Sem água, não existe vida

Resumo: O texto dessa semana faz parte de uma palestra que foi ministrada na cidade de Três Rios, no estado do Rio de Janeiro, na qual é destacada a importância do Rio Paraíba do Sul e sua Bacia Hidrográfica para aquele estado e chamo a atenção da comunidade fluminense para o cuidado com os recursos naturais, particularmente com a água e em especial com a água do Rio Paraíba do Sul, que, quase por acaso, seguiu em direção ao Rio de Janeiro e que talvez seja a principal responsável pelo alto grau de desenvolvimento alcançado pelo estado. Se não fosse o Rio Paraíba do Sul e suas águas, certamente a realidade seria outra.


Sem água, não existe vida

O Rio Paraíba do Sul, no passado, nascia da união natural entre os Rios Paraitinga e Paraibuna, entretanto essa união não existe mais desde que foi criada a represa de Paraibuna (maior concentração de água de nossa Bacia Hidrográfica com cerca de 63% de toda a água da região). Hoje, os dois rios (Paraitinga e Paraibuna) desaguam no lago da represa e a partir da Central da Usina Hidrelétrica do local sai o nosso Rio Paraíba do Sul. Sendo assim, o Rio Paraíba do Sul, nasce em Paraibuna/SP e percorre cerca de 1150 Km até chegar ao Oceano Atlântico, na Praia de Atafona, em São João da Barra/RJ. Eu costumo dizer, em minhas aulas e palestras, que o Rio Paraíba do Sul é um “rio burro”, porque considerando que todos “os rios caminham para o mar”, o Paraíba do Sul nasce a menos de 100 Km do Oceano Atlântico e segue para o lado errado, tendo que caminhar 1150 Km para encontrar o mesmo oceano. Mas, graças a Deus, o Rio Paraíba do Sul é esse “rio burro”, porque se não se ele não fosse assim, a grande maioria dos cidadãos do estado do Rio de Janeiro, certamente hoje não existiriam. O Rio Paraíba do Sul é o grande responsável pela atual existência de quase todos os cariocas e de muitos fluminenses e assim, também é responsável direto pela grandeza desse estado, que sem suas águas certamente não teria nenhuma outra maneira de conseguir ser o que hoje representa no cenário nacional. A capital do estado do Rio de Janeiro e todo o seu entorno, a chamada região do Grande Rio, simplesmente não possuiria nem 1/5 de sua população atual e consequentemente todas as demais coisas e necessidades que se relacionam a essa população, se não fossem as águas transpostas do Rio Paraíba do Sul, no início da década de 1950, que são levadas pelo Rio Piraí e que chegam ao Grande Rio através do Rio Guandu. É bom lembrar que na barragem de Santa Cecília, em Barra do Piraí, 2/3 do total da água do Rio Paraíba do Sul, que ali chega, é transposto para a região do Grande Rio e foi isso que permitiu o crescimento e o desenvolvimento da capital do estado do Rio de Janeiro e seu entorno. Cabe ressaltar que sem água não há como existir ocupação ou atividade humana. O Rio Guandu, na verdade, deveria se chamar “Rio Paraíba do Sul II”, porque as águas que nele correm, são as águas do Rio Paraíba do Sul. Ou seja, o Guandu é o Paraíba com outro nome e isso só foi possível, graças à transposição ocorrida. Daqui de Três Rios até a foz, a realidade é outra e a água sempre esteve presente, porque aqui o Rio Paraíba do Sul recebe uma significativa contribuição no montante de seu corpo, que são as águas que chegam de Minas Gerais através do Rio Paraibuna, oriundo da Serra da Mantiqueira e do Rio Piabanha, oriundo da Serra dos Órgãos, aqui mesmo no Estado do Rio de Janeiro. Mais à frente, a caminho da foz, a presença das águas de Minas Gerais são mais significativas ainda, com a chegada do Rio Muriaé e do Rio Pomba. A dificuldade oriunda da retirada de 2/3 de suas águas naturais não é mais sentida daqui para frente. O Rio Paraíba do Sul desce da Serra do Mar passando pelos municípios de Paraibuna e Santa Branca, indo em direção Oeste como se fosse para o município de Igaratá, mas ao encontrar a Soleira de Arujá, no famoso “Cotovelo de Guararema”, na divisa entre os municípios de Jacareí e Guararema, o Rio Paraíba do Sul não consegue continuar seguindo naquela direção e volta-se para o Norte, indo na direção do município de Jacareí e do estado do Rio de Janeiro. Pois é meus amigos, os cariocas, como eu, e os fluminenses de grande parte do restante do estado do Rio de Janeiro, devem dar Graças a Deus, porque, de repente, “tinha uma pedra no caminho”, como diria Carlos Drummond de Andrade e o Paraíba do Sul teve que desviar o seu rumo. Não fosse essa pedra, a “soleira de Arujá”, a maioria de nós, nascidos no Estado do Rio de Janeiro, depois de 1953, simplesmente não existiria. O Rio Paraíba do Sul, primo irmão do Rio Tietê, teria seguido, como seu primo, o rumo Sudoeste para atravessar o Estado de São Paulo. Graças a Deus e ao “Cotovelo de Guararema” ele teve que virar-se para o Rio de Janeiro e assim veio banhar esse estado e trazer vida com suas águas milagrosas. Entretanto, é preciso que se trabalhe em prol da natureza para que ela possa continuar trazendo bons resultados para a Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul, para os seres humanos e para os demais seres que aqui vivem e que dela dependem. Mas, infelizmente, não é isso que se tem visto acontecer, mormente nos últimos anos, onde o cuidados com a água e com os recursos hídricos não têm sido considerados importantes pela maioria da população e, o que é pior, pelos governantes e administradores públicos também. Historicamente, o homem tem cuidado mal da água e particularmente da água da Bacia do Paraíba do Sul, nós temos cuidado de maneira mais degradante ainda. Parece que ainda não conseguimos entender que: “sem água, não existe vida” e que nossa água depende do Rio Paraíba do Sul e que todas as águas do planeta, que podem servir à espécie humana, dependem de cuidados especiais para que se mantenham e principalmente, para que mantenham a humanidade. Já faz muito tempo que estamos andando na contramão dos interesses dos recursos naturais que mais precisamos, ou seja, a água e o oxigênio do ar atmosférico, porém parece que ainda não nos apercebemos de que esses recursos, que são vitais, estão cada vez mais escassos e poluídos. Não sei onde vamos parar com essa mentalidade errada e com essa falta de ação efetiva para mudar o quadro absurdo em que nos encontramos. Ou melhor, eu lamentável e tristemente sei, que seguindo assim, nós vamos progressivamente caminhando para a extinção e deixando de existir. Como Biólogo, sou ciente e creio que a maioria das pessoas também saibam que, por uma questão natural, a nossa extinção é lógica e concreta, como de qualquer espécie desse planeta, porém ela não precisa ser acelerada e tornada prematura. Apenas nós, os seres humanos, podemos trabalhar para garantir que as coisas caminhem dentro da ordem natural ou podemos continuar fazendo tudo errado e acelerando o nosso processo de extinção. A decisão é apenas e tão somente nossa. Por uma questão de logicidade, nós nunca deveríamos ter andado contra a natureza, porque tudo que utilizamos vem da natureza, do nosso planeta Terra, que é único e que nos fornece tudo o que precisamos. Se consumirmos ou estragarmos tudo o que a Terra nos dá, não sobrará nada e assim não poderemos continuar a viver. É muito simples entender essa contingência lógica, mas nós somos insanos e inconsequentes e historicamente temos insistido em agir de maneira errada, sempre contra os preceitos naturais estabelecidos. É difícil determinar até onde iremos, se continuarmos assim. Mas, certamente o caminho é curto, porque já ultrapassamos os limites mais otimistas estabelecidos e parece que o planeta já não nos aguenta mais. Nossa espécie tem feito muito mal ao planeta e tudo que nele vive e já faz algum tempo, que a Terra tem nos mostrado sua ira, com catástrofes cada vez mais significativas e destruidoras, mas nós continuamos dando de ombros, como se não tivéssemos nada a ver com isso. Até quando? Assim, penso que está na hora de olharmos melhor para o Rio Paraíba do Sul e toda a sua Bacia Hidrográfica, pois do contrário as coisas efetivamente vão ficar acentuadamente mais difíceis, pois a água está presente em quase todas as atividades humanas, o que torna nossa existência extremamente dependente desse recurso natural. Nossa extinção prematura não pode se dar por uma questão tão fácil de ser entendida como essa: “sem água, não existe vida”, principalmente vida humana. Nossa espécie, certamente é a mais dependente das espécies planetárias no que diz respeito ao recurso natural água, porque enquanto os demais organismos se utilizam de quaisquer tipos de água, nós, além de tudo, dependemos de uma água que requer condições físicas e químicas especiais. Pois então, vamos por as mãos na massa e começarmos a andar na direção certa dos nossos interesses específicos. Vamos cuidar do planeta e principalmente da água. Aqui no Vale do Rio Paraíba do Sul, a água vem do rio que empresta seu nome à região, então ele tem que ser o nosso maior motivo de luta, porque ele foi responsável pela nossa existência passada, está sendo pela nossa existência presente e apenas ele poderá ser responsável por nossa existência futura. Entretanto, o futuro está nas nossas mãos, pois quem irá decidir sobre isso somos nós mesmos, os seres humanos que habitam o seu vale.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Texto apresentado no 4º Seminário de Recursos Hídricos e Saneamento do Distrito 4.600 de Rotary International:“Desafios e Soluções das questões ambientais de Três Rios”, Três Rios/RJ, 13 de junho de 2015
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