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15 out 2023
DIA DO PROFESSOR: 60 ANOS DE “FESTA”

DIA DO PROFESSOR: 60 ANOS DE “FESTA”

Resumo: Proponho uma análise reflexiva sobre algumas atividades que atualmente estão sendo desenvolvidas por muitos professores. Entendo que a educação é a base do desenvolvimento sustentável de um país e o professor que deveria ser artífice desse mecanismo, em grande parte, tem caminhado no sentido errado, quando valoriza algumas peculiaridades, deixando de lado o todo da população.


Há exatos 60 anos, o então Presidente da República Federativa do Brasil João Goulart, através do Decreto 52.682 de 14 de outubro de 1963, estabeleceu o dia 15 de outubro como o Dia do Professor. De lá para cá, a data tem sido comemorada, cada vez com menos pujança, haja vista que a profissão e seu prestigio profissional seguem em decadência vertiginosa no país. A data escolhida em alusão a criação do Ensino Elementar no Brasil, através da Lei de 15 de outubro de 1827, estabelecida pelo Imperador Dom Pedro I e que criou a obrigatoriedade do ensino de primeiras letras em todos os lugarejos do território nacional.

Como forma de lembrar a data e sua história, eu resolvi aproveitar este momento “festivo” para propor à toda sociedade, em particular aos colegas e amigos professores, para que façam comigo uma reflexão, no sentido de tentar salvar aquilo que nos resta como verdadeiros profissionais da educação. Depois de quase 70 anos de vida e quase 50 anos de exercício efetivo do magistério, acredito que posso emitir alguma opinião sobre o que está acontecendo no país, em relação ao sucateamento da educação e da nossa nobre profissão de professor.

Os professores do passado queriam mostrar às pessoas e ao mundo as inúmeras possibilidades, considerando a grande mágica que a educação poderia fazer na vida de cada ser humano. Entretanto, na atualidade, os professores estão longe daquela pretensa vontade. Tristemente a visão dos últimos anos tem sido outra.  Atualmente muitos dos professores, aparentemente, querem apenas uniformizar e, se possível, igualar mesmo toda a sociedade, numa condição de mesmice generalizada e indistinta. Se antes o desafio era mostrar a diversidade e sua importância para o aprendizado e à vivência social entre os seres humanos, tentando conviver mais e melhor, com e apesar dessa mesma diversidade. Agora está tudo muito diferente e a realidade é bem outra, pois agora a diversidade é usada como “arma” contra os que são menos diversos.

Hoje a diversidade tenta se impor como condição especial nas escolas e a história humana vai se fazendo por conta de intrigas e questões sociais criadas para transformar em problemas as diferenças naturais entre os seres humanos. E os professores assistem a tudo como se isso fosse normal, quase sem interferência ou com interferência comprometida. Os poucos que tentam interferir coerentemente acabam sendo massacrados por forças estranhas à educação.

Na atualidade as pessoas significam pouco ou nada, o que importa são as suas características distintas. Deste modo, quanto mais características distintas e peculiares, maior é a importância dos indivíduos e isso acaba sendo reforçado nas suas respectivas mentes, pela escola, pelo professor e principalmente pela mídia maldosa e nojenta que domina o cenário e investe maciçamente na segregação da sociedade. Nossa sociedade caminha através da criação de problemas oriundos diretamente ou intensificados pela mídia impiedosa que apenas quer ver “o circo pegar fogo”.

O desafio do professor atual é ser e fazer de maneira diferente desse padrão ilógico e anti-humano que se estabeleceu, tentando demonstrar que se somos tão bons tendo tais características diversas, podemos ser muito melhores se não nos objetivarmos especificamente a elas. Isto é, devemos tratar nossas características naturalmente, haja vista que elas são naturais, entendendo que nem eu e muito menos o outro ser humano, tem qualquer culpabilidade causal pela existência dessa característica. Tudo é consequência da diversidade natural da própria humanidade e que ninguém é melhor ou pior por apresentar o aspecto A, B ou C, pois somos todos seres humanos.

Nossa humanidade deve suplantar a nossa vontade e sobretudo, o nosso egoísmo. Não se trata aqui de deixar de lado as coisas para criar mártires, mas sim de produzir pessoas melhores e mais envolvidas com os demais seres humanos, apesar de todas as diferenças possíveis e existentes na sociedade. Está faltando humanidade e sobrando arrogância e egoísmo nos diferentes grupos sociais e isso começa pelas escolas na presença dos professores. A sociedade está em guerra por questões pouco importantes para os seres humanos e que não têm, verdadeiramente, nenhum significado para melhoria da vida de todos.

Considerando que os professores são os principais artífices da mudanças na sociedade, cabe a eles, mais diretamente, a responsabilidade maior, pela condução das mudanças que deve interferir positivamente nesse quadro social esdrúxulo e confuso. Entretanto, é preciso que os professores queiram efetivamente fazer isso e para tanto algumas coisas têm que acontecer. Será necessário exterminar essas escolhas inúteis e nefastas de criar seres humanos piores ou melhores aqui e ali, para atender aos interesses de alguns malfeitores poderosos, cujo interesse único é contaminar a sociedade cada vez mais para beneficiar os seus próprios interesses.

Os professores são os únicos profissionais capazes de cumprir essa árdua tarefa, mostrando a sociedade que a diversidade é salutar e que devemos conviver perfeitamente com ela, sem preconceitos, sem exageros e principalmente sem arbitrariedades sociais para justiçar esse ou aquele fim. A função dos professores é lembrar a todos os alunos e demais membros da escola que, antes e acima de tudo, somos todos seres humanos e que só evoluiremos como humanos, se respeitarmos os direitos dos demais seres humanos. Não devemos investir em guerras sociais, mas sim em consensos humanitários mais significativos.

Essa tarefa complicada será realmente um grande desafio, no atual estágio em que a humanidade se encontra e se alguém pode fazer isso acontecer, certamente é o profissional da educação, ou seja, o verdadeiro professor. Cabe ressaltar que o professor é o agente que convive com toda a diversidade social e atua na orientação e na instrução da sociedade. A escola, local de trabalho do professor, é um minimodelo da sociedade e os professores, que são os mantenedores desse modelo, podem e devem, obviamente se quiserem, tomar as rédeas desse compromisso e tornar a situação bem melhor do que o que temos visto.

Por conta disso, é que precisamos, cada vez mais, de professores capacitados e eficientes. Professores desvinculados de obrigações sociopolíticas e versados na verdadeira história da humanidade e não em interesses particulares de quem quer que seja. O futuro que nos aguarda, depende exatamente dos professores compromissados com a humanidade e atuantes nas questões disciplinares e sociais, sem paixões e principalmente sem vínculos doutrinários, para poder garantir a instrução às pessoas e a educação ao seres humanos e a humanidade como um todo.

Aqui, é bom lembrar que ensinar não é sinônimo de educar. Ainda que quem educa certamente ensina, a recíproca não é verdadeira. Educar, antes de tudo, envolve na liberdade de escolha e ação do educando, enquanto ensinar envolve em instruir e treinar para fazer algo, independentemente da escolha. A instrução é programada e espera um resultado, mas a educação transcende qualquer limite programado e ela só se dá efetivamente, quando o educando é capaz de se realizar por si só, quando o educando não mais precisa do educador e quando ele é capaz de modificar e de reverberar a partir daquela ideia inicial. Educar é muito mais do que ensinar e instruir.

Por outro lado, a diversidade humana é fundamental para nos permitir mais acertos do que erros no aprendizado das inúmeras ações sociais e humanitárias. Entretanto, como, atualmente, alguns resolveram priorizar certas diversidades e enfatizar suas existências, como se fossem “modelos sociais” a serem estabelecidos e obviamente a coisa tem fugido da lógica. Esses “modelos sociais” passaram a exigir regras precípuas, haja vista que certas características da diversidade humana que eles possuem, acabaram sendo entendidas como “superiores” e assim eles querem ter estabelecidas suas vantagens sociais.

Ora, discutir diversidade dessa maneira, numa sociedade plural, onde há diversidade em tudo e em quase todos, além de não fazer nenhum sentido, não pode ser um bom negócio para a própria sociedade. Isso só pode gerar conflito, porque obviamente, todos querem ter um direito a mais e um dever a menos. Desta maneira a sociedade se transforma numa verdadeira Torre de Babel, onde cada qual cuida de falar a sua língua e o outro que de se vire. Isso só serve para individualizar e a corporativar mais as relações que cada vez são menos públicas e mais particulares.

Deste modo, precisamos de seres humanos melhores, mais preocupados com a humanidade e não de pessoas robotizadas ou autômatos que desempenham uma função, mas que não sabem o porquê de cumprirem aquela determinada função dentro da sociedade. Consequentemente, a reflexão, o entendimento, a compreensão e a criação consequente, que são os principais frutos da educação e que são fundamentais para a melhoria das pessoas e da sociedade, não conseguem ser efetivados.

Pois então, o professor, que deveria ser o profissional capaz e responsável por construir e aperfeiçoar essa sociedade, infelizmente está cada vez mais raro, pois hoje qualquer instrutor (adestrador) sem nenhuma vergonha, se entende como um professor, mesmo quando apenas repete e exige o que não conhece e, o que é pior, a sociedade concorda com isso. A verdade é que, tristemente, as escolas estão cheias de picaretas travestidos de professores.

Deste modo, as pessoas (alunos), quando muito, são apenas treinadas para fazer (repetir) coisas. Não importa se essas coisas são boas ou ruins para a sociedade e muito menos para humanidade. A prática usual da coisa é o que importa. As consequências advindas não interessam a ninguém, ou interessam apenas a alguns privilegiados da sorte pela diversidade. Ora, me desculpem, mas quem age assim, não é um professor de fato, quando muito será um instrutor de qualidade bastante questionável, que até poderá, ocasionalmente, formar bons profissionais, mas jamais ensinará a pensar e muito menos refletir no interesse humanitário.

As escolas e as salas de aulas estão cheias de gente assim, “ministrando aulas” e isso tem favorecido drástica e acentuadamente a ruptura da sociedade e complicado bastante a nossa condição de ser humano. Essa situação tem feito muitas pessoas assumirem posturas e condutas sociais que não trazem nenhum benefício social e, o que é pior, que geralmente causam imensos conflitos e acabam sendo anti-humanas. Os professores poderiam e deveriam intervir na amenização desses problemas, mas muitos deles assumem posições que só servem para acirrar as batalhas, ao invés de atenuá-las, porque eles estão diretamente envolvidos nessas respectivas questões.

Senhores, vamos refletir sobre essa situação complicada e procurar atuar na sua resolução, através da orientação de uma convivência pacífica entre os diferentes grupos e interesses sociais. Todos nós temos preferências e prioridades, mas nenhum de nós é mais importante que qualquer um de nós na sociedade. Ninguém pode se assumir como dono absoluto dos direitos, da verdade e que o resto que se dane. É na escola que essa particularidade tem que voltar a ser ensinada e o verdadeiro professor é o sujeito social que pode, se quiser, começar a resolver essa questão.

Professores melhores, levarão às escolas melhores e às sociedades melhores, sem discriminação e sem qualquer viés ideológico. Valorizemos a diversidade humana e convivamos bem com ela. Certamente quase ninguém aceita integralmente todas as peculiaridades sociais, pelos mais diversos motivos, mas todos têm ciência de que dependem da sociedade para continuar se sentindo vivo e da humanidade para continuar se sentindo humano. A única maneira de conseguirmos atender os nossos anseios socio-humanitários e respeitando os direitos e os deveres de toda a sociedade, sem privilégios e sem desprestígio de quem quer que seja. Somos todos humanos e temos apenas que nos respeitar dentro dessa condição que é (deveria ser) igual para todos.

As diversidades e variedades sociais, morfológicas, comportamentais, ideológicas e psíquicas são consequência da existência da própria humanidade e isso nós não podemos mudar. Assim, nós devemos conviver bem com todas essas variantes se quisermos continuar sendo humanos. Precisamos cuidar para que não nos transformemos em monstros sociais e assim atuemos para favorecer o aumento do conflito social e consequentemente para o fim progressivo de nossa espécie. Nos denominamos Homo sapiens, então vamos fazer valer a nossa sabedoria em prol de nós mesmos.

Parabéns a todos os professores pelo Dia dos Professores e espero que todos se lembrem da responsabilidade que nós temos com nossa profissão, com a sociedade brasileira e com a humanidade. Não podemos deixar que continuem nos enganando e criando questões sociais para justificar o abandono generalizado das escolas e a desvalorização sempre maior de nossa profissão, que, apesar de todas as dificuldades, continua sendo a mais importante de todas e não pode se sujeitar a mesquinhez, a indignidade e a imoralidade de alguns.

Professores, deixem de ser marionetes e deixem de torcer para esses “oportunistas sociais” que estão por aí, apenas para criar problemas. Vamos acordar para a realidade brasileira e vamos trabalhar para atender as necessidades nacionais e realizarmos festas efetivas para a nossa profissão doravante.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo; Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

21 dez 2022

PONTO DE VISTA: PREMISSAS BÁSICAS À EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Resumo: Nesse artigo apresento meu pensamento particular sobre o que acredito que deve acontecer para começarmos a resolver a questão educacional brasileira. Pode ser muita loucura, mas penso que seja a única solução possível para sairmos do histórico marasmo educacional em que nos encontramos.


INTRODUÇÃO

Nos últimos tempos, temos visto que a educação tem se deteriorado numa velocidade crescente e mesmo com a gritaria contrária de alguns profissionais que atuam na área, entre os quais eu tenho que me incluir, nada tem acontecido que pareça efetivamente querer mudar essa triste situação. Deste modo, o país segue batendo recordes de piores índices educacionais no mundo. Todavia, muito pior do que os recordes negativos é a certeza de eles são verdadeiros e que estamos caminhando contra os interesses da humanidade, porque estamos progressivamente regredindo a qualidade educacional de nossa gente.

Dito isso, quero ainda me manifestar sobre o fato de que essa verdade infeliz é muito mais desagradável do que possa parecer, pois não se trata apenas de não melhorar a educação, mas sim de progressivamente piorar nossa triste realidade educacional com a anuência de toda sociedade. A escola brasileira tem regredido a passos largos e isso não é um problema apenas governamental, pois a maior parte da sociedade também aparenta estar satisfeita com a situação, haja vista que poucos reclamam do continuo “status quo” de decadência da educação. Ou, se não está satisfeita, a sociedade também não se sente incomodada, porque existe um silencio coletivo e preocupante, além de uma indiferença quase unanime sobre esse assunto.

Desta maneira, como quase ninguém se manifesta verdadeira e efetivamente contra esse descalabro e os poucos que reclamam acabam não sendo ouvidos, porque não há vontade política e nem envolvimento para que as coisas possam fluir melhor, a situação segue cada vez pior. Aqui no Brasil, tristemente a educação ainda é considerada como uma coisa pouco ou nada importante, perto de outras questões. Ser educado ainda é um diletantismo para a grande maioria da população. Essa é uma verdade histórica e lamentável de nosso país, que necessita ser mudada no interesse nacional.

Além dessa terrível constatação, nós temos criado alguns mecanismos que, se já não são bons, onde poderiam até ser úteis, acabam sendo bem piores, onde são efetivamente inúteis, porque gasta-se grande quantidade de dinheiro, perde-se tempo e muito trabalho para nada. O resultado é aquele que já conhecemos, meninos e meninas saindo do Ensino Fundamental não alfabetizados, rapazes e moças saindo do Ensino Médio sem noção de nada, ingressando nas Instituições de Ensino Superior sem nenhuma condição e saindo dessas instituições muitas vezes sem saber o que fazer com o “canudo” que lhes foi entregue, geralmente sem nenhum merecimento.

Meus amigos, essa situação é muito grave e nós sabemos que um país que quer ser vanguarda no cenário mundial, tem que ter a educação como sendo a principal via de transformação de sua sociedade. Depois de mais de 520 anos de história, já deveríamos estar cientes de que a educação é a característica mais importante de qualquer sociedade, que todas as demais questões são secundárias e que a resolução de qualquer problema social dependerá sempre do estágio de desenvolvimento da educação. Entretanto, ainda estamos longe de entender e muito menos de alcançar essa verdade. Infelizmente, como já foi dito, ainda há quem pense que educação seja um luxo, um simples diletantismo, que o povo brasileiro não precisa ter. O pior é que existem muitos políticos e administradores públicos que trabalham no sentido de reforçar esse absurdo.

Pois então, baseado nesses aspectos é que eu, mais uma vez, estou me atrevendo a “colocar o dedo na ferida” e novamente estou chamando a atenção da sociedade sobre a realidade educacional brasileira, sobre a necessidade premente de ações que propiciem mudanças do “status quo” e que possam gerar uma melhoria progressiva de nossa educação. Tomara que alguém me ouça e faça coro comigo nesta luta. Para orientar meu trabalho, vou me ater a quatro premissas que acredito sejam fundamentais para mudar a realidade educacional do Brasil.

Devo deixar claro que essas premissas são opiniões pessoais minhas e resultam apenas e tão somente de minha vivência e minhas observações ao longo de toda minha vida estudantil e de quase 50 anos de exercício do magistério. Talvez, as opiniões aqui emitidas possam não condizer absoluta e totalmente com as reais necessidades educacionais do país, mas tenho certeza de que essas opiniões estão muito próximas ao ideal que se precisa ter para o verdadeiro crescimento moral e intelectual da população brasileira.

AS QUATRO PREMISSAS

1 – Qualquer mecanismo que leve a possibilidade de aprendizagem sem entendimento não é educação, é um simples adestramento ou, quando muito, é um treinamento passivo que cria monstros humanos, fantoches manipulados, a serviço do interesse de algo, uma ideia por exemplo ou mesmo de alguém, outro ser humano, que muitas vezes é maldoso e infeliz. Há necessidade de acabar com esse modelo.

2 – É necessário combater essa maneira de “ensinamento” que existe no Brasil e que faz das pessoas (seres humanos), meros autômatos, que se satisfazem com uma simples instrução e com a possibilidade de repetir as ações consideradas. Considera-se que o intelecto do cidadão brasileiro não precisa existir, haja vista que ele tem apenas que repetir algumas tarefas para sobreviver. Certamente o ser humano tem que ser muito mais que isso.

3 –O ser humano tem que ser capaz de pensar e agir de acordo com suas próprias possibilidades, intenções e interesses, porque é isso que o torna efetivamente humano e o brasileiro não pode ser diferente dos demais seres humanos. Entretanto parece que há um conluio nessa direção retrógada, que visa manter a inferioridade do cidadão brasileiro em relação ao restante do mundo. A sociedade precisa reagir.

4 – Pensar (refletir sobre), discernir (escolher a opção) e concluir (definir a ação) são atitudes fundamentais que permitem a principal característica do ser humano que é a liberdade de intenção e de ação. Enquanto o conhecimento avança rapidamente no mundo inteiro, aqui no Brasil ainda continuamos caminhando lentamente com passos de tartaruga ou mesmo para trás como caranguejo. É preciso caminhar para frente.

OS ARGUMENTOS ESSENCIAIS

Além dessas quatro premissas, eu ainda quero me basear, no que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, estabelecida em 10 de dezembro de 1948, diz, em seu artigo primeiro: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. Pois então, eu acredito que a educação plena da coletividade faz parte desse espírito de fraternidade que deve existir entre todos os seres humanos.

O livre arbítrio, a escolha pela própria vontade, talvez seja a principal característica que permite separar o homem dos demais animais e, deste modo, consiste na única maneira de garantir que o homem assuma integralmente a sua humanidade e o seu direito verdadeiro de liberdade. O conhecimento e a cultura acumulados e passados ao longo do tempo são os fatores que determinam a influência e o grau de importância do livre arbítrio para a humanidade. Um indivíduo carente de educação é um ser humano incompleto e não possui condições mínimas efetivas para exercer o seu livre arbítrio.

Pois então, enquanto a escola como instituição libertadora e a educação como meio de aglutinação humana não puderem trabalhar prioritária e coletivamente no sentido de garantir que o homem assuma sua humanidade plenamente, sempre estará faltando algo.  Quer dizer, enquanto a educação não for a meta para o engrandecimento da pessoa humana, não haverá livre arbítrio e consequentemente, não haverá fraternidade humana. Por outro lado, enquanto a escola não se manifestar como entidade totalmente imparcial e livre para aquisição de conhecimento e de cultura, ela não estará sendo uma escola verdadeira, mas sim um arremedo de entidade educacional, ou, quando muito, um teatro de marionetes mal elaboradas.

Historicamente, a escola brasileira pode ser traduzida exatamente da maneira acima citada, porque não tem educado e nem formado pessoas, quando muito tem treinado alguns indivíduos no desenvolvimento de algumas práticas, muitas delas totalmente deficientes e ultrapassadas. Deste modo, se quisermos realmente crescer como nação, há uma necessidade premente de construirmos um novo modelo de educação e de mudarmos a escola fazendo sua adaptação a esse novo modelo.

Não adianta ficar aqui comparando o Brasil com outros lugares e muito menos copiando esses outros lugares. Nosso contexto é diferente e muito provavelmente nenhum modelo de sucesso se enquadre no nosso país, porque nossa realidade é outra e as nossas necessidades também devem ser. Os números só servem para nos mostrar que estamos mal, qualquer outra projeção certamente é inverídica ou, pelo menos, inexata sobre nossa realidade.

Nosso novo modelo tem que ser efetivamente um modelo novo, total e exclusivamente pensado e adaptado aos interesses do Brasil e do povo brasileiro, com toda sua diversidade natural, social e cultural. Modelos exóticos, por mais que tenham dado certo em seus países de origem, certamente não serão adequados à realidade brasileira. Deste modo, eles não funcionaram devidamente e obviamente não darão certo.

AS AÇÕES DOS ATORES PRINCIPAIS

Recado aos Professores

Senhores professores, por favor, fiquem bem atentos a essas condições primordiais nas suas respectivas escolas e cuidem para que aqueles alunos que foram confiados a vocês, aprendam no sentido lato do termo aprender, ou seja, no verdadeiro sentido de demonstrar suas respectivas humanidades, como cidadãos éticos, cônscios e sobretudo, livres. Se as escolas em que vocês atuam não condizem com a realidade que se quer e se precisa ter, cumpram suas funções de educadores e denunciem. Por favor, não sejam cúmplices desse crime contra a sociedade brasileira.

A capacidade de buscar o aprendizado e consequentemente de aprender, também é um atributo peculiar, quase exclusivo do ser humano. Por isso mesmo, o aprendizado, além de estimulado pela escola, deve ser amplo e gerador de possibilidades coletivamente desafiadoras e individualmente diversas para quem o recebe. A escola que não intriga, não desafia, não permite a competitividade e que não interpela, nem questiona o mundo aos seus alunos, acaba desestimulando a aprendizagem e fugindo ao seu propósito como instituição social.  

Estimular e provocar no aluno a vontade de aprender, talvez sejam atitudes mais importantes ao aprendiz do que simplesmente ensiná-lo a fazer qualquer coisa. Cabe lembrar que o professor é o ser humano que na escola passa a ser o principal responsável pela formação do aluno. Ou seja, é o professor o sujeito que faz a diferença para que seu aluno cresça como ser humano.

Outra questão importante, que está preconizada nas normas educacionais, mas que poucos consideram nas escolas, é a necessidade de contextualização. Converse e discuta com seus alunos sobre problemas e situações que faça algum sentido para eles, isto é, que sejam reais aos sentidos deles. Não adianta você criar exemplos mirabolantes ou longínquos, apresente situações verdadeiras e de preferência, que seus alunos possam viver (sentir e experimentar).

Nós, professores, pecamos muito no processo educacional brasileiro, exatamente porque estamos quase sempre alheios à realidade da maioria dos alunos. Geralmente falamos sobre um mundo, uma realidade, que os alunos não conhecem. O mundo do professor e do aluno precisa ser o mesmo. É preciso acabar com existe esse hiato social que muitas vezes existe entre as duas partes e o professor tem que ser o principal agente provocador dessa ação.

É preciso estar atento ao fato de que o Brasil é um país imenso com uma diversidade fantástica. O que é verdade para um estado brasileiro, muitas vezes só serve como verdade para aquele estado. Muitas vezes o professor trabalha com um livro que foi desenvolvido em outro estado ou região, diferente de onde trabalha e, o que é pior, o professor não sabe criar uma situação similar para aquele lugar. E aí, como contextualizar? Ou o professor mente, ou inventa uma história próxima, ou temos que ter professores regionais (locais) nesse país, para que se possa contar histórias verdadeiras e para que possa existir contextualização. Pense nisso, na próxima vez que for ministrar uma aula.

Eu vou me atrever um pouco mais nessa questão da contextualização e vou discutir alguns exemplos. Bem, talvez os professores de Matemática, de Física e de Química sejam os únicos que poderão dar a mesma aula em qualquer situação ou lugar, mas o de Química ainda terá problemas. Entretanto, os professores de todas as outras disciplinas não podem. Imagine o professor de Biologia, Geografia, História, ou mesmo de Português que nasceu, cresceu, se formou e trabalhou até os 35 anos no litoral Sul do Rio Grande do Sul, na cidade de Rio Grande, por exemplo, e agora terá que ir a ministrar aulas em Manaus, em Teresina ou em Goiânia. Será que ele estará automaticamente preparado para contextualizar suas aulas?

Pois então, esse é o maior problema do Brasil: o país é grande e pensa como pequeno. Se a Finlândia tem a melhor educação do mundo, por outro lado tem um território pequeno, homogêneo, com uma população pequena (certamente menor que qualquer estado brasileiro) e economicamente equilibrado. Num país desses, ter uma boa educação é uma contingência natural, desde que haja vontade de todos. Mas aqui, no Brasil, a realidade é bem outra e fica difícil falar para que todos possam entender. Para aqueles que quiserem conhecer um pouco mais sobre essa questão da contextualização, sugiro a leitura do artigo, que publiquei em meu “site” (LIMA,2018).

Recado aos Alunos

Senhores alunos, é preciso que vocês queiram aprender sempre mais. Não se satisfaçam, não queiram apenas ser capaz de fazer alguma coisa, busquem sempre ir mais além. Procurem saber o que e como fazer as coisas, mas saibam principalmente porque e para que fazer tais coisas. Somente os porquês e suas justificativas dão significado ao conhecimento e somente os porquês se justificam como forma de pensar e de agir.

Na verdade, vocês só conhecem de fato alguma coisa, quando são capazes de conversar livre e independentemente sobre essa coisa, ou seja, quando vocês têm efetiva condição de discutir e emitir opiniões sobre determinados assuntos. E acreditem, essa condição de emitir opinião própria, só é possível para os gênios ou para aqueles que questionam e querem saber os porquês das coisas. Se você não é um gênio, então trate de questionar as situações e as coisas, sejam elas quais forem.

O aluno tem que ser ativo para crescer intelectualmente, pois a passividade não agrega valor ao aprendizado. É preciso buscar sempre mais conhecimento. Assim, nunca se apeguem à prática comum de ser e fazer o mínimo necessário, procurem saber sempre mais, tentando ir além das expectativas. Sejam curiosos, porque foi exatamente a curiosidade do ser humano, que permitiu a humanidade chegar aonde chegou.

Comecem, desde já, a questionar tudo aquilo que já vem pronto na escola, porque a escola existe para construir e demonstrar que nada está totalmente pronto ou acabado. Procurem se lembrar que: “quem pergunta, quer saber” e que fazer perguntas é mais difícil do que dar respostas. As perguntas incomodam porque muitas vezes ninguém quer ou ninguém sabe dar as devidas respostas. 

Quem faz perguntas é alguém que quer sanar uma ou mais dúvidas. Assumam o fato de que, a dúvida talvez seja o maior mecanismo de informação que existe, pois, quanto maior for o número de dúvidas, maior será o número de perguntas e maior também será o número de respostas. Ou seja, a busca da informação traz sempre mais informação. Usem e abusem dos seus respectivos “desconfiômetros” e não aceitem, a priori, qualquer informação que lhes sejam outorgadas como verdadeira, principalmente aquelas que não condizem com a pertinência do assunto em discussão. 

Agindo assim, a vida certamente lhes mostrará que a cada novo conceito, surgirão novas dúvidas, outras ideias e inúmeras possibilidades, sempre mais diversas que as anteriores. Vocês contemplarão que o exercício de questionar e de pensar leva progressivamente à necessidade de pensar e de aprender cada vez mais. Na verdade, o aprendizado é uma imensa “bola de neve” que está sempre crescendo ao longo de nossas vidas ou como um “buraco”, que sempre aumenta, quando se tira algo dele.

Procurem sempre se utilizar das suas respectivas capacidades de raciocínio em prol do engrandecimento de vocês mesmos, de seus afins e de suas comunidades próximas. Exijam que seus professores lhes desafiem sempre mais, propondo novas questões, progressivamente mais complexas. Embora essa situação pareça ser e, de fato seja mesmo, mais difícil e trabalhosa, o resultado também será bem melhor para vocês, porque lhe trará mais cultura e enriquecerá a sua capacidade intelectual.

Também é bom que vocês tenham sempre em mente que, ainda que os erros possam aumentar com essa prática cotidiana, não haverá problemas graves a partir deles, porque a escola é local certo dos erros acontecerem. Além disso, cabe ressaltar que a escola é o local onde os erros devem acontecer e onde devem ser corrigidos, para que não venham acontecer fora dela, ou seja, nas ações efetivas da vida. Quem erra e é corrigido na escola, tem menos chance de errar na vida.

Por outro lado, se o número de erros aumentar nas suas tarefas escolares, com certeza os êxitos também deverão ser progressivamente maiores e muito mais compensadores, o que levará vocês mais próximos do nirvana e certamente os afastará cada vez mais da mediocridade do mundo. Acreditem, vocês vão se sentir muito melhores e superiores, porque o conhecimento faz exatamente isso. O conhecimento nos torna seres humanos melhores, mais seguros, eficientes e corajosos.

Contudo, tomem bastante cuidado com o exibicionismo e o orgulho exacerbado, sejam humildes e continuem crescendo individualmente, mas sempre respeitando as demais pessoas. Não deixem suas respectivas condições de maior conhecimento subir pelas suas cabeças mais do que deve. É de bom alvitre nunca esquecer que você é um ser humano como qualquer outro e que a humildade é prima irmã da razão e da coerência.

Depois que vocês se sentirem no nirvana, procurem juntar todo o conhecimento que adquiriram e identifiquem o seu verdadeiro cabedal. Como já disse, sejam humildes e isso lhes dará sabedoria suficiente para viver e serem felizes. É óbvio que sempre haverá momentos melhores e momentos piores, mas isso é consequência da própria vida. A sabedoria que cada um de vocês acumulou deverá ser suficiente para mostrar os melhores caminhos em qualquer situação. Reflitam sempre e suas respectivas liberdades individuais serão suas melhores conselheiras.

OUTROS COMENTÁRIOS PERTINENTES

Meus amigos, professores e alunos, certamente vocês já ouviram a seguinte expressão: “a educação liberta”. Entretanto, é preciso investir nesse propósito e ter vontade efetiva de se sentir realmente livre. Essa libertação só é possível quando o processo educacional de ensino e aprendizagem é feito de maneira integral. Isto é, quando há participação real, efetiva e conjunta do educando e do educador na tarefa de promover a emancipação humana através do conhecimento, enriquecendo cada ser humano individualmente e a humanidade coletivamente. Se não existe aplicação e questionamento quanto ao saber, não existe educação e não se caminha para a liberdade efetiva da humanidade.

Assim, não fiquem esperando suas possibilidades caírem do céu, porque isso dificilmente irá acontecer. Corram atrás de novas realidades e procurem agir como seres humanos em toda a amplitude dessa expressão. Não se esqueçam que conhecimento nunca é demais e que ele é capaz de transformar o ser humano para melhor. Mas, é preciso querer que essa melhora aconteça.

Outra questão bastante importante é que o conhecimento necessita ser sempre aprimorado, porque as coisas mudam e, mesmo quando não mudam, muitas vezes o entendimento sobre elas muda também. Uma peculiaridade do conhecimento é o seu caráter crescente, isto é, o conhecimento está sempre gerando conhecimento, tanto sobre coisas e questões novas, como sobre verdades que já haviam se estabelecido, mas que sofreram adequações e novas visões.

Além de ser aprimorado, o conhecimento também precisa ser sempre repassado, porque ele não pode ser exclusividade de nenhum indivíduo, ele pertence a toda humanidade. É preciso ter ciência e consciência desse fato. O descobridor é o “pai” de sua descoberta, mas a humanidade é a sua herdeira e verdadeira “proprietária” da mesma e como tal necessita ser informada e atualizada sobre seu patrimônio. A informação sobre o conhecimento humano em qualquer área do saber tem que ser pública, não pode existir nenhum tipo de controle sobre o conhecimento.

Eu particularmente, nos últimos 20 anos, tenho dedicado grande parte de meu tempo à tarefa de socializar e divulgar o conhecimento daquilo que conheço para a humanidade. Obviamente ninguém é capaz de, sozinho, atingir toda a humanidade, mas todos podem falar de suas experiências com a comunidade que está próxima. Se todos que puderem, investirem tempo e trabalho nesse aspecto, a humanidade toda será mais bem informada.

Qualquer novo conhecimento necessita ser divulgado e repartido, porque somente assim ele se universaliza, faz sentido e passa a ser um atributo patrimonial maior para toda humanidade. Quanto mais seres humanos souberem de mais coisas, maior será o grau efetivo de liberdade da humanidade. A História tem nos mostrado que em vários momentos houve a privação das liberdades humanas por vários indivíduos déspotas e dominadores. 

Esses momentos só aconteceram exatamente porque os sujeitos dominadores guardavam o conhecimento apenas para si e alguns de seus seguidores. De maneira nenhuma, os dominadores repartiam o conhecimento que a humanidade possuía em suas épocas com os demais seres humanos. Eles assumiam todo o conhecimento como condição exclusiva deles, simplesmente porque isso lhes garantia a superioridade sobre os demais seres humanos. Hoje ainda há quem pense assim, por isso é fundamental que todos adquiram conhecimento, pois assim é possível evitar o surgimento de novos possíveis dominadores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje, com a INTERNET e com as redes sociais é quase impossível que alguém consiga omitir qualquer informação e assim o conhecimento deve estar mais democratizado entre todos os seres humanos e, deste modo, as liberdades individuais também estão muito mais garantidas. É claro, que ainda existem tiranos e absolutistas controlando povos e países, porém essas são situações especiais que fogem ao interesse desse ensaio, mas, obviamente o futuro da educação brasileira não poderá conceber esses tipos de indivíduos determinando os trabalhos a serem desenvolvidos e nem seus correligionários e asseclas.

De qualquer maneira, pensem nisso que foi dito aqui e procurem se lembrar que a espécie humana surgiu e evoluiu para aprender e viver em liberdade. Nenhum ser humano deve ser mantido contra sua própria vontade por qualquer motivo ou situação. Deste modo, todas as ações educativas devem priorizar esses aspectos. Ser livre, envolve o direito de ser informado, pensar e refletir sobre o conhecimento que se possui e sobre suas possibilidades de aplicação para o bem comum da sociedade e inclusive para a ampliação de mecanismos que favoreçam as liberdades individuais.

Resta ainda ressaltar que a liberdade é um bem e um direito que a humanidade almeja e que o indivíduo luta por possuir, mas que está preso à lei e aos direitos dos demais indivíduos. Numa sociedade todos são iguais perante a Lei e assim têm os mesmos direitos e deveres. Da mesma maneira que não se quer a tirania, também não se deve querer a complacência. O equilíbrio entre a necessidade de conhecer e avaliar o mundo em todas as dimensões científicas e culturais e a necessidade de fazer as ações que perpetuem a humanidade deve ser a tônica na escola, desvinculados de qualquer outra questão.

Por fim, procurem suas respectivas áreas de atuação e identifiquem aquele aspecto que mais lhes interessar e se dediquem a estudá-lo mais detalhadamente, mas, a priori, afastem-se da ideia de serem especialistas. A humanidade necessita de seres humanos cada vez mais generalistas, exatamente para que todos possam entender melhor as necessidades de todos e assim resolver mais facilmente os problemas coletivos que, porventura, possam existir.

Lembrem-se sempre que “um especialista é aquele sujeito que sabe cada vez mais, sobre detalhes cada vez menores, até que muitas vezes, acaba chegando ao cúmulo de saber tudo, sobre nada”. Isto é, quando mais se especializa, mais se restringe a área de ação e menos se integra ao mundo real, que costuma ser conturbado e cheio de inter-relacionamentos e conexões. Pois então, é exatamente nessas áreas e condições interconexas e conturbadas que se aprende mais e se cresce como ser humano.

Mas, se, por acaso, você tiver que ser obrigatoriamente um especialista, então seja eficiente nessa condição e procure usar sua especialidade como mecanismo para abrir sua mente e não para restringi-la. A humanidade não precisa desse tipo de pessoa restritiva, ao contrário, os seres humanos necessitam estar, progressivamente mais abertos à diversidade do contato social e as consequentes dificuldades de convivência.

O futuro da escola dependerá bastante das ações que assumamos hoje em prol da educação brasileira. Estou ciente de que não sou “o dono da verdade”, mas estou propondo aqui algumas sugestões para que seja possível discutir a educação no Brasil, ou pelo menos, a educação que os brasileiros precisam e merecem ter. É claro que, mesmo com as ideias contidas neste ensaio, estou certo de que sempre continuará faltando muito, porque a educação é imensurável, além de ser um processo contínuo e que não pode ter fim.

O objetivo maior deste ensaio é conseguir que se discuta mais sobre essa questão e que novas ideias e propostas possam existir e se estabelecer para a melhoria da educação do povo brasileiro. A população brasileira necessita acreditar mais na educação como mecanismo de melhoria da humanidade. O Brasil tem que deixar de querer ser o país do futuro, temos que cair na real e lutar para ser o país do presente, mas isso só acontecerá quando a educação passar a ser a verdadeira prioridade nacional e entrar definitivamente na pauta, como causa primária no interesse de todos os cidadãos brasileiros. 

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo, Professor e Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

LIMA, L.E.C, 2018. Contextualização e Regionalização da Educação Ambiental, (www.profluizeduardo.com.br), em 30/04/2018.
ONU, 1948. Declaração Universal dos Direitos Humanos, Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, Palais de Chaillot, Paris, 10/12/1948.
01 jul 2022
Educação e Valores Humanos

A Educação e os Valores Humanos

Resumo: O artigo chama a atenção para a falta de seriedade e da desvalorização generalizada que a Educação tem recebido historicamente no país. No Brasil, temos priorizado tudo que não importa nas escolas e com isso temos trocados os valores da sociedade. Acredito que esse desrespeito coletivo interfere drástica e diretamente na condição ética e moral dos brasileiros. 


O Brasil necessita urgentemente de Educação verdadeira. Temos muitos prédios escolares, mas temos poucas escolas. Tem muita gente ministrando aulas, mas tem poucos professores efetivamente ensinando. Tem muitos alunos nas escolas, mas tem poucos estudantes realmente querendo aprender. Tem muitos burocratas na educação, mas têm poucos educadores e pessoas preocupadas com a educação atuando no ensino. Enfim, na educação brasileira tem bastante de quase tudo, mas, tem efetivamente muito pouco daquilo que deveria ter.

Este país continua no marasmo educacional exatamente pelo simples fato de que não se encara a educação com devida e necessária seriedade, tampouco se investe em trabalho efetivo para mudar essa situação. A verdade é muito clara: enquanto existirem Alunos, Professores, Diretores e Reitores, querendo a volta de um sujeito amoral, ladrão e apedeuta à Presidência do país, não existe como melhorar a educação. Estamos num mato sem cachorro e a questão que fica é a seguinte: como fazer para acabar com essa situação incoerente?

Temos transitado estranha e perigosamente numa linha em que não se define bem aquilo que se quer e onde o que importa é somente o dinheiro que se irá conseguir com a ação.  É como se o dinheiro fosse realmente a coisa mais importante para a humanidade. Historicamente tenho feito a seguinte pergunta aos meus alunos no primeiro dia de aula: o que é que todo mundo quer? Em quase todas as respostas, mais de 95%, dizem quase que automaticamente, é dinheiro. Ocasionalmente aparece alguns que citam, a sorte, outros dizem, o trabalho, outros ainda respondem, a saúde e mais raramente ainda, alguém lembra da felicidade.

Pois então, a felicidade, que é a resposta esperada, é sempre a menos citada. Ora se a humanidade quer dinheiro e não quer felicidade o mundo está perdido. Pois é, a noção de ser feliz, talvez tenha sido modificada em ter dinheiro, o que é uma grande idiotice, porque o dinheiro não garante a felicidade de ninguém. O que todo mundo quer é ser feliz e o dinheiro pode até ajudar a que se atinja esse intento, mas o dinheiro sozinho não permite a felicidade de ninguém. Infelizmente a humanidade cometeu o ledo engano de trocar os valores morais e vitais, pelos valores e custos monetários e, deste modo, grande parte das pessoas acham que o dinheiro é o melhor negócio para todos.

Particularmente, aqui no Brasil, as escolas “entraram diretamente pelo cano” ao também assumirem que o dinheiro é melhor que a felicidade e os alunos não gostam da escola porque perdem tempo e não ganham dinheiro com esse “tempo perdido”. O pior é que o sistema reforça esse pensamento absurdo, quando desqualifica profissões e profissionais, em prol de publicidades medíocres sobre profissões que não exigem conhecimento e que geram grandes possibilidades econômicas. Assim se esquece do valor da escola e se trabalha pelo preço daquilo que se pode ganhar por estudar. Infelizmente, quando se coloca essas coisas numa balança, acaba se concluindo que estudar não vale o preço.

A diferença entre o valor e o preço é que o preço é estimável em maior ou menor, mas o valor é inestimável e por isso mesmo, o valor não tem preço. O valor é próprio, único e indistinto e assim, não varia não como o preço. Alguém já disse: “o valor não vale, o valor é”. Em suma, é impossível calcular o valor, mas sempre é possível imaginar alguns preços para certas coisas e infelizmente, isso também é verdadeiro para certas pessoas. Pois então, a educação está cheia de coisas e pessoas com preço, mas que estão muito carentes de valor.

A crise que a humanidade vive é consequência única do que foi dito acima. Isto é, as pessoas se vendem por qualquer preço, deixando de ter valor e passando a ser moeda de barganha dos interesses e das negociatas, na mão de quem quer que seja. Esta irresponsabilidade coletiva gera uma situação triste, mas real, de carência moral, que tem, historicamente, causado grandes males a humanidade, mormente nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

O ser humano, cada vez mais, desconhece a importância e o verdadeiro valor de algumas peculiaridades humanas necessárias à vivência social, como a ética, o comprometimento e a lealdade. Enquanto perdurar esta falsa realidade, do humano valer menos que a o interesse econômico de quem quer que seja, a humanidade não terá descanso, não progredirá e a paz entre os povos estará sempre mais longe.

Alguns mudam o foco e a responsabilidade, falando que Deus está vendo e que só Ele pode resolver a questão, mas, ainda que eu não seja religioso, tenho certeza de que Deus não tem nada a ver com isso e mesmo que Ele exista e que esteja vendo, Ele não irá interferir nos problemas estritamente humanos. Nossos problemas são terrenos e causados por nós mesmos não têm nenhuma relação com Deus. É preciso que mudemos o foco e objetivemos um mundo com pessoas de valor, isto é, com pessoas educadas e isso começa na família e se aprimora e continua pela escola.

Quer dizer, ou a humanidade aprende a viver educadamente com todos os humanos ou não existe humanidade. Acredito que enquanto o ser humano continuar sendo esse estranho ser que confunde valor com preço será impossível que a humanidade possa se manter proativa na direção da paz. Infelizmente, se não tomarmos posturas ética no interesse humanitário, sempre haverá situações conflitantes em que questões econômicas terão peso maior e assim, obviamente serão priorizadas pela sociedade.

O único caminho possível para tentar equilibrar essa questão é a crescer na educação e na formação das pessoas. Deste modo, necessitamos de uma educação que demonstre aos seres humanos, que em qualquer situação ou momento, a vida humana deve ser a única prioridade real. Não importa raça, sexo, ideologia, religião ou qualquer outro fator, a vida humana, seja ela qual for, é o mais importante, porque ela é um valor e como tal, é inegociável e não tem preço.

Somos seres humanos e deveríamos investir e aproximar cada vez mais uma postura altruísta e fraternal entre os humanos e não desenvolver as progressivas maneiras segmentárias e separatistas que temos criado e ampliado na sociedade moderna. Temos desenvolvido, através de um pretexto social e ambientalmente correto, mas que no fundo é apenas uma maquiagem política que serve ao interesse de alguns, uma maneira segmentadora da sociedade e destruidora da humanidade.

Estamos caminhando na contramão das necessidades da humanidade e os politiqueiros, os embusteiros e os maus-caracteres de plantão se aproveitam desse fato para piorar aquilo que já não é bom, na base do quanto pior melhor. Desta maneira as relações humanas ficam perigosamente mais comprometidas e com fortes tendências às rupturas. Quer dizer, atualmente, alguns dos “seres humanos”, não se satisfazem em apenas andar na contramão da humanidade e ainda jogam gasolina no fogo para complicar mais a situação.

É preciso que se esclareça de uma vez por todas que, independentemente de qualquer característica que tenhamos ou que professamos, somos pessoas. Todos os seres humanos são pessoas e como tal, devem ser orientadas nos seus deveres e respeitadas nos seus direitos. Entretanto, aqui reside outro grande problema, pois parece que perdemos a noção exata de deveres e direito humanos. Nesta sociedade corrompida e consequentemente corroída que vivemos, direitos e deveres são privilégios que servem apenas aos interesses dos poderosos, que fazem o que querem, como querem e quando querem.

A sociedade se deturpou por conta do preço e a humanidade se degradou por conta da perda do seu valor primário e ímpar, o ser humano.  O “rei dinheiro” e o “trono ganância” superaram largamente o fundamento da vida e necessidade da ética. A humanidade está pobre de valores morais e podre de sentimento e envolvimento coletivo. Somos apenas um bando de criaturas irresponsáveis e cegas, ocupando um mundo em que os indivíduos não veem nada ou, quando muito, cada um consegue apenas ver o próprio umbigo.  

É bastante triste e preocupante a situação debilitada do ser humano nos tempos atuais. Ao que parece a humanidade está caminhando rápida e irreversivelmente para o caos. Se não bastasse nossa podridão humana, também destruímos o planeta, o único que temos e que nos fornece absolutamente todos os recursos naturais que utilizamos. Ou seja, somos humanos podres, caminhado num planeta que também tornamos cada vez mais podre. Em suma, nossa irresponsabilidade é total, pois não ligamos para nossa vida, para nossa espécie e ainda destruímos a nossa única casa.

Como disse no início deste texto, somente a educação pode nos livrar dessa situação sofrível ou, pelo menos, minimizar os danos produzidos por ela. Não existe outra saída possível! E o que estamos fazendo sobre isso? Infelizmente, não temos feito absolutamente nada.

As nossas escolas têm apenas discutido outras questões, infinitamente menos importantes, pouco significativas, nada prioritárias e que não agregam valor nenhum à humanidade e nem a educação brasileira. Nossos alunos estão alheios a realidade humana e são progressivamente mergulhados em idiotices e coisas inúteis às necessidades da humanidade. Nossos professores defendem argumentos e teses inexpressivas, que não se justificam nos interesses coletivos maiores da humanidade. Nossos dirigentes escolares estão preocupados apenas com a manutenção de seus cargos, cuja origem é principalmente política e assim, tudo fazem, apenas para garantir suas respectivas permanências nos mesmos.

É claro que existem honrosas exceções, mas infelizmente, são apenas exceções, porque não têm força funcional e muito menos política, consequentemente não conseguem mudar a situação imperante. A mídia, por sua vez, também não cumpre seu papel e acaba por demonstrar, cada vez mais, o seu interesse na continuidade dessa conjuntura degradante e assim, faz coro para o que está errado, trabalha contra as mudanças necessárias e ainda interfere bastante produzindo informações que só ampliam a degradação educacional e humana.

O mais estranho de tudo isso, é que tem muita “gente” que acredita e age como se tudo estivesse bem e que defende a manutenção desse “status quo”.  As escolas não são mais capazes de trabalhar para formar pessoas, porque estão preparadas apenas para produzir coisas que produzam lucro para alguém. A educação é uma falácia, um conto de fadas triste, onde não vai haver final feliz, porque, de fato, não se quer educar e nem formar ninguém. Sempre gosto de lembrar Darci Ribeiro, quando ele dizia: “No Brasil, a crise educacional, não é uma crise e sim um projeto”. Eu me permito ir além e tristemente afirmo que esse é o único projeto brasileiro que tem tido continuidade nos últimos anos.

Assim, concluo que a atual e evidente degradação humana é resultado de planejamento trabalhado por especialistas em criar humanos piores, através da “educação”, pelo menos aqui no Brasil. Transformaram a sociedade e fizeram com que grandes massas de seres humanos virassem marionetes no interesse puramente político de alguns. Esqueceram que a humanidade se compõe de pessoas e destroem essas pessoas como se fossem coisas inservíveis, sem sentimentos, sem valores morais e sem nenhuma condição ética.

Até quando continuaremos seguindo nessa direção, que transforma os valores, reverte a ordem e perverte a população, particularmente a juventude brasileira?

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

Artigo publicado em 23/01/2022 no “site” https://oblogdowerneck.blogspot.com e readaptado para esta publicação.
26 abr 2021

Desabafo de um “Velho Mestre”

Resumo: O artigo chama a atenção para o fato de que muitas das pretensas “modernidades educacionais” que estão sendo apresentadas para melhorar a Educação, não passam de mera enganação e de maquiagem que servem apenas para esconder a péssima qualidade da Educação no país, além de  desprestigiar os professores e de favorecer a outros interesses não ligados à Educação. 


Ultimamente tenho pensado bastante a respeito do que estão atualmente chamando de “Metodologias Ativas” para a Educação e sinceramente não estou vendo nada que eu, com todo meu conservadorismo, já não tenha feito há, pelo menos, 50 anos atrás.  Na verdade, o que mudou foram os alunos e a escola que, querendo, não sei o porquê, evoluir, acaba ficando cada vez mais retrógrada, quando precisa se modernizar. A propósito modernizar a escola não é fazer modismos na escola ou na sala de aula. Mudar a escola é tentar trazê-la para a realidade do seu tempo, sem comprometer seus interesses primários, isto é, o processo ensino-aprendizagem e a educação como um todo. 

Pelo que tenho observado, em muitos casos, a escola está querendo deixar de ser escola para virar espetáculo artístico e muitas vezes circense, mas não vamos discutir sobre esse aspecto nesse momento. Cabe apenas lembrar que, o professor e a sala de aula, dentro ou fora da escola, são os mesmos e as metodologias, os artifícios e mecanismos para ensinar, também são os mesmos que sempre existiram, pois ensinar continua sendo, apenas e tão somente ensinar. Quer dizer, a escola em essência não mudou e nem pode mudar, porque se isso acontecer ela em entrará em contraste com seus preceitos básicos.

O que tem mudado bastante são as tecnologias aplicáveis ao ensino e algumas destas realmente são muito boas, para quem sabe fazer uso delas. Eu confesso que tenho imensa dificuldade com certos materiais, mas não me sinto inferior por causa disso, até porque costumo saber do que estou falando, quando ministro minhas aulas, o que, infelizmente, não costuma ser verdade para grande parte dos professores que andam por aí. Assim, a ferramenta, o acessório e toda parafernália instrumental que deveria favorecer ao processo ensino-aprendizagem, acaba não funcionando da maneira como seria esperado e consequentemente atrapalhando, porque não existe mágica. 

A verdade é uma só, ninguém é capaz de ensinar aquilo que não sabe, com ou sem parafernália tecnológica e o que temos visto por aí é um festival de absurdos, onde os materiais acessórios atrapalham mais que ajudam, por conta da incapacidade profissional de muitos “professores”, além da passividade e do desinteresse da maioria dos alunos. O que está faltando, de fato, é conhecimento por parte de quem deveria ensinar e vontade de adquirir conhecimento por parte de quem deveria aprender.

É claro que eu sei e todo mundo sabe, que os tempos são outros, que os jovens de hoje têm pensamentos e anseios diferentes e que existe muita dificuldade de atraí-los para as aulas, até porque, para muitos, “aula é uma coisa chata”, “estudar toma tempo e é bastante complicado” e várias outras coisas poderiam ser ditas para confirmar que, lamentavelmente, hoje existem inúmeras opções mais atraentes para os alunos do que a escola e as aulas. O problema está exatamente aí: como fazer para tornar as aulas e as escolas mais interessante aos alunos, sem ridicularizar a escola como entidade formadora de indivíduos melhores moral, social e culturalmente?

Certamente o aluno é o sujeito mais importante da escola e isso não é moderno, pois só existe escola porque existem alunos. Ao aluno se deve todo o processo educacional, então esse sujeito foi, continua sendo e sempre será a parte mais fundamental no processo. Entretanto, o aluno atual tem visado outros interesses, deixando a escola para planos inferiores na sua escala de prioridades. Cabe ao professor a missão de redirecionar o aluno aos interesses primários da escola e obviamente a parafernália instrumental pode e deve ajudar nessa missão. Mas, a figura do professor deve dirigir os instrumentos de acordo com os objetivos do ensino e não fazer espetáculos tecnológicos infundados.

Não existe essa história de que a escola hoje é centrada no aluno e a escola de ontem era centrada no professor, pois escola nenhuma nunca foi centrada no professor. Se existiu escola assim, em algum momento, ela estava muito errada e desconexa de seu interesse primário. O que talvez existisse, no passado, era uma pretensa “superioridade” do professor como indivíduo, sobre o aluno, o que também, na minha maneira de entender, sempre foi uma falácia desagradável, perigosa e que contraria a própria noção de educação.

Outra coisa que também poderia ser considerada, é que antes o respeito à pessoa do professor era muito maior e hoje, em muitos casos, simplesmente esse respeito deixou de existir. Mas, eu quero crer que isso também tenha a ver, lamentavelmente com a falta de competência do próprio professor. Entretanto, não vou me ater a essas discussões no momento e vou deixá-las para outra oportunidade. Vamos em frente.

Ainda que o aluno seja o sujeito mais importante em qualquer escola, o agente principal da sala de aula sempre foi e continuará sendo é o professor. As técnicas didático-pedagógicas podem e devem mudar e evoluir sempre, mas o professor continuará sendo imprescindível. Pois então, o que está faltando nas escolas é mais trabalho profissional efetivo dos professores, que hoje, na maioria das vezes, são pessoas totalmente despreparadas e, o que é pior, sem conhecimento efetivo de sua matéria e sem cultura geral. 

Lamentavelmente, a própria profissão de professor está bastante desgastada pela sociedade, pois atualmente, para a maioria das pessoas, o professor é tido como alguém que não conseguiu fazer outra coisa mais importante e assim foi “ministrar” aulas. Infelizmente a má qualidade do professor é que acaba sendo realmente o grande problema, porque quando o professor tem interesse real e prazer em ensinar, ele procura efetivamente saber o que tem que saber e aí, com ou sem ferramentas de última geração, ele consegue ensinar. Com seriedade profissional, algumas vezes, ele consegue ensinar até mesmo aquele aluno que não quer aprender.

Cabe lembrar que esse tipo de aluno que, não quer aprender, sempre existiu. O que acontece é que hoje o contingente é aparentemente maior, porque a escola concorre e obviamente acaba perdendo de longe para outras coisas mais interessantes no pensamento do aluno. Coisas, que lamentavelmente são reforçadas pela sociedade atual, principalmente através da mídia e que acabam tomando grande parte do lugar que deveria ser ocupado pela escola, como já foi dito. 

Por outro lado, não adianta toda a parafernália instrumental se o professor não conhece do assunto que deveria ensinar. É triste o quadro, mas hoje, infelizmente, qualquer um está ministrando aula de qualquer coisa, em qualquer lugar e, dessa maneira, realmente não é possível continuar, principalmente no terceiro grau, onde é relativamente comum encontrarmos professores lendo “slides” para os alunos e coisas parecidas. Tudo bem; quer dizer, na verdade, tudo mal; porque existem muitos alunos que são analfabetos funcionais no Ensino Superior e assim, não sabem ler, mas isso, além de ser uma incongruência, também é uma enorme indecência que a escola e o sistema educacional permitem. Mas, essa também é outra história que fica para depois.

Uma aula tradicional, sem enganação, ainda é capaz de atrair muitos alunos, mas uma aula tecnológica sem coerência, sem lógica e sem relacionamento, certamente não atrai ninguém. Ou melhor, talvez atraia apenas aos “festeiros de plantão”. Qualquer aula necessita ser estimulante para vencer a concorrência, mas o estímulo tem que ser dado pelo professor e não pela parafernália instrumental. O professor como principal agente do processo educacional tem a obrigação de criar os mecanismos para atrair o público da escola presente na sua aula, mas obviamente sem exageros.

Cabe lembrar que não é qualquer um que pode ser professor. Em toda área profissional existem exigências mínimas para o exercício profissional, porque com a função de professor essa questão é diferente. O verdadeiro professor tem que ser um sujeito devidamente preocupado com a educação e preparado para ensinar, possuindo conhecimento efetivo de sua disciplina e visão genérica do processo educacional. Ser professor vai muito além de estar à frente de uma turma e tentar ministrar aulas.

Então, me desculpem, mas essas “Metodologias Ativas” não existem, o que existe é incompetência generalizada e por isso se criou um subterfúgio para mascarar as deficiências do ensino. É claro que muitas vezes funciona, se quem aplica é sério, tem conhecimento de sua área, sabe o que faz na aplicação do recurso e está mesmo a fim de ensinar. Entretanto, na maioria das vezes é só mais uma enrolação moderna sem tamanho, acerca de coisa nenhuma, como sempre existiu, mas agora com muito atrativo, que acaba sendo uma cilada da alta tecnologia moderna. 

Na verdade, muitas vezes o professor acaba esquecendo que está numa escola e procura chamar a atenção dos alunos, apenas para os modismos tecnológicos, que são interessantes e algumas vezes até fantásticos, mas que, sozinhos, não têm capacidade de levar ninguém a aprender alguma coisa se esse alguém não quiser. Aliás, pelo que tenho visto, para enganar, de ambos os lados fundamentais da escola, o aluno ou o professor, com tecnologias brilhantes é mais fácil e mais interessante do que parece. 

Talvez, por isso o mundo esteja cheio de mascates, mercadores, marreteiros, embusteiros, “hackers” e outros picaretas tecnológicos, vendendo bugigangas para as escolas. Além disso, sempre é bom lembrar que, para muitas escolas, isso acaba sendo bastante interessante, haja vista que investir na aquisição dessas bugigangas costuma ser mais barato, a longo prazo, do que pagar melhor os professores e possuir em seu quadro profissionais mais competentes. Mas, essa também é outra história. 

A tecnologia compõe-se de algumas ferramentas muito boas, mas elas devem ser usadas e tratadas apenas como ferramentas para auxiliar ao processo de ensino-aprendizagem e não como truque fantástico de ilusionismo. Essas ferramentas devem ser usadas por quem sabe, para servir ao interesse a que se propõem, no caso os interesses da Educação, mas infelizmente não é isso que se tem observado, em grande parte das “escolas modernas”. 

Em alguns casos e momentos o “professor” fica totalmente dependente da ferramenta e passa, desgraçadamente, a ser ele a ferramenta. Isto é, o sujeito vira objeto e assim, a ferramenta passa a ser o ator mais importante da escola. O pior é que no meio do caminho tem o aluno e entre esses alunos, existem alguns que realmente querem aprender, mas não encontram base e nem respaldo na figura do professor, que está ali apenas para “quebrar um galho” ou para “ganhar um dinheirinho” que lhe permita sobreviver.

Ensinar é uma tarefa nobre e algo realmente prazeroso e sensacional, mas precisa de gente séria, bem-intencionada, bem-preparada, com capacidade e sobretudo com conhecimento de causa, o resto se consegue na conversa, na troca de informação, com os alunos. Obviamente que: uns vão aproveitar e outros não vão. Sempre foi assim e continuará sendo, mas a escola tem que parar de querer justificar o injustificável e transferir problemas inventando novos nomes para coisas velhas que e sempre existiram. 

O uso do computador, do celular, da INTERNET e dos mais diversos recursos audiovisuais são excelentes para auxiliar as aulas e facilitar o processo de ensino-aprendizagem. Particularmente nesse momento, em que temos que trabalhar com aulas remotas, por conta a da quarentena condicionada pelo Pandemia de Corona Vírus (COVID-19), toda parafernália de material tecnológico tem sido grande aliada e tem demonstrado sua importância à educação. Porém, é preciso que fique claro, que todas essas coisas são ferramentas e como tal, devem ser usadas com parcimônia e coerência. 

Por outro lado, é fundamental que se entenda e que não se deixe de dar a devida importância a principal ferramenta para o ensino e que por isso mesmo, é a mais importante ferramenta para que a escola possa cumprir bem a sua missão de ensinar, que é o professor. O professor sempre foi e certamente continuará sendo, a única ferramenta efetivamente capaz de cumprir a missão de ensinar a alguém.

Então, ao invés de ficar dando nomes novos a coisas velhas e de ficar desenvolvendo novos programas de informática e novas técnicas eletrônicas, talvez fosse muito melhor investir mais na formação de professores de qualidade e respeitar um pouco mais aos “velhos” professores. Isto é, se preocupar em adquirir e manter professores que tenham conhecimento e que sejam capazes de ensinar sem a mágica da tecnologia. Cabe lembrar que, o professor, independente da sua área específica de conhecimento, tem que ter conhecimento geral, tem que ter cultura, pois só quem tem cultura pode realmente ensinar. 

Temos que parar com esse negócio de achar que qualquer um pode ensinar, porque na verdade, ninguém ensina aquilo que não sabe. Muitas vezes o espetáculo (“show”” teatral) da aula é muito bom, mas não há aprendizado absolutamente nenhum, porque a aula (qualquer aula em qualquer nível) não é e não pode ser apenas um “show” teatral, principalmente quando está se falando em formação de novos professores. Aula tem que ser coisa séria, que pode e deve até ser alegre e divertida, mas não pode fugir ao seu propósito fundamental de ensinar e formar o aluno. 

As técnicas obviamente são importantes, mas elas não são preponderantes, pois a importância maior, salvo melhor juízo, tem que estar a cargo do professor, seu conhecimento e toda sua bagagem cognitiva. O exercício da atividade profissional de professor exige profissionais competentes e cônscios da importantíssima função social que é atribuída ao magistério. Assim, a prática efetiva do magistério não pode ficar à mercê de qualquer curioso ou picareta ornamentado de parafernálias eletrônicas.

O dia que todos os envolvidos na escola, inclusive os alunos em todos os níveis de ensino e formação, estiverem realmente preocupados com a escola e com suas respectivas formações, certamente as coisas começarão a acontecer de maneira correta e obviamente os resultados do processo ensino-aprendizagem serão melhores. Entretanto, eu penso que isso ainda seja uma utopia, porque estamos falando de seres humanos e nada é mais complexo do que o ser humano, particularmente o ser humano brasileiro. 

O ser humano é dotado de vontade e deve ser sempre respeitado nesse direito. Mas, por outro lado, é preciso ficar evidente à toda sociedade que o direito de um termina quando começa o do outro. Na escola o direito é estudar e o aluno que não quer estudar, não deve, a priori, fazer parte da escola. Da mesma forma, o professor que não quer ou que não pode ensinar, também não pode estar na escola e a escola que não quer formar bem seus alunos não deve existir. O resto é balela. As coisas só funcionarão bem quando a principal preocupação de todos na escola for, apenas e tão somente, a educação para fazer o aluno estudar e aprender. 

Deste modo, peço vênia pelo meu radicalismo, pela minha impetuosidade e pela minha veemência nessas afirmativas, mas acredito que as mudanças necessárias efetivas não são de “Metodologias Ativas” ou de “Técnicas Modernas de Ensino”, mas sim de comportamento, de interesse real, de comprometimento, de seriedade e de competência de todos envolvidos no processo educacional. Ou seja, eu acredito que se existirem governantes sérios, dirigentes comprometidos, professores capacitados e alunos ávidos por saber, com ou sem parafernália tecnológica, conseguiremos fazer uma escola de qualidade. 

Mas, a pergunta que fica é seguinte: será que existe interesse verdadeiro e efetivo de que essa escola de qualidade realmente exista no Brasil? Ou será que, como disse o saudoso e eterno Darcy Ribeiro: “a crise da educação no Brasil, não é uma crise, é um projeto”?

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65)

15 out 2020

DIA 15 DE OUTUBRO DE 2020: UMA HOMENAGEM NECESSÁRIA

Resumo: O texto tem o objetivo de homenagear os Professores na passagem de mais um 15 de outubro (“Dia do Professor”), além de reconhecer e enaltecer o trabalho especial desenvolvido por esses profissionais ao longo desse período de Pandemia. Em que pese a má vontade de alguns administradores públicos e de setores da imprensa, os professores produziram um verdadeiro espetáculo de improvisação, criatividade e profissionalismo, para garantir o funcionamento das escolas e a continuidade das aulas, nesse momento conturbado que o país e o mundo estão passando.  


Quando o ano de 2020 começou, pelo menos aqui no Brasil, ninguém imaginava o que ainda estava por acontecer, nesse ano atípico. O início do ano foi normalíssimo e transcorreu dentro do que se espera comumente, com as festas de ano novo e as férias de verão da maioria das pessoas, durante o mês de janeiro. Passada a normalidade festeira e festiva do mês de janeiro, começou fevereiro e como sempre o carnaval foi o destaque nacional e ele também aconteceu normalmente, embora já se ouvisse falar, ao longe (“bem longe”), sobre um vírus oriundo da China que poderia trazer consequências mundiais desagradáveis. Porém, como estamos a quase 17.000 Km da China, por vários aspectos, esse vírus não deveria para nos preocupar, ao menos naquele momento e o carnaval transcorreu festivo como sempre.

Logo após ao carnaval, as aulas começaram nas escolas, em todos os níveis de ensino. E foi aí que o bochicho sobre o vírus chinês começou a crescer, inicialmente o problema já estava sério lá pela Europa. A distância agora era de apenas 1/3 da citada anteriormente, pois estava em cerca de 6.500 e não mais os 17.000 Km de distância iniciais, mas, ainda assim, tudo seguia aparentemente dentro da normalidade aqui no Brasil. Até que, no início da terceira semana de março (do dia 15 ao 21), precisamente no dia 17 de março (terça-feira), tudo mudou da água para o vinho ou se preferirem, da certeza de que o ano seria apenas mais um, igual a tantos outros já vividos, para o estranho, perigoso e assustador ano de 2020, que estamos vivendo.

De repente, foi decretada uma parada geral e estabelecida uma quarentena no país. Todos tinham que ficar em casa, porque a doença, denominada COVID 19, que é causada pelo Corona vírus, SARS-CoV-2, já estava por aqui e embora ela tivesse baixa taxa de letalidade, por outro lado, o vírus possuía grande poder de transmissibilidade. Assim, se não houvesse cuidado, muita gente seria contaminada ao mesmo tempo e os setores de saúde não teriam, o suporte físico e estrutural, para resolver todas as questões e o caos seria instalado no país. A recomendação foi ficar todo mundo em casa isolado, esperando que o pico da pandemia passasse.

O setor da Educação é o que envolve o maior número de pessoas no país, com mais de 25% da população. São mais de 50 milhões de estudantes, quase 3 milhões de professores e mais de 1 milhão de funcionários. Isso diretamente, mas se considerarmos, os gestores, os transportadores, os fornecedores de alimentos, os administradores de cantinas, os geradores de matériais didáticos e vários outros, certamente esse número chegará a quase 40% da população brasileira, ou seja, mais de 80 milhões de brasileiros, a grande maioria jovens.

De repente tudo parou e obviamente a educação, com os já citados, quase 80 milhões de pessoas envolvidas nesse setor, tendo que parar também. As aulas foram suspensas em todos os níveis de ensino. E agora o que e como fazer? Não vou me ater aos demais 130 milhões de brasileiros, mas quero falar desses 80 milhões que vivem direta ou indiretamente na dependência da educação nesse país. Em especial vou me referir aos 3 milhões de professores desse país.

Bem, na fatídica semana de 15 a 21 de março de 2020, que foi a mais conturbada que já presenciei do alto dos meus 64 anos, mais de 60 deles dentro de escolas. Desde então, houve de tudo que se possa imaginar de problemas nas escolas. E agora? Como vai ser? O que vai acontecer? Como deixar mais de 40 milhões de crianças e jovens em casa sem atividade?  É interessante, mas como um passe de mágica, já na semana seguinte, praticamente tudo já estava relativamente solucionado e muitas escolas já estavam definindo e trabalhando numa nova rotina, porque os professores não perderam tempo e sabiam muito bem de suas respectivas responsabilidades.

Aulas remotas, aulas virtuais e pesquisas na INTERNET, rapidamente saíram da cartola, porque a educação não pode parar. O profissional do Ensino, o PROFESSOR, tal qual um camaleão, teve que se travestir, se mascarar, se camuflar e se adaptar às novas necessidades imperantes. E assim, um novo modelo de escola e de ensino começou a surgir e seguiu até o final do Primeiro Bimestre Letivo, porque ainda havia esperança de que a “coisa” fosse passar depressa. No entanto, a crise se agravou e o país, entrou por inteiro dentro dela. Ou seja, a “coisa” não passou e houve necessidade de se manter o padrão diferenciado das aulas.

Veio o Segundo Bimestre Letivo e a situação continuou se agravando e ainda no final do primeiro semestre o Ministério decidiu que as aulas continuariam remotas, também para o Segundo Semestre Letivo (a portaria estabelecida foi obrigatória somente para as Instituições de Ensino Superior). Em julho houve férias dos professores, mas em agosto a situação permaneceu a mesma e assim está transcorrendo o ano letivo de 2020 até agora. As escolas estão vazias, mas as aulas, os professores e os alunos, salvo aquela semana de março, NUNCA PARARAM e estão em plena atividade.

Estamos em outubro e somente agora, é que algumas escolas e alguns setores escolares estão começando a voltar à condição anterior àquela que se estabeleceu em março. Mas, mesmo assim, essa é uma condição provisória, porque a situação ainda é bastante preocupante e, de repente tudo pode retornar. De qualquer maneira, as Instituições de Ensino Superior e a maioria das escolas de Ensino Fundamental, vai continuar funcionando remotamente até o fim do ano.

A separação, o isolamento, o afastamento do convívio social, enfim o confinamento produzido pela quarentena não conseguiu parar as escolas e sua importância para a sociedade, embora tenha mudado notoriamente suas aparências. As escolas viraram espaços imensos sem pessoas, prédios vazios, grandes desertos arquitetônicos. De repente, se descobriu que a escola não tem que ser necessariamente um prédio cheio de pessoas. Muito embora a socialização das pessoas também seja parte importantíssima do processo educacional e obviamente a escola também tem que se ligar nessa questão. Entretanto, esse aspecto foge ao propósito desse texto.

Com o prosseguimento da mudança dessas aulas diferentes do padrão que estava até então estabelecido, ou seja, com as aulas presenciais passando a ser aulas remotas e virtuais, iniciou-se uma nova realidade nas escolas. Os professores tiveram que, literalmente, se virar e aprender muito além de suas especialidades e habilidades. Os eletrônicos passaram a ser importantes ferramentas de ensino e bem naquela situação do ditado que diz: “a condição faz o ladrão”, o computador, o “tablete” e o celular (antes tão discutido sobre seu uso nas escolas), passaram a ser ferramentas obrigatórias da educação e do processo ensino-aprendizagem.

Mas, não foi tão simples assim, porque essa necessidade dos eletrônicos e da informática, gerou outros tipos de problemas, que tiveram que ser superados e que ainda não foram totalmente resolvidos. Além da grande quantidade de analfabetos e semianalfabetos digitais e dos muitos carente de conhecimentos de informática do país, também existe uma questão socioeconômica real nessa situação, haja vista que nem todos, tanto as escolas, quanto os alunos e os professores, tinham possibilidade de acesso e de aquisição dessas ferramentas.

Vejam bem, a situação era bastante complicada e a dificuldade era tríplice: não possuir o equipamento, não saber usar o equipamento a contento e transformar o uso mal visto do equipamento em algo útil, importante e necessário ao ensino. Mas, ainda assim, o resultado foi (está sendo) muito bom. Muitos professores e eu me incluo nesse grupo, teve e continua tendo, muita dificuldade, mas não houve esmorecimento e todos continuaram trabalhando, um ajudando ao outro naquilo que era possível. Tudo isso, porque os professores sabem que o aluno, as aulas, a escola e a educação são as coisas efetivamente mais importantes, pois só elas podem mudar esse país e melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Meus amigos, depois de toda essa exposição, eu quero dizer o seguinte: nesse dia 15 de outubro de 2020, em que se comemora mais um DIA DO PROFESSOR, é muito simples. Quero lembrar desse verdadeiro Herói Nacional, que apesar das divergências políticas, num ano complicado, foi à luta e se virou em adquirir ou em arrumar o material para trabalhar, estudou e está estudando e aprendendo sobre coisas que nada tem a ver com sua formação e muito menos com sua disciplina de interesse didático-pedagógico. Professor, parabéns. Quero que esse dia seja, de fato, um dia bastante especial na sua vida

O professor fez e está fazendo isso tudo, porque ele acredita e sabe que a educação precisa ter continuidade e embora o país tivesse parado a educação tinha que seguir seu rumo, como se tudo continuasse igual aos anos anteriores. O professor, esse profissional camaleão, mostrou que que sua função é insubstituível, que seu valor é indiscutível e que sua responsabilidade com a nação brasileira está muito acima da miséria de salário que lhe pagam na maioria das vezes. Aliás, cabe lembrar que a maioria dos professores está, de fato, trabalhando muito, alguns além da própria capacidade física. Mas por que isso?

Porque os professores sabem que sem educação não há solução e agora esperam que as autoridades, os poderes constituídos do país, e a sociedade como um todo entendam de uma vez por todas que sem professor não há educação e que sem educação não há nada. Não fosse o professor esse sujeito especial e esse país do absurdo e das maracutaias também estaria efetivamente fadado a ser o país da desgraça e da ignorância. Graças a Deus, que a maioria dos professores é constituída de pessoas do bem.

O país quase todo de quarentena e o Professor trabalhando mais e recebendo menos pelo seu trabalho. Trabalhando mais, porque teve que correr para tentar aprender novas técnicas e usar novos aparelhos eletrônicos para desenvolver seu ofício e recebendo menos porque por decreto todos os trabalhadores do país, inclusive os professores, tiveram seus salários diminuídos. Só houve exceção para os administradores e políticos safados e picaretas desse país, muitos dos quais quase nunca trabalham, nem mesmo em tempos de normalidade. Porém, os professores que trabalharam (estão trabalhando) muito mais, que foram além, assim como o pessoal da saúde, não fizeram parte das exceções e tiveram seus salários reduzidos. 

E agora, quais as perspectivas para o final de 2020 e para 2021? Infelizmente nós não sabemos ainda o que irá e como irá acontecer. Entretanto, temos certeza de que os professores já estão preparados e se novas mudanças se fizerem necessárias, certamente os professores, como soldados em guerra, estarão na linha de frente e outra vez se reinventarão ou se camuflarão para defender a educação desse país.

O que mais dizer de pessoas e de profissionais dessa ética, desse quilate e desse grau de nacionalismo? Quero crer que devo apenas pedir aplausos e reconhecimento pelo trabalho essencial, preponderante e necessário de quem tenta manter uma sociedade mais justa e sobretudo as pessoas intelectualmente mais capazes de discernir, que o Brasil pode e deve ser o maior país da Terra e que o caminho para isso é a educação de seu povo.

Feliz Dia dos Professores e meus efusivos parabéns a todos aqueles que estão tentando ajudar a construir cotidianamente a melhora da educação desse país, independentemente de qualquer calamidade, pandemia, ou mesmo de qualquer governante irresponsável ou profissional de mídia mentiroso que usam seus trabalhos como forma de enganar a população, alguns até levianamente dizendo absurdos do tipo: “os professores estão recebendo sem trabalhar”.  Pois então, esses picaretas deveriam ter vergonha na cara e trabalhar mais pelo país, ao invés de emitir opinião sobre aquilo que desconhecem.

Mais uma vez, PARABÉNS COLEGAS PROFESSORES pelo nosso dia e por todos os dias, em que somos capazes de exercer a nossa profissão e cumprir o nosso compromisso profissional com a educação desse país, independentemente do que dizem e pensam alguns idiotas que estão por aí.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)

06 out 2020
Didática e Conhecimento2

Falta de Didática ou Falta de Conhecimento?

Resumo: Mais uma vez estou trazendo um texto que procura observar e comparar o que mudou na formação dos professores e consequentemente na qualidade da educação do país nos últimos anos. A pretensão aqui é apenas demonstrar que estamos caminhando, cada vez mais, para uma educação midiática, mas quase sem formação técnica específica e sem a devida conotação da importância do conhecimento efetivo da matéria na postura e na orientação didática dos profissionais de ensino.


Ainda lembro quando eu estava no quarto ano do Curso de Graduação de Licenciatura em Ciências Biológicas, das Faculdades de Humanidades Pedro II – FAHUPE (1978), lá na cidade do Rio de Janeiro, onde me formei, embora já faça mais de 42 anos.  Lembro-me bem daquela Professora de Didática que, logo no primeiro dia, começou sua aula dizendo: “Didática não se ensina”. Infelizmente não consigo recordar o nome dela, embora recorde do apelido que possuía, o qual infelizmente não devo (não posso) citar aqui. Coisas particulares (segredos) da vida de estudante, que não vem ao caso no momento, mas que sempre é bom recordar para manter a mente alegre e ativa.  Mas, ela continuou dizendo: “Didática se tem ou não se tem” e “para ser Professor é fundamental se ter Didática”.

Com certeza, tanto eu, quanto meus colegas de Faculdade, já sabíamos que a frase era verdadeira, porque embora estivéssemos iniciando o último ano de nossa graduação, todos nós já tínhamos mais de 15 anos de vivência escolar e já havíamos passado por inúmeros professores em nossas vidas escolares. Assim, nós, não só sabíamos como podíamos confirmar a veracidade daquela afirmativa, pois éramos capazes de rapidamente fazer uma análise de todos os professores que passaram pelas nossas vidas e avaliar a postura e a competência didática de cada um desse professores. Entretanto, nós adorávamos, eu particularmente me realizava, quando ouvia a Professora da Disciplina de Didática afirmar didaticamente que “Didática não se ensina”. E ela dizia esta frase quase sempre.

Peço, desde já, que me desculpem pela repetição da frase inúmeras vezes no texto, mas para mim é profundamente interessante ver a coragem e ao mesmo tempo o contrassenso de alguém abertamente dizer que aquilo que faz, nesse caso, ensinar Didática, seja uma utopia, ou melhor, um absurdo, uma ilogicidade, porque é algo que não pode ser feito. Mas, vou me basear nesse argumento para tentar chamar a atenção do fato de que tem muita gente fazendo confusão sobre o que efetivamente seja Didática.

Comecei a ministrar aulas regulares em setembro de 1976, quando estava no segundo ano da Faculdade, no Colégio e Curso Regente, na Praça da Bandeira, na cidade do Rio de Janeiro e nessa época eu ainda não conhecia aquela que seria a minha Professora de Didática. Aliás, para ser bem sincero: acho que naquela época eu nem sabia o que era Didática, se é que hoje realmente sei? Mas, de qualquer forma, quero acreditar que hoje compreendo um pouco melhor sobre esse assunto e vou me atrever a falar um pouco sobre a minha experiência didática.

Naquela época, lá no Colégio Regente, eu tinha que ministrar aulas de Ciências para o Ensino Fundamental, além de Citogenética e Genética para o Ensino Médio. Para conseguir cumprir essa obrigação eu tive que estudar, estudar e estudar bastante. Ora, isso foi muito importante, porque me permitiu efetivamente aprender aquilo que eu precisava ensinar, até porque algumas partes das matérias sob minha responsabilidade eu nunca tinha visto na vida e outras, que até tinha visto, simplesmente não me lembrava de quase nada, porque não faziam parte da minha área próxima de interesse. Assim, a solução era uma só, como já disse, tive que estudar muito para aprender e tentar desenvolver condições para ensinar aos meus alunos.

Comecei muito jovem, com apenas 20 anos, porém, deixando a modéstia de lado, me atrevo a dizer que sou um bom professor desde aquela época. Acho que tenho grande facilidade de comunicação e argumentação, o que me permitiu desenvolver uma Didática muito boa e pelo que percebo, pelo tratamento e pelas homenagens que recebo todos os anos, a grande maioria dos meus alunos concorda plenamente com esse meu pensamento.  Entretanto, devo reconhecer que antigamente eu era muito melhor, porque eu sabia que não tinha conhecimento suficiente sobre muita coisa que deveria ensinar e por isso mesmo eu procurava aprender essas coisas e como já disse, estudava bastante.

Hoje, quase 45 anos depois, erradamente, eu imagino que como já tenho conhecimento, como efetivamente já sei algumas coisas, eu já não procuro tanto pelas informações e estou estudando cada vez menos. Isto é, tenho que admitir: eu já fui melhor, pois me dedicava mais. Posso estar enganado, mas acredito que infelizmente isso acontece com quase todos os professores ao longo do tempo. Mas, com o conhecimento que temos, ainda conseguimos seguir em frente.

Nesses quase 45 anos de magistério, eu me orgulho de dizer que NUNCA tive problemas com alunos por questões didáticas, até porque eu sempre fiz questão de conhecer muito bem sobre o assunto que tinha para ensinar e por isso mesmo, como já disse: eu estudava, estudava e estudava bastante. Vou mais além, embora NUNCA tenha tido problemas, eu penso que, se por acaso tivessem ocorridos alguns problemas, tenho a convicção de os meus alunos poderiam reclamar de qualquer coisa que fosse possível acontecer nas minhas aulas, menos falta de conhecimento do assunto a ser ensinado, porque sempre me preparei a contento para ministrar as minhas aulas, pois, como profissional do magistério, sempre entendi esse aspecto como sendo preponderante ao bom andamento do ensino.

Quando conheci, na faculdade, quase dois anos depois de que eu já estava ministrando aulas regulares, a minha Professora de Didática, a única Professora de Didática que tive em toda a minha vida e quando ela disse, pela primeira vez, para mim e para os meus colegas de classe que “Didática não se ensina”, pois “Didática se tem ou não se tem” e mais, que “para ser Professor é fundamental se ter Didática”, eu quase tive um colapso e fiquei temporariamente perturbado. Imaginem que eu já ministrava aulas há quase dois anos e não sabia que tinha que ter a tal da Didática. Caramba! E eu que me dedicava muito e pensava que estava fazendo a minha tarefa de professor corretamente, o que seria de meu trabalho e de toda minha ação profissional?

No entanto, com o passar das aulas de Didática, eu pude entender melhor o que ela estava querendo dizer com aquela frase contundente e aparentemente ilógica sobre sua disciplina. Na verdade ela estava se referindo ao fato de que a Didática em si não produzir conhecimento específico para ninguém, o que ela faz é propiciar a forma e os mecanismos que permitam a aquisição e a consequente transmissão desses conhecimentos.

Assim, gradativamente fui me acalmando e me restabelecendo daquele impacto negativo inicial. Ao final daquele ano, quando terminei a Disciplina de Didática eu pude claramente compreender que Didática é a maneira pela qual se transmite os conhecimentos ao aluno e cheguei à conclusão que eu fazia a minha parte, pois estudava, aprendia e procurava desenvolver mecanismos que permitissem e facilitassem aos meus alunos o entendimento da matéria que eles precisavam conhecer. Como já disse, acho que tenho feito isso bem até hoje.

Porém, ao concordar com a ideia de minha Professora de que a “Didática não se ensina”, o que se ensina é o conhecimento em si, comecei a questionar outra coisa: como alguém que não tem conhecimento pode ensinar alguma coisa a alguém? Pois então, daí para frente essa questão tem sido a minha cruz, porque além de ser professor, assim como minha Professora de Didática, eu também sou formador de outros professores e vejo que a safra de novos professores ao longo do tempo tem sido, lamentável e infelizmente, cada vez pior.

Será que está mesmo faltando Didática? Creio que não, até porque a parafernália de recursos didáticos (multimeios) que favorecem as técnicas de ensinamento e aprendizado é cada vez melhor e mais eficiente, porém, ao que parece, está faltando muito conhecimento, mormente nos professores. Lamento dizer, mas estamos investindo demais nos meios (aparelhos) e pouco nos fins (pessoas). Hoje temos muitas maneiras que nos facilitam a tarefa de trabalhar o conhecimento, mas não temos conhecimento suficiente para desenvolver essas tarefas a contento. Está faltando exatamente o conhecimento. A maioria dos professores de hoje está mais para contadores (narradores) de histórias do que para artistas criadores e aperfeiçoadores de situações, pois fazem relatos, mas não vivem, não conhecem realmente, aquilo que pregam em suas aulas.

Os “Data Shows” da vida e outros inúmeros equipamentos acessórios ao ensino, que deveriam ser ferramentas auxiliares, valiosas e algumas vezes fantásticas para permitir o bom andamento do processo de transmissão do conhecimento, passaram a ser muletas sobre as quais muitos dos professores se debruçam para poder andar. Na verdade, existem muitos professores, hoje, sem as “pernas do conhecimento”. Ou seja, o que era para ser acessório passou a ser essencial. Infelizmente, o conhecimento está no “PowerPoint” do computador e é projetado numa tela, mas não está na mente e nem no intelecto do professor e assim necessita ser lido e repetido.

Lamentavelmente eu estou cansado de ouvir a seguinte frase, oriunda de muitos professores: “sem “Data Show” eu não dou aulas”. O que é mais triste e me assusta bastante é o fato de que realmente, sem o “Data Show”, muitos deles não conseguem mesmo ministrar as suas respectivas aulas. Por que será? Será que esse é um problema da Didática? Posso estar errado, mas penso que não, não falta Didática. Penso que, na verdade, o que está faltando é conhecimento.

Aí eu volto a lembrar da minha Professora de Didática: como é possível ensinar aquilo que não se sabe? E o que é pior, como é possível avaliar, exigir e cobrar dos alunos aquilo que não se conhece? Há alguns anos atrás, por volta de 1990, eu escrevi um pensamento que está inserido na terceira página de um livro que publiquei em 1996* e que embora não traga nada de novo, acredito que precisa ser repetido aqui: “É impossível ensinar o que não se sabe. É impossível saber o que não se aprende. É impossível aprender o que não se estuda”. **

Pois é, meus amigos. Muitos professores estão precisando estudar para aprender, adquirir conhecimento e assim poder ensinar melhor. Didática não se ensina, ou se tem ou não se tem e para ser professor é fundamental que se tenha Didática. Desta maneira, para ter a Didática necessária e ser bom Professor, o conhecimento é fundamental, pois só pode passar conteúdo quem tem algum. Vamos por as mãos na massa e voltar ao tempo em que a gente estudava, estudava e estudava para aprender e consequentemente poder ensinar alguma coisa aos nossos alunos.


*LIMA, L.E.C., 1996. A Qualidade do Livro Didático no Brasil: Considerações Gerais e o Caso da Biologia, Centro Cultural Teresa D’Ávila – CCTA, Lorena, 84p.

** Esse pensamento também ficou escrito e gravado em letras grandes, como um grande mural, por muitos anos, na parede de uma escola na cidade de Taubaté (Colégio Novo Rumo), a qual infelizmente hoje não existe mais.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Este artigo foi publicado originalmente na página do autor no “site” do Recanto das Letras, em 17/05/2010, tendo o texto sido revisado, corrigido e atualizado em 28/09/2020 para esta nova publicação.

28 set 2020
A Formação Equivocada dos Professores

A Formação Equivocada dos Professores

Resumo: O título do artigo pode levar o leitor a fazer uma ideia errada do seu objetivo. Na realidade, quando se fala em formação do professor, a pretensão é a formação do profissional de Educação e de Ensino em nosso país. Na verdade, o que se pretende é chamar a atenção para a dificuldade enfrentada pelas Instituições de Ensino Superior que formam professores e por seus alunos (pretensos e futuros professores) para produzir e desenvolver profissionais de ensino capazes de atuar no mercado educacional com competência e possibilidade de desenvolver um trabalho profissional eficiente e eficaz. 


INTRODUÇÃO

Talvez o título desse artigo possa levar o leitor a fazer uma ideia errada do seu objetivo. Na realidade, quando se fala em formação do professor, a pretensão é a formação do profissional de Educação e de Ensino em nosso país. Na verdade, o que se pretende é chamar a atenção para a dificuldade enfrentada pelas Instituições de Ensino Superior que formam professores e por seus alunos (pretensos e futuros professores) para produzir e desenvolver profissionais capazes de atuar no mercado educacional com competência e com possibilidade de desenvolver um trabalho profissional eficiente e eficaz.

As evidências e a prática comum têm demonstrado que os profissionais de Educação e de Ensino são formados de maneira genérica, sem qualquer preocupação com a atividade profissional que irão exercer, principalmente com a função específica dos professores na sociedade. Essa questão é discutida nesse artigo, avaliando alguns de seus aspectos e propondo um mecanismo genérico que possa providenciar melhorias na formação dos professores.

CONSTATAÇÕES

Tenho dito em minhas palestras que: “um professor, assim como qualquer profissional, não se forma ocasionalmente e muito menos, da noite para o dia”. Isto é, não é qualquer pessoa que pode ser um professor e há de se ter uma formação específica para os indivíduos que procurem essa atividade profissional. Embora a afirmativa pareça ser óbvia, no caso dos professores isso não costuma ocorrer.

Entretanto, parece que, finalmente, o Governo Federal está começando a entender isso e resolveu investir em mecanismos que efetivamente pretendem melhorar a formação do Professor. Na outra extremidade, as Instituições de Ensino Superior (IESs) ainda estão muito aquém daquilo que se deveria preconizar como condição mínima para tal formação e a questão está muito longe de uma solução. Existem várias profissões em que as pessoas, antes de ingressar nas suas respectivas preparações, passam por testes especiais de aptidão, para ver se vão ser capazes ou não de desenvolvê-las. No caso do exercício da função de Professor, quero crer que também fosse necessário haver um teste de habilidade e aptidão. No entanto, não conheço e creio que não exista em nenhuma das IESs, qualquer prova desse tipo que avalie a aptidão para a função de professor.

Por outro lado, é sabido que ensinar também é uma arte e certamente nem todos os humanos são capazes de desenvolver essa arte. As escolas de formação de professores, também não possuem cursos específicos sobre oratória, dicção, impostação de voz e muito menos, sobre o pensamento lógico e o desenvolvimento da capacidade de argumentação, que são condições fundamentais para os professores, em todas as áreas. Também não existem diferenciações nos métodos e processos de formação nas diferentes áreas e, por exemplo, um professor de línguas certamente requer interesses e habilidades muito diferentes de um professor de ciências.

Além disso, é interessante salientar que grande parte das pessoas que atuam no ensino como professores, em todas as áreas, não têm se quer, formação pedagógica. Isto é, grande parte dos professores não são professores na realidade, são apenas pessoas que ministram aulas, mas cujas formações específicas relacionam-se com outras atividades profissionais. Isto, certamente, é um complicador maior da questão, mas não vou me ater a esse aspecto no momento.

Sempre é bom lembrar, que um professor é, antes de tudo, um comunicador, que precisa ser capaz de informar e convencer. É necessário que o professor tenha crédito (confiança) de seus alunos, se não o aprendizado não será possível. Sem comunicação não há convencimento, sem convencimento não há aprendizado e sem aprendizado não há ensino. Ninguém aprende o que não quer e o professor, principalmente nos últimos tempos, tem que ajudar o aluno a querer aprender. A concorrência é muito difícil, pois hoje existem muito mais coisas que agradam os alunos do que umas “simples” aulas.

O professor é um “comerciante de palavras e ideias” e tem que estar preparado para convencer seu freguês (o aluno), vender o seu produto (a informação) e garantir a sua empresa (a escola) e o seu trabalho (a educação). Para tanto, ele deve usar todos os recursos disponíveis, mas precisa estar preparado para isso. Quer dizer, a formação dos professores necessita ser mais bem trabalhada, tanto pelas autoridades constituídas na área educacional, como pelas IESs e principalmente pelo próprio estudante que vislumbra ser um Professor e está cursando uma Licenciatura.

O Governo Federal, através da Resolução do CNE/CP Nº 2 de 19/02/2002, deu um novo enfoque à questão, o qual é oportuno e muito bem-vindo. Entretanto, ainda é pouco, pois a questão precisa ser entendida e digerida de maneira melhor pelas instituições de ensino que cuidam da formação dos professores, a fim de que sua aplicabilidade possa ser efetiva.

OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS

Muito tem sido falado acerca dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), os quais são, certamente, um grande avanço no ensino do país e estão aí para serem usados pelos professores na orientação e na composição dos conteúdos a serem ministrados aos seus respectivos alunos. Entretanto, os PCNs não fazem milagres e ainda não existem parâmetros para a formação dos Professores. Talvez seja isso mesmo que esteja faltando, isto é, PCNs específicos visando orientar a formação de Professores e Educadores, nos quais estejam previstas todas as possibilidades de tratar e de esclarecer aos interessados, qual a melhor maneira de informar sobre determinado assunto, em dada situação.

Como essa ferramenta ainda não existe, infelizmente, cada IES faz, praticamente, aquilo que quer fazer, no que diz respeito às Licenciaturas e à formação dos profissionais de ensino que diplomam e lançam no mercado de trabalho anualmente. Cabe lembrar aqui, que o Mercado de Trabalho para Professor é praticamente inesgotável e está sempre deficitário, ou seja, há empregos para Professores sobrando nesse país e cada Professor formado é um novo empregado automaticamente.

Vejam bem investir num profissional de Educação de melhor qualidade é investir numa melhor qualidade de todos os outros setores, pois todos dependem de professores, principalmente nos níveis básicos de formação. Mas, é precisamente nesses níveis em que a situação é mais caótica e, portanto, precisa ser mais bem trabalhada. Em síntese, pensar em PCNs para a formação dos Professores não é uma coisa tão absurda como muitos poderiam estar pensando.

Em suma, a formação de professores tem sido uma verdadeira Torre de Babel e temos visto quadros lamentáveis, com referência à formação dos professores por causa desta falta de ação metodológica definida. É preciso que sejam tomadas atitudes urgentes para que se possa modificar o atual quadro.

Ensina-se ao professor o que ele deverá ensinar, através dos PCNs, porém não se ensina como ele deverá aprender aquilo que deverá ensinar e, muito menos, como ele deverá ensinar aquele conteúdo.

Ou seja, há um hiato entre o ideal e a ação na aplicabilidade dos PCNs. Essa falha precisa ser urgentemente compensada para a eficácia na utilização dos programas. Até porque, a contextualização tão requisitada pelos PCNs, depende de conhecimento e principalmente de vivência educacional (prática de ensino) que os professores, na maioria das vezes, saem da escola sem ter e que quando têm, não sabem como aplicá-la no processo didático-pedagógico.

Sendo assim, como o conhecimento é diferente e o entendimento mais diferente ainda, de professor para professor, as suas respectivas formações acabam sendo muito deficientes, pois as escolas não podem fazer um curso para cada indivíduo. Por outro lado, como há uma carência generalizada de professores no país, temos que formar mais gente nessa área e vamos empurrando o absurdo com a barriga. Com isso, a Educação, que já não anda muito bem, fica pior e os alunos tendem a ser cada vez mais mal formados, pois os seus professores também não são formados devidamente.

Infelizmente, o ciclo vicioso apresentado no quadro descrito acima é verdadeiro e precisamos desenvolver mecanismos para mudá-lo, em benefício do ensino e da educação como um todo. Mas, como fazer? Esta é a grande questão. Sabemos onde está o problema, mas continuamos com ele, pois não temos orientação de um mecanismo que permita resolvê-lo. A Base Nacional Curricular Comum (BNCC) publicada no início de 2020 atentou-se para essa necessidade e tentou minimizar essas dificuldades, mas ainda é cedo para que se possa fazer uma efetiva determinação do resultado alcançado.

UMA POSSÍVEL PROPOSTA DE RESOLUÇÃO

Sou de opinião e quero deixar claro que estou apenas dando uma opinião, pois não sou especialista no assunto, tenho apenas alguma sensibilidade sobre a questão e gostaria de tentar ajudar a resolvê-la. Penso que é preciso que se desenvolvam programas modelos e padrões metodológicos regionalizados que permitam formar professores habilitados nas diferentes áreas, de acordo com a real situação em que vivem, isto é, contextualizados (regionalizados).

As questões gerais da região devem ser abordadas como problemas gerais de cada disciplina e devem ter resoluções específicas em cada uma delas e esses temas devem ser trabalhados pelas IESs nos seus diferentes cursos de formação de professores. Obviamente, esses problemas devem estar diretamente associados com os conteúdos específicos das diferentes disciplinas. As questões nacionais e mesmo as internacionais devem ser focos para discussões comparativas, mas não devem ser as mais importantes no que tange à formação dos professores.

Vejam bem, não estou dizendo para que sejam esquecidas as questões que não são regionais. Estou sim, dizendo que estas questões deverão ser tratadas de forma menos abrangente e mais superficial, até porque o cotidiano da informação é uma obrigação dos professores e cada um deverá, a seu modo, procurar se informar. A ecleticidade, além de ser muito bem-vinda, para qualquer profissional, deveria ser uma característica fundamental aos professores em especial. Porém, não é a escola que deve formar ecléticos, até porque ela não tem como fazer isso.

A escola deve sim, preparar os futuros professores que está produzindo, a partir da realidade próxima (do seu entorno) e orientá-los, no sentido de que busquem a sua melhor formação e seu aprimoramento sociocultural, a fim de que possam desenvolver ao máximo o seu intelecto e a sua capacidade cognitiva. A ecleticidade é uma necessidade que o Professor deve obter, a partir de suas próprias experiências e de seus próprios interesses.

Esse é um outro aspecto fundamental que precisa estar evidente nos pretensos candidatos a Professores. Ninguém, que não goste de estudar, deve ensinar, até porque eu entendo que uma coisa puxa a outra. A Educação e o Ensino devem ser realizados por pessoas habilitadas, mas antes disso, por pessoas interessadas em Educação, preocupadas com o Ensino, envolvidas com a aprendizagem e, principalmente, felizes com a função (condição) de Professor (Educador).

Essa é outra questão que existe no cenário nacional e que depõem contra o que se quer, pois grande parte dos professores não está satisfeita com a função que exerce, outra parte nem mesmo é habilitada como Professor e apenas “quebra um galho” dando aulas, outra parte ainda, é composta por pessoas que por estarem desempregadas assumem a regência de determinadas turmas e vão dar aulas daquilo que não sabem o que é, mas juram que irão aprender. O tempo passa, o provisório fica efetivo e o que se ia aprender, na verdade, nem se estudou e o diabo fica cada vez mais feio. Enfim, está tudo errado nesse aspecto, mas vamos voltar ao assunto anterior.

Aprender, além de ser uma condição fundamental para poder saber mais e ensinar melhor é sempre uma experiência interessante, enriquecedora e extremamente benéfica, pois satisfaz ao ego e a saúde como um todo. No que diz respeito ao Professor, aprender é uma experiência fundamental. O Professor tem que ser, antes de tudo, uma pessoa que possua cultura e, para tanto, deve estar sempre buscando novas informações.

Todo Professor tem que ter consciência desse fato para explorá-lo e praticá-lo diuturnamente, até porque a formação do professor continua por toda a sua vida e aprender será sua missão eterna. O conhecimento é ilimitado e a geração de novos conhecimentos é infinita. Sendo assim, sempre haverá algo novo para ser aprendido sobre determinado assunto e o Professor tem que se manter atualizado ad eternum. Desta forma, estudar é fundamental para poder aprender e consequentemente, para poder ensinar.

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR (IESs)

No que se refere às IESs, há dois aspectos fundamentais que precisam ser considerados: o primeiro está relacionado ao dimensionamento desses cursos que variam no tempo e no espaço mais do que a velocidade de um carro de fórmula 1 e o segundo diz respeito ao tipo de curso de formação de professores que elas desenvolvem. No primeiro caso, a situação é muito complicada, pois existem cursos que variam desde 1 ano, com aulas só aos sábados (devem ser cursos para Santos, porque para mim isso é milagre), de 2 anos (meio milagre), de 3 anos (quase milagre, mas dependem de muita fé) e de 4 anos. Nesses últimos é possível fazer um trabalho de razoável a bom, mas, ainda assim, é pouco tempo para formar um professor.

No segundo caso, embora haja muitas variantes, existem alguns cursos que não chegam a ser terríveis e outros até bem razoáveis. O problema está na maneira de agir da IES, quando esta é uma instituição efetivamente interessada na formação de professores e encara este processo dentro da realidade brasileira e da necessidade local, acabam existindo cursos de bom nível. Por outro lado, se a IES resolver continuar a se preocupar primariamente com questões econômicas e com fatores externos (não regionalizados) na formação do professor, aí mesmo é que ela se mantém na condição de não formar ninguém. O conhecimento humano cresce assustadoramente a cada dia e as escolas e mesmo os bons professores, por mais que tentem, não conseguem acompanhá-lo efetivamente.

A função das IESs, além de diminuir o hiato entre o conhecimento de ontem, de hoje e do futuro, é dar uma boa base específica na disciplina pretendida pelo futuro professor, destacando os princípios fundamentais das diferentes áreas de interesse e um bom treinamento na habilidade de ensinar e de relacionar com pessoas, seus futuros alunos ou não, dentro e fora das escolas. É claro que as informações, tanto às novas, quanto às velhas, devem ser contextualizadas e por isso a regionalização delas é fundamental. A realidade regional deve ser a premissa de toda atividade educacional, pois este é o mais próximo e mais direto contato do professor. Isto é, a realidade regional é a sua própria realidade, aí ele vive, aí ele tem que aprender e aí ele deverá ensinar.

A formação específica nas diferentes disciplinas, mal ou bem, sempre foi feita, o treinamento como professor e a contextualização das informações é que ficaram condicionados a um segundo plano. Na maioria das vezes, esses itens acabam não existindo, porque eles nunca foram considerados importantes e o professor se forma totalmente fora da realidade educacional, sem nenhuma experiência de sala de aula, do contato com os alunos e, principalmente, desinformado da necessidade regional, pois desconhece o local onde vive e os problemas que têm maior significado para ele e para a comunidade escola que ele irá encontrar pela frente. Isto é, o professor tem sido formado sem uma preparação específica como educador, fora da realidade local e sem nenhuma contextualização do conhecimento que lhe foi passado. Desta forma, este “professor” é lançado no Mercado de Trabalho e vai “ensinar”. Ora, a Educação não pode ser melhor, se o problema continuar dessa maneira.

É preciso que as IESs resolvam investir um pouco mais nos cursos de Formação de Professores, para evitar esses grandes saltos de qualidade que existem entre elas. Que fique claro, investir nesse caso não é obrigatoriamente gastar mais dinheiro, mas é criar mecanismos diferenciados utilizando a criatividade e principalmente a competência do seu corpo docente, ouvindo os mais influentes profissionalmente e os mais preocupados com o processo e não somente os “superiores”.

Em geral, soluções simples costumam trazer resultados melhores do que grandes projetos. Algumas vezes são desenvolvidos projetos faraônicos, apenas porque “alguém” sugeriu, em detrimento de excelentes ideias que funcionariam muito mais e cujos resultados seriam muito melhores. As IESs devem estar atentas para poder trabalhar bem essas questões e não gastar dinheiro desnecessariamente.

O PAPEL DOS PODERES PÚBLICOS

A questão da contextualização do ensino aqui no Brasil é muito séria, pois somos um país continental que apresenta peculiaridades regionais divergentes e bastante significativas. Além disso, há muita migração, tanto de professores, quanto de estudantes e às vezes é muito difícil contextualizar efetivamente as coisas, mas, no que tange à Educação é preciso que seja feito um esforço adicional para que se consiga atingir esse intento. Tive oportunidade de escrever sobre esse assunto (LIMA,2018), considerando a Educação Ambiental como principal referência da questão.

Muitas vezes os futuros professores saem de uma região e vão estudar em outra e, posteriormente voltam para a região anterior para ensinar aquilo que aprenderam na região onde se formaram. Obviamente isso é muito ruim, pois geralmente há significativas diferenças entre as duas regiões. Pior ainda, é quando o Professor nascido e formado numa determinada região vai trabalhar em outra totalmente diferente, como foi o meu caso.

Às vezes, até a língua, ou melhor, a linguagem, a forma de falar e o sotaque são diferentes e, obviamente a comunicação e o entendimento acabam ficando mais difíceis. Os alunos desses professores ficam perdidos e não conseguem contextualizar as informações porque elas estão fora da realidade regional, pelo menos no contexto linguístico. Mas, nada disso é capaz de justificar a não regionalização como princípio efetivo e apropriado para a contextualização.

Eu mesmo sofri esse tipo de problema quando vim para a região do Vale do Paraíba do Sul dar aulas de Zoologia na Universidade de Taubaté, em 1980. Alguns dos nomes vulgares atribuídos aos animais eram bastante diferentes daqueles pelos quais eu os conhecia lá na cidade do Rio de Janeiro e veja que são menos de trezentos quilômetros de distância entre as duas cidades. O pior de tudo é que os alunos não admitiam que eu, Professor de Zoologia, não conhecesse aqueles animais (os nomes populares daqueles animais) tão conhecidos para eles. Que tipo de professor era eu, que não era capaz de reconhecer e identificar animais tão comuns?

Hoje, 40 anos depois, já estou totalmente inserido na região e obviamente não tenho mais desses problemas. Entretanto, tive que trabalhar e estudar muito para aprender. Imaginem, então, quando as distâncias são maiores o que pode acontecer. Eu me regionalizei (conheci a região, os seus problemas e soluções) e aprendi, mas isso só foi possível porque estudei, porque resolvi ficar na região e porque gosto do que faço e queria ampliar os meus conhecimentos regionais, para poder contextualizar minhas aulas para os meus alunos. Entretanto, a minha realidade não precisa ser a realidade de todos os professores.

Bom, eu sei que será difícil, mas, de qualquer forma, é fundamental que se comece a pensar mais seriamente na questão da formação regionalizada (contextualizada) dos professores, que a educação desse país tanto necessita, pois do contrário, ainda iremos sofrer muito para alcançar o local que merecemos no cenário internacional. O Brasil não pode esperar mais para ser o principal país do mundo, entretanto há de se lembrar que sem educação não há solução e sem professor não se faz educação.

Sendo assim, urge que os Poderes constituídos, nas três esferas, passem a pensar a profissão de professor como o caminho mais efetivo e eficiente para o desenvolvimento do país. Ainda, que dando apenas um palpite, estou convencido da necessidade da contextualização do ensino e tenho certeza de que a resolução desse problema está diretamente ligada à regionalização. Todos os problemas desse país se resumem a uma só causa: a nossa falta de educação generalizada. Só resolveremos os problemas se resolvermos à causa dos problemas. Para corte do cabelo, usa-se o barbeiro, para roupa rasgada usa-se a costureira, para dor de dentes usa-se o dentista, para defesa jurídica usa-se o advogado, para doenças usa-se o médico.

Enfim, para cada coisa tem um profissional específico capaz de resolvê-la. Pois é, então para falta de Educação só se pode usar o Professor e esse professor tem que estar em totais condições de informar e de formar cidadãos críticos, capazes e conscientes da importância que têm no desenvolvimento do país. Entretanto, do jeito que a coisa anda, está cada vez mais difícil, pois não estamos formando o Professor que o país necessita. E o pior é que está parecendo que não estamos nos importando muito com esse fato.

Recentemente vimos os jornais noticiando que algumas IES da capital paulista estiveram dispensando os seus Professores Doutores e contratando Professores com qualificação inferior, pois estes últimos custam mais barato às instituições. Ora, esse é o caminho do absurdo e assim além de não resolvermos os problemas que já temos, estaremos também, arrumando outros bem maiores, quando esquecemos que educação não tem preço e que por isso mesmo deve estar dissociada de questões puramente econômicas.

É preciso que se tenha professor de qualidade sob todos os aspectos. Não basta apenas formar melhores professores, esta é somente a ação inicial, é necessário também que a profissão resgate a sua credibilidade e a sua autoridade perante a comunidade, em particular o público jovem que frequenta as escolas. As condições infra estruturais da educação e, principalmente, os salários dos professores devem ser condizentes com a qualificação que esses profissionais precisam passar a ter. E a qualificação dos Professores deve ser efetivamente premiada, até mesmo para motivá-los a investir em sua formação e aprimoramento. Professores melhores certamente representam escolas melhores, alunos melhores e uma Educação melhor.

Lamentavelmente, hoje qualquer um está sendo capaz de “dar aulas” e a profissão de Professor virou motivo de chacota, pois perdeu a sua identidade profissional e há efetivamente poucos Professores no Mercado de Trabalho, embora haja muita gente dando aulas.

CONCLUSÃO

Se o País quer mudar e quer crescer, então é preciso reverter esse quadro. Para começar, poderia colocar “Verdadeiros Professores” nas salas ministrando aulas e tentando ensinar aos futuros professores. Desta maneira, é fundamental que esses professores sejam pessoas capazes, com cultura suficiente, não só para informar sobre suas respectivas disciplinas, mas principalmente para formar novos professores. Para tanto, quero crer que a minha proposta de regionalizar o mais possível os cursos de Pedagogia e as Licenciaturas existentes no país possa ser o pontapé inicial.

A grande dimensão geográfica do Brasil, aliada à sua imensa diversidade cultural, social e natural me permite afirmar que se a regionalização não é o melhor caminho, certamente é um caminho bastante viável e que certamente trará resultados positivos à formação dos professores em curto prazo e obviamente à educação como um todo em médio prazo. Precisamos formar professores que sejam mais que simples passadores de informações e repetidores daquilo que não conhecem e, principalmente, que não vivem.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 9394/96 (Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Ministério da Educação, Brasília, 1996.

*BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries), Ministério da Educação, Secretaria da Educação Média e Tecnológica, Brasília, 174 p., il.,1998.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio, Ministério da Educação, Secretaria da Educação Média e Tecnológica, Brasília, 364 p., il.,1999.

BRASIL. Resolução do Conselho Nacional de Educação /CP Nº 2 de 19/02/2002, Ministério da Educação, Brasília, 2002.

*BRASIL. Base Nacional Curricular Comum: Educação é a Base, Ministério da Educação, Brasília, 596 p., 2020.

LIMA. LUIZ EDUARDO, C., Particularidades do Ensino de Ciências, Ângulo, Lorena, (107): 01- 05, 2006.

*LIMA. LUIZ EDUARDO, C., Contextualização e Regionalização da Educação Ambiental, www.profluizeduardo.com.br , 30/04/2018.

SCHWARTZMAN, SIMON, Educação: a Nova Geração de Reformas In Giambiagi, Fabio; Reis, José Guilherme; Urani, André (org.), Reformas no Brasil: Balanço e Agenda – Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira (2004).


Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)

*Não consta na listagem da publicação original.
***Este artigo foi publicado originalmente na página do autor no “site” do Recanto das Letras, em 01/09/2008, tendo o texto sido revisado, corrigido e atualizado em 28/09/2020 para esta nova publicação.
21 nov 2019
Porque a Educação é a única solução do país.

Porque a Educação é a única solução do país.

Resumo: Este texto tenta demonstrar que o grande problema do Brasil é a falta quase generalizada de Educação do povo brasileiro que acontece por questões puramente políticas e conclama a nação brasileira consciente a tomar as rédeas e assumir a grande revolução educacional que precisa ser feita no Brasil para o bem nacional presente e futuro.  


Existe um velho chavão, porém, mais que isso, uma grande verdade que diz: “sem educação não há solução”. Entretanto a postura política e administrativa das autoridades e governantes brasileiros, ao longo da história, tem sido apenas a de repetir o chavão, porém esquecendo da verdade que ele contém, porque não há envolvimento, de fato, e nem interesse em demonstrar essa realidade, para tentar mudar a cara do país. Infelizmente a Educação não tem sido, nem de longe, prioridade para os diferentes administradores brasileiros, ao longo da história contemporânea desse país.

O propósito desse pequeno artigo é exatamente tentar explicar às autoridades constituídas no Brasil, que a frase acima não é apenas um chavão para ser repetido, mas sim uma verdade e que a verdade contida na frase é uma tarefa que precisa ser assumida e cumprida por todos os administradores públicos e seguida pela sociedade brasileira. A Educação tem que ser uma busca constante de qualquer coletividade e uma obrigação efetiva das autoridades no país, assim ela precisa ser privilegiada na aplicação dos recursos públicos. É preciso entender de uma vez por todas que todo e qualquer recurso utilizado na educação não significa custo, mas sim investimento, porque a Educação sempre traz retorno.

Dito isso, vamos aos porquês que, imagino eu, possam esclarecer melhor que o velho chavão, a verdadeira necessidade da educação, para que todos, principalmente os administradores e políticos desse país, possam entender.

1 – Uma pessoa educada é uma pessoa de fato, já uma pessoa não educada não pode se distinguir muito de outros organismos vivos, porque apenas vive e praticamente age por instintos, tentando suprir suas necessidades vitais e não por consciência e reflexão nas suas ações.

2 – Quem tem educação pode perceber a realidade histórica do mundo à sua volta e discernir entre o certo e o errado, as mentiras e as verdades, que são ditas por aí. Pode até fazer confusão, mas sempre terá o direito de escolher a sua opção. Os erros ou acertos conscientes são bem diferentes daqueles produzidos por ação dos outros, através de massificação. A pessoa educada não age como marionete, a não ser que queira.

3 – “Somente a educação liberta a pessoa”. Acredito que essa seja uma frase tão verdadeira quanto o surgimento de um novo dia após cada noite. O problema é que as informações e os “ensinamentos” de áreas que são apresentados às pessoas, por conta de uma mídia safada e infeliz, mostra que as coisas erradas podem e devem prosperar em relação as coisas certas. Não vou dar exemplos, para que não digam que estou sendo preconceituoso ou até mesmo partidário, mas os educados sabem muitos exemplos do que estou falando.

4 – A educação liberta a pessoa, porque o sonho efetivo da liberdade só existe mesmo, para quem tem a verdadeira dimensão do que seja a liberdade e isso só é possível de se estabelecer à luz da educação. O ser humano só é livre quando tem capacidade de escolha e só a educação permite o desenvolvimento consciente dessa capacidade.

5 – O sujeito possuidor de educação pode tudo, obviamente dentro da lei, mas o sujeito carente de educação, nem imagina o que pode, o quanto pode e nem sabe que existem leis impostas pela sociedade. Esse sujeito é digno de pena, pois vive à margem da sociedade e muitas vezes não sabe mesmo o que faz.

6 – Se o país quer crescer, antes de tudo, é preciso educar o seu povo. A Educação é uma causa de interesse nacional. A história de inúmeros povos ao redor do mundo está aí para provar essa verdade, apenas os políticos e administradores brasileiros não conseguem (querem) enxergar isso e preferem manter o status quo para garantir suas falcatruas e maracutaias.

7 – Friamente, dos mais de 210 milhões de brasileiros, estatísticas a parte, pelo menos, metade desse contingente é composto de analfabetos e de analfabetos funcionais. Como é possível falar em desenvolvimento e sustentabilidade para uma população com esse contingente educacional tão pífio?

8 – Um país só será realmente capaz de crescer sustentavelmente, quando sua população for efetiva e suficientemente educada, para entender a importância desse crescimento. Não sendo assim, quando muito, continuará apenas recebendo as benesses interesseiras dos “países amigos” que querem mantê-lo nessa condição inferior.

9 – No Brasil tudo é grande: a área geográfica, a população, a biodiversidade, os recursos hídricos e inúmeras outras coisas, inclusive a falta generalizada de educação e principalmente o egoísmo e a sem-vergonhice dos políticos e administradores públicos. Só mudaremos esses últimos itens se educarmos à população.

10 – Ou saímos do marasmo, acabando com esse ranço e investindo pesada e maciçamente na educação de nosso povo, ou estamos fadados a sermos uma eterna colônia dos países desenvolvidos e marionetes nas mãos dos países ricos e de alguns políticos safados, que historicamente comandam, usando e abusando das pessoas e das instituições desse país.

Enfim, o Brasil tem jeito, mas o país e sua gente estão à mercê de um complô de picaretas que assumiram o poder há décadas e que querem manter o “status quo” da ignorância nacional, para continuar fazendo farra com a coisa pública. Está na hora de darmos um basta nesse negócio e tratar o país e a nação brasileira como merecem. Entretanto, isso só acontecerá se o povo for educado o suficiente para entender que essa é uma grande necessidade nacional. Enquanto a educação for tratada como uma coisa vulgar, um mero encargo, mais um simples problema social, ou ainda, um setor ocasional e pouco importante que existe na administração pública, infelizmente não sairemos desse marasmo histórico e até aqui crônico.

É preciso entender que a cura para todos os problemas nacionais está na educação. A educação é a única prioridade, pois todas as demais coisas dependem dela. Não existe nenhuma maneira de resolver as questões públicas, TODAS ELAS, sem educação. Por conta disso é que precisamos entender que realmente: “sem educação não há (não houve e nunca haverá) solução”. Senhores políticos, tomem vergonha na cara e parem de brincar com o Brasil.

Meu amigo leitor, você que faz parte daquela metade que não é analfabeta funcional, por favor, exerça a sua função de  cidadão de bem e ajude a trabalhar em prol da educação da outra metade brasileira viva, que ainda não entendeu o óbvio e também daqueles tantos brasileiros que certamente ainda nem nasceram e que precisarão de um país melhor mais educado e estabelecido para viver. Afinal esses futuros brasileiros não devem pagar a conta por aquilo que nós e outras gerações anteriores deixamos de fazer.

Pensem nesse aspecto e façam as suas respectivas partes, porque isso não custa nada e o Brasil, a nação brasileira atual e futura, antecipadamente agradecem. Os futuros brasileiros, dentre esses, os meus e os seus netos e bisnetos, só poderão ser mais felizes se forem mais bem-educados e para isso temos que fazer a nossa parte hoje. Basta de burocracia e enrolação, está na hora da verdadeira educação.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)

10 ago 2019
Educação, Meio Ambiente, Educação Ambiental, Recursos Naturais, Consumismo.

Educação e Meio Ambiente: dois assuntos e uma abordagem

Resumo: Desta vez estou trazendo um texto reflexivo, através de uma crítica, a meu ver necessária, aos mecanismos que têm sido utilizados como modelos de Educação Ambiental. Esses modelos precisam ser repensados, pois na verdade eles estão progressivamente colaborando para que os recursos naturais continuem sendo explorados sem critério ou de maneira indevida


Se houver uma necessidade objetiva e real de se identificar e de definir qual é a área do conhecimento mais prioritária à formação e ao desenvolvimento humano, certamente haverá um consenso de que esta é a área da Educação. Por outro lado, se também houver uma necessidade real e objetiva de se identificar e de definir qual é a área mais importante para a manutenção dos padrões de segurança e de qualidade de vida dos organismos e dos grandes ecossistemas planetários, obviamente também haverá um consenso de que esta é a área do Meio Ambiente.

Na verdade, essas duas áreas compreendem todos os grandes problemas humanos, pois tudo decorre dessas duas bases operacionais. Ou não se tem educação e assim não se sabe tratar o meio ambiente, ou não se trata devidamente o meio ambiente porque se desconhece a educação. Embora, aparente mente distintas, essas duas áreas são extremamente associadas e conseguem unidas responder por todos as questões pendentes e preocupantes da humanidade ao longo da história.

A Educação é muito antiga, sendo entendida como necessária desde o surgimento da humanidade. Ensinar e aprender são verbos obrigatoriamente presente em todas as atividades humanas e tanto os progressos como os retrocessos humanos, obviamente são frutos da educação ao longo da existência da humanidade. Já o meio ambiente é um aspecto novo que começou a ser colocado formalmente dentro dos parâmetros humanitários nos últimos 50 anos e de repente se espalhou e se misturou por todas as atividades humanas.

Há alguns anos foi criado um termo, muito em moda na atualidade, Educação Ambiental, cujo intuito era o de tentar associar a educação ao meio ambiente, mas sempre se reduziu essa ideia a meras formalidades e situações específicas e, na verdade, a Educação Ambiental continua sendo, até aqui, muito artificial, porque ela se ocupa de situações problemáticas específicas e locais. Entretanto, o mundo hoje é globalizado e não adianta eu me referir a determinado caso de um determinado setor de uma certa localidade, porque isso não é educativo e muito menos é ambientalmente correto. A educação tem que ser preventiva e o meio ambiente tem que estar também previamente prevenido das ações antrópicas potencialmente causadoras de dano.

Quer dizer, não adianta se desenvolver um programa sobre uma questão localizada qualquer. Há necessidade de que se trate o problema de maneira genérica, projetando uma maneira desse problema não ter como existir. O planeta é um só e as demais entidades vivas sobre o planeta, inclusive e preferencialmente os humanos, precisam estar propensos a ter boa qualidade de vida em qualquer lugar ou situação da Terra. Se não for assim, não se está devidamente educado e tampouco está se cuidando do meio ambiente da maneira correta. Em suma, o termo Educação Ambiental, acaba não sendo, nem educação e nem meio ambiente, apenas se ocupa das duas áreas para justificar um determinado problema. Portanto, essa ideia de Educação Ambiental é pequena para a necessidade e muito pouco abrangente para a necessidade real.

Quando se está falando de Educação existe a preocupação de que se esteja instruindo, guiando, ensinando. A palavra Educação vem do latim educere (ex + ducere), que significa “guiar para fora”, ou seja, conduzir para além das necessidades próximas, ou melhor, instruir para resolver outros problemas. No seu sentido mais amplo a palavra quer dizer: “levar uma pessoa para fora” de si mesma, mostrar o que mais existe além dela.

A expressão Meio Ambiente, que é uma redundância e um pleonasmo, “o meio do meio” ou o “ambiente do ambiente”, porque meio e ambiente, em certo sentido são palavras sinônimas, ou seja, têm exatamente o mesmo significado. Ambas as palavras que compõem a expressão, também vem do latim ambiens, que significa “andar ao redor” ou “ir em volta” e medius, que significa “meio” ou “lugar acessível a todos”. Talvez um termo apenas, como no idioma inglês, environment, fosse mais correto. Mas, nós não vamos discutir etimologia aqui, até porque a noção geral da expressão parece ser bem clara a todos.  

Então, a educação visa “guiar para fora”, o ambiente visa “andar ao redor”, ambos conceitos que saem do indivíduo e que dizem respeito ao seu exterior, objetivando exatamente o entendimento do que está fora. Desta maneira, eu não posso fazer Educação Ambiental apenas daquilo que está no meu entorno, se o mundo é muito maior e mais abrangente do que o meu limite físico. Certamente um exemplo pode será mais bem interpretado.

Imagine que você é um professor de Educação Ambiental e trabalhou a coleta do lixo e a reciclagem, aliás esse é efetivamente um tema muito comum, nessa chamada educação ambiental. Durante sua aula você demonstrou que a latinha de alumínio é um resíduo que pode ser reciclado e recolocado na produção, para tanto é necessário apenas quer alguém que coleta as latinhas usadas. Desculpe-me, mas não há nenhuma educação e muito menos ambiental nesse fato.

Ao contrário, existe sim um fato lamentável, que demonstra que o alumínio é reciclável e que   usar as latinhas de alumínio é algo legal porque gera “emprego” para alguém. Aliás, existe até algumas pessoas que pensam (se iludem) e juram que reciclar é um bom negócio porque dá lucro.  Então, está tudo errado e eu vou pontuar alguns dos motivos, porque está errado.

1 – Reciclar não dá lucro, quando muito, consegue diminuir o prejuízo de alguém e permite o lucro para outro alguém, mas de qualquer maneira a perda para quem produziu, no caso a natureza, sempre é maior do que o lucro de quem usou e vendeu, de quem reciclou e revendeu (“ganhou”).

2 – Reciclável ou não a latinha de alumínio é um produto oriundo da alumina (óxido de alumínio) que é o principal componente bauxita, que é o principal minério formador do alumínio. Portanto o alumínio é um recurso natural não renovável e como tal, depois de retirado da natureza não há como retorná-lo à condição inicial. Desta maneira sua exploração não deve ser incentivada, pois à hora que acabar, simplesmente acabou.

3 – Não há nada de interessante na utilização constante e predatória de um recurso natural não renovável, principalmente quando existem alternativas cabíveis para resolver o mesmo problema, a custos ambientais e muitas vezes também econômicos, mais vantajosos.

4 – Reciclar é bom e necessário, pois reaproveita material, diminui custos energéticos e outros. Entretanto, reciclar não é fundamental para o meio ambiente, antes é melhor repensar certas práticas e certos usos de determinados recursos. As tecnologias e os usos alternativos, além de produzirem um desincentivo cada vez maior ao consumo de recursos naturais, devem ser as verdadeiras orientações e premissas básicas da Educação Ambiental.

5 – Por fim, não se deve partir para falar de Educação Ambiental já assumindo a reciclagem como uma prioridade, pois as prioridades educacionais para o meio ambiente devem ser: não utilizar recursos indevidamente e não produzir resíduos.

A partir do exemplo dado, vejam bem que, se até houve alguma educação, não foi mito boa para o Meio Ambiente, isto é não foi Educação Ambiental. Talvez tenha sido boa educação comercial ou educação industrial ou sei lá o quê, ou ainda educação de como conseguir obter algum dinheiro com o resíduo dos outros, através da degradação do planeta. Ambientalmente então, na verdade, se estimulou para que se continue usando latinhas, porque elas vão gerar recursos para alguém. Aliás, aqui a coisa é mais complicada ainda, porque sempre se pensa, infelizmente, em alguém pobre que vai conseguir alguma coisa através do resíduo de alguém rico e isso, a meu ver é até preconceituoso e deveria ser evitado.

Quero crer que haveria educação se fosse informado e trabalhado o fato de que o uso do alumínio é apenas conveniente para quem vende o produto e que o custo da lata já está inserido no referido produto, portanto não houve perda econômica, houve apenas perda ambiental. Por outro lado, deve ser dito também que o lixo (resíduo produzido), isto é, a latinha, que pode dar lucro para alguém, acaba, infelizmente, atraindo as pessoas mais necessitadas ou menos esclarecidas e indiretamente intensificando mais a desqualificação profissional e prejudicando o desenvolvimento de outras formações e profissões, que talvez possam produzir melhores salários às pessoas.

O melhor lugar para a bauxita, assim como de qualquer recurso natural, é onde ela se formou, isto é, na própria natureza. Se o homem decidiu se apropriar e utilizar a bauxita porque esse é um tipo de minério interessante, que se presta a vários produtos de interesse humano, então que o seu uso seja exatamente do mesmo tamanho de sua necessidade e que não haja excesso na sua exploração. A sustentabilidade é um conceito que deve fazer parte primária de qualquer ação ligada à questão ambiental e a Educação Ambiental, para cumprir seu propósito de maneira efetiva, não pode deixar a sustentabilidade de lado.

O consumo exacerbado não cabe dentro do conceito de sustentabilidade e os humanos que ainda não nasceram têm tanto direito de usar a bauxita quanto nós temos, mas se o uso continuar do jeito que está, eles só poderão conhecer o minério bauxita num Museu de História Natural. Mas, isso também só será possível se alguém lembrar de guardar uma porção de bauxita para tal fim. Muitos recursos naturais não renováveis já não existem mais na natureza e nem estão presentes na maioria dos museus.

Mas, vejam bem, me utilizei de um recurso natural não renovável como exemplo, mas eu também poderia utilizar de exemplo um recurso natural renovável. Por exemplo o Jacarandá-da-Bahia é (ou era) uma árvore frondosa, de madeira nobre e dura, bastante utilizada na indústria moveleira e na construção civil. Pois então, por conta de seu uso indiscriminado está em processo crônico de extinção na natureza e já desapareceu totalmente em alguns estados, como São Paulo, por exemplo. Restam poucas áreas no estado da Bahia e praticamente desapareceu no restante do Leste brasileiro. Primitivamente, ocorria de Pernambuco até o Paraná. Será que o neto do seu filho será capaz de ver um Jacarandá na natureza?

A Educação Ambiental deveria ensinar primeiro o que é o Jacarandá-da-Bahia como espécie de planta, depois dizer como manter a espécie e da importância das reservas naturais da espécie por questões biológicas e só depois deveria falar de sua utilidade paro o interesse humano. Mas, infelizmente não é assim que se costuma proceder e por isso progressivamente espécies são extintas, tanto as espécies vegetais, como é o caso do Jacarandá, mas, principalmente, as espécies animais, que estão por aí, sendo dizimadas sem nenhum critério, para atender a vontades infundadas e utilidades indevidas (algumas vezes absurdas) de quem quer que seja.

Já passou da hora de brincar com Educação Ambiental. Está na hora de fazer coisa séria, entendendo que educação é um processo genérico e que o meio ambiente é diferente de um local para o outro, mas que qualquer local é um meio ambiente e que há necessidade de uma maneira devida e certa de tratar com esse local. Entretanto, é preciso estar claro que essa maneira não pode e não deve ser a mesma em locais diferentes, exatamente porque esses locais são diferentes, a dinâmica é diferente, os organismos são diferentes as condições físicas e químicas são diferentes. E mesmo nas cidades ou nas indústrias, os mecanismos e os processos são diferentes e assim o procedimento em cada caso deve e tem que ser diferente. A Educação ambiental deve levantar e discutir os problemas, mas para resolvê-los, cada situação será uma situação e assim, terá certamente uma resposta diferente.

Não é possível tratar educação e meio ambiente isoladamente ou apenas como causa e efeito de um processo local. O ambiente é teoricamente tudo e a educação teoricamente tem que ser capaz de resolver ou pelo menos de pensar a cerca de tudo, pois do contrário não é educação é apenas e tão somente treinamento, ou melhor adestramento. Isto é, ensina e resolver um problema, mas não cria a possibilidade de gerar novas situações a partir daquela. No meio ambiente sempre vão existir novas situações e o homem precisa estar preparado para atendê-las da melhor maneira, sempre atentando para o fato de que a natureza e os inúmeros ambientes planetários são para todos os organismos, atuais e futuros, terem vida com qualidade.

Educação e Meio Ambiente têm que ser tratados de uma maneira globalizada, porque ainda que os interesses primários sejam locais, o interesse de qualquer questão ambiental planetário, pois atinge direta ou indiretamente todos no planeta. A educação que se presta a esse tipo de interesse planetário tem que ser interessante para toda humanidade, porque deverá servir como forma de orientação para todo e qualquer ser humano e não como simples modelo de uso de uma situação ou localidade, que necessita de uma solução momentânea.

Continuarei sendo um crítico desse modelo de Educação Ambiental que se limita a fazer curativos em situações, mas que não se preocupa de fato com a origem da doença. Precisamos pensar preventivamente antes de propor qualquer programa de Educação Ambiental. Não devemos apenas resolver problemas, a profilaxia ambiental tem que ser o objetivo primário da Educação Ambiental. Ao invés de controlar a dengue matando mosquitos, porque não ensinamos aos nossos alunos e pesquisamos o porquê da dengue não se transmitir a partir das bromélias, se elas estão cheias de água parada e repletas de larvas de mosquitos.

Quando nós partirmos para esse tipo de Educação Ambiental, que envolve o todo e não as partes isoladamente, veremos que não haverá diferença na abordagem entre a Educação e o Meio Ambiente, porque ambos estão relacionados ao cuidado com o entorno, com o que está ao redor. Mas, é bom lembrar ainda que a expressão “ao redor”, também é relativa, porque esse “ao redor” está limitado ao espaço planetário.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)

29 jul 2018

A Verdade nua e crua sobre a Educação no Brasil

Resumo: O texto em questão é uma crítica que visa chamar a atenção da sociedade, tentando identificar os atores envolvidos e suas respectivas responsabilidades sobre o lamentável estado de carência da educação brasileira. Além disso, também destaca e comenta sobre algumas experiências ocorridas que poderiam ter evitado ou, pelo menos minimizado, o atual quadro generalizado de descaso com a educação por parte de quase toda a sociedade.


A Verdade nua e crua sobre a Educação no Brasil

” A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (Constituição da República Federativa do Brasil/1988, artigo 205)   Antes de qualquer coisa, eu quero deixar bem claro que não sou advogado e muito menos estudioso do direito. Sendo assim, é bem possível que eu cometa alguns erros e diga algumas besteiras na minha dissertação, mas tenho minha maneira de pensar e vou continuar meu raciocínio assim mesmo, tentando demonstrar minha visão sobre o assunto em questão, até que alguém, talvez algum especialista em direito, possa demonstrar e me esclarecer claramente acerca dos meus erros, se, por acaso, efetivamente existirem erros no raciocínio. Todos certamente já ouviram a afirmativa que encabeça esse texto ou alguma coisa bem parecida com o seu significado e eu devo dizer que, apenas em parte, eu concordo com a tendência generalizada que a opinião pública parece ter sobre o entendimento dessa afirmativa. Concordo em parte, porque tenho ciência absoluta de que a Educação é verdadeiramente um direito de todos, entretanto, penso que a educação não é e nem pode ser uma obrigação do estado ou da família. Assumir que aquilo que todos têm como direito é obrigação de alguns (o estado e a família no caso), a meu ver, consiste num grande erro, é exatamente aquilo que algumas pessoas chamam de “lógica burra”. É óbvio que o estado e a família (muito mais que o estado) devem providenciar as condições mínimas para o estabelecimento da educação das pessoas. O estado deve investir em promover a educação da população e estimular o máximo para que toda a população se eduque, enquanto a família deve fornecer os padrões morais básicos que permitam desenvolver uma convivência social cortês e ética para os indivíduos nela nascidos, particularmente durante o período infantil desses indivíduos. Entretanto, nem o estado e nem mesmo a família, a partir de determinado momento, não podem e nem devem obrigar as pessoas a se educarem, porque se a educação é um direito, ela não pode ser imposta por nada e nem por ninguém, principalmente pelo estado, principalmente quando se pretende viver num estado democrático de direito. Eu quero entender que o direito é algo que se manifesta como uma prerrogativa que pode ou não ser utilizada por quem a tem. Desta maneira, um direito não pode ser uma obrigação de quem quer que seja e sim uma opção de cada indivíduo numa sociedade. E se é uma opção, não existe porquê alguém se obrigar de cumprir e muito menos uma outra pessoa (entidade ou instituição) deverá “obrigar o cumprimento desse direito”. A pessoa é quem tem direito de se educar, se quiser, pois também pode não se educar, se quiser, e o estado e a família, quando muito, poderão apenas servir como orientadores de que esse ou aquele talvez não devesse ser o melhor caminho a ser seguido, mas, o estado e a família não podem de maneira nenhuma obrigar que a pessoa se eduque, se esta pessoa não quiser ser educada.  A tutela do estado ou da família sobre a pessoa não pode ser prioritária aos interesses da própria pessoa, a não ser no caso de transgressão do direito ou de uma agressão direta à sociedade. Sou consciente de que eu acabo de fazer uma afirmação complicada, dura, perigosa, sujeita à críticas e que certamente será propositalmente mal entendida por alguns ou ocasionalmente mal interpretada por muitos indivíduos, principalmente àqueles que não defendem nada, porque são ligados a partidos políticos ditos socialistas e acreditam que o estado tem que fazer absolutamente tudo na vida do cidadão e assim só sabem criticar as pessoas que pensam. Minha afirmação ainda deverá, pelo menos num primeiro momento, também ser bastante criticada por aqueles que defendem o ensino público e gratuito para todos e em todos os níveis de ensino.  Nesse sentido solicito a todos que não tirem conclusões prematuras e que leiam o texto até o fim, para poder avaliar exatamente o que estou tentando dizer. Infelizmente ao contrário de alguns seres humanos, eu sou um indivíduo que além de pensar, também resolvo falar e escrever, porque gosto de expressar minha opinião e de discutir para procurar melhor entendimento das coisas. Isso obviamente tem me criado inúmeros problemas e me feito muito mal dentro da sociedade em que estamos vivendo, haja vista que, por um grande mal sociológico, em geral as questões polêmicas não são discutidas, simplesmente alguém diz que é de uma maneira e os demais costumam seguir esse alguém. Sendo assim, fiquem à vontade, porque eu já estou acostumado a sofrer críticas. A propósito, é bom que fique claro, desde já, que eu também sou a favor do ensino público e gratuito, mas não sou a favor de que haja absurdos, como uma gratuidade generalizada, até porque, como já foi dito, a educação é um direito e o estado deve trabalhar para que esse direito possa ser efetivado na totalidade da população ou pelo menos para a maioria das pessoas, dentro de um mecanismo democrático. Mas, por outro lado, o estado não tem que ser tutor de todas as pessoas. A família, como já foi dito, tem uma responsabilidade maior com seus filhos nesse aspecto, mas o estado não é pai e muito menos mãe de quem quer que seja. O estado tem que fazer o que pode e o cidadão interessando deve trabalhar, buscar e conquistar os seus direitos. Não acredito que um direito deva ser encarado como uma benção da sociedade para o indivíduo. Durante minha vida educacional, até o dia em que ingressei na faculdade, sempre estudei em instituições totalmente públicas e mesmo a faculdade em que estudei era parcialmente pública. Sou do tempo em que a gente tinha que fazer exame de admissão para passar do primário para o ginásio, se quisesse continuar estudando numa escola pública e poucos passavam porque o número de escolas era relativamente pequeno. Para ingressar numa faculdade (raríssimas naquela época), independentemente do curso escolhido, havia um vestibular muito competitivo e não era qualquer indivíduo que conseguia passar e ingressar. Ou seja, eu não tive a vida fácil que alguns desconhecidos da história poderiam pensar de imediato. Ao contrário, tive que estudar e correr atrás para conseguir me manter na escola pública e não culpo o estado por conta disso, porque entendo que isso é correto e, naquela época, era sobretudo necessário, pois havia muitas crianças, muitos jovens e poucas escolas, mas hoje ocorre exatamente o contrário, porque o número de escolas aumentou e o número de crianças e jovens proporcionalmente diminuiu. Estudar em escolas públicas na minha época era, sobretudo, um prêmio oferecido àqueles que se dedicavam ao estudo e acreditavam que só assim poderiam projetar um “futuro melhor”. Grande parte de minha infância transcorreu numa época complicada, em que o país vivia sob a égide de uma ditadura militar. Porém, se esse fato era ruim, certamente era ruim apenas para quem também era ruim, pois a vida do cidadão comum se manteve do mesmo jeito e não se alterou por conta da ditadura, salvo raríssimas exceções. Se os militares erraram e também ficaram muito tempo no poder, foi porque houve necessidade ou talvez porque não fossem políticos e não tivessem o tino para a administração pública, mas com certeza eles não eram deliberadamente mal intencionados, como muitos administradores que vieram depois da chamada “abertura política”. Sobre vários aspectos aquela ditadura era muito mais democrática do que a pretensa democracia que a sucedeu até os dias de hoje. Hoje, eu não conheço pessoas boas que reclamem da época da ditadura militar, ao contrário, apenas os picaretas e os bandidos ainda reclamam. O que eu quero dizer é o seguinte: gente boa não reclama daquele tempo, embora possam ter ocorrido alguns exageros, certamente esses não foram de maneira nenhuma uma regra para a sociedade em geral. Naquele tempo, as escolas públicas não eram muitas, como eu já disse, mas o ensino era bom e quem queria estudar e aprender, com certeza conseguia. Sou um exemplo vivo desse fato e conheço vários indivíduos como eu. Mas, o que aconteceu depois de 1985, com a famigerada “abertura política”? O país, com raríssimas exceções, foi entregue na mão de um monte de vigaristas, que inventaram e, o que é pior, se debruçaram em cima de ideias idiotas preconcebidas por “gênios do mal” e sonhos de socialismos improváveis, para enganar a maioria das pessoas, que até hoje não conseguiram ser educadas, no sentido literal da palavra e estão por aí procurando “Papai Noel” e outras figuras mitológicas. O pior é que muitos realmente acreditavam e alguns ainda acreditam nessas coisas e infelizmente parece que não sabem que “Papai Noel” não existe. Alguns desses “gênios do mal” acabaram sendo eleitos e assim foram alçados ao poder. Desta maneira eles passaram a sugerir um caminho irreal, uma forma de educação que só interessava a eles mesmos e os seus instintos cada vez maiores de poder e de domínio. Eles criaram mitos modernos sobre questões morais e atribuíram conceitos absurdos sobre as inter-relações pessoais, fazendo as comunidades pensarem que o errado é que estava certo. Além disso, esses indivíduos resolveram, a bel-prazer, que os absurdos que eles inventavam é que deveriam ser conduzidos na educação a ser ministrada e ensinada nas escolas no país. Ora, é óbvio que isso não poderia dar certo e o desastre culminou, quando um grande idiota, semianalfabeto e declaradamente alheio à educação assumiu a direção maior do país. Nessa situação, a educação que já era ruim, ficou muito pior e passou, de fato, a ser um dever (uma obrigação) do estado. Mas graças a Deus o estado, nesse aspecto, não cumpriu o seu dever e grande quantidade dos absurdos não chegou a sair dos planos e projetos, mas infelizmente alguns foram publicados e até mesmo distribuídos nas escolas. Por favor, nesse momento, eu preciso esclarecer, que se antes a educação era ruim porque o estado era inoperante, nesse instante ela ficou bastante pior, porque o estado resolveu operar de maneira propositalmente errada. Foi exatamente nesse momento infeliz da história brasileira, que um apedeuta e sua trupe passaram a reger uma orquestra ruim e desafinada, onde a educação deveria ser a partitura e na verdade nunca foi, porque a estrutura educacional foi criada e dirigida dentro de uma forma de interesses estritos, que visavam apenas colocar nas comunidades somente aquilo que agradava a quem “administrava” (roubava, talvez fosse melhor) o país. Meus amigos, assim chegamos ao atual “status quo”, onde os políticos safados fazem o que querem e os cidadãos de bem pagam a conta, onde a “Lei de Gérson” é imperante, onde bandidos comandam o país de dentro das cadeias, onde o certo está errado e o errado está certo. Isto é, passamos a viver numa total inversão de valores morais. Tudo isso porque alguns malfeitores resolveram e decidiram que esse país seria propriedade deles eternamente. Mas, graças a Deus, nada é perene e o castelo dessa corja começou a ruir e espero que caia de uma vez por todas. Quero acreditar que esteja na hora de mudar e começar a reconstruir o Brasil. Aquele Brasil sonhado por Paulo Freire e por Darcy Ribeiro, senhores que, com toda a visão progressista, esquerdista ou mesmo comunista, nunca deixaram a educação de lado, porque não tinham um projeto de poder e sim um projeto de governo, de melhoria das pessoas e de desenvolvimento do país. Ao contrário, esses senhores sempre priorizaram a educação, porque, antes de tudo, eram brasileiros diferentemente de outros embusteiros. O que continuamos precisando hoje é exatamente isso, um projeto que possibilite a nacionalização do Brasil, que vislumbre primeiramente o desenvolvimento do país e de sua população e isso só acontecerá quando a educação for, de fato, uma prorrogativa, uma prioridade e um direito claramente estabelecido na mente de todos os brasileiros. O Governo atual, certo ou errado, parece que está tentando fazer a sua parte ao propor a mudança do ensino médio. Quero deixar claro que eu não votei nesse governo e consequentemente não votei no que acaba de sair, haja vista que é o mesmo governo, só mudaram algumas pessoas de lugar. Tenho minhas críticas e minhas dúvidas sobre ambos, ao governo e à reforma do ensino proposta, e até já publiquei minha opinião a esse respeito (LIMA, 2016a). Entretanto, tenho que concordar que essa proposta é algo que não se via nesse país desde a ditadura militar. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (5692/1971), que ficou em vigor até 1996, quando foi substituída pela atual (Lei 9394/1996), foi essa lei que, dentre outras coisas, criou o ensino profissionalizante e começou a tirar esse país do marasmo e da incompetência generalizada, permitindo nos colocar no nível de capacitação mínima entre as nações do mundo civilizado. Essa lei é da época do governo militar e queiram os senhores ou não, foi essa lei, não por coincidência, relacionada à educação, que permitiu mudar a cara desse país no cenário internacional. O chamado “milagre brasileiro” certamente é o grande fruto dos resultados da Lei 5692/1971. A criação dos Centros Integrados de Educação Pública – CIEP no Rio de Janeiro e dos Centros de Atenção Integral à criança e ao Adolescente – CIAC no Brasil, graças ao trabalho de Darcy Ribeiro, na década de 1980 e 1990, também foram algumas grandes obras, as quais rapidamente foram sucateadas e destruídas, com duvidosos argumentos econômicos e financeiros, exatamente quando começavam a dar certo e produzir alguns frutos. É claro que educação custa caro, pois esse é exatamente o preço que tem que ser pago para que a nação possa se desenvolver e o país possa entrar verdadeira e integralmente no cenário internacional. Não adianta bradar que somos a sexta economia do mundo, se continuamos a amargar a condição de octogésima qualidade de vida do planeta e com uma das piores distribuições de riqueza da Terra. Como pode um país de 205 milhões de habitantes, ter cerca de 27 mil milionários, os quais concentram quase 30% de toda a riqueza financeira possuída nacionalmente? Cabe salientar que essas informações são fornecidas e publicadas pelo próprio Governo Federal (Brasil,2016). É preciso distribuir melhor e principalmente roubar menos, porque por mais caro que possam ser os gastos com a educação, certamente o seu custo total ainda será muito baixo, porque esse custo será tremendamente mais barato aos cofres públicos do que foram os “mensalões”, os “petrolões” e todos os inúmeros golpes (esses sim, foram golpes) e assaltos aplicados pelos governos recentes do país, os quais se diziam democráticos, progressistas e preocupados com os mais humildes. Além do que, obviamente, a população, de maneira nenhuma, estaria reclamando se os recursos financeiros que desapareceram do país, tivessem sido investidos e gastos totalmente na educação. É meus amigos, é isso mesmo. O que posso afirmar, como testemunha ocular é que a educação nesse país já foi muito melhor, mas isso ocorreu quando o roubo era menor e quando as pessoas, mormente as crianças, iam deliberadamente à escola e estavam preocupadas apenas em aprender e não em discutir questões outras que não cabem no cotidiano escolar. As pessoas que não queriam ir à escola, simplesmente não iam. Os pais mantinham as crianças sob suas respectivas guardas e isso não era crime. Algumas crianças trabalhavam e outras ficavam na vadiagem, mas, ainda assim, havia ordem no país e os problemas sociais, em todos os níveis, certamente eram infinitamente menores do que hoje. Não existia a demagogia da obrigação de estar na escola para se ouvir aquilo que não se quer ouvir e tampouco de se impedir que se pudesse, de alguma forma, trabalhar e ajudar a família para tentar melhorar de vida. Nesse país, nos últimos anos, tentaram fazer a doutrinação do povo com uma educação de mentira e não fosse a ganância insana e absurda, talvez esses malfeitores tivessem conseguido atingir o propósito estabelecido. Está na hora de voltarmos lá atrás, ainda na época do governo militar. Eu me lembro do então Ministro Eduardo Portela (1979/1980), que foi nomeado Ministro pelo Presidente Figueiredo e depois demitido pelo mesmo Presidente Figueiredo, apenas por ter se mostrado claramente favorável a uma greve estabelecida pelos professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Pois é, se vivia numa ditadura militar, mas havia a possibilidade de pensar diferente dos administradores. Obviamente podia se perder o emprego, como aconteceu com o ministro, e nada mais. Certamente isso era mais democrático do que se viu recentemente, pois o grande educador e Ministro Eduardo Portela ainda está por aí, vivendo até hoje. Antes de qualquer coisa, a escola tem voltar a ser um local de interesse da sociedade e de pessoas capazes de, por direito, escolherem o que é certo e o que é errado. A sociedade cabe o direito de julgar, mas nunca de impor. Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos (10/12/1948), no seu artigo primeiro: “todo ser humano nasce livre e igual aos demais seres humanos” e no artigo terceiro reafirma que, além disso: “o ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança”. Da mesma forma que o Ministro Portela teve o direito de escolher e ficou do lado oposto ao governo, hoje nós estamos sendo convidados a escolher entre a educação e a bestialidade. Espero que não sejamos bestas, apenas para agradar a quem quer que seja e nem por medo. É preciso ter coragem e parar de culpar alguns pelos erros de todos, porque o problema é generalizado e não existem responsáveis específicos. A família certamente tem muita culpa, o estado também, mas a questão transcende a esses dois agentes especiais, como relatei no artigo anterior (Lima, 2016b). A educação, embora não esteja escrito na Constituição Federal, ao mesmo tempo que é um direito, também um dever moral de toda sociedade e por isso mesmo é fundamental parar de apenas dizer não ao que é ruim, pois existe uma necessidade principal maior de que se diga sim para o que pode e deve ser melhor. Até aqui, a sociedade tem se mantido apática, ou só tem criticado e negado todas as possibilidades de melhoras educacionais preferindo continuar caminhando na desgraça eterna e obviamente isso é um erro que precisa ser corrigido. Graças a Deus que qualquer mudança real na questão da educação, até pelo seu efeito modificador da sociedade como um todo, acaba sendo necessariamente progressiva, pois do contrário, esse país de dirigentes safados e sem interesse na educação da coletividade, de famílias descomprometidas com seus filhos e de sociedade egoísta e alienada, já teria sucumbido totalmente e a situação poderia estar muito pior. É exatamente por conta dos efeitos graduais e progressivos que as mudanças educacionais produzem nas pessoas, mesmo aquelas sem educação formal, que lamentavelmente ainda são muitas nesse país, que a sociedade aprende a ver e a sentir o que é melhor para o Brasil e para si mesmas. Desta maneira, apesar de tudo, obviamente estamos sempre avançando, mas ainda estamos dando passos curtos e lentos, porém, se as pessoas e o governo quiserem acelerar o processo, o Brasil, em tempo relativamente curto, poderá sair do calabouço da brutalidade, do submundo da ignorância e da incompetência educacional generalizada. É lógico que o governo só vai querer acelerar o processo se a sociedade significativamente continuar querendo, ou seja, é fundamental que haja cobrança e imposição popular de toda a sociedade em prol da educação. Vamos acreditar e esperar que a mudança do ensino médio, mesmo modesta, defeituosa e ainda claudicante, seja um novo marco que conduzirá o Brasil anos luz à frente, porque nos últimos 50 anos, essa proposta está sendo a única coisa sugerida com vistas à melhoria generalizada da educação brasileira. Continuo acreditando que temos que priorizar a educação e que ela, dentro do possível, deve ser pública e gratuita, mas é preciso parar com esse negócio, essa demagogia, de achar que o governo tem que fazer tudo por todos. John Kennedy, em seu discurso inaugural como presidente dos Estados Unidos (20/01/1961) disse o seguinte: “não pergunte o que o seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo seu país”.  Pois então, nós brasileiros precisamos fazer alguma coisa pelo Brasil e a educação, por vários aspectos que já citei neste e em outros artigos e, principalmente, por conta de ser um direito do cidadão, a educação tem que passar a estar destacada de maneira efetiva dentro das prioridades nacionais. A nossa realidade é que somos um país continental, o quinto maior do mundo e com a sexta maior população, mas precisamos assumir a nossa responsabilidade sobre essa condição brasileira no planeta. A educação tem que ser a mola mestra desse país e para tanto ela tem que deixar de ser uma máscara usada pelo estado para justificar uma obrigação que, a meu ver, o estado não tem, pelo menos direta e totalmente. Tiremos a máscara do estado e também aquela que colocamos em nós mesmos e vivamos a realidade que o país necessita. Isto é, mostremos a nossa cara e partamos para um Brasil infinitamente melhor, com um povo educado, que respeita as diversidades, garante os direitos e exige os deveres, mas sem tentar criar nenhum modelo absurdo, principalmente aqueles de interesses particulares ou oriundos de outras realidades. Referências
BRASIL, 1971. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 5692, de 11/08/1971). Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências, Legislação Informatizada da Câmara dos Deputados, Brasília.
BRASIL, 2012. Constituição da República Federativa do Brasil (1988), Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados, 35ª ed., Brasília.
BRASIL, 2016. Relatório da Distribuição Pessoal da Renda e da Riqueza da População Brasileira (Dados do IRPF 2015/2014), Ministério da Fazenda, Brasília.
LIMA, L. E. C., 2016a. A “Medida Provisória” para o Ensino Médio e o “Notório Saber”, www.profluizeduardo.com.br , 27 de setembro de 2016.
LIMA, L. E. C., 2016b. Por que a Educação não dá certo no Brasil?,  http://oblogdowerneck.blogspot.com.br/2016/12/por-que-educacao-nao-da-certo-no-brasil.html , 17 de dezembro de 2016.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 1998. Declaração Universal dos Direitos Humanos (10/12/1948), Biblioteca Virtual dos Direitos Humanos/USP, São Paulo.
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