Tag: Educação Ambiental

10 ago 2019
Educação, Meio Ambiente, Educação Ambiental, Recursos Naturais, Consumismo.

Educação e Meio Ambiente: dois assuntos e uma abordagem

Resumo: Desta vez estou trazendo um texto reflexivo, através de uma crítica, a meu ver necessária, aos mecanismos que têm sido utilizados como modelos de Educação Ambiental. Esses modelos precisam ser repensados, pois na verdade eles estão progressivamente colaborando para que os recursos naturais continuem sendo explorados sem critério ou de maneira indevida


Se houver uma necessidade objetiva e real de se identificar e de definir qual é a área do conhecimento mais prioritária à formação e ao desenvolvimento humano, certamente haverá um consenso de que esta é a área da Educação. Por outro lado, se também houver uma necessidade real e objetiva de se identificar e de definir qual é a área mais importante para a manutenção dos padrões de segurança e de qualidade de vida dos organismos e dos grandes ecossistemas planetários, obviamente também haverá um consenso de que esta é a área do Meio Ambiente.

Na verdade, essas duas áreas compreendem todos os grandes problemas humanos, pois tudo decorre dessas duas bases operacionais. Ou não se tem educação e assim não se sabe tratar o meio ambiente, ou não se trata devidamente o meio ambiente porque se desconhece a educação. Embora, aparente mente distintas, essas duas áreas são extremamente associadas e conseguem unidas responder por todos as questões pendentes e preocupantes da humanidade ao longo da história.

A Educação é muito antiga, sendo entendida como necessária desde o surgimento da humanidade. Ensinar e aprender são verbos obrigatoriamente presente em todas as atividades humanas e tanto os progressos como os retrocessos humanos, obviamente são frutos da educação ao longo da existência da humanidade. Já o meio ambiente é um aspecto novo que começou a ser colocado formalmente dentro dos parâmetros humanitários nos últimos 50 anos e de repente se espalhou e se misturou por todas as atividades humanas.

Há alguns anos foi criado um termo, muito em moda na atualidade, Educação Ambiental, cujo intuito era o de tentar associar a educação ao meio ambiente, mas sempre se reduziu essa ideia a meras formalidades e situações específicas e, na verdade, a Educação Ambiental continua sendo, até aqui, muito artificial, porque ela se ocupa de situações problemáticas específicas e locais. Entretanto, o mundo hoje é globalizado e não adianta eu me referir a determinado caso de um determinado setor de uma certa localidade, porque isso não é educativo e muito menos é ambientalmente correto. A educação tem que ser preventiva e o meio ambiente tem que estar também previamente prevenido das ações antrópicas potencialmente causadoras de dano.

Quer dizer, não adianta se desenvolver um programa sobre uma questão localizada qualquer. Há necessidade de que se trate o problema de maneira genérica, projetando uma maneira desse problema não ter como existir. O planeta é um só e as demais entidades vivas sobre o planeta, inclusive e preferencialmente os humanos, precisam estar propensos a ter boa qualidade de vida em qualquer lugar ou situação da Terra. Se não for assim, não se está devidamente educado e tampouco está se cuidando do meio ambiente da maneira correta. Em suma, o termo Educação Ambiental, acaba não sendo, nem educação e nem meio ambiente, apenas se ocupa das duas áreas para justificar um determinado problema. Portanto, essa ideia de Educação Ambiental é pequena para a necessidade e muito pouco abrangente para a necessidade real.

Quando se está falando de Educação existe a preocupação de que se esteja instruindo, guiando, ensinando. A palavra Educação vem do latim educere (ex + ducere), que significa “guiar para fora”, ou seja, conduzir para além das necessidades próximas, ou melhor, instruir para resolver outros problemas. No seu sentido mais amplo a palavra quer dizer: “levar uma pessoa para fora” de si mesma, mostrar o que mais existe além dela.

A expressão Meio Ambiente, que é uma redundância e um pleonasmo, “o meio do meio” ou o “ambiente do ambiente”, porque meio e ambiente, em certo sentido são palavras sinônimas, ou seja, têm exatamente o mesmo significado. Ambas as palavras que compõem a expressão, também vem do latim ambiens, que significa “andar ao redor” ou “ir em volta” e medius, que significa “meio” ou “lugar acessível a todos”. Talvez um termo apenas, como no idioma inglês, environment, fosse mais correto. Mas, nós não vamos discutir etimologia aqui, até porque a noção geral da expressão parece ser bem clara a todos.  

Então, a educação visa “guiar para fora”, o ambiente visa “andar ao redor”, ambos conceitos que saem do indivíduo e que dizem respeito ao seu exterior, objetivando exatamente o entendimento do que está fora. Desta maneira, eu não posso fazer Educação Ambiental apenas daquilo que está no meu entorno, se o mundo é muito maior e mais abrangente do que o meu limite físico. Certamente um exemplo pode será mais bem interpretado.

Imagine que você é um professor de Educação Ambiental e trabalhou a coleta do lixo e a reciclagem, aliás esse é efetivamente um tema muito comum, nessa chamada educação ambiental. Durante sua aula você demonstrou que a latinha de alumínio é um resíduo que pode ser reciclado e recolocado na produção, para tanto é necessário apenas quer alguém que coleta as latinhas usadas. Desculpe-me, mas não há nenhuma educação e muito menos ambiental nesse fato.

Ao contrário, existe sim um fato lamentável, que demonstra que o alumínio é reciclável e que   usar as latinhas de alumínio é algo legal porque gera “emprego” para alguém. Aliás, existe até algumas pessoas que pensam (se iludem) e juram que reciclar é um bom negócio porque dá lucro.  Então, está tudo errado e eu vou pontuar alguns dos motivos, porque está errado.

1 – Reciclar não dá lucro, quando muito, consegue diminuir o prejuízo de alguém e permite o lucro para outro alguém, mas de qualquer maneira a perda para quem produziu, no caso a natureza, sempre é maior do que o lucro de quem usou e vendeu, de quem reciclou e revendeu (“ganhou”).

2 – Reciclável ou não a latinha de alumínio é um produto oriundo da alumina (óxido de alumínio) que é o principal componente bauxita, que é o principal minério formador do alumínio. Portanto o alumínio é um recurso natural não renovável e como tal, depois de retirado da natureza não há como retorná-lo à condição inicial. Desta maneira sua exploração não deve ser incentivada, pois à hora que acabar, simplesmente acabou.

3 – Não há nada de interessante na utilização constante e predatória de um recurso natural não renovável, principalmente quando existem alternativas cabíveis para resolver o mesmo problema, a custos ambientais e muitas vezes também econômicos, mais vantajosos.

4 – Reciclar é bom e necessário, pois reaproveita material, diminui custos energéticos e outros. Entretanto, reciclar não é fundamental para o meio ambiente, antes é melhor repensar certas práticas e certos usos de determinados recursos. As tecnologias e os usos alternativos, além de produzirem um desincentivo cada vez maior ao consumo de recursos naturais, devem ser as verdadeiras orientações e premissas básicas da Educação Ambiental.

5 – Por fim, não se deve partir para falar de Educação Ambiental já assumindo a reciclagem como uma prioridade, pois as prioridades educacionais para o meio ambiente devem ser: não utilizar recursos indevidamente e não produzir resíduos.

A partir do exemplo dado, vejam bem que, se até houve alguma educação, não foi mito boa para o Meio Ambiente, isto é não foi Educação Ambiental. Talvez tenha sido boa educação comercial ou educação industrial ou sei lá o quê, ou ainda educação de como conseguir obter algum dinheiro com o resíduo dos outros, através da degradação do planeta. Ambientalmente então, na verdade, se estimulou para que se continue usando latinhas, porque elas vão gerar recursos para alguém. Aliás, aqui a coisa é mais complicada ainda, porque sempre se pensa, infelizmente, em alguém pobre que vai conseguir alguma coisa através do resíduo de alguém rico e isso, a meu ver é até preconceituoso e deveria ser evitado.

Quero crer que haveria educação se fosse informado e trabalhado o fato de que o uso do alumínio é apenas conveniente para quem vende o produto e que o custo da lata já está inserido no referido produto, portanto não houve perda econômica, houve apenas perda ambiental. Por outro lado, deve ser dito também que o lixo (resíduo produzido), isto é, a latinha, que pode dar lucro para alguém, acaba, infelizmente, atraindo as pessoas mais necessitadas ou menos esclarecidas e indiretamente intensificando mais a desqualificação profissional e prejudicando o desenvolvimento de outras formações e profissões, que talvez possam produzir melhores salários às pessoas.

O melhor lugar para a bauxita, assim como de qualquer recurso natural, é onde ela se formou, isto é, na própria natureza. Se o homem decidiu se apropriar e utilizar a bauxita porque esse é um tipo de minério interessante, que se presta a vários produtos de interesse humano, então que o seu uso seja exatamente do mesmo tamanho de sua necessidade e que não haja excesso na sua exploração. A sustentabilidade é um conceito que deve fazer parte primária de qualquer ação ligada à questão ambiental e a Educação Ambiental, para cumprir seu propósito de maneira efetiva, não pode deixar a sustentabilidade de lado.

O consumo exacerbado não cabe dentro do conceito de sustentabilidade e os humanos que ainda não nasceram têm tanto direito de usar a bauxita quanto nós temos, mas se o uso continuar do jeito que está, eles só poderão conhecer o minério bauxita num Museu de História Natural. Mas, isso também só será possível se alguém lembrar de guardar uma porção de bauxita para tal fim. Muitos recursos naturais não renováveis já não existem mais na natureza e nem estão presentes na maioria dos museus.

Mas, vejam bem, me utilizei de um recurso natural não renovável como exemplo, mas eu também poderia utilizar de exemplo um recurso natural renovável. Por exemplo o Jacarandá-da-Bahia é (ou era) uma árvore frondosa, de madeira nobre e dura, bastante utilizada na indústria moveleira e na construção civil. Pois então, por conta de seu uso indiscriminado está em processo crônico de extinção na natureza e já desapareceu totalmente em alguns estados, como São Paulo, por exemplo. Restam poucas áreas no estado da Bahia e praticamente desapareceu no restante do Leste brasileiro. Primitivamente, ocorria de Pernambuco até o Paraná. Será que o neto do seu filho será capaz de ver um Jacarandá na natureza?

A Educação Ambiental deveria ensinar primeiro o que é o Jacarandá-da-Bahia como espécie de planta, depois dizer como manter a espécie e da importância das reservas naturais da espécie por questões biológicas e só depois deveria falar de sua utilidade paro o interesse humano. Mas, infelizmente não é assim que se costuma proceder e por isso progressivamente espécies são extintas, tanto as espécies vegetais, como é o caso do Jacarandá, mas, principalmente, as espécies animais, que estão por aí, sendo dizimadas sem nenhum critério, para atender a vontades infundadas e utilidades indevidas (algumas vezes absurdas) de quem quer que seja.

Já passou da hora de brincar com Educação Ambiental. Está na hora de fazer coisa séria, entendendo que educação é um processo genérico e que o meio ambiente é diferente de um local para o outro, mas que qualquer local é um meio ambiente e que há necessidade de uma maneira devida e certa de tratar com esse local. Entretanto, é preciso estar claro que essa maneira não pode e não deve ser a mesma em locais diferentes, exatamente porque esses locais são diferentes, a dinâmica é diferente, os organismos são diferentes as condições físicas e químicas são diferentes. E mesmo nas cidades ou nas indústrias, os mecanismos e os processos são diferentes e assim o procedimento em cada caso deve e tem que ser diferente. A Educação ambiental deve levantar e discutir os problemas, mas para resolvê-los, cada situação será uma situação e assim, terá certamente uma resposta diferente.

Não é possível tratar educação e meio ambiente isoladamente ou apenas como causa e efeito de um processo local. O ambiente é teoricamente tudo e a educação teoricamente tem que ser capaz de resolver ou pelo menos de pensar a cerca de tudo, pois do contrário não é educação é apenas e tão somente treinamento, ou melhor adestramento. Isto é, ensina e resolver um problema, mas não cria a possibilidade de gerar novas situações a partir daquela. No meio ambiente sempre vão existir novas situações e o homem precisa estar preparado para atendê-las da melhor maneira, sempre atentando para o fato de que a natureza e os inúmeros ambientes planetários são para todos os organismos, atuais e futuros, terem vida com qualidade.

Educação e Meio Ambiente têm que ser tratados de uma maneira globalizada, porque ainda que os interesses primários sejam locais, o interesse de qualquer questão ambiental planetário, pois atinge direta ou indiretamente todos no planeta. A educação que se presta a esse tipo de interesse planetário tem que ser interessante para toda humanidade, porque deverá servir como forma de orientação para todo e qualquer ser humano e não como simples modelo de uso de uma situação ou localidade, que necessita de uma solução momentânea.

Continuarei sendo um crítico desse modelo de Educação Ambiental que se limita a fazer curativos em situações, mas que não se preocupa de fato com a origem da doença. Precisamos pensar preventivamente antes de propor qualquer programa de Educação Ambiental. Não devemos apenas resolver problemas, a profilaxia ambiental tem que ser o objetivo primário da Educação Ambiental. Ao invés de controlar a dengue matando mosquitos, porque não ensinamos aos nossos alunos e pesquisamos o porquê da dengue não se transmitir a partir das bromélias, se elas estão cheias de água parada e repletas de larvas de mosquitos.

Quando nós partirmos para esse tipo de Educação Ambiental, que envolve o todo e não as partes isoladamente, veremos que não haverá diferença na abordagem entre a Educação e o Meio Ambiente, porque ambos estão relacionados ao cuidado com o entorno, com o que está ao redor. Mas, é bom lembrar ainda que a expressão “ao redor”, também é relativa, porque esse “ao redor” está limitado ao espaço planetário.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)

19 maio 2019
Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária

Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária

Resumo: O texto faz referências aos problemas ambientais planetários e propõe que as atividades desenvolvidas através de práticas sustentáveis e o efetivo investimento na educação ambiental das populações humanas sejam a base das mudanças que poderão proporcionar a recuperação da Terra a melhoria da qualidade de vida da humanidade.


INTROITO

“Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de    sua alma, todo o universo conspira a seu favor.”
Johann Goethe

“O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.”
Eleanor Roosevelt

Após ter sido convidado para proferir uma palestra na abertura de um grande evento sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental, um determinado ambientalista, não só teria orgulhosamente aceitado a incumbência, como teria feito seu pronunciamento à plateia presente, citando oportunamente os dois pensamentos acima e em seguida discorreu sua fala com o seguinte texto.

Senhoras e Senhores, eis aqui aquilo que penso sobre a questão ambiental planetária e também o meu grande sonho para o futuro do planeta e da humanidade.

INTRODUÇÃO

Para que seja possível introduzir de uma maneira clara a importância do tema desse encontro, existe a necessidade imperante de se evidenciar objetivamente algumas constatações ambientais que se encontram na ponta da questão. Aqui será dado destaque à duas delas, que podem ser consideradas as mais cruciais, porque estão na origem de todas as outras. A primeira dessas constatações diz respeito ao fato da humanidade se utilizar dos recursos naturais como se eles fossem infinitos e a segunda diz respeito ao crescimento populacional humano exponencial e insano que tem ocupando o planeta de maneira totalmente descontrolada.

Historicamente a humanidade, independentemente de qualquer teoria filosófica, tem vivido sobre a égide de que um determinado Deus deu a Terra ao homem para que ele crescesse, multiplicasse e dominasse sobre todas as demais criaturas do planeta e parece que nossa espécie seguiu essas orientações direitinho. Ao longo do tempo, o que tem sido feito pela humanidade em relação ao planeta tem sido exatamente isso, pois o homem seguiu o curso de sua história usurpando e vilipendiando o planeta e todo patrimônio natural, utilizando todos os recursos naturais planetários disponíveis aos seus interesses exclusivos, como se o planeta fosse infinito e como se tudo que existe nele fosse realmente uma grande benesse de Deus para espécie humana.

É triste e lamentável, mas a grande maioria do absurdo contingente de mais que 7.500.000.000 (sete bilhões e meio) de humanos existentes no planeta ainda continua pensando e agindo exatamente assim.  Em suma, é preciso entender de uma vez por todas que o planeta não é propriedade dos seres humanos, tem recursos definidos qualitativa e quantitativamente e, principalmente, que é impossível crescer infinitamente e que, por isso mesmo, o controle do crescimento da população humana é imperativo para que o consumo do patrimônio natural da Terra e todas as demais questões ambientais dele decorrentes possam ser minimizadas e quem sabe até estabilizadas no futuro.

Essas são as duas grandes e nefastas constatações, que não podem ser deixadas de lado e das quais a humanidade deve estar segura e consciente de que precisam ser rigorosamente solucionadas. A humanidade também deve partir sempre da certeza de que se não houver mudança nesse paradigma errôneo, de que Deus criou o planeta para o homem, qualquer discussão sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental acaba sendo balela, pois não levará a lugar nenhum e o planeta vai ficar na mesma situação. Ou melhor, a situação só vai piorar para sempre, até que chegue ao fim. É preciso que a humanidade tome efetiva consciência e sobretudo, que assuma a sua responsabilidade com o Planeta Terra, com a manutenção da vida planetária e com continuidade da vida humana, exatamente nessa ordem de prioridade: o planeta, a vida e o homem.

Considerando que esse encontro, assim como tantos outros, se propõe a discutir exatamente Sustentabilidade e Educação Ambiental, então fundamentalmente há de se começar por entender, aceitar, imaginar, desenvolver e multiplicar mecanismos planetários abrangentes que permitam colocar essa realidade necessária na mente dos demais seres humanos, para que seja possível planejar procedimentos efetivos que permitam estabelecer as mudanças necessárias. Na verdade, a humanidade precisa de uma nova filosofia que apague o tradicionalismo das filosofias até aqui conhecidas e praticadas, particularmente na metade ocidental do planeta. O desafio que está posto é claro e simples: ou pensamos diferente, para assim fazermos diferente ou nos extinguiremos fazendo errado.

Não se trata de querer negar as possibilidades de projetos e trabalhos que se coadunem com os ideais da Sustentabilidade e da Educação Ambiental. Ao contrário, qualquer proposta nesse sentido será sempre muito bem-vinda e certamente vai trazer resultados positivos. Entretanto, essas propostas isoladas não causarão a ruptura comportamental que se faz necessária para tornar a Sustentabilidade e a Educação Ambiental como referências no comportamento humano.  

Não tenho dúvida nenhuma de que as pessoas que estão aqui neste evento e que obviamente estão preocupadas com a temática ambiental, são cientes da importância da Sustentabilidade e da Educação Ambiental e o que está se tentando dizer é que a realidade desse grupo precisa ser expandida para os demais segmentos da sociedade humana. É importantíssimo lembrar que esse é um grupo diminuto, quase nada, uma poeira no contingente humano e assim pouco pode fazer, além do árdua tarefa da execução do “trabalho de formiguinha” que já faz alguns anos vem sendo levado a cabo, porém sem praticamente nenhum resultado significativo.

Na verdade, o grande trabalho está em fazer toda humanidade compreender e tomar as decisões promissoras para a continuidade da vida, em particular, a vida da espécie humana no planeta. Essa é uma tarefa difícil, quase impossível: fazer a humanidade entender que a questão é muito séria, que precisa ser assumida e resolvida por todos e principalmente que as ações individuais pequenas podem ser preponderantes para o resultado cumulativo que possa ter significado planetário.

Mas como fazer isso sem uma revolução filosófica global de cunho social e político, passando por cima de questões culturais e econômicas, haja vista que os interesses individuais, locais, regionais, nacionais são sempre colocados acima dos interesses planetários pelos diferentes grupos humanos? Na realidade, existe necessidade de uma guinada de 180 graus na maneira de pensar e de agir da humanidade. O comportamento humano tem que mudar drasticamente e ninguém sabe como conseguir produzir essa façanha.

Infelizmente, por vários aspectos que todos conhecem e não precisam ser discutidos aqui, não há consenso sobre uma linguagem planetária que possa produzir uma postura humana única em relação às questões ambientais e por isso mesmo é que eu volto a dizer que por mais bem intencionados que nós, aqui presentes, sejamos, o nosso contingente é muito pequeno e vem lutando de maneira inglória, contra a maré. Aliás, na verdade, contra um tsunami de interesses outros que se apresentam como mais prioritários e que se elevam cada vez mais, destruindo efetiva e progressivamente mais o patrimônio planetário e a própria humanidade. Como podemos trazer consenso à humanidade para dar um basta nesse quadro e tentar resolver esta situação?

Essa é a dura realidade em que nos encontramos; precisamos mudar o paradigma, mas não há ninguém com poder suficiente e nem a interesse real de alguém que se proponha de fato a tentar fazer isso. Talvez, apenas, a própria natureza planetária, ao demonstrar o seu descontentamento com as ações humanas, poderá produzir os efeitos que são necessários para as mudanças comportamentais da humanidade. Nos últimos anos, a natureza tem se apresentado mais violenta, mais ríspida e mais contundente, porém, lamentavelmente, ainda tem sido pouco para convencer a grande mancha de humanos céticos e ignorantes.  Por outro lado, também existem aqueles religiosos que continuam esperando que Deus dê um jeito na situação, até porque, a “culpa” é Dele, já que foi Ele que nos deu o planeta.

VIDA E QUALIDADE DE VIDA

Vários autores, em diferentes momentos da história humana tentaram conceituar a palavra vida e cada um deles, a seu modo, procurou expressar o seu interesse primário na sua conceituação. Todos esses autores disseram verdades, mas nenhum deles foi suficientemente abrangente para criar uma definição efetiva. Assim, é possível dizer que a palavra vida possui vários significados e por isso mesmo é muito difícil estabelecer uma definição precisa. Porém, numa ideia geral mais ampla, todos parecem concordar que a vida está relacionada com a existência natural e própria de algumas entidades que surgiram na Terra, os organismos vivos. Além disso, eles também concordam que a vida, ao que parece, é uma particularidade única do nosso planeta. Pelo menos até aqui, ninguém conseguiu demonstrar a existência de vida em qualquer outro lugar do universo.

A vida na Terra não só foi possível, como se desenvolveu e se diversificou extremamente pelos cantos do planeta em consequência de um longo processo evolutivo. Como resultado desse processo, hoje estima-se que existam 10 a 20 milhões, ou mais espécies vivas na Terra e nós ainda estamos muito longe de conhecer a maioria delas. Aliás, existem muitas que nem chegamos a conhecer e que se extinguiram por processos naturais e outras por ação antrópica. A mancha humana planetária e os impactos produzidos por essa mancha causa feridas sérias ao planeta e a diversidade da vida e muitos dos organismos vivos deixaram de existir por ação exclusiva das atividades humanas.

Da mesma maneira que ocasionalmente os seres humanos aceleraram o processo de extinção natural ou criaram mecanismos que levaram a extinção de algumas espécies, também foi possível ampliar determinadas populações e mesmo modificar algumas delas de acordo com o interesse da humanidade. Assim, além das mudanças físicas no ambiente, o ser humano também pode modificar bastante a conformação natural da vida no planeta, no que diz respeito às espécies de organismos vivos e suas respectivas condições naturais. Pois então, é exatamente isso que, ao longo do tempo, tem propiciado uma perda bastante significativa da diversidade biológica que não foi programada pelos processos naturais.

Assim, o homem tenta melhorar o que lhe interessa e acaba por destruir o que não lhe interessa, como se fosse o “dono” absoluto do planeta, seguindo aquele princípio, já citado, de que Deus teria criado o planeta para uso dos seres humanos. Essa condição de “dono do planeta” ficou tão clara nas mentes de alguns humanos, que matar outros organismos vivos não parece ser problema para a grande maioria dos seres humanos. Essa condição “superior” dos humanos em relação às outras espécies vivas permitiu inclusive que os humanos fossem considerados “melhores”, quanto melhores fossem as suas possibilidades de matar, porque isso ampliaria a sua chance de se alimentar melhor, ser mais forte e até de viver mais, desenvolvendo assim, uma melhor “qualidade de vida”.

Vejam bem, porque é isso mesmo que eu quis dizer. Para a maioria dos humanos “qualidade de vida” é a capacidade de viver melhor, independentemente do que se tenha que fazer para alcançar isso, porque para esses humanos, apenas a vida pessoal de cada um deles é a única vida que importa. Matar outros organismos ou mesmo outros humanos pode ser um fator que contribui com a melhoria da qualidade de vida. Pois então, esse conceito, além de absurdo por si só, também levou grande parte da humanidade a agir progressivamente de maneira cada vez mais egoísta, sem dar nenhuma importância às demais espécies vivas do planeta e, pior ainda, é que alguns desses indivíduos não dão importância nem a vida de outros seres humanos. 

Alguns humanos traduzem a expressão “qualidade de vida” como sendo um conceito aplicável exclusivamente aos humanos e esquecem que a vida humana é apenas uma entre milhões de espécies planetárias e que todas essas espécies também evoluíram no planeta e merecem ter vida com qualidade. Aliás, esquecem, não conseguem ou não querem entender, que a vida humana só foi possível por conta da evolução a partir da vida de outras espécies ancestrais da nossa. Por conta disso, lamentavelmente, a qualidade de vida que deveria ser um direito de qualquer organismo vivo na Terra, na realidade, acaba sendo um privilégio e uma prerrogativa exclusiva que apenas interessa aos representantes da espécie Homo sapiens.

Hoje, existe uma necessidade cristalina de que se pense na qualidade de vida do planeta Terra, aquele que permite, abriga e mantêm as vidas dos organismos vivos, inclusive a espécie humana. O ser humano não é melhor e nem pior que os demais organismos, ele é apenas mais uma espécie na Terra e todas tem direito a viver com qualidade no planeta, o qual também precisa ter qualidade para poder manter a vida dos organismos nele viventes. Essa questão é realmente complicada e difícil de ser entendida por muitos seres humanos, até mesmo por pessoas muito bem letradas e consideradas de boa índole. Qualidade de vida tem que ser uma prerrogativa planetária e não apenas humana.

CRESCIMENTO POPULACIONAL E ECONÔMICO CONTÍNUO

Agora vamos nos ater um pouco sobre a outra questão que contraria principalmente as religiões, mas que é independente de qualquer religião ou qualquer atividade relacionada à religiosidade, porque é apenas uma questão de lógica e um pouco de bom senso. A reprodução humana não pode e não deve ser tratada de maneira diferente da reprodução de qualquer outra espécie viva, porque os humanos são tão organismos vivos quanto qualquer outra espécie planetária. Sendo assim, reproduzir é uma necessidade de cada espécie viva, pois antes de tudo é uma garantia para a sua sobrevivência e perpetuidade. Desta maneira a reprodução precisa efetivamente ser garantida aos humanos e às demais espécies vivas.

Por outro lado, sempre é bom lembrar, que o planeta não é apenas dos humanos e muito menos de algum grupo humano em especial. Assim, é preciso equalizar o espaço físico planetário com a população que lhe cabe. Obviamente, eu sei do risco e da conotação política que muitos poderão deduzir dessa minha afirmação, mas, desde já, quero dizer que não antevejo qualquer conotação política nessa afirmativa, mas apenas identifico a reprodução, humana ou não, como uma necessidade planetária das espécies vivas.

Também não se trata aqui de definir matematicamente um número mágico a ser estabelecido de habitantes humanos por área geográfica, mas sim de se tratar o espaço físico considerando sua capacidade ecológica de suporte. Além disso, ainda existe a consequente dificuldade de manutenção de todos os organismos não humanos que também habitam (vivem) nessa área considerada. Qualquer livro básico de Biologia sempre tem algumas páginas esclarecendo sobre a relação entre o potencial biótico de uma espécie e a resistência do meio, que impede o crescimento exponencial das espécies em condições naturais, mas parece que essas regras não valem para a espécie humana.

Se não houver controle populacional humano não há como frear as necessidades, que serão cada vez maiores, de desmatamento e de degradação do ambiente natural para arrumar espaço físico para as cidades, para a indústria, para a agricultura e para a pecuária. A demanda de recursos hídricos e de recursos atmosféricos serão maiores e como consequência a poluição tanto da água quanto do ar também tende a aumentar. O comprometimento e o envenenamento dos solos também aumenta, por causa da necessidade cada vez maior do uso de agrotóxicos. Enfim, cada humano a mais no planeta traz consigo um contingente enorme de outras necessidades e quem paga essa conta é o ambiente (o planeta), os demais seres humanos e principalmente os seres vivos não humanos. A bola de neve cresce indefinidamente quanto mais cresce a população, mas certamente o planeta tem um limite físico de capacidade de suporte.

Outro problema é que, se não bastasse o fato da população não parar de crescer, tem uns “gênios” (do mal) que pensam que o planeta pode tudo e que a tecnologia faz milagres. É até possível, que a tecnologia faça alguns milagres, mas ela não vai poder contrariar a natureza sempre e a continuar como está, certamente vai chegar um dado momento em que algumas coisas já não serão mais possíveis tecnologicamente, por questões físicas, químicas ou biológicas básicas. Sendo assim, não dá para pensar em crescimento contínuo, em lucro contínuo e indefinido por conta das benesses tecnológicas. Temos que entender que o planeta é finito e que sua capacidade consequentemente também tem que ser.

Desta maneira, é necessário que se comece a pensar em parar de crescer economicamente. Parece absurdo, mas isso é pura lógica, embora a maioria da humanidade não queira pensar assim. Se por um lado parar de crescer economicamente é complicado, crescer indefinidamente será muito mais, porque os recursos são limitados e toda economia se faz a partir dos recursos naturais. É bom lembrar que o dinheiro é apenas um símbolo, uma representação e que o valem mesmo são os produtos, os quais só existem se existirem as matérias primas que lhes permitem existir.

Pois é, há sim que se pensar numa “deseconomia” ou numa maneira de viver com menos recursos naturais e, consequentemente, com menos dinheiro. Se a população continuar crescendo isso será impossível. Se, mesmo que a população esteja controlada, as pessoas não estiverem adequadas e não forem educadas para essa realidade futura também será impossível. O planeta é finito, os recursos são finitos, a população tem que ser limitada e os lucros tem que ser contidos. Não existe outra possibilidade!

A HUMANIDADE E O DILEMA ECOLÓGICO X ECONÔMICO

Todas as espécies vivas do planeta vivem e sobrevivem, com boa qualidade de vida ou não, em função daquela parte do patrimônio natural que elas conseguem transformar em recursos naturais para seus respectivos interesses e se utilizam desses recursos direta ou indiretamente. A ÚNICA espécie que não age necessariamente assim é a espécie humana. Os humanos não se satisfazem com aquilo que o planeta lhes dá naturalmente e assim, inventaram, dentre várias outras coisas, a manufatura, a indústria, o comércio e tristemente o dinheiro. Além disso, os seres humanos inventaram o “lixo”, isto é, o recurso natural que “não serve”. A natureza não conhece lixo, porque na natureza tudo “serve”, mas essa é outra questão e não vou discutir sobre isso agora.

Como já foi dito, o dinheiro, tinha como objetivo ser uma maneira de simbolizar o valor dos recursos, em condição natural ou manufaturado, para facilitar os negócios nas transações comerciais, mas transcendeu esse objetivo faz muito tempo e atualmente é considerado como sendo o principal recurso para a maioria dos seres humanos. Comer, beber, morar, dormir, reproduzir, amar, andar e outras ações naturais humanas passaram a ser coisas de pequeníssima importância perto do dinheiro.

Isto é, os humanos modificam os recursos, processam os recursos modificados e vendem (trocam) esse material. Para “facilitar” essas transações comerciais, os humanos inventaram o dinheiro, que passou a servir como padrão de equivalência entre as mercadorias (os recursos no comércio humano) a serem negociadas. Paralelamente a isso desenvolveu-se um ramo de atividade estritamente antrópica, que a natureza (as demais espécies do planeta) não conhece, pelo menos dessa maneira, que foi denominado de economia e cujo objetivo é permitir garantir mais recursos, que passaram a ser entendidos simplesmente como dinheiro. Assim, a maioria dos seres humanos, passou a se preocupar com o dinheiro e não com os recurso naturais.

Não fosse o absurdo de supervalorizar o dinheiro, essa situação podia até ser uma forma mais conveniente de tratar os recursos e até podia ter um objetivo nobre, mas anexado a ela veio uma ideia terrível, que foi a ideia de lucro (vantagem em dinheiro), que a natureza (as demais espécies do planeta) também não conhece. Como “o lucro pareceu ser um bom negócio”, os seres humanos não abriram mão de trabalharem efetiva e especificamente visando essa possibilidade. Se der lucro, sim e se não der lucro, não. Infelizmente esse passou a ser o fundamento maior da atividade humana. Por conta disso, alguns seres humanos passaram a comprar e vender exclusivamente dinheiro ao invés de recursos naturais.

A propósito, não sou contra o lucro, muito menos contra o capitalismo e nem quero voltar necessariamente ao escambo. Estou apenas afirmando que o lucro como base exclusiva de interesse para geração de renda e ampliação da economia é um grande (talvez o único) causador dos transtornos planetários. O grande equívoco da humanidade foi acreditar que dinheiro vale alguma coisa, pois quem valem são os recursos.

Fazer riqueza (ter cada vez mais dinheiro) passou a ser um compromisso dos seres humanos, que por conta dessa “necessidade” trocou e continua trocando cada vez mais as verdadeiras necessidades por dinheiro e não mede consequências para atingir esse intento. O que importa é ter dinheiro para poder comprar e assim destruir um pouco mais o planeta que já está bastante degradado. O consumo dos recursos naturais e derivados atingiu um patamar absurdo, onde as pessoas querem comprar, apenas por comprar, pois para muitos humanos, já não há nenhum significado na maioria das compras, além de mera ostentação.

Lamento, mas tenho nesse momento, que fazer mais uma constatação terrível e que a maioria dos humanos não costuma querer saber. A partir do conhecimento do lucro e seu filho pródigo, o consumo, e de seus benefícios pessoais, a humanidade não parou mais de complicar a vida dos seres humanos e não humanos na Terra seriamente. A destruição planetária passou a ser mera contingência da atividade econômica, que precisa gerar cada vez mais lucros para que se tenha mais dinheiro e que se consuma sempre mais. É preciso conciliar o lucro e o consumo aos interesses planetários, antes dos interesses estritamente humanos e existe pouquíssima gente disposta a seguir nessa direção.  

O mundo precisa de mais ecologia e menos economia, ou melhor, considerando que economia é uma questão ecológica, então a economia tem que se fazer com base na ecologia, isto é, o mundo, na verdade, só precisa de ecologia, mas, infelizmente não é isso que se vê. Pois então, ao que me parece, não existem muitos humanos dispostos a pensar e agir no interesse planetário, aquele que deveria ser, em última análise, o maior interesse da humanidade.

SUSTENTABILIDADE, O FIEL DA BALANÇA

O Eco desenvolvimento, o Desenvolvimento Sustentável e hoje a Sustentabilidade são conceitos que foram evoluindo gradativamente a partir da década de 1980 e que hoje podem ser traduzidos quase da mesma maneira. Isto é, essas são as ideias básicas que foram pensadas por uns poucos seres humanos preocupados, os quais procuraram desenvolver soluções plausíveis para as questões planetárias que foram citadas anteriormente. O compromisso fundamental desses conceitos foi criar mecanismos que associassem o desenvolvimento econômico com a manutenção da qualidade do meio ambiente, pois os recursos naturais precisavam ser garantidos a todos os humanos, atuais e futuros. As ideias são muito boas, mas a economia mundial e os diferentes países, com seus administradores e suas populações também precisam estar envolvidos nessas ideias, pois também têm que fazer as suas respectivas partes no compromisso com o planeta.

A distância entre o pensar e o fazer sustentavelmente ainda é muito grande, mormente quando se considera a relação entre pobres e ricos. Essa distância tem que ser progressivamente diminuída e os recursos naturais têm que ser usados com parcimônia, no interesse maior da humanidade e não de uns poucos indivíduos ou países que têm dinheiro para comprar recursos. É preciso abrir mão de algumas regalias, o que os ricos não querem e deixar de lado algumas pseudonecessidades, o que os pobres não aceitam. Em suma, ambos os extremos têm que ceder, mas quem está efetivamente disposto a caminhar nessa direção.

A Sustentabilidade é a única condição possível de associar a natureza e a sociedade, garantindo crescimento econômico, protegendo os recursos naturais e mantendo a qualidade de vida do planeta. A vida humana deve ser protegida, mas principalmente deve ser planejada para o futuro, para aqueles seres humanos que ainda não nasceram. É preciso garantir que esses humanos tenham direito a vida e que essa vida tenha qualidade, mas é preciso principalmente que o planeta tenha condições de abrigar vida no futuro, pois não deverão existir futuros seres humanos se não houverem as condições planetárias devidas que possam viabilizar e assim garantir a geração e a manutenção desses indivíduos que ainda estão para nascer.

Nós humanos, somos a principal causa do problema, mas, o lado bom da história, é que também somos a parte principal da solução. Aliás, acredito mesmo que a solução seja uma questão exclusivamente nossa, pois se, por um lado, foi a espécie humana que criou os problemas, por outro lada é apenas a espécie humana que tem efetiva condições de tentar resolvê-los. Os humanos do futuro esperam que os humanos do presente sejam capazes de cumprir o compromisso planetário histórico que têm com eles. Para que isso seja possível, há necessidade premente que trabalhar dentro dos padrões precípuos da sustentabilidade, mas como já foi dito no início, essa é uma tarefa que precisa ser assumida coletivamente por toda humanidade. Cada ser humano, enquanto estiver vivo, é responsável pelo planeta, pela vida das demais espécies vivas do planeta, pela sua própria vida e pela vida dos futuros seres humanos do planeta.

No mundo há pessoas em todas as áreas de trabalho e em todas as regiões geográficas trabalhando efetivamente para que esse ideal sustentável tenha êxito, mas é fundamental que todos os segmentos sociais e todos os grupos humanos estejam imbuídos do firme propósito de melhorar as condições planetárias progressivamente. A tarefa não surtirá efeito se não houver participação efetiva de toda a humanidade. A sustentabilidade é a única possibilidade para a nossa espécie. Desta maneira, somente um planeta ecológica, social e economicamente sustentável poderá atuar como verdadeiro fiel da balança e continuará garantindo a manutenção dos seres humanos na superfície da Terra.

EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE (EDUCAÇÃO AMBIENTAL)

Obviamente para se chegar à sustentabilidade que se quer e da maneira que se quer será necessária uma carga imensa de educação. Convencionou-se chamar de educação ambiental a educação ligada ao meio ambiente e as questões ambientais, mas eu penso que educação seja um termo que, por si só, já diz o que pretende. Se precisamos nos preocupar com uma educação que deverá fazer o ser humano pensar e agir com relação às questões genéricas que complicam a vida planetária e se chamamos isso de educação ambiental, então que assim seja. Mas, eu tenho uma preocupação mais específica quanto ao termo educação ambiental, que para mim é um termo pleonástico, porque qualquer forma de educação tem levar em conta o ambiente em que ela ocorre e assim, toda educação é uma forma de educação ambiental, mas vamos deixar a semântica de lado e seguir em frente.

Temos que trabalhar numa maneira de educação que motive as pessoas que estiverem bem nos locais onde estão a continuarem querendo estar bem e por isso mesmo buscando sempre melhorar. A qualidade dos ambientes, sejam eles quais forem, sempre deverá ser a melhor possível, pois se cada pequeno ambiente for bom, o macro ambiente (o planeta) estará caminhando para a perfeição. Esse deverá ser o objetivo da educação ambiental: trabalhar para a perfeição do ambiente planetário, ainda que isso seja um utopia.

Atitudes antropocêntricas não terão lugar na educação. O biocentrismo terá que ser o objetivo fundamental e a prioridade primária será a manutenção da vida no planeta, independentemente de qual seja a espécie, pois se essa espécie existe é porque ela é importante ao planeta e assim precisa ser mantida existindo. Haverá o maior cuidado com as questões que possam levar a viabilidade de extinção de espécies, pois será entendido que cada espécie extinta é um pedaço do planeta que se foi e assim, também é uma parte da história humanidade que se foi, haja vista que descendemos evolutivamente de outras espécies vivas.

A Terra é a meta única e tudo deve ser relacionado aos interesses planetários primários e preponderantes, todo o resto será consequência daquilo que for melhor para o planeta. Se a humanidade conseguir agir dessa maneira, então realmente estará sendo criando um novo homem, cuja qualidade de vida será medida por suas ações coletivas no interesse maior da própria humanidade. O egoísmo progressivamente dará lugar ao cooperativismo e o egocentrismo ao altruísmo. Os seres humanos estarão mais preocupadas em fazer para todos do que para si, porque a Terra e avida serão os interesse maiores das diferentes comunidades.

A chamada educação ambiental será também a educação social, a educação econômica a educação cultural, porque toda educação envolverá questões que implicarão sempre a sustentabilidade planetária. Não haverá nenhum mecanismo destoante desse critério básico e assim, tanto o estudante, quanto o educador estarão atentos e implicados no firme propósito de garantir vida e qualidade de vida ao planeta. A noção de Terra é única e que deverá continuar sendo nossa única casa por muito tempo, certamente será o fundamento maior do processo educacional e tudo caminhará sempre nessa direção. Os próprios cursos profissionais técnicos ou superiores serão naturalmente inclinados a se enquadrarem estrategicamente em formar profissionais ecologicamente corretos, socialmente justos e economicamente viáveis, dentro do tripé da sustentabilidade.

A educação com certeza irá se direcionar para mudar o rumo do planeta e consequentemente das possibilidades da natureza seguir seu caminho evolutivo e da humanidade crescer intelectual e moralmente, pois essa educação deverá servir para orientar o estudante a caminhar para a realização pessoal e para a vivência comunitária e assim também participar da melhoria da qualidade de vida dos demais seres humanos. A responsabilidade social e ambiental dos indivíduos caminhará a passos largos e trará o fim de muitos preconceitos, estabelecendo um novo ser humano, que sobre tudo, sempre respeitará os demais seres humanos, porque terá consciência de que não existe ser melhor que outro.

CONCLUSÕES

Por fim, quero mais uma vez deixar claro que o mais importante de tudo não é fazermos encontros desse tipo, com as pessoas interessadas e já conscientes sobre a questão. Isso é bom, mas não adianta absolutamente nada, porque nós não temos poder de fogo nas ações políticas que se fazem necessárias. Temos que pensar em criar mecanismos educacionais e legais que envolvam direta e indiretamente as comunidades e os governos para que novas ações sejam estabelecidas visando a mudança dos paradigmas, que trarão clareza e entendimento sobre a veracidade das questões ambientais às diferentes populações humanas.

Esses mecanismos educacionais e legais é que poderão estabelecer os comportamentos novos que almejamos e que poderão permitir que as práticas sustentáveis passem a ser consensuais e assim possam efetivamente se transformem em ações cotidianas simples e comuns. A sustentabilidade tem que passar a ser algo natural nas diferentes culturas humanas e isso só será possível com o interesse dos governos e das instituições sociais.

A prática sustentável possivelmente exigirá até ações mais enérgicas sobre alguns países e determinados grupos sociais, mas urge que essa prática se torne costumeira da humanidade como um todo. Penso eu que o futuro da humanidade seja uma questão mais importante que todas as demais e assim deve ser prioritárias as ações que se destinam a esse fim e certamente a sustentabilidade é a principal dessas ações.

A educação ambiental, por sua vez, deverá preparar o homem do futuro, objetivando as consequências posteriores e mais ainda, antevendo as novas necessidades que surgirão. O novo homem que vai nascer com a educação ambiental efetiva e embutida nas populações já crescerá com uma mentalidade naturalmente preocupada com o planeta e com todas espécies que nele vivem. Não haverá necessidade de uma preocupação ambiental, porque esse será um compromisso intrínseco dentro da própria condição humana.     

O dinheiro, o lucro e o consumo é claro que continuarão existindo, até porque as atividades sociais humanas não deixarão de acontecer, mas a importância desses aspectos será tão insignificante quanto uma gota de água no oceano, porque todos terão o foco principal na vida e não nas riquezas, nem no poder ou no conforto. O trabalho permitirá obter o dinheiro necessário para sobreviver e viver com boa qualidade de vida e comprar será uma contingência da necessidade e não uma necessidade contingente. O Consumo exacerbado, que hoje se vê alhures, não poderá existir em situação nenhuma, pois qualquer ser humano terá exatamente aquilo que precisa e não haverá porque ter mais que isso. O lucro será reinvestido em benefício da própria humanidade e não haverá essa guerra econômica do capitalismo selvagem que causa grande infortúnio a humanidade.

É claro que e educação não conseguirá mudar tudo, pois continuarão existindo os 7 pecados capitais, os ricos e os pobres, as diferenças entre os indivíduos. O ser humano continuará sendo humano e assim diverso e controverso, mas cultura humana terá avançado a tal ponto, que não dependerá mais de argumentos sórdidos para decidir pendências. A educação tentará produzir uma justiça que deverá ser efetivamente igualitária e justa.

É claro que não conseguiremos atingir todo o nosso intuito, até porque não depende somente da gente, mas quem dera que fosse verdade! É eu sou realmente um sonhador e todos aqui nesse evento, que estão querendo sustentabilidade e educação ambiental, também são. Mas, vamos acreditar, pensar e sobre tudo trabalhar para que essas coisas que almejamos sejam possíveis um dia, pois talvez isso nos faça homens e mulheres melhores hoje, apesar de tudo. Ou melhor, assim nos livramos do sentimento de culpa, porque estamos atuando como “bons samaritanos”, porém, todos nós ainda somos cientes de que não conseguiremos resolver esses imensos problemas sozinhos.

Por favor, sonhem comigo para que as diferentes nações da Terra, os políticos poderosos, os administradores públicos capazes e os grandes empresários compreendam seriamente a verdadeira situação planetária e mudem de filosofia, começando a tomar as devidas providências no sentido de pensar e fazer diferente. Somente assim, com os poderosos e os comuns, atuando juntos é que poderemos planejar, de fato, um futuro melhor para o planeta e para toda humanidade.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)


*Artigo publicado no site http://www.ecodebate.com.br, Edição 3.142, 05 de fevereiro de 2019.*e Ambientalista (Conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente - CONSEMA).
30 abr 2018

CONTEXTUALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Resumo: O texto trata da real necessidade de regionalização da Educação Ambiental como mecanismo norteador (orientador) de uso sustentável dos recursos naturais. É uma abordagem abrangente que propõe uma avaliação contextualizada para o Patrimônio Natural Regional e os diferentes usos dos recursos naturais encontrados nesse patrimônio.


CONTEXTUALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Ultimamente, muito tem sido discutido sobre a Educação Ambiental e como se poderia e se deveria fazer para colocar esse modelo de Educação dentro dos conteúdos curriculares das escolas brasileiras, mas até aqui a tarefa de concluir essa discussão ainda não se demonstrou objetivamente tão clara e eficiente como deveria se supor que fosse num primeiro momento. Ao contrário da expectativa, do modo em que a situação se encontra, na verdade se fala muito e acaba se fazendo muito pouco sobre educação ambiental de fato. Alguns dos muitos envolvidos nessa questão resolveram decidir que educação ambiental é orientar para se fazer reciclagem, outros que educação ambiental é cuidar e tratar do lixo, outros ainda assumiram que a Educação Ambiental é despoluir as águas e conservar a natureza e vai por aí afora, porém ninguém produziu um mecanismo suficientemente abrangente para estabelecer um bom programa educacional. Em suma, cada um vê a Educação Ambiental daquela forma que quer ver ou daquela forma que acha mais significativa e importante, mas sempre com um olhar sectário e caolha da realidade maior a sua volta. Desta maneira a Educação Ambiental segue sendo um ideal a ser atingido, mas que ainda está bastante longe da realidade necessária. De certa forma, todos estão parcialmente certos, mas por limitarem o foco, também acabam estando grandemente errados, porque a Educação Ambiental não pode ser dirigida diretamente a esse ou aquele aspecto, ela deve ser abrangente e globalizante. As ideias por trás das práticas educativas devem ser ampliadas, ainda que as ações e a eficácia devam ser localizadas. A Educação Ambiental precisa ser trabalhada dentro de um conceito mais amplo, numa visão mais generalista, de acordo com os padrões precípuos da sustentabilidade. Os aspectos considerados são importantes, mas só podem fazer sentido se forem avaliados dentro de um contexto geral, que envolve todos concomitantemente, ou que os individualizem na temática, mas globalizem nas ações a serem postas em prática, considerando todas as três vertentes fundamentais da sustentabilidade (ambiental, social e econômico), obviamente priorizando a temática (o viés) ambiental do referido tripé. Entretanto, na maioria das vezes, não é isso que tem acontecido, porque cada aspecto considerado é individualizado e especificado para determinada questão e isso não alcança os objetivos maiores propostos na Educação Ambiental. Assim, os temas a serem tratados podem ser boas premissas como enfoques principais, mas precisam ser considerados no seu todo e nas suas relações com as demais questões ambientais e não serem isolados e tratados separadamente. Além disso, também é fundamental que as questões a serem trabalhadas pela Educação Ambiental digam respeito à realidade próxima do grupo envolvido. Não adianta tentar trabalhar Educação Ambiental fora da realidade próxima e imediata da comunidade, porque desse jeito não vai haver percepção real. A contextualização é preponderante para que o entendimento daquilo que se quer demonstrar seja efetivamente alcançado. A ordem a ser priorizada deve seguir o seguinte sequencial: primeiro a realidade contingente do local, depois a realidade próxima do regional e por fim, a realidade intencional do estadual, do nacional, do internacional e do global (planetário). A Educação Ambiental também tem que ser produzida a partir dessa premissa, isto é, quanto mais próximo do local em que se está, mais interessante, mais oportuno e principalmente mais prioritário. Os grandes problemas planetários começam a ser resolvidos por cada um de nós, na nossa própria casa, ou seja, no lugar mais próximo, dentro daquela máxima que diz: “pensar globalmente, agindo localmente”. Chega de pensar numa Educação Ambiental imaginária, irreal e para outro mundo. É preciso pensar, trazer e fazer uma Educação Ambiental para dentro da realidade cotidiana que se vive. Nossa região é o Vale do Paraíba e aqui estão as nossas cidades e nossas comunidades, então esses devem ser os nossos norteadores da Educação Ambiental que precisa ser desenvolvida. Nossos problemas prioritários dizem respeito às nossas necessidades imediatas e não se trata de puro egoísmo, mas sim da real manifestação daquilo que é preciso resolver em primeiro plano, para garantir o verdadeiro envolvimento com as questões ambientais e tratar essas questões dentro das possibilidades situacionais que podem ser verdadeiramente operadas na região. Até porque em regiões diferentes da nossa, existem condições diferentes e obviamente as soluções possíveis também tenderão a ser bem diferentes. Assim, apenas o contexto real poderá lançar luz efetiva sobre a necessidade devida da Educação Ambiental a ser ensinada no local. As soluções são locais e por isso mesmo, as orientações também têm que ser locais. Não posso me preocupar com os problemas dos outros, por mais importantes que eles possam ser, enquanto os meus problemas não estiverem resolvidos. É uma grande utopia, um sonho, achar que a minha preocupação resolve qualquer problema longe de mim. Contextualizar é exatamente o contrário disso, ou seja, contextualizar é trazer para si próprio o problema e buscar a solução a partir das condições ambientais externas e internas do próprio problema, sem qualquer importação de valores e outras condicionantes. É claro que grande parte dos modelos existentes conhecidos e que são aleatoriamente aplicados sempre poderão ser úteis, mas na maioria das vezes eles não serão aplicáveis “in loco”, até porque são modelos e não podem ser verdades absolutas. Obviamente os modelos devem sim ser considerados, mas mudar o meio para adequar o modelo é uma tarefa irrisória e idiotizante, porque certamente isso não vai permitir resolver o problema. A solução está exatamente na postura contrária, isto é, deve ser adequada ao meio para começar a funcionar. Além do mais, transferir a mudança do meio para a adequação do modelo, sobretudo é artificial e antiecológica. Desta maneira não pode ser identificada em essência como Educação Ambiental. Pois então, até aqui o muito que se viu da Educação Ambiental foi exatamente isso: alguém propunha um modelo e todos repetiam aquele modelo em diferentes lugares. Ora isso, salvo melhor juízo, não pode ser considerado como Educação Ambiental, isso, quando muito é aplicação de modelos genéricos para Educação Ambiental, o que, na maioria das vezes, é extremamente artificial. O Meio Ambiente não é como a Matemática que eu posso teorizar para qualquer lugar ou situação. O Meio Ambiente é muito diverso e infelizmente não existem padrões totalmente aplicáveis.  Assim, é preciso que sejam construídos modelos locais, que identifiquem e interpretem as situações próximas e permitam solucionar problemas intrínsecos a esses mesmos locais, para se possa fazer Educação Ambiental de fato.   CONCEITOS AMBIENTAIS Na área do Meio Ambiente, como em qualquer área, existem muitos conceitos genéricos aplicáveis, entretanto é preciso que se dimensione exatamente a abrangência daquilo que se quer operacionalizar. Por exemplo, aqui no Vale do Paraíba existe uma questão que afeta a todos os envolvidos na região e até mesmo fora dela, que é a situação da água da Bacia Hidrográfica. Sendo assim, obviamente é necessário e interessante se trabalhar com os conceitos de Bacia Hidrográfica, de Ecossistema Hídrico Limnológico, com o conceito de ambientes lóticos e lênticos. Enfim, há várias terminologias que precisamos ter em mente e aplicar no interesse da Educação Ambiental para a região. Entretanto, não são apenas esses os conceitos que podem interessar, porque muitas vezes a questão local transcende a questão regional, fazendo com que a terminologia seja outra e outros conceitos adicionais sejam necessários. O Meio Ambiente é uma espécie de caixa preta que o homem ainda não conseguiu entender na sua plenitude. Na verdade, o homem tem apenas uma vaga ideia de algumas coisas, mas não conhece a maioria das verdades ambientais próximas, principalmente num país com diversidade geológica, biológica e cultural que o Brasil possui. Aqui no Brasil, nós ainda não somos capazes de identificar grande parte das espécies a nossa volta, quanto mais saber exatamente as respostas que elas poderão dar às diferentes situações naturais ou artificiais produzidas e muito menos nos casos de mudanças ambientais, os quais, infelizmente, têm sido cada vez mais comuns. Muitos conceitos ambientais regionais e particularmente locais, ainda terão que ser construídos, definidos, entendidos e por fim popularizados a partir de suas ideias genéricas, para que a população tome ciência e consciência exata daquilo que possui, daquilo que existe à sua volta e de como deve proceder no seu interesse próximo para garantir que aquilo continue existindo. As noções de bem natural, de patrimônio ambiental e de manejo ambiental ainda estão muito distantes da realidade próxima das pessoas nas diferentes comunidades e enquanto for assim não será possível falar em Educação Ambiental efetiva. É preciso que as pessoas saiam do empirismo e do continuísmo sociológico no uso dos recursos naturais e que se apropriem conscientemente desses recursos, inclusive e principalmente considerando a finitude desses recursos. Para que isso ocorra, a noção de patrimônio ambiental e sua transformação em recurso e ainda a maneira de utilizar esse mesmo recurso, têm que ser noções precípuas que a Educação Ambiental necessita produzir e orientar nas diferentes comunidades. Outro aspecto a ser considerado no que diz respeito aos conceitos ambientais é aquele que se relaciona com o próprio conceito ambiental em si. Nos ecossistemas antrópicos, essa é uma falha extremamente comum, quando se pensa em Educação Ambiental, porque o homem muda as condições de acordo com seus interesses particulares e os demais, inclusive os demais humanos que partilhem o ambiente em questão, que se danem. A Educação Ambiental precisa considerar essa questão dentro do modelo educacional que se quer propor naquele momento ou situação. Por exemplo, se o meu negócio é gado e se o seu é horta, nós não temos os mesmos requisitos básicos quanto a qualidade de alguns recursos naturais. De repente, o que é poluição hídrica para uma comunidade pode ser uma condição natural essencial para outra comunidade. Essas situações têm que ser pensadas e esclarecidas pela Educação Ambiental com toda a parcimônia necessária, considerando a relação de custo e benefício ambiental, social e econômico. Obviamente, essa não é uma tarefa simples, entretanto existe grande necessidade de sua consideração, se é que se quer mesmo fazer Educação Ambiental. Veja por exemplo, a água tratada que serve as populações humanas, esse tipo de água não presta para ser utilizada por determinados tipos de organismos vivos, porque o tratamento que é vital para os humanos, pode tornar essa água tóxica para outros organismos. Por outro lado, algumas vezes acontece o contrário, os agrotóxicos que um fazendeiro usa na sua plantação, pode ser vital para suas plantas, mas certamente será letal para os humanos que por ventura tenham contato estrito com essa material. Assim, como já foi dito, é preciso que sejam estabelecidos alguns critérios de prioridade. A situação é realmente bastante complexa e fica mais conflitante ainda quando se considera que infeliz e lamentavelmente, embora o patrimônio natural seja de todos, os recursos naturais “pertencem” a alguns proprietários que tem esse ou aquele interesse e aí já se está falando de sociedade, de relacionamento interpessoal e de economia. Nessas alturas, na maioria das comunidades, o Meio Ambiente e a Educação Ambiental passam para um plano inferior, mas a situação não pode continuar sendo assim, se é que existe pretensão real em fazer Educação Ambiental. Ora, se não houver concordância no mecanismo de exploração do patrimônio e no uso dos recursos naturais, obviamente não haverá bom relacionamento social e muito haverá vantagens econômicas compatíveis para todos os envolvidos. É por isso que as questões ambientais têm que ser tratadas com visão sustentável e generalizada, considerando todos os problemas possíveis e também é por isso que o Meio Ambiente tem que ser a base principal do tripé da sustentabilidade. Se não houver recurso, não há sociedade organizada e não há lucro econômico. Em suma, tudo pode ficar insustentável e ruir se o Meio Ambiente ruir. A Educação Ambiental tem que estar concatenada com essa situação, pois do contrário não existirá Educação Ambiental de fato e assim, o problema continuará não sendo entendido e muito menos resolvido.   CONTEXTUALIZAÇÃO Considerando que existe consenso sobre o tamanho do problema que é a necessidade de construir um efetivo trabalho de Educação Ambiental, agora vem o que acabaria sendo mais simples, isto é, trazer à realidade daquilo que se quer demonstrar para uma condição tangível e verdadeira para os aprendizes. A contextualização deveria ser a parte mais fácil, desde que as demais condições estejam estabelecidas a contento. Quer dizer, depois que se tem a verdadeira dimensão do local, das suas possibilidades, das suas necessidades e das suas aplicações e ainda depois que se sabe exatamente aquilo que se quer dispor ou degradar para adquirir lucro com os recursos daquele lugar, aí é que a gente deveria contextualizar as diferentes situações possíveis. O problema é que historicamente os processos foram atropelados e as coisas quase nunca aconteceram dentro dos princípios que se tentou demonstrar aqui nesse ensaio como sendo os mecanismos corretos de ação, de ocupação e principalmente de uso dos recursos oriundos do patrimônio natural. Infelizmente os ambientes foram usurpados, ocupados e explorados indevidamente sem nenhum critério e sem nenhuma parcimônia. Mas, por outro lado, Educação Ambiental exige que os acontecimentos se deem dentro de padrões que priorizem a utilização e manutenção do patrimônio natural dentro de preceitos claros. O patrimônio natural só pode ser transformado em recurso natural dentro de critérios muito bem estabelecidos, para que o não haja dana significativo ao patrimônio e que seja garantida a sustentabilidade do Meio Ambiente e a continuidade dos recursos e da comunidade. Ou seja, que seja garantida a manutenção daquele mecanismo que gera o uso do patrimônio como recurso, ao longo das gerações, produzindo condições sociais e econômicas, mas sem o comprometimento integral daquilo que se fez recurso e também sem que haja uma degradação do local onde se explora a atividade. A degradação não é só do recurso, mas é do ambiente como um todo. Na verdade, quando se explora algo, se compromete todo o local (ambiente) onde esse algo se encontra. A Educação Ambiental tem que estar atenta a esse detalhe e tem que ser capaz de demonstrar que isso é um fato e também deve tentar transformar esse fato numa forma menos degradante possível, por isso há que procurar as, já citadas, alternativas locais para a resolução dos problemas. Os materiais explorados devem mesmo ser explorados? Essa é uma questão que muitos jamais aceitarão que a resposta possa ser não. Entretanto, cabe a Educação Ambiental permitir a interpretação real dessa possibilidade e produzir mecanismos que façam os envolvidos entenderem essa necessidade ambiental, porque esse é o contexto real que se estar vivendo. Aqui se chegou numa condição de verdadeira contextualização que desagrada e aí como se resolve o problema? Como eu disse no início contextualizar é fácil, o que é difícil é aceitar aquilo que a contextualização pode pedir para que se faça. Muitas vezes a Educação Ambiental deixa de ser interessante e assim, sempre é possível se dar um “jeitinho” para agradar a quem quer que seja e o patrimônio ambiental que se lasque. A sustentabilidade que se exploda, pois o ambiente não vai ser protegido, a sociedade não vai deixar de fazer o que sempre fez e a economia não pode parar de crescer. É aquele velho sonho absurdo do crescimento ilimitado num planeta limitado. Isso é impossível e a Educação Ambiental tem que demonstrar esse fato a todos os envolvidos pelas diferentes situações! É preciso entender que não há como manter crescimento eterno e a sociedade e a economia precisam estar prontas para isso, porque o Meio Ambiente já está ciente de que não dá mais. A Educação Ambiental precisa informar e caracterizar isso. A Terra está gritando por socorro das ações humanas e a Educação Ambiental tem que demonstrar essa verdade. A pergunta que fica é a seguinte: será que vai se querer mesmo contextualizar a Educação Ambiental?   REGIONALIZAÇÃO Ainda que já tenha sido dito, que não se pode partir de situações específicas para fazer Educação Ambiental, é preciso que se concorde que há necessidade de algum ponto de partida para que a prática da Educação Ambiental possa se estabelecer. Por outro lado, como também já foi dito, é fundamental que aquilo que se trabalha tenha a ver com a realidade próxima e nada é mais próximo do que aquilo que acontece localmente. Desta maneira, se existir algum aspecto que seja local e que, por contingência geopolítica ou mesmo situacional também seja regional, esse aspecto deve ser priorizado e considerado como possuidor de uma forte capacidade de interesse comunitário e consequentemente de grande contextualização. Aqui na região existem vários aspectos que podem se enquadrar nessa condição de local, com interesse regional e facilmente contextualizado para a Educação Ambiental. O principal desses aspectos certamente é o Rio Paraíba do Sul, que empresta o nome e atravessa toda a região e, por isso mesmo, acaba sendo o elo comum a todos e um fator preponderante à região como um todo. O Rio Paraíba do Sul e toda a sua Bacia Hidrográfica, certamente têm mais detalhes regionais em comum do que contrastantes, embora esses também existam. Assim, talvez as questões hídricas possam e devam ser o ponto de partida para um estudo ou mesmo para um programa básico de Educação Ambiental regional. Vejam bem, não vai aqui qualquer referência sobre esse ou aquele pedaço do rio, mas sim sobre a sua importância que é comum a todos, porque suas águas é que atendem direta ou indiretamente às necessidades regionais. O Rio Paraíba do Sul integra e qualifica interesses regionais e assim se apresenta como uma das características mais importantes no interesse de toda a coletividade da região. Ele está em todas as comunidades e mais, todas as comunidades dependem direta ou indiretamente dele. O Rio Paraíba do Sul é, por assim dizer, um ícone capaz de definir aspectos locais e regionais, além de ser forte indicador de como proceder para garantir a qualidade ambiental regional. Quer dizer, o Rio Paraíba do Sul é sim um excelente parâmetro para servir de base a qualquer projeto de Educação Ambiental na região do Vale do Paraíba, haja vista que de uma forma ou de outra, ele interessa e participa na vida de todas as comunidades locais, que compõem a população da região como um todo. Outros dois bons aspectos para definir padrões peculiares e desenvolver programas e projetos de Educação Ambiental na região são a Serra da Mantiqueira e a Serra do Mar, que abrigam formas vivas de grande biodiversidade, riquezas geomorfológicas e belezas cênicas incomparáveis. Ambas acompanham e margeiam de cima, lá do alto, o Rio Paraíba do Sul e toda a região. Assim, essas serras, de alguma forma, também estão associadas direta ou indiretamente a quase todos os municípios, porque derramam seus nutrientes diretamente em alguns deles. Suas realidades geomorfológicas também são bem parecidas e ambas guardam peculiaridades históricas bastante semelhantes. Ou seja, ambas as serras são fatores comuns de interesse regional, mas que também apresentam importância local em grande parte dos municípios da região. Enfim, além desses, existem vários outros aspectos que depois de muito bem trabalhados, podem servir de ponto de origem para demonstrar o que deve ser feito com a região do Vale do Paraíba e em cada um dos seus municípios, usando, preservando e também mantendo as condições básicas e fundamentais da região como um todo. Qualquer programa ou projeto de Educação Ambiental a ser desenvolvido e implantado no Vale do Paraíba tem que partir desses tipos generalizados de aspectos ou, pelo menos, de um pressuposto integrador que reúna todas as características que aglutinam a região como uma unidade, apesar das individualidades específicas e das diferenças notórias.   CONCLUSÃO Pois então, a situação de fazer Educação Ambiental não é tão simples quanto aparentemente se gostaria que fosse, porque na verdade existe uma grande montanha de questões que se contrapõem à Educação Ambiental. Até aqui o que tem sido feito, como foi dito no início é apenas “perfumaria”, os problemas são muito mais profundos e suas possíveis soluções são muito mais drásticas e conturbadoras do que alguns pensam. Tratar de Educação Ambiental com seriedade vai envolver uma gama muito maior de argumentos e de dispositivos que possam justificar as ações e além disso, vai necessitar de muita vontade política de quem administra e de quem acredita “ser dono” de alguns produtos naturais. O patrimônio natural é do planeta e não do homem e o planeta deve ser a prioridade máxima na questão da Educação Ambiental, mas não se pode ter dois pesos e duas medidas na hora de decidir sobre como proceder. O Meio Ambiente SEMPRE deve estar em primeiro lugar, porque somente o que for bom para o ambiente poderá ser bom para toda a sociedade e poderá trazer avanços econômicos reais até um determinado limite, o qual também SEMPRE será imposto pelo próprio Meio Ambiente. A Educação Ambiental de verdade deverá contemplar claramente o que está aqui proposto, porque do contrário ela será mera falácia sobre o Meio Ambiente, sem nenhuma vinculação efetiva com a realidade que precisa existir. O ser humano é a espécie mais dependente do planeta e do patrimônio natural, mas usurpou a Terra sem nenhum cuidado e agora está na hora de se preparar para tratar o planeta como ele merece, porque começou a entender o óbvio. Somente uma Educação Ambiental coerente e verdadeira, sem falsas alternativas, poderá mudar o comportamento humano e conduzir a humanidade um pouco mais à frente. Do contrário a espécie humana está fadada a extinção prematura. Somente uma vivência com implicação direta na sustentabilidade poderá conduzir a humanidade para um futuro um pouco mais longínquo. A Educação Ambiental regionalizada é exatamente o caminho metodológico que poderá permitir que isso aconteça dentro de padrões convincentes e esclarecedores, porque esta é a única maneira objetiva de envolver toda a comunidade na questão ambiental e assim fazer com que haja um efetivo interesse na resolução dos problemas ambientais, locais, regionais, estaduais, nacionais, internacionais e globais.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (61) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.

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09 dez 2015

Educação Ambiental: infelizmente ainda está faltando muito

Resumo: O texto atual diz respeito a necessidade premente de Educação Ambiental que existe em nosso país. Entretanto, ele chama a atenção de que a Educação Ambiental precisa estar voltada aos interesses próximos e à realidade local das comunidades. Para tanto precisamos passar a cumprir efetivamente as leis ambientais e desenvolver programas específicos de Educação Ambiental para as diferentes situações e regiões, mormente nas áreas de grandes projetos de Agricultura e Mineração.


Educação Ambiental: infelizmente ainda está faltando muito

O Brasil é um país onde o setor primário, isto é, a agricultura, a pecuária e a mineração se constituem na base da economia. Além disso, o setor secundário é quase totalmente ocupado por empresas multinacionais e a grande maioria delas é totalmente despreocupada com as questões ambientais e menos preocupadas ainda com o Brasil e a população brasileira. Se não bastasse isso, ainda temos essa mania terrível de achar que a economia é tudo. Em suma, aqui no Brasil, além de termos a infeliz mania de achar que a economia é, de fato, a única coisa importante para o país, ainda sofremos com a exagerada exploração dos recursos naturais e o desleixo das empresas multinacionais.

Assim, com essas condições funcionais e operacionais de nossa base econômica, associadas com essa mania inverídica da importância quase exclusiva de entender a economia como sendo o único mecanismo de avaliação do desenvolvimento, seguimos nosso triste caminho, quem nem Dom Quixote, na busca de dias melhores. É bom lembrar que essas condições estão tão arraigadas que lamentavelmente atingem tanto os dirigentes (governantes) nacionais, como a grande maioria das pessoas e por isso mesmo consistem claramente na raiz de nossa eterna dependência.

Um país que possui essas características básicas e ainda com essa população, de visão generalizadamente caolha, apresenta uma cultura que realmente não permite pensar que a Educação Ambiental seja realmente algo importante e necessário para melhorar o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas. Há necessidade de mudar essa cultura, desqualificando esse pensamento errôneo e criando novas maneiras de pensar que produzam novos comportamentos e que possam gerar novas atitudes na população brasileira. Temos sim que colocar metas de Educação Ambiental e de Desenvolvimento Sustentável na vanguarda de nossas ações para que ocupemos o nosso devido lugar no cenário internacional.

Mas, como no momento presente, a sociedade brasileira infelizmente ainda não está preparada para entender a importância de determinados conceitos, os quais deveriam ser consequências de uma base sólida de Educação Ambiental, temos muito que trabalhar para mudar o quadro. Palavras e expressões como Sustentabilidade, Biodiversidade, Economia Verde, Desmatamento Zero e outras tantas, ainda soam de maneira destoante e ilógica na mente da maioria dos brasileiros e isso ocorre exatamente porque para a grande parte das pessoas essas palavras são menos importantes, porque na visão delas, os conceitos por trás delas não têm nenhuma relação próxima com a Economia Nacional, o que certamente é um grande equívoco.

Desta maneira, como será possível fazer Educação Ambiental no país, se o propósito da Educação Ambiental é exatamente ao contrário dos valores culturais estabelecidos na população e se os interesses desse tipo de modelo educacional são totalmente antagônicos aos interesses primários dos dirigentes e das próprias pessoas? Assim, acaba se falando muito de Educação Ambiental, mas se faz efetivamente muito pouco (quase nada) sobre essa proposta educacional. Embora haja alguns bons trabalhos na área, esses são pouco significativos perto da necessidade e assim, o tempo passa e a caravana segue praticamente do mesmo jeito. Mudar essa imagem conflitante é realmente uma tarefa bastante difícil, mas que precisa ser cumprida.

Temos uma Constituição Federal que determina a Educação Ambiental como mecanismo obrigatório e orientador das atividades formadoras básicas na área ambiental. Entretanto, por outro lado, desenvolvemos uma ação efetiva que contradiz aquilo que a Constituição preconiza. Quer dizer, existe um grande contrassenso entre o que a diretriz legal maior do país propõe e aquilo que na realidade se aplica. Em contra partida, o mundo civilizado e os países desenvolvidos, cientes da necessidade da Educação Ambiental e clamando por melhor maneira de tratamento planetário, atua prioritária e exatamente nessa área, tentando orientar e criar melhores mecanismos e soluções ambientais, pelo menos no âmbito de seus respectivos territórios. Enquanto isso, aqui no Brasil, nós continuamos brincando de fazer Educação Ambiental e permitindo que muitas multinacionais, principalmente aquelas ligadas ao setor primário, façam o que quiserem do ponto de vista ambiental.

A Legislação Brasileira é muito boa, ouso dizer que talvez seja a melhor do mundo, no que diz respeito à área ambiental, porém, a nossa cultura de que “algumas leis pegam e outras não”, nos condiciona à eterna dependência do Poder Judiciário capenga (na verdade totalmente paralítico) que o país possui e que simplesmente não funciona. Assim, temos a necessidade premente de criarmos a prática efetiva de cumprir a lei, sempre priorizando o interesse maior da comunidade e deixar de lado esse “faz de contas legal” em que vivemos, mormente na área ambiental.

O caso recente da SAMARCO, que produziu o lamentável evento em Mariana/MG, retrata muito bem o que foi dito acima e que costumeiramente acontece em nosso país. A SAMARCO é uma empresa de Mineração, ligada diretamente a duas mega multinacionais do setor e que historicamente têm feito coisas erradas e não se preocupam muito em cumprir a legislação, aqui no Brasil. De repente ocorreu um grave problema e aí se descobriu que, de acordo com os preceitos legais, tudo estava errado há muito tempo e que essa é só uma pequena questão, apenas a ponta do iceberg e que obviamente trouxe consigo uma série de outros problemas muito maiores.

Mas, o que a legislação diz a esse respeito que a SAMARCO e tantas outras não cumprem? A legislação diz exatamente tudo o que a SAMARCO não fez e que a maioria das empresas do setor minerário também não fazem. Por sua vez, a população também não sabe e infelizmente nem quer saber o que a legislação diz, até ocorrer o grande problema, como aconteceu. A partir daí a coisa muda. Depois do problema estabelecido, isto é. depois que o leite foi derramado, é que se quer impedir o seu derramamento. Ora, isso é fisicamente impossível.

Então se começa a discutir outras coisas, que não são o problema em si, como, por exemplo: que coisas que deveriam ter sido feitas e que não foram? Quem vai pagar o quê a quem? Por que alguém tem pagar alguma coisa? Quanto e quando alguém tem que pagar? Mais uma vez só se pensa em economia (dinheiro). Enfim, nenhuma dessas coisas, principalmente dinheiro, resolve o problema depois dele já ter ocorrido, quando muito essas coisas podem servir como mecanismo para calar a boca de alguns e para que as coisas erradas continuem acontecendo. Tem um ditado muito antigo que diz: “prevenir é melhor do que remediar”, mas aqui no Brasil prevenção, embora esteja na lei, na prática não existe.

Passa o tempo e todo mundo se esquece, com aconteceu com a Vila Socó, em Cubatão/SP (1984), na Baia de Guanabara/RJ (2000), em Cataguases/MG (2008), São Sebastião/SP (2013), só para citar alguns e fica assim até que outro problema apareça. Essa situação viciada precisa ter fim e isso pode ser conseguido facilmente, com efetiva educação ambiental e naturalmente com cumprimento da legislação.

Assim, voltamos a nossa questão inicial, precisamos de Educação Ambiental, mas também precisamos aprender a cumprir as leis, além de fiscalizar e denunciar quem não as cumpre. Precisamos nos informar melhor sobre as potencialidades dos danos ambientais e sociais produzidos pelos setores primários e secundários da produção, principalmente pelas atividades ligadas à mineração.

Bem, depois de tantos esclarecimentos preliminares sobre esta problemática, que é de fato bastante confusa, fica a seguinte pergunta: como deveremos fazer para tentar solucionar essa situação e começar a resolver os problemas?

Acredito que primeiramente haja necessidade de informar os riscos efetivos produzidos pelas diferentes atividades antrópicas e a partir daí elaborar os planos de educação ambiental que viabilizem prioritariamente orientar as ações preventivas e secundariamente as ações corretivas. Por outro lado, também é fundamental obrigar e acompanhar as empresas dos setores interessados na produção de seus programas de prevenção, de fiscalização e de controle de suas atividades. Infelizmente na nossa cultura, sem fiscalização ninguém faz nada.

Com a tradição brasileira é de país pouco industrializado e de base agrícola, a Educação Ambiental tem que se implantar sobre os aspectos agropastoris e minerários incialmente e crescer a partir dessas possibilidades. A população brasileira necessita saber, de fato, sobre os riscos ambientais que está correndo, quando desmata uma área natural, cultiva um solo, planta determinada cultura agrícola, introduz um determinado fertilizante, aplica certo agrotóxico e principalmente quando extrai um mineral qualquer e acumula os rejeitos da extração. Além disso, também é necessário que se invista em orientar a população sobre as vantagens, as desvantagens e os possíveis riscos de cada um dos aspectos citados e também sobre a legislação relacionada com os mesmos.

Enquanto a população continuar totalmente alheia e desinteressada sobre essa realidade, certamente não haverá um progresso efetivo nos mecanismos de Educação Ambiental e consequentemente também não haverá condições do país prosperar de maneira responsável e sustentável, tratando melhor os seus espaços ambientais e sua população. Particularmente as comunidades mais próximas de cada empreendimento, devem estar bem informadas e conscientes do que estão sujeitas.

É preciso que as verdades sejam ditas no que se refere as ações dos governos e dos empresários dos setores da agricultura e da mineração e de suas respectivas posturas, quase sempre contrárias ao interesse ambiental e a proteção da natureza. A população brasileira precisa saber que de um modo geral, os governos em todas as esferas do Poder e os produtores agrícolas e mineradores, por conta de seus respectivos interesses corporativistas, egoístas e imediatistas, além do pouco interesse ambiental, estão mais afim de burlar a legislação e enganar a população para ganhar mais dinheiro, do que trabalhar para garantir a qualidade ambiental e a sustentabilidade dos seus próprios empreendimentos agrícolas e minerários.

Os trabalhadores dos diferentes setores agrícolas, os mineradores e os demais segmentos da população do entorno dos grandes empreendimentos do setor primário da produção, precisam estar efetivamente informados sobre todos os procedimentos e sobre toda a legislação ambiental que se relaciona com o empreendimento. O Código Florestal e o Código de Mineração precisam ser conhecidos de toda população brasileira. As medidas compensatórias e mitigadoras e mesmo as maneiras de inviabilização de alguns projetos precisam estar presentes na educação básica e na formação dos cidadãos, para que eles possam conhecer, opinar, discutir e até decidir sobre essas atividades e as consequências de seus riscos potenciais.

Apenas dessa maneira é que estaremos realizando a verdadeira Educação Ambiental que o país tanto precisa e que poderá transformar a população brasileira, enquadrando cada setor dentro das devidas possibilidades legais, mas preservando suas necessidades e ampliando a capacidade de produção e de controle das diferentes atividades. Por mais que a produção agrícola e minerária sejam importantes e necessárias, do ponto de vista econômico, a educação ambiental pode, deve e tem que ser a mola mestre que poderá trazer dias melhores ao Brasil no futuro. Mas, é preciso que se queira realmente que isso aconteça e que se invista profundamente nisso. Para tanto, há necessidade de estabelecer Programas de Educação Ambiental específicos para as diferentes áreas, localidades, culturas florestais, tipos de minérios.

A Educação Ambiental tem que ser muito séria e tem que estar realmente adaptada ao ambiente a que se propõe, pois do contrário continuará sendo uma falácia que continuará fazendo pouca diferença no contexto real e na necessidade do país e da população brasileira. Urge que as autoridades constituídas se tiverem verdadeiro interesse no país e no seu desenvolvimento sustentável, passem a se manifestar ativamente, definindo critérios claros e atuando mais abertamente nessa direção.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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25 fev 2015

Educação, Sustentabilidade e Política

Resumo: O texto aborda uma questão que está no “top” da falação atual, mas que ainda não é entendida pela grande maioria das pessoas. Trata-se do conceito de Sustentabilidade, que precisa efetivamente ser popularizado, porém dentro de sua ideia fundamental. A palavra sustentabilidade vem sendo gasta por todos os setores, porém a aplicabilidade da verdadeira noção de sustentabilidade ainda é um sonho que os ambientalistas querem ver acontecer. Devem ser efetivadas políticas públicas que viabilizem mecanismos de educação ambiental que possam contemplar essa necessidade, para a sustentabilidade saia da condição de sonho de alguns e passe a ser realidade de todos.


Educação, Sustentabilidade e Política

Sustentabilidade é um termo que já pode ser considerado relativamente velho, criado a partir da ideia de Desenvolvimento Sustentável definida por Ignacy Sachs, na década de 1980. Segundo o citado autor, o desenvolvimento sustentável é aquele que garante o crescimento econômico, a equiparação social e o equilíbrio ambiental. Isto é, a sustentabilidade é aquela característica que mantêm equalizados três aspectos fundamentais o meio ambiente, a sociedade e a economia. De acordo com o próprio Sachs, referendado por vários outros autores, não é possível pensar em outra forma de desenvolvimento, porque essa é a única maneira de garantir a manutenção da qualidade de vida do planeta. Bem, essa é a fala dos homens da Ciência.

Por outro lado, fica muito difícil falar sobre qualquer assunto quando a população não o conhece e consequentemente não está devidamente preparada para entendê-lo, aceitá-lo e assim, de alguma maneira, tentar colocá-lo em prática. Está é exatamente a situação em que se encontra a tão badalada, porém muito pouco entendida, sustentabilidade. A palavra sustentabilidade está na moda aqui no Brasil e no mundo, mas ao que parece é só isso, porque as coisas, pelo menos aqui no nosso país, continuam acontecendo da mesma maneira, sem nenhuma preocupação efetiva com as idéias estabelecidas pelo conceito de sustentabilidade. Quer dizer emprega-se um termo, mas não se pratica, nem de longe, os conceitos abrangidos por esse mesmo termo.

A palavra sustentabilidade agora está inserida no contexto de tal forma que virou linguagem comum, ou melhor, linguagem viciada, de tanto que se repete. Isso deveria ser um bom negócio, mas infelizmente essa não é a verdade. O conceito de sustentabilidade não está sendo, de maneira absolutamente nenhuma, assumido pela sociedade de forma clara e abrangente como deveria, pois as premissas em que se usa o termo não são nada sustentáveis. Ao invés de se popularizar um conceito, na realidade apenas se vulgarizou mais uma palavra, a qual se relacionou erroneamente com a o crescimento econômico. Infelizmente, a sustentabilidade que é extremamente necessária ao planeta e ao ser humano, virou lugar comum, mera citação, que não demonstra absolutamente nada a ninguém, daquilo que pretendia como filosofia, pois suas vertentes ambientais e sociais são mascaradas pela ideia econômica imperante.

Em suma fala-se em sustentabilidade por simples modismo e isso lamentavelmente é bem pior do que se não se falasse nada sobre o assunto, porque assim não se poderia iludir tanto as pessoas e as organizações como até aqui se tem feito. Pior do que o não entendimento de um conceito é o seu entendimento errôneo. No que diz respeito à sustentabilidade, é exatamente isso que está acontecendo, pois se continua colocando o econômico antes de tudo, o que não se traduz como sustentabilidade. Atualmente quase todo projeto a ser desenvolvido traz a citação da palavra sustentabilidade no seu escopo. Entretanto, a maioria desses projetos não exerce nenhuma ação metodológica que sustente a aplicabilidade efetiva da sustentabilidade em si, a preocupação continua sendo única e estritamente econômica, as outras duas componentes do conceito continuam sendo deixadas de lado ou, quando muito, estão relegadas ao segundo plano.

Quer dizer a humanidade, mesmo sem saber, tem mais um grande problema para resolver, ou seja, entender efetiva e corretamente o que é a sustentabilidade. Porém, os “poderosos” estão trabalhando direitinho para manter esse “status quo” de desconhecimento coletivo, pois isso lhes garante a manutenção do poder. A maioria dos “poderosos” ainda não entende que todo e qualquer poder é provisório e transitório e que as coisas sempre mudam, embora algumas vezes demorem um pouco. Entretanto, no que diz respeito à sustentabilidade a demora das mudanças pode ser tão significativas que talvez levem a inviabilidade total da vida no planeta. Quer dizer, enquanto os “poderosos” mantêm o poder, os recursos naturais vão se extinguindo e a vida no planeta vai ficando cada vez mais ameaçada, mas eles não percebem ou não querem perceber.

Isso posto, fica claro que vivemos um problema real, pois a sustentabilidade é algo vital ao planeta e à humanidade. Porém, a partir disso, fica aqui uma primeira questão: o que deve ser feito para promover as mudanças necessárias que promovam a sustentabilidade e para suplantar os interesses dos “poderosos”?

Certamente aqui, como em quase tudo na vida humana, mais uma vez, entra a necessidade da Educação das pessoas para que a sustentabilidade tenha a sua devida importância estabelecida e o seu entendimento clarificado. Nesse momento surge uma segunda questão: como fazer para demonstrar essa importância, definir o conceito de sustentabilidade corretamente e popularizar esse conceito dentro das escolas para depois estendê-lo às populações? Para responder essa duas questões iniciais é relativamente fácil, como está apresentado a seguir.

Primeiramente é preciso formar professores capazes de entender e transmitir as idéias conceituais da sustentabilidade a partir do tripé em que ele está embasado: ambiental, social e econômico, sempre nesta ordem prioritária, que infelizmente há muitos que insistem em modificar, mesmo dentro dos que defendem a sustentabilidade. Depois devem ser criados mecanismos para contextualizar situações reais em que o conceito de sustentabilidade possa ser empregado amplamente, dando exemplos claros de sua aplicabilidade nas diferentes situações que envolvem o cotidiano das populações nas diferentes regiões. Posteriormente, deve-se promover a popularização dessas idéias a fim de que haja efetiva absorção das mesmas pelas diferentes comunidades.

Quer dizer não dá para falar em sustentabilidade sem que haja uma preparação específica para esse fim. Tem que haver uma educação para sustentabilidade, na qual seja possível distinguir toda abrangência e importância do termo. Mas, é nesse momento, que surgem duas novas questões, as quais são mais complicadas e consequentemente difíceis de serem respondidas. As escolas brasileiras estão preparadas para cumprir mais essa missão relacionada à sustentabilidade? Existem professores devidamente habilitados na questão para atuar como orientadores e multiplicadores do conceito?

Sinto dizer, mas me perece que estamos numa situação nada sustentável em relação ao problema da sustentabilidade, porque não podemos responder positivamente a nenhuma das duas últimas questões propostas. Estamos caminhando para o caos, continuamos explorando os recursos naturais de maneira indevida e degradando os ambientes, desintegrando grupos sociais locais e perdendo recursos econômicos por conta de nossa incapacidade de pensar de maneira verdadeira sustentável e não temos estrutura e nem gente capacitada para trabalhar na mudança desse quadro lamentável.

Como sempre a solução para todos os problemas é apenas e tão somente uma questão de estabelecimento de políticas públicas que priorizem aquilo que se pretende fazer, no caso em questão, a sustentabilidade. Nesse sentido, a boa notícia é que temos uma eleição aí na frente, na qual vamos escolher os novos dirigentes políticos e administrativos do país e dos estados brasileiros. Temos que pensar bem e escolher as melhores propostas, aquelas que envolvam as ideias de sustentabilidade. Mas, é fundamental que essas ideias integrem a educação dentro do contexto, porque da mesma forma que não existe mágica na natureza, também não existe mágica no comportamento humano. Assim, só é possível realizar direito aquilo que se aprende direito e a educação é a única base que pode garantir que os ensinamentos sobre a questão sejam ministrados de maneira eficiente.

As escolas são os agentes sociais efetivos para educar as populações também nesse sentido. Desta maneira, as idéias de sustentabilidade têm que passar a integrar diretamente os currículos escolares em todos os níveis e as escolas devem estar prontas para atuar nessa nova necessidade o mais rápido possível. O tempo urge e não podemos nos dar ao luxo de continuar imaginando que Deus vai dar um jeito naquilo que é atributo exclusivo e obrigatório da ação humana. Nesse contexto, a nossa responsabilidade tem que ser posta à prova e devemos ser capazes de resolver os problemas que são cruciais para a continuidade de nossa existência planetária.

Por fim, quero deixar claro que, com relação à sustentabilidade em si, aqui também, como acontece em outras áreas, o improviso e o empirismo têm se mostrado como maus exemplos. Sendo assim, insisto em que há necessidade de formar e habilitar pessoas nessa questão dentro das escolas. Por outro lado, para que se consiga atingir esse intento, é preciso que dentro dos postos de governança sejam colocados administradores preocupados e imbuídos em melhorar a qualidade de vida das pessoas social e economicamente. Porém, esses administradores, para atuarem efetivamente nesse sentido, têm que ser cônscios das responsabilidades com a manutenção ambiental do planeta e com o uso devido dos recursos naturais, porque é somente a partir dessa base ecologicamente correta que se garantirá a sustentabilidade do planeta e a continuidade da humanidade.

O planeta sustentável que todos queremos e merecemos passa pela nossa educação e esta, por sua vez, passa por nossas escolhas políticas. Está na hora de pararmos de “brincar de fazer de contas” sobre a sustentabilidade e assumirmos uma postura objetiva que possa propiciar um desenvolvimento sustentável dos diferentes grupos sociais nas diferentes regiões de nosso país. O compromisso com o Meio Ambiente e com os problemas ambientais têm que ser a preocupação primária de qualquer administrador público e a educação deve ser o esteio que dará a devida condição para o entendimento e o envolvimento das pessoas na resolução desse, que é certamente um dos maiores problemas de nosso país e do mundo na atualidade.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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13 set 2014

A Qualidade de Vida tem que estar acima de tudo

Resumo: O Prof. Luiz Eduardo apresenta um texto chamando a atenção para o fato de que as pessoas e entidades que podem realmente intervir para melhorar a qualidade de vida planetária, efetivamente não se envolvem diretamente nas questões ambientais, porque estão preocupadas apenas com questões econômicas. O texto é denso, porém claro e objetivo. O tema é preocupante e paralelamente palpitante, por isso mesmo precisa ser muito discutido, até porque temos eleições pela frente e precisamos ter informações para cobrar as ações relacionadas com o meio ambiente e com a qualidade de vida, que atualmente devem ser as metas prioritárias de qualquer gestor. Leiam o texto que é muito elucidativo e certamente vocês não irão se arrepender.


A Qualidade de Vida tem que estar acima de tudo

Enquanto a humanidade segue se arrastando para entender e tentar superar alguns problemas geoclimáticos e geopolíticos graves, alguns homens que detêm grande parte do poder econômico planetário continuam trabalhando na contramão dos interesses dessa mesma humanidade.

Ora, a situação descrita no parágrafo acima consiste num grande contrassenso, o qual fica mais agravado ainda, quando os diferentes governos, principalmente aqueles que dirigem as grandes potências econômicas, agem de acordo com a vontade manifesta desses grupos econômicos empresariais dominantes, indo contra os interesses comunitários da grande maioria da humanidade e, mais particularmente, contra os interesses planetários naturais.

Em suma, vivemos uma crise planetária ambiental que é insuflada pelos seres humanos mais ricos com a anuência e a colaboração dos dirigentes e administradores públicos mundiais e contra os interesses maiores do planeta e da qualidade de vida da própria humanidade. Os governos se prendem ao capital e ficam na dependência das pessoas físicas ou jurídicas economicamente mais poderosas e assim não fazem o dever de casa e não cumprem as suas obrigações primárias de atender as necessidades humanitárias fundamentais, porque ficam à mercê dos interesses estritamente econômicos daqueles que possuem dinheiro.

Dessa maneira, exatamente quem poderia e legalmente deveria estar atuando no sentido de buscar melhorias para as diversas questões que afligem a humanidade é quem mais está intensificando os efeitos indesejáveis dessas questões e consequentemente aumentando as mazelas que cada vez mais destroem o planeta e prejudicam a qualidade de vida de toda a humanidade. Os governos necessitam reassumir suas respectivas funções na ordem social, pois a continuar assim, a humanidade rapidamente entrará numa situação irreversível de extermínio.

Como é possível reverter esse quadro?

Do ponto de vista teórico, a solução ideal está na produção de um modelo de Educação Básica para todas as comunidades humanas, na qual sejam revitalizados, intensificados e incentivados os estudos dos mecanismos naturais que permitiram e mantiveram a vida na Terra até aqui, a fim de que a humanidade possa ser fiadora da manutenção desses mecanismos, independentemente dos interesses particulares de alguns grupos. Entretanto, não parece haver muita vontade política e nem muita força efetiva para que essa situação ideal se transforme em plano real de ação, haja vista que esse é um processo caro e que atrapalharia principalmente aos interesses daqueles que dominam o poder econômico. Por isso mesmo, Educar, ainda que apenas basicamente a população humana mundial, lamentavelmente permanece sendo uma utopia pensada por poucos seres humanos e praticada por um contingente menor ainda.

Além do mais, mesmo que fosse possível o estabelecimento desse sonhado mecanismo de Educação, o tempo necessário para que os processos educacionais fossem assumidos pelas diferentes comunidades seria relativamente longo para disponibilidade temporal que ainda existe. Infelizmente, nós não temos mais tempo suficiente para depender de ações meramente educativas. Quer dizer, chegamos num nível tal que, somente a Educação não será suficiente. Há necessidade de agir imediatamente, pois a situação, além de calamitosa, também é urgente.

Assim, considerando que não dá mais para conduzirmos as questões pensando somente nos mecanismos educativos que possam produzir mudanças comportamentais e minimização progressiva dos problemas, resta agora a necessidade real e efetiva de implementarmos posturas radicais e atividades de choque, até mesmo algumas atitudes ditatoriais, que possam induzir e produzir mudanças significativas. Algumas dessas mudanças terão que ser, além de rápidas, também profundas e até drásticas, para conseguir viabilizar a melhoria das condições ambientais do planeta e consequentemente da qualidade de vida da humanidade. Não há mais o que negociar, agora só nos resta fazer as mudanças e obviamente cumpre aos diferentes órgãos governamentais a tarefa de estabelecer as normas e os procedimentos o mais rápido possível.

Até aqui, as inúmeras reuniões internacionais que têm tentado discutir sobre os grandes problemas ambientais planetários, cada vez mais, têm terminado sem nenhum acordo positivo. Discute-se, discute-se e não se chega a lugar nenhum. O que se decide é apenas e tão somente a data da próxima reunião e nada de positivo acontece. Dessa maneira, o tempo tem passado, a desgraça só tem se ampliado e a humanidade e o planeta só se deterioram cada vez mais. Quer dizer, estamos vivendo num ciclo vicioso que discute o que se deveria fazer, mas que não se propõe a fazer exatamente nada e assim nada se resolve.

É preciso que os governos parem de pensar e agir apenas no interesse do viés econômico, pois foi exatamente essa prática contumaz que nos trouxe a esse “status quo”. Além do mais, é preciso também lembrar que dinheiro só serve para a espécie humana e que nossa espécie só poderá utilizar esse dinheiro enquanto estiver vivendo no planeta. Quer dizer, se não pretendemos continuar aqui no planeta, também não precisamos de dinheiro. Quero crer que viver seja prioritário sobre ter dinheiro, mas não parece que os governos pensam desta forma e assim deve ser perguntado: queremos viver ou queremos ter dinheiro?

Os governos necessitam ser mais pragmáticos em relação a vida planetária e as comunidades, por sua vez, necessitam ser mais fortes para contestar, provocar e forçar os governos a tomarem as decisões e agirem no interesse maior da humanidade e do planeta e não no interesse dos grandes grupos econômicos. Aliás, está na hora dos próprios seres humanos que compõem os grupos econômicos privilegiados entenderem que o fim será de todos e não só dos pobres, pois o dinheiro sozinho não conseguirá fazer a mágica de manter a vida. Isso quer dizer que os ricos, se quiserem continuar ricos, terão primeiro que continuar vivos e do jeito que está a situação essa hipótese está ficando cada vez mais remota.

Para a humanidade, doravante, a busca constante pela melhoria da qualidade de vida deve ser a única moeda de valor, para que possamos conseguir reverter o atual estado de coisas e tentar salvar a nossa espécie da extinção prematura. Fomos nós humanos quem criamos esta situação e somos nós humanos quem temos que resolvê-la. Pois então, baseado no exposto, eu conclamo a todos os Senhores que façam suas respectivas opções no sentido de salvar a nossa espécie. Nós já passamos do ponto da conversa, agora temos que ter ações efetivas. Obviamente a Educação deverá continuar trabalhando para a orientação e o aprimoramento das novas práticas que serão transmitidas continuamente às futuras gerações e que garantirão a continuidade da espécie. Assim, as futuras gerações de humanos deverão estar preparadas para permitir o futuro efetivo do Homo sapiens.

Sinceramente eu não tenho mais muita crença nos dirigentes, mas como disse Zé Rodrix: “eu quero a esperança de óculos” e eu ainda acredito que o homem como espécie não deve ter vontade, de fato, de desaparecer do planeta. Certamente o que está faltando é encarar a questão com a devida seriedade e esse é um compromisso que os poderes constituídos podem e devem assumir, fazendo a verdadeira divulgação das reais condições planetárias para toda a humanidade e orientando os procedimentos a serem tomados. Talvez, o problema maior que ainda temos, seja o pensamento errôneo de que a situação ainda está toda sob o nosso controle ou, o que mais terrível ainda, de achar que Deus vai nos ajudar a superar o problema.

É preciso ter coragem de dizer para a humanidade que nós, os seres humanos, os pretensos “donos do planeta”, nunca tivemos as rédeas nas mãos e, o que é pior, agora temos a certeza de não possuímos efetivamente controle sobre nada. Ao contrário, nós sempre fomos dependentes do planeta e a nossa apropriação indevida da Terra e o consumo exagerado dos seus Recursos Naturais foram e são as principais causas dos problemas planetários e da grande ameaça que paira sobre nós. Por outro lado, também deve ser lembrado que Deus está em outro plano e que Ele não vai resolver nenhum problema causado pela humanidade. Nós criamos os problemas e nós temos que solucioná-los, independentemente da ajuda divina.

Se tudo isso acontecer de maneira contundente e efetiva, não há dúvida de que as diferentes comunidades, por si próprias, progressivamente arregaçarão as mangas e começarão a exercer as suas respectivas ações no que se refere a recuperação planetária, independentemente dos interesses particulares dos grandes grupos econômicos. Desta maneira, com apoio das comunidades, os governos ficarão livres para também agir e todos os humanos trabalharão no sentido de resolver todas as questões que ainda puderem ser sanadas. Assim, o poder econômico se dobrará aos interesses maiores da humanidade e do planeta.

Não tenho nenhuma dúvida de que, por mais que alguns queiram admitir, lá no fundo todas as comunidades e todos nós, seres humanos, sabemos que a vida é única coisa que realmente importa, todo o resto é supérfluo e por isso mesmo, nós entendemos que a qualidade de vida é o bem maior e tem que estar acima de tudo. Por conta disso, mesmo sabendo que será muito difícil, eu ainda continuo torcendo e acreditando e acreditando na nossa espécie. Vida longa ao Homo sapiens no planeta Terra.

 Luiz Eduardo Corrêa Lima

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18 out 2013

Educação Ambiental: uma modesta opinião

Nos últimos tempos tanto tem sido usada a expressão Educação Ambiental, que até parece o grande tema da novela do horário nobre. Entretanto, a prática cotidiana sobre a Educação Ambiental tem estado mais para aquele “programa maravilhoso” das 4 horas da madrugada que ninguém vê. Em suma, o discurso é bom, mas a prática quase não existe. Mas, por que isso acontece, por que a pratica da Educação Ambiental quase não existe?

Eu quero acreditar que seja porque se criou um monstro maior do que de fato ele possa ser. Isto é, a Educação Ambiental, embora seja muito importante, não é nenhum “bicho de sete cabeças”, não faz milagres e certamente não irá resolver todos os problemas da humanidade. Ou melhor, na verdade, se a humanidade continuar agindo contra os interesses da própria humanidade e do planeta, a Educação Ambiental não irá, infelizmente, resolver problema nenhum.

A Educação Ambiental consiste num modelo educacional que prepara os seres humanos para viver respeitando e considerando que os espaços e os recursos são limitados e que devemos nos preocupar com os usos devidos desses aspectos a fim de permitir que outros humanos possam também ter os mesmos direitos que nós em qualquer tempo atual ou futuro. É preciso que nós humanos estejamos devidamente educados a proceder dentro dessa linha de pensamento, porque somente assim poderemos continuar tendo condições de viver aqui na Terra ou em qualquer outro que, por ventura, possamos habitar no futuro.

A Educação Ambiental deveria estar tentando produzir um “novo modelo de homem”, bastante diferente daquele que historicamente conhecemos. Mas, eu estou há mais de 30 anos ouvindo falar nesse assunto e trabalhando no sentido de procurar desenvolver esse “novo homem” e até agora nada, porque as mudanças são muitas. Se considerarmos Estocolmo, 1972 como ponto de partida, na verdade, já faz 40 anos que esse “novo homem” deveria estar vivendo, mas, até aqui quase nada aconteceu.

Pois é, continuamos fazendo as mesmas coisas erradas que o meu avô fazia há 80 anos, quando ninguém ainda falava em Educação Ambiental e quando não havia nenhuma preocupação com os problemas ambientais. Obviamente, o meu avô e toda sua geração não tinha o nível de conhecimento que temos hoje sobre as questões ambientais planetárias e talvez, por isso mesmo, ele e sua geração não tivessem culpa de cometer alguns dos erros que cometeram.

Aliás, é necessário dizer que na época do meu avô e seus contemporâneos, existia pelo menos Educação, hoje nem isso existe mais. Muitas vezes, nós ambientalistas, estamos nos esquecendo de que Educação Ambiental é, antes de qualquer coisa, Educação e que esse é atualmente o produto que está cada vez mais em falta no mercado, principalmente aqui no Brasil. Basta observarmos os nossos níveis internacionais no que diz respeito a questão da Educação. Sinto dizer, mas nós não conseguiremos nenhuma Educação Ambiental se antes não conseguirmos Educação no sentido mais amplo que a palavra possa ter.

A falta generalizada de Educação, que lamentavelmente, por vários fatores, só tem se ampliado ultimamente, tem elevado e incrementado muito a falta de valores morais e éticos. Ninguém está nem aí com a comunidade do seu entorno e muito menos com toda Sociedade. Os conceitos do que é certo ou do que é errado não existem mais, ou então estão totalmente esquecidos e muitas vezes foram deliberadamente invertidos para favorecer a outros interesses. A lógica social agora é a seguinte: desde que se ganhe (o verbo ganhar aqui tem o sentido mais abrangente possível) alguma coisa, tudo (tudo mesmo) se torna viável e possível de acontecer, independentemente do que ou de quem se possa estar prejudicando.

Infelizmente, essa é a regra, a já famosa “Lei de Gérson”. Temos visto de tudo, desde jogar filhos pelas janelas de apartamentos, até matar os próprios pais; roubar igrejas e instituições de caridade a até mesmo fazer relações sexuais com pessoas mortas. Não há nenhum parâmetro para delimitar a discrepância social e a insanidade humana. E nós estamos aqui tentando falar de Educação Ambiental, que envolve, além da Educação, também a Moral, a Ética e o exercício pleno de cidadania.

A libertinagem e o abuso são totais e estão cada vez mais descabidos. Mata-se do jogo de futebol à porta da casa, do cinema ao hospital, do mendigo ao milionário e do bandido ao Santo. E o pior é que ainda há quem fale em defender os direitos humanos. Pergunto eu: que direitos? Que humanos?

A vida humana passou a ser um brinquedo que alguns têm o direito de tirar e que outros não têm se quer o direito de reclamar, quanto mais de tentar defender. E Deus e as religiões, que postura (posição) essas entidades tomam nessa peleja de loucura?

Enquanto a desgraça acontece, há pastores brigando na mídia por mais audiência, e outros religiosos omitindo e escondendo crimes e criminosos para defender os interesses estritamente proselitistas de suas respectivas igrejas. Mas, não parece haver mais nenhuma religião indo além dessa simples questão de contrariar as outras para tentar aumentar o rebanho. Aonde vamos parar?

Pois então, como podemos tentar demonstrar a importância da Educação Ambiental se não temos Educação nenhuma? Temos uma Sociedade alijada de valores verdadeiros, os quais deveriam ser seus interesses primários e ainda por cima totalmente desinteressada em relação aos mecanismos democráticos que podem minimizar diferenças sociais. Além disso, temos uma mídia que está comprometida apenas com interesses venais, uma porção de religiosos de fachada, um nível de governança totalmente equivocada, no que diz respeito aos interesses da sociedade e, o que é pior, altamente corporativa e nefastamente corrupta.

O planeta está pedindo socorro e nós aqui pensando em fazer Educação Ambiental num mundo comprometido com causas sem significância nenhuma e com valores totalmente corrompidos e invertidos. Só o que importa é o dinheiro no bolso, todo o resto é secundário. Só o que se quer é ter. Só se pensa em ganhar mais dinheiro para consumir mais e ter mais. Onde vamos chegar com essa noção absurda de que estar bem é ter tudo de material para si próprio, independentemente de onde venha, de qual seja esse material e de quem possa estar, de fato, precisando dele?

Temos uma Terra só, mas há muito tempo já estamos vivendo como se tivéssemos duas ou três, porque o uso de recursos naturais, o consumo humano e a necessidade do lucro não querem mudar de procedimento e induzem a população, através da mídia e de muita picaretagem a manter o status quo. De repente, quando se tem uma grande oportunidade de tentar frear esse conjunto de absurdos, como aconteceu recentemente na Rio + 20, nós acabamos deixando tudo como está e continuamos mantendo o mesmo nível de incoerência e de insanidade com o planeta.

Meu Deus, será que a humanidade endoidou totalmente? Será que não há mais ninguém com sanidade mental suficiente para tentar acabar com esses absurdos? Por favor, alguém pare esse mundo maluco que eu quero e preciso descer? Que espécie estranha e inconsequente é o Homo sapiens!

Mas, a Educação Ambiental continua sendo necessária, porém, diante de tanta coisa errada na apropriação do homem pelo planeta, lamentavelmente ela é apenas mais uma das muitas necessidades. Esse quadro é grave e precisa ser modificado para o bem do planeta e da própria humanidade. Entretanto, infelizmente, não me parece que estejamos dando a devida importância que a questão necessita. Será que vamos continuar pagando para ver até onde é possível chegar?

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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