas ou coisa parecida.

Bem, fica aqui a questão: depois do carnaval, teremos a volta da quebradeira? Se a resposta for sim, então talvez fosse interessante prorrogar o carnaval até a copa do mundo, pois assim não haveria quebradeira até lá. E durante a copa do mundo, os estrangeiros que aqui estiverem sofrerão em igualdade com os danos produzidos pela ira dos “black blocs”? E depois da copa, o que acontecerá? Bem, vamos aguardar para ver o desfecho.

Ah! A propósito, eu ia me esquecendo. Mas, no segundo semestre desse ano de 2014, nós também teremos uma eleição nacional e logo depois da copa do mundo começa a campanha eleitoral. Ao que parece, segundo as pesquisas eleitorais prévias, a coisa não vai mudar e no fim a situação vai ficar do mesmo jeito que está aí, ou quem sabe pode até piorar. Aí eu pergunto, mais uma vez: porque os “black blocs” não aproveitam suas “manifestações” para tentar promover propostas claras de mudanças políticas profundas que possam efetivamente mudar a cara desse país? Porque, por exemplo, não trabalhar seriamente para propor a mudança desse governo que está aí?

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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17 fev 2014

A Ecologia e o Carnaval Brasileiro

No passado as fantasias dos foliões nos grandes desfiles das Escolas de Samba e dos Blocos Carnavalescos e até mesmo as fantasias que concorriam nos grandes Concursos de Fantasias se utilizavam de muitos materiais retirados diretamente da natureza, tanto de origem inorgânica (mineral), quanto de origem orgânica (animal ou vegetal). Entretanto, a partir do início da década de 1980, o pensamento ecológico ganhou força no cenário nacional e mesmo o carnaval teve que ser repensado para que pudesse passar a ser “ecologicamente correto”. Desta maneira, vários produtos sintéticos começaram a ser desenvolvidos e a natureza também passou, progressivamente, a ser mais respeitada pela nossa festa maior. A utilização de material natural só não está totalmente extinta nos desfiles, por conta de ínfimos detalhes, os quais não representam nada de significante no todo.

Nos últimos 30 anos não se mata mais animal ou planta e nem se explora essa ou aquela pedra mineral para fazer fantasias para desfiles. Por outro lado, os grandes Concursos de fantasias também se extinguiram e o material que hoje é utilizado nas fantasias, ou é sintético e produzido especificamente para aquele fim ou é e reaproveitado de fantasias anteriores. Além disso, praticamente todo o material utilizado compõe-se de material que pode ser reciclado. Aquilo que acaba não podendo ser reaproveitado em fantasias nos anos seguintes é transformado através de diferentes ações de reciclagem, mas não se destrói mais a natureza e nem se produz mais resíduo como antes. As próprias entidades desenvolveram mecanismos, através de cooperativas par vender ou mesmo trocar os diferentes materiais de acordo com suas necessidades.

O custo operacional das fantasias hoje continua sendo caro, porém só atinge o bolso do folião ou da agremiação e não causa nenhum mal à natureza e assim não afeta a qualidade de vida de nenhum ecossistema natural e nem traz nenhum dano direto ao planeta. Hoje Carnaval e a natureza conseguem trafegar na mesma cadência e através de práticas ambientalmente e socialmente sustentáveis têm produzido um brilho, talvez até mais interessante para os interesses da festa popular e mesmo para os holofotes das televisões pelo mundo afora.

A Ecologia e o Carnaval Brasileiro – Guaratinguetá, 17 de fevereiro de 2014

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