Tag: Degradação Planetária

01 maio 2020
Quando o ser humano se tornará realmente humano?

Quando o ser humano se tornará realmente humano?

Resumo: Nesse artigo procuro tratar do descaso da Humanidade em relação ao Planeta e a Vida, tentando relacionar esse fato com o aumento das catástrofes naturais e a postura egoísta da maioria dos Seres Humanos e também retomo o sentimento de generalizado medo produzido na maioria dos humanos pelo COVID-19 e o quase prazer de outros “humanos” que se aproveitam da humanidade aterrorizada. Discuto sobre o risco, a ignorância, imprudência dos humanos e as possíveis consequências disso nas relações humanas e concluo que a solução para essas questões está na maior humanização.


Se lavarmos em conta toda a história da humanidade, observaremos que sempre existiram pessoas que tinham e têm medo de alguma coisa. Tem gente que tem medo de fantasmas, de sapo, de cobra, de assalto, de bomba atômica, enfim existe medo de tudo. Mas fantasmas, não existem, o sapo é inofensivo, poucas cobras são efetivamente perigosas e a bomba atômica não explode por si só, para ser detonada ela precisa da vontade e da ação de um ou mais seres humanos. Agora a humanidade está com medo de um vírus, pois é, um simples e pequenino vírus. Uma entidade na fronteira bioquímica entre os organismos vivos e os minerais é o terror da humanidade no momento, mas essa entidade é real e pode ser letal.

Ora, se um diminuto vírus sem motivo próprio, pode repentinamente produzir tanto medo na humanidade, imaginem então uma revolução de elefantes, aborrecidos por matarem seus semelhantes apenas para poder tirar o marfim de suas presas, o problemão que causaria. Entretanto, alguém automaticamente me corregeria, dizendo o seguinte: “mas os elefantes são bonzinhos”. E eu pergunto, e quem pode afirmar que os vírus são deliberadamente “maus”, se nem organismos vivos eles de fato são. Um vírus é uma entidade química replicável dentro de células vivas e não têm nenhum poder de discernimento. Pois então, o problema que estamos enfrentando é exatamente esse. Quem é “bom” e quem é “mau” nessa história?

Historicamente temos achado que as coisas da natureza, sejam elas quais forem são e estão aí, porque simplesmente estão e nós continuamos nossa vida, seguindo em frente, sem nos importarmos com essas coisas, apesar delas existirem. Lamentavelmente, nós ignoramos e não costumamos dar muita importância à maioria das coisas, nos importamos, apenas e tão somente, conosco. Grandes episódios da natureza que têm acontecido, como terremotos, maremotos, tsunamis, avalanches e grandes movimentos de terras, queimadas naturais, grandes tempestades são considerados eventos normais. E se esses eventos normais, o aumento significativo deles também deve ser normal e não deve haver nenhum motivo para preocupação. Pois é, ninguém está nem aí com nada, pois tudo é normal.

 Mas, de repente, num certo dia, uma dessas coisas que nós ignoramos aparece como um anteparo à nossa marcha ou aos nossos interesses em continuar seguindo a trilha. Somente aí é que nós vamos procurar saber exatamente o que é aquilo e o que pode estar acontecendo exatamente naquele momento. É mais ou menos assim, andamos de olhos fechados, até tropeçarmos em alguma coisa e feliz ou infelizmente, como tropeçamos pouco, não atentamos para a maioria das coisas à nossa volta.

O COVID-19 (Corona Vírus), embora pequeno, sem fazer barulho e sem destruir grandes áreas, é um tipo desses anteparos que sempre esteve aí; se não ele propriamente, mas outros vírus muito semelhantes; mas nós não fomos capazes de ver ou não quisemos enxergar e nem de nos preocuparmos com ele. Entretanto, agora nós estamos vendo e sentindo o estrago que esse vírus é capaz de produzir e aí surge o medo. Ficamos apavorados com essa terrível virose que, embora pouco violenta, se comparada a outras bem piores e mais agressivas, se alastra rápido e pode acabar sendo fatal ao organismo humano.

Meus caros, o medo é consequência do risco, que, por sua vez, é filho natural da imprudência. O risco sempre existe, pois viver é um risco que só leva a uma certeza, que é a morte. Pode demorar mais ou menos, mas a morte é compulsória, não tem preconceito e certamente ela virá. Entretanto, a gente finge que não sabe disso e sempre espera que seja o mais tarde possível. A imprudência é o descrédito do risco, isto é, quem não acredita no risco, acaba sendo imprudente. Nesse instante, temos que citar uma outra personagem, muito comum entre os seres humanos, a ignorância.

Como dissemos acima, geralmente o ser humano ignora e não se preocupa com a grande maioria das coisas à usa volta, até o dia em que necessita de alguma informação sobre essas coisas. A ignorância, às vezes até faz com que alguns seres humanos nem imaginem que podem morrer a qualquer momento e que estar vivo é menos provável do que não estar. Pois então, a maioria dos seres humanos aparentemente não conhece (ignora) riscos e assim, não está preocupada com eles e por isso mesmo, comete muita imprudência. Quer dizer, agimos desta maneira, ignoramos tudo e somos imprudentes até que o acaso surge e nos prega uma peça de terror e aí, finalmente acordamos para a realidade.

Se viver é mesmo um risco, nós temos que ser prudentes para corrermos menos riscos de morrer, já que queremos continuar vivos. Como o elefante é grande, forte, bem visível e até tangível conhecemos e respeitamos o elefante, mas ele costuma ser “bom”. Entretanto, de forma antagônica, alguns de nós não conhecem o vírus, embora imagina que ele seja “mau”, mas como é pequeno, invisível e intangível, ele acaba sendo simplesmente ignorado. Assim, nossa ignorância não nos coloca na verdadeira dimensão entre o elefante e o vírus, além do tamanho, da conspicuidade e da “maldade” ou “bondade” que imaginamos de ambos.

Achamos os elefantes “bons”, porque quase nunca ouvimos falar de elefantes matando pessoas e desdenhamos os vírus ou os consideramos “maus”, simplesmente porque não os conhecemos ou porque já sabíamos que alguns podem causar doenças. A propósito, o vírus aqui é só um exemplo genérico porque certamente existem milhares de outras coisas que simplesmente ignoramos e outras que efetivamente não conhecemos e por isso mesmo não nos preocupamos com elas, até o momento em que elas aparecem na nossa frente e descobrimos que essas coisas podem nos matar.

Foi assim com a bomba atômica, foi necessário que alguém, lamentavelmente, explodisse duas bombas atômicas seguidas para que a gente (a humanidade) passasse da ignorância, para o medo, por conta da imprudência desse alguém ter descartado o risco e explodido a bomba. Na maioria das vezes nem precisa isso, o medo aparece sempre que ignoramos alguma coisa, mas temos certeza, ainda que muito parcialmente, de que essa coisa existe. Quer dizer, a dúvida sobre algo desconhecido, muitas vezes, pode causar um medo muito pior. É o que acontece com as infelizes das cobras, como não se sabe quais são as perigosas a opção acaba sendo: temer e matar todas.

Pois então, da mesma forma que passamos a ter mais medo das bombas depois que foram explodidas duas bombas atômicas, passaremos agora a ter grande medo quando ouvirmos falar de vírus. E mais, o nosso medo é tal que, de tanto ouvir falar sobre o COVID-19 (Corona Vírus), até já estamos sendo capazes de entender que existem coisas bem piores do que a bomba atômica ou algumas cobras. Mas, e daí, o que podemos fazer a esse respeito? Pois então, essa é exatamente a grande questão atual!

E enquanto isso, a promiscuidade de uns se aproveita da situação catastrófica e da idiotice de outros e fica discutindo direita e esquerda, socialismo e capitalismo, mas o vírus, que é real e contundente, segue por aí, matando gente no mundo todo. Ele não tem preconceito, não quer dinheiro, não defende nenhuma ideologia e nem faz parte de qualquer partido político, ele apenas segue seu caminho na sua condição de vírus, tentando reproduzir e continuar sendo vírus. O mundo, assim como o vírus é real, enquanto as ideologias são virtuais.

Ora, não é possível ficar discutindo ideologia, enquanto o mundo padece por conta de um inimigo que, a priori, é comum, porque mesmo que alguém defenda a teoria da conspiração, a virose mata gente de todos os lados e isso não é bom para ninguém, a não ser que o vírus “saiba”, antecipadamente, a quem tem que atacar, o que, por razões óbvias, é impossível, embora possam existir alguns imbecis que até admitam essa possibilidade. Ainda que eu não veja quase nenhuma chance disso ser verdade, o vírus até pode ter sido desenvolvido em algum laboratório, entretanto não é possível controlar sua ação.

Opa! Assim, de repente, num passe de mágica, o vírus superou tudo, ficou maior e mais assustador que qualquer anteparo, particularmente a bomba, porque ela certamente foi usada por um lado contra o outro e não aleatoriamente. Ou seja, o vírus tornou-se muito maior que a manada de elefantes, que a bomba, que a ideologia e que a economia e assim, nessa atitude inócua, a ignorância de parte da humanidade apavorada fica bem mais explicita. As “pragas divinas” e o “fim do mundo” estão chegando, que Deus nos ajude, pois o pandemônio aconteceu.

Entretanto, para outros “humanos”, não existe mais risco e não existindo risco não há porque haver prudência e muito menos haverá medo. Muitos no mundo estão assim, bestializados e quase sem medo de um risco que é efetivo e real. Isso é muito pior, é perigosíssimo. O perigo é algo que favorece ao risco, anima o medo e prescinde de maior prudência, mas essa parte da humanidade está cega. Esse tipo de ser humano se esqueceu das duas coisas fundamentais que habitam em seu interior: o ser e o humano. Devido a isso, ele está contrariando qualquer noção de lógica, por questões que não cabem nos preceitos biológicos e físicos primários. Os valores desses sujeitos não permitem enquadrá-los mais como seres humanos.

Em que pese o fato de também existirem alguns seres humanos diferentes, os cientistas, que ainda estão conscientes e não foram “drogados” pela insanidade, nem pela bestialidade e que, por isso mesmo tendem a ser sabedores das reais condições de risco que o vírus oferece. Mas, lamentavelmente os coitados desses cientistas são quantitativamente poucos e geralmente não são ouvidos pelos demais humanos. Para muitos, os cientistas, são seres humanos estranhos, meio loucos e assim, eles não costumam ter muito valor nesse mundo idealizado e idiotizado. Consequentemente, muitos cientistas acabam sendo utilizados apenas como massa de manobra para servir aos interesses das diferentes ideologias.

Por outro lado, ainda existem alguns falsos cientistas, que criam e justificam o uso de regras pretensamente gerais, mas que jamais poderão ser aplicadas à toda a humanidade, por conta da existência natural de uma série de diversidades sociais e mesmo estruturais planetárias. Não pode haver regra única num planeta tão diverso climaticamente, estruturalmente e socialmente. E no meio de toda a celeuma está a maior parte da humanidade aterrorizada e incapaz de entender o que efetivamente é verdade.

Entretanto, há muito tempo existe consenso entre os verdadeiros cientistas, de que a situação está muito feia, do ponto de vista planetário. A Terra não aguenta mais o ser humano. Mas, isso quase não interessa, nem às ideologias, nem aos regimes de governo e parece que infelizmente nem à grande parte da população humana, pois ninguém quer ouvir sobre esse tipo de assunto. Deste modo, como os governos não ouvem ou fingem que não sabem, as populações não exigem, as entidades sociais não se organizam, nem se encontram e por conseguinte também nada pedem, pois cada uma delas só consegue se dedicar ao seu interesse particular e assim, nada acontece.

O egoísmo impera e a “caravana do primeiro eu e a minha turma”, segue em frente e de preferência, sempre na frente. De repente, de uma hora para outra, pimba! Apareceu um vírus desconhecido e descabido, de fácil contaminação e bastante complicado, que acaba interferido seriamente em tudo e todos no planeta. Não quero nem discutir se tem ou não conspiração por trás disso, porque o que importa no momento é o fato do vírus está aí e não como ele chegou ou quem colocou ele no mundo. Essa questão, embora possa ser considerada importante, deverá ser discutida depois. Primeiramente vamos cuidar da virose e depois vamos procurar os culpados, antes que morra mais gente indevidamente.

Mas, não é isso que acontece e nós vamos apenas contar os mortos e, se possível, tratar dos doentes e rezar para não estarmos entre esses dois grupos. Assim, a história humana segue seu curso, até que o acaso traga novo tormento: uma nova bomba ou um novo vírus, até a possível extinção total da espécie. Ninguém se sente responsável por nada. Ao contrário, o tempo passa, a caravana humana na Terra continua caminhando e absolutamente nada acontece em prol da melhoria da qualidade de vida humana e de toda vida planetária. A besta humana está cada vez mais besta e menos humana.

A coisa já aconteceu, então, o vírus que não é uma manada de elefantes e nem uma bomba atômica, que é apenas um desprezível vírus, assola o mundo e mostra que tamanho não é documento e que o grande e poderoso ser humano é pequeno e pode ser muito menor que um pequeníssimo vírus. Alguns poderosos resolvem se animar e de uma hora para outra, os cientistas são chamados a opinar e passam a ser sujeitos importantes outra vez. Entretanto, agora o fogo já tomou conta do planeta e só nos resta tentar combater o incêndio, porque todos, além dos cientistas sérios, foram ignorantes e imprudentes; não consideraram o risco e obviamente não tiveram, a priori, nenhum medo. Só agora, depois do incêndio alastrado e do dano produzido é que o medo aparenta ter reaparecido.

E assim, depois que morrer muita gente e a crise (pandemia) finalmente passar, se e quando passar, será que a humanidade vai mudar de comportamento? Ou será que vai continuar tudo como dantes no quartel de Abrantes e a caravana seguirá, como se nada tivesse acontecido, até o próximo elefante, a próxima bomba ou o próximo vírus aparecer? Eu tenho muito medo, não só desse vírus, do elefante ou da bomba. Eu tenho mais medo da própria humanidade, porque parece que quase nenhum ser humano está, de fato, preocupado com nada, além do seu próprio umbigo.

O descaso com o outro tem sido mais uma característica desagradável, perniciosa e marcante do ser humano. Essa é a única e grande verdade e isso precisa ser mudado urgentemente. Enquanto a humanidade não trabalhar pela própria humanidade, ou melhor, enquanto cada pessoa continuar tratando e cuidando apenas e tão somente de si e seus interesses pessoais, nada, absolutamente nada, vai mudar até o fim, ou seja, a extinção total da espécie humana. Tomara que eu esteja errado, mas tenho forte suspeita de que falta muito pouco para que esse lamentável fim se estabeleça.

Por favor, não me falem de Deus, porque, se Ele existe e tomara que exista, mas Ele também já deve estar cansado da irresponsabilidade humana com o planeta e com a vida da própria humanidade e das demais criaturas da Terra. Deus está em outro plano e o nosso problema é terreno e não celestial. Nós até podemos precisar de Deus para muitas coisas, mas não precisamos de Deus para sermos coerentes, bons e fazermos o bem, principalmente no relacionamento com outros humanos, porque isso deveria ser uma obrigação moral. Para sermos bons e fazermos o bem, nós precisamos é de vergonha na cara, de mais humanidade, mais humildade, mais altruísmo, mais fraternidade e menos egoísmo.   

O dia que o ser humano passar a ser realmente humano, todos os problemas da humanidade estarão resolvidos, inclusive os medos, porque haverá menos riscos e menos imprudência. Quando formos realmente humanos, outro humano sempre estará muito próximo e pronto a ajudar e defender, independentemente das discussões ideológicas que possam existir. Entretanto, eu vejo que esse dia está cada vez mais distante, porque as prioridades humanas, lamentavelmente continuam não sendo os seres humanos. O fazer ideal, a melhor maneira de fazer, a ideologia, pode e deve ser discutida, mas ela não pode ser motivo para deturpar e muito menos para comprometer as relações entre os seres humanos e permitir a degradação do planeta e a consequente extinção de nossa espécie.

Caçapava, 05/04/2020

Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)

12 abr 2020
O Aviso Produzido pelo Corona Vírus (COVID-19)

O Aviso Produzido pelo Corona Vírus (COVID-19)

Resumo: O artigo trata da preocupação com o COVID-19 e sua possível relação com as ações antrópicas planetárias. É sugerido que a partir de agora a humanidade comece realmente a pensar mais sério sobre os problemas ambientais globais, pois esse parece ser o único caminho para a continuidade da espécie humana sobre a superfície do da Terra.


Aproveitando esse momento drástico, além de terrivelmente incomodo e chato, onde todos falam quase que exclusivamente do Corona Vírus (COVID-19), eu vou pegar “carona” e fazer um “convite” para propor uma “virada” e consequente ingresso num novo tempo, numa “Nova Era” planetária no sentido mais amplo e holístico que a expressão puder ter. Já que o conceito de “Nova Era” tem sido, de fato, muito discutido e por isso mesmo é de difícil entendimento, vou tentar ser mais objetivo. Talvez, a ideia contida no livro de Daren Kemp (2004), seja o mais condizente com a minha visão.

Obviamente o planeta não vai mudar para atender aos interesses humanos, até porque isso é ilógico do ponto de vista físico e químico, mas porque é principalmente impossível do ponto de vista operacional. Entretanto, o planeta já mudou e continuará mudando física e quimicamente sempre, por conta de questões climáticas e tectônicas naturais. Entretanto, mais recentemente, surgiu uma outra força, que embora pequena no contexto individual é muito grande no contexto global (planetário) e que tem sido acrescida as ações naturalmente modificadoras do planeta. Essa força chama-se ação antrópica.

Um Químico holandês e um Biólogo americano (Crutzen & Stoermer, 2000) até criaram um novo termo, identificando um novo período geológico separado do Holoceno, para identificar esse momento em que nos encontramos. Segundo esses autores, estamos vivendo o Antropoceno, ou seja, o período que define exatamente o tempo em que as ações humanas começaram a interferir e mudar mais precisamente a realidade natural.

As ações do ser humano tem produzido, mormente nos últimos tempos, uma soma significativa de consequências que têm causado transformações metabólicas profundas no comportamento natural da Terra. Além disso, o homem também tem imposto, reforçado e acelerado, por conta de seus atos ingênuos ou inconsequentes, as consequências dos processos naturais da estrutura, organização e manutenção planetária, o que só amplia as notórias e cada vez mais conspícuas mudanças.

Ao seu modo, o planeta tem reclamado e mandado inúmeros avisos à humanidade, mas nada de importante aconteceu como resposta humana. O ser humano, “dono do planeta” continuou seguindo seu caminho, como se nada estivesse acontecendo. Mas, eis que agora, depois de vários avisos prévios de menor intensidade, a ira planetária se manifestou mais séria e acentuadamente, sob a forma de um vírus, um pequeno e mísero vírus. O vírus é um instrumento bioquímico na fronteira entre um mineral e um organismo vivo, que pode causar moléstias em organismos vivos, inclusive nos humanos. Pois então, um vírus causa uma pandemia, que gera um pandemônio na humanidade e nos mostra os quanto somos frágeis e pequenos perante a natureza.

Penso eu que esse fato certamente deverá levar a termo final algumas práticas antrópicas corriqueiras ilógicas, insensatas e sobre tudo, incabíveis, que vinham sendo comuns na atualidade.  Por outro lado, deverão surgir novas práticas, que reavaliem a ideia absurda de crescimento econômico ilimitado, dentro de um espaço planetário finito e cada vez mais limitado.  Talvez, a ideia de decrescimento de Serge Latouche (2006) tenha, sim, que ser analisada com atenção e bons olhos, para poder ser praticada progressivamente pela humanidade.

A praga humana crescente e destruidora precisava ser contida e o COVID-19, talvez tenha sido o grande plano ou projeto planetário de contenção e defesa que a Terra promoveu para dar o ultimato à espécie humana. Nesse momento a humanidade está sendo “convidada” a repensar, reprogramar e refazer suas noções de desenvolvimento econômico contínuo e perpétuo. Está claro que é impossível um planeta continuar crescendo economicamente com os 8 bilhões de humanos atuais e uma projeção modesta de chegar a 11 ou 13 bilhões até o final do século, sugando cada vez mais as tetas do planeta e promovendo consequentemente as ações e os eventos catastróficos que temos visto recentemente. Isso precisa acabar.

Certos lugares planetários como o Mercado da cidade de Wuhan, na China, onde se compra e vende tudo que é tipo de organismos vivos (animais ou vegetais), vivos ou mortos, para todos os tipos e gostos e para os mais diversos fins, não devem ser benéficos à humanidade, embora posam ser benéficos à algumas pessoas. É bom citar para os incautos, porque eu acredito que a maioria das pessoas não saibam disso. Wuhan não é uma cidadezinha, ao contrário, é uma cidade moderna e a maior cidade da região central da China, possuindo mais de 11 milhões de pessoas e que, compondo uma região extremamente conurbada com outras cidades menores, forma uma concentração de cerca de 20 milhões de seres humanos. Quer dizer, não estamos falando de uma cidadezinha do interior, estamos falando de um dos grandes centros populacionais da chineses.

O mercado de Wuhan, não é um mercado municipal pequeno, como se vê, por exemplo, na maioria das cidades brasileiras pelo interior. Aliás, aquilo nem pode ser chamado de mercado, pois na verdade é um grande centro de contaminação de vírus e bactérias geradoras de doenças. É um centro oficial de transmissão de moléstias, com autorização de uso e sem nenhuma forma de segurança sanitária. Mas, é bom ressaltar que o Mercado de Wuhan, não é o único local da China ou do mundo, em que esse tipo de coisa acontece, porque o ser humano criou vários lugares do tipo Mercado de Wuhan pelo mundo afora. Wuhan é apenas um exemplo infeliz e comprovado dos muitos que existem no planeta. Aqui no Brasil mesmo, guardadas as devidas proporções, temos vários “mercadinhos de Wuhan”.

Até alguns dias estávamos em rota de colisão com o planeta, mas agora parece que efetivamente já colidimos e assim, chegamos a uma situação que exige resposta imediata: ou cuidamos da Terra ou ela “cuidará” de nós.  Dentro dos preceitos estabelecidos pela evolução biológica básica, apenas os aptos se adaptam e sobrevivem. Não quero ser fatalista, mas tenho que ser, porque me parece muito simples, com ou sem teoria da conspiração, a espécie humana necessita se adaptar às condições impostas pelo ambiente planetário ou a extinção será o caminho natural e prematuro de nossa espécie.

O que está errado e necessita ser repensado é o modelo de como a humanidade deveria ter caminhado e deverá estar caminhando doravante. Considerando que agora não estamos mais na fase do que poderá acontecer, pois já aconteceu e estamos presenciando a calamidade criada. O incêndio já aconteceu e está difícil de apagar. O leite já foi derramado e não há como retorná-lo ao recipiente. Daqui para frente, a solução é fazer diferente, para tentar não derramar mais leite. Isso será bom para o planeta e certamente será muito melhor para a humanidade.

As doenças, inclusive muitas viroses, além das últimas de origem chinesa, sempre existiram e obviamente vão continuar existindo, porque isso também faz parte do metabolismo planetário, porém, doravante, a humanidade pode, deve e tem que trabalhar na direção de minimizar essas grandes epidemias (pandemias) e não na direção contrária como vinha fazendo, dando de ombros para esses problemas, ou tratando-os como se fossem questões secundárias ou menos importantes ainda.

A prevenção e o cuidado têm que ser as palavras de ordem na relação Homem-Terra. O célebre chavão que diz: “quem ama cuida”, agora tem que ser regra oficial na nova postura para a “Nova Era” planetária. Tratar o planeta como a nossa casa não é mais uma questão apenas religiosa, mas sim uma necessidade premente, que precisa ser encarada pelos países e suas nações.

O ambiente planetário tem que ser respeitado e as ações humanas têm que ser limitadas àquilo que é estritamente necessário à sobrevivência das pessoas. O consumismo exacerbado que se estabeleceu tem que ter fim. A exploração mineral, animal e vegetal insana e inconsequente, tem que acabar. O uso indiscriminado e absurdo de agrotóxicos tem que ser inviabilizado. A queima de combustíveis fósseis tem que decrescer. Para que essas coisas efetivamente ocorram, o crescimento populacional humana precisa ser contido, o desenvolvimento econômico tem que ser limitado, minimizado ou mesmo extinto em alguns locais.  A verdade é que, não dá mais para tapar o sol com a peneira.

Eu quero deixar claro também, que não se trata aqui de discutir sistemas e regimes de governo ou posições ideológicas dessa ou daquela facção. Na verdade o que todos precisamos é entender o planeta como fonte única de tudo que a humanidade necessita e usa cotidianamente. Depois desse entendimento efetivo, temos que passar a garantir que essa fonte terrestre seja usada e mantida, sem comprometimento dos demais organismos e dos próprios seres humanos, principalmente daqueles que ainda não nasceram.

É evidente que se continuarmos no nível frenético de apropriação e degradação que tivemos até aqui, talvez os futuros seres humanos, nem cheguem a nascer. Basta! Está na hora, ou melhor, já passou da hora de parar de usar inconsequentemente os recursos naturais. O COVID-19 parece ser o aviso planetário derradeiro para que o homem se manifeste pela vida e não pela morte. A mensagem atual é muito simples: “a humanidade tem que cuidar da Terra, para que a Terra possa continuar abrigando e mantendo o homem”.

Não existe nenhum segredo e nenhuma dificuldade. O respeito ao planeta, seus limites e as formas vivas nele contidas é a grande sacada e agora a humanidade não pode dizer que não sabe disso. Não se trata mais do armagedom ou qualquer teorias sobre o fim do mundo, agora é a realidade, ou cuidamos da Terra ou ela irá dar conta de nossa espécie, até porque nós é quem dependemos dela.

A Ciência e os cientistas estão avisando faz muito tempo. A Terra está urrando faz muito tempo. A humanidade estava cega ou não queria enxergar o óbvio faz muito tempo e assim, continuou preferindo pagar para ver. Bom, agora, eu acredito que a humanidade não está gostando do que, infelizmente, está vendo. O mundo está assustado e parado por conta de uma porcariazinha de um medíocre e diminuto vírus. Meus amigos, se um vírus pode parar o mundo, o ser humano certamente também pode parar, basta apenas querer, de fato, e partir para fazer diferente do que sempre fez.  

Novas práticas, cuidado e prevenção, como já foi dito, devem ser a tônica para o futuro, ou então, quem sabe um novo vírus mais perigoso, ou algo maior e muito mais significativo definirá grotesca e compulsoriamente o fim de nossa espécie. O planeta vai continuar sua viagem e a vida vai se modificar um pouco, mas vai continuar. Historicamente nós invertemos a ordem das coisas: o ser humano não faz falta ao planeta, o planeta é quem faz falta ao ser humano. Como o ser humano desprezou o planeta, ele está prestes a deixar de existir e, pior ainda, levará algumas outras formas vivas na sua sombra.

A Evolução Biológica levou bilhões de anos para permitir a formação dos seres humanos e nos trazer até esse momento histórico, e nós com apenas, cerca de 200 mil anos de idade, “estamos querendo” acabar com o trabalho da evolução biológica. Temos trabalhado antagonicamente à Evolução, pois ele nos diz um caminho e traçamos, deliberadamente, outro. Temos contrariado a criação natural e destruído o planeta que sempre nos forneceu tudo, absolutamente tudo. Existe algo errado com nossa espécie!

Assim, o planeta parece que não aguenta mais o ser humano, portanto CUIDADO. O COVID-19 parece ser o aviso final. Tenho medo que daqui para frente não haja mais avisos e sim ações efetivas. Estamos todos na mesma nave espacial e todos perecemos, inclusive o piloto. Pensem nisso autoridades. Pensem nisso países. Pensem nisso pessoas.

Referências Bibliográficas

CRUTZEN, P. J. & STOERMER, E. F. The ‘Anthropocene’, Global Change Newsletter. 41: 17–18, 2000.
KEMP, D. New Age: A Guide: Alternative spiritualties from Aquarian Conspiracy to next age, Edinburgh, Edinburgh University Press, 2004
LATOUCHE, S. Pari de la décroissance, Paris, Editions Fayard, 2006.

Caçapava, 05/04/2020

Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)

19 maio 2019
Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária

Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária

Resumo: O texto faz referências aos problemas ambientais planetários e propõe que as atividades desenvolvidas através de práticas sustentáveis e o efetivo investimento na educação ambiental das populações humanas sejam a base das mudanças que poderão proporcionar a recuperação da Terra a melhoria da qualidade de vida da humanidade.


INTROITO

“Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de    sua alma, todo o universo conspira a seu favor.”
Johann Goethe

“O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.”
Eleanor Roosevelt

Após ter sido convidado para proferir uma palestra na abertura de um grande evento sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental, um determinado ambientalista, não só teria orgulhosamente aceitado a incumbência, como teria feito seu pronunciamento à plateia presente, citando oportunamente os dois pensamentos acima e em seguida discorreu sua fala com o seguinte texto.

Senhoras e Senhores, eis aqui aquilo que penso sobre a questão ambiental planetária e também o meu grande sonho para o futuro do planeta e da humanidade.

INTRODUÇÃO

Para que seja possível introduzir de uma maneira clara a importância do tema desse encontro, existe a necessidade imperante de se evidenciar objetivamente algumas constatações ambientais que se encontram na ponta da questão. Aqui será dado destaque à duas delas, que podem ser consideradas as mais cruciais, porque estão na origem de todas as outras. A primeira dessas constatações diz respeito ao fato da humanidade se utilizar dos recursos naturais como se eles fossem infinitos e a segunda diz respeito ao crescimento populacional humano exponencial e insano que tem ocupando o planeta de maneira totalmente descontrolada.

Historicamente a humanidade, independentemente de qualquer teoria filosófica, tem vivido sobre a égide de que um determinado Deus deu a Terra ao homem para que ele crescesse, multiplicasse e dominasse sobre todas as demais criaturas do planeta e parece que nossa espécie seguiu essas orientações direitinho. Ao longo do tempo, o que tem sido feito pela humanidade em relação ao planeta tem sido exatamente isso, pois o homem seguiu o curso de sua história usurpando e vilipendiando o planeta e todo patrimônio natural, utilizando todos os recursos naturais planetários disponíveis aos seus interesses exclusivos, como se o planeta fosse infinito e como se tudo que existe nele fosse realmente uma grande benesse de Deus para espécie humana.

É triste e lamentável, mas a grande maioria do absurdo contingente de mais que 7.500.000.000 (sete bilhões e meio) de humanos existentes no planeta ainda continua pensando e agindo exatamente assim.  Em suma, é preciso entender de uma vez por todas que o planeta não é propriedade dos seres humanos, tem recursos definidos qualitativa e quantitativamente e, principalmente, que é impossível crescer infinitamente e que, por isso mesmo, o controle do crescimento da população humana é imperativo para que o consumo do patrimônio natural da Terra e todas as demais questões ambientais dele decorrentes possam ser minimizadas e quem sabe até estabilizadas no futuro.

Essas são as duas grandes e nefastas constatações, que não podem ser deixadas de lado e das quais a humanidade deve estar segura e consciente de que precisam ser rigorosamente solucionadas. A humanidade também deve partir sempre da certeza de que se não houver mudança nesse paradigma errôneo, de que Deus criou o planeta para o homem, qualquer discussão sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental acaba sendo balela, pois não levará a lugar nenhum e o planeta vai ficar na mesma situação. Ou melhor, a situação só vai piorar para sempre, até que chegue ao fim. É preciso que a humanidade tome efetiva consciência e sobretudo, que assuma a sua responsabilidade com o Planeta Terra, com a manutenção da vida planetária e com continuidade da vida humana, exatamente nessa ordem de prioridade: o planeta, a vida e o homem.

Considerando que esse encontro, assim como tantos outros, se propõe a discutir exatamente Sustentabilidade e Educação Ambiental, então fundamentalmente há de se começar por entender, aceitar, imaginar, desenvolver e multiplicar mecanismos planetários abrangentes que permitam colocar essa realidade necessária na mente dos demais seres humanos, para que seja possível planejar procedimentos efetivos que permitam estabelecer as mudanças necessárias. Na verdade, a humanidade precisa de uma nova filosofia que apague o tradicionalismo das filosofias até aqui conhecidas e praticadas, particularmente na metade ocidental do planeta. O desafio que está posto é claro e simples: ou pensamos diferente, para assim fazermos diferente ou nos extinguiremos fazendo errado.

Não se trata de querer negar as possibilidades de projetos e trabalhos que se coadunem com os ideais da Sustentabilidade e da Educação Ambiental. Ao contrário, qualquer proposta nesse sentido será sempre muito bem-vinda e certamente vai trazer resultados positivos. Entretanto, essas propostas isoladas não causarão a ruptura comportamental que se faz necessária para tornar a Sustentabilidade e a Educação Ambiental como referências no comportamento humano.  

Não tenho dúvida nenhuma de que as pessoas que estão aqui neste evento e que obviamente estão preocupadas com a temática ambiental, são cientes da importância da Sustentabilidade e da Educação Ambiental e o que está se tentando dizer é que a realidade desse grupo precisa ser expandida para os demais segmentos da sociedade humana. É importantíssimo lembrar que esse é um grupo diminuto, quase nada, uma poeira no contingente humano e assim pouco pode fazer, além do árdua tarefa da execução do “trabalho de formiguinha” que já faz alguns anos vem sendo levado a cabo, porém sem praticamente nenhum resultado significativo.

Na verdade, o grande trabalho está em fazer toda humanidade compreender e tomar as decisões promissoras para a continuidade da vida, em particular, a vida da espécie humana no planeta. Essa é uma tarefa difícil, quase impossível: fazer a humanidade entender que a questão é muito séria, que precisa ser assumida e resolvida por todos e principalmente que as ações individuais pequenas podem ser preponderantes para o resultado cumulativo que possa ter significado planetário.

Mas como fazer isso sem uma revolução filosófica global de cunho social e político, passando por cima de questões culturais e econômicas, haja vista que os interesses individuais, locais, regionais, nacionais são sempre colocados acima dos interesses planetários pelos diferentes grupos humanos? Na realidade, existe necessidade de uma guinada de 180 graus na maneira de pensar e de agir da humanidade. O comportamento humano tem que mudar drasticamente e ninguém sabe como conseguir produzir essa façanha.

Infelizmente, por vários aspectos que todos conhecem e não precisam ser discutidos aqui, não há consenso sobre uma linguagem planetária que possa produzir uma postura humana única em relação às questões ambientais e por isso mesmo é que eu volto a dizer que por mais bem intencionados que nós, aqui presentes, sejamos, o nosso contingente é muito pequeno e vem lutando de maneira inglória, contra a maré. Aliás, na verdade, contra um tsunami de interesses outros que se apresentam como mais prioritários e que se elevam cada vez mais, destruindo efetiva e progressivamente mais o patrimônio planetário e a própria humanidade. Como podemos trazer consenso à humanidade para dar um basta nesse quadro e tentar resolver esta situação?

Essa é a dura realidade em que nos encontramos; precisamos mudar o paradigma, mas não há ninguém com poder suficiente e nem a interesse real de alguém que se proponha de fato a tentar fazer isso. Talvez, apenas, a própria natureza planetária, ao demonstrar o seu descontentamento com as ações humanas, poderá produzir os efeitos que são necessários para as mudanças comportamentais da humanidade. Nos últimos anos, a natureza tem se apresentado mais violenta, mais ríspida e mais contundente, porém, lamentavelmente, ainda tem sido pouco para convencer a grande mancha de humanos céticos e ignorantes.  Por outro lado, também existem aqueles religiosos que continuam esperando que Deus dê um jeito na situação, até porque, a “culpa” é Dele, já que foi Ele que nos deu o planeta.

VIDA E QUALIDADE DE VIDA

Vários autores, em diferentes momentos da história humana tentaram conceituar a palavra vida e cada um deles, a seu modo, procurou expressar o seu interesse primário na sua conceituação. Todos esses autores disseram verdades, mas nenhum deles foi suficientemente abrangente para criar uma definição efetiva. Assim, é possível dizer que a palavra vida possui vários significados e por isso mesmo é muito difícil estabelecer uma definição precisa. Porém, numa ideia geral mais ampla, todos parecem concordar que a vida está relacionada com a existência natural e própria de algumas entidades que surgiram na Terra, os organismos vivos. Além disso, eles também concordam que a vida, ao que parece, é uma particularidade única do nosso planeta. Pelo menos até aqui, ninguém conseguiu demonstrar a existência de vida em qualquer outro lugar do universo.

A vida na Terra não só foi possível, como se desenvolveu e se diversificou extremamente pelos cantos do planeta em consequência de um longo processo evolutivo. Como resultado desse processo, hoje estima-se que existam 10 a 20 milhões, ou mais espécies vivas na Terra e nós ainda estamos muito longe de conhecer a maioria delas. Aliás, existem muitas que nem chegamos a conhecer e que se extinguiram por processos naturais e outras por ação antrópica. A mancha humana planetária e os impactos produzidos por essa mancha causa feridas sérias ao planeta e a diversidade da vida e muitos dos organismos vivos deixaram de existir por ação exclusiva das atividades humanas.

Da mesma maneira que ocasionalmente os seres humanos aceleraram o processo de extinção natural ou criaram mecanismos que levaram a extinção de algumas espécies, também foi possível ampliar determinadas populações e mesmo modificar algumas delas de acordo com o interesse da humanidade. Assim, além das mudanças físicas no ambiente, o ser humano também pode modificar bastante a conformação natural da vida no planeta, no que diz respeito às espécies de organismos vivos e suas respectivas condições naturais. Pois então, é exatamente isso que, ao longo do tempo, tem propiciado uma perda bastante significativa da diversidade biológica que não foi programada pelos processos naturais.

Assim, o homem tenta melhorar o que lhe interessa e acaba por destruir o que não lhe interessa, como se fosse o “dono” absoluto do planeta, seguindo aquele princípio, já citado, de que Deus teria criado o planeta para uso dos seres humanos. Essa condição de “dono do planeta” ficou tão clara nas mentes de alguns humanos, que matar outros organismos vivos não parece ser problema para a grande maioria dos seres humanos. Essa condição “superior” dos humanos em relação às outras espécies vivas permitiu inclusive que os humanos fossem considerados “melhores”, quanto melhores fossem as suas possibilidades de matar, porque isso ampliaria a sua chance de se alimentar melhor, ser mais forte e até de viver mais, desenvolvendo assim, uma melhor “qualidade de vida”.

Vejam bem, porque é isso mesmo que eu quis dizer. Para a maioria dos humanos “qualidade de vida” é a capacidade de viver melhor, independentemente do que se tenha que fazer para alcançar isso, porque para esses humanos, apenas a vida pessoal de cada um deles é a única vida que importa. Matar outros organismos ou mesmo outros humanos pode ser um fator que contribui com a melhoria da qualidade de vida. Pois então, esse conceito, além de absurdo por si só, também levou grande parte da humanidade a agir progressivamente de maneira cada vez mais egoísta, sem dar nenhuma importância às demais espécies vivas do planeta e, pior ainda, é que alguns desses indivíduos não dão importância nem a vida de outros seres humanos. 

Alguns humanos traduzem a expressão “qualidade de vida” como sendo um conceito aplicável exclusivamente aos humanos e esquecem que a vida humana é apenas uma entre milhões de espécies planetárias e que todas essas espécies também evoluíram no planeta e merecem ter vida com qualidade. Aliás, esquecem, não conseguem ou não querem entender, que a vida humana só foi possível por conta da evolução a partir da vida de outras espécies ancestrais da nossa. Por conta disso, lamentavelmente, a qualidade de vida que deveria ser um direito de qualquer organismo vivo na Terra, na realidade, acaba sendo um privilégio e uma prerrogativa exclusiva que apenas interessa aos representantes da espécie Homo sapiens.

Hoje, existe uma necessidade cristalina de que se pense na qualidade de vida do planeta Terra, aquele que permite, abriga e mantêm as vidas dos organismos vivos, inclusive a espécie humana. O ser humano não é melhor e nem pior que os demais organismos, ele é apenas mais uma espécie na Terra e todas tem direito a viver com qualidade no planeta, o qual também precisa ter qualidade para poder manter a vida dos organismos nele viventes. Essa questão é realmente complicada e difícil de ser entendida por muitos seres humanos, até mesmo por pessoas muito bem letradas e consideradas de boa índole. Qualidade de vida tem que ser uma prerrogativa planetária e não apenas humana.

CRESCIMENTO POPULACIONAL E ECONÔMICO CONTÍNUO

Agora vamos nos ater um pouco sobre a outra questão que contraria principalmente as religiões, mas que é independente de qualquer religião ou qualquer atividade relacionada à religiosidade, porque é apenas uma questão de lógica e um pouco de bom senso. A reprodução humana não pode e não deve ser tratada de maneira diferente da reprodução de qualquer outra espécie viva, porque os humanos são tão organismos vivos quanto qualquer outra espécie planetária. Sendo assim, reproduzir é uma necessidade de cada espécie viva, pois antes de tudo é uma garantia para a sua sobrevivência e perpetuidade. Desta maneira a reprodução precisa efetivamente ser garantida aos humanos e às demais espécies vivas.

Por outro lado, sempre é bom lembrar, que o planeta não é apenas dos humanos e muito menos de algum grupo humano em especial. Assim, é preciso equalizar o espaço físico planetário com a população que lhe cabe. Obviamente, eu sei do risco e da conotação política que muitos poderão deduzir dessa minha afirmação, mas, desde já, quero dizer que não antevejo qualquer conotação política nessa afirmativa, mas apenas identifico a reprodução, humana ou não, como uma necessidade planetária das espécies vivas.

Também não se trata aqui de definir matematicamente um número mágico a ser estabelecido de habitantes humanos por área geográfica, mas sim de se tratar o espaço físico considerando sua capacidade ecológica de suporte. Além disso, ainda existe a consequente dificuldade de manutenção de todos os organismos não humanos que também habitam (vivem) nessa área considerada. Qualquer livro básico de Biologia sempre tem algumas páginas esclarecendo sobre a relação entre o potencial biótico de uma espécie e a resistência do meio, que impede o crescimento exponencial das espécies em condições naturais, mas parece que essas regras não valem para a espécie humana.

Se não houver controle populacional humano não há como frear as necessidades, que serão cada vez maiores, de desmatamento e de degradação do ambiente natural para arrumar espaço físico para as cidades, para a indústria, para a agricultura e para a pecuária. A demanda de recursos hídricos e de recursos atmosféricos serão maiores e como consequência a poluição tanto da água quanto do ar também tende a aumentar. O comprometimento e o envenenamento dos solos também aumenta, por causa da necessidade cada vez maior do uso de agrotóxicos. Enfim, cada humano a mais no planeta traz consigo um contingente enorme de outras necessidades e quem paga essa conta é o ambiente (o planeta), os demais seres humanos e principalmente os seres vivos não humanos. A bola de neve cresce indefinidamente quanto mais cresce a população, mas certamente o planeta tem um limite físico de capacidade de suporte.

Outro problema é que, se não bastasse o fato da população não parar de crescer, tem uns “gênios” (do mal) que pensam que o planeta pode tudo e que a tecnologia faz milagres. É até possível, que a tecnologia faça alguns milagres, mas ela não vai poder contrariar a natureza sempre e a continuar como está, certamente vai chegar um dado momento em que algumas coisas já não serão mais possíveis tecnologicamente, por questões físicas, químicas ou biológicas básicas. Sendo assim, não dá para pensar em crescimento contínuo, em lucro contínuo e indefinido por conta das benesses tecnológicas. Temos que entender que o planeta é finito e que sua capacidade consequentemente também tem que ser.

Desta maneira, é necessário que se comece a pensar em parar de crescer economicamente. Parece absurdo, mas isso é pura lógica, embora a maioria da humanidade não queira pensar assim. Se por um lado parar de crescer economicamente é complicado, crescer indefinidamente será muito mais, porque os recursos são limitados e toda economia se faz a partir dos recursos naturais. É bom lembrar que o dinheiro é apenas um símbolo, uma representação e que o valem mesmo são os produtos, os quais só existem se existirem as matérias primas que lhes permitem existir.

Pois é, há sim que se pensar numa “deseconomia” ou numa maneira de viver com menos recursos naturais e, consequentemente, com menos dinheiro. Se a população continuar crescendo isso será impossível. Se, mesmo que a população esteja controlada, as pessoas não estiverem adequadas e não forem educadas para essa realidade futura também será impossível. O planeta é finito, os recursos são finitos, a população tem que ser limitada e os lucros tem que ser contidos. Não existe outra possibilidade!

A HUMANIDADE E O DILEMA ECOLÓGICO X ECONÔMICO

Todas as espécies vivas do planeta vivem e sobrevivem, com boa qualidade de vida ou não, em função daquela parte do patrimônio natural que elas conseguem transformar em recursos naturais para seus respectivos interesses e se utilizam desses recursos direta ou indiretamente. A ÚNICA espécie que não age necessariamente assim é a espécie humana. Os humanos não se satisfazem com aquilo que o planeta lhes dá naturalmente e assim, inventaram, dentre várias outras coisas, a manufatura, a indústria, o comércio e tristemente o dinheiro. Além disso, os seres humanos inventaram o “lixo”, isto é, o recurso natural que “não serve”. A natureza não conhece lixo, porque na natureza tudo “serve”, mas essa é outra questão e não vou discutir sobre isso agora.

Como já foi dito, o dinheiro, tinha como objetivo ser uma maneira de simbolizar o valor dos recursos, em condição natural ou manufaturado, para facilitar os negócios nas transações comerciais, mas transcendeu esse objetivo faz muito tempo e atualmente é considerado como sendo o principal recurso para a maioria dos seres humanos. Comer, beber, morar, dormir, reproduzir, amar, andar e outras ações naturais humanas passaram a ser coisas de pequeníssima importância perto do dinheiro.

Isto é, os humanos modificam os recursos, processam os recursos modificados e vendem (trocam) esse material. Para “facilitar” essas transações comerciais, os humanos inventaram o dinheiro, que passou a servir como padrão de equivalência entre as mercadorias (os recursos no comércio humano) a serem negociadas. Paralelamente a isso desenvolveu-se um ramo de atividade estritamente antrópica, que a natureza (as demais espécies do planeta) não conhece, pelo menos dessa maneira, que foi denominado de economia e cujo objetivo é permitir garantir mais recursos, que passaram a ser entendidos simplesmente como dinheiro. Assim, a maioria dos seres humanos, passou a se preocupar com o dinheiro e não com os recurso naturais.

Não fosse o absurdo de supervalorizar o dinheiro, essa situação podia até ser uma forma mais conveniente de tratar os recursos e até podia ter um objetivo nobre, mas anexado a ela veio uma ideia terrível, que foi a ideia de lucro (vantagem em dinheiro), que a natureza (as demais espécies do planeta) também não conhece. Como “o lucro pareceu ser um bom negócio”, os seres humanos não abriram mão de trabalharem efetiva e especificamente visando essa possibilidade. Se der lucro, sim e se não der lucro, não. Infelizmente esse passou a ser o fundamento maior da atividade humana. Por conta disso, alguns seres humanos passaram a comprar e vender exclusivamente dinheiro ao invés de recursos naturais.

A propósito, não sou contra o lucro, muito menos contra o capitalismo e nem quero voltar necessariamente ao escambo. Estou apenas afirmando que o lucro como base exclusiva de interesse para geração de renda e ampliação da economia é um grande (talvez o único) causador dos transtornos planetários. O grande equívoco da humanidade foi acreditar que dinheiro vale alguma coisa, pois quem valem são os recursos.

Fazer riqueza (ter cada vez mais dinheiro) passou a ser um compromisso dos seres humanos, que por conta dessa “necessidade” trocou e continua trocando cada vez mais as verdadeiras necessidades por dinheiro e não mede consequências para atingir esse intento. O que importa é ter dinheiro para poder comprar e assim destruir um pouco mais o planeta que já está bastante degradado. O consumo dos recursos naturais e derivados atingiu um patamar absurdo, onde as pessoas querem comprar, apenas por comprar, pois para muitos humanos, já não há nenhum significado na maioria das compras, além de mera ostentação.

Lamento, mas tenho nesse momento, que fazer mais uma constatação terrível e que a maioria dos humanos não costuma querer saber. A partir do conhecimento do lucro e seu filho pródigo, o consumo, e de seus benefícios pessoais, a humanidade não parou mais de complicar a vida dos seres humanos e não humanos na Terra seriamente. A destruição planetária passou a ser mera contingência da atividade econômica, que precisa gerar cada vez mais lucros para que se tenha mais dinheiro e que se consuma sempre mais. É preciso conciliar o lucro e o consumo aos interesses planetários, antes dos interesses estritamente humanos e existe pouquíssima gente disposta a seguir nessa direção.  

O mundo precisa de mais ecologia e menos economia, ou melhor, considerando que economia é uma questão ecológica, então a economia tem que se fazer com base na ecologia, isto é, o mundo, na verdade, só precisa de ecologia, mas, infelizmente não é isso que se vê. Pois então, ao que me parece, não existem muitos humanos dispostos a pensar e agir no interesse planetário, aquele que deveria ser, em última análise, o maior interesse da humanidade.

SUSTENTABILIDADE, O FIEL DA BALANÇA

O Eco desenvolvimento, o Desenvolvimento Sustentável e hoje a Sustentabilidade são conceitos que foram evoluindo gradativamente a partir da década de 1980 e que hoje podem ser traduzidos quase da mesma maneira. Isto é, essas são as ideias básicas que foram pensadas por uns poucos seres humanos preocupados, os quais procuraram desenvolver soluções plausíveis para as questões planetárias que foram citadas anteriormente. O compromisso fundamental desses conceitos foi criar mecanismos que associassem o desenvolvimento econômico com a manutenção da qualidade do meio ambiente, pois os recursos naturais precisavam ser garantidos a todos os humanos, atuais e futuros. As ideias são muito boas, mas a economia mundial e os diferentes países, com seus administradores e suas populações também precisam estar envolvidos nessas ideias, pois também têm que fazer as suas respectivas partes no compromisso com o planeta.

A distância entre o pensar e o fazer sustentavelmente ainda é muito grande, mormente quando se considera a relação entre pobres e ricos. Essa distância tem que ser progressivamente diminuída e os recursos naturais têm que ser usados com parcimônia, no interesse maior da humanidade e não de uns poucos indivíduos ou países que têm dinheiro para comprar recursos. É preciso abrir mão de algumas regalias, o que os ricos não querem e deixar de lado algumas pseudonecessidades, o que os pobres não aceitam. Em suma, ambos os extremos têm que ceder, mas quem está efetivamente disposto a caminhar nessa direção.

A Sustentabilidade é a única condição possível de associar a natureza e a sociedade, garantindo crescimento econômico, protegendo os recursos naturais e mantendo a qualidade de vida do planeta. A vida humana deve ser protegida, mas principalmente deve ser planejada para o futuro, para aqueles seres humanos que ainda não nasceram. É preciso garantir que esses humanos tenham direito a vida e que essa vida tenha qualidade, mas é preciso principalmente que o planeta tenha condições de abrigar vida no futuro, pois não deverão existir futuros seres humanos se não houverem as condições planetárias devidas que possam viabilizar e assim garantir a geração e a manutenção desses indivíduos que ainda estão para nascer.

Nós humanos, somos a principal causa do problema, mas, o lado bom da história, é que também somos a parte principal da solução. Aliás, acredito mesmo que a solução seja uma questão exclusivamente nossa, pois se, por um lado, foi a espécie humana que criou os problemas, por outro lada é apenas a espécie humana que tem efetiva condições de tentar resolvê-los. Os humanos do futuro esperam que os humanos do presente sejam capazes de cumprir o compromisso planetário histórico que têm com eles. Para que isso seja possível, há necessidade premente que trabalhar dentro dos padrões precípuos da sustentabilidade, mas como já foi dito no início, essa é uma tarefa que precisa ser assumida coletivamente por toda humanidade. Cada ser humano, enquanto estiver vivo, é responsável pelo planeta, pela vida das demais espécies vivas do planeta, pela sua própria vida e pela vida dos futuros seres humanos do planeta.

No mundo há pessoas em todas as áreas de trabalho e em todas as regiões geográficas trabalhando efetivamente para que esse ideal sustentável tenha êxito, mas é fundamental que todos os segmentos sociais e todos os grupos humanos estejam imbuídos do firme propósito de melhorar as condições planetárias progressivamente. A tarefa não surtirá efeito se não houver participação efetiva de toda a humanidade. A sustentabilidade é a única possibilidade para a nossa espécie. Desta maneira, somente um planeta ecológica, social e economicamente sustentável poderá atuar como verdadeiro fiel da balança e continuará garantindo a manutenção dos seres humanos na superfície da Terra.

EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE (EDUCAÇÃO AMBIENTAL)

Obviamente para se chegar à sustentabilidade que se quer e da maneira que se quer será necessária uma carga imensa de educação. Convencionou-se chamar de educação ambiental a educação ligada ao meio ambiente e as questões ambientais, mas eu penso que educação seja um termo que, por si só, já diz o que pretende. Se precisamos nos preocupar com uma educação que deverá fazer o ser humano pensar e agir com relação às questões genéricas que complicam a vida planetária e se chamamos isso de educação ambiental, então que assim seja. Mas, eu tenho uma preocupação mais específica quanto ao termo educação ambiental, que para mim é um termo pleonástico, porque qualquer forma de educação tem levar em conta o ambiente em que ela ocorre e assim, toda educação é uma forma de educação ambiental, mas vamos deixar a semântica de lado e seguir em frente.

Temos que trabalhar numa maneira de educação que motive as pessoas que estiverem bem nos locais onde estão a continuarem querendo estar bem e por isso mesmo buscando sempre melhorar. A qualidade dos ambientes, sejam eles quais forem, sempre deverá ser a melhor possível, pois se cada pequeno ambiente for bom, o macro ambiente (o planeta) estará caminhando para a perfeição. Esse deverá ser o objetivo da educação ambiental: trabalhar para a perfeição do ambiente planetário, ainda que isso seja um utopia.

Atitudes antropocêntricas não terão lugar na educação. O biocentrismo terá que ser o objetivo fundamental e a prioridade primária será a manutenção da vida no planeta, independentemente de qual seja a espécie, pois se essa espécie existe é porque ela é importante ao planeta e assim precisa ser mantida existindo. Haverá o maior cuidado com as questões que possam levar a viabilidade de extinção de espécies, pois será entendido que cada espécie extinta é um pedaço do planeta que se foi e assim, também é uma parte da história humanidade que se foi, haja vista que descendemos evolutivamente de outras espécies vivas.

A Terra é a meta única e tudo deve ser relacionado aos interesses planetários primários e preponderantes, todo o resto será consequência daquilo que for melhor para o planeta. Se a humanidade conseguir agir dessa maneira, então realmente estará sendo criando um novo homem, cuja qualidade de vida será medida por suas ações coletivas no interesse maior da própria humanidade. O egoísmo progressivamente dará lugar ao cooperativismo e o egocentrismo ao altruísmo. Os seres humanos estarão mais preocupadas em fazer para todos do que para si, porque a Terra e avida serão os interesse maiores das diferentes comunidades.

A chamada educação ambiental será também a educação social, a educação econômica a educação cultural, porque toda educação envolverá questões que implicarão sempre a sustentabilidade planetária. Não haverá nenhum mecanismo destoante desse critério básico e assim, tanto o estudante, quanto o educador estarão atentos e implicados no firme propósito de garantir vida e qualidade de vida ao planeta. A noção de Terra é única e que deverá continuar sendo nossa única casa por muito tempo, certamente será o fundamento maior do processo educacional e tudo caminhará sempre nessa direção. Os próprios cursos profissionais técnicos ou superiores serão naturalmente inclinados a se enquadrarem estrategicamente em formar profissionais ecologicamente corretos, socialmente justos e economicamente viáveis, dentro do tripé da sustentabilidade.

A educação com certeza irá se direcionar para mudar o rumo do planeta e consequentemente das possibilidades da natureza seguir seu caminho evolutivo e da humanidade crescer intelectual e moralmente, pois essa educação deverá servir para orientar o estudante a caminhar para a realização pessoal e para a vivência comunitária e assim também participar da melhoria da qualidade de vida dos demais seres humanos. A responsabilidade social e ambiental dos indivíduos caminhará a passos largos e trará o fim de muitos preconceitos, estabelecendo um novo ser humano, que sobre tudo, sempre respeitará os demais seres humanos, porque terá consciência de que não existe ser melhor que outro.

CONCLUSÕES

Por fim, quero mais uma vez deixar claro que o mais importante de tudo não é fazermos encontros desse tipo, com as pessoas interessadas e já conscientes sobre a questão. Isso é bom, mas não adianta absolutamente nada, porque nós não temos poder de fogo nas ações políticas que se fazem necessárias. Temos que pensar em criar mecanismos educacionais e legais que envolvam direta e indiretamente as comunidades e os governos para que novas ações sejam estabelecidas visando a mudança dos paradigmas, que trarão clareza e entendimento sobre a veracidade das questões ambientais às diferentes populações humanas.

Esses mecanismos educacionais e legais é que poderão estabelecer os comportamentos novos que almejamos e que poderão permitir que as práticas sustentáveis passem a ser consensuais e assim possam efetivamente se transformem em ações cotidianas simples e comuns. A sustentabilidade tem que passar a ser algo natural nas diferentes culturas humanas e isso só será possível com o interesse dos governos e das instituições sociais.

A prática sustentável possivelmente exigirá até ações mais enérgicas sobre alguns países e determinados grupos sociais, mas urge que essa prática se torne costumeira da humanidade como um todo. Penso eu que o futuro da humanidade seja uma questão mais importante que todas as demais e assim deve ser prioritárias as ações que se destinam a esse fim e certamente a sustentabilidade é a principal dessas ações.

A educação ambiental, por sua vez, deverá preparar o homem do futuro, objetivando as consequências posteriores e mais ainda, antevendo as novas necessidades que surgirão. O novo homem que vai nascer com a educação ambiental efetiva e embutida nas populações já crescerá com uma mentalidade naturalmente preocupada com o planeta e com todas espécies que nele vivem. Não haverá necessidade de uma preocupação ambiental, porque esse será um compromisso intrínseco dentro da própria condição humana.     

O dinheiro, o lucro e o consumo é claro que continuarão existindo, até porque as atividades sociais humanas não deixarão de acontecer, mas a importância desses aspectos será tão insignificante quanto uma gota de água no oceano, porque todos terão o foco principal na vida e não nas riquezas, nem no poder ou no conforto. O trabalho permitirá obter o dinheiro necessário para sobreviver e viver com boa qualidade de vida e comprar será uma contingência da necessidade e não uma necessidade contingente. O Consumo exacerbado, que hoje se vê alhures, não poderá existir em situação nenhuma, pois qualquer ser humano terá exatamente aquilo que precisa e não haverá porque ter mais que isso. O lucro será reinvestido em benefício da própria humanidade e não haverá essa guerra econômica do capitalismo selvagem que causa grande infortúnio a humanidade.

É claro que e educação não conseguirá mudar tudo, pois continuarão existindo os 7 pecados capitais, os ricos e os pobres, as diferenças entre os indivíduos. O ser humano continuará sendo humano e assim diverso e controverso, mas cultura humana terá avançado a tal ponto, que não dependerá mais de argumentos sórdidos para decidir pendências. A educação tentará produzir uma justiça que deverá ser efetivamente igualitária e justa.

É claro que não conseguiremos atingir todo o nosso intuito, até porque não depende somente da gente, mas quem dera que fosse verdade! É eu sou realmente um sonhador e todos aqui nesse evento, que estão querendo sustentabilidade e educação ambiental, também são. Mas, vamos acreditar, pensar e sobre tudo trabalhar para que essas coisas que almejamos sejam possíveis um dia, pois talvez isso nos faça homens e mulheres melhores hoje, apesar de tudo. Ou melhor, assim nos livramos do sentimento de culpa, porque estamos atuando como “bons samaritanos”, porém, todos nós ainda somos cientes de que não conseguiremos resolver esses imensos problemas sozinhos.

Por favor, sonhem comigo para que as diferentes nações da Terra, os políticos poderosos, os administradores públicos capazes e os grandes empresários compreendam seriamente a verdadeira situação planetária e mudem de filosofia, começando a tomar as devidas providências no sentido de pensar e fazer diferente. Somente assim, com os poderosos e os comuns, atuando juntos é que poderemos planejar, de fato, um futuro melhor para o planeta e para toda humanidade.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)


*Artigo publicado no site http://www.ecodebate.com.br, Edição 3.142, 05 de fevereiro de 2019.*e Ambientalista (Conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente - CONSEMA).
01 dez 2015

O Conceito de Ambiente Saudável e a Catástrofe Humana

Resumo: O texto atual é mais uma reflexão sobre a questão ambiental planetária e as perspectivas necessárias de mudança para a continuidade da espécie humana na Terra. É questionada a responsabilidade do homem como pretenso “Senhor da Terra” e citadas algumas coisas que deveriam ser feitas para a melhoria da qualidade de vida planetária. É citada também a COP 21 que está acontecendo em Paris, como efetiva fonte de acordo para começar a recuperação do Clima e do Planeta.


O Conceito de Ambiente Saudável e a Catástrofe Humana

O conceito de ambiente saudável deve ser compreendido numa amplitude que envolva objetivamente “aquele local (meio ambiente) que permite a geração, o desenvolvimento, a manutenção e a continuidade da vida”. Ao que parece, pelo menos até agora, a Terra é o único lugar no universo em que essas condições foram satisfeitas a contento e assim, somente aqui nesse planeta a vida se estabeleceu, evoluiu e diversificou. Entretanto, já faz muito tempo que o Planeta Terra vem progressivamente deixando de ser um ambiente saudável para grande número das espécies aqui viventes, inclusive e principalmente para a espécie humana. Aliás, sempre é bom lembrar que exatamente a nossa espécie é a principal responsável pela condição cada vez menos saudável do planeta Terra. Muitas espécies se extinguiram prematuramente e outras estão extremamente ameaçadas e certamente não terão mais salvação, por conta da situação lamentável situação de degradação que a espécie humana produziu no planeta até aqui.

Entretanto, nós temos certeza absoluta que não era para ser assim e o que o resultado deveria ter sido bem diferente, se o planeta tivesse seguido seu curso evolutivo naturalmente e sem a interferência humana. Com certeza, o ciclo planetário da vivência de grande número dessas espécies deveria ter sido bem maior e mais abrangente. Como o tempo de existência dessas espécies deveria efetivamente ser maior, eu estou me utilizando da expressão “extinção prematura” para o desaparecimento delas. Se a Evolução levou ao surgimento dessas espécies no planeta, certamente foi para que pudessem ter a oportunidade de lutar e tentar continuar evoluindo de maneira natural. A extinção poderia até acontecer para algumas delas, já que a extinção também é um fenômeno natural, mas essa extinção deveria ser decorrente de condições naturais aleatórias e não das imposições condicionadas pelas atividades humanas.

Os processos naturais de extinção normalmente costumam levar algum tempo para acontecer e quando se efetivam geralmente são resultantes de consequências evolutivas outras, oriundas das próprias atividades orgânicas (fisiológicas), genéticas, comportamentais, ou ainda ambientais das espécies e não provocadas quase que exclusivamente por ações antrópicas, como, por exemplo, a destruição de ecossistemas naturais. Algumas vezes, esses processos de extinção também resultam de atividades geomorfológicas catastróficas e grandes cataclismas, como foi o caso dos grandes dinossauros. Entretanto, esses fenômenos causam extinção em massa, o que não costuma ser uma regra, pois as extinções tendem a ser lentas e aleatórias, dentro do próprio processo de evolução biológica. Em outras palavras, as extinções naturais são consequências da própria evolução, onde umas espécies substituem as outras por estarem melhor adaptadas.

Pois então, nos últimos tempos, o que temos, infelizmente, observado é uma extinção prematura, rápida e progressiva de grande número de espécies, num padrão bem distinto daquilo que deveria ser naturalmente esperado. Isso significa que existe alguma coisa errada, talvez alguma coisa catastrófica e que por conta disso, a Terra não está mais parecendo ser um bom lugar para muitas dessas espécies viverem. É claro que as catástrofes ambientais “naturais” têm sido cada vez mais frequentes, o que também favorece à extinção.

Mas, o que realmente mudou ou está mudando? Que coisa é essa que está complicando cada vez mais os processos naturais? Por que o planeta vida, tem progressiva e acentuadamente rechaçado a própria vida?

Eu acredito que todas essas perguntas precisam ser respondidas sem paixão e lamento dizer que penso efetivamente que a causa de todos esses problemas seja a ação nociva da espécie humana no planeta. A ação do homem, talvez seja a maior catástrofe planetária já ocorrida até aqui e certamente muitos dos cataclismas que tem acontecido tem relação direta com as atividades antrópicas no planeta.

Nenhuma outra espécie planetária é capaz de ocupar e modificar o ambiente natural tão diversificada, desastrosa e perigosamente como a nossa. A rigor, ao longo de nossa história, nós destruímos, degradamos e modificamos de alguma maneira, todos os ecossistemas terrestres. Nós fizemos uma apropriação indébita do planeta e assim, derrubamos muitas florestas; matamos inúmeros animais; construímos fábricas, usinas, estradas, áreas agrícolas e cidades; mudamos cursos de rio e secamos rios; comunicamos oceanos e ligamos continentes; transpomos montanhas, rios, lagos e mares. Enfim, fizemos e ainda estamos fazendo, uma mudança imensurável no planeta. Essa ações certamente têm trazido consequências drásticas ao clima do planeta e ampliado a ocorrência de eventos catastróficos. E a pergunta que não quer calar é a seguinte: até quando, nós continuaremos a agir assim, com essa postura degradadora?

Tenho certeza que existem muitas pessoas, muitos seres humanos, que já possuem essa noção de que o homem é o único grande degradador da Terra e assim, para esses indivíduos, obviamente eu não disse novidade absolutamente nenhuma, mas precisamos fazer com que todos os seres humanos passem a ver, entender e efetivamente trabalhar para modificar esse procedimento degradador e errôneo de nossa espécie. Temos que mudar o nosso padrão comportamental urgentemente, porque falta muito pouco, para que o processo de extinção atinja nossa espécie também. É isso mesmo a nossa degradação, que até extinguiu algumas espécies, ali na frente extinguirá a nossa espécie também e, como o processo está cada vez mais rápido, devo concluir que temos pouquíssimo tempo.

A catástrofe humana precisa ter fim, para que a Terra, que jamais voltará a ser a mesma, possa, pelo menos, abrigar e manter a nossa espécie a algumas outras por mais algum tempo. Que o nosso processo natural de extinção, que já não será natural depois de tudo que fizemos, possa ser mais tardio do que está se projetando. Temos que criar uma nova filosofia para a vida humana no planeta, que privilegie sobre tudo a vida como fenômeno natural e o planeta como casa que permite e capacita à vida. Para tanto, será preciso que tomemos certos cuidados fundamentais, alguns dos quais, mesmo sem nenhum poder sobre a possibilidade de aplicabilidade deles, vou me atrever a mencionar, obviamente de maneira aleatória e sem nenhuma ordem de prioridade ou preferência, porque todos são igualmente importantes. Quem sabe alguns administradores públicos ou outros poderosos achem interessante e resolvam apoiar e até mesmo investir nessas ideias.

1 – Controlar imediatamente a população humana no planeta. Cada ser humano que nasce é infelizmente um aumento significativo de problemas para a Terra, pois aumenta a necessidade de espaço físico e de recursos naturais.

2 – Acabar imediatamente com o desmatamento de áreas naturais (desmatamento zero). Cada árvore nativa derrubada é infelizmente um aumento significativo de problemas para a Terra, pois, além de diminuir a taxa fotossintética que mantém a vida no planeta, diminui também a biodiversidade planetária e aumenta a possibilidade de conter mais a taxa de gases de efeito estufa.

3 – Acabar imediatamente com as práticas mineradoras degradadoras e desnecessárias. Cada novo projeto de lavra é infelizmente um aumento significativo de problemas para a Terra, pois destrói o ecossistema, aumenta o desmatamento, extermina e extingue espécies, degrada e decompõe o solo, polui a água e outras coisas mais.

4 – Controlar progressiva e atentamente as atividades industriais. Cada nova indústria é infelizmente um aumento significativo de problemas para a Terra, pois utilizam recursos naturais, água, ar e energia, além de poluir o ar, a água e o solo.

5 – Controlar progressivamente a Poluição Química, o Lixo e os Resíduos Sólidos. Cada grama a mais de resíduo é infelizmente um aumento significativo de problemas para a Terra, pois degrada e polui o meio ambiente, gerando condições insalubres que favorecem a doenças e outras coisas mais.

6 – Investir maciçamente em Educação Ambiental. Cada procedimento pessoal e coletivo ambientalmente correto produzirá uma significativa melhora planetária, pois as pessoas mais bem orientadas saberão tratar melhor o planeta e assim garantirão a qualidade de vida que se espera, para as gerações atuais e futuras.

7 – Mudar gradativamente da noção de valor, que deverá deixar de ser estritamente econômica e passar a ser preferencialmente ecológica. O que tem valor são as coisas e não o dinheiro, portanto é preciso proteger as coisas antes do dinheiro. Lembrar que: “o valor não vale, o valor é”. Se existirem as coisas para todos, não haverá necessidade de existir o dinheiro apenas para alguns.

8 – Limitar ao máximo o uso dos recursos naturais não renováveis e obrigar legalmente a renovação dos renováveis. Tudo o que existe na Terra deverá usado em benefício da própria Terra. O homem como espécie dominante tem que ter responsabilidade no uso dos recursos naturais e tem que estar claro que qualquer atividade não seja boa para o planeta, também não poderá ser boa para a humanidade.

9 – Investir no conhecimento científico na área ambiental, afim de produzir novas tecnologias que propiciem a melhora progressiva e a recuperação do ambiente natural, pois isso nos conduzirá às novas práticas ambientais que nos permitirão progressivamente tratar o planeta de maneira menos degradante.

10 – Reduzir a uma escala compatível todas as atividades industriais que prejudicam direta ou indiretamente o meio ambiente, pois as indústrias a exemplo das demais atividades antrópicas deverão estar a serviço dos interesses coletivos da espécie humana, que serão primariamente condicionados pelos interesses planetários.

11 – Atuar para que as cidades devam ser espaços que permitam progressiva melhoria da qualidade de vida das pessoas e dos demais organismos vivos que nela habitem, pois as cidades, embora sejam ambientes modificados no interesse da humanidade, tem que guardar sua relação próxima com a natureza. O ser humano antes de ser urbano é natural e traz consigo para a cidade várias outras espécies que também ocupam a cidade e que competem com o humano sobre vários aspectos e que, por isso mesmo, o ser humano precisa aprender a conviver com elas.

12 – Atuar proativa e determinadamente visando sempre a sustentabilidade. Lembrar que tudo acontece num lugar (meio ambiente), que somos seres humanos (sociedade) e que compramos e vendemos coisas (economia). A sustentabilidade é o perfeito equilíbrio interesses três fatores e só seguiremos em frente se mantivermos esse equilíbrio.

13 – Garantir a manutenção da biodiversidade planetária, protegendo e preservando os bancos genéticos, pois no futuro será essa biodiversidade que poderá nos orientar e conduzir nos procedimentos corretos a serem tomados para continuar a nossa caminhada planetária.

 14 – Investir em tecnologia cada vez mais limpa para garantir a melhoria continua da qualidade ambiental e consequentemente da qualidade de vida. O planeta agradece e as gerações futuras também agradecerão para sempre aquilo que for feito hoje em prol delas.

O ambiente saudável que queremos, merecemos e que o planeta nos deu durante muito tempo, pode voltar a existir, só depende de nós mesmos. Apenas a espécie humana pode mudar as tendências que estão previstas, entretanto é preciso muita vontade e ação política para que isso aconteça. Nesse sentido cumpre a cada um de nós a obrigação de exigir que os governos dos entes federativos brasileiros nas três esferas do poder se envolvam seriamente se comprometendo com as questões ambientais.

 Por outro lado, no nível internacional, a 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima (COP21), que está acontecendo nesta semana e na próxima, em Paris e que reunirá pelo menos 190 chefes de estado, para discutir as questões relacionadas ao Clima da Terra, certamente é o melhor momento para que se consiga estabelecer alguns pequenos acordos que possam garantir o ambiente saudável. Se algumas das modestas citações aqui levantadas, forem de alguma maneira discutidas e implementadas, com certeza o resultado da COP 21 já terá sido positivo, mas é preciso que se procure estabelecer o número mais amplo possível de pequenos acordos relacionados aos diferentes temas citados. Os líderes estão confiantes e a secretária-executiva da convenção sobre mudanças climáticas da ONU, Christiana Figueres, afirma que efetivamente um grande acordo climático vai acontecer a partir do encontro.

Bem, ficamos por aqui aguardando as ações nacionais e internacionais, porque urge que a espécie humana se faça, de fato, “dona do planeta”, como tem historicamente se intitulado até aqui, mas sem o verdadeiro compromisso de cuidar daquilo que é seu. Doravante, esperamos que nossa espécie venha assumir a condição efetiva de proprietária da Terra, mas, que seja consciente da responsabilidade que tem, pensando e agindo como uma espécie planetária, isto é, no interesse coletivo de todas as espécies vivas da Terra e não somente no interesse de grupos de indivíduos humanos determinados que buscam solucionar suas questões particulares. Não sou pitonisa, mas acredito que apenas pensando e trabalhando coletivamente em prol do planeta é que poderá haver salvação da extinção prematura para o Homo sapiens.

Nossos filhos, netos, bisnetos e todos os que ainda virão, estão esperando que nós façamos a nossa parte, para que eles tenham condições de viver no nosso planeta azul.  A Terra ainda pode continuar a ser um ambiente saudável por muito tempo, apesar da catástrofe humana. Mais uma vez estamos sendo chamados e temos a oportunidade de minimizar problemas, para progressivamente começar a resolver algumas das principais questões ambientais e quem sabe garantir a manutenção de nossa espécie na Terra. Que Deus ilumine as decisões dos líderes presentes na COP 21, para que eles possam fazer o dever de casa corretamente.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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06 out 2015

A Ilusão do Relógio e a Realidade do Tempo

Resumo: O artigo aborda a questão da forma degradante como a espécie humana trata o planeta e das consequências drásticas que esse fato tem causado ao longo da implacabilidade do tempo. Além disso, o texto sugere que nossa espécie procure mudar de postura, a fim de garantir uma existência maior para nós aqui na Terra.


A Ilusão do Relógio e a Realidade do Tempo

É muito comum as pessoas se enganarem ou mesmo se iludirem com o tic tac de um relógio qualquer, ou mesmo com o vai e vem do badalar de um relógio de parede e entenderem que a cada segundo o tempo vai e vem, porque a representação do segundo é exatamente o tempo compreendido entre essas idas e vindas. Pois é, meus amigos, isso é apenas uma representação, porque na realidade, o tempo não vai e vem, lamentavelmente o tempo só vai e não há como nos iludirmos com esse fato.

 Nós, organismos vivos, sofremos isso mais seriamente, porque temos um tempo de vida definido e quanto mais o tempo vai, efetivamente menos tempo nós temos para viver. Quero crer que muitas das espécies vivas não tenha de fato essa dimensão de que a vida é um caminhar para a morte, mas nós, seres humanos, certamente temos ou, se alguns de nós não tem, deveriam ter também. Bem, verdade é que a cada badalada, a cada vai e vem do badalo do relógio, a cada tic tac, enfim, a cada segundo, nós estamos envelhecendo e ficando mais próximos da morte.

Até aqui, já existiram cerca de 30 milhões (30.000.000) de espécies na Terra, algumas viveram muitos milhões de anos, outras viveram milhares, outras somente centenas ou mesmo décadas, mas todas se extinguiram ou ainda vão se extinguir. A extinção é compulsória e chega para todas as espécies vivas. Todas as espécies que vivem e viveram, sempre estiveram em total dependência daquilo que o planeta lhes permitia fazer, pois nenhuma dessas espécies tinha como tratar ou sabia cuidar do planeta para seu próprio interesse. A espécie humana é diferente, pois é a única que pode modificar o planeta e acredito que ela deveria procurar fazer essas modificações no seu interesse como espécie. Entretanto, não é exatamente isso que acontece, porque temos uma tendência individualista muito forte e quase nunca pensamos no coletivo.

Nossa contagem de tempo é interessante: segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos, milênios. Cada indivíduo da espécie humana está limitado a viver décadas, muito raramente alguns de nós atingem um século, mas nenhum indivíduo conseguiu passar muito desse limite e nem vai conseguir passar nunca, porque a “máquina humana” está programada para viver apenas algumas décadas. No meu caso específico, só para dar um exemplo, estarei completando seis décadas, sessenta anos, setecentos e vinte meses, 21.900 dias, 525.660 horas, 31.539.600 minutos, 1.892.376.000 segundos. Pois então, é preciso ficar claro que números são apenas números e nada mais, o que importa mesmo é o que cada um faz com o tempo que dispõe na sua vida, ou seja, o que fazemos efetivamente com o tempo que passamos pela vida.

Enfim, nesses 1.892.376.000 segundos eu, como qualquer indivíduo da espécie humana, fui capaz de uma infinidade de coisas, cresci, estudei, me formei, trabalhei, casei, reproduzi, viajei e várias outras coisas mais. Entretanto, tudo o que fiz, ainda é muito pouco, porque certamente ainda quero fazer muitas coisas mais. É certo que já vivi muito mais do que ainda tenho para viver, mas tenho absoluta convicção de que ainda existe muito por fazer e eu vou continuar fazendo. Com um pouco de sorte, talvez eu ainda tenha 20% ou 30% (mais números) a mais de tempo para viver. Isso significa, algo entre 12 e 18 anos, o que obviamente não vai ser suficiente para aquilo que ainda almejo, até porque eu sou um sonhador e, como tal, estou sempre na expectativa de poder fazer algo mais e quando a morte chegar, certamente vai ser de chofre, até porque embora ela seja compulsória, por outro lado, ela nunca é esperada.

A minha morte, assim como a morte de qualquer pessoa ou indivíduo humano, causa uma grande ruptura nos sonhos, mas não é por isso que eu pararei de sonhar a partir de agora e nem será pelos números imprecisos que eu ficarei esperando a morte chegar. Nada disso. Eu vou viver até meu último segundo, como se ele fosse o primeiro, lutando e sonhando com dias e coisas melhores para o Planeta, para a Humanidade e obviamente fazendo a minha parte para que as coisas que eu acredito sejam possíveis de acontecer. Eu fui programado para décadas e já cumpri algumas e certamente faltam poucas, mas o planeta foi programado para bilhões de anos e a Humanidade foi programada para milhares ou milhões de anos e deve faltar muito tempo para que ambos cheguem naturalmente ao fim.

A Terra é muito velha, mais ainda vai envelhecer muito mais, apesar do homem. A Humanidade é muito jovem e precisa ficar um pouco mais de tempo aqui na Terra, muito embora a tendência observável e de que isso não aconteça, exatamente por conta das ações desenvolvidas pelos próprios seres humanos, que quase sempre colocam os interesses pessoais acima dos interesses coletivos de nossa espécie, como já foi dito, e obviamente isso não faz bem a Humanidade.

O tempo é contumaz, compulsório, implacável e ainda assim, segue sempre jovem como se ele próprio não existisse. Para as coisas não vivas, o tempo não representa nada, mas para as coisas vivas, que envelhecem na sua frente, ele demonstra sua força, independentemente de qualquer coisa que possa acontecer. Aliás, o tempo deve ser ateu, ou melhor o tempo é o seu próprio Deus, porque ele tudo pode, tudo vê e tudo faz, além de ser onipresente. A grandeza do tempo tem nos impedido de pensar a nosso favor, porque nos preocupamos mais com ele e menos conosco. Na verdade, nós temos que viver, independentemente do tempo e apesar de sua nefasta existência.

Obviamente o tempo continuará passando, mas nós não precisamos, até porque não podemos, tentar acompanha-lo. Nós precisamos parar e mesmo sabendo que no final nós vamos perder, porque a morte é certa, tanto individual como coletivamente, porque não existe indivíduo e nem espécie eterna.  Entretanto, ainda assim, nós temos a obrigação de lutar para conseguir ampliar um pouco mais a existência de nossa espécie aqui na Terra.

O Planeta Terra, até aqui, já viveu cerca de cinco bilhões (5.000.000.000) de anos, ou seja, 4.730.400.000.000.000.000 de segundos (mais números grandes e inúteis) e independentemente das mudanças naturais do clima, ou de qualquer outra catástrofe geomorfológica provocada pela Humanidade, a Terra continuará existindo, por um período certamente ainda maior de que o que já passou. É claro que a Humanidade não seguirá sobrevivendo na Terra por toda essa quantidade de tempo, pois como todas as espécies, o Homo sapiens naturalmente se extinguirá, mas é possível que ainda possamos nos manter por alguns milhares de anos aqui nesse planeta, se houver um trabalho efetivo e direcionado buscando esse propósito. O empreendimento em prol da longevidade maior para a espécie humana, só dependerá única e exclusivamente da vontade coletiva do homem, isto é, do interesse precípuo da própria Humanidade.

Não falo por mim particularmente ou de você em especial, seja lá quem você for, o que eu quero é falar pela Humanidade. É preciso que a Humanidade queira fazer frente ao tempo e isso só será possível se agirmos coletivamente e com afinco. É besteira lutar contra o tempo, pois todos vamos morrer, ao longo de algumas décadas e a espécie humana vai se extinguir em algumas centenas, talvez milhares ou mesmo milhões de anos, como já foi dito. Porém, nós podemos e devemos agir no sentido de garantir que o ciclo da vida humana no planeta se refaça ainda pelo maior número de vezes que for possível sobre a superfície da Terra. Não precisamos e nem devemos adiantar os processos naturais de extinção como temos feito até aqui. Está na hora de agirmos em prol de nós mesmos.

 O nosso objetivo maior como seres humanos deveria ser exatamente o de tentar garantir a permanência da Humanidade no planeta pelo maior tempo possível. Para tanto, temos que trazer o tempo para o nosso lado. Tem um ditado antigo que diz: “se você não pode com o seu inimigo, junte-se a ele”. Pois então, está na hora da Humanidade se aliar ao tempo e buscar uma convivência planetária melhor com ele. A fórmula é extremamente simples: queremos viver mais, então temos que cuidar mais do planeta, porque assim teremos menos situações conflitantes e degradantes. Com isso, o tempo será menos contundente conosco e nos permitirá sobreviver mais.

Para muitos seres humanos, em certo sentido, o tempo é sinônimo do clima, e embora isso efetivamente não seja uma verdade, do ponto de vista da Física. Mas, por outro lado, é certo que nós precisamos cuidar do clima para garantir que nossa espécie vá sobreviver por mais tempo. Dessa maneira a metáfora que confunde tempo com clima é benéfica, porque deveria nos conduzir a um estado de cumplicidade com a conservação do clima na Terra e isso seria muito interessante e positivo, tanto para a Humanidade como para o Planeta. Entretanto, nós mesmos negamos a metáfora que pregamos, quando degradamos o Planeta, interferindo drasticamente no clima e assim encurtando o nosso tempo planetário.

Quer dizer, mesmo sabendo que o tempo não para, nós, infelizmente, ainda continuamos na ilusão do relógio, de que o tempo vai e vem e estamos esperando que o tempo bom volte, para que possamos solucionar os problemas climáticos que nós mesmos criamos e que precisamos resolver, para ganhar mais tempo de sobrevivência na Terra.  A realidade está estampada na nossa frente, isto é, o tempo só vai e para nossa espécie, ele está indo numa velocidade surpreendentemente alta, mas parece que nós estamos parados e dormindo, ou então nós continuamos não querendo enxergar os problemas e assim, vamos caminhando progressiva e rapidamente para o terrível e triste fim da Humanidade.

Quando será que iremos cair na realidade e mudar o nosso comportamento coletivo?

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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12 fev 2015

O Encontro Imprevisível e Inesperado de Darwin com Eva

Resumo: Desta vez está sendo apresentado um texto que escrevi em 2006 e que já foi publicado e até mesmo apresentado em forma de peça teatral inúmeras vezes, mas que ainda é inédito aqui nesse site. O texto é uma utopia, que mesmo abordando uma impossibilidade física, tenta trazer para a discussão dois temas interessantes e bastante atuais da Biologia: a Evolução e a Degradação Ambiental. A composição literária consiste num misto de poesia e prosa que se desenvolve numa discussão entre Eva e Darwin, na qual a evolução, a manutenção e a continuidade da vida são tratadas pelos dois lados, destacando a aparente ingenuidade de Eva e a forte preocupação de Darwin com as ações do homem sobre o Planeta Terra.


O Encontro Imprevisível e Inesperado de Darwin com Eva

Após muito vagar no evo e no pensamento pelos diferentes locais do nosso planeta à busca de entendimento de suas dúvidas, de esclarecimento para suas angústias e de resolução para seus problemas interiores e individuais, os espíritos de Eva e Charles Darwin se encontram em algum lugar perdido na imensidão da Terra.

Eva, aquela que segundo a Bíblia foi a primeira mulher, criada por Deus a partir de uma costela do primeiro homem, seu marido Adão, feito à imagem e semelhança do próprio Deus e Charles Darwin, defensor do Evolucionismo e autor da principal Teoria da Evolução das Espécies, que se opõe frontalmente ao Fixismo (Criacionismo) contido nas ideias bíblicas. Então meus amigos, imaginem comigo e viagem nesse encontro fortuito.

Pensem em Eva procurando compreender o que está acontecendo com a Terra, preocupada com a situação caótica, confusa e desarmônica entre os povos e também com a fisionomia degradada, descaracterizada e desagradável de ser vista, naquele planeta que já foi definido pelo próprio Deus, como sendo o Paraíso e que foi dado ao homem pela benevolência divina. Onde estaria Deus e a previdência divina neste momento terrível que o planeta atravessa? Teria Deus nos abandonado?

Pensem em Darwin, por sua vez, tentando demonstrar que o paraíso terrestre continua existindo, embora numa concepção diferente daquela indicada na Bíblia e por isso mesmo, com uma fisionomia muito distinta, em consequência das modificações ocorridas ao longo do tempo, graças ao processo evolutivo e que foram aceleradas, mais recentemente, por conta da ação muitas vezes maléfica do homem. O homem, criado a imagem e semelhança de Deus, veio destruir a criação divina? A Evolução das espécies é um mau para a vida e para o planeta?

Este encontro, embora seja uma incongruência biológica, filosófica, física e religiosa. Isto é, um absurdo que só é possível de ser concebido à luz da metafísica, se fosse verdadeiro, imagino que deveria ter transcorrido mais ou menos da seguinte maneira:

 

Eva: Olá Charles, tudo bem?

Charles: Tudo bem Eva e você como está?

Eva: Eu não estou nada bem e por isso mesmo resolvi fazer uma viagem. Meu amigo Charles, eu vou viajar.

Charles: Viajar é bom Eva, aproveite a coincidência do seu nome e vá.

Eva: E você Charles, não quer ir também?

Charles: Para onde você está pretendendo ir Eva?

Eva: Vou embora da Terra, eu vou partir para Marte.

Charles: Embora viajar seja bom, sair da Terra não vale a pena Eva. Vá sozinha, porque essa viagem eu não faço. Eva, não vai dar mesmo. Nasci e cresci na Terra e aqui eu quero ficar. A Terra é minha casa e não quero sair e nem trocar. Deus disse para você e para Adão que o paraíso é aqui. Deus tem sempre razão e por isso mesmo eu só viajo se for daqui para aqui.

Eva: Mas Charles conhecer outros lugares não é interessante? E, por outro lado, estão falando tanto de Marte.

Charles: Eva, primeiro vamos pensar e discutir um pouco, antes de você decidir sobre fazer a sua viagem. Quem sabe, depois disso você até não muda de ideia e de imagem. De qualquer forma, eu vou ficar por aqui mesmo, no nosso planeta azul. Posso até conhecer outras paragens, quem sabe ir para o Norte ou para o Sul, mas é aqui que quero ficar. Vou tentar ver se sou capaz de evoluir um pouco mais nesse planeta.

Eva: Mas, há Evolução na Terra, Charles?

Charles: É claro que há Evolução Eva. Existe uma bela e expressiva Evolução Biológica onde as espécies são e se dão evolutivamente numa teia. A intrincada teia da vida que cresce, diverge e multiplica em todas as direções.

Eva: Adão tinha me comentado alguma sobre isso Charles. E em meus pensamentos, Evo também me falou, mas não acreditei. Aliás, na verdade eu não entendi?

Charles: Mas você ainda pode e deve entender um pouco mais.

Eva: E você Charles, de Evolução você entende, não é?

Charles: Não sei se entendo, mas eu sinto a necessidade biológica de sua existência, por isso mesmo é que estou dizendo e pedindo: Eva não vá viajar para Marte, porque lá não existe vida, apenas a plenitude apática e o silêncio do Evo se mantém. Marte é sempre igual e lá não há nada e nem ninguém. Lá em Marte, ao contrário da Terra, lá em Marte só há morte. Morte, de Leste a Oeste. Morte, tanto no Sul quanto no Norte. Marte é o planeta vermelho, o planeta cor de sangue. O sangue que corre no corpo do homem e de muitos animais durante a vida, Sempre indo e vindo, parelho como se fosse um espelho, mas que estanca na morte, como um circuito que sofre um corte. Eva, Marte é o Deus da guerra e hoje em seu planeta não há nada.

Eva: Mas Charles, aqui na Terra também tem guerra.

Charles: Lamentavelmente, eu sei Eva, mas não devia e nem queria. Aqui na Terra, há, como eu, quem saiba que a guerra erra, pois com ela, toda a humanidade berra e a sociedade emperra. E isso, não adianta porque a boca cerra e como nada acontece e toda ação em prol da vida se encerra. Assim, nada se faz contra a guerra que parece eterna. Eva existe um Evo de guerras subsequentes que destrói a Terra e a gente. Eva, além da guerra, qual a outra marca de Marte? Lá em Marte o solo é rochoso, compactado e seco. Parece que em Marte não tem água. Há quem diga que já teve ou que tem, mas ainda assim é muito seco. Eva, aqui na Terra ainda tem muita água.

Eva: Ah! A água. Coisa boa que é a água, não é verdade Charles?

Charles: Muito boa Eva, talvez a melhor de todas as coisas do Universo. Porém o planeta aqui é a Terra. Ele tem água e vive em guerra. Lá o Planeta é Marte, não há água, nem guerra, mas o solo arde. Pois é Eva, Marte é ou foi o planeta de Tanatus, o Deus da morte!

Eva: Charles, como Marte ficou assim?

Charles: Não sei Eva, mas foi a Evolução ou então foi a “vontade” de Deus.

Eva: Charles, então a Evolução leva ao fim da vida.

Charles: Não Eva, a Evolução é o fim em si mesmo. Ela busca a melhora constante das espécies no planeta, porém, se ocorrerem coisas erradas, ela pode acarretar na extinção das espécies e no fim da vida. Eva, a Evolução é uma dádiva de Deus em prol a melhoria constante da vida no planeta.

Eva: Charles, Deus é bom, não é?

Charles: É Claro Eva, Deus é a própria bondade.

Eva: Então, que Deus é esse que você diz, que teria a “vontade” de destruir as espécies como aconteceu em Marte, meu caro Charles? Esse Deus é o meu ou o seu Deus Charles?

Charles: Eva, Deus é um apenas e sendo bondoso, não tem vontade de destruir nada. Deus é aquele que tudo sabe, aquele que tudo vê, e que acompanha o homem em suas ações. A vontade de Deus é consequência do livre arbítrio e das ações do homem no planeta. Podes crer Eva, agora mesmo Ele está nos vendo e observando a nossa conversa.

Eva: Vê nos como, Charles?

Charles: Ele está lá em cima, no alto, sempre perto da Lua, nos observando.

Eva: O planeta Vênus está perto da Lua, então Vênus é Deus Charles?

Charles: Acho que não Eva, mas em certo sentido sim, já que Deus é tudo. Entretanto Eva, lá de cima, Vênus também tudo vê. Eva, Vênus é uma estrela branca e alva, a famosa Estrela Dalva, sempre brilhante e vigilante que não sai de perto da Lua, nem por um instante. Às vezes não o vemos, mas ele está sempre lá. E, como Deus, ele sempre nos vê.

Eva: Charles e a Lua, a Lua é sua Charles?

Charles: Não Eva, a Lua é o satélite da Terra. Mas, existem inúmeras outras Luas. Marte, por exemplo, tem duas Luas. E o grande planeta Júpiter, tem várias Luas no entorno de sua esfera.

Eva: Então Júpiter é melhor que a Terra Charles?

Charles: Penso que não Eva, porém não sei, mas até gostaria de saber. Mas, deixemos Júpiter de lado e voltemos à Terra e à vida Eva.

Eva: Que vida Charles? Aquela que só a Terra teve e que hoje se vê na TV? Ou aquela que se quer ter, mas que a própria TV indiretamente não deixa?

Charles: Aquela vida fabulosa, diversa, efervescente e brilhante Eva. Aquela diversidade de formas e espécies que só existe na Terra.

Eva: Brilhante que nem Vênus, grande e diversa como Júpiter e suas luas Charles?

Charles: Não, mais brilhante do que Vênus, maior e mais diverso que Júpiter Eva.

Eva: Então, que vida Charles? A vida fabulosa dos Deuses da Mitologia?

Charles: Não Eva, muito melhor ainda. A vida alegre da gueixa. Aquela que tudo deixa, apenas para dar prazer ao homem. A vida feliz e sem perigo, do planeta e do homem amigo. Sem tristeza e sem castigo, da mulher e do marido. A vida que Deus nos deu por conta de seu Evo de bondade. A vida do animal, que mesmo vivendo do vegetal, controla a sua ganância e seu apetite para garantir sua continuidade.

Eva: Que tipo de vida é essa que você fala Charles?

Charles: A vida que evoluiu na Terra Eva, apesar da motosserra, que hoje tudo pode e tudo ferra e que destrói a própria Terra. A vida que surgiu e evoluiu na água e que apesar de toda mágoa ainda cresceu e multiplicou.

Eva, A vida que Deus mandou e que a natureza herdou. A vida que virou morte. A vida de toda sorte, cujo azar tirou do Norte, e que eu mostrei que é forte e que a natureza selecionou, mas que agora, por pouco, quase acabou.

Eva: Então, não tem mais jeito Charles?

Charles: Não Eva, sempre há um jeito, basta sonhar e querer.

Eva: Então Charles, menos mal para nós!

Charles: Não Eva, porque o mal somos nós e o bem depende do mal. Eva, o bem, tal qual o mal, também somos nós. Eva, só nós podemos dar jeito. Um jeito que, com efeito, urge para ser feito, antes que se chegue ao leito.

Eva: Que leito Charles, o leito do Rio?

Charles: Não Eva, esse é outro que sofre, mas não é dele que falo. Refiro-me ao leito da morte Eva.

Eva: Assim como lá em Marte Charles?

Charles: Isso Eva, em Marte há morte. Aqui na Terra também tem havido morte. É morte de toda sorte, em todos os cantos de nosso Universo. O Universo da Terra é aquele que já foi diverso, mas que está ao inverso e que, se visto pelo anverso, não produz mais nenhum verso.

Eva: Por falar em verso, qual a poesia da vida Charles?

Charles: Eva, a vida é a própria poesia.

A vida dança, canta e rima, pula de cima para baixo, salpica de baixo para cima e explode por causa do clima.

Eva: Clima, o que é clima Charles?

Charles: Eva, o clima é o pai da vida na Terra.

Eva: Então o clima é Deus, Charles?

Charles: Claro que não Eva, mas é quase isso, pois o clima é tudo para a vida na Terra. Mas Eva, o triste é que estão mudando o clima.

Eva: Quem está mudando o clima Charles?

Charles: Nós Eva, o homem, o mal! Eva, está tudo virando sal, um sal do tipo da cal. Eva, o planeta Terra e a vida estão voltando ao caos.

Eva: Charles, o nosso planeta Terra está virando Marte?

Charles: Em certo sentido, é exatamente isso Eva.

Eva: Então a vida será morte, Charles?

Charles: Pois é, Eva, continuamos evoluindo, porém na direção errada. Hoje, estamos muito mais indo para a extinção do que qualquer outra coisa. Estamos nos dirigindo para o Evo da morte que nem em Marte. Por isso mesmo Eva, eu lhe peço: Não vá para Marte. Fique aqui mesmo na Terra, viaje pelo nosso planeta e veja como ainda é belo e diverso. Eva, ainda há muito o que ver aqui na Terra. Não deixe que a Terra vire Marte. Ajude a conservar a vida que nosso planeta encerra. Voltemos a evoluir na rota certa e por inteiro, esqueçamos o conforto e o dinheiro e recuperemos o planeta primeiro. Comecemos acabando com a guerra. Restabeleçamos o clima do planeta e continuemos e viver na Terra. Eva acredite, que isso será possível! Basta apenas que o bem ganhe do mal, que o planeta não vire sal e que o homem, como Deus, queira de fato ser imortal. Eva, isso vai ser muito legal, o homem, o vegetal e o animal. Todos num planeta natural, real e igual. Eva imagine só, que maravilha: No futuro próximo, quem sabe na próxima estação, você e Adão, eu e a Evolução e a Terra numa perfeição. E lá do alto, Deus acenando positivamente com a mão.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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16 ago 2014

A Transitoriedade do Homem

Quando o homem apareceu aqui na Terra, todo o resto do que existe no planeta ou, pelo menos, a maior parte do que existe na Terra, aqui já se encontrava há muito tempo. Essa é uma verdade insofismável.

Se nos utilizarmos do modelo do “Calendário Cósmico”, proposto por Carl Sagan, na década de setenta, vamos observar que, naquela analogia, o homem surgiu somente nas duas últimas horas do último dia do ano, num ano de trezentos e sessenta e cinco dias. Mais precisamente, os primeiros Homo sapiens teriam surgido às vinte e duas horas e trinta minutos, do dia trinta e um de dezembro. E mais, a nossa história só começa a ser conhecida e contada efetivamente a partir das vinte e três horas e cinquenta e nove minutos daquele mesmo dia. Pois é, tudo que sabemos sobre nós mesmos, resume-se a pouco mais de um minuto do Tempo Geológico.

Se continuarmos a analogia, podemos dizer que estamos vivendo o primeiro segundo do ano novo. Todo o nosso conhecimento do homem moderno, não ultrapassa a marca de um minuto e um segundo do “Calendário Cósmico”. Há de se convir que somos quase nada no tempo, nossa existência é insignificante perante a grandiosidade do Tempo Geológico.

Por outro lado, parece que somos o nível máximo de organização biológica em nosso planeta, pelo menos até aqui, e nenhuma espécie desenvolveu-se tão rápida e perigosamente como a nossa. Mas, por que evoluímos tão rapidamente? Por que queremos e podemos tanto? Por que surgimos? Qual o nosso significado? Como chegamos até aqui?

É muito difícil entender porque o processo evolutivo parece ter estacionado na forma humana, pelo menos aqui na Terra. Porém, mais difícil ainda é se admitir um “salto evolutivo” tão grande, apesar de tanta semelhança morfológica e fisiológica entre o macaco e o homem. Ainda que, biologicamente, sejamos macacos (não há como negar nossa condição de Primata), intelectualmente, somos muito superiores a qualquer macaco, por mais evoluído e inteligente que ele possa ser. Talvez, a distância intelectual entre nós e os macacos seja equivalente à distância temporal entre nós e a grande explosão que originou o Universo.

Não há dúvida que algo aconteceu evolutivamente entre os macacos não humanoides, macacos humanoides e o homem, pois esse algo, talvez nunca saibamos explicar fisicamente, ou para explicarmos, deveremos nos reportar a explicações metafísicas e abordagens religiosas, que transcendem a intenção desse artigo.

Por outro lado, temos certeza de nossa transitoriedade. Como tudo que existe e que é vivo, nós também nascemos, crescemos e morremos. Nesse sentido, somos tão frágeis como qualquer outro organismo vivo. Aliás, nesse aspecto, talvez sejamos até mais frágeis do que as outras espécies vivas, porque somos a única espécie que tem consciência desse fato e isso nos faz temer a morte.

Então eu pergunto: se estamos aqui, dependemos daqui, nascemos aqui, crescemos e embora tenhamos medo de morrer não conseguiremos evitar a morte e morreremos aqui, por que então não pensamos em melhorar ao invés de destruir o planeta? A Terra é a nossa casa, por enquanto a única que temos e é bem possível que jamais encontremos outra casa para nós em todo o Universo. Por que não nos utilizamos de nossa razão para tratarmos de preservar as condições de vida do planeta, o que, em última análise, significa tentar preservar a nossa própria vida.

Só existem três respostas compatíveis com essa situação antagônica em que nos colocamos, em relação ao planeta: ou somos alienígenas, ou somos loucos ou somos ignorantes.

Como alienígenas talvez tenhamos tido nossa origem em outro corpo celeste, que se destruiu por qualquer motivo desconhecido e chagamos aqui na Terra e nos mantivemos, até hoje, com o espírito e a índole do colonizador que só quer para si. Mas, se isso for verdade, tudo o que escrevemos sobre evolução, particularmente sobre evolução do homem com todas as analogias e homologias entre nós e outros organismos vivos do planeta, inclusive os macacos, são, na verdade, homoplasias, Isto é, meras coincidências fortuitas e sem nenhum relacionamento evolutivo.

Como loucos, talvez sejamos loucos o bastante para não termos consciência de nada. Se assim fosse, jamais teríamos nos preocupado com a evolução e com a nossa origem, porque sendo loucos, o que menos pesaria em nossas mentes seria a responsabilidade histórica, tanto futura, quanto a passada. Nesse sentido, não valorizaríamos a família, hábitos culturais, arte e outras coisas.

Como ignorantes talvez todos os nossos problemas residissem no nosso desconhecimento generalizado das coisas a nossa volta. Por mais que cada um de nós saiba, sempre há uma infinidade de coisas muito maiores que cada um de nós não sabe. A nossa ignorância não tem limites. Mas isso também não justifica a nossa desunião e as nossas discrepâncias ideológicas e morais, a ponto de se desenvolverem culturas tão diferentes em áreas geográficas tão próximas. Por exemplo, um palestino e um israelita, ou mesmo uma civilização grega e outra romana, para quem quer lembrar-se do passado.

Alienígenas ou não, temos um mundo, o planeta Terra, e estamos saindo à busca de outros. Já estivemos na Lua, conhecemos Marte, Vênus, Saturno, e vamos por aí a fora. Sabemos que esse nosso mundo, o planeta Terra, é nosso. Nosso no sentido mais estrito da palavra, pois somos as únicas criaturas que temos o poder de modificar o ambiente a nossa volta e, consequentemente, podemos mudar toda a fisionomia do planeta. Sempre é bom lembrar, que nós podemos até destruir todo o planeta em poucos segundos. Ou seja, muito mais rapidamente que a natureza levou para produzi-lo e para deixá-lo conforme se encontra nos nossos dias. Mas, por que chegamos a esse nível? Que força maligna ou benigna nos move para tanto? Aonde chegaremos?

Loucos ou não, vivemos. E a maioria de nós não só vive como gera filhos, aumentando assustadoramente nossas populações. Fabricamos crianças, como se fôssemos todos crianças irresponsáveis, que acabamos de ganhar um brinquedo novo de presente. Nosso brinquedo novo é o sexo, do qual fazemos uso indiscriminadamente e que a história nos mostra que sempre foi assim. Sigmund Freud disse que o sexo está presente em todas as nossas atividades e que nós somos quase que totalmente movidos por esse brinquedo diabólico. Nossa loucura chega assim, muito mais para um fanatismo sexual do que para uma neurose, uma psicose, uma demência ou outra doença neurológica qualquer. Somos, generalizadamente, “doentes neurossexuais”.

Ignorantes ou não, muitos de nós procuram abrangência dos conhecimentos e tentam começar a entender o porquê das coisas e das situações. Muitos de nós são conscientes de que existem situações corretas e situações errôneas e, por isso mesmo, procuram acertar mais do que errar. Muitos de nós seguem princípios, mais ou menos, rígidos de conduta ética e moral e, esses princípios não justificam a nossa ignorância, nem nossa loucura e, muito menos, a nossa alienação para com as coisas, em qualquer situação ou lugar, sobre a superfície do planeta.

Que estranho ser o Homo sapiens. Que mistura de coisas e situações produziu essa espécie diferente de todas as outras que vivem no planeta, se não dos pontos de vista anatômico e fisiológico, pelo menos, do ponto de vista comportamental?

Uma espécie que age como um estranho em seu próprio planeta, pois o destrói indiscriminadamente. Que age como um louco em seu próprio planeta, pois se reproduz sem avaliar a consequências do aumento exagerado de suas populações. Que ignora quase tudo que acontece em seu próprio planeta, pois só faz o que não deve, quando não deve e onde não deve, no que tange a preservar a vida na Terra.

O homem é uma anomalia, cuja origem e o entendimento talvez estejam fora dos limites físicos, mas ainda assim, é preciso que se discuta sobre o que fazer. Por menos que nos importemos sobre nossa própria existência, devemos ter em mente que ela é transitória e que essa transitoriedade será maior ou menor em função do destino que dermos a ela. Se temos medo de morrer, é melhor que assumamos o nosso medo abertamente e cuidemos para que nossas vidas valham um pouco mais para nós mesmos.

É possível que não sejamos nem alienígenas, nem loucos e nem ignorantes o suficiente. É possível que sejamos uma espécie suicida, que da mesma forma repentina que surgiu, poderá também desaparecer. Não gostaria de discutir aqui, as questões metafísicas e religiosas que envolvem o problema, mas é possível que as respostas estejam nessas questões. Quantos de nós não preferimos cruzar os braços, alegando que “Deus sabe o que faz”.

Sinceramente, eu espero que Deus saiba realmente o que faz e que em breve ele arrume um novo Noé, uma nova arca e novos passageiros (se sobrar alguma). Do contrário, essa anomalia biológica, esse contrassenso filosófico, essa entidade fisicamente inexplicável, esse monstro ideológico, essa figura ímpar chamada homem, terá acabado com o planeta.

Mas, por outro lado, eu prefiro não ter que depender de Deus para resolver os problemas terrenos criados pelo homem. O ano novo está apenas começando agora, estamos apenas no primeiro segundo do ano novo do “Calendário Cósmico” e o homem tem que ser capaz de sair da ignorância, da loucura e da alienação em relação às coisas do planeta. Nossa espécie não pode morrer tão jovem, dentro de um Universo tão velho.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

*Artigo escrito em 1994 e publicado na Revista Ângulo, Lorena/SP, Número 61, p. 4-5, jan/fev. 1995; também publicado no site www.recantodasletras.com.br/autores/profluizeduardo, em 25/04/2009.
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