A Ilusão do Relógio e a Realidade do Tempo

Resumo: O artigo aborda a questão da forma degradante como a espécie humana trata o planeta e das consequências drásticas que esse fato tem causado ao longo da implacabilidade do tempo. Além disso, o texto sugere que nossa espécie procure mudar de postura, a fim de garantir uma existência maior para nós aqui na Terra.


A Ilusão do Relógio e a Realidade do Tempo

É muito comum as pessoas se enganarem ou mesmo se iludirem com o tic tac de um relógio qualquer, ou mesmo com o vai e vem do badalar de um relógio de parede e entenderem que a cada segundo o tempo vai e vem, porque a representação do segundo é exatamente o tempo compreendido entre essas idas e vindas. Pois é, meus amigos, isso é apenas uma representação, porque na realidade, o tempo não vai e vem, lamentavelmente o tempo só vai e não há como nos iludirmos com esse fato.

 Nós, organismos vivos, sofremos isso mais seriamente, porque temos um tempo de vida definido e quanto mais o tempo vai, efetivamente menos tempo nós temos para viver. Quero crer que muitas das espécies vivas não tenha de fato essa dimensão de que a vida é um caminhar para a morte, mas nós, seres humanos, certamente temos ou, se alguns de nós não tem, deveriam ter também. Bem, verdade é que a cada badalada, a cada vai e vem do badalo do relógio, a cada tic tac, enfim, a cada segundo, nós estamos envelhecendo e ficando mais próximos da morte.

Até aqui, já existiram cerca de 30 milhões (30.000.000) de espécies na Terra, algumas viveram muitos milhões de anos, outras viveram milhares, outras somente centenas ou mesmo décadas, mas todas se extinguiram ou ainda vão se extinguir. A extinção é compulsória e chega para todas as espécies vivas. Todas as espécies que vivem e viveram, sempre estiveram em total dependência daquilo que o planeta lhes permitia fazer, pois nenhuma dessas espécies tinha como tratar ou sabia cuidar do planeta para seu próprio interesse. A espécie humana é diferente, pois é a única que pode modificar o planeta e acredito que ela deveria procurar fazer essas modificações no seu interesse como espécie. Entretanto, não é exatamente isso que acontece, porque temos uma tendência individualista muito forte e quase nunca pensamos no coletivo.

Nossa contagem de tempo é interessante: segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos, milênios. Cada indivíduo da espécie humana está limitado a viver décadas, muito raramente alguns de nós atingem um século, mas nenhum indivíduo conseguiu passar muito desse limite e nem vai conseguir passar nunca, porque a “máquina humana” está programada para viver apenas algumas décadas. No meu caso específico, só para dar um exemplo, estarei completando seis décadas, sessenta anos, setecentos e vinte meses, 21.900 dias, 525.660 horas, 31.539.600 minutos, 1.892.376.000 segundos. Pois então, é preciso ficar claro que números são apenas números e nada mais, o que importa mesmo é o que cada um faz com o tempo que dispõe na sua vida, ou seja, o que fazemos efetivamente com o tempo que passamos pela vida.

Enfim, nesses 1.892.376.000 segundos eu, como qualquer indivíduo da espécie humana, fui capaz de uma infinidade de coisas, cresci, estudei, me formei, trabalhei, casei, reproduzi, viajei e várias outras coisas mais. Entretanto, tudo o que fiz, ainda é muito pouco, porque certamente ainda quero fazer muitas coisas mais. É certo que já vivi muito mais do que ainda tenho para viver, mas tenho absoluta convicção de que ainda existe muito por fazer e eu vou continuar fazendo. Com um pouco de sorte, talvez eu ainda tenha 20% ou 30% (mais números) a mais de tempo para viver. Isso significa, algo entre 12 e 18 anos, o que obviamente não vai ser suficiente para aquilo que ainda almejo, até porque eu sou um sonhador e, como tal, estou sempre na expectativa de poder fazer algo mais e quando a morte chegar, certamente vai ser de chofre, até porque embora ela seja compulsória, por outro lado, ela nunca é esperada.

A minha morte, assim como a morte de qualquer pessoa ou indivíduo humano, causa uma grande ruptura nos sonhos, mas não é por isso que eu pararei de sonhar a partir de agora e nem será pelos números imprecisos que eu ficarei esperando a morte chegar. Nada disso. Eu vou viver até meu último segundo, como se ele fosse o primeiro, lutando e sonhando com dias e coisas melhores para o Planeta, para a Humanidade e obviamente fazendo a minha parte para que as coisas que eu acredito sejam possíveis de acontecer. Eu fui programado para décadas e já cumpri algumas e certamente faltam poucas, mas o planeta foi programado para bilhões de anos e a Humanidade foi programada para milhares ou milhões de anos e deve faltar muito tempo para que ambos cheguem naturalmente ao fim.

A Terra é muito velha, mais ainda vai envelhecer muito mais, apesar do homem. A Humanidade é muito jovem e precisa ficar um pouco mais de tempo aqui na Terra, muito embora a tendência observável e de que isso não aconteça, exatamente por conta das ações desenvolvidas pelos próprios seres humanos, que quase sempre colocam os interesses pessoais acima dos interesses coletivos de nossa espécie, como já foi dito, e obviamente isso não faz bem a Humanidade.

O tempo é contumaz, compulsório, implacável e ainda assim, segue sempre jovem como se ele próprio não existisse. Para as coisas não vivas, o tempo não representa nada, mas para as coisas vivas, que envelhecem na sua frente, ele demonstra sua força, independentemente de qualquer coisa que possa acontecer. Aliás, o tempo deve ser ateu, ou melhor o tempo é o seu próprio Deus, porque ele tudo pode, tudo vê e tudo faz, além de ser onipresente. A grandeza do tempo tem nos impedido de pensar a nosso favor, porque nos preocupamos mais com ele e menos conosco. Na verdade, nós temos que viver, independentemente do tempo e apesar de sua nefasta existência.

Obviamente o tempo continuará passando, mas nós não precisamos, até porque não podemos, tentar acompanha-lo. Nós precisamos parar e mesmo sabendo que no final nós vamos perder, porque a morte é certa, tanto individual como coletivamente, porque não existe indivíduo e nem espécie eterna.  Entretanto, ainda assim, nós temos a obrigação de lutar para conseguir ampliar um pouco mais a existência de nossa espécie aqui na Terra.

O Planeta Terra, até aqui, já viveu cerca de cinco bilhões (5.000.000.000) de anos, ou seja, 4.730.400.000.000.000.000 de segundos (mais números grandes e inúteis) e independentemente das mudanças naturais do clima, ou de qualquer outra catástrofe geomorfológica provocada pela Humanidade, a Terra continuará existindo, por um período certamente ainda maior de que o que já passou. É claro que a Humanidade não seguirá sobrevivendo na Terra por toda essa quantidade de tempo, pois como todas as espécies, o Homo sapiens naturalmente se extinguirá, mas é possível que ainda possamos nos manter por alguns milhares de anos aqui nesse planeta, se houver um trabalho efetivo e direcionado buscando esse propósito. O empreendimento em prol da longevidade maior para a espécie humana, só dependerá única e exclusivamente da vontade coletiva do homem, isto é, do interesse precípuo da própria Humanidade.

Não falo por mim particularmente ou de você em especial, seja lá quem você for, o que eu quero é falar pela Humanidade. É preciso que a Humanidade queira fazer frente ao tempo e isso só será possível se agirmos coletivamente e com afinco. É besteira lutar contra o tempo, pois todos vamos morrer, ao longo de algumas décadas e a espécie humana vai se extinguir em algumas centenas, talvez milhares ou mesmo milhões de anos, como já foi dito. Porém, nós podemos e devemos agir no sentido de garantir que o ciclo da vida humana no planeta se refaça ainda pelo maior número de vezes que for possível sobre a superfície da Terra. Não precisamos e nem devemos adiantar os processos naturais de extinção como temos feito até aqui. Está na hora de agirmos em prol de nós mesmos.

 O nosso objetivo maior como seres humanos deveria ser exatamente o de tentar garantir a permanência da Humanidade no planeta pelo maior tempo possível. Para tanto, temos que trazer o tempo para o nosso lado. Tem um ditado antigo que diz: “se você não pode com o seu inimigo, junte-se a ele”. Pois então, está na hora da Humanidade se aliar ao tempo e buscar uma convivência planetária melhor com ele. A fórmula é extremamente simples: queremos viver mais, então temos que cuidar mais do planeta, porque assim teremos menos situações conflitantes e degradantes. Com isso, o tempo será menos contundente conosco e nos permitirá sobreviver mais.

Para muitos seres humanos, em certo sentido, o tempo é sinônimo do clima, e embora isso efetivamente não seja uma verdade, do ponto de vista da Física. Mas, por outro lado, é certo que nós precisamos cuidar do clima para garantir que nossa espécie vá sobreviver por mais tempo. Dessa maneira a metáfora que confunde tempo com clima é benéfica, porque deveria nos conduzir a um estado de cumplicidade com a conservação do clima na Terra e isso seria muito interessante e positivo, tanto para a Humanidade como para o Planeta. Entretanto, nós mesmos negamos a metáfora que pregamos, quando degradamos o Planeta, interferindo drasticamente no clima e assim encurtando o nosso tempo planetário.

Quer dizer, mesmo sabendo que o tempo não para, nós, infelizmente, ainda continuamos na ilusão do relógio, de que o tempo vai e vem e estamos esperando que o tempo bom volte, para que possamos solucionar os problemas climáticos que nós mesmos criamos e que precisamos resolver, para ganhar mais tempo de sobrevivência na Terra.  A realidade está estampada na nossa frente, isto é, o tempo só vai e para nossa espécie, ele está indo numa velocidade surpreendentemente alta, mas parece que nós estamos parados e dormindo, ou então nós continuamos não querendo enxergar os problemas e assim, vamos caminhando progressiva e rapidamente para o terrível e triste fim da Humanidade.

Quando será que iremos cair na realidade e mudar o nosso comportamento coletivo?

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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