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15 out 2023
DIA DO PROFESSOR: 60 ANOS DE “FESTA”

DIA DO PROFESSOR: 60 ANOS DE “FESTA”

Resumo: Proponho uma análise reflexiva sobre algumas atividades que atualmente estão sendo desenvolvidas por muitos professores. Entendo que a educação é a base do desenvolvimento sustentável de um país e o professor que deveria ser artífice desse mecanismo, em grande parte, tem caminhado no sentido errado, quando valoriza algumas peculiaridades, deixando de lado o todo da população.


Há exatos 60 anos, o então Presidente da República Federativa do Brasil João Goulart, através do Decreto 52.682 de 14 de outubro de 1963, estabeleceu o dia 15 de outubro como o Dia do Professor. De lá para cá, a data tem sido comemorada, cada vez com menos pujança, haja vista que a profissão e seu prestigio profissional seguem em decadência vertiginosa no país. A data escolhida em alusão a criação do Ensino Elementar no Brasil, através da Lei de 15 de outubro de 1827, estabelecida pelo Imperador Dom Pedro I e que criou a obrigatoriedade do ensino de primeiras letras em todos os lugarejos do território nacional.

Como forma de lembrar a data e sua história, eu resolvi aproveitar este momento “festivo” para propor à toda sociedade, em particular aos colegas e amigos professores, para que façam comigo uma reflexão, no sentido de tentar salvar aquilo que nos resta como verdadeiros profissionais da educação. Depois de quase 70 anos de vida e quase 50 anos de exercício efetivo do magistério, acredito que posso emitir alguma opinião sobre o que está acontecendo no país, em relação ao sucateamento da educação e da nossa nobre profissão de professor.

Os professores do passado queriam mostrar às pessoas e ao mundo as inúmeras possibilidades, considerando a grande mágica que a educação poderia fazer na vida de cada ser humano. Entretanto, na atualidade, os professores estão longe daquela pretensa vontade. Tristemente a visão dos últimos anos tem sido outra.  Atualmente muitos dos professores, aparentemente, querem apenas uniformizar e, se possível, igualar mesmo toda a sociedade, numa condição de mesmice generalizada e indistinta. Se antes o desafio era mostrar a diversidade e sua importância para o aprendizado e à vivência social entre os seres humanos, tentando conviver mais e melhor, com e apesar dessa mesma diversidade. Agora está tudo muito diferente e a realidade é bem outra, pois agora a diversidade é usada como “arma” contra os que são menos diversos.

Hoje a diversidade tenta se impor como condição especial nas escolas e a história humana vai se fazendo por conta de intrigas e questões sociais criadas para transformar em problemas as diferenças naturais entre os seres humanos. E os professores assistem a tudo como se isso fosse normal, quase sem interferência ou com interferência comprometida. Os poucos que tentam interferir coerentemente acabam sendo massacrados por forças estranhas à educação.

Na atualidade as pessoas significam pouco ou nada, o que importa são as suas características distintas. Deste modo, quanto mais características distintas e peculiares, maior é a importância dos indivíduos e isso acaba sendo reforçado nas suas respectivas mentes, pela escola, pelo professor e principalmente pela mídia maldosa e nojenta que domina o cenário e investe maciçamente na segregação da sociedade. Nossa sociedade caminha através da criação de problemas oriundos diretamente ou intensificados pela mídia impiedosa que apenas quer ver “o circo pegar fogo”.

O desafio do professor atual é ser e fazer de maneira diferente desse padrão ilógico e anti-humano que se estabeleceu, tentando demonstrar que se somos tão bons tendo tais características diversas, podemos ser muito melhores se não nos objetivarmos especificamente a elas. Isto é, devemos tratar nossas características naturalmente, haja vista que elas são naturais, entendendo que nem eu e muito menos o outro ser humano, tem qualquer culpabilidade causal pela existência dessa característica. Tudo é consequência da diversidade natural da própria humanidade e que ninguém é melhor ou pior por apresentar o aspecto A, B ou C, pois somos todos seres humanos.

Nossa humanidade deve suplantar a nossa vontade e sobretudo, o nosso egoísmo. Não se trata aqui de deixar de lado as coisas para criar mártires, mas sim de produzir pessoas melhores e mais envolvidas com os demais seres humanos, apesar de todas as diferenças possíveis e existentes na sociedade. Está faltando humanidade e sobrando arrogância e egoísmo nos diferentes grupos sociais e isso começa pelas escolas na presença dos professores. A sociedade está em guerra por questões pouco importantes para os seres humanos e que não têm, verdadeiramente, nenhum significado para melhoria da vida de todos.

Considerando que os professores são os principais artífices da mudanças na sociedade, cabe a eles, mais diretamente, a responsabilidade maior, pela condução das mudanças que deve interferir positivamente nesse quadro social esdrúxulo e confuso. Entretanto, é preciso que os professores queiram efetivamente fazer isso e para tanto algumas coisas têm que acontecer. Será necessário exterminar essas escolhas inúteis e nefastas de criar seres humanos piores ou melhores aqui e ali, para atender aos interesses de alguns malfeitores poderosos, cujo interesse único é contaminar a sociedade cada vez mais para beneficiar os seus próprios interesses.

Os professores são os únicos profissionais capazes de cumprir essa árdua tarefa, mostrando a sociedade que a diversidade é salutar e que devemos conviver perfeitamente com ela, sem preconceitos, sem exageros e principalmente sem arbitrariedades sociais para justiçar esse ou aquele fim. A função dos professores é lembrar a todos os alunos e demais membros da escola que, antes e acima de tudo, somos todos seres humanos e que só evoluiremos como humanos, se respeitarmos os direitos dos demais seres humanos. Não devemos investir em guerras sociais, mas sim em consensos humanitários mais significativos.

Essa tarefa complicada será realmente um grande desafio, no atual estágio em que a humanidade se encontra e se alguém pode fazer isso acontecer, certamente é o profissional da educação, ou seja, o verdadeiro professor. Cabe ressaltar que o professor é o agente que convive com toda a diversidade social e atua na orientação e na instrução da sociedade. A escola, local de trabalho do professor, é um minimodelo da sociedade e os professores, que são os mantenedores desse modelo, podem e devem, obviamente se quiserem, tomar as rédeas desse compromisso e tornar a situação bem melhor do que o que temos visto.

Por conta disso, é que precisamos, cada vez mais, de professores capacitados e eficientes. Professores desvinculados de obrigações sociopolíticas e versados na verdadeira história da humanidade e não em interesses particulares de quem quer que seja. O futuro que nos aguarda, depende exatamente dos professores compromissados com a humanidade e atuantes nas questões disciplinares e sociais, sem paixões e principalmente sem vínculos doutrinários, para poder garantir a instrução às pessoas e a educação ao seres humanos e a humanidade como um todo.

Aqui, é bom lembrar que ensinar não é sinônimo de educar. Ainda que quem educa certamente ensina, a recíproca não é verdadeira. Educar, antes de tudo, envolve na liberdade de escolha e ação do educando, enquanto ensinar envolve em instruir e treinar para fazer algo, independentemente da escolha. A instrução é programada e espera um resultado, mas a educação transcende qualquer limite programado e ela só se dá efetivamente, quando o educando é capaz de se realizar por si só, quando o educando não mais precisa do educador e quando ele é capaz de modificar e de reverberar a partir daquela ideia inicial. Educar é muito mais do que ensinar e instruir.

Por outro lado, a diversidade humana é fundamental para nos permitir mais acertos do que erros no aprendizado das inúmeras ações sociais e humanitárias. Entretanto, como, atualmente, alguns resolveram priorizar certas diversidades e enfatizar suas existências, como se fossem “modelos sociais” a serem estabelecidos e obviamente a coisa tem fugido da lógica. Esses “modelos sociais” passaram a exigir regras precípuas, haja vista que certas características da diversidade humana que eles possuem, acabaram sendo entendidas como “superiores” e assim eles querem ter estabelecidas suas vantagens sociais.

Ora, discutir diversidade dessa maneira, numa sociedade plural, onde há diversidade em tudo e em quase todos, além de não fazer nenhum sentido, não pode ser um bom negócio para a própria sociedade. Isso só pode gerar conflito, porque obviamente, todos querem ter um direito a mais e um dever a menos. Desta maneira a sociedade se transforma numa verdadeira Torre de Babel, onde cada qual cuida de falar a sua língua e o outro que de se vire. Isso só serve para individualizar e a corporativar mais as relações que cada vez são menos públicas e mais particulares.

Deste modo, precisamos de seres humanos melhores, mais preocupados com a humanidade e não de pessoas robotizadas ou autômatos que desempenham uma função, mas que não sabem o porquê de cumprirem aquela determinada função dentro da sociedade. Consequentemente, a reflexão, o entendimento, a compreensão e a criação consequente, que são os principais frutos da educação e que são fundamentais para a melhoria das pessoas e da sociedade, não conseguem ser efetivados.

Pois então, o professor, que deveria ser o profissional capaz e responsável por construir e aperfeiçoar essa sociedade, infelizmente está cada vez mais raro, pois hoje qualquer instrutor (adestrador) sem nenhuma vergonha, se entende como um professor, mesmo quando apenas repete e exige o que não conhece e, o que é pior, a sociedade concorda com isso. A verdade é que, tristemente, as escolas estão cheias de picaretas travestidos de professores.

Deste modo, as pessoas (alunos), quando muito, são apenas treinadas para fazer (repetir) coisas. Não importa se essas coisas são boas ou ruins para a sociedade e muito menos para humanidade. A prática usual da coisa é o que importa. As consequências advindas não interessam a ninguém, ou interessam apenas a alguns privilegiados da sorte pela diversidade. Ora, me desculpem, mas quem age assim, não é um professor de fato, quando muito será um instrutor de qualidade bastante questionável, que até poderá, ocasionalmente, formar bons profissionais, mas jamais ensinará a pensar e muito menos refletir no interesse humanitário.

As escolas e as salas de aulas estão cheias de gente assim, “ministrando aulas” e isso tem favorecido drástica e acentuadamente a ruptura da sociedade e complicado bastante a nossa condição de ser humano. Essa situação tem feito muitas pessoas assumirem posturas e condutas sociais que não trazem nenhum benefício social e, o que é pior, que geralmente causam imensos conflitos e acabam sendo anti-humanas. Os professores poderiam e deveriam intervir na amenização desses problemas, mas muitos deles assumem posições que só servem para acirrar as batalhas, ao invés de atenuá-las, porque eles estão diretamente envolvidos nessas respectivas questões.

Senhores, vamos refletir sobre essa situação complicada e procurar atuar na sua resolução, através da orientação de uma convivência pacífica entre os diferentes grupos e interesses sociais. Todos nós temos preferências e prioridades, mas nenhum de nós é mais importante que qualquer um de nós na sociedade. Ninguém pode se assumir como dono absoluto dos direitos, da verdade e que o resto que se dane. É na escola que essa particularidade tem que voltar a ser ensinada e o verdadeiro professor é o sujeito social que pode, se quiser, começar a resolver essa questão.

Professores melhores, levarão às escolas melhores e às sociedades melhores, sem discriminação e sem qualquer viés ideológico. Valorizemos a diversidade humana e convivamos bem com ela. Certamente quase ninguém aceita integralmente todas as peculiaridades sociais, pelos mais diversos motivos, mas todos têm ciência de que dependem da sociedade para continuar se sentindo vivo e da humanidade para continuar se sentindo humano. A única maneira de conseguirmos atender os nossos anseios socio-humanitários e respeitando os direitos e os deveres de toda a sociedade, sem privilégios e sem desprestígio de quem quer que seja. Somos todos humanos e temos apenas que nos respeitar dentro dessa condição que é (deveria ser) igual para todos.

As diversidades e variedades sociais, morfológicas, comportamentais, ideológicas e psíquicas são consequência da existência da própria humanidade e isso nós não podemos mudar. Assim, nós devemos conviver bem com todas essas variantes se quisermos continuar sendo humanos. Precisamos cuidar para que não nos transformemos em monstros sociais e assim atuemos para favorecer o aumento do conflito social e consequentemente para o fim progressivo de nossa espécie. Nos denominamos Homo sapiens, então vamos fazer valer a nossa sabedoria em prol de nós mesmos.

Parabéns a todos os professores pelo Dia dos Professores e espero que todos se lembrem da responsabilidade que nós temos com nossa profissão, com a sociedade brasileira e com a humanidade. Não podemos deixar que continuem nos enganando e criando questões sociais para justificar o abandono generalizado das escolas e a desvalorização sempre maior de nossa profissão, que, apesar de todas as dificuldades, continua sendo a mais importante de todas e não pode se sujeitar a mesquinhez, a indignidade e a imoralidade de alguns.

Professores, deixem de ser marionetes e deixem de torcer para esses “oportunistas sociais” que estão por aí, apenas para criar problemas. Vamos acordar para a realidade brasileira e vamos trabalhar para atender as necessidades nacionais e realizarmos festas efetivas para a nossa profissão doravante.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo; Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

15 out 2021
Dia do Professor

Até quando o “Dia do Professor” continuará sendo uma ilusão?

Resumo: O texto traz uma crítica referente a grande farsa representada na comemoração do Dia do Professor aqui no Brasil, em consequência do sucateamento desta profissão e deste profissional, que estão cada vez mais desprestigiados pela sociedade, pelos dirigentes políticos e administradores neste país.  


Mantendo a tradição dos últimos 40 anos, estou aqui mais uma vez trazendo meu artigo para lembrar do Dia do Professor. Como de costume, vou rememorar e lamentar a mesma história de sempre, ou seja, o mal uso da data ou o uso apenas político desta data que deveria homenagear a ilustre profissão de professor. Todo mundo, no mês de outubro, lembra da data do Dia do Professor. No mundo a data é comemorada internacionalmente no dia 05 de outubro, por ato da UNESCO, em 1994 e aqui no Brasil, por força do Decreto Lei 52.682, de 14 de outubro de 1963, a comemoração acontece no dia 15 de outubro.

No resto do mundo eu não sei e nem ouso afirmar nada sobre a comemoração do Dia do Professor, mas, aqui no Brasil, a lembrança da data, na verdade, ao invés de uma comemoração, parece mais um motivo para esquecer, definitivamente, que essa é a profissão mais importante que existe, porque sem ela não existiriam as outras. Deste modo, o profissional da educação e do ensino, o professor, deveria ser o profissional mais respeitado e mais prestigiado de todos. Entretanto, aqui no Brasil, esse fato, além de não ser estimulado como verdadeiro, também está muito longe de qualquer coisa parecida.

Nosso país, além de não prestigiar, como deveria, em absolutamente nada profissão de Professor, também está muito longe de qualquer mérito no que diz respeito às áreas de trabalho do professor, ou seja, a educação e o ensino, nos últimos anos totalmente sucateadas no país. Assim, quando se fala na comemoração do dia professor nesse país, só pode ser pura demagogia, porque na verdade os governos e a sociedade brasileira, costumeiramente, não têm achado nada importante a educação e muito menos a profissão de professor. Aliás, pelo contrário, de maneira geral, a educação tem piorado progressivamente e a profissão de professor, sob todos os sentidos, tem valido menos.

Sou suspeito para falar dessa questão, porque sou professor e me orgulho imensamente de ter exercido essa ilustre profissão ininterruptamente por longos 45 anos (1976 a 2020). Aliás, eu continuaria exercendo, se não fosse exatamente a má vontade o desinteresse efetivo de algumas instituições de ensino do país na educação e o desinteresse particular por aqueles professores que acreditam e defendem a educação e que entendem o exercício da função de professor, deveriam ser prioridade nesse país.

Isto é, ultimamente, por questões outras, que embora injustificáveis do ponto de vista educacional, ainda interferem bastante em muitas instituições de ensino. Dessa maneira, muitas vezes a educação tem trabalhado contra a ilustre figura do professor e consequentemente contra a própria educação. Bem, mas, deixemos isso de lado e vamos voltar ao objeto desse artigo que é o Dia do Professor.

O Dia do Professor, foi criado para lembrar da importância do profissional de educação e de ensino. Embora, por um lado, tenha sido uma tarefa bastante árdua e trabalhosa, principalmente, por conta das dificuldades operacionais e trabalhistas em relação à profissão. Mas, por outro lado, certamente muito prazerosa e gratificante, particularmente quando se tem o devido reconhecimento por parte da maioria dos alunos e o incentivo por parte de muitos colegas de profissão.

Esta data, que deveria ser um marco educacional nacional, apenas tem servido para que os professores demonstrem anualmente o seu descontentamento e a sua angústia quanto à sua situação profissional e quanto ao descaso da educação no país, como eu estou fazendo, mais uma vez, nesse momento. O Brasil, depois de uma série de erros ocasionais e mesmo intencionais dos governos que se sucederam nos últimos 30 anos, só caminhou para trás na área educacional.

Diante dessa situação caótica, o coitado do verdadeiro professor ficou perdido no exercício da sua função e na sua capacidade de reivindicar, porque qualquer picareta passou a ter direito de assumir a condição de professor e com isso, cada vez mais o verdadeiro professor foi desqualificado como profissional. Infelizmente, na atualidade, na situação funcional do professor profissional tem sido possível encontrar de tudo. Deste modo, tem muita gente por aí “ministrando aulas” e “ensinando”, sem nenhuma condição.

Ou seja, o professor verdadeiro, está diluído no meio de outros profissionais e assim as questões profissionais da categoria se dispersaram no contexto. Quando se comemora o Dia do Professor, na verdade se comemora o dia de uma série de outros profissionais que ministram aulas das mais diversas matérias, muitas vezes sem as mínimas condições cognitivas e profissionais. É claro que também há muita gente competente nesse rol, porém a maior parte não está nem aí com a educação, o ensino e com a profissão de professor. É exatamente por conta disso que a profissão de Professor não se fortalece e o Dia do Professor fica cada vez mais lendário.

Não sei até quando o país seguirá nessa tendência de progressivamente acabar com o Professor e não posso afirmar até quando a população brasileira consciente conseguirá aguentar essa triste contingência. Também não sei até quando os verdadeiros professores vão continuar resistindo a esse descalabro, mas tenho certeza de que essa situação necessita ser modificada para o bem do país. É preciso reencontrar o fio da história e voltar a situação de ter a educação como prioridade nacional e o professor como o principal agente profissional do processo de educar e ensinar, para que o Brasil possa chegar ao lugar que merece no cenário internacional.

Se esse fato acontecer com o Brasil voltando a entender que a educação deve ser o fundamento primário de qualquer país, aí sim o professor poderá passar efetivamente a comemorar o seu dia de maneira devida. Caso contrário, continuaremos na nossa hipocrisia, “enxugando gelo” e enganando a população, fazendo festa por uma data que não se justifica, porque ela é uma mera ilusão, que serve apenas para mascarar a triste realidade da educação nacional.

Alguns loucos, dentro os quais eu me coloco, estão reclamando por isto há muito tempo, mas parece que ninguém quer ouvir. Nós, continuamos aguardando que aqueles que detém o poder, parem de discutir inutilidades e que se envolvam efetivamente naquilo que é importante. Por outro lado, esperamos também, que a sociedade passe a se manifestar mais e atue de maneira mais efetiva, exatamente na única questão que pode nos tornar um povo melhor, isto é, na educação.

É fundamental que nós não nos esqueçamos de que existe um profissional específico para essa área de atuação, que é o Professor. Além disso, também é importante considerar que esse sujeito tem que ter as devidas qualificações para exercer o magistério: vocação, conhecimento específico da matéria, cultura geral, didática e capacidade de argumentação. Os picaretas do magistério que estão por aí, algumas vezes até com apoio das próprias instituições de ensino, porque custam menos aos cofres dessas instituições, precisam ser banidos da educação. 

Somente assim, lá na frente, poderemos novamente comemorar, de fato e de direito, o Dia do Professor, porque aí a data terá sentido verdadeiro. Por enquanto, seguimos por aqui, esperando e torcendo para que haja luz na mente dos brasileiros, em especial nas mentes daqueles que detém o poder e dos que atuam como dirigentes das instituições de ensino desse país. A incerteza e a desconfiança com muitos dos profissionais que atuam na Educação, talvez sejam as principais causas da má qualidade do ensino no Brasil e as autoridades precisam estar atentas a esse fato.

A Educação é uma tarefa fundamental para a sociedade e por isso mesmo, deve ser realizada por profissionais capacitados e devidamente habilitados e esses profissionais devem comemorar o seu dia com alegria, entusiasmo e otimismo e não com tristeza, indiferença e pessimismo. Assim, com muita ponderação, eu quero deixar aqui os meus Parabéns aos verdadeiros professores do país por mais uma 15 de outubro: “Dia do Professor”.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

15 out 2020

DIA 15 DE OUTUBRO DE 2020: UMA HOMENAGEM NECESSÁRIA

Resumo: O texto tem o objetivo de homenagear os Professores na passagem de mais um 15 de outubro (“Dia do Professor”), além de reconhecer e enaltecer o trabalho especial desenvolvido por esses profissionais ao longo desse período de Pandemia. Em que pese a má vontade de alguns administradores públicos e de setores da imprensa, os professores produziram um verdadeiro espetáculo de improvisação, criatividade e profissionalismo, para garantir o funcionamento das escolas e a continuidade das aulas, nesse momento conturbado que o país e o mundo estão passando.  


Quando o ano de 2020 começou, pelo menos aqui no Brasil, ninguém imaginava o que ainda estava por acontecer, nesse ano atípico. O início do ano foi normalíssimo e transcorreu dentro do que se espera comumente, com as festas de ano novo e as férias de verão da maioria das pessoas, durante o mês de janeiro. Passada a normalidade festeira e festiva do mês de janeiro, começou fevereiro e como sempre o carnaval foi o destaque nacional e ele também aconteceu normalmente, embora já se ouvisse falar, ao longe (“bem longe”), sobre um vírus oriundo da China que poderia trazer consequências mundiais desagradáveis. Porém, como estamos a quase 17.000 Km da China, por vários aspectos, esse vírus não deveria para nos preocupar, ao menos naquele momento e o carnaval transcorreu festivo como sempre.

Logo após ao carnaval, as aulas começaram nas escolas, em todos os níveis de ensino. E foi aí que o bochicho sobre o vírus chinês começou a crescer, inicialmente o problema já estava sério lá pela Europa. A distância agora era de apenas 1/3 da citada anteriormente, pois estava em cerca de 6.500 e não mais os 17.000 Km de distância iniciais, mas, ainda assim, tudo seguia aparentemente dentro da normalidade aqui no Brasil. Até que, no início da terceira semana de março (do dia 15 ao 21), precisamente no dia 17 de março (terça-feira), tudo mudou da água para o vinho ou se preferirem, da certeza de que o ano seria apenas mais um, igual a tantos outros já vividos, para o estranho, perigoso e assustador ano de 2020, que estamos vivendo.

De repente, foi decretada uma parada geral e estabelecida uma quarentena no país. Todos tinham que ficar em casa, porque a doença, denominada COVID 19, que é causada pelo Corona vírus, SARS-CoV-2, já estava por aqui e embora ela tivesse baixa taxa de letalidade, por outro lado, o vírus possuía grande poder de transmissibilidade. Assim, se não houvesse cuidado, muita gente seria contaminada ao mesmo tempo e os setores de saúde não teriam, o suporte físico e estrutural, para resolver todas as questões e o caos seria instalado no país. A recomendação foi ficar todo mundo em casa isolado, esperando que o pico da pandemia passasse.

O setor da Educação é o que envolve o maior número de pessoas no país, com mais de 25% da população. São mais de 50 milhões de estudantes, quase 3 milhões de professores e mais de 1 milhão de funcionários. Isso diretamente, mas se considerarmos, os gestores, os transportadores, os fornecedores de alimentos, os administradores de cantinas, os geradores de matériais didáticos e vários outros, certamente esse número chegará a quase 40% da população brasileira, ou seja, mais de 80 milhões de brasileiros, a grande maioria jovens.

De repente tudo parou e obviamente a educação, com os já citados, quase 80 milhões de pessoas envolvidas nesse setor, tendo que parar também. As aulas foram suspensas em todos os níveis de ensino. E agora o que e como fazer? Não vou me ater aos demais 130 milhões de brasileiros, mas quero falar desses 80 milhões que vivem direta ou indiretamente na dependência da educação nesse país. Em especial vou me referir aos 3 milhões de professores desse país.

Bem, na fatídica semana de 15 a 21 de março de 2020, que foi a mais conturbada que já presenciei do alto dos meus 64 anos, mais de 60 deles dentro de escolas. Desde então, houve de tudo que se possa imaginar de problemas nas escolas. E agora? Como vai ser? O que vai acontecer? Como deixar mais de 40 milhões de crianças e jovens em casa sem atividade?  É interessante, mas como um passe de mágica, já na semana seguinte, praticamente tudo já estava relativamente solucionado e muitas escolas já estavam definindo e trabalhando numa nova rotina, porque os professores não perderam tempo e sabiam muito bem de suas respectivas responsabilidades.

Aulas remotas, aulas virtuais e pesquisas na INTERNET, rapidamente saíram da cartola, porque a educação não pode parar. O profissional do Ensino, o PROFESSOR, tal qual um camaleão, teve que se travestir, se mascarar, se camuflar e se adaptar às novas necessidades imperantes. E assim, um novo modelo de escola e de ensino começou a surgir e seguiu até o final do Primeiro Bimestre Letivo, porque ainda havia esperança de que a “coisa” fosse passar depressa. No entanto, a crise se agravou e o país, entrou por inteiro dentro dela. Ou seja, a “coisa” não passou e houve necessidade de se manter o padrão diferenciado das aulas.

Veio o Segundo Bimestre Letivo e a situação continuou se agravando e ainda no final do primeiro semestre o Ministério decidiu que as aulas continuariam remotas, também para o Segundo Semestre Letivo (a portaria estabelecida foi obrigatória somente para as Instituições de Ensino Superior). Em julho houve férias dos professores, mas em agosto a situação permaneceu a mesma e assim está transcorrendo o ano letivo de 2020 até agora. As escolas estão vazias, mas as aulas, os professores e os alunos, salvo aquela semana de março, NUNCA PARARAM e estão em plena atividade.

Estamos em outubro e somente agora, é que algumas escolas e alguns setores escolares estão começando a voltar à condição anterior àquela que se estabeleceu em março. Mas, mesmo assim, essa é uma condição provisória, porque a situação ainda é bastante preocupante e, de repente tudo pode retornar. De qualquer maneira, as Instituições de Ensino Superior e a maioria das escolas de Ensino Fundamental, vai continuar funcionando remotamente até o fim do ano.

A separação, o isolamento, o afastamento do convívio social, enfim o confinamento produzido pela quarentena não conseguiu parar as escolas e sua importância para a sociedade, embora tenha mudado notoriamente suas aparências. As escolas viraram espaços imensos sem pessoas, prédios vazios, grandes desertos arquitetônicos. De repente, se descobriu que a escola não tem que ser necessariamente um prédio cheio de pessoas. Muito embora a socialização das pessoas também seja parte importantíssima do processo educacional e obviamente a escola também tem que se ligar nessa questão. Entretanto, esse aspecto foge ao propósito desse texto.

Com o prosseguimento da mudança dessas aulas diferentes do padrão que estava até então estabelecido, ou seja, com as aulas presenciais passando a ser aulas remotas e virtuais, iniciou-se uma nova realidade nas escolas. Os professores tiveram que, literalmente, se virar e aprender muito além de suas especialidades e habilidades. Os eletrônicos passaram a ser importantes ferramentas de ensino e bem naquela situação do ditado que diz: “a condição faz o ladrão”, o computador, o “tablete” e o celular (antes tão discutido sobre seu uso nas escolas), passaram a ser ferramentas obrigatórias da educação e do processo ensino-aprendizagem.

Mas, não foi tão simples assim, porque essa necessidade dos eletrônicos e da informática, gerou outros tipos de problemas, que tiveram que ser superados e que ainda não foram totalmente resolvidos. Além da grande quantidade de analfabetos e semianalfabetos digitais e dos muitos carente de conhecimentos de informática do país, também existe uma questão socioeconômica real nessa situação, haja vista que nem todos, tanto as escolas, quanto os alunos e os professores, tinham possibilidade de acesso e de aquisição dessas ferramentas.

Vejam bem, a situação era bastante complicada e a dificuldade era tríplice: não possuir o equipamento, não saber usar o equipamento a contento e transformar o uso mal visto do equipamento em algo útil, importante e necessário ao ensino. Mas, ainda assim, o resultado foi (está sendo) muito bom. Muitos professores e eu me incluo nesse grupo, teve e continua tendo, muita dificuldade, mas não houve esmorecimento e todos continuaram trabalhando, um ajudando ao outro naquilo que era possível. Tudo isso, porque os professores sabem que o aluno, as aulas, a escola e a educação são as coisas efetivamente mais importantes, pois só elas podem mudar esse país e melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Meus amigos, depois de toda essa exposição, eu quero dizer o seguinte: nesse dia 15 de outubro de 2020, em que se comemora mais um DIA DO PROFESSOR, é muito simples. Quero lembrar desse verdadeiro Herói Nacional, que apesar das divergências políticas, num ano complicado, foi à luta e se virou em adquirir ou em arrumar o material para trabalhar, estudou e está estudando e aprendendo sobre coisas que nada tem a ver com sua formação e muito menos com sua disciplina de interesse didático-pedagógico. Professor, parabéns. Quero que esse dia seja, de fato, um dia bastante especial na sua vida

O professor fez e está fazendo isso tudo, porque ele acredita e sabe que a educação precisa ter continuidade e embora o país tivesse parado a educação tinha que seguir seu rumo, como se tudo continuasse igual aos anos anteriores. O professor, esse profissional camaleão, mostrou que que sua função é insubstituível, que seu valor é indiscutível e que sua responsabilidade com a nação brasileira está muito acima da miséria de salário que lhe pagam na maioria das vezes. Aliás, cabe lembrar que a maioria dos professores está, de fato, trabalhando muito, alguns além da própria capacidade física. Mas por que isso?

Porque os professores sabem que sem educação não há solução e agora esperam que as autoridades, os poderes constituídos do país, e a sociedade como um todo entendam de uma vez por todas que sem professor não há educação e que sem educação não há nada. Não fosse o professor esse sujeito especial e esse país do absurdo e das maracutaias também estaria efetivamente fadado a ser o país da desgraça e da ignorância. Graças a Deus, que a maioria dos professores é constituída de pessoas do bem.

O país quase todo de quarentena e o Professor trabalhando mais e recebendo menos pelo seu trabalho. Trabalhando mais, porque teve que correr para tentar aprender novas técnicas e usar novos aparelhos eletrônicos para desenvolver seu ofício e recebendo menos porque por decreto todos os trabalhadores do país, inclusive os professores, tiveram seus salários diminuídos. Só houve exceção para os administradores e políticos safados e picaretas desse país, muitos dos quais quase nunca trabalham, nem mesmo em tempos de normalidade. Porém, os professores que trabalharam (estão trabalhando) muito mais, que foram além, assim como o pessoal da saúde, não fizeram parte das exceções e tiveram seus salários reduzidos. 

E agora, quais as perspectivas para o final de 2020 e para 2021? Infelizmente nós não sabemos ainda o que irá e como irá acontecer. Entretanto, temos certeza de que os professores já estão preparados e se novas mudanças se fizerem necessárias, certamente os professores, como soldados em guerra, estarão na linha de frente e outra vez se reinventarão ou se camuflarão para defender a educação desse país.

O que mais dizer de pessoas e de profissionais dessa ética, desse quilate e desse grau de nacionalismo? Quero crer que devo apenas pedir aplausos e reconhecimento pelo trabalho essencial, preponderante e necessário de quem tenta manter uma sociedade mais justa e sobretudo as pessoas intelectualmente mais capazes de discernir, que o Brasil pode e deve ser o maior país da Terra e que o caminho para isso é a educação de seu povo.

Feliz Dia dos Professores e meus efusivos parabéns a todos aqueles que estão tentando ajudar a construir cotidianamente a melhora da educação desse país, independentemente de qualquer calamidade, pandemia, ou mesmo de qualquer governante irresponsável ou profissional de mídia mentiroso que usam seus trabalhos como forma de enganar a população, alguns até levianamente dizendo absurdos do tipo: “os professores estão recebendo sem trabalhar”.  Pois então, esses picaretas deveriam ter vergonha na cara e trabalhar mais pelo país, ao invés de emitir opinião sobre aquilo que desconhecem.

Mais uma vez, PARABÉNS COLEGAS PROFESSORES pelo nosso dia e por todos os dias, em que somos capazes de exercer a nossa profissão e cumprir o nosso compromisso profissional com a educação desse país, independentemente do que dizem e pensam alguns idiotas que estão por aí.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)

15 out 2014

Profissão Professor: afinal qual é o segredo?

Resumo: O Prof. Luiz Eduardo apresenta mais um artigo, onde aproveita o dia do Professor para fazer uma reflexão sobre a Profissão de Professor e as necessidades para o exercício dessa profissão, que é responsável pela formação básica de todas as pessoas e também pela formação de todos os profissionais das outras profissões.


Profissão Professor: afinal qual é o segredo?

Introdução

Inicialmente quero falar um pouco de História. Não sou historiador, mas sou um ser humano e por isso mesmo sei que a História faz parte de mim e de toda a humanidade. Minha condição cultural como ser humano é consequência da História da Humanidade. Aliás, penso mesmo que o homem se torna mais humano a partir de cada dia que é acrescentado à sua História.

A História é fundamental, porque é ela quem relata e retrata todas as passagens da atividade antrópica sobre o planeta e talvez a grande diferença do homem para os demais animais esteja aí demonstrada, até porque biologicamente não existem grandes diferenças. Apenas os aspectos anatômicos divergem, mas a fisiologia animal é sempre a mesma. Assim, o homem se diferencia dos demais animais, nessa experiência humana que é única no planeta, pela possibilidade de contar, de refazer, de ensinar, de errar, de aprender, de corrigir e de mudar as coisas e as situações ao longo do tempo. Toda a Cultura da Humanidade reside na capacidade do homem de aprender, ensinar, modificar e transmitir.

Assim, talvez fosse possível dizer que sem ensinamento não haveria Cultura, não haveria História e assim o homem não seria intelectualmente tão diferente dos demais animais que habitam o planeta. O registro histórico é uma questão fundamental para a própria busca humana do conhecimento e do aprimoramento. Se a humanidade não aprendesse, guardasse e transmitisse as informações ao longo do tempo, certamente ela não teria caminhado de maneira tão significativa.

Aquilo que hoje, aliás, já faz algum tempo, nós chamamos de Educação, na verdade é o que garante a continuidade histórica e cultural da humanidade. Ou melhor, aquilo que nos últimos anos temos chamado de desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade, resulta dos processos básicos de criação, ensinamento, aprendizagem e transmissão da informação. É isso que a História nos conta e é isso que agrega Cultura ao acervo intelectual da nossa espécie ao longo do tempo. Embora isso seja aparentemente óbvio, sempre é bom, como educadores que somos, nós nos lembrarmos desse fato e dessa característica social humana. Somos o produto da quantidade acumulada e adquirida de informação ao longo de nossa História Natural na Terra.

O Professor, aquele indivíduo que professa e ensina uma ciência, uma arte ou uma técnica, seja ele quem for, é o sujeito mais importante da História Humana, porque sem ele não haveria o transporte e a continuidade do conhecimento ao longo da História e sem isso não existiria Cultura e nós não seríamos absolutamente nada de especiais como seres humanos sem essa condição. Seríamos animais efetivamente iguais aos demais, sem nenhuma conotação diferenciada. Em suma, o Homo sapiens sapiens jamais teria saído das cavernas, talvez nem tivesse entrado nas cavernas e talvez nem mesmo tivesse continuado sua existência no planeta até aqui, se não fosse a passagem gradativa do conhecimento acumulado pelas gerações das diferentes civilizações.

Bem, senhores, peço que me desculpem pelo detalhamento, talvez excessivo, mas considero que esse preâmbulo seja realmente necessário para dar andamento as minhas elucubrações sobre a Profissão de Professor, entretanto, não é exatamente sobre isso que queremos e devemos conversar nesse artigo. Porém, por outro lado, eu não poderia me esquecer sobre essa verdade histórica e sobre a importância de nossa profissão na História Humana e na permanência da Humanidade sobre a superfície da Terra.

Como ninguém nasce sabendo, obviamente é necessário aprender e o aprendizado se dá basicamente através da transmissão da informação. A profissão de Professor é aquela que garante a transmissão da informação e que ajuda a passar o conhecimento e produzir todas as outras profissões que existem. Certamente, não há nenhum indivíduo humano que não tenha participado da experiência de ter sido ensinado por um Professor, pois todo e qualquer ser humano sempre teve que aprender alguma coisa com outro ser humano que o ensinou. Esse outro ser humano que ensinou alguma coisa a alguém, de uma forma ou de outra, profissional ou não, certamente foi um Professor. Pois então, é sobre esse sujeito, essa figura ímpar, de importância relevante e fundamental em todas as sociedades humanas e em todos os momentos da história da humanidade, o Professor, que eu passarei a discorrer agora.

Atributos Fundamentais do Professor

Quando se pensa ou se fala sobre a função de Professor, algumas palavras e alguns requisitos automaticamente são lembrados e isso não é mera coincidência, ao contrário isso é uma contingência natural do exercício do Magistério. Ensinar profissionalmente exige alguns preceitos básicos, os quais estão subentendidos por alguns conceitos teóricos incluídos e abrangidos principalmente nas palavras a seguir: Cultura, Inteligência, Liderança, Criatividade e Sabedoria.

Esses são requisitos fundamentais e qualidades indispensáveis para qualquer indivíduo que manifeste a intenção de abraçar o Magistério Profissional e assumir a condição de ser Professor. Essas cinco palavras e seus respectivos conceitos precisam estar em consonância com as três qualidades necessárias ao Professor para o bom exercício de sua atividade profissional.

As Três Necessidades Fundamentais do Professor

Conhecimento – Estudar para conhecer bem sua área de atuação ou sua disciplina e poder opinar e discutir um pouco sobre as demais. Como foi dito acima, o Professor tem que ter Sabedoria, Cultura, Inteligência, Criatividade e Liderança. O Professor tem que ser um indivíduo generalista e tem que acumular saberes e conhecer um pouco de tudo, mas é preponderante que ele tenha domínio de sua área específica do conhecimento.

Além disso, também é fundamental que ele efetivamente seja capaz de demonstrar esse domínio, buscando exemplos, criando situações, simulando problemas e condições para que seu aluno perceba que “ele é o cara”. Pode ter certeza que é isso que ele quer, pois ele adora dizer: “Fui aluno do fulano de tal: o cara é fera!” Entretanto, o Professor precisa investir toda a sua capacidade intelectual para demonstrar que é mesmo a “fera” que seu aluno quer que ele seja.

Comunicação – Argumentar e Informar de maneira clara, objetiva, atraente e abrangente. A aula é o negócio do Professor, portanto ele precisa cuidar muito bem dela! Ela tem que ser interessante e chamativa, porque sempre haverá outras coisas que certamente poderão interessar mais e o Professor não pode perder a atenção do aluno.

A capacidade comunicativa é talvez a principal característica do “Bom Professor”. Um “Bom Professor” necessariamente tem que ser um bom comunicador. Não adianta ter muito conhecimento se não houver mecanismos de comunicação e transmissão capazes de levar esse conhecimento para os alunos de maneira clara, simples e agradável.

Segurança (Convicção e Poder de Convencimento) – O Professor tem que ter e tem que saber demonstrar que possui toda segurança sobre aquilo que fala. É igual aquela história da mulher de César, que não basta ser direita, mas tem que parecer direita. Em suma, o Professor tem que encantar, além de convencer o seu aluno. Se você é um “Bom Professor”, você sabe o que estou querendo dizer e sabe que isso, embora difícil, é possível e necessário.

O Professor na sala de aula é o protagonista de uma grande peça teatral e ele tem que efetivamente “dar o seu show”. Isto é, o Professor tem que manter o aluno atento e fazer com que ele se envolva naquele momento como se fosse um espectador totalmente encantado e vivendo aquela situação. Isso só é possível, quando se tem o total domínio da plateia e esse domínio é conquistado por convencimento e não por pressão, ameaças ou excesso de autoritarismo, como lamentavelmente ainda fazem alguns sujeitos.

O Professor tem que demonstrar sua autoridade através da sua capacidade de convencer. O aluno tem que acreditar naquilo que o professor está dizendo, pelo simples fato de que é o Professor quem está dizendo. Autoridade é algo que se conquista por mérito cotidiano e não que se impõe por força de vez em quando. Não há receita pronta, mas a melhor maneira de conquistar o aluno é sendo, educado, agradável, competente e convincente. Não há necessidade de bajular ou ser ridículo para agradar e convencer, basta apenas o Professor demonstrar educada e graciosamente que efetivamente sabe daquilo que está falando e seu aluno ficará maravilhado com você. Ser piegas é tudo que o Professor não pode ser, pois aí sua autoridade jamais se manifestará.

 

E então, qual é o grande segredo para ser um “Bom Professor”?

Meus amigos não há segredo nenhum. É óbvio que, como já foi dito, existem algumas exigências mínimas para ser um “Bom Professor”, mas todas essas exigências são possíveis de serem conquistadas e mesmo suplantadas por aqueles que tiverem interessados e quiserem atingir o êxtase do prazer, o verdadeiro orgasmo de ser Professor. Entretanto, é preciso gostar muito e querer mais. Freud já dizia a sua maneira que: sem vontade e sem prazer nada é possível. Ter vontade e fazer com prazer são atributos fundamentais para qualquer coisa e aqui no exercício do Magistério não é diferente. Talvez, sejam esses os grandes segredos, que permitem superar as dificuldades do exercício da Profissão de Professor: a força de vontade e a busca do prazer.

Mas, alguns colegas dirão, mas que vontade devo ter para trabalhar nas condições em que trabalho e para ganhar o salário de fome que eu ganho? Que prazer devo ter para continuar trabalhando feito um miserável, como eu tenho que trabalhar?

Bem, essa é uma questão que cada um deve responder a sua maneira. Não sei, mas, no meu caso específico, talvez eu seja meio (ou muito) masoquista ou mesmo louco, porém depois de mais de 38 anos efetivos de exercício do Magistério Profissional, eu continuo adorando o que faço e fazendo a cada dia com mais prazer. Em contra partida, tenho sido homenageado todos os anos ininterruptamente, pelo menos até aqui, pelos meus alunos nas diferentes escolas e nos diferentes cursos em que atuei. Ora, que prazer maior eu posso querer ter? Que maravilha, faço o que me dá prazer e ainda me pagam e me homenageiam por isso!

Meus colegas Professores, nenhuma profissão pode dar isso que a nossa nos concede. Trabalhamos com pessoas e essas pessoas nos admiram e nos adoram ou não, simplesmente pelo que somos e nós certamente não somos super heróis. Não prometemos nada, não damos nada, não fazemos nada que possa ser avaliado com algum valor venal, apenas procuramos ensinar e ver aquele indivíduo crescer e ser melhor. Isso nos coloca numa condição de altruísmo tal, que aquele indivíduo que recebe o nosso trabalho geralmente nos supervaloriza, desde que sejamos merecedores e efetivamente capazes de realizar um bom trabalho. Só depende de nós mesmos e para isso precisamos apenas trabalhar com seriedade e entender que, em certo sentido, o exercício do Magistério acaba sendo isso mesmo, uma doação altruísta que fazemos e um investimento no futuro da Humanidade para que a Cultura se estabeleça cada vez mais e que a História continue, como eu já disse lá no início do texto.

Estudar, aprender e ensinar, essas são verdadeiramente as palavras, os três verbos, as três ações, que nos devem atrair mais que quaisquer outras, pois o nosso negócio, a Educação, está basicamente contido nessas três palavras mágicas. Se fizermos essas coisas com prazer e vontade, certamente seremos “Bons Professores” e os nossos alunos continuarão nos homenageando eternamente. Sim eternamente, pois mesmo depois de mortos, nós continuaremos sendo lembrados e tendo grande importância na vida de cada um de nossos alunos e nós continuaremos falando (ministrando aulas) para outras pessoas através deles. Pense um pouco e você certamente verá que eu tenho razão, pois você, de repente, está quase sempre pensando e lembrando aquele “Bom Professor” que você teve em dado momento e que lhe ensinou uma determinada coisa ou lhe forneceu certa informação. Pense mais e você verá que, de vez em quando, você cita uma frase, uma fala, um mote, ou qualquer coisa que você aprendeu com algum Professor. Existem inúmeras pesquisas que comprovam que os Professores são os profissionais que mais marcam na vida da grande maioria das pessoas.

Meu amigo, meu colega Professor, o seu aluno é gente como você e sofre as mesmas vicissitudes e vive no mesmo tempo histórico que você e se ele não vive necessariamente a mesma História, pelo menos vive na mesma trilha histórica que você e também deverá lembrar eternamente de você como Professor. É bom lembrar que é até possível que ele não se lembre do seu nome, mas certamente ele se lembrará do Professor daquela matéria que lhe disse aquela determinada coisa. Mas, isto só acontecerá, se você for, de fato, um “Bom Professor”, porque não existe nenhuma lembrança significativa sobre os outros. A escolha é sua.

Por favor, se você optar por não ser um “Bom Professor”, então desista desde já do Magistério e procure outra coisa para fazer enquanto você ainda tem tempo, porque o aluno, da mesma maneira que adora, idolatra e venera, também deprecia, odeia e repudia. Faça um exame de consciência e busque a satisfação e o prazer, mas seja Professor por inteiro, Professor com “P” maiúsculo, como escrevi essa insigne palavra todas às vezes no transcorrer desse texto.

 Luiz Eduardo Corrêa Lima

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08 out 2014

O Professor e a Caixa de Fósforos


O Professor e a Caixa de Fósforos

Assim como é uma caixa de fósforos com seus respectivos palitos incineráveis, também é o professor com o seu conhecimento e sua capacidade de ensinar. Ambos têm um grande potencial para “botar fogo”, o fósforo nas coisas e o professor nas pessoas. Entretanto, se ambos não forem estimulados, apesar do potencial que possuem, nada acontece.

O tempo passa, novos mecanismos incineradores surgem, mas na hora de acender o cigarro, de produzir um fogueira para o churrasco, na hora de queimar qualquer um objeto qualquer, enfim, na hora de “botar fogo” em alguma coisa, a primeira ideia que se tem em mente é sempre aquela da caixa de fósforos, ainda que hoje em dia, possam existir inúmeros aparelhos e mecanismos, cada vez mais modernos para produzir a incineração.

Com o professor acontece, ipsis litteris, a mesma coisa. Os mecanismos de ensino, os chamados multimeios, estão aí, cada vez mais diversificados e mais sofisticados, entretanto ninguém pensa neles antes do professor, porque eles não são capazes de realizar nada sozinhos. Apenas o professor é capaz de ensinar e os multimeios, que até podem ser ferramentas úteis, sempre necessitam do professor.

Se até aqui, apesar das novidades, não trocamos as caixas de fósforos, também não podemos e nem devemos trocar os professores, haja vista que ambos são essenciais ao bom andamento das coisas e, em certo sentido, acabam sendo vitais às necessidades em que atuam. A figura do professor, com seus multimeios ou não, da mesma forma que a caixa de fósforos com seus palitos incineráveis, também é uma ideia simples, porém insubstituível, como dizia uma antiga propaganda de caixa de fósforos.

Entretanto, ultimamente, temos tido, infelizmente, algumas ideias absurdas quanto aos professores e suas maneiras de atuar, porque diferentemente dos palitos de fósforos que têm que ser acionados mecanicamente por ação externa humana, bastando apenas riscar o palito, os professores são humanos e precisam de uma série de outras coisas para funcionar, as quais são independentes de um simples ato mecânico. Os professores pensam, sofrem, amam e principalmente têm vontade própria para agir e qualquer ato mecânico, do mais simples até o mais extremamente complexo, depende dessa vontade.

Pois então, a vontade é o agente detonador da atividade do professor e obviamente de todo e qualquer ser humano. É através da vontade que o professor pode buscar todas as outras qualidades que necessita para desenvolver bem o seu ofício de ensinar. É através da vontade que o professor estuda, aprende e ensina. O professor, antes dos multimeios, precisa ter algum conhecimento e muita vontade para poder ensinar.

Ora, mas então, como fazer explodir essa vontade internamente no professor para que ele possa “botar fogo” nos seus alunos, produzindo uma boa qualidade de ensino?

Imagino que sejam necessárias algumas condições físicas e psíquicas, mais precisamente considero pelo menos quatro condições fundamentais, as quais podem agir como estimuladoras ideais da vontade do professor.

Primeiramente é fundamental que se tenha condições infraestruturas mínimas para exercer um bom trabalho, quais sejam: local de trabalho limpo e asseado, segurança garantida, material funcional disponível dentro da necessidade mínima do uso. Depois, vejam bem depois e não antes, é fundamental um salário compatível e digno, ao menos satisfatório para o exercício da função e organizado numa grade que permita vislumbrar uma condição de crescimento funcional na profissão. O salário tem que ser consequência do trabalho e não o contrário. Sendo assim, primeiro é preciso pensar no trabalho para depois pensar no salário, mas para que o trabalho se desenvolva a contento, há necessidade de que existam algumas condições físicas ideais.

Num segundo momento, é importante lembrar que o professor precisa gostar de ser professor. Ensinar é um ofício que tem peculiaridades como outro qualquer e exige cultura e curiosidade razoável, além de grande capacidade de argumentação, de conversação e de convencimento. Embora essas características andem bastante escassas nos tempos atuais, os professores não podem abdicar das mesmas para o cumprimento do bom exercício de suas respectivas funções. Professor que não se adequa a essas peculiaridades, que não gosta do que faz e que está dando aula por falta opção melhor precisa ser banido dos meios educacionais.

Outra coisa muito importante é que o professor, além de culto e curioso, como já foi dito, seja também conhecedor de sua matéria e que esteja sempre atualizado em relação a mesma. Para tanto torna-se necessário que existam cursos de extensão, de atualização, de reciclagem e de aperfeiçoamento que o professor possa cursar por conta dos empregadores, mas também por suas próprias expensas, haja vista que o interesse em melhorar profissionalmente deve ser, de forma precípua, do próprio professor. É fundamental que o professor saiba muito bem sobre aquilo que fala, pois ele tem que convencer ao aluno quando está falando e só quem conhece tem segurança e produz convencimento. Sem conhecimento não se cria bagagem, não se está seguro, não se desenvolve capacidade argumentativa e assim não é possível ensinar e muito menos convencer quem quer que seja.

Por fim, também é muito importante que o outro lado, os alunos, se predisponham a receber a informação e que vislumbrem aquele conhecimento contido na informação como fonte de interesse para sua vida individual ou social, tanto do pontos de vista teórico, prático, funcional, filosófico, ético e moral. Se o aluno não der importância ao ensino, certamente o ensino não acontece, porém o professor tem que procurar demonstrar essa importância que o aluno precisa ver e que muitas vezes ele infelizmente não quer. Embora o aluno deva vir para a escola cônscio de sua parte no processo educacional, a tarefa de motivar, em certo sentido, também pertence ao professor. Cabe a ele tornar a sua aula interessante para despertar um pouco mais o interesse de seu aluno.

Não sei se isso é bom ou ruim e nem vou discutir esse fato aqui, porque foge ao interesse deste modesto ensaio. Porém, a verdade é que no ensino privado as condições acima descritas estão mais bem estabelecidas do que no ensino público e assim fica fácil entender porque o ensino privado está significativamente melhor que o ensino público, embora isso não seja uma regra absoluta. Todavia, faço questão de lembrar que no passado a verdade era outra e ocorria exatamente ao contrário do que hoje acontece e muitos de nós, inclusive esse escriba, tiveram seus ensinamentos básicos em escolas públicas. Aliás, é bom ressaltar, que as vagas nas escolas públicas eram disputadas através de concursos e só os melhores, a partir de uma nota mínima estabelecida anteriormente ao concurso, conseguiam ingressar nessas escolas.

A caixa de fósforos exige condições especiais para produzir o efeito esperado, por exemplo, para “botar fogo” é preciso haver oxigênio no ambiente onde a riscagem do palito de fósforo acontece. Além disso, é necessário que o palito de fósforo e o local da riscagem na caixa estejam secos. Se essas condições mínimas forem estabelecidas e o ato mecânico que estimula o efeito se efetivar, certamente a incineração sempre acontecerá.

Com os professores a questão é bastante diferente, embora eles também sejam profissionais que têm necessidades especiais, não basta apenas satisfazer essas necessidades para que a ação esperada se realize. Os professores trabalham com um material que é especial, o aluno, o qual também é um ser humano. Como já vimos, esse tipo de material, o aluno, assim como o professor, tem vontade própria e essa característica pode mudar tudo, independentemente das condições ideais estarem todas estabelecidas. Ao contrário do que muita gente pensa, ensinar é uma tarefa muito difícil e não é qualquer um que pode estar em condições de desenvolver essa função, há necessidade de um bom preparo, de uma boa qualificação e sobre tudo de muita vontade.

Em suma, se todas as condições básicas forem satisfeitas e se os alunos e os professores tiverem vontade reciprocamente, os professores poderão “produzir boas chamas”, dar boas aulas e assim formar bons alunos. Porém, se não houver vontade, mesmo que todas as condições estejam estabelecidas, o palito que produziria a chama da Educação não se incinerará e as chamas não se formarão. Ou seja, sem vontade não há ensino. Aliás, sem vontade não há nada.

Então meus amigos, acabo finalmente de chegar onde eu queria. Estamos vivendo um momento em que somos cientes da necessidade dos professores como profissionais, porque estamos carentes de informação e de conhecimento. E mais, temos certeza de que a Educação é o único caminho que poderá nos levar a uma condição melhor. Entretanto, estamos fazendo a coisa errada, pois estamos tentando acender palitos de fósforos molhados e o que é pior, no vácuo. Desse jeito vamos ter que destruir muitas caixas de fósforos e gastar muitas vezes mais energia do que conseguiremos produzir. Isso admitindo que sejamos capaz de conseguir produzir alguma coisa, o que, pelo andar da carruagem, é bem pouco provável, para não dizer impossível.

Gente, está na hora de melhorar as escolas, mas de colocar gente boa e capaz dentro delas, de remunerar e qualificar melhor os professores, de questionar os pais para que ajudem a motivar seus filhos, de aprovar os bons e de reprovar os maus alunos, pois só assim, vamos poder “botar fogo” na educação do país, produzindo um ensino de boa qualidade que nossa gente tanto necessita. Chega de conversa mole, pois na vida tudo se põe à prova, até mesmo uma simples caixa de fósforos, se está em desacordo é descartada, então porque com a Educação, que certamente é a mais fundamental das atividades humanas, temos tentado mascarar a realidade e agir diferente.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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