06 out 2015

A Ilusão do Relógio e a Realidade do Tempo

Resumo: O artigo aborda a questão da forma degradante como a espécie humana trata o planeta e das consequências drásticas que esse fato tem causado ao longo da implacabilidade do tempo. Além disso, o texto sugere que nossa espécie procure mudar de postura, a fim de garantir uma existência maior para nós aqui na Terra.


A Ilusão do Relógio e a Realidade do Tempo

É muito comum as pessoas se enganarem ou mesmo se iludirem com o tic tac de um relógio qualquer, ou mesmo com o vai e vem do badalar de um relógio de parede e entenderem que a cada segundo o tempo vai e vem, porque a representação do segundo é exatamente o tempo compreendido entre essas idas e vindas. Pois é, meus amigos, isso é apenas uma representação, porque na realidade, o tempo não vai e vem, lamentavelmente o tempo só vai e não há como nos iludirmos com esse fato.

 Nós, organismos vivos, sofremos isso mais seriamente, porque temos um tempo de vida definido e quanto mais o tempo vai, efetivamente menos tempo nós temos para viver. Quero crer que muitas das espécies vivas não tenha de fato essa dimensão de que a vida é um caminhar para a morte, mas nós, seres humanos, certamente temos ou, se alguns de nós não tem, deveriam ter também. Bem, verdade é que a cada badalada, a cada vai e vem do badalo do relógio, a cada tic tac, enfim, a cada segundo, nós estamos envelhecendo e ficando mais próximos da morte.

Até aqui, já existiram cerca de 30 milhões (30.000.000) de espécies na Terra, algumas viveram muitos milhões de anos, outras viveram milhares, outras somente centenas ou mesmo décadas, mas todas se extinguiram ou ainda vão se extinguir. A extinção é compulsória e chega para todas as espécies vivas. Todas as espécies que vivem e viveram, sempre estiveram em total dependência daquilo que o planeta lhes permitia fazer, pois nenhuma dessas espécies tinha como tratar ou sabia cuidar do planeta para seu próprio interesse. A espécie humana é diferente, pois é a única que pode modificar o planeta e acredito que ela deveria procurar fazer essas modificações no seu interesse como espécie. Entretanto, não é exatamente isso que acontece, porque temos uma tendência individualista muito forte e quase nunca pensamos no coletivo.

Nossa contagem de tempo é interessante: segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos, milênios. Cada indivíduo da espécie humana está limitado a viver décadas, muito raramente alguns de nós atingem um século, mas nenhum indivíduo conseguiu passar muito desse limite e nem vai conseguir passar nunca, porque a “máquina humana” está programada para viver apenas algumas décadas. No meu caso específico, só para dar um exemplo, estarei completando seis décadas, sessenta anos, setecentos e vinte meses, 21.900 dias, 525.660 horas, 31.539.600 minutos, 1.892.376.000 segundos. Pois então, é preciso ficar claro que números são apenas números e nada mais, o que importa mesmo é o que cada um faz com o tempo que dispõe na sua vida, ou seja, o que fazemos efetivamente com o tempo que passamos pela vida.

Enfim, nesses 1.892.376.000 segundos eu, como qualquer indivíduo da espécie humana, fui capaz de uma infinidade de coisas, cresci, estudei, me formei, trabalhei, casei, reproduzi, viajei e várias outras coisas mais. Entretanto, tudo o que fiz, ainda é muito pouco, porque certamente ainda quero fazer muitas coisas mais. É certo que já vivi muito mais do que ainda tenho para viver, mas tenho absoluta convicção de que ainda existe muito por fazer e eu vou continuar fazendo. Com um pouco de sorte, talvez eu ainda tenha 20% ou 30% (mais números) a mais de tempo para viver. Isso significa, algo entre 12 e 18 anos, o que obviamente não vai ser suficiente para aquilo que ainda almejo, até porque eu sou um sonhador e, como tal, estou sempre na expectativa de poder fazer algo mais e quando a morte chegar, certamente vai ser de chofre, até porque embora ela seja compulsória, por outro lado, ela nunca é esperada.

A minha morte, assim como a morte de qualquer pessoa ou indivíduo humano, causa uma grande ruptura nos sonhos, mas não é por isso que eu pararei de sonhar a partir de agora e nem será pelos números imprecisos que eu ficarei esperando a morte chegar. Nada disso. Eu vou viver até meu último segundo, como se ele fosse o primeiro, lutando e sonhando com dias e coisas melhores para o Planeta, para a Humanidade e obviamente fazendo a minha parte para que as coisas que eu acredito sejam possíveis de acontecer. Eu fui programado para décadas e já cumpri algumas e certamente faltam poucas, mas o planeta foi programado para bilhões de anos e a Humanidade foi programada para milhares ou milhões de anos e deve faltar muito tempo para que ambos cheguem naturalmente ao fim.

A Terra é muito velha, mais ainda vai envelhecer muito mais, apesar do homem. A Humanidade é muito jovem e precisa ficar um pouco mais de tempo aqui na Terra, muito embora a tendência observável e de que isso não aconteça, exatamente por conta das ações desenvolvidas pelos próprios seres humanos, que quase sempre colocam os interesses pessoais acima dos interesses coletivos de nossa espécie, como já foi dito, e obviamente isso não faz bem a Humanidade.

O tempo é contumaz, compulsório, implacável e ainda assim, segue sempre jovem como se ele próprio não existisse. Para as coisas não vivas, o tempo não representa nada, mas para as coisas vivas, que envelhecem na sua frente, ele demonstra sua força, independentemente de qualquer coisa que possa acontecer. Aliás, o tempo deve ser ateu, ou melhor o tempo é o seu próprio Deus, porque ele tudo pode, tudo vê e tudo faz, além de ser onipresente. A grandeza do tempo tem nos impedido de pensar a nosso favor, porque nos preocupamos mais com ele e menos conosco. Na verdade, nós temos que viver, independentemente do tempo e apesar de sua nefasta existência.

Obviamente o tempo continuará passando, mas nós não precisamos, até porque não podemos, tentar acompanha-lo. Nós precisamos parar e mesmo sabendo que no final nós vamos perder, porque a morte é certa, tanto individual como coletivamente, porque não existe indivíduo e nem espécie eterna.  Entretanto, ainda assim, nós temos a obrigação de lutar para conseguir ampliar um pouco mais a existência de nossa espécie aqui na Terra.

O Planeta Terra, até aqui, já viveu cerca de cinco bilhões (5.000.000.000) de anos, ou seja, 4.730.400.000.000.000.000 de segundos (mais números grandes e inúteis) e independentemente das mudanças naturais do clima, ou de qualquer outra catástrofe geomorfológica provocada pela Humanidade, a Terra continuará existindo, por um período certamente ainda maior de que o que já passou. É claro que a Humanidade não seguirá sobrevivendo na Terra por toda essa quantidade de tempo, pois como todas as espécies, o Homo sapiens naturalmente se extinguirá, mas é possível que ainda possamos nos manter por alguns milhares de anos aqui nesse planeta, se houver um trabalho efetivo e direcionado buscando esse propósito. O empreendimento em prol da longevidade maior para a espécie humana, só dependerá única e exclusivamente da vontade coletiva do homem, isto é, do interesse precípuo da própria Humanidade.

Não falo por mim particularmente ou de você em especial, seja lá quem você for, o que eu quero é falar pela Humanidade. É preciso que a Humanidade queira fazer frente ao tempo e isso só será possível se agirmos coletivamente e com afinco. É besteira lutar contra o tempo, pois todos vamos morrer, ao longo de algumas décadas e a espécie humana vai se extinguir em algumas centenas, talvez milhares ou mesmo milhões de anos, como já foi dito. Porém, nós podemos e devemos agir no sentido de garantir que o ciclo da vida humana no planeta se refaça ainda pelo maior número de vezes que for possível sobre a superfície da Terra. Não precisamos e nem devemos adiantar os processos naturais de extinção como temos feito até aqui. Está na hora de agirmos em prol de nós mesmos.

 O nosso objetivo maior como seres humanos deveria ser exatamente o de tentar garantir a permanência da Humanidade no planeta pelo maior tempo possível. Para tanto, temos que trazer o tempo para o nosso lado. Tem um ditado antigo que diz: “se você não pode com o seu inimigo, junte-se a ele”. Pois então, está na hora da Humanidade se aliar ao tempo e buscar uma convivência planetária melhor com ele. A fórmula é extremamente simples: queremos viver mais, então temos que cuidar mais do planeta, porque assim teremos menos situações conflitantes e degradantes. Com isso, o tempo será menos contundente conosco e nos permitirá sobreviver mais.

Para muitos seres humanos, em certo sentido, o tempo é sinônimo do clima, e embora isso efetivamente não seja uma verdade, do ponto de vista da Física. Mas, por outro lado, é certo que nós precisamos cuidar do clima para garantir que nossa espécie vá sobreviver por mais tempo. Dessa maneira a metáfora que confunde tempo com clima é benéfica, porque deveria nos conduzir a um estado de cumplicidade com a conservação do clima na Terra e isso seria muito interessante e positivo, tanto para a Humanidade como para o Planeta. Entretanto, nós mesmos negamos a metáfora que pregamos, quando degradamos o Planeta, interferindo drasticamente no clima e assim encurtando o nosso tempo planetário.

Quer dizer, mesmo sabendo que o tempo não para, nós, infelizmente, ainda continuamos na ilusão do relógio, de que o tempo vai e vem e estamos esperando que o tempo bom volte, para que possamos solucionar os problemas climáticos que nós mesmos criamos e que precisamos resolver, para ganhar mais tempo de sobrevivência na Terra.  A realidade está estampada na nossa frente, isto é, o tempo só vai e para nossa espécie, ele está indo numa velocidade surpreendentemente alta, mas parece que nós estamos parados e dormindo, ou então nós continuamos não querendo enxergar os problemas e assim, vamos caminhando progressiva e rapidamente para o terrível e triste fim da Humanidade.

Quando será que iremos cair na realidade e mudar o nosso comportamento coletivo?

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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22 set 2015

RIO PARAÍBA DO SUL, o rio da vida eterna

Resumo: Meus amigos, hoje dia 22 de setembro comemora-se o Dia do Rio Paraíba do Sul e dessa vez, só para não deixar passar a data, estou postando uma poesia que escrevi e publiquei em alguns lugares faz pelo menos de 20 anos e que fala e homenageia exatamente do nosso Rio Paraíba do Sul. Aqueles que conhecem o meu trabalho, certamente já viram essa poesia, que infelizmente continua atual, pois quase nada mudou no que diz respeito ao cuidado que a maioria de nós, os seres humanos, temos com os rios e particularmente o nosso Rio Paraíba do Sul.


 

És um rio como outro qualquer, mas és mais forte que qualquer outro. Tua água é barrenta, suja e poluída, mas és mais belo que qualquer outro.

Tens em ti o dom da vida, embora hoje, quase toda destruída, brigas sem medo para defendê-la e em meio às tuas curvas, sempre consegues mantê-la.

Ainda que haja odor fétido em tuas águas, esse cheiro ruim só te enobrece, pois mostra a grande força de vontade, que mesmo sofrendo exerces, para manter a vida em qualidade.

Querem te matar Paraíba do Sul, mas tu conheces bem os teus inimigos e sabes como torná-los incrédulos. Eles estão até ficando pasmados, pois não conseguem acabar contigo.

Mas eles continuam tentando, ácido, álcool, éter, óleo e fenol, tudo cai nas tuas águas, fizeram de ti um grande urinol.

Se não bastasse as indústrias, as prefeituras também não gostam de ti, pois a maioria delas não se preocupa contigo e todas as cidades da região em tuas águas derramam “ xixi”.

Não bastasse o “xixi” das cidades e toda a química das indústrias, jogam ainda em tuas margens toda a sujeira possível e imaginária. Com isso, atinges carga orgânica absurda, com toda sorte de parafernálias.

Existe fezes em tuas águas, não fosse a grande quantidade, talvez, até isso te fizesse bem, mas como todo exagero é danoso, essas fezes te prejudicam também.

Ainda tem mais Paraíba do Sul, quase ia me esquecendo. O que sobra da lavoura também fica sendo teu e até parece que a chuva é tua inimiga, pois te leva todo o agrotóxico, que o solo, já saturado, não absorveu.

Tiram a areia do teu leito e destroem tua margem natural. Isso causa uma grande dor no meu peito, pois, apesar de ser “bicho-homem”, eu sei que isso te faz muito mal.

Paraíba, velho amigo, o “rio ruim”, o índio que te deu esse nome, previu muito bem o teu futuro. Certamente, o crime contra ti terá fim, mas ainda passarás por grandes apuros.

O “rio ruim” daquele índio, hoje encontra-se muito pior. Mas, aquele índio, o bravo tupiniquim, já sabia desde os tempos remotos, que quem ri por último, ri melhor.

Paraíba, você que é calmo e sereno, sabe que o tempo é o melhor remédio. Conheces muito bem teus aquele que te maltrata. Sabes como é o “bicho-homem”, desde os tempos da colônia e do império.

Paraíba, rio da vida e da morte, não tens que brigar com o “bicho-homem”. Sabes bem, que isso não é preciso, pois, apesar de tudo o que acontece, ainda continuas belo e forte e um dia ……. certamente, o homem tomará juízo.

LUIZ EDUARDO CORRÊA LIMA

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28 ago 2015

Sobre a Reprodução Sexuada e a Formação de Híbridos

Resumo: O texto trata da Reprodução, em particular da Reprodução Sexuada e das possibilidades de formação ou não de organismos híbridos resultantes do encontro reprodutivo entre espécies próximas e das consequências oriundas desses encontros. A abordagem tenta esclarecer que a Hibridização é naturalmente dificultada, mas que muitas vezes os mecanismos de isolamento falham e os híbridos acontecem e que isso pode favorecer ou prejudicar o processo de Especiação.


 

Sobre a Reprodução Sexuada e a Formação de Híbridos

Esse talvez seja o assunto de cunho biológico mais envolvente e o que mais interessa as pessoas em geral. Digo isso porque ao longo dos meus quase 35 anos de magistério nas diferentes áreas da Biologia, certamente esse foi o assunto que mais vezes tive que responder a questionamentos, tanto dentro quanto fora das escolas. Ou seja, os questionamentos ocorriam tanto por parte de alunos e de colegas professores, como também a partir de outras pessoas totalmente desvinculadas da atividade escolar ou biológica, as quais tinham grande interesse e curiosidade sobre a questão. Por conta disso, resolvi me atrever e escrever esse artigo, onde tentarei informar aos não biólogos e principalmente aos curiosos um pouco mais sobre o assunto.

Começarei informando que a Reprodução é o mecanismo pelo qual as espécies vivas se perpetuam no espaço e no tempo. Ou seja, só pode ser considerada uma espécie aquele grupo de indivíduos semelhantes que é capaz de gerar descendentes e se manter vivo numa determinada área ao longo do tempo. A Reprodução Sexuada é um mecanismo mais seguro de manter e perpetuar as espécies, pois garante a variabilidade e gera a diversidade necessária entre os indivíduos da espécie. Entretanto, é preciso saber clara e conceitualmente o que é esse mecanismo e que implicações ele traz para a vida como um todo e para vida animal particularmente.

Na verdade, muita gente pensa que Reprodução Sexuada é aquela que envolve cópula, assim confunde Reprodução Sexuada com Ato Sexual (Cópula) e, o que é pior, pensa que só existe reprodução sexuada nos animais que copulam. Isso está muito longe de ser verdade, mas este erro é consequência de outro anterior, que é o próprio conceito de sexo, o qual a grande maioria (quase a totalidade) das pessoas não conhece ou, se até conhece, tem uma noção bastante errada sobre o mesmo.  A cópula é apenas um detalhe que envolve o processo reprodutivo sexuado de alguns organismos vivos.

Infelizmente, a farta propaganda existente hoje na mídia e a divulgação intensiva sobre o sexo na espécie humana não traduz conceitualmente o que seja sexo de uma maneira objetiva e definitiva. Fala-se muito de sexo, de “fazer sexo”, de “utilizar o sexo”, de diferenças entre os sexos, de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e outras coisas mais. Porém, lamentavelmente, não se define realmente o que seja sexo. Na verdade, não se discute a importância biológica efetiva que o sexo tem para as espécies vivas, pensa-se apenas no sexo como objeto de prazer, de encantamento e de sedução humana, numa atitude social e estritamente antropológica, que leva ao entendimento errôneo da importância da função sexual nas espécies vivas. Assim, embora se fale também em Educação Sexual, na realidade está se deseducando, pois não se aborda o sexo num contexto biológico mais amplo.

A palavra sexo é oriunda da existência das células sexuais (gametas), os quais são, apenas e tão somente, de dois tipos: feminino e masculino. Então um organismo vivo é do sexo feminino porque suas Glândulas Sexuais (Gônadas) produzem gametas femininos ou é do sexo masculino porque suas gônadas produzem gametas masculinos. Entretanto há espécies, em vários grupos de organismos vivos que têm os dois tipos de gônadas e por isso mesmo produzem os dois tipos de gametas. Nesse caso os organismos são denominados Hermafroditas, em alusão aos deuses Hermes (masculino) e Afrodite (feminina), significando que o organismo em questão apresenta os dois tipos de sexos ao mesmo tempo.

A condição de pertencer ao sexo masculino, ao sexo feminino ou a ambos (hermafrodita) pode existir aleatoriamente em qualquer espécie viva (animal ou vegetal) sexualmente reprodutiva e a reprodução sexuada resulta do encontro entre os diferentes sexos (gametas) dessas espécies, através de um fenômeno denominado Fecundação ou Fertilização. Esse encontro pode ocorrer dentro do corpo de apenas um dos organismos (fêmea) ou de ambos (no caso de Fecundação Cruzada entre hermafroditas). Nesse caso a fecundação é denominada de Fecundação Interna. Entretanto, a Fecundação também pode ocorrer fora do corpo, num ambiente aquático externo, sendo denominada de Fecundação Externa. Então, toda vez que um gameta masculino de uma determinada espécie, encontra um gameta feminino dessa mesma espécie e o fecunda, ocorre uma reprodução sexuada, independentemente do local onde isso aconteça.

Na maioria das espécies em que ocorre uma Fecundação Interna, geralmente há nos indivíduos a presença de um órgão copulador (Pênis) e consequentemente ocorre uma cópula, mas isso não é uma obrigatoriedade, porque existem muitas espécies hermafroditas em que ocorre uma Autofecundação, isto é, os genitais liberam os gametas que se encontram dentro do próprio indivíduo, sem que haja uma cópula. Por outro lado, também existem espécies de Fecundação Externa com uma “pseudo-cópula”, como acontece nos Anfíbios Anuros (sapos), haja vista que embora aconteça algo parecido com uma cópula, na verdade a cópula não ocorre porque os machos não têm um órgão copulador e a fecundação é externa. Nas aves, embora a maioria dos machos também não tenha órgão copulador, as fêmeas desenvolveram mecanismos que levam os gametas masculinos para o interior de seus respectivos corpos e ocorre uma Fecundação Interna.

Assim, fica claro que a fecundação pode acontecer de várias maneiras, porém o resultado da fecundação, independentemente de qual tenha sido a sua maneira, sempre irá originar uma célula ovo ou zigoto, a qual, por sua vez, irá se desenvolver para formar um novo organismo com uma carga genética própria, que é oriunda dos dois gametas iniciais. Isto é, o novo ser que irá ser produzido sempre resultará de uma mistura genética dos dois ancestrais que forneceram os gametas, o que gera uma variabilidade cada vez maior das espécies que realizam a reprodução sexuada e que consequentemente resultam de uma fecundação.

Nas espécies animais denominamos o gameta masculino de Espermatozoide e o feminino de Óvulo e nas espécies vegetais, geralmente os gametas masculinos são denominados de Grão de Pólen e o feminino também é denominado de Óvulo. Entretanto, existem outros tipos de nomenclaturas atribuídos aos gametas nos diferentes grupos vegetais, mas vamos deixá-los de lado para não trazer à baila outros nomes pouco comuns e principalmente para não aumentar o tamanho da possível confusão na cabeça do leitor.

O ato sexual (cópula) é um dos mecanismos que permite o encontro entre os dois tipos diferentes de gametas de uma determinada espécie, porém está muito longe de ser o único mecanismo que permite esse processo, porque, além da fecundação externa na água, no caso dos animais, os gametas podem se encontrar e assim se fecundarem de várias formas nas espécies vegetais, através da ação dos agentes polinizadores, como o vento, os insetos, as aves e os morcegos. Enfim, sexuado é tudo que envolve gametas e que resulta de fecundação e como já foi dito, existem várias formas de fecundação, ou melhor, existem vários mecanismos que permitem a reprodução sexuada e consequentemente a fecundação, além daquele que a maioria das pessoas acredita ser o único.

Desta forma quero crer que agora posso dizer, sem medo de estarrecer o leitor ou de parecer que eu esteja louco, que, além do homem e dos animais vertebrados terrestres, muitas outras formas de vida, inclusive muitos invertebrados aquáticos, além dos peixes e também as plantas superiores são entidades sexuadas que podem se reproduzir e efetivamente se reproduzem sexuadamente, independente de realizarem uma cópula ou não. Aliás, é bom ressaltar que alguns organismos, são capazes de se reproduzirem também assexuadamente, isto é, sem a participação das células sexuais (gametas), mas esta é outra história e penso ser melhor não discuti-la nesse momento.

Dito isto, acredito que agora devo passar ao segundo item de minha breve explanação, na tentativa de poder esclarecer um pouco mais as pessoas sobre a reprodução sexuada e a formação de híbridos. O meu segundo item é a hibridização, ou seja, o processo de formação de híbridos.

Primeiramente é preciso definir o que seja um híbrido. Biologicamente um híbrido é aquele indivíduo resultante do cruzamento de dois ancestrais de espécies distintas. Isto é, alguém que se origina de dois contingentes genéticos distintos, que podem ser e geralmente são parecidos, mas que necessariamente são efetivamente diferentes. Costuma-se usar como exemplo o burro, que resulta do cruzamento entre a égua e o jumento ou entre o cavalo e a jumenta. Embora, pudessem ser usados outros inúmeros exemplos existentes, vou continuar me utilizando desse modelo porque, além de satisfazer a necessidade do momento, esse é também um exemplo bem conhecido da maioria das pessoas.

O cavalo e a égua pertencem à espécie Equus caballus, enquanto o jumento e a jumenta pertencem à espécie Equus asinus, ou seja, são duas espécies distintas. Quando são cruzadas (reproduzidas sexualmente) duas espécies diferentes, mesmo aparentadas, como é o caso de cavalo e jumento, o produto é um híbrido (Burro ou Mula). No que se refere aos animais, os híbridos são quase sempre inviáveis e quando são viáveis costumam ser estéreis. Porém, no caso das plantas, isso não é verdade, pois os híbridos vegetais costumam ser sexualmente férteis. Essas duas respostas diferenciadas entre plantas e animais quanto à hibridização são bastante intrigantes e parecem estar na fundamentação básica da própria condição do que seja um animal ou um vegetal.

Na natureza existem vários mecanismos que favorecem a formação de híbridos nos vegetais, o que possivelmente esteja relacionado com a limitação dos vegetais quanto à locomoção, embora, como já foi dito, também existem muitos animais que auxiliam no processo de polinização das espécies vegetais. A diversidade vegetal é muito menor que a animal, por causa da dependência ambiental maior e, ao que parece, também em consequência da impossibilidade motora. O vegetal tem que se desenvolver onde estiver e assim a mistura genética entre as espécies é muitas vezes vantajosa, sendo inclusive um fator significativo de evolução e formação de novas espécies (Especiação) entre as plantas.

Por outro lado, nos animais, em função basicamente da possibilidade motora, ocorre uma diversidade muito maior em consequência da possibilidade de procurar e assumir diferentes nichos ecológicos. Desta maneira, como a hibridização poderia ser algo extremamente comum, naturalmente foram desenvolvidos vários mecanismos que dificultam e tentam impedir a formação desses híbridos e garantir a individualidade das espécies. Ao contrário dos vegetais, nos animais a hibridização não é um fator de evolução nem de formação de novas espécies.

Os mecanismos que dificultam a hibridização em animais são classificados em dois grandes grupos: Mecanismos Pré-zigóticos (que impedem a formação do Ovo ou Zigoto) e Mecanismos Pós-zigóticos (que não impedem a formação do Ovo ou Zigoto, mas impedem o desenvolvimento, ou a formação do indivíduo, ou a sua reprodução ou ainda a reprodução futura de sua linhagem). No exemplo do Burro, acontece a formação do indivíduo, entretanto ele é incapaz de reproduzir. Assim, o Burro não é uma espécie verdadeira porque não pode gerar descendentes.

Geralmente ocorre impedimento antes de qualquer possibilidade reprodutiva, por questões limitantes de naturezas geográficas, por questões de impossibilidades mecânicas e mesmo por questões de diferenças comportamentais entre as espécies. Mas, mesmo quando esses fatores Pré-zigóticos falham e o encontro dos gametas acaba ocorrendo, ainda existe a possibilidade não haver fecundação, ou mesmo de haver fecundação, mas não haver desenvolvimento, ou ainda de haver desenvolvimento mais gerar um ser estéril, ou até de gerar um ser reprodutivamente ativo na primeira geração, porém estéril nas gerações subsequentes. Todos esses últimos são os mecanismos Pós-zigóticos e de todos esses casos há exemplos bem conhecidos na natureza. Além dos vários exemplos naturais de híbridos bem conhecidos da ciência, há também situações artificiais que o homem propiciou através das experiências mais diversas.

Concluindo, devo dizer que a Reprodução Sexuada tem sido um mecanismo fundamental para a manutenção e para a diversificação das espécies vivas do planeta, entretanto a formação de híbridos naturais é uma constante e esses híbridos muitas vezes são entidades comuns em função da grande possibilidade de combinação genética entre as espécies vivas. Algumas vezes, esses “erros reprodutivos” levam à produção de novas espécies, mormente nos vegetais, e outras vezes levam a formação de híbridos, nos animais, que não conseguem se estabelecer como espécies verdadeiras dentro da classificação biológica, exatamente porque apresentam limitações reprodutivas marcantes.

No pensamento popular coletivo os híbridos são conhecidos pela “força” que possuem, denominada genericamente de “Vigor Híbrido”, que é resultante da mistura dos dois genomas distintos ancestrais e que garante boas condições de resistência e de manutenção viva, o que para os vegetais condiciona numa melhor adaptação e consequentemente numa melhor capacidade de sobrevivência. Porém, nos animais, essa mesma mistura genética que gera o “Vigor Híbrido”, parece ser traduzida como uma imperfeição (anomalia) genética e passa a ser um reforço negativo, o qual é responsável pela inviabilidade reprodutiva e que não deixa esses organismos terem continuidade.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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15 ago 2015

O Meio Ambiente é o bem maior da Humanidade

Resumo:  O texto atual, mais uma vez relaciona-se com atividade humana e a degradação ambiental planetária provocada pelo homem, procurando demonstrar que o individualismo e que a falta de comprometimento coletivo, talvez, sejam as grandes causas e que as consequências são desastrosas, pois caminham para a extinção da espécie humana. A preocupação com o Meio Ambiente deve ser estabelecida como prioridade sobre todas as demais questões.


O Meio Ambiente é o bem maior da Humanidade

Nós, brasileiros, temos, sociologicamente, o hábito lamentável e infeliz de entender que aquilo que é de todos, acaba não pertencendo a ninguém. Isto é, aquilo que é comum a todos numa comunidade e por isso mesmo pertencente a todos, costuma ser considerado como algo que não tem dono e assim, acaba sendo entendido como algo que não pertence a ninguém. Essa cultura errada, que tem nos produzido inúmeros infortúnios em vários setores e atividades sociais, ultimamente também tem causado grandes problemas na área ambiental, haja vista que o Meio Ambiente é um patrimônio coletivo, um bem comum a todos (humanos e não humanos) que nele habitam. Infelizmente, temos tratado o Meio Ambiente como coisa de ninguém, ainda que ele seja um bem de todos os organismos vivos.

Estamos fazendo tudo ao contrário. Ao invés de procurarmos entender que qualquer lugar é um Meio Ambiente único e que merece ser tratado com cuidado e respeito, para a manutenção da vida nele existente, nós temos considerado que o Meio Ambiente é um lugar comum e qualquer, no qual se pode fazer de tudo, da maneira que se quiser. Ou seja, numa simples e perigosa troca entre o que é sujeito e o que é objeto numa sentença, além de contrariarmos a Constituição Federal (Capítulo do Meio Ambiente, Artigo 225), mudamos toda a noção de importância que se quer e se necessita dar ao Meio Ambiente e consequentemente minimizamos toda a questão ambiental. Dessa maneira, o Meio Ambiente passou a ser considerado um objeto sem valor, do qual alguns indivíduos de nossa espécie se apropriaram para seus interesses pessoais e cabe apenas a esses indivíduos o direito ao uso desse objeto insignificante.

Nossa cultura parece que já não tinha mais nada para socializar no interesse de grupos específicos e vulgarizar nas possibilidades de uso, por conta disso resolveu assumir que o Meio Ambiente deve ser partilhado apenas pelos diferentes grupos de seres humanos que nele habitam especificamente, sem qualquer responsabilidade ou consequência na maneira como é feita esta partilha. Em suma, assumimos uma postura ditatorial, usurpadora e antiética em relação ao planeta, às demais espécies vivas e principalmente aos demais seres humanos. Nós nos consideramos os “donos do planeta” e de todo seu espaço físico, inclusive com as demais coisas vivas, que está aí apenas para nos servir e para instigar indefinidamente a nossa imensa capacidade de degradação.

Por conta disso também, já não fazemos mais distinção entre o que certo e o que é errado. Trocamos definitivamente os sentidos do “bem estar” e do “bem viver”, ainda que as duas expressões sejam parecidas, os dois conceitos que elas implicam, na verdade, são bastante distintos. O “bem estar” tende a ser egocêntrico, momentâneo e tênue, enquanto o “bem viver” tende a ser coletivo, perpétuo e rígido. Para nós o que importa é somente a vantagem imediata do “bem estar” individual, o restante não interessa. Estamos precisando cultivar mais o “bem viver”, até para que possamos garantir algum “bem estar” efetivo e duradouro para nossa espécie, para as demais espécies planetárias e para o planeta como um todo.

A Terra necessita que encaremos o Meio Ambiente dentro de uma visão do “bem viver”, porque apenas dessa maneira é que poderemos trabalhar em prol da continuidade da vida no planeta, principalmente da vida de nossa própria espécie, que á a mais dependente de todas as espécies aqui existentes na Terra. O Homo sapiens, assim como várias outras espécies planetárias, só sobreviverá se a Terra continuar dentro de determinadas condições ambientais, as quais foram definidas pelo processo natural de evolução e permitiram o aparecimento e desenvolvimento dessas espécies. Fora desse padrão de razoabilidade ambiental nossa espécie e muitas outras se extinguirão de maneira trágica e prematura. Em muitos ecossistemas a manutenção do equilíbrio depende de características aparentemente pouco importantes aos olhos humanos, mas é exatamente nesses ecossistemas frágeis que a ação devastadora da espécie humana tem causado feridas graves e de difícil tratamento, muitas vezes sem nenhuma possibilidade de cura.

A Evolução Biológica que nos trouxe e nos manteve vivos como espécie planetária até aqui, certamente continuará seu rumo, mas a nossa espécie, pelo princípio básico da Seleção Natural, por questões óbvias, não terá como produzir nenhum mecanismo capaz de se adaptar às condições extremas que nós mesmos estamos criando e acentuando cada vez mais. Desta maneira, a extinção da espécie humana e de algumas outras será uma consequência direta dos erros que temos cometido com o Meio Ambiente planetário. Obviamente, temos certeza absoluta que conscientemente a humanidade não quer se extinguir, mas paradoxalmente ela tem trabalhado de forma deliberada e inexplicável exatamente no sentido de sua extinção precoce e inexorável.

O Meio Ambiente precisa estar no centro, não só das atenções, como se tem visto nas propagandas, mas ele precisa, principalmente, estar no centro das ações, o que ainda está difícil de se ver. Temos que parar de falar sobre o meio ambiente e temos que começar a viver de maneira ambientalmente correta. As questões ambientais devem ser tratadas com toda a relevância que merecem, haja vista que elas são as prioridades para o planeta e particularmente para a nossa espécie.

De fato, o Meio Ambiente Planetário é o que temos de mais importante, porque a Terra é a casa que abriga todos nós da espécie humana e das demais espécies de organismos vivos do planeta. Foi o Meio Ambiente que nos impôs e continua nos impondo, progressiva e gradativamente as condições que tem nos permitido a adaptação e a consequente sobrevivência evolutiva. Entretanto, com as mudanças bruscas, não poderemos continuar evoluindo, porque não será possível dar grandes saltos adaptativos. Desta forma, a evolução seguirá o seu curso no planeta, mas nós não estaremos mais nele, por conta de não podermos assumir todas as grandes mudanças adaptativas que deverão ser necessárias à nossa continuidade.

Bem, apesar de todo o procedimento errado ao longo da história, ainda continuamos caminhando e evoluindo até aqui e talvez seja possível caminhar um pouco mais. Porém, os nossos passos estão cada vez mais incertos, nossos ambientes próximos estão cada vez mais perigosos, nossas ações são cada vez mais inseguras e nossa jornada parece está ficando cada vez mais curta. Chegamos a uma encruzilhada, na qual temos duas alternativas excludentes: ou paramos e mudamos nosso modo de viver e investimos no “bem viver” ou então continuamos preocupados com o “bem estar” no pouco tempo que nos resta, antes da extinção. Não há, absolutamente, nenhuma outra alternativa e a escolha é exclusivamente nossa.

Somos uma espécie única, no meio de milhões de outras, que habita um planeta único, do qual tiramos tudo que necessitamos para viver, a despeito do interesse e das necessidades das demais espécies planetárias. Ao mesmo tempo, destruímos esse planeta e essas espécies sem nenhuma cerimônia, sem nenhum constrangimento e principalmente, sem parar para pensar que as consequências de nossas ações, só trarão prejuízos a nós mesmos.

 Lamentavelmente, a julgar as nossas ações como indivíduos, parece que a vida humana passou a se manifestar efetivamente como uma contingência individual, cuja única certeza é a morte (extinção) e não existe projeto futuro no que se refere a condição viva de nossa espécie e sua manutenção na Terra. O ideal da sustentabilidade planetária é uma utopia, pois a maioria dos seres humanos não aparentam ter nenhuma preocupação com as gerações atuais e muito menos com as futuras. O “bem estar” do presente é o único interesse. Dessa maneira, não há porque buscar o “bem viver” que pode nos levar um pouco mais para o futuro como espécie.

É claro que ainda deve existir algum tempo para nossa espécie, mas precisamos urgentemente rever os nossos procedimentos em relação ao Meio Ambiente planetário que nos mantem. Ou seja, precisamos mudar radicalmente a maneira de tratar o nosso Planeta Terra e as demais criaturas nele existentes. Não é mais possível continuar da forma que chegamos até aqui, há necessidade de criar uma nova Filosofia e de desenvolver uma nova Metodologia, que nos direcione para a noção efetiva de que o Meio Ambiente é um bem coletivo e nos permita agir na contenção imediata da degradação do planeta e que garanta nossa continuidade na Terra.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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03 ago 2015

A História do Menino da Cidade Grande e o Rio Imenso

Resumo: Dessa vez trago um texto que conta a história de minha ligação com o Rio Paraíba do Sul, desde a minha infância até hoje e traz algumas informações pessoais sobre os acontecimentos e as coincidências entre eu e o Rio Paraíba ao longo dos anos. Vou fundo na memória e trago a imagem desde os ensinamentos dados por meu pai e da minha primeira professora de Geografia no ginásio até os dias atuais em que estou completando 35 anos vivendo na região valeparaibana.


A História do Menino da Cidade Grande e o Rio Imenso

Quando menino eu vinha, durante as férias, com meus pais, do Rio de Janeiro para São Paulo para visitar meus tios e meus primos, na verdade tios e primos da minha mãe, pois a tia era irmã de minha avó. Eu gostava muito das viagens e prestava muita atenção à paisagem. Naquela época, ainda na antiga Rodovia Rio – São Paulo, de vez em quando passávamos ao lado daquele “rio imenso”, o Rio Paraíba do Sul. É isso mesmo, para mim o Rio Paraíba do Sul era um “rio imenso”, pois lá na cidade do Rio de Janeiro, o maior rio que eu pude identificar era o canal do mangue, que não tem dez metros de largura. Desta forma o Rio Paraíba era, para mim, um gigante. Eu me deliciava com aquela quantidade de água e não entendia bem o que era aquilo. Acho até que eu tinha um pouco de medo, pois aquele aguaceiro me assustava ao mesmo tempo em que me atraia.

Pouco depois a estrada mudou, veio a Dutra, mas o Rio Paraíba do Sul continuava ali, aparecendo e sumindo ao lado da estrada. Eu ficava doidinho para viajar até São Paulo, só para ver aquela imensidão de rio. Nessas idas e vindas eu conversava muito com meu pai, que me informava detalhes do Rio Paraíba do Sul e de sua importância para a região. Entretanto, eu era muito jovem e não podia entender a maioria das coisas que meu pai dizia. Só sei que eu curtia muito as informações e que aqueles momentos para mim eram, além de inesquecíveis, também fantásticos. Como era bom, eu, meu pai, minha mãe e o Rio Paraíba do Sul, seguindo a estrada para São Paulo.

Lembro-me também que meu pai tinha um amigo (Senhor Ernesto) que era casado com uma Senhora (não me lembro o nome) que havia nascido no Norte do Estado do Rio de Janeiro, no Município de São João da Barra e os pais dela ainda moravam lá. Durante feriados prolongados (Carnaval, Semana Santa e outros), eu, meu pai, minha mãe, o Senhor Ernesto e sua esposa, por várias vezes fomos a São João da Barra visitar os pais da senhora. Recordo-me muito bem, que a casa onde ficávamos era muito grande. Lá também havia uma pequena fábrica de manteiga e de queijo e isso produzia um cheiro característico no ar. A casa com a pequena fábrica localizava-se muito próximo de outra fábrica muito grande, naquela época, a Fábrica do Conhaque de Alcatrão de São João da Barra, muito famosa na região. Isso já faz mais de 50 anos e eu nunca mais voltei ao local, portanto não sei se essas coisas ainda existem.

Nos carnavais que passávamos na cidade de São João da Barra, tinha uma coisa muito interessante. A cidade se dividia em dois grandes Blocos Carnavalescos: os Congos e os Leões. Os dois blocos percorriam as ruas da pequena cidade e arrastavam os seus adeptos, em meio aos aplausos e às vaias dos prós e dos contra. Eu nunca tinha visto uma situação dessas, a competição era terrível, parecia uma guerra com a cidade dividida pelo Carnaval, mas aquilo durava apenas o período do Carnaval, depois tudo voltava ao normal até o outro ano. Hoje em dia, às vezes tenho vontade de voltar a São João da Barra só para ver se há algum relato ou registro histórico daquela época ou se, quem sabe, até hoje a coisa continua assim.

No fundo da casa onde ficávamos (a Fábrica de Manteiga), também passava um “rio imenso”, um rio grande (largo), caudaloso e de velocidade significativa.  Era interessante que a gente pescava da janela da casa e numa pequena parte do terreno havia um remanso e uma “prainha”, onde se podia tomar banho próximo à margem. Aquele rio, por incrível que pudesse parecer para aquele menino, também era o Rio Paraíba do Sul.

Várias vezes eu questionei meu pai sobre o tamanho daquele “rio imenso”, que eu via quando ia para São Paulo (Sul) e quando ia para São João da Barra (Norte). O Rio Paraíba do Sul era muito maior do que o que eu pensava e eu sempre me questionava: onde será que esse rio vai parar? Lembro que meu pai me explicava, mas como já disse eu era muito pequeno para entender.

Eu fazia tantas perguntas sobre o “rio imenso”, que um dia meu pai, o amigo dele (Ernesto) e o sogro desse amigo, o qual lamentavelmente não me recordo o nome, resolveram me levar num passeio. Pegamos o carro e saímos. Levou algum tempo, passamos por uma cidade bem maior (Campos dos Goitacazes) e posteriormente chegamos a um lugar fantástico em que estávamos de frente para uma praia (Atafona). Estávamos de frente para o Oceano Atlântico e lá meu pai me mostrou onde o “rio imenso” terminava, onde ele encontrava o mar. Meu pai me falou da Pororoca e, não sei o porquê, essa foi uma palavra que eu jamais esqueci. Talvez, seja pela sua sonoridade ou por ser um dos muitos ensinamentos de meu saudoso pai. Sei lá!

Engraçado, como as coisas acontecem. Eu nunca pensei que um dia fosse contar isso para alguém, mas estou aqui falando do meu saudoso pai e compartilhando de seus ensinamentos com os meus leitores. Foi ele, o meu pai, quem me ensinou sobre Pororoca, Piracema, Correnteza e outras coisas mais. E tudo isso por causa do Rio Paraíba do Sul.

Posteriormente, quando ingressei no ginásio, quando fui estudar a Geografia mais detalhadamente, na parte referente à Geografia Física do Sudeste do Brasil, a Professora (Dona Catarina, minha primeira professora de Geografia, uma mulher jovem e muito bonita), falou-me um pouco mais da Bacia Hidrográfica (acho que até então eu nunca havia ouvido falar nesse termo) do Rio Paraíba do Sul e de sua importância para o desenvolvimento do Sudeste brasileiro. É claro que muita coisa eu já sabia, pois meu pai já havia me dito, embora eu ainda não entendesse direito. Acho até que é por isso que sempre me dei bem e sempre gostei muito de Geografia.

Eu adorava as aulas de Geografia da Professora Catarina e tenho certeza que ela nunca soube disso. Nunca mais a vi, como disse lá se vão mais de quarenta e cinco anos, talvez até ela já tenha morrido, porém continua muito viva em minha memória. Tive outros professores de Geografia, mas, não sei o porquê, nenhum deles me chamou tanta atenção quanto a Professora Catarina. Dos outros, eu nem lembro mais o nome. Quem sabe era a sua beleza ou o meu interesse por aprender sobre os rios, em particular o Rio Paraíba do Sul.

O tempo passou e eu continuei crescendo, sempre indo e vindo para São Paulo, admirando o Rio Paraíba do Sul e conversando com o meu pai sobre o rio e sua importância. Depois de adulto, já dirigindo, quando eu ia sozinho pela Rodovia Presidente Dutra, algumas vezes aproveitava para parar e olhar com um pouco mais de calma aquela beleza deslumbrante daquele rio maravilhoso. Particularmente, na cidade de Barra Mansa, na pista sentido São Paulo, quando se avista o Rio Paraíba do alto. É a primeira visão do Rio Paraíba do Sul na pista no sentido São Paulo, certamente é o trecho mais lindo do Rio Paraíba do Sul. Também parei algumas vezes no trecho entre Queluz e Lavrinhas, onde o Rio Paraíba do Sul é especialmente encantador. Recentemente esse trecho perdeu um pouco de seu brilho e ficou menos interessante por causa das PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) que infelizmente lá se instalaram. Mas, essa é outra história que não vou discutir aqui.

Graduei-me como Biólogo e fui trabalhar especificamente com organismos marinhos e assim, o Rio Paraíba do Sul ficou, por algum tempo, apenas como uma imagem que eu sempre gostava de lembrar e, quando possível reviver, nas oportunidades em que eu viajava pela Rodovia Presidente Dutra a caminho de São Paulo, de Curitiba ou de outra cidade do Sul do Brasil.

Por ironia do destino ou por mais uma coincidência, depois de algum tempo, vim trabalhar aqui no Vale do Paraíba Paulista, mais precisamente na cidade de Taubaté e acabei ficando na região. Casei com uma caçapavense e meus filhos nasceram todos aqui na região. Sou cidadão valeparaibano faz 35 anos e hoje não troco essa região por nenhuma outra, apesar de todos os problemas aqui existentes.

Depois que vim trabalhar na região, algumas vezes eu vinha do Rio de Janeiro para cá de trem e desta forma eu conheci outros caminhos por onde o Rio Paraíba do Sul também passa, ao lado da linha do trem. Aliás, que saudade do trem que várias vezes me trazia do Rio de Janeiro para Taubaté ou para Caçapava e vice-versa. O fim do trem é outra daquelas coisas que não se consegue entender e que só acontecem em países como o Brasil, mas também não é disso que estamos querendo falar no momento.

Minha vinda para a região me propiciou inúmeras oportunidades de estudos naturalísticos sobre o Vale do Paraíba e sua importância no cenário nacional. Como zoólogo, primeiramente estava interessado na fauna, mas é impossível estudar os animais sem conhecer o ambiente, a sua condição geográfica e sua realidade histórica. Assim, além da Biologia Animal, também tive de estudar um pouco da Geomorfologia e da Geografia Física, da Geografia Política e obviamente da Ocupação e da História da região. Desta forma, eis que o Rio Paraíba do Sul surge novamente na minha vida, agora com um significado diferente, pois ele é, certamente, o principal agente físico na organização naturalística e ambiental da região, bem como na sua condição geopolítica e social.

Assim, ao longo do tempo, aquele menino que questionava a seu pai sobre o “rio imenso” foi voltando na minha mente e por conta disso resolvi estudar mais e conhecer a fundo o Rio Paraíba do Sul, sua história e sua importância para a região valeparaibana, para o Estado do Rio de Janeiro particularmente e para o Brasil. Sou ciente que a minha existência e de muitos que vieram depois de mim, só foi possível por conta das águas do Rio Paraíba do Sul. Se não fosse a transposição das águas do Rio Paraíba do Sul, ocorrida em 1953, o Estado do Rio de Janeiro certamente não teria a pujança que hoje possui, porque não haveria água suficiente e sem água não seria possível abrigar toda a população que hoje abriga.

Até mesmo no dia em que meu pai faleceu, o Rio Paraíba do Sul esteve presente em minha vida. Meu pai estava doente e eu já morava aqui no Vale do Paraíba fazia alguns anos e por causa de sua doença, naquela época eu ia constantemente, pelo menos dia sim, dia não, ao Rio de Janeiro. Naquele fatídico dia, saí bem cedo (por volta das 6 horas da manhã) de Caçapava e fui de carro para o Rio de Janeiro. Cheguei à casa de meus pais e peguei minha mãe, pois precisávamos estar no hospital às 10 horas. Meu pai continuava do mesmo jeito (era o quadragésimo segundo dia de coma) e os médicos nada diziam sobre melhoras. Aliás, nem podiam dizer, porque o quadro era realmente muito grave. Depois da visita, eu e minha mãe voltamos para casa, almoçamos e logo depois, rumei novamente para Caçapava.

Pouco depois das 17:00 horas, quando cheguei à Caçapava, meu sogro me informou que eu precisava voltar ao Rio de Janeiro novamente, pois minha mãe acabara de telefonar, informando que meu pai havia falecido. Isso aconteceu em julho de 1991 e naquela época ainda não havia telefone celular. Pois é, até no dia em que meu pai morreu, por três vezes margeei o Rio Paraíba do Sul. Talvez mera coincidência, mas quero crer que não, prefiro acreditar que isso tenha alguma relação, pois eu, meu pai e o Rio Paraíba do Sul tínhamos (temos até hoje) tudo a ver.

Quando voltava ao Rio de Janeiro para o velório de meu pai, acompanhado de minha mulher e meu sogro, lembrei muito das coisas que meu pai me dizia sobre o Rio Paraíba do Sul, quando eu era pequeno. Até hoje, sinto um grande prazer, quando passo em frente da entrada para Rio Claro, no alto da Serra das Araras, onde antes existia a saída para o extinto município de São João Marcos. Meu pai morou naquele lugar e adquiriu o conhecimento que procurou me ensinar sobre o Rio Paraíba do Sul. Foram exatamente o interesse industrial e a falta de coerência histórica, de sensibilidade humana e de consciência ecológica, atitudes que hoje, como ambientalista, eu combato ativamente, que destruíram aquele Município. Mas, essa também é outra história.

Hoje estou aqui, lutando pelo Rio Paraíba do Sul e pela região que ele empresta o nome. Minha mulher e meus filhos aqui nasceram e aqui eu pretendo morrer. Escrevi e publiquei inúmeros artigos sobre a Bacia do Rio Paraíba do Sul e sobre a região. Além disso, eu ministro aulas não curso de Licenciatura em Biologia das Faculdades Integradas Teresa D`Ávila (FATEA) de uma disciplina que criei por volta de 1990, denominada “História Natural do Vale do Paraíba” e aproveito aqui para contar mais essa pequena passagem da história para alguns de meus alunos.

Certamente meu pai está lá no alto, olhando para mim e para o Rio Paraíba do Sul aqui embaixo e eu me sinto muito envaidecido de seus ensinamentos. Além do mais, eu me encho de orgulho todas as vezes, quando passo pela Rodovia Presidente Dutra, na entrada da fábrica “Du Pont”, no município de Barra Mansa, onde meu pai trabalhou. Gosto de lembrar, principalmente quando passo na frente da fábrica à noite, quando ela está toda iluminada, que meu pai foi um dos responsáveis pela instalação elétrica daquela grande planta industrial e que o Rio Paraíba do Sul estava ali, bem na frente do portão da fábrica para testemunhar o trabalho de meu pai e que ele continua ali do mesmo jeito até hoje.

A saudade de meu pai é eterna, mas a proximidade do Rio Paraíba do Sul me garante que mesmo longe, observando lá do alto, ele está presente e que continuamos juntos a olhar e admirar a beleza desse rio fabuloso, o rio imenso, que corre calmo e sereno, por mais de 1.150 Km, até o Oceano Atlântico e que alimenta com suas águas os meus conterrâneos de nascimento lá no Rio de Janeiro e os meus conterrâneos de coração aqui no Vale do Paraíba. Eu sei que meu pai está feliz e sorrindo, porque sabe que o Rio Paraíba do Sul também é um espírito eterno e nos acompanhará para sempre.

 Luiz Eduardo Corrêa Lima

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27 jul 2015

1 ANO DE SITE

Resumo: Meus amigos, no dia 23/07/2015 meu site completou um ano. Enviei uma carta de agradecimento aos leitores registrados no site e gostaria de compartilhar essa mesma carta com os demais leitores. Essa é uma forma de agradecer todo apoio que tenho recebido ao longo desse período.


1 ANO DE SITE

Carta aos Leitores:

Meus amigos, alunos, professores e leitores em geral, no dia 23/07/2015, meu site (www.profluizeduardo.com.br), completou 1 ano no ar. O tempo realmente passa muito ligeiro e parece que foi ontem que meu filho me falou: “pai vou fazer um site para você colocar seus artigos”. No início achei aquela ideia meio estranha, mas como sempre (desde 2002) postei artigos em inúmeros outros sites, hoje contabilizando mais de 150 textos e 250.000 (duzentas e cinquenta mil) leituras, porque não ter o meu próprio site também. Pois então, 365 dias depois, só posso dizer que meu filho tinha razão e que por menos que possa parecer, as pessoas ainda leem e leem bastante, porque nesse ano, colocamos no ar cerca de 70 textos e o site recebeu mais de 12.500 visualizações (média superior a 1.000 por mês), mais 6.100 sessões (média superior a 500 por mês) e mais 4.700 diferentes usuários (média de quase 400 por mês). Diferentes textos foram lidos por inúmeras pessoas em todos os 6 continentes, em 21 subcontinentes, em 96 países e em 1019 cidades pelo mundo afora, em pelo menos 50 idiomas distintos. Quer dizer, eu só posso agradecer a todos em geral e ao meu filho em particular, pela colaboração e por acreditarem e darem crédito a esse velho professor que gosta de escrever, de divulgar ciência e principalmente de discutir assuntos atuais, mormente nas áreas de Biologia, Cultura, Educação, Meio Ambiente, Política e com destaque especial, sobre as questões regionais do Vale do Paraíba do Sul. Mas, que em suas inclusões como escriba, também se atreve a fazer poesias, cordéis, crônicas, contos, que emite opiniões e abre discussões sobre Esporte, História, Geografia e Políticas Públicas. Nosso site, que inicialmente foi criado para colocação de meus textos, sem nenhuma pretensão maior, hoje está mais para um fórum de ideias e de debates, onde eu tenho lançado sementes de informações e de discussões e vocês têm discutido sobre elas, dentro e fora do âmbito do site. Eu considero que isso é um fato realmente sensacional e que só enriquece mais cada um de nós e principalmente a nossa região e sua sustentabilidade para as gerações futuras. Quero dizer que, de minha parte nada irá mudar. Isto é, continuarei provocando os leitores com meus artigos, afim de que novas ideias e atitudes socioambientais possam ser pensadas e estabelecidas em prol de nossa região e de toda a comunidade nela existente. Nosso Vale do Paraíba do Sul precisa continuar crescendo, apesar e além dos interesses de grupos políticos. Meus amigos, só me resta dizer, mais uma vez, muito obrigado a todos vocês e vamos em frente.

Luiz Eduardo Corrêa Lima Caçapava, julho de 2015

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17 jul 2015

O Pendrive e a procura eterna

Resumo: Desta feita estou trazendo um problema cotidiano, que está cada vez mais comum na atualidade, trata-se da perda de pendrives. Aproveito o fato de ter acontecido comigo, para tentar fazer um texto engraçado sobre a questão. Considerando que está é uma situação bastante comum, acredito que será possível produzir algumas risadas, porque certamente o leitor irá se lembrar de situações similares já vividas, no que diz respeito a esses pequenos dispositivos eletrônicos.


O Pendrive e a procura eterna

Diz o ditado que: “a vida é uma eterna procura” e eu complemento, principalmente para quem usa um pendrive como instrumento de trabalho. Na vida estamos sempre procurando uma nova oportunidade, a mulher amada, o amigo fiel, um emprego melhor, a casa dos sonhos. Enfim, a vida é realmente uma eterna procura, que algumas vezes chega a um resultado satisfatório e outras vezes não. Mas, no caso do pendrive, a procura é sempre (100%), ou seja, é uma procura eterna, da qual nunca se chega a solução nenhuma. Isto é, o resultado da procura é sempre uma nova procura. Você pode até mudar de procura, mas continuará procurando, com a certeza de que não irá encontrar um resultado final satisfatório para o que deseja. Bom, continuem lendo o texto que eu vou provar para vocês o que estou afirmando.

Antes de qualquer coisa, eu quero aqui deixar a minha declaração de que não tenho nada contra pendrives ou quaisquer dispositivos eletrônicos similares, que, aliás, são objetos fantásticos e extremamente úteis na sua função de guardar a informação. O que eu lamento e o fato de que o sujeito que inventou o pendrive, o qual obviamente tinha apenas a intenção de ajudar a resolver um grande problema das pessoas na vida moderna, nunca pensou na possibilidade de que o mesmo pudesse ser perdido. O pendrive é realmente fabuloso, pois permite reunir todas as informações em um único instrumento, pequeno, leve e capaz de ser transportado facilmente, mas certamente seu inventor nunca imaginou a possibilidade de que um objeto tão pequeno e útil, pudesse acabar produzindo problemas tão grandes, quando ele simplesmente desaparece, fato que é bastante comum, como todos nós podemos comprovar. Quem não perdeu ou não conhece alguém que tenha perdido um desses objetos?

A procura no que diz respeito ao pendrive começa pela procura do próprio pendrive, já que existem centenas de modelos diferentes no mercado, com capacidades de memória também diferentes. Depois disso a procura segue, porque na grande maioria das vezes você não sabe onde ele está, quando há necessidade de encontra-lo. O pior, é que muitas vezes você continua procurando e não achando o dispositivo, porque efetivamente já o perdeu. Há lugares em que o pendrive se esconde tão bem, que é muito pouco provável de ser encontrado. Coisa difícil, por exemplo, é encontrar um pendrive dentro da bolsa de uma mulher. Mas, vamos deixar isso para lá e vamos seguir com o assunto, até porque os pendrives não são os únicos objetos que não são encontrados nas bolsas das mulheres.

Podemos considerar aqui que você foi um sujeito feliz e rapidamente achou o seu “bendito” pendrive, quando precisou do mesmo. A partir desse momento você passa a ter um mundo diferente (o mundo pendrive), um mundo de novas procuras que irão se desenvolver paulatina e progressivamente. Após ler esse artigo, você verá que sua busca poderá ser eterna.

Primeiramente você tem que procurar um computador relativamente novo para introduzir o pendrive, porque as máquinas mais velhas muitas vezes não têm entrada para pendrive. Ao encontrar um computador compatível, você introduz o referido dispositivo na entrada própria do computador (entrada USB) e espera que ele abra, mas nem sempre o que você espera é o que acontece. Ninguém, nem os grandes especialistas em Informática, sabe bem porque, muitas vezes, o pendrive simplesmente recusa-se a abrir e não abre de maneira nenhuma. Bem, então você tira o nefasto dispositivo do computador e insere várias outras vezes sem sucesso, até que você desiste e procura outro computador ou já desiste daquele pendrive e joga ele fora.

Mas, vamos supor que dessa vez não ocorreu nenhum problema e o dispositivo abriu no primeiro computador que você colocou, embora tenha demorado um pouquinho porque o antivírus do computador resolveu fazer uma varredura para ver se o seu pendrive estava limpo de vírus. Mas, continuando, quando você consegue abrir o pendrive você se sente feliz, mas, na verdade, você não está nem na metade de sua procura porque é a partir desse momento, que o “bicho vai pegar” e as coisas vão se complicar muito, porque aí surge aquele outro probleminha: em que pasta está aquele arquivo que eu preciso encontrar? E então, você passa a procurar a pasta certa e abre pasta, fecha pasta, abre pasta, facha pasta e nada. Obviamente você vai ficando nervoso.

É exatamente nessas altura que chega aquele amigo legal, que acha que você é um sujeito muito burro ou pelo menos mais burro do que o normal e diz: “porque você não vai até a procura e digita o nome do arquivo?” E então, você para não mandar seu amigo para a “pqp”, você simplesmente diz o óbvio: “se eu soubesse o nome já teria feito isso”. E desse modo, você segue à sua procura interminável pelo arquivo desaparecido, mas que você tem certeza que está naquele maldito pendrive. Sim, naquele pendrive, porque pendrive é que nem chave, que você tem várias, mas cada uma delas é para uma determinada fechadura e muitas vezes você confunde as chaves e sofre para conseguir abrir as portas. Mas, esse é outro problema, vamos em frente.

Você estava com o pendrive certo, encontrou a pasta certa e finalmente abriu o arquivo certo. Caramba, quanta raridade (certeza) numa frase só. De repente, eureka! O arquivo é aberto, mas você olha, olha e olha e não entende nada, porque o computador abriu o arquivo num programa que não tem nada a ver. Aparece uns símbolos estranhos ou uma linguagem maluca e você não entende nada. Outras vezes, acontece que está tudo quase normal, apenas a formatação é que mudou e aí o arquivo está “apenas” desfigurado e assim não é bem aquilo que você queria, mas quem sabe pode servir ao seu interesse e, ainda que não esteja ótimo, sua procura poderá ter chegado ao fim.

Entretanto, você não é daqueles sujeitos que faz as coisas pela metade, não se conforma com o resultado “meia boca” e resolve melhorar a situação. Bem, aí começa tudo de novo, porque você terá que procurar outro computador para tentar abrir o desgraçado do pendrive. É claro que, dessa vez, você irá sofrer menos, porque você certamente lembra qual é a pasta e o arquivo que você deseja encontrar.  Ou será que você, depois de tanto aborrecimento, acabou se esquecendo de tudo? Não, não é possível, você é uma pessoa sensata e se lembra exatamente de tudo, obviamente você não vai sofrer duas vezes ou vai? Bem, deixemos isso de lado e vamos em frente.

Encontrado o outro computador, você aproveita para olhar as horas e observa que já está fazendo mais de meia hora que você está ali tentando abrir um arquivo, o que, em condições normais, levaria apenas alguns segundos. Mas, você encontrou outro computador e novamente inseriu o pendrive no devido local. Dessa vez você não tem dúvidas de que “tudo vai dar certo”, a não ser que…. Pois é, acabou a bateria do “notebook” ou faltou energia no local onde está ligado o “deskbook”. Caramba! Você realmente é um sujeito de pouca sorte ou então Deus está contra você. Nesse momento, você se auto pergunta: porque eu não joguei esse negócio fora quando pude e não comprei logo uma HD externa? Assim, nessa situação difícil, você resolve deixar para depois e desiste momentaneamente de abrir aquele pendrive miserável.

Quatro horas depois ou, quem sabe, no dia seguinte, certamente você já está em outro lugar, dessa vez até com energia elétrica normalizada e você, que também está bem mais tranquilo e quase já havia se esquecido de todo o aborrecimento com aquela situação que deveria ser simples, mas que ficou complicadíssima. Bem, você está claramente mais determinado a resolver a sua pendência e decide que finalmente agora vai abrir o pendrive e resolver todo os problemas. Nesse momento você se toca: pendrive, que pendrive? Você acaba de lembrar que depois de tanta confusão, você simplesmente esqueceu de tirar o pequeno aparelho da última máquina em que o inseriu e aí fica desesperado. “Pqp”, que idiota que eu sou, esqueci de tirar o pendrive do computador! E agora? Meu Deus, minha vida está naquele pendrive, preciso encontra-lo ou o meu mundo vai acabar!

Algumas vezes ainda é possível voltar ao local, outras vezes não e aí você tem que fazer uma série de ligações para perguntar as pessoas se, por acaso, alguma delas viu o seu pendrive ou se alguém conseguiu pegá-lo e guardou para você e assim a coisa se complica cada vez mais. Alguns colocam até anúncio no jornal, no rádio e na TV. Entretanto, você está num daqueles dias de sorte e volta ao local facilmente, mas quando chega lá, o susto é muito maior. Caramba! Cadê o pendrive que estava aqui? Pois então, já era, o seu pequeno dispositivo eletrônico sumiu. É um mistério impressionante a capacidade que esses pequenos dispositivos eletrônicos têm de desaparecer. Pendrive às vezes parece coisa do diabo! Quem já teve a infeliz oportunidade de perder algum pendrive, sabe muito bem o que estou dizendo.

Agora sua vida está realmente destruída, seu pendrive, com todos os seus trabalhos, seus compromissos e seus segredos desapareceu e sabe lá na mão de quem foi parar. E se tiver algo comprometedor dentro dele? Em algumas situações, algumas pessoas começam até a pensar no suicídio, porque perderam o pendrive, no qual existiam informações comprometedoras. Mas, você não é esse sujeito e vai conseguir superar, pela terceira vez, essa grande perda, apesar do objeto ser pequeno. Além disso, você reflete bem sobre a questão, depois de passar três noites sem dormir, pensando no pendrive e nos possíveis locais onde ele possa estar ou nas pessoas que podem ter ficado com ele.

Finalmente você conclui, que o pendrive é uma porcaria, um objeto muito pequeno e que o pendrive ideal deveria ser como um tijolo, porque aí, nem você e nem ninguém conseguiria mais perder esse tipo de dispositivo. Isso, certamente irá gradativamente satisfazendo o seu ego, porém, efetivamente, não resolverá a situação e você continuará sempre pensando: onde estarão os meus pendrives perdidos? Quem é o “fdp” que encontrou o meu pendrive e não me devolveu? E você seguirá sua vida na eterna busca dos pendrives perdidos.

Essa coisa de perder pendrive está tão comum, que tem um amigo meu que já define felicidade como sendo: “o reencontro ocasional de um pendrive, após uma semana de tê-lo dado como perdido”. Segundo esse meu amigo, reencontrar um pendrive perdido é o êxtase, embora seja algo muito raro, quase impossível, algo apenas comparável a possibilidade de fazer um político petista falar uma verdade.

Algumas vezes, embora também seja raríssimo, você consegue, através de causas estranhas e milagrosas, encontrar o pendrive, que por acaso tinha resolvido se esconder de você, dentro da bolsa de sua mulher. Certamente ela irá jurar que não colocou o “aparelhinho nojento” dentro da sua bolsa e deste modo aquele “pendrive atrevido”, deliberadamente, quis se esconder dentro da bolsa. Obviamente você não vai discutir sobre o absurdo, porque senão ela é capaz de jogar o coitado do pendrive dentro da panela de pressão, cozinhá-lo junto do feijão e jurar que: “esse objeto que você procura nunca existiu”. E é aí, que você está definitivamente ferrado.

Então, é nesse momento que você relaxa e descobre que a felicidade efetivamente existe, porque, além de achar o pequeno objeto, você ainda consegue deixar sua mulher sem razão e sem nenhuma condição de reclamar, porque o pendrive esteve o tempo todo na bolsa dela. Entretanto, algumas vezes ela ainda vai tentar explicar que, na verdade, ela estava guardando o dispositivo para que você não o perdesse ou que fez tudo de propósito para que você percebesse claramente a importância do pendrive e tomasse o devido cuidado para não permitir que ele sumisse. Mas, como eu disse, essas duas coisas: você reaver o pendrive e sua mulher não reclamar, são realmente muito raras.

Conclusão, depois de uma semana de muito sofrimento, sem o pendrive e ouvindo sua mulher dizer que você é um irresponsável e relaxado. Além disso, com a absoluta certeza de que aquele objeto importante não retornará mais ao seu convívio, como ninguém é de ferro e como na vida moderna, nem você e nem ninguém consegue viver mais sem um pendrive, sua providência final é começar tudo de novo. Assim, você entra na loja de materiais eletrônicos mais próxima e “vai tentar comprar” um novo pendrive, no qual burramente você vai, mais uma vez, colocar toda sua informação útil e necessária, até a próxima perda e a consequente procura.

A propósito, eu disse “tentar comprar”, porque nem sempre você consegue, haja vista que muitas vezes você tem que procurar por várias lojas, pois muitas pessoas já chegaram na sua frente e compraram todo o estoque de pendrives disponível, exatamente porque essas pessoas também já haviam perdido os seus respectivos dispositivos.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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04 jul 2015

Os Vírus: umas entidades diferentes

Resumo: Desta feita estou trazendo uma questão que, embora não precisasse, ainda é um problema para professores e alunos de Biologia, em função das diferentes opiniões existentes sobre a questão e das poucas ações efetivas que se preocupem de fato em solucionar essa questão. Estou me referindo ao conceito de Vírus e sua importância à luz da Ciência, questão que precisa ser tratada e resolvida para evitar dúvidas no tratamento dessas entidades pelos alunos e futuros professores.


Os Vírus: umas entidades diferentes

Ao longo da história das Ciências Biológicas, os diferentes microrganismos, ou melhor, os “micróbios”, como se dizia antigamente, receberam diferentes conceitos e definições, tendo sido considerados de inúmeras maneiras. Em tempos mais recentes, a ciência pode compreender um pouco mais sobre essas “criaturas” e assim também passou a ser capaz de explicar melhor o que são, quem são e como são elas. Entretanto, ainda hoje existe uma grande incógnita, que tem dificultado muito o entendimento, principalmente dos jovens estudantes, que não conseguem compreender porque alguns de seus professores e dos livros didáticos que eles se utilizam, tratam os vírus como organismos vivos e outros não. Enfim, qual o problema existente com os Vírus que manifesta essa dificuldade de conceituação sobre sua condição natural?

Muitos dos livros didáticos de Biologia de nível superior e mesmo livros para o ensino médio, existentes no mercado, procuram esclarecer essa questão, mas sem aprofundar a questão. Outros livros não falam nada e se esquecem que os alunos passam por diferentes professores, os quais têm diferentes formações e opiniões sobre essa e outras questões dúbias da Biologia. Os professores, por sua vez, naturalmente acabam manifestando informações conceituais diferentes sobre o grupo dos Vírus.

Desta forma a complicação só tem aumentado, porque alguns professores também não explicam e nem discutem a questão, com medo de cometer erros e assim se comprometerem ou ampliarem o grau da complicação. Outros, por sua vez, até falam no assunto, mas acabam dificultando mais o problema e os alunos ficam sem saber em quem ou em que acreditar. Quer dizer, os alunos ficam perdidos sem saber o que de fato está certo. Em suma, a confusão efetivamente existe e precisa tentar ser esclarecida.

Bem, eu pretendo aqui, trabalhar para explicar a questão, porém vou ter que causar um pouco mais de complicação no início, para finalmente tentar fazer um esclarecimento final sobre esse assunto, demonstrando que, independentemente da condição que se queira atribuir, ou seja: se os Vírus são organismos vivos ou não? O que efetivamente importa é entender que os Vírus estão aí e que eles não só existem, como muitos deles acabam causando problemas sérios nas coisas vivas existentes no planeta, inclusive e principalmente em nós, os seres humanos. O que precisa estar claro é que os problemas que os Vírus são capazes de causar independem da condição deles serem vivos ou não.

Para começar, vamos ter que ir lá na base histórica da Biologia como ciência natural. Por definição, desde a década de 1830, quando Matthias Schieiden e Theodor Schwann, depois de muito analisarem os organismos vivos, de alguma maneira, se convenceram que todas as plantas (Schieiden) e todos os animais (Schwann) são compostos de estruturas menores, que Robert Hooke, cerca de 180 anos antes (1665), já havia observado e denominado de células e assim, a partir de Schwann surgiu a primeira premissa da Teoria Celular: “todos os seres vivos são formados por células”.

Por outro lado, essas células também têm que estar vivas e ser capazes de realizar todos os mecanismos (funções) que viabilizem as diferentes atividades vitais dos organismos. Assim, como segunda premissa, a célula passou a ser considerada como “a unidade fundamental dos organismos vivos”, podendo cada organismo ser formado por um número qualquer dessas entidades, mas cada uma delas deveria representar no micro nível, aquilo que o organismo deveria ser no macro nível. Desta maneira, é fundamental que as células sejam capazes de manter as atividades vitais para que os organismos que as possuem também possam continuar vivos.

Alguns anos depois, Rudolph Virchow (1855) defendeu um dos principais axiomas da Biologia: “Omnis cellula ex cellula” (toda célula provém de outra célula). Por fim, Walter Fleming (1878), que estudou e denominou o processo de Mitose, também ampliou o conceito de Virchow e estabelecendo a terceira premissa da Teoria Celular: “uma célula só pode se originar de outra célula pré-existente”.

Obviamente depois vieram outras descobertas que comprovaram, reforçaram a Teoria e estabeleceram uma quarta premissa: “toda célula passa hereditariamente parte de sua condição à célula descendente”. A Teoria Celular e seus quatro fundamentos passaram a ser assim a base teórica do entendimento biológico do que possa ser considerado como um organismo vivo. Isto é, por definição, só pode ser considerado como organismo vivo, aquela entidade que se enquadrar precisamente na Teoria Celular.

Assim, a Teoria Celular se mantém desde então, baseada nas quatro premissas abaixo:

1 – Todos os organismos vivos são formados de uma ou mais células;

2 – Todas as células desenvolvem atividades metabólicas que as mantém vivas;

3 – Todas células se originam de outra célula, através de reprodução.

4 – As células passam material hereditário para as células filhas.

Os Vírus, por sua vez, são entidades que foram relativamente conhecidas por volta de 1880, mas somente depois de 1935, com o advento da Microscopia Eletrônica é que puderam ser observadas e permitiram uma apresentação mais clara de suas características básicas, as quais, em certo sentido, são totalmente distintas daquilo que está consagrado pela Teoria Celular, isto é, para os organismos vivos. Para começar, os Vírus, não são formados de células e não possuem nenhuma atividade metabólica e assim diferem diametralmente dos organismos vivos.

Quer dizer, os Vírus não funcionam como organismos vivos, pois além de não serem constituídos por células, também não apresentam nenhuma das funções vitais. Os Vírus não comem, não respiram, não têm circulação interna, não eliminam excretas e também não são capazes de se reproduzirem. Embora possuam ácidos nucleicos nas suas composições químicas, da mesma maneira que todos os organismos vivos, os Vírus são entidades inativas e estão mais para a condição de minerais do que para organismos vivos.

Na verdade os Vírus são um tipo de química que em condições ideais específicas reagem com a química da célula viva em que possam se encontrar e essa reação faz com que ocorra duplicação (replicação) do material viral. Ao contrário do que muitos autores dizem, mesmo indiretamente, os vírus não capazes de se reproduzir, eles são reproduzidos pelas células que os abrigam. Portanto, os vírus são totalmente dependentes da célula hospedeira que os contêm para se multiplicarem. Fora de células vivas, os Vírus são totalmente inertes.

Alguns autores dizem que os Vírus são “parasitas” obrigatórios de células vivas. Coloquei a palavra parasitas entre aspas, porque entendo que ao assumir a condição de parasita para os Vírus, equivale a determinar a condição de organismo vivo para os Vírus e eu quero aqui fazer exatamente o contrário, porque entendo que considerar um Vírus como organismo vivo é negar a Teoria Celular.  Assim, eu prefiro dizer que os vírus são “entidades químicas especiais” que ao se estabelecerem no interior de células vivas causam alterações químicas no comportamento dessas células, fazendo com que elas passem a replicar o material genético do próprio Vírus.

Não posso afirmar taxativamente que a Teoria Celular esteja efetiva e totalmente correta e que não venha existir alguma questão quanto a sua abrangência no futuro, haja vista que a Biologia sempre reserva surpresas, entretanto acredito nela como eixo de sustentação da Biologia como ciência dos organismos vivos e vejo que a grande maioria dos estudiosos da Biologia também pensam dessa maneira. Assim, devo concluir que os Vírus são “entidades químicas especiais”, como já disse, e que efetivamente não são e nem podem ser considerados como organismos vivos, porque fogem ao que está estabelecido pela Teoria Celular, que é definitiva para os organismos vivos.

Se existe consenso entre os Biólogos quanto à fundamentação da Teoria Celular, como parece claramente existir, então tem que haver consenso também quanto à conceituação dos Vírus. Caso contrário, seria melhor desconsiderar de vez a Teoria Celular, o que eu particularmente penso que seria um erro grave, pelo fato dessa teoria ter se mostrado verdadeira para os organismos vivos. Além disso, sua desconsideração também seria um desrespeito com a própria história da Biologia e dos seus agentes (cientistas) ao longo do tempo.

Os Vírus existem e isso é um fato indiscutível e trata-los como entidades especiais não os tornará menos importantes ou menos significativos, ao contrário, penso que até os tornará mais destacados, como entidades distintas de tudo aquilo que se conhece no planeta. Entretanto, trata-los como organismos vivos é cometer um erro com uma teoria histórica da Biologia, cuja definição é clara e que está embasada em critérios estritamente biológicos, os quais certamente não são verdadeiros para os Vírus.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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15 jun 2015

Sem água, não existe vida

Resumo: O texto dessa semana faz parte de uma palestra que foi ministrada na cidade de Três Rios, no estado do Rio de Janeiro, na qual é destacada a importância do Rio Paraíba do Sul e sua Bacia Hidrográfica para aquele estado e chamo a atenção da comunidade fluminense para o cuidado com os recursos naturais, particularmente com a água e em especial com a água do Rio Paraíba do Sul, que, quase por acaso, seguiu em direção ao Rio de Janeiro e que talvez seja a principal responsável pelo alto grau de desenvolvimento alcançado pelo estado. Se não fosse o Rio Paraíba do Sul e suas águas, certamente a realidade seria outra.


Sem água, não existe vida

O Rio Paraíba do Sul, no passado, nascia da união natural entre os Rios Paraitinga e Paraibuna, entretanto essa união não existe mais desde que foi criada a represa de Paraibuna (maior concentração de água de nossa Bacia Hidrográfica com cerca de 63% de toda a água da região). Hoje, os dois rios (Paraitinga e Paraibuna) desaguam no lago da represa e a partir da Central da Usina Hidrelétrica do local sai o nosso Rio Paraíba do Sul. Sendo assim, o Rio Paraíba do Sul, nasce em Paraibuna/SP e percorre cerca de 1150 Km até chegar ao Oceano Atlântico, na Praia de Atafona, em São João da Barra/RJ. Eu costumo dizer, em minhas aulas e palestras, que o Rio Paraíba do Sul é um “rio burro”, porque considerando que todos “os rios caminham para o mar”, o Paraíba do Sul nasce a menos de 100 Km do Oceano Atlântico e segue para o lado errado, tendo que caminhar 1150 Km para encontrar o mesmo oceano. Mas, graças a Deus, o Rio Paraíba do Sul é esse “rio burro”, porque se não se ele não fosse assim, a grande maioria dos cidadãos do estado do Rio de Janeiro, certamente hoje não existiriam. O Rio Paraíba do Sul é o grande responsável pela atual existência de quase todos os cariocas e de muitos fluminenses e assim, também é responsável direto pela grandeza desse estado, que sem suas águas certamente não teria nenhuma outra maneira de conseguir ser o que hoje representa no cenário nacional. A capital do estado do Rio de Janeiro e todo o seu entorno, a chamada região do Grande Rio, simplesmente não possuiria nem 1/5 de sua população atual e consequentemente todas as demais coisas e necessidades que se relacionam a essa população, se não fossem as águas transpostas do Rio Paraíba do Sul, no início da década de 1950, que são levadas pelo Rio Piraí e que chegam ao Grande Rio através do Rio Guandu. É bom lembrar que na barragem de Santa Cecília, em Barra do Piraí, 2/3 do total da água do Rio Paraíba do Sul, que ali chega, é transposto para a região do Grande Rio e foi isso que permitiu o crescimento e o desenvolvimento da capital do estado do Rio de Janeiro e seu entorno. Cabe ressaltar que sem água não há como existir ocupação ou atividade humana. O Rio Guandu, na verdade, deveria se chamar “Rio Paraíba do Sul II”, porque as águas que nele correm, são as águas do Rio Paraíba do Sul. Ou seja, o Guandu é o Paraíba com outro nome e isso só foi possível, graças à transposição ocorrida. Daqui de Três Rios até a foz, a realidade é outra e a água sempre esteve presente, porque aqui o Rio Paraíba do Sul recebe uma significativa contribuição no montante de seu corpo, que são as águas que chegam de Minas Gerais através do Rio Paraibuna, oriundo da Serra da Mantiqueira e do Rio Piabanha, oriundo da Serra dos Órgãos, aqui mesmo no Estado do Rio de Janeiro. Mais à frente, a caminho da foz, a presença das águas de Minas Gerais são mais significativas ainda, com a chegada do Rio Muriaé e do Rio Pomba. A dificuldade oriunda da retirada de 2/3 de suas águas naturais não é mais sentida daqui para frente. O Rio Paraíba do Sul desce da Serra do Mar passando pelos municípios de Paraibuna e Santa Branca, indo em direção Oeste como se fosse para o município de Igaratá, mas ao encontrar a Soleira de Arujá, no famoso “Cotovelo de Guararema”, na divisa entre os municípios de Jacareí e Guararema, o Rio Paraíba do Sul não consegue continuar seguindo naquela direção e volta-se para o Norte, indo na direção do município de Jacareí e do estado do Rio de Janeiro. Pois é meus amigos, os cariocas, como eu, e os fluminenses de grande parte do restante do estado do Rio de Janeiro, devem dar Graças a Deus, porque, de repente, “tinha uma pedra no caminho”, como diria Carlos Drummond de Andrade e o Paraíba do Sul teve que desviar o seu rumo. Não fosse essa pedra, a “soleira de Arujá”, a maioria de nós, nascidos no Estado do Rio de Janeiro, depois de 1953, simplesmente não existiria. O Rio Paraíba do Sul, primo irmão do Rio Tietê, teria seguido, como seu primo, o rumo Sudoeste para atravessar o Estado de São Paulo. Graças a Deus e ao “Cotovelo de Guararema” ele teve que virar-se para o Rio de Janeiro e assim veio banhar esse estado e trazer vida com suas águas milagrosas. Entretanto, é preciso que se trabalhe em prol da natureza para que ela possa continuar trazendo bons resultados para a Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul, para os seres humanos e para os demais seres que aqui vivem e que dela dependem. Mas, infelizmente, não é isso que se tem visto acontecer, mormente nos últimos anos, onde o cuidados com a água e com os recursos hídricos não têm sido considerados importantes pela maioria da população e, o que é pior, pelos governantes e administradores públicos também. Historicamente, o homem tem cuidado mal da água e particularmente da água da Bacia do Paraíba do Sul, nós temos cuidado de maneira mais degradante ainda. Parece que ainda não conseguimos entender que: “sem água, não existe vida” e que nossa água depende do Rio Paraíba do Sul e que todas as águas do planeta, que podem servir à espécie humana, dependem de cuidados especiais para que se mantenham e principalmente, para que mantenham a humanidade. Já faz muito tempo que estamos andando na contramão dos interesses dos recursos naturais que mais precisamos, ou seja, a água e o oxigênio do ar atmosférico, porém parece que ainda não nos apercebemos de que esses recursos, que são vitais, estão cada vez mais escassos e poluídos. Não sei onde vamos parar com essa mentalidade errada e com essa falta de ação efetiva para mudar o quadro absurdo em que nos encontramos. Ou melhor, eu lamentável e tristemente sei, que seguindo assim, nós vamos progressivamente caminhando para a extinção e deixando de existir. Como Biólogo, sou ciente e creio que a maioria das pessoas também saibam que, por uma questão natural, a nossa extinção é lógica e concreta, como de qualquer espécie desse planeta, porém ela não precisa ser acelerada e tornada prematura. Apenas nós, os seres humanos, podemos trabalhar para garantir que as coisas caminhem dentro da ordem natural ou podemos continuar fazendo tudo errado e acelerando o nosso processo de extinção. A decisão é apenas e tão somente nossa. Por uma questão de logicidade, nós nunca deveríamos ter andado contra a natureza, porque tudo que utilizamos vem da natureza, do nosso planeta Terra, que é único e que nos fornece tudo o que precisamos. Se consumirmos ou estragarmos tudo o que a Terra nos dá, não sobrará nada e assim não poderemos continuar a viver. É muito simples entender essa contingência lógica, mas nós somos insanos e inconsequentes e historicamente temos insistido em agir de maneira errada, sempre contra os preceitos naturais estabelecidos. É difícil determinar até onde iremos, se continuarmos assim. Mas, certamente o caminho é curto, porque já ultrapassamos os limites mais otimistas estabelecidos e parece que o planeta já não nos aguenta mais. Nossa espécie tem feito muito mal ao planeta e tudo que nele vive e já faz algum tempo, que a Terra tem nos mostrado sua ira, com catástrofes cada vez mais significativas e destruidoras, mas nós continuamos dando de ombros, como se não tivéssemos nada a ver com isso. Até quando? Assim, penso que está na hora de olharmos melhor para o Rio Paraíba do Sul e toda a sua Bacia Hidrográfica, pois do contrário as coisas efetivamente vão ficar acentuadamente mais difíceis, pois a água está presente em quase todas as atividades humanas, o que torna nossa existência extremamente dependente desse recurso natural. Nossa extinção prematura não pode se dar por uma questão tão fácil de ser entendida como essa: “sem água, não existe vida”, principalmente vida humana. Nossa espécie, certamente é a mais dependente das espécies planetárias no que diz respeito ao recurso natural água, porque enquanto os demais organismos se utilizam de quaisquer tipos de água, nós, além de tudo, dependemos de uma água que requer condições físicas e químicas especiais. Pois então, vamos por as mãos na massa e começarmos a andar na direção certa dos nossos interesses específicos. Vamos cuidar do planeta e principalmente da água. Aqui no Vale do Rio Paraíba do Sul, a água vem do rio que empresta seu nome à região, então ele tem que ser o nosso maior motivo de luta, porque ele foi responsável pela nossa existência passada, está sendo pela nossa existência presente e apenas ele poderá ser responsável por nossa existência futura. Entretanto, o futuro está nas nossas mãos, pois quem irá decidir sobre isso somos nós mesmos, os seres humanos que habitam o seu vale.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Texto apresentado no 4º Seminário de Recursos Hídricos e Saneamento do Distrito 4.600 de Rotary International:“Desafios e Soluções das questões ambientais de Três Rios”, Três Rios/RJ, 13 de junho de 2015
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