31 mar 2024

Água e Floresta: tudo a ver!

Resumo: As datas que são comemoradas nesta semana tem tudo a ver, haja vista que a Água e a Floresta são entidades interdependentes. O artigo tenta demonstrar essa interdependência e traz a questão para a nossa Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul.


(Palestra Proferida no II Seminário de Meio Ambiente do Distrito Rotário 4.571, Aparecida, 18/03/2023)

No mês de março, além do dia 08, Dia Internacional da Mulher, temos outras datas internacionais significativas e bastante importantes, como o Dia Mundial da Felicidade, o Dia Mundial da Poesia e vários outros dias de grande referência à humanidade. Entretanto, neste momento eu quero destacar duas datas que considero preponderantes para o planeta e para a humanidade e particularmente para a nossa região: Dia Internacional das Florestas (ONU, criado e comemorado em 21/03/2012) e Dia Mundial da Água (ONU, criado 21/02/1993 para ser comemorado no dia 22/03).

Essas duas datas efetivamente têm tudo a ver uma com a outra e talvez, até por isso mesmo, sejam comemoradas em dias consecutivos. Meus amigos, as florestas são as mães das águas e as águas são quem mantém as florestas. Uma não existe sem a outra e a vida no planeta não existe sem qualquer uma dessas duas dádivas da natureza. Particularmente, devo dizer que, a vida humana, não teria surgido e certamente, mesmo que tivesse surgido, não teria evoluído até aqui, por conta da extrema dependência que temos das florestas e das águas.

Dia Internacional das Florestas

As Florestas abrigam cerca de 80% da Biodiversidade Terrestre, controlam a erosão e evitam que os sedimentos cheguem à água. São utilizadas como fonte de alimento, medicamento e diversas matérias primas para inúmeras atividades (energia, abrigo, construções variadas).

Todo ano na Comemoração da data a ONU propõe também um tema específico sobre as Florestas, neste ano de 2024 o tema é: “Florestas e Inovação, novas soluções para um mundo melhor”. A pretensão é buscar novos materiais usando árvores para substituir outras coisas não degradáveis”.

Ou seja, a ideia e o desenvolvimento de novas alternativas do uso dos recursos florestais que são renováveis ou mesmo a volta de usos que foram descartados, em oposição ao uso de outros recursos artificiais e não renováveis que foram desenvolvidos e que têm se mostrado, ao longo do tempo, cada vez mais danosos ao Meio Ambiente.

Dia Mundial da Água (ONU, em 21/02 1993 e comemorado em 22/03)

A água é o ambiente congênito que permitiu a formação da vida e por isso mesmo, constitui-se num recurso essencial para a sobrevivência de todos os seres vivos. Ela participa da formação do corpo dos organismos, sendo fundamental para a realização de diversas reações químicas do metabolismo. Além disso, a água também desempenha as funções de: Regulação da temperatura do corpo, Transporte de substâncias, Eliminação de substâncias para fora do corpo e Proteção de estruturas corpóreas.

Por conta desta importância vital recomenda-se a ingestão de cerca de dois litros de água por dia para que o organismo continue funcionando perfeitamente, mas obviamente essa quantidade varia de pessoa para pessoa, em função da idade, do sexo, do peso e de outras características.

Relacionando as Entidades (Floresta e Água)

Para poder dar continuidade em meu raciocínio e para que seja possível entender melhor essa relação próxima e obrigatória entre Água e Floresta, é preciso conhecer mais destacadamente dois conceitos fundamentais: Nascente e Mata Ciliar. A partir desses conceitos básicos, tentarei contar minha narrativa, demonstrando a total dependência das Florestas e das Águas, para a possibilidade de vida nos ambientes terrestres. Toda a vida nos ambientes terrestres só foi possível, porque um dia, as plantas chegaram as terras, evoluíram e diversificaram, permitindo a origem de outras plantas e dos animais, inclusive nós, os humanos.

Nascente

Nascente é nome genérico atribuído ao ponto onde surge (aflora) a água ou onde nasce um curso de água qualquer. A nascente também pode ser chamada de cacimba, lacrimal, cabeceira, fonte, manadeira, manadeiro, manancial, mina, origem, olheiro, olho, dependendo da região em que se encontra.

O Novo Código Florestal Brasileiro (LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012), impõe proteção espacial às Nascentes como forma de garantir suas respectivas perenidades.

Mata Ciliar (Vegetação Ripária)

Uma floresta ciliar ou mata ciliar é uma área florestada ou arborizada de terra adjacente a um corpo de água, como um rio, riacho, lagoa, lago, pântano, estuário, canal, sumidouro ou reservatório. De modo geral, a Mata Ciliar é considerada convencionalmente de Mata de Galeria, Floresta Ripária, Mata de Várzea, Floresta Beiradeira, Floresta Ripícola e Floresta Ribeirinha, podendo também ser considerada como Floresta Paludosa, dependendo do ambiente de ocorrência.

As Matas Ciliares são florestas, ou outros tipos de cobertura vegetal nativa, que ficam às margens de rios, igarapés, lagos, olhos d´água e represas. O nome “mata ciliar” vem do fato de serem tão importantes para a proteção de rios e lagos como são os cílios para nossos olhos. As Matas Ciliares também são áreas que devem ser protegidas de acordo com o Novo Código Florestal Brasileiro.

As pastagens são a principal razão da destruição das matas ciliares. O desmatamento, as queimadas e a ocupação indevida são outras causas. As matas ciliares e outras áreas de preservação permanente permitem ao proprietário diminuir os problemas de erosão do solo e manter a qualidade das águas dos rios e lagos da propriedade.

Então Senhores, é simples assim: as nascentes geram a água que alimentam as plantas, as quais compõem as florestas, que protegem a água, garantindo a manutenção e a sobrevivência delas mesmas e de todos os demais organismos que elas abrigam. Aliás, esse mecanismo simples, que parece ter começado a acontecer dessa forma há, pelo menos, 500 milhões de anos, teria continuado bem “ad aeternum”, se não fosse a interferência direta do homem.

Agenda 2030 da ONU

Desde 2000, por conta da Rio +10, que aconteceu em 2002, na cidade de Joanesburgo na África do Sul, a ONU veio trabalhando a ideia generalizada e coletiva dos oito Objetivos do Milênio (ODM), que foram apresentados no citado encontro de Joanesburgo e que deveriam produzir respostas, até 2015, quando nova reunião seria feita para discutir e avaliar os resultados. Em 2015, a discussão ocorreu e mostrou que a ideia era boa, mas que talvez fosse melhor ampliar e esclarecer melhor aquilo que se pretendia.

Assim, foram criados os ODMs, passaram a se chamar Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a família aumentou de oito para dezessete, sendo estabelecida uma agenda de ações, com 169 metas a serem atingidas até 2030. Deste modo foi estabelecida a Agenda 2030, que está, de alguma forma, tentando ser cumprida pelos países signatários e que será novamente discutida e reavaliada em 2030. Desde então, os ODS passaram a ser referências como mecanismo unificador das ações antrópicas que devem ser conduzidas pela humanidade, como orientação básica para a proteção ambiental e melhoria da qualidade de vida no planeta.

No que diz respeito as Florestas e as Águas, os ODSs propõem objetivamente a recuperação de áreas degradadas como algumas das metas prioritárias planetárias básicas, nesse sentido, estamos aqui diretamente atuando em 3 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) específicos: ODS 06 (Água limpa e saneamento), ODS 14 (Vida na água) e ODS 15 (Vida terrestre), mas indiretamente também estamos contemplando vários outros ODS, que por inúmeras conexões também se relacionam com esses três.

A Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul

Então, mas, o que a Bacia Hidrográfica tem a ver com isso? Por que estamos preocupados e estamos tratamos desse tema numa entidade como o Rotary International? Primeiramente porque o Rotary é uma instituição humanitária internacional e tem que se fazer representar em todas as questões de interesse da humanidade. Por outro lado, nosso Distrito Rotário (4.571), ocupa exatamente grande parte da área geográfica abrangida pela Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Ou seja, toda água que usamos aqui e parte da água que é exportada para fora da Bacia é produzida dentro da área geográfica de abrangência do Distrito 4.571 de Rotary International. Isto é, nosso Distrito está dentro da Bacia e isso nos condiciona a sermos mais, especificamente, responsáveis com esta água.

A Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, engloba os três estados mais desenvolvidos e ricos do país: São Paulo, com 35%, Rio de Janeiro, com 12% e Minas Gerais, com 9% do PIB Nacional. O que nos permite afirmar ser a mais importante economicamente do país. A Bacia, hoje, atende e abastece mais de 30 milhões de pessoas diretamente, além de milhares de outras atividades industriais, agrícolas e comerciais. A Bacia do Paraíba do Sul em si, gera um PIB de cerca de 15% do PIB Nacional.

Precisamos garantir as condições para que esse vigor econômico de nossa Bacia se mantenha e para tanto, há expressa necessidade de também garantir uma condição ambiental satisfatória, para que ela possa continuar fornecendo água em quantidade e qualidade. A Segurança Hídrica tem que ser mantida, porque sem água para o abastecimento humano não há possibilidade de manutenção da vida. Já tivemos uma situação de quase colapso, entre 2013 e 2015, quando as reservas hídricas chegaram ao uso do Volume morto dos reservatórios, ou seja, naquele momento, estávamos abaixo dos níveis mínimos das quatro represas principais para produção de energia e tivemos seríssimos problemas de abastecimento. SE a situação continuasse teríamos um colapso hídrico nunca imaginado, no país que detém a maior quantidade de água em estado líquido no planeta.

Esse ano, exatamente neste momento, estamos com 98% de água em Paraibuna (maior reservatório, com mais de 62% da água existente na Bacia), mas não sabemos o que acontecerá amanhã ou depois e assim, temos a obrigação de continuar cuidando da água cotidianamente. Quer dizer, no momento não há crise, mas é bom lembrar que não temos nenhum controle sob o regime de chuvas e, da mesma maneira que te chovido bastante, amanhã podemos entrar num grande período de estiagem e nova crise ser estabelecida. Cabe ressaltar que estamos à deriva das mudanças climáticas e não podemos afirmar nada sobre nada do que possa acontecer com o regime de chuvas.

Por causa disso, estas duas datas (Dia da Floresta e Dia da Água) são indissociáveis e têm que seguir caminhando sempre juntas, porque uma depende da outra e vice-versa. É preciso estarmos atentos ao fato de que só garantiremos a água de amanhã, se mantivermos florestas hoje. Deste modo, temos que tomar cuidado com os processos acentuados de urbanização de nossos municípios e com a secagem, principalmente, das nascentes urbanas, muitas já totalmente perdidas. Entretanto, cabe lembrar aqui, que o reflorestamento em certas áreas degradadas, até pode permitir o renascimento de algumas dessas nascentes secas.

Por tudo isso, é preciso entender que a especulação imobiliária necessita ser contida e a ocupação do solo tem que ser mais criteriosa, porque lá na frente não vai adiantar nada, se tivermos melhores casas e maiores áreas urbanas, mas não tivermos água para abastecer as pessoas. Recuperar cabeceiras, nascentes, minas de água e matas ciliares é tarefa fundamental e, obviamente minimizar a poluição hídrica e a contaminação das áreas rurais também é necessário. Essas são nossas tarefas principais para tentar garantir a segurança hídrica da Bacia e de toda sua região de abrangência.

Aqui no lado paulista do Vale do Paraíba as coisas têm melhorado progressiva e constantemente e hoje somos a região que mais aumenta a área de mata nativa no Estado de São Paulo e no país, entretanto no estado do Rio de Janeiro a situação é bastante grave, principalmente na região da baixada fluminense, onde mais de 60% do esgoto não é tratado, havendo várias críticas, e ainda na região que se estende desde Volta Redonda até o antigo Vale do Café, onde há municípios inteiros em condições de ausência total de tratamento das águas e de recuperação das áreas degradadas. São várias as nascentes que já secaram e a qualidade das águas está bastante comprometida por conta da imensa carga de poluição hídrica acumulada ao longo do tempo.

O Distrito 4.571 de Rotary Internacional estando ciente dessa situação, e cumprindo sua obrigação, vem tentando progressivamente minimizar os problemas com o plantio de espécies nativas nosso Bioma primitivo, a Mata Atlântica, na região. Recentemente, em 2022, foi implantado pelo Distrito o Programa “Plantando Árvores, Plantando Vidas”, que é Coordenado pelo Companheiro Paulo Sérgio Cruz, aqui presente, e passou a ser desenvolvido o Programa “Reflorestando o Brasil”, por parte da Coordenadoria Nacional das Entidades de Senhoras de Rotarianos (As Casas da Amizade locais).

Esses programas já permitiram o plantio de cerca de 40 mil árvores na região geográfica do Distrito e pretende ultrapassar 100 mil árvores plantadas, mas esse número, embora significativo, ainda é muito pequeno perto da necessidade efetiva que temos para compensar nosso imenso passivo ambiental. Estamos falando em milhares, mas nosso problema é da ordem de milhões, ou quiçá, bilhões de árvores. De qualquer forma, o importante é que estamos caminhando.

Desta maneira, quero concluir, dizendo que somos conscientes de que não podemos parar de plantar e recuperar áreas degradadas, mormente nas nascentes e no entorno dos cursos de água e por isso estamos hoje aqui, no município de Aparecida, dando continuidade ao nosso trabalho, nesta festa maravilhosa, comemorando o “Dia da Floresta” e o “Dia da Água”, para plantar mais 500 árvores e continuar nossa caminhada em busca da melhoria da qualidade da água e na recuperação de nossa vegetação nativa de nossa Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul.

Muito obrigado pela atenção.

Aparecida, 18 de março de 2023

Luiz Eduardo Corrêa Lima
Rotary Club de São José dos Campos-Oeste
Membro da Comissão de Meio Ambiente
(Distrito 4.571 de Rotary International)

14 fev 2024

O DIVULGADOR CIENTÍFICO: UMA FUNÇÃO IMPORTANTE PARA A SOCIEDADE

Resumo: Este artigo pretende trazer uma discussão reflexiva sobre a necessidade de formar Divulgadores Científicos e de como melhorar a Divulgação Científica no país. É preciso preparar gente específica para desenvolver a tarefa de Divulgar Ciência e não temos tido a devida preocupação com essa questão.


Ainda que, a priori, a ciência seja um atributo exclusivo dos cientistas, as consequências dessa exclusividade e as respectivas aplicabilidades tecnológicas dos novos conhecimentos desenvolvidos pelos cientistas, na verdade não pertencem a eles, mas sim a humanidade. A geração de determinado conhecimento pode ser de um ou de poucos, mas a utilização humanitária desse mesmo conhecimento tem que ser para todos. Nesse sentido, torna-se fundamental que todo conhecimento científico agregado seja informado e incutido nas comunidades e nas atividades interessadas e ainda seja divulgado de maneira clara e correta para a sociedade como um todo.

Quer dizer, tudo que é descoberto pela ciência (pelo cientista) necessita, de alguma maneira, ser divulgado, informado e devidamente esclarecido às pessoas. Se não acontecer desta forma, o trabalho desenvolvido pelo cientista não se justifica e consequentemente não faz absolutamente nenhum sentido, haja vista que a ciência, logicamente, deve sempre objetivar o bem maior para toda a humanidade.

Pois então, a grande questão que se quer colocar reside exatamente nesse ponto, haja vista que, particularmente nos últimos tempos, as coisas têm acontecido de maneira diversa do esperado. Existem outros interesses que suplantam as necessidades da humanidade e que se colocam como auto justificáveis em importância e que acabam por assumirem condições prioritárias e secretas, que simplesmente não são divulgados. Na verdade, são presentes de grego que chegam à humanidade como que caídos do céu.

Acredito que esse fato se dá por conta de três condições fundamentais, as quais tentarei demonstrar ao longo desse ensaio.

Primeiro porque o cientista, quando escreve e publica suas descobertas, ele faz isso numa revista que quase ninguém lê. As revistas científicas e os trabalhos científicos, quando muito, são lidos apenas por outros cientistas interessados nos mesmo assuntos específicos tratados no trabalho. Isto é, determinados temas são tão específicos que ninguém fica sabendo da existência deles e principalmente dos novos conhecimentos que lhes são agregados.  

A segunda condição decorre da primeira, porque se ninguém ou quase ninguém lê o que o cientista publica, quase ninguém também conhece o assunto e deste modo, também não é possível fazer divulgação do assunto em questão, por puro desconhecimento. A sociedade permanece sem ficar sabendo daquele assunto, porque não existe divulgação esclarecedora sobre ele.

A terceira é consequência das duas anteriores, pois como o cientista tem dificuldade e não consegue atingir um nível de comunicação com a sociedade, por vários motivos que não convêm serem discutidos no momento, o resultado da pesquisa (da descoberta) é aplicado ou não sem a anuência da própria sociedade. Assim, a humanidade acaba por sofrer os efeitos daquela descoberta, sem entender como, quando, porque isso acontece e principalmente que consequências podem ser oriundas da aplicação. Obviamente isso, por mais benéfico que até possa ser, na realidade acaba sendo uma arbitrariedade que fere os princípios básicos da liberdade humana.

Quer dizer, há necessidade de modificar essa rotina absurda e perversa de não divulgação, que foi estabelecida e que inviabiliza a função precípua do cientista e se impõe de maneira autoritária sobre a sociedade. Quando não há o devido esclarecimento da ação proposta à comunidade interessada e à sociedade como um todo, ocorre, no mínimo, uma ação perigosa e transgressora dos direitos humanos.

Bem, baseado nessas premissas apresentadas, acredito que fica muito clara a necessidade da Divulgação Científica, como mecanismo prévio a qualquer ação oriunda de novas descobertas científicas. A Divulgação Científica é fundamental e necessária para orientação das pessoas. Por outro lado, essa Divulgação também é um mecanismo de prestação de contas do cientista com a sociedade.

Ora, se o cientista não tem condições, pelos mais diversos motivos, como já foi informado acima, de fazer a Divulgação Científica de suas descobertas, tem que existir outro agente social que cumpra essa função. Entretanto, quem é esse alguém? Será que ele pode ser qualquer pessoa? Obviamente, todos devem concordar que a resposta é NÃO, mas eu vou tentar explicar exatamente o porquê.

O Divulgador Científico tem que ser alguém que possua conhecimento e capacidade de escrever e se comunicar de maneira que torne fácil e adequado o entendimento daquela pesquisa realizada pelo cientista. Esse indivíduo não pode ser um curioso qualquer midiático, que muitas vezes não conhece absolutamente nada sobre aquele assunto que está querendo informar sobre o que não entende, como, infelizmente, acontece, na grande maioria das vezes.

A Divulgação Científica no Brasil está a cargo de jornalistas, muitas vezes, totalmente despreparados e desinformados, além de jovens pesquisadores, até bem-preparados, mas, sem a devida bagagem científica. O Divulgador Científico não pode ser apenas um comunicador, ele tem que ser alguém capaz de destrinchar o assunto e transcrever a informação de maneira explicativa e clara para todas as pessoas sejam capazes de entender. Além disso, essa divulgação também precisa ser feita por alguém que tenha conhecimento e tarimba na área científica do assunto tratado.

Em suma, fazer Divulgação Científica não é uma tarefa fácil, como pensam alguns que se atrevem nessa seara. Existe uma exigência de que o Divulgador Científico seja um homem de ciência e capacitado para popularizar a informação científica, sem interferir no sentido real do assunto. Se não for assim, a Divulgação Científica acabará sendo um mecanismo de “desinformação científica”, pois atrapalhará mais, do que auxiliará à sociedade. Então, como será possível resolver esse impasse?

O Divulgador Científico tem que ser um sujeito que tenha conhecimento do assunto em questão e da linguagem científica, que costuma ser difícil ao cidadão comum, para poder digeri-la, absorvê-la e transformá-la de maneira acessível a todos os possíveis interessados. Isto é, o Divulgador Científico, como já foi dito, não pode ser qualquer um, como acontece na maioria das vezes entre nós, aqui no Brasil, onde pessoas totalmente despreparadas emitem opiniões sobre questões sérias e confundem os conceitos, causando mais problemas do que soluções.

Aqui no Brasil, lamentavelmente, qualquer um se sente capaz de falar de qualquer coisa e, o que é pior, deste modo, acaba falando um monte de besteiras, exatamente porque desconhece totalmente do assunto. É nesse momento que surgem os inúmeros achismos e informações indevidas baseadas em erros conceituais básicos, consequente do não conhecimento da questão e muito menos de seus fundamentos científicos. Assim, cria-se uma mistura da realidade com a ficção e o resultado é uma confusão que complica e desinforma coisas que muitas vezes poderiam ser simples.

É triste, mas está cheio disso por aí. Tem até alguns livros escritos e que venderam bastante, baseados em premissas totalmente errôneas e que justificam teorias infundadas e totalmente sem nexo. Pois então, assim, a Divulgação Científica que deveria orientar e educar à Sociedade acaba deseducando, complicando, desinformando e desorientando a sociedade. A realidade é que se divulga ficção científica, como se fosse ciência e muita gente acredita. Essa é uma situação perigosa e lamentável que, muitas vezes, traz conceitos errados e indevidos que se multiplicam no pensamento popular.

Algumas vezes isso acontece por inexperiência, outras por incompetência, mas, na maioria das vezes, isso ocorre intencionalmente, sendo feito propositalmente com a finalidade de justificar outros interesses e colocar ideias infundadas nas mentes das pessoas. Alguns grupos de mídia são especializados em produzir esse tipo de situação e desserviço. Eles se aproveitam das suas condições de comunicadores e da ingenuidade da maioria das pessoas para gerar informações erradas e assim enganar a comunidade próxima e a sociedade como um todo.

Infelizmente, essa é uma técnica malévola, relativamente simples e bastante comum, que funciona mais ou menos assim: estabelece-se um preconceito ou uma controversa a partir de uma informação científica qualquer mal-entendida, mal interpretada ou totalmente errada, ocasional ou propositalmente, e depois reforça-se progressivamente aquele preconceito, até “transformá-lo” num conceito efetivo. É aquela velha história: “uma mentira contada um milhão de vezes acaba virando uma verdade”.

Deste modo, ainda que errado, aquele “conceito” passa a ser difundido como verdadeiro e acaba por ser massificado na população. Isto é um absurdo, mas, lamentavelmente, esta é a situação efetiva de alguns indivíduos “humanos”. Hoje, com a possibilidade de qualquer um escrever e publicar qualquer coisa na INTERNET, essa prática está cada vez mais comum e consequentemente, mais difícil de ser combatida e contida.

É desagradável, mas nossa espécie é assim mesmo. Somos todos humanos e sabemos que nos diferentes grupos humanos, sempre há gente boa e gente má. No grupo dos que atuam como Divulgadores Científicos, obviamente isso não é diferente. Deste modo, há efetivamente alguns indivíduos que são capazes de deliberadamente promover e fazer essas coisas estranhas e contrárias aos próprios interesses da humanidade.

Senhores, precisamos aprender a “separar o joio do trigo”, para minimizar os danos produzidos por esse tipo de situação, mas sabemos que essa é uma tarefa bastante difícil, haja vista que existe uma “indústria da desinformação”, por trás dessas questões, fabricando “fake news” e coisas do gênero, ampliando esses aspectos, com o objetivo exclusivo de “bestializar a sociedade”. Vamos ter que lutar muito para acabar com essa situação vexatória, que só nos diminui na condição de seres humanos pensantes e, o que pior, segundo alguns credos, criados à imagem e semelhança de Deus.

Agora mesmo estamos às voltas com uma Termelétrica sem propósito e muito menos critério, que pretende se estabelecer aqui na região do Vale do Paraíba e estamos com dificuldade de mostrar os absurdos do contexto. E porque isso acontece? Porque parte mídia poderosa, que detém a audiência, faz questão de apresentar uma imagem inverídica e mentirosa do projeto, omitindo as coisas que possam trazer alguma luz e esclarecimento à opinião pública.

Infelizmente, hoje tudo tem um preço e quem paga o preço garante a notícia. Enquanto vivermos nesse comércio dependente de compra e venda da informação, estaremos fadados a ser manobrados pela desinformação. Somente a educação e nesse caso, uma educação científica direcionada e orientada pelos próprios cientistas e por verdadeiros Divulgadores Científicos poderá nos privar desses transtornos causados pelas deficiências intelectuais naturais ou produzidas e pelas “linhas cruzadas” que são condicionadas pelos interesses estritamente econômicos. Apenas, desta maneira, conseguiremos garantir uma identificação efetiva da seriedade na informação.

Ainda bem que a Biologia nos ensina que a semelhança não se define e muito menos se estabelece necessariamente como um tipo de parentesco, porque, se Deus efetivamente existem, esses sujeitos assemelhados ou não a Ele, embora parecidos, certamente esses indivíduos não conhecem o amor e não guardam nenhuma relação com Deus. Por outro lado, a mesma Biologia também nos afirma, que aquele indivíduo que age em contrário aos interesses coletivos de sua própria espécie também tende a perecer. Assim, temos certeza de que tanto Deus, quanto a natureza trabalham conjuntamente contra esses malfeitores, mas nós também precisamos fazer a nossa parte, usando o nosso “desconfiômetro”.

Em suma, precisamos investir em Divulgadores Científicos bons, bem-preparados e sobretudo sérios. Só assim, poderemos garantir que a informação científica seja fornecida à sociedade, dentro do verdadeiro interesse científico e social e com todo respaldo moral que nos coloca na condição básica de seres humanos.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

17 jan 2024
DITADOS POPULARES E A LIÇÃO DE CASA PELA VIDA HUMANA NA TERRA

DITADOS POPULARES E A LIÇÃO DE CASA PELA VIDA HUMANA NA TERRA

Resumo: O artigo confronta alguns velhos ditados com a realidade presente, no que tange ao comportamento humano em relação à vida e ao Planeta, questionandoo desleixo dos dirigentes com as Questões Climáticas e o Aquecimento Global.


Diz o ditado que: “quem planta colhe”, entretanto, isso não é necessariamente uma verdade e muito menos absoluta, como pretendem algumas pessoas. Eu prefiro dizer que: “quem planta tende a colher”, haja vista que a colheita jamais será uma certeza, porque várias coisas podem acontecer ao longo do caminho entre plantar e colher. Nossa parte, como plantadores e interessados na colheita, é trabalhar para garantir a colheita possa acontecer. Esta é exatamente a metáfora que vou tentar traçar e discorrer nesse artigo.

A Biologia, como ciência, nos ensina que, do plantio a colheita, existem várias etapas de desenvolvimento e crescimento que têm que acontecer com aquilo que é plantado e mais ainda, nos diz também, que em cada uma dessas fases podem surgir inúmeras situações, que também podem levar à morte daquilo que foi plantado. Deste modo, me parece evidente que a colheita nunca é certa e, sendo assim o “quem planta tende a colher”, deveria ser um ditado mais ajustado ainda. Consequentemente, não basta plantar para colher é preciso cuidar e ter muita sorte, porque a chance de colher é relativamente pequena e não acontecerá se houver qualquer desastre natural ou não e, principalmente, se não forem tomados os devidos cuidados.

Vejam bem, quando se planta algo, aquilo que se plantou está sujeito as mais diversas ações das intempéries, dos predadores, dos parasitas, dos acidentes fortuitos e ainda do vandalismo. Por conta disso, o cuidado é preponderante para que possa existir a colheita, mas, ainda assim, não há certeza de nada. Cuidar, talvez, acabe sendo mais importante do que simplesmente plantar. Nessa condição, o ditado, mais uma vez deveria ser mudado, e poderia passar a ficar assim: “quem planta, cuida e tem sorte, muito provavelmente deverá ser capaz de colher aquilo que plantou”.

Pois então, meus amigos, isso é porque na natureza é sempre assim, tudo é fortuito e imprevisto. Não existem certezas e tudo é dúvida sempre. Entretanto o ser humano insiste em querer ser capaz de mudar e domar as coisas e ter a natureza sob seu comando. Deste modo, ele segue sua vida tentando enfrentar a natureza e, obviamente, consegue alguns paliativos, mas na maioria das vezes, acaba quase sempre fazendo grandes bobagens. A cada problema “resolvido” surgem outros problemas para “resolver” oriundos daquilo que já se pensava estar “resolvido” e as verdadeiras e efetivas resoluções quase nunca chegam.

Ora, quando vamos aprender que tem coisas que transcendem a nossa capacidade, que não dependem de nós e que não temos nenhuma condição de superar certas questões. Temos que entender que, embora nossas possibilidades criativas sejam brilhantes, também somos limitados e que há coisas que não temos como resolver, porque são contingências naturais violentas e somos obrigados a ter que conviver com elas. Quando muito, o que devemos fazer é procurar tomar o devido cuidado, tentando evitar, minimizar ou contornar certos problemas e situações.

Vivemos num momento em que as Mudanças Climáticas e o Aquecimento Global estão nos assombrando e assustando seriamente e cada vez de maneira mais contundente. Há muito já estamos sentido e vivenciado as consequências trágicas desses fenômenos. Já deveríamos, todos nós, estarmos cientes de que nossa sobrevivência como espécie, está claramente em risco. Nossa postura, que deveria ser de cuidar para que esse processo fosse menos violento para a humanidade, continua sendo de apenas discutir se o óbvio existe e se é o ser humano quem causa o óbvio, para depois tentar “resolver” o problema em si. Meus amigos, o Aquecimento Global é um fato incontestável e se suas causas são naturais ou são consequências das ações do homem é o que menos importa.

Culpados ou não pela existência do Aquecimento Global, obviamente somos responsáveis por seu significativo agravamento. Na verdade, todos nós sabemos, há muito tempo, que estamos aumentando muito a quantidade de gás carbônico (CO2) na atmosfera, com a queima excessiva de combustíveis fósseis e que temos minimizado rapidamente a única possibilidade natural de retirar esse excesso de CO2 da atmosfera, com o continuo desmatamento do planeta. Sendo assim, se não causamos, certamente aceleramos bastante o processo natural de aumento de CO2. Isso não é lenda e isso não cabe discussão, porque é um fato conhecido e entendido por todos.

Tem outro ditado falacioso que diz: “contra os fatos não há argumentos”. Esse ditado, também é falacioso, porque em qualquer questão, os argumentos sempre poderão existir, o que talvez não exista seja embasamento lógico nesses argumentos. Desta maneira, mais uma vez, teremos que propor mudanças no ditado, que agora poderia ficar assim: “contra os fatos, ainda que possam existir argumentos contrários, esses argumentos nunca serão capazes de negar os fatos em si”.  Quer dizer, se qualquer argumento que contaria os fatos é inverídico, logicamente deve ser descartado, como um mecanismo de orientação para proceder às ações minimizadores dos efeitos daquele fato.

Isto é, temos que parar de discutir as causas do Aquecimento Global e temos que partir ativamente para as ações que possam fazer com que seus efeitos sejam sentidos numa escala cada vez menor pelo planeta como um todo e pela humanidade em especial. Entretanto, enquanto discutimos balelas, fica a pergunta: o que temos feito de fato, sobre isso? Eu respondo, infelizmente muito pouco, quase nada. Basicamente nos limitamos a continuar produzindo reuniões, apresentando belos textos e maravilhosos discursos políticos, onde os safados e picaretas têm todo espaço do mundo para fazer suas falácias, tal qual aos ditados citados aqui e nada se “resolve”. 

São conversas que se arrastam, ao longo das cinco últimas décadas, sem nenhuma consequência global prática e direta, no que diz respeito a minimização da questão e obviamente, enquanto isso, o Aquecimento Global só aumenta. Quer dizer, o Aquecimento é Global, mas a prática no tratamento (cuidado) dele é, quando muito localizada, aqui e ali. Todo mundo reclama, que a Terra está aquecendo, mas quase ninguém faz o dever de casa que é trabalhar para que a parte que nos cabe, o aceleramento efetivo do processo no planeta, seja progressivamente minimizado, haja vista que, efetivamente, não podemos acabar com o aquecimento em si. Nós sabemos o que temos e como devemos proceder, mas preferimos continuar conversando e seguimos fazendo as mesmas coisas erradas que sempre fizemos.

Vejam bem Senhores, somos cientes dos fatos que nos confirmam que não temos como “resolver” o problema e que também somos cientes dos fatos que nos informam que podemos agir no intuito de lançar menos e retirar mais CO2 da atmosfera e, mesmo assim, nós ainda continuamos marcando reuniões para discutir o que vamos fazer. Ora, isso parece piada de mau gosto! Não é possível, deve existir alguma coisa muito errada na espécie humana, porque, desta maneira, ela trabalha contra o planeta e contra ela mesma.

Mesmo que consideremos novamente o ditado: “quem planta colhe”, certamente, do jeito que estamos seguindo, nós só vamos colher nossa extinção prematura, porque, sequer, estamos fazendo o nosso dever de casa. Continuamos com longas reuniões infelizes e ineficazes, onde se perde bastante tempo, se gasta muito dinheiro, onde políticos infelizes e incapazes falam inúmeras idiotices e não são capazes de tentar nem, ao menos, criar mecanismos eficazes e efetivos para fazer aquilo que se pode, ou melhor, que o fato pede que se faça. Ou seja, trabalhar para diminuir progressivamente o excesso de CO2 que colocamos na atmosfera.

Somos cientes de que não vamos “resolver” o problema, mas vamos fazer a nossa parte e, quem sabe, ainda possamos garantir um pouco mais de tempo para nós e algumas espécies do planeta, que tem resistido às nossas ações brutais, absurdas e cotidianas. Meus amigos, nós já sabemos que: “contra os fatos, ainda que possam existir argumentos contrários, esses argumentos nunca serão capazes de negar os fatos”. Vamos deixar de lado as conversas inócuas e aborrecedoras aos verdadeiros interesses do assunto e vamos começar logo a colocar as mãos na massa, atuando nas únicas coisas que, de fato, têm sentido e que, de fato, são aquelas que, podemos e devemos fazer.

Isto é, devemos parar de queimar combustíveis fósseis, investindo e trabalhando mais com energias alternativas que não queimam substâncias orgânicas e plantando mais árvores para tentar absorver o excesso de CO2 que já produzimos e distribuímos na atmosfera até aqui. Temos um passivo de contaminação ambiental muito grande e não podemos mais nos darmos ao luxo de continuar criando um presente que trará mais passivo de CO2 para o futuro. Precisamos tirar a quantidade extra de CO2 que já colocamos na atmosfera e parar de aumentá-la progressiva e perigosamente.

Outro ditado diz que: “devagar se vai ao longe”, mas também não é bem assim, pois nesse caso específico, se formos “devagar”, certamente nós não chegaremos a lugar nenhum. Ou melhor, “devagar” nós apenas aceleraremos o nosso processo natural de extinção. Não temos tempo para ir “devagar”, ao contrário, já deveríamos estar desesperados e com muita pressa. Já passou da hora de realizarmos ações verdadeiras e o nosso futuro como espécie viva, já está bastante comprometido.

Por outro lado, também não se trata de “ir ao longe”, pois temos certeza de que isso não acontecerá, haja vista que, além do Aquecimento Global e das suas consequência climáticas, também existe o alto grau de comprometimento que produzimos nos recursos naturais do planeta. Nossa dependência planetária é total, mas nós não queremos enxergar a realidade à nossa volta e seguimos duvidando e “empurrando com a barriga”, como se tudo estivesse normal e esperando para ver no que vai dar.

No momento, nós deveríamos apenas querer sobreviver um pouco mais e garantir que estaríamos prolongando o nossa temporada planetária como espécie viva e assim, estaríamos ajudando as gerações futuras a ter uma chance maior de existir. Além disso, obviamente estaríamos também auxiliando na manutenção da vida das demais espécies planetárias que ainda ficariam na Terra depois de nossa extinção. Sempre é bom lembrar aos incautos, que o planeta certamente sobreviverá sem o homem e que a vida continuará, independente de nossa existência.  

A propósito, para os mais desligados e pouco entendidos na questão, devo dizer que a nossa extinção também é um fato natural que certamente acontecerá com todas as espécies vivas, inclusive a nossa. A única dúvida é quanto tempo ainda nos resta na Terra. Trabalhemos para alongar nossa estadia planetária e não para encurtá-la. Quero acreditar que todos gostariam de que esse tempo ainda fosse longo, muito longo., mas na prática o que se vê não é isso. A espécie humana historicamente tem andado na contramão do planeta e da sua própria sobrevivência e precisa mudar de comportamento para, pelo menos, garantir um final menos infeliz.

Não se assustem, nós não vamos ver esse final, ela não vai ocorrer de hoje para a manhã. Entretanto, temos que entender que isso é um fato natural, que em dado momento irá acontecer. Podem ter certeza de que se continuarmos nessa apatia e nesse comportamento insano, de continuar apenas conversando e não fazendo nada, os próximos anos vão ser cada vez piores e mais tristes. Tenho pena dos que virão, porque eles tendem a sofrer muito mais que nós.

Antes de terminar deixo aqui, mais um ditado que diz: “Deus ajuda a quem cedo madruga”. Meus amigos o dia já está amanhecendo e por mais paciente que Deus seja, creio que Ele não vai querer perder mais tempo conosco, haja vista que não estamos fazendo a nossa parte devidamente. Mesmo aqueles que não acreditam na existência de Deus, devem procurar entender que sem continuidade, seu legado, sua descendência e sua história simplesmente também deixam de existir. Ou seja, sua vida, rica ou pobre, bela ou feia, interessante ou medíocre jamais poderá ser contada e você viveu à toa e para nada. Será que é isso mesmo que nós esperamos de nossa existência na Terra?

Senhores governantes e dirigentes das diferentes nações planetárias terrestres, parem de brincar, pois vocês também vão morrer e muitos de seus descendentes futuros também não nascerão e se nascerem não terão um planeta em condições para que possam viver. A humanidade e o restante da vida no planeta necessitam, urgentemente, que os Senhores trabalhem mais e conversem menos. Assim, esqueçam quaisquer outras questões e atuem ativamente no sentido de garantir a manutenção da vida aqui na Terra, pois essa é a coisa mais importante hoje e sempre. Qualquer outra questão certamente é menos relevante e pode esperar. Parem de se preocupar com as picuinhas e tirem um tempo para pensar na questão da continuidade da vida humana mais seriamente.

Para terminar, devo dizer que se os Senhores plantarem e cuidarem, obviamente a colheita poderá ser benéfica, mas como tudo é naturalmente incerto, ainda assim correremos riscos. Entretanto, como sabemos que contra fatos os argumentos são inúteis e que precisamos continuar seguindo em frente para podermos ir ao longe, com Deus ao nosso lado, sempre nos ajudando e que só existe uma solução. Nós precisamos que os Senhores sejam mais competentes e responsáveis na condição especial que ocupam, como líderes das nações humanas que habitam o nosso “pálido ponto azul” do Universo.

Por fim, é preciso lembrar ainda de mais alguns ditados verdadeiros, que dizem o seguinte: “o primeiro passo é sempre o mais importante” e “hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas”. Deste modo, façamos bom uso desse nosso primeiro dia, dando o nosso primeiro passo e “não deixando para amanhã, o que pode e deve ser feito hoje”. Nós, não podemos voltar ao início e apagar os erros do passado, mas, certamente, nós podemos trabalhar na construção de um novo futuro que permitirá um final diferente daquele que está se apresentando.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

06 dez 2023
“WhatsApp”, Grupos de “WhatsApp”, Uso do “WhatsApp”

Burocracia e Lixo Eletrônico nos Grupos de “WhatsApp”

Resumo: O artigo pretende ser uma maneira de orientação geral para as pessoas que estão envolvidas nos diferentes grupos de” WhatsApp”, no intuito de que possam fazer melhor uso desta excelente ferramenta, que tem sido o principal meio de comunicação atualmente.


I – Introdução

Meus amigos, se, por um lado, o “WhatsApp” foi o grande achado para a comunicação, por outro, tem trazido inúmeros problemas e situações vexatórias, por conta do uso excessivo e mesmo do mal uso dessa ferramenta utilíssima e que consiste no único mecanismo de comunicação à distância de muitas pessoas na atualidade. Por conta dessa grande importância do “WhatsApp”, resolvi fazer uma pequena análise não do uso da ferramenta em si, que é extremamente fácil e muito funcional, mas de como as pessoas têm usado a ferramenta indevidamente e assim criado, muitas vezes, mais transtorno do que soluções.

Não tenho a intenção de resolver os problemas, até porque não tenho poder para isso e nem sou capaz de mudar as pessoas e os seus respectivos pensamentos e ações. Entretanto, quero tentar manifestar algumas orientações aos incautos e aos distraídos, ainda que generalizadamente, sobre alguns dos transtornos produzidos pelo excesso de uso indevido do “WhatsApp”. Como já disse, ainda que eu não tenha a pretensão de resolver todos os problemas, entendo que seja fundamental que os usuários se preocupem um pouco mais com a maneira de utilização da ferramenta e assim, vou deixar aqui, algumas sugestões que podem trazer benefícios.

II – Uso Pessoal

Primitivamente os usuários precisam entender que o “WhatsApp” é uma ferramenta que foi criada para servir de uso na comunicação pessoal entre indivíduos e assim ela deve ser priorizada, até porque algumas questões pessoais não devem ser tornadas públicas em redes sociais. Deste modo, a priori, a comunicação precisa ser discreta, suscinta e rápida, devendo ser escrito ou dito apenas e tão somente o necessário.

O “WhatsApp” não é uma sala de bate-papo, um “chat”, ou coisa parecida, como querem e fazem alguns usuários da ferramenta. Ele consiste numa maneira de comunicação que visa agilizar e solucionar objetivamente pequenas questões. Portanto não se deve produzir grandes debates através do “WhatsApp”, tanto na forma escrita, como de maneira fonada, porque sempre há risco de vazamento.

 A metodologia de uso comunicativo da ferramenta “WhatsApp” tem crescido bastante e realmente sua efetividade é muito abrangente e eficaz, mas poderia ser muito melhor, se não fossem alguns problemas causados pelas posturas dos próprios usuários que insistem em usar o “WhatsApp” como se fosse um antigo telefone. Sempre é bom lembrar que o telefone era particular e que o Whats App é público. Desta maneira, não há segredos no WhatsApp

III – Grupos de “WhatsApp”

Hoje, qualquer coisa que precisa ser resolvida por duas ou mais pessoas, a primeira providência que se pensa é a seguinte: “vamos criar um Grupo de “WhatsApp” para que se possa discutir sobre a questão”. É lógico que isso deveria ser um bom negócio, entretanto, muitas vezes acaba não sendo. Vou tentar demonstrar algumas das coisas indevidas que os usuários da ferramenta acabam cometendo na utilização dentro dos diferentes grupos. Antes, porém, devo me preocupar em fazer alguns esclarecimentos necessários.

Primeiramente é preciso entender que muitas pessoas, por questões profissionais ou pessoais de relacionamento, algumas vezes fazem parte de 20, 50 ou até mais Grupos de “WhatsApp”, além de seus contatos pessoais individuais e obviamente essas pessoas geralmente também têm outras atividades. Assim, mesmo que estas pessoas quisessem, não poderiam ficar o tempo todo ligadas no “WhatsApp”, porque isso é fisicamente impossível.

Existem grupos familiares, grupos profissionais, grupos de associações, grupos de interesses comuns, grupos de tudo que é possível e imaginário e ninguém pode física ou operacionalmente tratar coerentemente de todos do mesmo jeito e ao mesmo tempo. Alguns grupos, se quer, são vistos por muitos de seus participantes, que obviamente têm as suas listas particulares de prioridades e, deste modo, certamente atendem antes, aqueles grupos que lhes são prioritários ou que, de alguma maneira, lhes atraem mais.

Entretanto, por outro lado, também existem pessoas que fazem parte de pouquíssimos grupos e que não tem muitas atividades e usam o “WhatsApp” como uma espécie de “Terapia Ocupacional”, já que costumam ter bastante tempo livre. Por favor, me desculpem pela franqueza e pela comparação aparentemente esdrúxula, mas essa é uma verdade crescente. Muitas pessoas usam o “WhatsApp”, principalmente como forma de ter o que fazer.

Isto é, essas pessoas entendem que a ferramenta é fundamental para a ocupação de suas vidas e assim, respondem e discutem tudo o que podem, falando ou escrevendo o que devem e principalmente o que não devem no “WhatsApp”. Muitas dessas pessoas, ainda ficam aborrecidas e até brabas, quando alguém reclama com o administrador o quando as outras pessoas do grupo do, simplesmente lhes ignoram e não lhes respondem. Elas não conseguem perceber que o “erro” é possivelmente delas mesmas, por conta da falta de filtro nas informações postadas.

É óbvio que não existe nenhuma maldade nessas ações. Na verdade, isso ocorre devido à falta de prática ou por contingência de situações distintas com pessoas diferentes, que, muitas vezes, até por acaso, estão num grupo comum. É por conta disso que todo grupo deve ter um administrador que seja capaz de esclarecer e de “chamar a atenção” dos demais quando necessário. Porém, essa tarefa de “chamar a atenção” é desagradável e deselegante. 

Por conta disso, geralmente o administrador resolve, por conta própria, deixar a questão de lado e não “chamar a atenção” das pessoas e desta maneira, as ações indevidas vão ficando cada vez mais comuns, até que se perpetuam no grupo como se fosse uma atividade normal.  Obviamente, esse tipo de ação do administrador acaba por prejudicar todo o grupo. Enfim, se você não quer ser desagradável, não seja administrador de grupo do “WhatsApp”.

IV – Como surgem as Burocracias e Sujeiras

O que estou chamando aqui de burocracia e sujeira (ou lixo do “WhatsApp”) são as coisas que interferem diretamente nas atividades do grupo, porque, diretamente, nada tem a ver com ele. A maioria dessas “sujeiras” surgem aleatória e ocasionalmente nos grupos.

Por exemplo, num determinado grupo, um belo dia, alguém resolveu dar um “Bom Dia Grupo”! A partir de então, a cada dia aparece, além daquele que começou, mais um membro dando um Bom Dia ao Grupo e inclusive aquele que não dava Bom dia ao Grupo, começou a ficar preocupado e passou também a dar Bom dia ao Grupo, porque todo mundo dava Bom dia ao Grupo e assim, passado um tempo, o grupo que tinha 32 pessoas, toda manhã, tinha 32 Bom Dia Grupo. Ora, ainda que eu não tenha nada contra o Bom Dia de quem quer que seja, o Bom Dia não cabe e nem há necessidade dele num grupo de “WhatsApp”, até porque o grupo tem outra finalidade, que certamente não é desejar Bom Dia para ninguém.

O cumprimento de Bom Dia é algo pessoal e se você quer desejar um Bom Dia para alguém comunique-se privada e diretamente com esse alguém fora do grupo.  O grupo não foi criado para se trocar Bom dia, perde-se tempo e aumenta-se a burocracia e cria-se uma sujeira (um lixo) no grupo, com aquela mensagem desnecessária, que se acumula no grupo e às vezes interfere na possibilidade de identificação de uma mensagem efetivamente importante a todos do grupo. O grupo é do interesse de todos e se ele foi criado é porque todos juntos são mais importantes do que cada um individualmente, no que se refere ao tema gerador do grupo.

Duas coisas precisam estar bem claras, quando se resolve criar um grupo de “WhatsApp”: primeiro é que o interesse do grupo é o assunto gerador do grupo e segundo é que o fato de algo estar postado no grupo, significa que todos devem saber esse algo. Ainda que nem todos possam realmente ter contato com a informação, certamente esta deve ser uma prioridade ao grupo. Deste modo, quanto maior for a quantidade de informação irrelevante, maior será também a quantidade de informação perdida no interesse do grupo. Por isso mesmo, o assunto deve ser direto, objetivo e sem questões acessórias adicionais.

Meus amigos, podem acreditar no que eu digo. São escritas ou faladas tantas coisas acessórias, que não interessam, que os grupos acabam, naturalmente, perdendo prestígio na ordem de prioridades de alguns de seus membros e, embora isso possa ser considerado como uma falta de interesse e talvez seja mesmo, os grupos definham e se extinguem. O foco no interesse do grupo é fundamental para o bom funcionamento e para a eficiência no trabalho do próprio grupo.

Deste modo, é preponderante que todos os membros do grupo, e o administrador em especial, procurem estar bastante atentos ao fato de que, entre as coisas que importam e as que não importam num determinado grupo, as pessoas que compõem esse grupo sempre irão preferir aquelas coisas que interessam, independentemente de qual seja o grupo em questão. Em suma, a priori, ninguém tem tempo a perder e se puder escolher, obviamente não vai perder tempo com questões desinteressantes e “bobagens”.

Vou dar alguns exemplos mais esclarecedores para que todos possam entender melhor a minha preocupação.

a – Imagine que hoje é dia do aniversário de um membro do grupo e alguém resolve colocar no grupo: parabéns fulano! Nesse instante, todo mundo começa a mandar os parabéns. Ora, isso é mais uma grande “bobagem”. O Grupo não é um grupo de felicitações individuais, essas devem ser feitas sim, mas no “WhatsApp”, no telefone, ou no E-mail particular do aniversariante.

Aliás, o melhor mesmo é que a felicitação seja dada pessoal e presencialmente, mas não sendo possível, mande o seu recado. Entretanto, observe que esse recado seja diretamente para a pessoa e não no grupo de “WhatsApp”, porque isso só prova que você não sabia ou não lembrava que naquele dia era aniversário daquele sujeito e graças a Deus alguém lhe deu a informação. Pois é, meus amigos, o cumprimento natalícia via grupo, pode acabar sendo um fator de desagrado e não de homenagem.

b – O grupo tem uma contribuição em dinheiro mensal e você está com o pagamento de sua percapita atrasada ou se simplesmente você paga a mensalidade de qualquer coisa ao Tesoureiro ou ao responsável por receber a contribuição e aí você coloca o recibo no grupo. Por que e para que você faz isso? Será que é para que todos saibam que você pagou?

Meu amigo, isso é uma grande besteira. Sua situação financeira é problema exclusivamente seu e não interessa a mais ninguém. Ou melhor, neste caso, interessa também do Tesoureiro ou ao responsável pelo recebimento do pagamento da instituição. Assim, mande esta informação no “WhatsApp” privado da pessoa indicada pela instituição, já que é com ela que você precisa falar, e não com todos no “WhatsApp” do grupo.

c – Se alguém já deu os parabéns ou os pêsames a alguém no grupo, por favor, se desobrigue de ter que fazer a mesma coisa. Agora, se você acha que também deve dar os parabéns ao aniversariante ou a pessoa enlutada, faça isso. Porém, use o “WhatsApp” privado da pessoa para fazer tal comunicado.

Tenho certeza de que o aniversariante ou o enlutado se sentirá mais importante e guardará melhor impressão de sua pessoa, se você se dirigir a ele individualmente. Não se preocupe em colocar os parabéns ou os pêsames no grupo, apenas para agradar aos não aniversariantes e não enlutados que já colocaram a informação antes de você.

d – Eu poderia dar outros exemplos, alguns até bem mais conflitantes e incômodos, mas vou parar por aqui para que todos possam refletir sobre suas postagens no grupo e para eu não ser acusado de qualquer coisa mais desagradável, apenas por resolver expor a minha opinião e tentar orientar sobre a participação mais efetiva num grupo de “WhatsApp”. Em suma, o grupo de “WhatsApp” é criado para servir a um propósito, qualquer coisa diferente desse propósito não deve ser postada no grupo.

V – Considerações Finais

1 – Há tantas publicações desnecessárias nos grupo de “WhatsApp” que, muitas vezes, quando alguém publica algo que você precisa ler, você acaba não lendo, porque a informação se perde no meio da grande quantidade de informação indevida. Muitas vezes, quando ninguém chama sua atenção no grupo, você não vê a informação e depois, como as mensagens se sucedem, você acaba passando batido sobre o assunto daquela informação.

2 – Se o grupo de “WhatsApp” é apenas para dar Bom Bia, Boa Tarde, Parabéns, Pêsames e coisas desse gênero, então nem eu, nem você e nem ninguém precisam fazer parte dele, até porque as preocupações devem ser outras, pois todos temos mais o que fazer. Permaneça nos grupos que estão preocupados primeiramente com o grupo e não com indivíduos ou outras questões particulares, por mais importantes que elas possam ser. Atitudes bajuladoras não parecem ser os melhores caminhos para os grupos de “WhatsApp”.

3 – Como sempre, eu sei que serei, mais uma vez, taxado de mal-educado, grosso e chato, por alguns. Entretanto, alguém tem que ter coragem de dizer o que é preciso. Ah! Eu também sei que ninguém pediu a minha opinião. Porém, estejam certos de que minha preocupação maior neste contexto é com o bom funcionamento dos grupos de “WhatsApp” e penso que todos também devessem estar preocupados com isso.

4 – Finalizando, quero aproveitar para lembrar, ainda que ninguém tenha pedido minha opinião, que esse tipo de orientação aqui manifestada por mim, deverá ser válida para qualquer grupo de “WhatsApp”. Já que somos todos cientes de que a ferramenta é boa, então vamos todos trabalhar para que ela também seja realmente a mais eficiente possível.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Professor e Pesquisador), Escritor, Revisor e Ambientalista.

08 nov 2023
VALE DO PARAÍBA: SUSTENTABILIDADE É A ÚNICA SOLUÇÃO

VALE DO PARAÍBA: SUSTENTABILIDADE É A ÚNICA SOLUÇÃO

Resumo: Neste artigo, que na verdade, é a fala que fiz no XXXIII Simpósio de História do Instituto de Estudos Valeparaibanos (agosto de 2023), apresento minha opinião do que entendo ser necessário para o Desenvolvimento Sustentável da região do Vale do Paraíba Paulista. Faço um apanhado histórico geral do passado, do presente e apresento as possibilidades e os mecanismos para o futuro de nossa região;


Meus amigos, neste momento, passamos por uma situação bastante difícil, estamos numa encruzilhada importantíssima visando garantir a nossa permanência planetária e aqui em nossa região, que não é nada diferente do restante do mundo, seguimos persistindo no mesmo erro global de outros “seres humanos”. Isto é, ainda insistimos em não querer respeitar o Meio Ambiente e minimizar os problemas ambientais. Tivemos, ao longo dos últimos 400 anos da história recente do nosso Vale do Paraíba, três situações distintas que ocorreram, no que diz respeito a ocupação e ao uso efetivo dos recursos naturais da área geográfica da região. Aqui vou chamar essas situações de momentos.

No primeiro momento queríamos encontrar “coisas” para produzir dinheiro e enriquecer as pessoas, com base exclusiva no uso da área e de seus recursos naturais (as “coisas” interessantes que aqui encontrávamos). Ou seja, esse momento se baseava exclusivamente na exploração, na destruição e na degradação do “meio ambiente primitivo”. Por favor, entendam a expressão “meio ambiente primitivo”, como sendo todo o espaço físico, sua fisionomia e obviamente todos os recursos naturais nele disponíveis antes da chegada do “homem branco” à região. Naquele momento nossa preocupação era apenas e tão somente exploratória, extrativista e modificadora da fisionomia do meio ambiente. Queríamos apenas explorar o espaço físico, encontrar e, se possível, capturar as “coisas” interessantes.

Quer dizer, nesse primeiro momento havia uma exploração massiva e excessiva do meio ambiente da região. Assim, tudo que fosse possível deveria ser retirado e ainda tudo que fosse interessante e possível também deveria ser modificado no interesse do homem. Imagino que posso considerar que esse primeiro momento foi o mais longo, durando bastante, cerca de 300 anos, até pelo menos, o fim da segunda guerra mundial (1945). Estou considerando e assumindo isso, porque até então, não existia, formalmente, nenhuma preocupação ambiental no mundo, tão pouco legislação ambiental e por sorte, também não existia tecnologia que permitisse uma exploração mais contundente e efetiva das “coisas”.

O segundo momento, que se manteve, aproximadamente, até os últimos 30 a 40 anos, caracterizou-se por ainda tentar criar condições econômicas para causar melhoras nas cidades e nas pessoas, através da exploração do espaço físico e dos recursos naturais. Entretanto, nesse segundo momento os homens estavam muito preocupados em revitalizar e melhorar a urbanização, além de aumentar a viabilização da industrialização como modelo de progressão da renda, do conforto, da segurança e consequentemente de mecanismos de incremento da sociedade e “embelezamento” dos espaços físicos urbanos, mantendo a exploração rural intensa.

O mote era, principalmente “melhorar” os espaços urbanos e produzir mais satisfação à vida das populações humanas que ocupavam, cada vez mais, esse tipo peculiar de espaço. Desta maneira, as pessoas se dirigiram em grande escala aos centros urbanos, acreditando que assim a vida seria melhor, pois as áreas urbanas eram mais bem cuidadas e “desenvolvidas”. O “progresso” e a urbanização eram os fatores mais importantes. Por conta disso, as condições vida nas cidades certamente deveriam ter muito mais qualidade do que a vida no campo.

Entretanto, o tiro acabou saindo pela culatra e esse modelo, contrariando as expectativas, consumiu mais recursos, ampliou significativamente a produção de resíduos e aumentou gravemente a poluição ambiental, complicando a saúde e, ao contrário do que se esperava, foi significativamente mais degradante da qualidade de vida das pessoas e do meio ambiente.  Talvez a ideia do modelo não fosse ruim, mas sua prática, aleatória e sem nenhum controle, acabou sendo drástica, porque manteve a exploração e não se preocupou, com questões simples e fundamentais, como, por exemplo, a preservação de reservas florestais naturais e a manutenção da qualidade da água, do ar e do solo.

Agora estamos em pleno terceiro momento, onde já conhecemos bastante sobre as coisas erradas que fizemos errado e onde parece que estamos mais preocupados em manter a qualidade ambiental, porque alguns de nós, já entendemos que isso é fundamental para garantir a qualidade de vida das pessoas. Quer dizer, hoje, muitos de nós, sabemos que qualquer procedimento que possa ser viabilizado economicamente, por mais que aparente ser benéfico à sociedade, precisa ser primeiramente analisado e autorizado ambientalmente. Existe uma legislação ambiental efetiva e principalmente existe o crivo do licenciamento ambiental, que hoje é obrigatório, pelo menos no texto legal, embora haja quem não concorde com isso.

Hoje o meio ambiente, ao menos no papel, é o fator balizador preponderante das ações antrópicas. A sociedade só estará realmente satisfeita se mantiver as condições ambientais que aparentam permitir aquela pretensa satisfação que se quer ter. Assim, os Estudos de Impacto Ambiental prévios passaram a ser atividades fundamentais para a realização de qualquer empreendimento possivelmente impactante. Precisamos nos manter ativamente nesse último momento, mas aparentemente ainda tem gente que duvida que essa seja uma condição necessária e prefere seguir no segundo momento e assim, continua seguindo no caminho errado.

Nesse terceiro momento temos que procurar a efetivação de nossa preocupação com o meio ambiente e com a garantia da qualidade de vida das pessoas. Somente depois disso poderemos pensar na geração de recursos econômicos. Temos que acabar com a exploração massiva de recursos naturais, temos que minimizar a geração de resíduos, além de reciclar ou recuperar tudo aquilo que for possível. Temos que colocar todas as pretensas ações numa balança de custo-benefício para identificar a viabilidade de qualquer empreendimento. Em suma, já sabemos que: ou utilizamos o meio ambiente com coerência e parcimônia ou tudo acaba, inclusive nossa espécie que é a mais dependente de todas.

Nós humanos, poderíamos estar bem melhores e o planeta também, mas, por conta de outros interesses, mesmo neste terceiro momento, ainda estamos vivendo “num mato sem cachorro”, como dizia meu avô. Talvez, estejamos nessa condição, porque os cachorros agora também estão muito mais abundantes nas cidades do que antes e assim, no “mato” está faltando cachorro e certamente outros animais. Por conta dessas e outras questões similares, os nossos conceitos de ambiente Urbano e Rural se misturam cada vez mais para o pretenso bem da Economia, mas para o verdadeiro mal do Meio Ambiente, das pessoas e dos demais organismos vivos que neles habitam.

Contudo, hoje temos tecnologia para resolver tudo ou quase tudo. Quer dizer, hoje podemos fazer melhor, ocupar melhor, usar melhor e viver melhor, porque, se quisermos, a tecnologia pode nos auxiliar bastante. Assim, nossa questão não é mais técnica, agora ela é apenas ética e oportunamente política. Deste modo, temos que estabelecer políticas públicas que garantam o uso devido dos espaços físicos e dos recursos neles existentes e que desta maneira favoreçam amplamente a qualidade de vida.

O problema é que muitos de nós, infelizmente, continuam insistindo em fazer errado, descumprindo a legislação, desprezando o conhecimento adquirido com os erros do passado e com a tecnologia do presente, que certamente poderiam nos ajudar a minimizar bastante e, em muitos casos, até impedir a possibilidade de continuar errando. Nós humanos, somos muito teimosos, somos burros mesmos, principalmente o tipo humano que aqui vou chamar de “Homo politicus”, que insiste, por vários motivos, em manter os procedimentos errôneos e incorretos, que não cabem serem discutidos aqui, mas que são fundamentais na hora das eleições e que, tristemente, nos trouxeram à condição atual. Estes tipos de “seres humanos” querem nos manter nesse “status quo” arcaico, predatório, perverso e porque não dizer suicida.

Precisamos nos preocupar mais objetivamente com a manutenção da sustentabilidade ambiental, porque a população, ainda que cresça menos, não para de crescer e deste modo, as necessidades são sempre maiores. Precisamos sempre de mais espaços, de mais recursos, de mais ações e obviamente de mais dinheiro. Aqui na nossa região, temos uma questão mais delicada e complicada ainda, por conta da necessidade, cada vez maior, das águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul e da consequente situação aflitiva na segurança hídrica dessa bacia que, hoje, já abastece diretamente cerca de 30 milhões de pessoas, embora a mídia não fale nada a esse respeito.

Pois então, temos que ter muita parcimônia e uma política regional definida, mas nossos políticos, infelizmente, ainda não têm ou não querem ter essa visão, que é necessária e urgente. Deste modo, cada político ganha os seus votos e muitos acabam se elegendo e fazendo o que querem, sem nenhuma conexão com a necessidade explicita da realidade regional. Temos aqui no Vale do Paraiba, alguns municípios que são verdadeiros “paraísos”, mas também temos alguns quase “infernos”.

Num pequeno pedaço de terra que equivale a apenas cerca de 6% da área geográfica total do Estado de São Paulo, temos 39 municípios e somos a quinta maior região metropolitana do país, com quase 3 milhões da habitantes. Por outro lado, ainda possuímos grande parte da maior reserva florestal natural do estado e não podemos nem pensar em perdê-la, porque nela, certamente, reside a sorte e o futuro da região e das pessoas que aqui ainda vão nascer.

Aqui em nossa região, temos várias Unidades de Conservação Federais, Estaduais e Municipais, além da região ser margeada ao Norte a ao Nordeste por dois grandes Parques Nacionais e pela APA da Mantiqueira a Noroeste. Nas áreas estaduais destacam-se os 5 núcleos do Parque Estadual da Serra do Mar (Cunha, Picinguaba, Santa Virgínia, Caraguatatuba e São Sebastião), que compõem a parte mais significativa dos remanescentes da Mata Atlântica do país. Além disso, temos vários municípios de destaques que nos dá o título de maior fluxo turístico religioso do país.

Esses aspectos nos garantem um imenso potencial turístico e nos coloca entre as regiões de maiores possibilidades nessa área específica de atuação. Entretanto, aparentemente os nossos administradores públicos ainda não entenderam (ou não querem entender) bem esse aspecto e não se dedicam a investir ativa e efetivamente nessa possibilidade de incrementar o turismo da região.

Se, por um lado, temos grandes possibilidades, por outro, continuamos, na maioria das vezes, votando e escolhendo beneméritos respeitados, aventureiros loucos ou picaretas de plantão, para serem os administradores públicos e isso tem que parar de acontecer. Temos que passar a eleger administradores públicos com boa visão geral da realidade socioambiental regional, porque precisamos pensar mais na região e no futuro das pessoas. As eleições têm que deixar de ser coisas de amigos ou de interesses individuais do momento eleitoral. Nós precisamos estar ligados no tempo futuro e trabalhar para o sempre da região. Mais do que, apenas boas pessoas, nós precisamos de pessoas probas, corretas, capazes, competentes e interessadas em fazer efetivamente o que precisa ser feito pela região.

Infelizmente, esse marasmo político que historicamente acompanha a população brasileira, mormente aqui no Vale do Paraíba, por óbvio, é a principal causa dessa triste situação, que põe alguns de nós nos dois extremos (paraíso e inferno) de desenvolvimento e de qualidade de vida. Contudo, é mais triste ainda, quando se observa que a maioria de nós, cidadãos vale-paraibanos, ainda está no purgatório das incertezas à procura da melhora e certamente poderíamos, e pela nossa história, além de nossos recursos naturais e de nosso cabedal humano, deveríamos estar bem melhores, se o trabalho fosse feito seriamente por todos, dentro da realidade e sobretudo, respeitando os interesses regionais primários.

Meus amigos, as cartas estão postas à mesa e lamentavelmente a maioria de nós ainda está discutindo que jogo vamos jogar. Ou seja, nós estamos fora do tempo e da realidade, pois o jogo já está acontecendo faz muito tempo e nós já estamos perdendo feio, aparentemente sem saber. Agora, nós devemos lutar para minimizar o prejuízo, tentar empatar o jogo e lá na frente, se tudo der certo, quem sabe, ainda poderemos até chegar a uma vitória. Mas, isso já está bastante difícil de acontecer. Entretanto, temos que acreditar, porque a “esperança é a última que morre” e a nossa não vai morrer. Para tanto, precisamos mudar o nosso pensamento e principalmente criar atitudes comportamentais muito diferentes das habituais para que essa vitória possa acontecer.

É sabido de todos, mas não custa repetir mais uma vez, que: “não se muda o resultado, cometendo os mesmos erros”, ou seja, “não se consegue alterar um resultado, utilizando sempre os mesmos métodos”. Assim, há necessidade de mudar. É preciso pensar e agir com base efetiva na sustentabilidade. Mas, que fique claro, sustentabilidade real e não o modismo que andamos vendo e vivendo, onde se vulgarizou e se prostituiu a ideia da sustentabilidade. A palavra sustentabilidade está se desgastando muito rapidamente e a verdadeira ideia por traz da palavra está sendo mascarada ou totalmente omitida para atender outros interesses menos nobres e nada importantes aos interesses planetários e sociais.

 A sustentabilidade inexiste sem o equilíbrio do seu tripé: Meio Ambiente, Sociedade e Economia. Qualquer coisa ou que privilegie a Economia, antes de respeitar o Meio Ambiente e de incluir a Sociedade, não é sustentabilidade e sim prestidigitação. Na verdade, acaba sendo enganação mesmo e que muitas vezes pode acontecer por ignorância, mas que, na maior parte das vezes, tem ocorrido pela ganância ou pela má intenção de quem a produz. De qualquer maneira, é necessário entender que a escolha política que fizermos hoje é que definirá o futuro ambiental regional e, consequentemente, o futuro do homem da região.

Não podemos mudar o passado, mas sempre podemos trabalhar, corrigindo os erros e construir um futuro diferente e melhor. Nós devemos ser os artífices de nosso novo futuro, mas temos que começar a construir esse novo futuro agora, no presente, pois não dá para esperar mais. Nosso compromisso com a gerações vindouras, nos obriga a tomar posições concretas e desenvolver atitudes efetivas desde já. A ocupação do espaço físico, gerando empregos e garantindo a qualidade de vida é possível, mas precisamos parar de brincar e temos que passar a pensar, acreditar e agir seriamente objetivados nessa possibilidade.

O primeiro passo é definir o futuro que queremos, depois escolher políticos capazes, preocupados com o desenvolvimento sustentável da região, com visão efetiva da sustentabilidade e, sobretudo, honestos e cumpridores das leis. Por fim, temos que exigir que as ações definidas sejam estabelecidas e tomadas a contento, respeitando o interesse coletivo regional, sem privilégios de quem quer que seja. Somente dessa maneira poderemos sair do purgatório e assim, começaremos uma caminhada progressiva para o paraíso regional.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo); Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

15 out 2023
DIA DO PROFESSOR: 60 ANOS DE “FESTA”

DIA DO PROFESSOR: 60 ANOS DE “FESTA”

Resumo: Proponho uma análise reflexiva sobre algumas atividades que atualmente estão sendo desenvolvidas por muitos professores. Entendo que a educação é a base do desenvolvimento sustentável de um país e o professor que deveria ser artífice desse mecanismo, em grande parte, tem caminhado no sentido errado, quando valoriza algumas peculiaridades, deixando de lado o todo da população.


Há exatos 60 anos, o então Presidente da República Federativa do Brasil João Goulart, através do Decreto 52.682 de 14 de outubro de 1963, estabeleceu o dia 15 de outubro como o Dia do Professor. De lá para cá, a data tem sido comemorada, cada vez com menos pujança, haja vista que a profissão e seu prestigio profissional seguem em decadência vertiginosa no país. A data escolhida em alusão a criação do Ensino Elementar no Brasil, através da Lei de 15 de outubro de 1827, estabelecida pelo Imperador Dom Pedro I e que criou a obrigatoriedade do ensino de primeiras letras em todos os lugarejos do território nacional.

Como forma de lembrar a data e sua história, eu resolvi aproveitar este momento “festivo” para propor à toda sociedade, em particular aos colegas e amigos professores, para que façam comigo uma reflexão, no sentido de tentar salvar aquilo que nos resta como verdadeiros profissionais da educação. Depois de quase 70 anos de vida e quase 50 anos de exercício efetivo do magistério, acredito que posso emitir alguma opinião sobre o que está acontecendo no país, em relação ao sucateamento da educação e da nossa nobre profissão de professor.

Os professores do passado queriam mostrar às pessoas e ao mundo as inúmeras possibilidades, considerando a grande mágica que a educação poderia fazer na vida de cada ser humano. Entretanto, na atualidade, os professores estão longe daquela pretensa vontade. Tristemente a visão dos últimos anos tem sido outra.  Atualmente muitos dos professores, aparentemente, querem apenas uniformizar e, se possível, igualar mesmo toda a sociedade, numa condição de mesmice generalizada e indistinta. Se antes o desafio era mostrar a diversidade e sua importância para o aprendizado e à vivência social entre os seres humanos, tentando conviver mais e melhor, com e apesar dessa mesma diversidade. Agora está tudo muito diferente e a realidade é bem outra, pois agora a diversidade é usada como “arma” contra os que são menos diversos.

Hoje a diversidade tenta se impor como condição especial nas escolas e a história humana vai se fazendo por conta de intrigas e questões sociais criadas para transformar em problemas as diferenças naturais entre os seres humanos. E os professores assistem a tudo como se isso fosse normal, quase sem interferência ou com interferência comprometida. Os poucos que tentam interferir coerentemente acabam sendo massacrados por forças estranhas à educação.

Na atualidade as pessoas significam pouco ou nada, o que importa são as suas características distintas. Deste modo, quanto mais características distintas e peculiares, maior é a importância dos indivíduos e isso acaba sendo reforçado nas suas respectivas mentes, pela escola, pelo professor e principalmente pela mídia maldosa e nojenta que domina o cenário e investe maciçamente na segregação da sociedade. Nossa sociedade caminha através da criação de problemas oriundos diretamente ou intensificados pela mídia impiedosa que apenas quer ver “o circo pegar fogo”.

O desafio do professor atual é ser e fazer de maneira diferente desse padrão ilógico e anti-humano que se estabeleceu, tentando demonstrar que se somos tão bons tendo tais características diversas, podemos ser muito melhores se não nos objetivarmos especificamente a elas. Isto é, devemos tratar nossas características naturalmente, haja vista que elas são naturais, entendendo que nem eu e muito menos o outro ser humano, tem qualquer culpabilidade causal pela existência dessa característica. Tudo é consequência da diversidade natural da própria humanidade e que ninguém é melhor ou pior por apresentar o aspecto A, B ou C, pois somos todos seres humanos.

Nossa humanidade deve suplantar a nossa vontade e sobretudo, o nosso egoísmo. Não se trata aqui de deixar de lado as coisas para criar mártires, mas sim de produzir pessoas melhores e mais envolvidas com os demais seres humanos, apesar de todas as diferenças possíveis e existentes na sociedade. Está faltando humanidade e sobrando arrogância e egoísmo nos diferentes grupos sociais e isso começa pelas escolas na presença dos professores. A sociedade está em guerra por questões pouco importantes para os seres humanos e que não têm, verdadeiramente, nenhum significado para melhoria da vida de todos.

Considerando que os professores são os principais artífices da mudanças na sociedade, cabe a eles, mais diretamente, a responsabilidade maior, pela condução das mudanças que deve interferir positivamente nesse quadro social esdrúxulo e confuso. Entretanto, é preciso que os professores queiram efetivamente fazer isso e para tanto algumas coisas têm que acontecer. Será necessário exterminar essas escolhas inúteis e nefastas de criar seres humanos piores ou melhores aqui e ali, para atender aos interesses de alguns malfeitores poderosos, cujo interesse único é contaminar a sociedade cada vez mais para beneficiar os seus próprios interesses.

Os professores são os únicos profissionais capazes de cumprir essa árdua tarefa, mostrando a sociedade que a diversidade é salutar e que devemos conviver perfeitamente com ela, sem preconceitos, sem exageros e principalmente sem arbitrariedades sociais para justiçar esse ou aquele fim. A função dos professores é lembrar a todos os alunos e demais membros da escola que, antes e acima de tudo, somos todos seres humanos e que só evoluiremos como humanos, se respeitarmos os direitos dos demais seres humanos. Não devemos investir em guerras sociais, mas sim em consensos humanitários mais significativos.

Essa tarefa complicada será realmente um grande desafio, no atual estágio em que a humanidade se encontra e se alguém pode fazer isso acontecer, certamente é o profissional da educação, ou seja, o verdadeiro professor. Cabe ressaltar que o professor é o agente que convive com toda a diversidade social e atua na orientação e na instrução da sociedade. A escola, local de trabalho do professor, é um minimodelo da sociedade e os professores, que são os mantenedores desse modelo, podem e devem, obviamente se quiserem, tomar as rédeas desse compromisso e tornar a situação bem melhor do que o que temos visto.

Por conta disso, é que precisamos, cada vez mais, de professores capacitados e eficientes. Professores desvinculados de obrigações sociopolíticas e versados na verdadeira história da humanidade e não em interesses particulares de quem quer que seja. O futuro que nos aguarda, depende exatamente dos professores compromissados com a humanidade e atuantes nas questões disciplinares e sociais, sem paixões e principalmente sem vínculos doutrinários, para poder garantir a instrução às pessoas e a educação ao seres humanos e a humanidade como um todo.

Aqui, é bom lembrar que ensinar não é sinônimo de educar. Ainda que quem educa certamente ensina, a recíproca não é verdadeira. Educar, antes de tudo, envolve na liberdade de escolha e ação do educando, enquanto ensinar envolve em instruir e treinar para fazer algo, independentemente da escolha. A instrução é programada e espera um resultado, mas a educação transcende qualquer limite programado e ela só se dá efetivamente, quando o educando é capaz de se realizar por si só, quando o educando não mais precisa do educador e quando ele é capaz de modificar e de reverberar a partir daquela ideia inicial. Educar é muito mais do que ensinar e instruir.

Por outro lado, a diversidade humana é fundamental para nos permitir mais acertos do que erros no aprendizado das inúmeras ações sociais e humanitárias. Entretanto, como, atualmente, alguns resolveram priorizar certas diversidades e enfatizar suas existências, como se fossem “modelos sociais” a serem estabelecidos e obviamente a coisa tem fugido da lógica. Esses “modelos sociais” passaram a exigir regras precípuas, haja vista que certas características da diversidade humana que eles possuem, acabaram sendo entendidas como “superiores” e assim eles querem ter estabelecidas suas vantagens sociais.

Ora, discutir diversidade dessa maneira, numa sociedade plural, onde há diversidade em tudo e em quase todos, além de não fazer nenhum sentido, não pode ser um bom negócio para a própria sociedade. Isso só pode gerar conflito, porque obviamente, todos querem ter um direito a mais e um dever a menos. Desta maneira a sociedade se transforma numa verdadeira Torre de Babel, onde cada qual cuida de falar a sua língua e o outro que de se vire. Isso só serve para individualizar e a corporativar mais as relações que cada vez são menos públicas e mais particulares.

Deste modo, precisamos de seres humanos melhores, mais preocupados com a humanidade e não de pessoas robotizadas ou autômatos que desempenham uma função, mas que não sabem o porquê de cumprirem aquela determinada função dentro da sociedade. Consequentemente, a reflexão, o entendimento, a compreensão e a criação consequente, que são os principais frutos da educação e que são fundamentais para a melhoria das pessoas e da sociedade, não conseguem ser efetivados.

Pois então, o professor, que deveria ser o profissional capaz e responsável por construir e aperfeiçoar essa sociedade, infelizmente está cada vez mais raro, pois hoje qualquer instrutor (adestrador) sem nenhuma vergonha, se entende como um professor, mesmo quando apenas repete e exige o que não conhece e, o que é pior, a sociedade concorda com isso. A verdade é que, tristemente, as escolas estão cheias de picaretas travestidos de professores.

Deste modo, as pessoas (alunos), quando muito, são apenas treinadas para fazer (repetir) coisas. Não importa se essas coisas são boas ou ruins para a sociedade e muito menos para humanidade. A prática usual da coisa é o que importa. As consequências advindas não interessam a ninguém, ou interessam apenas a alguns privilegiados da sorte pela diversidade. Ora, me desculpem, mas quem age assim, não é um professor de fato, quando muito será um instrutor de qualidade bastante questionável, que até poderá, ocasionalmente, formar bons profissionais, mas jamais ensinará a pensar e muito menos refletir no interesse humanitário.

As escolas e as salas de aulas estão cheias de gente assim, “ministrando aulas” e isso tem favorecido drástica e acentuadamente a ruptura da sociedade e complicado bastante a nossa condição de ser humano. Essa situação tem feito muitas pessoas assumirem posturas e condutas sociais que não trazem nenhum benefício social e, o que é pior, que geralmente causam imensos conflitos e acabam sendo anti-humanas. Os professores poderiam e deveriam intervir na amenização desses problemas, mas muitos deles assumem posições que só servem para acirrar as batalhas, ao invés de atenuá-las, porque eles estão diretamente envolvidos nessas respectivas questões.

Senhores, vamos refletir sobre essa situação complicada e procurar atuar na sua resolução, através da orientação de uma convivência pacífica entre os diferentes grupos e interesses sociais. Todos nós temos preferências e prioridades, mas nenhum de nós é mais importante que qualquer um de nós na sociedade. Ninguém pode se assumir como dono absoluto dos direitos, da verdade e que o resto que se dane. É na escola que essa particularidade tem que voltar a ser ensinada e o verdadeiro professor é o sujeito social que pode, se quiser, começar a resolver essa questão.

Professores melhores, levarão às escolas melhores e às sociedades melhores, sem discriminação e sem qualquer viés ideológico. Valorizemos a diversidade humana e convivamos bem com ela. Certamente quase ninguém aceita integralmente todas as peculiaridades sociais, pelos mais diversos motivos, mas todos têm ciência de que dependem da sociedade para continuar se sentindo vivo e da humanidade para continuar se sentindo humano. A única maneira de conseguirmos atender os nossos anseios socio-humanitários e respeitando os direitos e os deveres de toda a sociedade, sem privilégios e sem desprestígio de quem quer que seja. Somos todos humanos e temos apenas que nos respeitar dentro dessa condição que é (deveria ser) igual para todos.

As diversidades e variedades sociais, morfológicas, comportamentais, ideológicas e psíquicas são consequência da existência da própria humanidade e isso nós não podemos mudar. Assim, nós devemos conviver bem com todas essas variantes se quisermos continuar sendo humanos. Precisamos cuidar para que não nos transformemos em monstros sociais e assim atuemos para favorecer o aumento do conflito social e consequentemente para o fim progressivo de nossa espécie. Nos denominamos Homo sapiens, então vamos fazer valer a nossa sabedoria em prol de nós mesmos.

Parabéns a todos os professores pelo Dia dos Professores e espero que todos se lembrem da responsabilidade que nós temos com nossa profissão, com a sociedade brasileira e com a humanidade. Não podemos deixar que continuem nos enganando e criando questões sociais para justificar o abandono generalizado das escolas e a desvalorização sempre maior de nossa profissão, que, apesar de todas as dificuldades, continua sendo a mais importante de todas e não pode se sujeitar a mesquinhez, a indignidade e a imoralidade de alguns.

Professores, deixem de ser marionetes e deixem de torcer para esses “oportunistas sociais” que estão por aí, apenas para criar problemas. Vamos acordar para a realidade brasileira e vamos trabalhar para atender as necessidades nacionais e realizarmos festas efetivas para a nossa profissão doravante.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo; Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

14 set 2023
O CICLONE NO SUL E A REALIDADE NACIONAL

O CICLONE NO SUL E A REALIDADE NACIONAL

Resumo: É feita uma comparação da situação ambiental atual com o passado recente das condições ambientais do Brasil. A partir da aí, procura-se alertar à população para a necessidade de ação contra a degradação ambiental para se minimizar as consequentes mudanças climáticas, pois do contrário as catástrofes serão permanentes. 


Enquanto as pessoas desse país continental, iludidas pela mídia safada, continuarem a achar que o problema ambiental é uma questão brasileira: nada, absolutamente nada nesse país terá solução. Senhores e senhoras, o problema é mundial e está sendo liderado e orientado pelas superpotências, que querem continuar destruindo aqueles que podem, de alguma maneira, superá-las. O Brasil é um desses e se ainda não superou é porque tem muita gente, inclusive, muitos brasileiros, trabalhando na contramão do interesse nacional.

O Ciclone, que não é absolutamente nada comum no Brasil, aconteceu e acontecerá por conta do aquecimento global que está aí para todo mundo ver, entender e acreditar. Entretanto, tem uma série de idiotas que brinca e briga contra a realidade. O pior é que tem outros malfeitores que até investem contra a realidade e atuam provocando problemas adicionais. Mas, não quero discutir isso aqui. Entretanto, vale lembrar que aqui nesse país tem até gente que dá palestra e vai a televisão para falar bobagem, mentiras óbvias e propor absurdos. Lamentavelmente, tem sempre outros idiotas que escutam e repetem. Enquanto isso, o problema obviamente só vai aumentando.

Nesse instante eu lembro das minhas aulas e dos livros de ciências e de geografia de 50 ou mais anos, onde taxativamente era afirmado que o Brasil certamente estava isento dos problemas geomorfológicos do tipo ciclone e outros. Entretanto já tivemos tornados e agora esse ciclone. Bom, dizem que “é na desgraça que se aprende a viver melhor” ou se preferirem “é com as crises que se aprende”. Pois então, tomara que essa seja uma verdade, pois assim, quem sabe, tomaremos vergonha na cara e olharemos para a realidade estampada na nossa frente, enxergaremos o óbvio e deixaremos de brincar com a realidade.

O país, há muito tempo, foi saqueado por um grupo de falsos brasileiros que venderam a alma dos habitantes locais, já que o corpo nunca importou muito, para as grandes potências mundiais.  Nossa raça de “vira-latas”, foi promovida a “cão sem dono” e o Brasil, tristemente, já faz muito tempo, virou terra de ninguém. Os governos safados e corruptos que se sucederam e essa mídia nefasta e cruel, que só se importa com a audiência e com o lucro que ela produz, fizeram do Brasil um país dos bandidos e de degradadores ambientais e destruidores da própria nação.

Meus amigos o problema não é o ciclone. O problema é a irresponsabilidade nacional perante a questão ambiental, o ciclone é só mais um detalhe, que pode soar como uma catástrofe anunciada. O que mudou para que, em apenas 50 anos, o país que não poderia ter ciclones passasse a tê-los? A questão que deve ser respondida é esta.

O aumento da temperatura e o aumento significativo de acidentes catastróficos mundiais, são cada vez mais comuns, e a culpa reside no aumento da quantidade de carbono na atmosfera. Todo mundo está cansada de saber isso. Entretanto, ninguém, que pode, faz nada para mudar e culpam quem não pode, como causadores dos problemas. Ora, isso é piada de mal gosto. O pior é que os infelizes que governam e depenam cotidianamente esse país, fazem coro com essa ideia absurda. E mais, ainda fazem grande alarde, quando o ciclone acontece. 

Porém, eu pergunto: o que se faz enquanto o ciclone não acontece? E eu mesmo repondo. ABSOLUTAMENTE NADA. O problema está exatamente aí. Não há verdadeiro interesse em evitar as catástrofes. Na realidade, estão se lixando para as mortes e todas as demais consequências da catástrofe, o que importa é o que alguém vai lucrar com isso e o que alguém vai poder roubar a partir disso e o que o Brasil vai continuar perdendo com tudo isso.

O que interessa mesmo é que os ricos (endinheirados e sem recursos naturais) fiquem mais ricos e que os pobres (sem dinheiro e com recursos naturais) fiquem mais pobres. Esse é o grande objetivo dos poderosos e inclusive de alguns “brasileiros”, que vem sendo orientado por grandes interesses estrangeiros e historicamente respaldado por muitos governos nacionais.

Infelizmente a mídia nacional deturpa a realidade e muda o foco de interesse dos verdadeiros problemas nacionais e auxilia os interesses estrangeiros. A mídia leva o foco e o transfere para onde quer ou para onde os poderosos mandam e população idiotizada segue cegamente o caminho orientado pela mídia. Esse é o verdadeiro retrato do Brasil, particularmente nos últimos 30 anos. As poucas e memoráveis tentativas de mudar essa situação foram abafadas e caladas pelos mais diversos mecanismos fraudulentos e ilegais para que a caravana de maldades e desmandos pudessem continuar existindo.

Agora, estamos preocupados com o ciclone do Sul, mas ninguém está de fato preocupado com o grande ciclone nacional, que acabou com o Nordeste, está acabando com o Norte e com o Centro-Oeste e só não acabou com o Sudeste porque ali estão os maiores associados de quem promove as maldades. O poder do deus cifrão no Brasil reside no Sudeste e por isso ele acaba sendo menos atacado. Porém, a hora vaia chegar e quando os “doleiros do mundo desenvolvido” acharem que a hora tiver chegado, o Sudeste também cairá. O Sul era o penúltimo reduto, o Sudeste certamente será o próximo alvo da destruição dos “brasileiros” sem nação e sem noção.

Meus amigos, quando será que essa corja vai acordar e entender que o inimigo não é a natureza, e que tudo isso faz parte de um grande projeto de destruição do Brasil. É claro que, por conta do Aquecimento Global que eles começaram, a natureza também está reclamando, e muita coisa que não acontecia certamente está acontecendo. Entretanto, “os grandes artífices da maldade”, sabem que enquanto se destrói o terceiro mundo, o primeiro mundo consegue sobreviver e assim, ainda não estão muito preocupados com as coisas que acontecem, desde que não seja muito próximo a eles.

Enquanto isso, eles vã acumulando riquezas para a hora que for necessário assumir as rédeas e tomar o poder da humanidade totalmente. O que me preocupa é que o Brasil, que tem tudo para ser a maior nação do mundo, aceite e ainda auxilie que esse tipo de coisa continue acontecendo. Nós não dependemos dos países ricos e eles, há muito tempo sabem disso, mas nós parece que não queremos compreender essa questão simples. O Brasil é uma espécie de uma fronteira a ser transpassada pelos “os grandes artífices da maldade” e nós não podemos deixar que eles nos tomem totalmente. 

Nação brasileira acordemos e lutemos para ter direito ao que é nosso e para poder cuidar, pelo menos, das nossas necessidades sem o respaldo maléfico do restante do mundo com a apoio dos políticos safados e da mídia obscena dessa país. Vamos lutar para nos manter nosso país e nossa gente viva e ativa e para buscar o nosso lugar efetivo, como país rico e sem grandes catástrofes naturais como éramos no passado. Nossa posição no cenário mundial está sendo progressivamente ameaçada e só nós podemos o caos total.

Talvez não seja mais possível evitar os ciclones e tornados, mas certamente poderemos evitar outras catástrofes, basta que resolvamos assumir as rédeas de nosso espaço físico e que assumamos um compromisso moral com nossa gente, apesar dos políticos e administradores desse país. Hoje completamos 201 anos de independência de Portugal e de dependência do restante do mundo desenvolvido. Precisamos de nossa independência de fato. Para tanto, necessitamos de políticos sérios, que gerem políticas sérias que privilegiem as população brasileira e não os estrangeiros ricos e principalmente os estrangeiros pobres, até porque temos muito mais pobres aqui no Brasil.

Vamos acabar com essa festa e tomar conta de nosso quintal e de nossa gente, antes que não possamos nem pensar nesse tipo de coisa. Estamos realmente caminhando para o caos total e só nós poderemos impedir que isso possa efetivamente ocorrer, pois há muito tempo, também não existe mais justiça nesse país. Quer dizer, ou fazemos a nossa justiça ou continuaremos a ser injustiçados até a morte. Em suma, temos dois caminhos, um deles certamente nos levará à morte e o outro pode nos levar à morte, mas também pode ser a nossa redenção e a nossa ressurgência à vida humana na Terra, antes que sejamos totalmente esmagados pelos nossos predadores externos e internos.

É lógico que eu e qualquer brasileiro sensato acreditemos que a segunda hipótese seja a melhor e assim tenhamos preferência por ela.  Porém, cabe ressaltar, que nada vai acontecer se nós não nos manifestarmos ativamente contra as posturas ambientais incorretas. Isto é, há necessidade de que ajam ações que demonstrem a nossa vontade para que ela comece efetivamente a existir, o que não pode é o país continuar sendo dirigido, direta ou indiretamente, por interesses externos, com o anuência governamental, ainda que mesmo sem intenção, e sendo manobrado abertamente por conta de uma imprensa vendida e antinacionalista.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo); Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

06 ago 2023

A OCUPAÇÃO DO VALE DO PARAÍBA E AS PERSPECTIVAS FUTURAS

Resumo: Artigo escrito em 2021 e publicado no início de 2022, onde apresento minhas expectativas para o futuro sustentável da região do Vale do Paraíba e que agora coloco aqui no meu site também para divulgar um pouco mais as ideias nele contidas. Tenho certeza de que o texto interessa bastante a todas as pessoas e entidades existentes na região.


INTRODUÇÃO

Aqui no Brasil a ocupação do espaço físico de uma área deve ser prevista em Lei. Baseado nessa premissa, há necessidade de que sejam discutidas as duas leis federais mais importantes e mais abrangentes sobre essa questão: a Lei Federal 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) e a Lei Federal 12.651/2012 (Novo Código Florestal Brasileiro). Qualquer espaço físico do território nacional está englobado nessas duas leis prioritárias e não tem como ser diferente, haja vista que o Brasil é um estado federativo.

Entretanto, a forma de aplicar e de entender o espaço depende de outros preceitos e de outras leis de abrangências relacionadas às esferas menores do poder, as leis Estaduais e Municipais. Desta maneira, a ocupação do espaço territorial brasileiro é uma característica bastante complexa e que envolve uma série de discussões, de ajustes e de adequações aos diferentes interesses Federal, Estadual e Municipal.

Nas áreas Urbanas e nas áreas Rurais não previamente protegidas, o Estatuto da Cidade determina genericamente como proceder e nas demais áreas demais áreas o Código Florestal e as Constituições Estaduais definem o que se pode e o que não se pode ocupar e fazer. Deste modo, quem indica o uso real e efetivo de grande parte dos municípios acaba sendo a União e o Estado. O Município, que é o verdadeiro responsável pela administração do espaço territorial, pois é, de fato, o único lugar real, onde tudo acontece, não pode e nem deve fazer absolutamente tudo o que quiser com seu território.

É claro que esse cuidado legal não existe apenas e deliberadamente para prejudicar os municípios, mas sim para conter a ordem, evitar casuísmos em consequência das ações dos administradores municipais. Pois então, o município tem que ter poder para tratar o seu espaço territorial da maneira que mais lhe convier, mas sempre observando, obvia e diretamente os preceitos legais estabelecidos pela legislação superior Federal e Estadual, que balizam as possibilidades e os limites das ações, para que não haja extravagâncias e nem abusos.

Além disso, ainda cabe ressaltar que as riquezas minerais do subsolo, pertencem à União e que as águas superficiais ou subterrâneas são administradas pela União nos rios federais e pelo Estado nos rios estaduais e municipais. Quer dizer, o Município não tem nenhum poder legal sobre os minérios e nem sobre a água em seu espaço geográfico. Deste modo, as Constituições Federal e Estaduais, além das respectivas Leis Complementares que normatizam e esclarecem os preceitos nessas duas esferas de poder, necessitam ser respeitadas e adequadas por cada município, dentro de suas perspectivas, suas devidas vocações, seus efetivos interesses e suas verdadeiras possibilidades.

A VERDADEIRA FORÇA DA LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

Desta maneira, cada um dos 5568 municípios brasileiros, como entes políticos e administrativos existentes que são, também possuem suas respectivas Constituições Municipais (Leis Orgânicas dos Municípios), que devem manifestar as diretrizes básicas que vão nortear cada município em questão. Aqui, cabe salientar ainda, que existe uma hierarquia entre as leis e que, por isso mesmo, a Legislação Federal suplanta a Legislação Estadual e essa, por sua vez suplanta a Legislação Municipal. Como consequência dessa hierarquia, a Legislação Municipal não pode transgredir o que está previsto nas Legislações Federal e Estadual. Assim, quaisquer Leis Municipais que possam afrontar leis hierarquicamente superiores são inconstitucionais e não podem prosperar, exatamente porque contrariam a hierarquia.

Quer dizer, o município, o território definitivo onde, em última análise, tudo acontece, tem que definir e enquadrar suas normas legais, a partir daquelas previamente estabelecidas pela União e pelo Estado. Em grande parte das áreas rurais, o município basicamente é obrigado a seguir o Código Florestal, haja vista que não existe outra lei de abrangência mais genérica e nas áreas urbanas e nas rurais não protegidas a orientação básica é dada pelo Estatuto da Cidade. Ou seja, toda a Legislação Municipal, a priori, não pode transcender a essas duas Leis Federais maiores. Bem, mas as Leis Orgânicas dos Municípios existem e cabe a elas a obrigação de determinar o que é, para que serve e a que se propõe cada um dos diferentes municípios brasileiros.

Outra questão que precisa ser esclarecida, antes de seguirmos no entendimento da ocupação dos espaços territoriais municipais, diz respeito ao fato de que alguns estados definiram regionalmente, no âmbito de seus respectivos territórios, áreas denominadas de “Regiões Metropolitanas”. O Vale do Paraíba Paulista e o Litoral Norte do Estado de São Paulo, constitui-se numa das seis (6) Regiões Metropolitanas do Estado. A Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN) é a terceira maior do Estado de São Paulo e foi defina e criada pela Lei Complementar 1.166 de 9 de janeiro de 2012. A mesma Lei ainda determina que a região é dividida em 5 sub-regiões, com os municípios sedes sendo, respectivamente, São José dos Campos, Taubaté, Guaratinguetá, Cruzeiro e Caraguatatuba.

Segundo a Enciclopédia Britannica da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), fundação vinculada ao Ministério da Educação: “Uma região metropolitana é formada por um conjunto de municípios próximos entre si. Eles são integrados socioeconomicamente a uma cidade central, chamada metrópole. Por estarem tão próximos e interligados, os serviços públicos e de infraestrutura desses municípios devem ser planejados regionalmente. Dessa forma, as necessidades da população podem ser mais bem atendidas”.

 Vejam bem, numa Região Metropolitana deve haver uma preocupação regionalizada no planejamento por definição e isso pode, ainda que ocasionalmente, ser mais um fator de comprometimento à autonomia dos municípios que dela fazem parte. Quer dizer, o município tem que seguir as normas Federais, Estaduais e em certas situações, até mesmo regionais específicas, se fizer parte de uma região metropolitana, como é o caso dos municípios de nossa região. Deste modo, somente após à atenção e anuência de toda Legislação Superior é que os municípios poderão estabelecer suas legislações específicas para o Zoneamento e para o Uso e a Ocupação de seus espaços físicos.

O USO DOS ESPAÇOS TERRITORIAIS NA REGIÃO

Agora que já fizemos os devidos esclarecimentos legais sobre os poderes legais dos municípios, chegou a hora de falarmos efetivamente como é ocupado o nosso espaço regional. Começaremos entendendo que nossa condição política denominada de Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN), na verdade não condiz com a verdade geográfica para uma região metropolitana, porque envolve quatro macroáreas geográficas extremamente distintas: O próprio Vale em si, o Litoral Norte, a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira. Certamente esse aspecto é mais um complicador aos interesses regionais e municipais, mas não quero e não vou discutir sobre isso agora, até porque a condição de região metropolitana não é meramente geográfica, ao contrário, essa é uma condição acordada e estabelecida por causas e efeitos principalmente políticos.

Nossa região é importantíssima, pois é a ligação terrestre imediata entre os dois maiores centros sociais e econômicos do país, sendo a principal área de maior importância nacional por vários aspectos.  No que tange a produção de água, nossa região, que abriga a Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, abastece, além das áreas regionais, também a quase todo Estado do Rio de Janeiro, incluindo a Região Metropolitana do Grande Rio, através da Barragem de Santa Cecília, no município de Barra do Piraí/RJ, e parte das Regiões Metropolitanas da Grande São Paulo e da Grande Campinas, através da ligação dos Rios Jaguari e Atibainha, entre os municípios de Santa Isabel e Nazaré Paulista.

Deste modo a interferência Federal e Estadual é imensa, haja vista que a Legislação sobre Recursos Hídricos é privativa da União e do Estado. No nosso caso três Estados, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Assim, nas áreas rurais, o Código Florestal Brasileiro (Lei Federal 12.651/2012), as Políticas Nacional (Lei Federal 9433/1997) e Estadual (Lei Estadual 7663/1991) de Recursos Hídricos e a Lei Nacional da Política Agrícola (Lei Federal 8.171/1991), basicamente são as leis que definem as normas a serem seguidas em relação ao uso e ocupação dessas áreas.

No que diz respeito às áreas urbanaso Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/2001) estabeleceu uma série de boas novidades que visavam sobretudo, garantir a melhor administração municipal e diminuir o peso pessoal do Chefe do poder executivo nas decisões das ações administrativas, promovendo caraterísticas mais técnicas para muitas dessas ações. Um desses aspectos foi a obrigatoriedade de elaboração de um Plano Diretor Municipal, para todos os municípios com mais de 20 mil habitantes, que dentre outras coisas, deveria definir o Zoneamento Municipal, estabelecendo criteriosamente as diferentes Zonas de Ocupação do Município para os diferentes fins, através da Lei de Uso e Ocupação do Solo e do Zoneamento Municipal.

Na verdade, a obrigação do Plano Diretor Municipal já estava prevista desde a Constituição Federal (1988), mas só ficou definitivamente confirmada depois da promulgação do Estatuto da Cidade. Mesmo assim, embora já estejamos em 2021 e ainda existem vários municípios que, por inúmeros motivos, até aqui não estabeleceram o seu Plano Diretor. Segundo dados do IBGE (2020) até o ano de 2018, apenas 51,5% dos municípios brasileiros (2866 municípios) possuíam Plano Diretor em vigência efetiva.

Com essa obrigação os chefes dos executivos municipais (Prefeitos) não podem deliberadamente mudar o Zoneamento, porque sempre que o Plano Diretor é aprovado, ele tem um prazo de validade que não pode, a priori, ser alterado. O Plano Diretor, só poderá sofrer alteração, quando se fizer a sua revisão, o que, de acordo com o próprio estatuto da Cidade, deve acontecer a cada 10 anos. Qualquer mudança em prazo inferior, deve ter justificativa expressa e deve ser autorizada por Lei Municipal, especialmente criada e aprovada para esse fim, pela Câmara de Vereadores do Município. Tal mudança deve ser aprovada por maioria qualificada dos Vereadores.

Várias outras características bastante interessantes produzidas e inseridas pelo Estatuto da Cidade na legislação brasileira relacionada a ocupação do espaço e da propriedade privada no país.  O Usucapião que é uma prática antiga nas políticas de bens imóveis no Brasil, mas sempre foi uma prática restrita às áreas rurais, depois do Estatuto da Cidade, também passou a ser considerado para imóveis urbanos. Então, hoje se alguém ocupa pacificamente um imóvel, mesmo urbano, até 250 metros quadrados, por muito tempo (mínimo 5 anos) pode reivindicar à sua propriedade.

Outra novidade é a equiparação do Valor Venal da propriedade com equivalência ao Valor Real definido pelo Mercado Imobiliário. Antes num processo de desapropriação de imóvel por parte do Poder Público, o valor Venal era a referência para a indenização, hoje é o Valor de Mercado. Assim, as Prefeituras não podem mais simplesmente desapropriar e pagar valores irrisórios pelos imóveis desapropriados, hoje elas têm que pagar o valor real desses imóveis, se quiserem efetivamente assumir suas respectivas posses. Além disso, tem que existir uma lei aprovada pela Câmara de Vereadores que esclareça os motivos da desapropriação.

O IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) progressivo é outro aspecto interessante que o Estatuto da Cidade trouxe no seu bojo. Se o proprietário de determinado imóvel não paga o IPTU o município pode acrescentar uma alíquota ao valor por conta da inadimplência e não existe nenhuma possibilidade de anistia da dívida que é sempre crescente. Essa ação visa impedir que o imóvel fique inutilizado por muito tempo, visando especulação imobiliária. O proprietário tem que dar uso social ao espaço físico do município e se tem um imóvel, deve cumprir todas as obrigações para com ele, inclusive pagar o IPTU até a data do vencimento.

O Impacto de Vizinhança objetiva avaliar os impactos (ambiental, sonoro ou visual) produzidos na vizinhança por uma determinada obra ou ocupação urbana seja. Sua aplicação análise é complexa, porque precisa ser realizada pela prefeitura um EIV (Estudo do Impacto de Vizinhança), que relaciona as características do empreendimento, como sua área de influência, os possíveis impactos e medidas para evitar a sua continuidade ou até sua inexistência total. Esse é um instrumento novo, mas que tem se mostrado bastante eficiente para evitar disparates ocupacionais em determinadas áreas.

Bem, é óbvio que o Estatuto da cidade não resolveu e nenhuma legislação resolverá todos os problemas da ocupação dos espaços territoriais das cidades, mas certamente essa é uma lei importante, que tratada com o devido rigor e observância, poderá garantir uma melhora verdadeira para os municípios, desde que haja seriedade administrativa e efetivo interesse na melhoria. Algumas cidades da região, cujos administradores têm visão moderna, já se embasaram mais seriamente no estatuto da Cidade e por isso mesmo têm conseguido destaque. O problema é que nós ainda temos muitos políticos velhos e que insistem em administrar sem a preocupação com o todo.  

FATORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL REGIONAL

Quando se pensa em desenvolvimento estritamente econômico, na verdade está se querendo relacionar apenas o potencial de produção monetária da região e vários são os fatores que historicamente sempre contribuíram para isso. Fatores relacionados à existência às riquezas minerais, à produção agrícola e à industrialização costumavam ser considerados os mais importantes, porque eram a extremidade indicadora e geradora do trabalho e da geração de renda. Entretanto, qualquer análise atual leva em conta outros fatores, aparentemente menos significativos porque não se relacionam diretamente à geração de riqueza monetária, mas que hoje assumem grande parte do bolo econômico, como Educação, Ciência, Tecnologia, Saúde, Segurança, Cultura, Turismo, Transporte, Esporte, Lazer.

Esse outro lado, que envolve a prestação de serviços à sociedade, hoje têm grande significado no desenvolvimento econômico de qualquer região e o Vale do Paraíba não é diferente. Mas, não é só isso. Esse outro lado também é significativo gerador de renda e dinheiro para a região. Até porque, hoje é indispensável associar o desenvolvimento econômico à qualidade de vida e à sustentabilidade. Se não houver correspondência entre esses aspectos é porque algo está muito errado e não está havendo desenvolvimento sustentável.

Aliás, é bom que se diga, que atualmente não se admite mais pensar em desenvolvimento estritamente econômico. O desenvolvimento econômico tem que ser consequência da sustentabilidade e não dá mais para pensar estritamente em economia. A sustentabilidade exige responsabilidade ambiental, social para que possa haver crescimento econômico. Aliás, alguns autores defendem até que deveríamos estar pensando muito mais, num modelo de decrescimento econômico, para tentar garantir cada vez mais a viabilidade ambiental e social. Mas, não vou discutir sobre essa aspecto aqui e para os interessados sugiro a leitura dos trabalhos de Serge Latouche.

Nossa região, assim como o Brasil, historicamente tem fundamento básico na geração de riqueza a partir da exploração dos recursos naturais. No Brasil, começamos com o pau brasil e com o ouro, mas quantas outras coisas existem que nós simplesmente retiramos e exaurimos de nosso território.  Aqui no Vale do Paraíba, as coisas também começam com o ouro, não daqui, mas das Minas Gerais. Para chegar às Minas Gerais, havia necessidade de atravessar a Serra da Mantiqueira e o Vale do Paraíba era o caminho natural para os que vinham do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Entretanto, se não destruímos a região por conta da mineração, desmatamos a mata natural e exaurimos o solo muito por conta de nossas rotas de passagens, povoados de paragens e principalmente pelo plantio intensivo do café.

 Infelizmente, fazemos coisas erradas em nossa região, desde épocas remotas até hoje. Não vamos mais à busca do ouro, mas continuamos minerando erradamente, retirando sem critério toda a areia que pudermos da região. Desmatamos uma imensa floresta para fazer uma monocultura de café e hoje desenvolvemos projetos de “reflorestamento” a partir de uma monocultura com essência exótica sedenta e altamente competitiva, o eucalipto. Além disso, de quebra, também plantamos capim exótico (Braquiária) em grande escala para alimentar o gado, primitivamente leiteiro, mas que hoje é mais de corte do que de leite.

Obviamente não será possível falar de tudo o que fizemos e ainda fazemos de errado em nome do “deus dinheiro” e do “crescimento econômico”, mas vou tentar contar um pouco dessa história. Vou começar a partir do fim do café, porque penso que até naquele momento todo mundo que vive nessa região já tem alguma notícia e conhecimento. Mas, é interessante, depois disso, mais recentemente, ou seja, na nossa memória mais próxima é que deveríamos saber mais. Entretanto, pelo que tenho visto é exatamente dessa parte, aos últimos 100 a 120 anos, que parece que nada sabemos, ou melhor, que a população não sabe. Nãos sei se por vergonha, por medo ou por ambos.

No ano 1900, o café já era uma triste e lamentável tristeza, embora algumas plantações tenham resistido até 1920, mais não era nada perto do que havia sido. Naquela época a ferrovia já atravessava nossa região e aqui vieram alguns engenheiros famosos para trabalhar na construção de ramais, estações, escolas, cadeias, pontes e outras obras. Dois desses famosos são Euclydes da Cunha e Teodoro Sampaio.

O primeiro era um carioca branco, rico, que teve uma vida infeliz e um fim trágico, o famoso autor da conhecidíssima obra “Os Sertões”, um dos maiores clássicos da literatura brasileira. O outro era um baiano, negro, filho de um padre e de uma escrava, com vida complicada, mas que apesar de tudo, nunca foi escravo e sempre foi muito estudioso, formou-se em História, Geografia e Latim, aos 22 anos.

Ambos trabalharam juntos em algumas obras aqui no Vale do Paraíba. Os dois são nomes de dois municípios nos estados da Bahia e São Paulo. O primeiro que todos conhecem e que tinha tudo para dar certo, não teve um final feliz, mas o segundo que poucos conhecem e que tinha tudo para dar errado, não só teve um final felicíssimo, como também fez uma descrição do que seria o Vale do Paraíba hoje. Por volta de 1900, em visita às terras do Senhor Jordão, hoje Campos do Jordão, Teodoro Sampaio, olhou o vale lá de cima e teve uma visão fantástica e futura do que seria o Vale do Paraíba hoje.

Pois então, a partir de 1920 o café acabava de vez e não tinha mais jeito. O tiro final se deu com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929. Assim, havia necessidade premente de novas alternativas socioeconômicas. A agricultura teve que mudar e o arroz e a cana se destacam como culturas ideais e, por outro lado, surge a pecuária de gado leiteiro. Nessa última a região se destaca e várias vezes, nas décadas de 1930 e 1940, os municípios de Caçapava, Guaratinguetá e São José dos Campos são os recordistas na produção leiteira do Estado de São Paulo.

A CSN E O GRANDE IMPULSO ECONÔMICO

A partir de 1930, com o início do Estado Novo e da Era Vargas, o Brasil resolve que tinha que deixar de ser um estado de base econômica Agropecuária e resolve entrar na era industrial. Mas, ainda não existia as condições mínimas de suporte para a indústria. Assim, em 1940, Getúlio Vargas, num acordo político, tecnológico e industrial com os Estados Unidos, resolve construir a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda/RJ, no lado fluminense do Vale do Paraíba. A CSN é uma gigante, que sendo a maior Usina Siderúrgica do país e a maior da América Latina deveria ser capaz de produzir todo o aço que o Brasil necessitava naquele momento e fornecer ainda grande parte para os Estados Unidos. A CSN é inaugurada em 1946 e assim o Brasil começou a entrar na Era Industrial.

Mas ainda existia outro problema a ser considerado e resolvido. A indústria depende de muita água e energia e o país ainda não estava devidamente preparado para essas necessidades adicionais. Várias Usinas Hidrelétricas foram instaladas nas proximidades da CSN para garantir a quantidade de energia e água necessárias ao empreendimento. Conforme a CSN ampliava, a carência de energia se fazia presente e novos reservatórios para gerar energia hidrelétrica eram produzidos. Por outro lado, a capital do país, cidade do Rio de Janeiro, a pouco mais de 100 quilômetros de Volta Redonda e que certamente cresceria muito com a industrialização, também teria ampliado o seu já sério problema de carência de água.

Por conta disso, Getúlio Vargas autorizou a ampliação da Represa do Ribeirão das Lajes e a transposição das águas do Rio Paraíba do Sul para essa represa, através da mudança do sentido de curso do Rio Piraí e ainda permitiu o destombamento do Município de São João Marcos, por conta da inundação de parte de sua área que iria ocorrer. São João Marcos tinha grande importância histórica e foi um município rico e bastante desenvolvido, que chegou a ter mais de 20 mil habitantes, nos idos de 1820 a 1830, por ter sido o maior produtor de café da região e exatamente por essas particularidades, havia sido tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN).

Apesar das sequelas ambientais produzidas pela transposição e suas obras subsequentes, o Presidente Getúlio Vargas, conseguiu seu intento garantindo efetivamente o incremento na geração de energia e a regularização da distribuição da água na cidade do Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense. Esse fato permitiu o desenvolvimento econômico e social da área que hoje se constitui no segundo maior parque industrial do país.

Cabe ressaltar que se não tivesse acontecido a transposição de águas do Rio Paraíba do Sul para a região metropolitana do grande Rio de Janeiro, as coisas seriam bem diferentes e a realidade atual seria outra, porque não existiria a maior parte das coisas que hoje existem na região, particularmente o significativo aumento da população, que era de pouco mais de 1,2 milhões naquela época e que atualmente passa de 10 milhões de habitantes. Além da CSN, veio a Fábrica Nacional de Motores FNM, um pouco mais tarde a Refinaria Duque de Caxias (REDUC), além de inúmeras outras fábricas nacionais e multinacionais de grande porte que gradativamente foram se somando ao complexo industrial e para as quais foram vindo e se estabelecendo cada vez mais pessoas.

A NOSSA REGIÃO, O LADO PAULISTA DO VALE DO PARAÍBA

Antes de continuar, é preciso falar sobre outro acontecimento havido na região, que também teve influência econômica significativa. Em 1932 houve a Revolução Constitucionalista, onde São Paulo se levantou contra algumas ações do Governo de Getúlio Vargas e o culpou pela Grande Depressão oriunda da queda da Bolsa de Nova Iorque, que pôs fim ao Ciclo do Café. Nesse conflito, o Vale do Paraíba paulista foi palco de inúmeras batalhas. Cidades como Cunha, Queluz, São José do Barreiro, Piquete, Cruzeiro e outras tiveram grandes problemas e batalhas, que produziram consequências bastante sérias.

Até essa data não existia nenhuma empresa de porte significativo na região, além da estrada de ferro São Paulo – Rio de Janeiro, que funcionava desde 1877 e que tinha estações em quase todos os municípios. Algumas empresas que davam apoio a estrada de ferro se desenvolveram, como foi o caso da Fábrica Nacional de Vagões S.A – FNV (1943), em 1990 o grupo Iochpe-Maxion assumiu o controle da fábrica que existe até hoje e da Material Ferroviário S/A MAFERSA (1957), depois de 1999 passou a se chamar MWL Brasil Rodas e Eixos.

Existiam também algumas empresas do setor têxtil, que se estabeleceram ainda no final do século XIX, como a Companhia Taubaté Industrial-CTI (1891) e início do século XX como a Companhia Fiação e Tecidos – CFT de Guaratinguetá (1912). Aliás, cabe lembrar que o setor têxtil foi muito importante para a região e a destacou no estado e no país. Até aquele momento a indústria na região era bastante incipiente e se limitava basicamente a manufatura na produção de pólvora e em algumas olarias e nas empresas têxteis de pequeno porte.

Além disso, também começaram a surgir algumas empresas do setor de leiteiro como o Leite Cooper, Leite Paulista a COMEVAP, que se organizaram com a produção leiteira regional. Pouco depois algumas indústrias do setor de vidros também se implantaram na região, como a Companhia Produtora de Vidro – PROVIDRO (1962), que desde 1979 foi englobada pela Pilkington. É bom lembrar que essas empresas e o leite da região foram importantes para a vinda da Nestlé, em 1971 e que hoje existem muitas empresas do setor vítreo na região.

Bom, mas depois de passados os três meses de combates da revolução Constitucionalista de 1932, a vida continuou com o arroz, a cana e principalmente o leite suportavam a economia e a população sobrevivia. Mas, houve indiretamente um incentivo grande a manutenção e ao incremento progressivo de militares na região. Assim, a Academia Militar de Agulhas Negras, que forma Oficiais do Exército Brasileiro, se estabeleceu definitivamente em Resende, quase na divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro e ainda foi criado o Segundo Batalhão de Engenharia de Combate do Exército em Pindamonhangaba.

Por outro lado, a Aeronáutica também se estabeleceu oficialmente na região e aí começa a nossa história contemporânea aqui no lado paulista do Vale do Paraíba, com a vinda do CTA (Centro Técnico Aeronáutico, antes DCTA, 1946), em 1950 e a criação do Instituto Tecnológico Aeroespacial (ITA) e em 1961 o Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (GOCNAE), que em 1971 passou a ser chamado de Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Na década seguinte (1986) o Exército Brasileiro também o instalou o Primeiro Batalhão da Aviação do Exército (BAvEx) na cidade de Taubaté. Também cabe ressaltar que hoje a região do Vale do Paraíba possivelmente seja a principal região do país, no que diz respeito a defesa nacional, sendo, inclusive, um grande centro da Indústria Bélica Nacional.

Em suma, o investimento em energia e a tentativa de saída do modelo tradicional agrícola favoreceu economicamente a todos e assim a situação também do Vale paulista também foi favorecida pela ampliação significativa da quantidade de energia elétrica e de aço e enquanto aconteciam as obras lá do lado fluminense, o lado paulista também investiu em mudanças. Desta maneira, logo depois da II Guerra Mundial (1945), com a CSN já instalada em Volta Redonda e o CTA já instalado em São José dos Campos as coisas tomaram outro caminho e a industrialização efetivamente tomou corpo e cresceu de maneira acentuada na região.

Após o CTA e o ITA, houve uma corrida das montadoras de automóveis, até então vinculadas ao ABC paulista, que resolveram montar novas fábricas no país, mas como não queriam ficar longe de São Paulo, escolheram o Vale do Paraíba, que é o caminho natural entre as duas maiores metrópoles nacionais e que havia acabado de inaugurar uma Rodovia ligando esses dois centros e obviamente, onde há estradas há necessidade de carros. Desta maneira juntou-se o útil ao agradável quando se trouxe as montadoras de automóvel para a região. A Rodovia Presidente Dutra, que atravessa o Vale do Paraíba e que ainda é, até hoje, a principal rodovia do país, foi inaugurada em 1951.

A General Motors (GM) se instalou em São José dos Campos e a Ford se instalou em Taubaté. Junto dessas duas grandes empresas montadoras do setor automobilísticos começou a se instalar também um grande parque de empresas de autopeças, que serviam de base às montadoras. Nesse movimento veio outra grande montadora para Taubaté, a Volkswagen. A industrialização pegou e muita gente de outros estados, principalmente do Rio de Janeiro e Minas Gerais vieram para o Vale do Paraíba paulista. Várias empresas de vários setores, além do automobilístico, também se implantaram nesse período, principalmente indústrias químicas. Além disso, o investimento aeronáutico deu muito certo e logo depois vieram a Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER) e a AVIBRAS Indústria Aeroespacial e várias outras do setor.

Depois vieram inúmeras indústrias dos mais diversos setores e assim a população a as cidades cresceram rápida e atabalhoadamente. Com o aumento da população, houve aumento dos serviços e obviamente a economia melhorou bastante. Alguns municípios podem efetivamente ser chamados de “municípios ricos”, mas como a economia não é tudo, por outro lado, a qualidade de vida piorou e progressivamente para muitos.  Os “municípios ricos” conseguem disfarçar e muitas vezes até resolver alguns de seus problemas socioambientais, mas nos “municípios pobres” a situação é tremendamente complicada e, em muitos deles, a situação é de difícil resolução, ao menos a curto prazo.

Há carência de residências, de vias de acesso, de transporte, de hospitais e até de escolas. O espaço urbano está muito mal organizado e distribuído, porque historicamente não houve planejamento na ocupação das áreas. Assim, o trânsito de pessoas, veículos e animais é caótico muito complicado em vários municípios. Com o aumento das populações urbanas e dos bolsões de pobreza, houve também aumento da violência e até mesmo a segurança pública encontra-se relativamente deficitária em algumas localidades

O saneamento ainda é bastante deficitário, porque há falta de coleta e tratamento do esgoto sanitário e do lixo urbano em muitos municípios. A poluição atmosférica é significativa em alguns locais e a poluição hídrica atinge níveis absurdos em algumas áreas. O solo, complicado pelo mal uso e pela exaustão histórica e progressiva, está cada vez mais comprometido e com vários micropontos de desertificação. Além disso, há carência de infraestrutura urbana e áreas verdes em quase todas as cidades.

No campo e nas áreas rurais houve aumento significativo da poluição química, por conta do uso indiscriminado de agrotóxicos, que contaminam o solo, a água, os animais e em última análise o ser humano que é o final da maioria das cadeias alimentares. Os remanescentes de áreas naturais e as áreas de proteção ambiental estão aviltados e degradados pela ação antrópica, pois não a fiscalização é ineficaz e consequentemente não há cumprimento efetivo da legislação ambiental. Lamentavelmente, a falta de educação e de cuidado com aquilo que deveria ser todos é notória.

Em suma, crescemos economicamente em alguns municípios, mas perdemos ambiental e socialmente em quase todos, porque mesmo nos “municípios ricos”, ainda existe o ranço daqueles que acham que podem fazer tudo. Muitas vezes o município é rico, mas o habitante, sendo rico ou pobre economicamente, é infeliz e pobre educacional, cultural, moralmente e não tem visão ambiental, nem preocupação com a qualidade de vida sua ou de quem quer que seja.

Nesses casos, somente com efetiva vontade política dos administradores e ação cidadã da população, além de legislação rígida e fiscalização atuante será possível conter a degradação.  Alguns municípios têm investido seriamente no acompanhamento dessas questões, porém outros, particularmente aqueles mais pobres e debilitados, pelas mais diversas carências e dificuldades, ainda se encontram extremamente distantes das soluções reais para as necessidades que a região possui.

COMO SOLUCIONAR AS QUESTÕES PENDENTES?

Como um todo, apesar dos problemas, é possível afirmar que a região vai bem e pode melhorar significativamente e nós como cidadãos temos que estar presentes exigindo o cumprimento das leis existentes e sugerindo novas ações legais pertinentes, que visem estabelecer a melhoria da qualidade de vida. Certamente a criação da RMVPLN aconteceu objetivando diminuir a diferença entre os municípios da região e trazer um desenvolvimento sustentável à toda população do Vale do Paraíba. É claro que isso é uma utopia, mas há 100 anos atrás ir à Lua também era uma utopia, conversar e visualizar uma pessoa do outro lado do mundo, há 20 anos também era utopia, mas hoje essas coisas são normais. Então vamos continuar caminhando e de repente a utopia deixa de ser utopia como já aconteceu tantas vezes.

Então, é óbvio que nós precisamos de recursos e de políticos interessados de fato em melhorar a região e a qualidade de vida das pessoas que nela habitam, mas nós também precisamos de cidadãos conscientes sobre sua função na sociedade. Assim, torna-se fundamental a participação de todos para que a região e os seus diferentes municípios possam evoluir dentro de um desenvolvimento sustentável ou caminhando para isso. Existem algumas áreas que efetivamente são prioritárias ao desenvolvimento sustentável, porque essas são ligadas diretamente ao humano e hoje o modelo básico de medida do humano é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede fundamentalmente Educação, Longevidade e Renda.

Nós conhecemos o IDH de todos os municípios, mas o IDH, sendo uma média entre três fatores, não descreve exatamente qual dos três teve maior ou menor impacto na média. Por exemplo, se um município teve 8 de Educação, 9 de longevidade e 7 de renda ele terá o mesmo IDH daquele que teve 9 de Educação, 8 de longevidade e 7 de renda, entretanto a renda dos dois é a mesma, mas num deles apesar de ter um índice educacional menor, as pessoas vivem mais tempo. Ora, assim não é possível traçar um padrão real de quem precisa mais do que apenas pelo IDH.

Entretanto a longevidade pode ter causas genéticas que não dá para mudar e nem resolver, então é um fator que pode se tentar minorar, mas que não se pode garantir o resultado. Já a renda é um fator totalmente antrópico e dependente de quem é o sujeito, do que ele realiza no seu trabalho e de quanto ele recebe pelo seu trabalho. Podemos investir em conseguir trabalhos melhores que gerem rendas melhores, mas isso não garante que o sujeito vá viver mais, embora possa indicar que ele terá mais chances de longevidade.

A Educação também não é garantia de que o sujeito por ser educado vá conseguir melhor renda ou vá viver mais tempo, mas também indica que possa ter um melhor trabalho e assim possa adquirir um melhor emprego e consequentemente terá maior possibilidade de viver mais, entretanto isso pode até ser mais provável, porém não é definitivo. Em suma, o que eu quero dizer é que o IDH acaba sendo uma ilusão, ainda que possa ser considerado como um bom indicador. Então vamos tratá-lo apenas como um indicador e assim, eu tenho que deixar de lado a longevidade, porque não temos nenhum poder direto para intervir nela.

Deste modo temos que pensar na educação e na renda da região. Então os objetivos fundamentais municipais a serem estabelecidos devem ser relacionados à Educação e a Renda local. Devemos partir da premissa que melhor renda deve ser consequência de melhor educação. Isso tudo nos leva a concluir que o fundamental é investir em educação antes de qualquer coisa, porque ela é o fator que tem maior poder de favorecer aos outros dois.

Em suma, cada município tem que investir em se conhecer melhor e resolver mais diretamente seus problemas principais, entretanto os municípios não podem se desvincular totalmente do desenvolvimento sustentável regional. Educar a população e gerar empregos são metas comuns, mas há necessidade de se identificar as devidas vocações locais. As cinco microrregiões da RMVPLN visam exatamente manter esse grau de proximidade e interesse regional nas áreas mais próximas, considerando as condições e similaridades geográficas e avaliando as possibilidades produtivas.

Dito isso, posso concluir que teremos melhores resultados regionais se trabalharmos pela educação das pessoas do Vale do Paraíba, porque parece que a educação é o melhor caminho para a sociedade. Sendo educada a sociedade é mais capaz de saber e optar por empreendimentos regionais interessantes e certamente não vai haver nem discussão, de projetos sem cabimento, como por exemplo, a implantação a de grandes Usinas Termelétricas na região, como já aconteceu várias vezes. Embora a cidade de São José dos Campos, recentemente, aprovou a implantação de Termelétricas em seu espaço territorial, não há como se imaginar que haja pretensão da implantação de megausinas termelétricas no município e nem no restante da região.

Por outro lado, a educação tem um custo social grande, porque demanda escolas, professores, funcionários, computadores, livros, cadernos, merenda e outros. Quer dizer, se a sociedade quer melhor educação precisa comprometer parte de sua renda ou pagando impostos e exigindo que seus filhos sigam estudando em escolas públicas de qualidade infra estrutural compatível ou, além de pagar os impostos, também podem optar por pagar escolas particulares.

 Enfim, o que importa é que temos que fazer a população ser mais bem esclarecida sobre seus direitos e deveres e sobre alguns outros aspectos de formação disciplinar específica que as escolas deverão permitir aos cidadãos. Afinal, diz o velho chavão que: “educar é preparar para a vida” e nossa região está precisando exatamente de pessoas preparadas para viver com boa qualidade de vida aqui no Vale do Paraíba.

Mas, não adiantará dar escolas se o cidadão sair da escola e não arrumar um emprego. É fundamental que haja emprego e de preferência na área em que o cidadão se dedicou, por interesse próprio, mais especificamente dentro da sua formação escolar. A contextualização da educação é meta prioritária nos estudos educacionais e obviamente também deve ser fundamental para o desenvolvimento sustentável regional.

A sociedade sabe quais são as prioridades e os interesses regionais, então ela deve preparar as escolas visando certos fins funcionais específicos que garantam sustentabilidade ao ambiente e renda ao cidadão. Ora, nós estamos falando de melhorar a qualidade de vida para que as pessoas possam viver felizes e por mais tempo. Então, que maravilha se essas pessoas puderem trabalhar efetivamente naquilo que mais lhes agrada e que a escola tenha dado condições para que isso acontecesse. Ainda que isso pareça utópico, essa deve ser a meta.

ÁREAS DE POSSIBILIDADES POTENCIAIS NA REGIÃO

Políticos e administradores públicos do passado recente, quando falavam em gerar empregos, automaticamente falavam apenas em indústrias. É preciso acabar com esse pensamento arcaico de que as indústrias são as grandes fontes de empregos. Efetivamente indústrias geram empregos, mas hoje o setor de serviços tem contribuído num nível maior de empregos que as indústrias em várias áreas. Isso quer dizer que, talvez, indústria já não seja mais o grande gerador de empregos e certamente essa tendência será progressivamente maior.

Aqui na região existe uma área que pode e deve ser explorada mais minuciosamente, até porque envolve pouco investimento público, traz prazer e alegria a quem pratica, promove o incremento de lucros privados e assim gera empregos (diretos e indiretos). Além disso, quase não agride ao meio ambiente, tampouco fazem mal a alguém ou à sociedade como um todo. Obviamente, estou me referindo ao Turismo.

Nessa área há algumas pequenas coisas que qualquer pessoa pode fazer, mas é óbvio que existem algumas situações específicas que só pessoal preparado e mais esclarecido pode atuar. Entretanto, as perspectivas regionais para essa área são muito boas. A partir de agora eu vou me ater genericamente ao Turismo, porque acredito que ele possa ser o grande negócio e a garantia efetiva do desenvolvimento sustentável que garantirá o futuro de nossa região.

Vivemos numa região abençoada pelas belezas cênicas e peculiaridades, que é repleta de locais e informações históricas, de áreas naturais e de Unidades de Conservação. Temos a capital de Inverno do estado, mas ainda utilizamos pouco do seu entorno. Nosso litoral é belíssimo, com praias maravilhosas e áreas de relevância indescritíveis quanto à estética, entretanto ainda não exploramos de maneira devida o Turismo na região.

No litoral, por questões óbvias, até que a coisa vai bem, mas certamente podia estar bem melhor. Entretanto, as nossas Unidades de Conservação, nossos lugares e monumentos históricos, nossos Parques Públicos e mesmo as áreas privadas em locais pitorescos, andam às minguas de visitantes e estão sendo muito pouco explorados e até subutilizados, do ponto de vista da exploração turística. Mas, por que isso acontece?

Estamos acostumados a ouvir expressões do tipo: “Turismo é caro”. Ou seja, turismo é para ricos”. “Os proprietários dos estabelecimentos querem extorquir os turistas”. “A infraestrutura dos locais é deficiente”. E vai por aí afora. Mas, eu insisto na pergunta: por que isso acontece? Isso acontece porque faltam Profissionais competentes (bem formados), Investimento sério na infraestrutura e na divulgação, além de Políticas Públicas que se direcionem prioritariamente para essa área específica ou para os atrativos turísticos específicos que se quer priorizar num determinado local.

Vejam bem, com toda a insipiência turística regional, temos o maior turismo religioso do país e um dos maiores do mundo. E há mais um detalhe. Esse turismo atrai pessoas pobres, em sua grande maioria, e mesmo assim, funciona bem. Mas, como pessoas pobres podem fazer turismo? Qualquer um pode fazer turismo, desde que haja um atrativo significativamente forte para chamar a atenção das pessoas. É óbvio que a religião católica é um grande atrativo e que Nossa Senhora Aparecida, Frei Galvão e os Católicos Carismáticos são três “artilheiros” fazendo golaços e garantindo o público sempre crescente.

Mas, será que nós não podemos criar outras grandes áreas de atração e outros grandes “artilheiros” para essas áreas. Sim, é claro que podemos. Porém, primeiro precisamos acreditar que podemos e depois de acreditar, precisamos promover e depois de promover, precisamos divulgar cada vez mais. Vejam bem, foi exatamente isso que que a igreja fez com seus “artilheiros” e nem foram necessárias grandes Políticas Públicas de incentivo, porque já existiam os “artilheiros” fortes e bem conhecidos.

Em outras áreas, talvez, tenhamos que trabalhar um pouco mais, porque ainda não temos ou não identificamos os “artilheiros” do mesmo naipe daqueles da igreja, porém certamente eles existem e assim, é possível conseguirmos alguns ícones bastante significativos para determinadas situações e locais. Mas, é óbvio que nada vai acontecer sem investimento e sem trabalho dirigido para esse fim específico.

Outra possibilidade que se apresenta e que, em certo sentido também tem a ver com o turismo, porque uma pode ajudar a outra, pois são complementares, é o setor, ainda muito recente, dos Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA). Os Serviços Ambientais, também chamados de Serviços Ecossistêmicos, se constituem numa nova fonte de renda relacionada com a manutenção dos ecossistemas e com as possibilidades de benefícios que esses mesmos ecossistemas trazem, exatamente por serem mantidos em suas condições naturais.

Nossa região, que como já foi dito, é rica em parques e áreas naturais, acaba sendo também bastante abrangente quanto à possibilidade desses serviços ambientais ou ecossistêmicos. Assim, um levantamento bem-feito e um estudo mais detalhado dessas diferentes possibilidades regionais, podem produzir grandes surpresas econômicas e novas possibilidades de ganhos, que protegerão as condições naturais existentes e por tabela, também poderão favorecer ao turismo regional, porque propiciarão a manutenção e a melhora progressiva das áreas de proteção ambiental e consequentemente suas condições como atrações turísticas.

Aqui na região temos um pouco de tudo espalhado pelos diferentes municípios e basta encarar essas ideias como interessantes para que nós possamos ter público para praticamente tudo e todos, a custos proporcionais aos seus respectivos bolsos. Geraremos mais empregos e mais renda e seremos certamente felizes, respeitando a natureza e conservando o nosso patrimônio. O incremento do Turismo e dos Pagamentos por Serviços Ambientais talvez sejam os caminhos ideais para o desenvolvimento sustentável real e efetivo da região do Vale do Paraíba, mas é preciso que a população e principalmente os administradores públicos acreditem nisso e assumam um compromisso sério com o investimento nessas possiblidades.

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Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

Foi Professor da Universidade de Taubaté – UNITAU (1980-1997), do Centro Universitário Teresa D´Ávila – UNIFATEA/Lorena (1989 – 2020), do Centro Universitário Salesiano – UNISAL/Lorena (1999 – 2003), do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC/Guaratinguetá (2011 - 2018) é Membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul (CBH-PS). Acadêmico e Fundador da Academia Caçapavense de Letras – ACL (Presidente 2018-2019); Membro do Instituo de Estudos Valeparaibano – IEV; Acadêmico da Academia de Letras de Lorena – ALL; Presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Distrito 4571 de Rotary International (2019 até o presente), Ganhador do Prêmio José Luiz Pasin de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (2013);  foi Vereador (1997 a 2000 e 2001 a 2004) e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava/SP (2001 e 2002) e Conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente – CONSEMA/SP (1997, 1998, 1999, 2000, 2001,  2019 e 2020).
14 jul 2023
Meio Ambiente, muito além da Proteção à Natureza

Meio Ambiente, muito além da Proteção à Natureza

Resumo: Nesse artigo, trago reflexões sobre o a importância da Sustentabilidade como mecanismo preponderante à Proteção do Meio Ambiente. Destaco a necessidade de mudança nessa situação, antes que seja tarde demais. 


Foi logo depois do fim da Segunda Guerra Mundial (1945), nas década de 1950 e 1960, que parte da humanidade parece ter acordado para as questões ambientais, porém de uma maneira ainda muito romântica e pouco real. De repente, por conta de alguns fatores e em particular, pelo estrago causado pelas duas Bombas Atômicas lançadas no Japão e o estabelecimento da Guerra Fria, a humanidade acordou e começou a ocorrer uma comoção mundial, no que diz respeito ao pacifismo, ao desarmamento nuclear e à Proteção da Natureza. Era um tal de gente abraçando árvores para que não fossem derrubadas, de grupos criando campanhas para defender determinados animais e para proteger as áreas naturais e conservar a natureza, porque precisávamos “salvar o planeta”.

Entretanto, toda essa avalanche de ações não envolvia diretamente o “bicho-homem”, que, até então, era considerado como uma entidade à parte dentro do mundo natural. O “Homo social”, parecia estar esquecendo o “Homo natural”. Se falava muito em Ecologia e se esquecia que o ser humano também faz parte da natureza, que ele, além de ser o principal responsável pelos nefastos acontecimentos, também era somente ele quem poderia ser capaz de mudar o rumo das coisas e reverter a situação. O ser humano não era a parte que corria mais risco, porque o planeta é que estava em perigo, haja vista que nós estávamos degradando-o progressivamente.

Hoje, setenta anos depois, continuamos degradando o planeta e a maioria dos humanos, parece acreditar que estávamos errados naquela época. Contudo, ainda tem gente achando que Meio Ambiente é apenas proteger “bichinhos e plantinhas”, porque a Terra precisa ser salva. Ora bolas! A Terra não precisa do homem e a Terra certamente tem como “se salvar” das ações humanas. O homem é quem precisa da Terra e sem a Terra, o homem não tem salvação.

Cuidar de Terra é cuidar de tudo, inclusive e principalmente, de nós mesmos.  Ainda tem muita gente por aí, esquecendo que o ser humano também é natureza e precisa sobreviver, que a espécie humana é cosmopolita e que, de alguma maneira, está presente e interfere (mal ou bem) em todos os Biomas e Ecossistemas Planetários naturais ou produzidos e mantidos pelas ações da própria humanidade, como as cidades e as fazendas. É preciso que se diga e se demonstre essa verdade para todas as populações humanas pelo mundo afora. Nós também somos organismos vivos dependentes do planeta e como tal sofremos da mesma forma e estamos sujeitos aos mesmos riscos que as demais formas vivas.

A humanidade tem que reconhecer que nós somos a espécie mais prejudicada com a degradação planetária e com todas as ações ambientalmente incorretas e infundadas que produzimos. Nós não precisamos apenas nos preocupar em defender a natureza e o planeta. Nós precisamos entender que somos natureza e que temos de defender a humanidade também. Aliás, somos a única espécie que tem capacidade de entender esse fato e de poder interferir diretamente nessa questão. Portanto, nossa responsabilidade é maior do que apenas proteger os ambientes naturais. Nós temos que cuidar da Terra como um todo, porque assim, também cuidamos de nós.

A Ecologia como ciência e as questões ambientais como atividades sociais globais vão muito mais além do que proteger a espécie “A”, ou o Ecossistema “B” ou ainda o Bioma “C”. Na verdade, os problemas planetários estão tão conectados e interrelacionados que não é possível separar o ser humano e os demais organismos vivos. Todas as formas vivas do planeta, inclusive a espécie humana, estão ameaçadas. Aliás, certamente somos, talvez, a espécie mais ameaçada diretamente, por conta de nossas próprias ações. Somos nós, os humanos, quem mais usamos recursos naturais e somos nós quem mais dependemos e ocupamos os espaços do planeta. Se faltar espaço ou recurso a nossa espécie certamente não tem como sobreviver.

Ora, então nós não devemos ficar preocupados com questões pontuais aqui e ali. Nós temos que pensar globalmente nas diferentes ações que empreendemos e colocar essas ações no interesse do planeta e da humanidade. Não degradar, não poluir e não produzir resíduos é tão importante quanto proteger as espécies vivas. Assim como, não explorar e tão importante e necessário quanto não consumir exageradamente e manter a sustentabilidade dos ecossistemas naturais e artificiais.

Desenvolver novas tecnologia ecologicamente corretas e desenvolver a economia circular é tão importante quanto conservar e recuperar a água, o solo ou as florestas. Guardar as cidades e os seus cinturões verdes são tão importantes quanto manter um ecossistema natural. Aprimorar os processos de restauração florestal natural e tão importante quanto manter a arborização urbana compatível com a qualidade de vida necessária para as cidades. Quer dizer, quando se trata de Meio Ambiente, a regra única é a seguinte: “tudo tem a ver com tudo”. Deste modo não se pode pensar em ações isoladas e desconexas do todo.

Isto é, não adianta muito produzir grandes investimentos numa questão específica e deixar de se fazer outras coisas relacionadas direta ou indiretamente a essa mesma questão. Pois então, é exatamente nesse ponto que a coisa fica mais séria e perigosa, porque muitos ainda pensam assim: “se eu já faço isso, porque é que eu também tenho que fazer aquilo”? Sim, você tem que fazer porque a Terra e a Humanidade precisam. As questões ambientais são grandes “icebergs” e geralmente a parte visível e chamativa representa muito pouco (quase nada) do tamanho real dele.

A terceira Lei de Newton, nos mostrou que não existe ação sem reação. Deste modo, ou se consideram todas as possibilidades que envolvem uma determinada ação e suas consequentes reações ou não se deve desenvolver a ação. E esta tem sido a grande dificuldade da humanidade ao longo da história e particularmente no presente momento, onde já conhecemos bem os nossos erros. Geralmente nossas ações só identificam e atuam nas partes objetivas mais interessantes dos problemas, a parte visível do “iceberg”, e não nos preocupamos com as consequências, que, na verdade, sempre são bem maiores do que é imaginado.

No que diz respeito às ações ambientais, as relações com outras questões e suas consequências, muitas vezes acabam sendo preponderantes para permitir ou não o desenvolvimento daquela determinada ação. No passado, fizemos muitas coisas erradas, porque nós ainda não tínhamos essa visão, mas atualmente nós já temos conhecimento suficiente para conseguir avaliar se determinada ação ambiental será efetivamente benéfica ou maléfica. Nós só precisamos é ter a devida coragem de definir as nossas prioridades sempre procurando garantir ações ambientalmente corretas.

Alguns humanos continuam protegendo “bichinhos e plantinhas”, outros estão reciclando materiais, outros estão consumindo o estritamente necessário, outros ainda assumiram posturas de não comer determinados alimentos, enfim tem muita gente fazendo muita coisa, mas os resultados ainda são precários, porque, na verdade, o que precisamos é que todos façam tudo de maneira ambientalmente correta. Precisamos de cuidado, reflexão, parcimônia e de considerar a amplitude antes de estabelecer qualquer ação. Demoramos muito para entender, mas creio que já entendemos, que não adianta nada fazer parte de alguma coisa sem se preocupar com a coisa toda.

Tudo se extingue e certamente daqui a mais alguns milhões de anos o planeta também vai extinguir, mas obviamente antes se extinguirão as coisas que existem nele. Essa é a regra natural e não há como ser diferente. Deste modo, ao contrário do que se pensava anteriormente, o planeta vai sobreviver por muito tempo ainda, as espécies é que não sobreviverão em consequência das diferentes carências produzidas no planeta e, aleatoriamente irão se extinguindo com o passar do tempo, em graus e diversidades diferentes em função de suas necessidades. Se faltar espaço geográfico e recursos naturais, certamente a espécie, seja ela qual for, inclusive o Homo sapiens, terá complicações e caminhará para a extinção.

Pois então meus amigos, como já foi dito, a espécie humana é a que mais precisa dos recursos planetários. Isto é, ela é a espécie mais dependente do planeta e quanto mais ela usa o planeta indevidamente, mais ela depende e mais ela antecipa seu processo de extinção. Não existe nenhuma maneira de evitarmos essa verdade, porque esse é o processo natural. Entretanto, existe uma possibilidade de nós retardarmos o tempo necessário para que esse processo possa ocorrer. A expressão mágica que pode nos permitir isso é a “Sustentabilidade” e essa é uma atividade que só depende da vontade própria humanidade. Nós podemos e devemos definir as nossas prioridades de ocupar espaços e utilizar os recursos dentro dos preceitos estabelecidos por elas, no interesse maior do planeta e da humanidade.

Voltemos concomitantemente todas as nossas ações para o tripé da Sustentabilidade, identificando e considerando todos os aspectos possíveis. Nada de exageros, ambientais, sociais ou econômicos. Utilizemos a Lei do Mínimo como um princípio fundamental nesses três aspectos e postergaremos a possibilidade de extinção de vários recursos naturais, de utilidade para a nossa espécie e para várias outras espécies vivas do planeta. Já exaurimos muitos recursos naturais vivos (renováveis ou não) e não vivos que não deveríamos ter sido extinguido. Doravante, temos que frear o nosso ímpeto exploratório no que diz respeito a esses recursos naturais do planeta, se é que almejamos ser uma espécie de vida planetária um pouco mais longa. Essa é a tarefa de casa obrigatória, que precisamos envidar esforços para conseguir alcançar.

Trabalhemos para o planeta e consequentemente trabalharemos para a vida atual e para as futuras gerações, tanto de nossa espécie, quanto das demais espécies de organismos que ainda vivem aqui na Terra. O planeta tem sofrido muito por conta de nossa ganância econômica, de nosso descaso ambiental, de nossa irresponsabilidade planetária e de nossa incompetência na ocupação dos espaços e de ineficiência exploratória dos recursos naturais. Nossa espécie está efetivamente correndo sério risco de não encontrar soluções para sobreviver no futuro e essa situação de risco está se ampliando muito mais rápido do que, aparentemente, temos sido capazes de perceber.

A proteção da natureza é realmente uma questão fundamental para o Meio Ambiente planetário, mas ela é apenas mais uma das muitas questões ambientais. A possível resolução de toda a problemática ambiental certamente depende de várias outras questões. Se quisermos realmente começar a solucionar a problemática ambiental planetária, devemos começar a tratar o Meio Ambiente como prioridade efetiva para a humanidade. Todas essas questões ambientais têm que ser consideradas e os interesses antrópicos naturais (ambientais) precisam ser priorizados em relação aos interesses sociais e econômicos. Caso contrário, não vamos resolver nada e continuaremos carregando a pecha de que somente queremos proteger “bichinhos e plantinhas”. Se continuarmos agindo desta maneira, o fim da nossa espécie está logo ali.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

13 jun 2023
População Humana, Crescimento Populacional, Manutenção da população

REFLEXÕES SOBRE O CRESCIMENTO POPULACIONAL HUMANO CONTÍNUO

Resumo: Nesse artigo apresento algumas reflexões sobre o Crescimento Populacional Humano e dos riscos consequentes desse crescimento aleatório e insano que até agora tem acontecido. Destaco a necessidade de mudança nessa situação, antes que seja tarde demais. 


Ultimamente tenho pensado muito sobre a questão do crescimento populacional humano aleatório e contínuo. Tenho lido e refletido bastante sobre esta questão e cheguei à conclusão de que existe muita gente boa, séria e até bem-intencionada, misturando as coisas, falando e fazendo muita besteira sobre aquilo que não entende perfeitamente. Deste maneira, pude concluir que grande parte dessas pessoas, sem saber, está sendo usada como massa de manobra por interesses políticos partidários, para criar problemas oriundos de factoides relacionados ao crescimento populacional humano.   

Para começar eu quero dizer que também sou ciente de que o crescimento aleatório da população humana no planeta é realmente um grande problema, em alguns casos, chega a ser um absurdo e precisa efetivamente ser discutido, reavaliado e minimizado. Entretanto, é preciso que sejam respeitados tanto os limites físicos e químicos que mantém a capacidade biológica do ambiente, quanto os diferentes interesses nacionais dos espaços a serem ocupados. Acredito que países como a Índia, a Indonésia e a Nigéria têm que estar atentos as suas limitações espaciais e consequentemente as suas limitações populacionais. Por outro lado, países como o Brasil, a Austrália, o Canadá e a Rússia, certamente ainda podem e devem tentar ocupar melhor os seus respectivos espaços físicos, porque certamente ainda falta muita gente em algumas de suas regiões.

Bem, dito isso, acredito que agora posso continuar com minha argumentação. Deste modo, eu vou partir do suposto que os países são soberanos sobre seus territórios e devem tratar as questões populacionais dentro de suas necessidades e interesses, mas ressalvando que o planeta é o lugar comum de outros inúmeros países, os quais também têm direito ao uso do espaço e dos recursos planetários. Isto é, a preocupação nacional de quem quer que seja, não pode interferir na segurança maior da humanidade e assim, o espaço físico e os recursos naturais neles existentes devem ser proporcionais às necessidades coletivas e não aos interesses apenas nacionais. Uma coisa é ser dono de um determinado espaço ou de certo tipo de recurso, outra coisa e acreditar que por ser o dono de algo é possível ser irresponsável na sua explotação.

É preciso que se entenda de uma vez por todas que, embora existam inúmeros países, a Terra é uma só e todo ser humano, independentemente de sua nacionalidade tem direito, de acordo com as normas legais internacionais, de viver e usar os espaços terrestres e os diferentes recursos neles encontrados, independentemente de sua nacionalidade. Aliás, não só os seres humanos têm esse direito, como também as demais criaturas existentes no planeta e por isso mesmo, esse direito deve também ser estendido e garantido a todas as criaturas vivas. Além disso, cabe lembrar que os seres humanos também devem legalmente tutelar e cuidar das demais espécies e por isso mesmo é que existem as leis de proteção à fauna e à flora, porque se não fosse assim, tais leis não fariam nenhum sentido.

Quando se discute sobre o crescimento populacional humano devem ser feitas três perguntas fundamentais. A primeira pergunta que deveria ser feita é a seguinte: o crescimento populacional humano é realmente um problema? Sim, certamente é um grande problema, mas não é tão grande e tão impossível de ser resolvido como pretendem alguns mais radicais, que propõem soluções absurdas e infelizes. Uma segunda pergunta questionaria se esse problema pode ser solucionado sem grandes transtornos?  E a resposta, por incrível que pareça, também é sim.  A terceira pergunta que deveria ser feita é a seguinte: esse problema atingiria todas as populações vivas ou só a algumas? O problema, como dissemos acima, atinge a todas as espécies vivas do planeta, haja vista a condição cosmopolita e a forte condição modificadora do meio ambiente desenvolvida pela população dos seres humanos.

Então, a partir dessas três questões que nós certamente já sabíamos as respostas, embora fingíamos não saber, decorre uma quarta pergunta: onde estão as justificativas para assumir situações extremas e descabidas ou para se omitir nas discussões sobre os problemas relacionados ao crescimento aleatório e exagerado das população humana no planeta? E eu respondo: exatamente na falta de bom senso e no desconhecimento específico da maioria das pessoas sobre esse assunto, que embora muitas falem, na verdade, pouquíssimas realmente entendem e outros nem querem entender. Por conta disso, resolvi escrevi esse artigo e possivelmente servir de alvo de possíveis ataques de muitos desses falsos profetas que andam por aí cometendo e comentando inverdades sobre a questão do crescimento populacional humano.

Antes de continuar, necessito fazer um pequeno esclarecimento sobre três conceitos ecológicos básicos e importantíssimos para o efetivo entendimento desse assunto, são eles a Lei do Mínimo, a flutuabilidade populacional e a capacidade de suporte do meio. Esses conceitos se constituem definitivamente em critérios ecológicos fundamentais para a possibilidade de manutenção e continuidade da uma espécie viva em qualquer espaço físico planetário. Dito isto, sem ser técnico demais, vou fazer um breve esclarecimento sobre esses conceitos, pois tenho certeza de que elas serão novidades para muitos dos leitores e talvez, até para muitos pretensos conhecedores do assunto.

A Lei do Mínimo (Lei de Liebig) diz que sempre existe um mínimo de recursos necessários à sobrevivência de uma população em um determinado ambiente. A flutuabilidade populacional informa que as populações oscilam entre uma quantidade ideal de indivíduos ao longo do tempo. E a capacidade de suporte afirma que o meio não pode suportar mais indivíduos do que aquele contingente existente no pico máximo da população e que é exatamente esta flutuabilidade que garante a sobrevivência e a manutenção de uma espécie naquele determinado ambiente. Pois então, a população de indivíduos da espécie humana não foge as regras ecológicas planetária e assim, nossa população também tem que se estabelecer de acordo com os preceitos desses três critérios ecológicos fundamentais.

Assim, fica fácil entender que se tivermos um população muito grande dentro de um espaço muito pequeno, certamente irá faltar recursos e assim a mortalidade se ampliará e se a situação persistir naquele espaço a população desaparecerá. E isso, bem simples mesmo. Essa é uma lei natural e verdadeira, não é uma falácia Por exemplo, se utilizarmos todo o oxigênio de um determinado espaço, o oxigênio acaba e todos os dependentes de oxigênio que existem naquele espaço morrem. Isso acontece assim mesmo, com qualquer população natural que seja privada de recurso fundamental.

Na Terra existem várias coisas que são recursos utilizados e disputados pelas diferentes espécies vivas e a manutenção desses recursos é fundamental para a manutenção de todas as espécies que habitam os diferentes ecossistemas da Terra. Se faltar algum desses recursos, isto é, se o mínimo necessário de recursos não se estabelecer, a população da espécie tenderá a declinar até finalmente se extinguir naquele local (espaço). Cabe ressaltar que só existe uma Terra. Aliás, A TERRA É UMA SÓ E A ESPÉCIE HUMANA TAMBÉM E NOS DOIS CASOS NÃO HÁ PLANO “B”.  A situação se resolverá aqui ou aqui. Isto é, ou vivemos aqui, ou morremos aqui.

Deste modo, o meio ambiente (espaço físico e seus recursos) é o fator preponderante para limitar o crescimento populacional das diferentes espécies vivas, as quais, por isso mesmo tem que se adaptar e assim essas populações flutuam entre um máximo e um mínimo de um nível populacional satisfatório e imaginário (população ideal). Quem determina efetivamente se uma população cresce ou não é um conjunto de fatores, que envolvem a capacidade reprodutiva da própria espécie, os seus predadores e competidores, as suas doenças, o clima, e sobretudo, a capacidade de suporte que indica resistência do meio (resistência ambiental).  

Mahatma Gandhi já dizia que: “o mundo (a Terra) é grande o suficiente para atender as necessidades de todos, mas sempre será demasiado pequeno, para a ganância de alguns”. A Humanidade precisa entender que gente não é apenas um produto a ser reproduzido e que a Terra não existe apenas para os seres humanos se espalharem ocasionalmente e a bel-prazer sobre seus diferentes espaços. A população humana não é um mero acaso oriundo da reprodução e da vontade humana ou apenas mais uma questão puramente social ou política. A população humana é o maior contingente específico de organismos de grande porte sobre a superfície do planeta, tendo causado grandes e significativos impactos ambientais na Terra. A mancha populacional humana é diretamente responsável por muitas coisas que acontecem na Terra.

A reprodução humana está sujeita as mesma causas físicas naturais que interferem nas demais populações e que não permitem sempre mais indivíduos no mesmo espaço. Em algum momento não haverá mais espaço ou acabarão os recursos existentes naquele espaço e aí a extinção da espécie efetivamente começa a acontecer. Não há mágica, isso é natural e o homem, querendo ou não, também está sujeito as leis da natureza. E mais, nossa responsabilidade é muito maior, porque, muito provavelmente, sejamos a única espécie do planeta que tem ou que deveria ter consciência desse fato. No entanto, muitos de nós, continuam dando de ombros para a realidade natural e achando que os humanos são diferentes das demais coisas vivas.

É claro que eu também acredito que já tem muitos seres humanos no planeta Terra e que esse imenso contingente é perigoso para a sobrevivência de nossa espécie. Afinal, já ultrapassamos os 8 bilhões de indivíduos. Mas, nem por isso, estou pensando em matar ninguém, como tristemente imaginam alguns “seres humanos” radicais. Aliás, ao contrário, penso que quem já está por aqui, tem um valor fundamental para tentar mudar o quadro atual e agir ativamente na garantir da continuidade dos demais seres humanos. Quem está vivendo e usufruindo dos espaços e dos recursos do planeta, precisa trabalhar para manter e estender as possibilidades das condições vitais planetárias para os outros seres humanos, principalmente aqueles que ainda vão nascer.

O que realmente se precisa é ocupar de maneira melhor, mais adequada e mais inteligente, os espaços e distribuir os recursos naturais de um forma mais equitativa entre todos os seres humanos do planeta. Na verdade, há necessidade de se compreender que a divisão política criada pelo homem, na realidade não condiz em absolutamente quase nada da composição natural do planeta e assim, a distribuição dos recursos planetários, muitas vezes, é totalmente injusta e que somente a humanidade pode, se quiser, estabelecer a justiça nessa situação. Entretanto, é necessário ficar claro que a culpa disso não é da natureza, mas sim da própria arbitrariedade humana.

Além disso, a humanidade também criou outros valores, totalmente artificiais (dinheiro, poder, conforto, fama), que, muitas vezes, acabaram por assumir importância maior e mais contundente para os seres humanos, o que aumentou a especulação e interferiu mais significativa e ativamente na ocupação dos espaços e na utilização dos recursos naturais.  E se isso fosse pouco, ainda há que se considerar as inúmeras populações locais e espécies planetárias que foram e estão sendo extintas por conta do desleixo e da irresponsabilidade humana com o planeta e com as demais criaturas vivas. O “bicho-homem” se transformou na maior praga do planeta e precisa deixar de ser assim.

Talvez, o que precisemos discutir seja exatamente isso: como organizar o planeta de uma maneira satisfatória e benéfica, na qual tudo seja suficiente para todos, deixando de lado os valores artificiais? Hoje um desses principais problemas artificiais é, por exemplo, o dinheiro, que qualifica os países em pobres e ricos. A ganância pelo dinheiro costuma ser a causa mais comum dos desacertos humanos, haja vista que os ricos querem se manter ricos e os pobres, por mais que lutem, quase nunca conseguem deixar de ser pobres. Essa competição cria e amplia os conflitos humanos e obviamente isso também interfere nas populações, mas a maioria dos humanos ainda não quer discutir essa questão agora.

Certamente é possível controlar a ganância humana se houver interesse verdadeiro nesse aspecto. Entretanto, até aqui, apenas estamos egoisticamente tirando recursos uns dos outros e nunca tentamos nos preocupar com todos os humanos do planeta. Infelizmente sempre temos nos dedicado apenas em buscar alcançar a nossa parte e os nossos interesses, lamentavelmente, esta situação ainda persiste, se agrava progressivamente e como a população não para de crescer, cada vez a coisa piora um pouco mais. Até quando?

O mal da humanidade no planeta não é a falta de espaço, de recursos naturais e de riqueza para muitos. Os males maiores da humanidade no planeta são a ganância e o egoísmo de alguns “seres humanos”, que simplesmente se esquecem que existem outros seres humanos e outras espécies vivas na Terra. Por isso é que a população da espécie humana cresce de maneira absurda e inconsequente, os espaços são ocupados sem nenhum critério geomorfológico e os recursos são usados de maneira arbitrária e inconsequente. A geopolítica de ocupação dos espaços e utilização dos recursos servem apenas a alguns grupos e alguns interesses, mas certamente não servem à humanidade. Não há nenhuma preocupação com a verdadeira dimensão da necessidade humana e nenhum respeito ao planeta que nos abriga.

Por outro lado, além de tudo isso, ainda deixamos um imenso rastro de lixo e sujeira daquilo que resta de nosso despojamento planetário. Esses resíduos vão se acumulando aleatoriamente e sempre poluindo novos espaços no planeta. Quanto mais gente, mais espaço, mais recursos, mais lixo e consequentemente menos humanidade e menos qualidade de vida às espécies.  As necessidades naturais são sempre as mesmas e não se ampliam, mas as necessidades artificiais são cada vez maiores, para tentar suprir as carências oriundas das tentativas inúteis de resolução dos problemas.  Grande parte da humanidade ainda não aprendeu que não se resolvem problemas novos com soluções velhas. Há necessidade de novos mecanismos para produzir resultados diferentes.

Por fim, a coisa está muito feia, mas apesar de tudo, eu insisto de que é possível ser solucionada. Basta querer, de fato. Não é querer e cruzar os braços, tem que querer e atuar. Arregacemos as mangas e comecemos verdadeiramente o trabalho de restauro de nosso comportamento em relação ao planeta e assumamos a nossa responsabilidade como espécie consciente e pensante. Para tanto, precisaremos apenas de muito bom senso, um pouco de altruísmo e de melhores políticas humanitárias entre as nações.

Aproveito o momento para sugerir algumas coisas que podem minimizar o absurdo e efetivamente melhorar de maneira progressiva a situação. Vamos procurar investir em políticas públicas e ações que propiciem boas práticas para um crescimento consistente e equilibrado das populações humanas nas diferentes localidades, sempre respeitando os princípios ambientais básicos. Estimulemos práticas naturais de controle consciente da taxa de natalidade e favoreçamos a ocupação de áreas pouco habitadas para que haja verdadeira dimensão da mancha produzida pela população humana no planeta e para que se evite a formação de áreas com grandes densidades demográficas.

Dediquemos o nosso tempo às causas de interesse para toda a humanidade e não às causas imediatas e mesquinhas pessoais ou de alguns grupos de indivíduos, geralmente mal-intencionados. Identifiquemos áreas e interesses comuns e cultivemos mecanismos mútuos de utilização dos espaços e dos recursos naturais, objetivando o interesse coletivo da humanidade.  Além da Terra e de todos os organismos planetários estarem aguardando que cumpramos o nosso compromisso planetário, a humanidade também necessita que assumamos a nossa condição efetiva de seres humanos e cuidemos dos nossos semelhantes. As gerações futuras merecem o direito à vida de qualidade e nós temos que trabalhar nessa direção.

Por fim, certamente há áreas e regiões em que as populações não podem mais ser ampliadas e o espaço físico precisa ser recuperado e restaurado de maneira efetiva. Nessas regiões é fundamental que se intensifique a orientação sobre os malefícios das grandes concentrações humanas ao planeta e a própria humanidade, a fim de que seja possível evitar a degradação e a poluição mais significativas e mesmo a extinção da vida humana local, pelas mais diversas formas de contaminação e pela progressiva perda da qualidade de vida dessas áreas.

Não tenho dúvida de que a Terra saberá como conduzir o trabalho de recuperação, o ser humano só precisa ajudar, minimizando a pressão na ocupação dos espaços e no uso dos recursos e facilitando a retomada em busca da melhoria do planeta e da perenidade maior da própria humanidade. Como eu disse antes, A TERRA É UMA SÓ E A ESPÉCIE HUMANA TAMBÉM E NOS DOIS CASOS NÃO HÁ PLANO “B”. Se continuarmos separados em nossos interesses a coisa pode ficar drástica e irreversível, mas juntos, planeta e humanidade, seremos eficazes e possivelmente imbatíveis.

Assim, recuperaremos grande parte do que já foi degradado e seguiremos um pouco mais nessa caminhada pelo nosso planeta azul. Não temos que nos preocupar seriamente com o encontro de novo planeta que possa nos receber no futuro, temos sim que nos preocupar com a relação de equilíbrio de nossa mancha populacional sobre o nosso planeta Terra.  Devemos respeitar mais e cuidar melhor do planeta que nos acolhe, nos abriga, nos fomenta e que, deste modo, até aqui, tem permitido que nos mantenhamos como organismos vivos ao longo nossa, relativamente curta, história evolutiva.

Nossa passagem planetária deve continuar, mas, para que isso aconteça a contento, será preciso ficar claro para toda humanidade que: “a Terra não precisa do homem, o homem é que precisa da Terra”. A partir desse entendimento temos que minimizar nossa pressão sobre os espaços planetários, sobre o uso dos recursos naturais e sobre a produção de resíduos. Para que que isso aconteça, o crescimento da população humana tem que entrar num processo progressivo que viabilize sua estabilização, dentro das possibilidades que a Terra ainda possa nos suportar e manter.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista