FRATERNIDADE: BIOMAS BRASILEIROS E DEFESA DA VIDA

Resumo: Na verdade o texto apresentado é uma palestra que proferi na Abertura Oficial da Campanha da Fraternidade 2017 da Arquidiocese de Aparecida, que aconteceu no Colégio Salesiano Nossa Senhora do Carmo em Guaratinguetá, no dia 15 de fevereiro. O texto exalta a encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco e o trabalho efetivo da Confederação Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB) para que a comunidade da Igreja Católica venha se envolvendo ultimamente cada vez mais, no que se refere as questões ambientais, particularmente nesse ano em que o tema é estritamente ecológico (biomas Brasileiros e Defesa da Vida).


FRATERNIDADE: BIOMAS BRASILEIROS E DEFESA DA VIDA

Cultivar a Terra e guardar a criação (Gênesis 2:15)

Ainda que eu não seja efetivamente um bom exemplo da religiosidade católica, tomo a liberdade de parabenizar a Igreja Católica pela iniciativa do tema da Campanha da Fraternidade desse ano de 2017. Dentro dos inúmeros temas ambientais já estabelecidos pelo Papa Francisco na encíclica “Laudato Si”, a Igreja Católica brasileira, através da Confederação Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB) resolveu, mais uma vez atuar num tema obviamente brasileiro, porém ligado a questão ambiental planetária e isso é magnífico. Entretanto, particularmente, eu entendo que dessa vez a Igreja Católica foi além das expectativas, porque desta maneira ela está conclamando seus adeptos e congregados para a defesa da vida através de uma temática estritamente ambientalista, que são os Biomas Brasileiros.

Os Biomas Brasileiros são mega ecossistemas que, em certo sentido, são quase totalmente desconhecidas das comunidades brasileiras e sua importância é ainda muito menos relevante dentro de um contexto maior da sociedade, mas a Igreja Católica bravamente resolveu encarar essa questão e coloca-la como temática da Campanha da Fraternidade desse ano. Aliás, é bom que se diga, que o próprio termo Bioma e o conceito que ele abriga, são coisas que a grande maioria da população católica, bem como a sociedade em geral desconhecem e trazer esse conceito à baila é algo de suma importância para a Biologia da Conservação, para o Meio Ambiente como um todo e obviamente para os cidadãos brasileiros.

A temática dos Biomas Brasileiros diferentemente de quando a Igreja Católica Brasileira se referiu ao tema “Água” (2004), ou ao tema “Vida no Planeta” (2006), ou ao tema “Casa Comum” (2011), que claramente também são temas e conceitos ligados ao Meio Ambiente, mas cujas abordagens eram de cunho mais estritamente sociológico e por isso mesmo apresentavam uma identidade mais próxima e comum aos interesses da maioria das pessoas.  Agora a Igreja Católica propõe uma temática mais intimamente ambientalista. Os Biomas Brasileiros e a Defesa da Vida manifestam uma visão muita mais ecológica da Igreja Católica Brasileira do que se viu até hoje, pois consiste numa questão primariamente naturalística e não predominantemente social.

Nós ambientalistas, que entendemos só haver um mecanismo físico para a salvação da humanidade e que esse mecanismo depende diretamente das ações que o homem fizer ao próprio planeta Terra, nesse momento, do lançamento da Campanha da Fraternidade, nós vamos mais além, porque acreditamos que Deus quer salvar o homem, mas certamente Ele também quer que o homem cuide de sua casa, de sua origem natural, de seu único planeta. Assim, quando a Igreja Católica brasileira, o maior conglomerado da Sociedade Civil do Brasil, propõe fraternalmente a seus seguidores que os Biomas Brasileiros estão relacionados à defesa da vida, citando o Gênesis 2:15 “cultivar e guardar a criação”, nós ambientalistas nos regozijamos de felicidade, porque passamos a ter, pelo menos teoricamente, muito mais gente do nosso lado, para fazer coro contra a degradação ambiental dos ecossistemas naturais brasileiros.

Bioma é um conceito ecológico básico que define uma área (região) de similaridades geológicas, biológicas e climáticas comuns e estender essa ideia à comunidade, como mecanismo de defesa da vida é exatamente o cerne do pensamento ambientalista. Nesse sentido, a Igreja Católica faz o humano descer do pedestal entidade planetária superior, de ser vivo maior, criado à imagem e semelhança de Deus e procura alcançar a todos os seres vivos da Terra e até os identifica, particularmente, quando manifesta a ideia de cultivar e guardar a criação, como condição fundamental em defesa da vida no planeta.  Assim, a vida passa a ser a prioridade de fato.

É claro que a vida humana está aí, também inserida nesse contexto, e assim passa a ser fundamental o entendimento de que a vida humana, embora prioritária, não é melhor e nem pior do que as outras vidas que existem no planeta e que há necessidade da manutenção dos diferentes Biomas para preservar (proteger) todas as formas de vida que o planeta abriga. A mensagem é clara: protegendo os Biomas Brasileiros, estamos protegendo o país, o planeta, a vida e o homem.

Nós ambientalistas sabemos que a espécie humana é a mais dependente de todas as espécies planetárias e a proteção dos Biomas é fundamental para que o ser humano possa continuar sua caminhada terrena. Quando uma entidade tão importante quanto a Igreja Católica resolve se envolver diretamente na questão ambiental, como faz nesse momento a Igreja Católica Brasileira, nós ambientalistas começamos a acreditar mais na humanidade e passamos a entender que realmente existe solução para o planeta e para o homem. Passamos a ver que Deus está presente de fato e de direito nas ações humanas, apesar de algumas aparências muitas vezes contrárias.

O Brasil e sua megabiodiversidade, abrigando a maior quantidade de espécies vivas da Terra, com seus grandes Biomas (Floresta Amazônica, Floresta Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampas, Manguezal, Pantanal, Restinga e Zona de Cocais) e nós ambientalistas, agora encontramos uma imensa quantidade de parceiros, de novos soldados, na luta pela proteção e preservação da vida, haja vista que estamos no maior país católico do planeta. Temos agora uma oportunidade maior de falar mais às comunidades e de procurar fazê-las entender que protegendo os Biomas Brasileiros estamos garantindo a nossa existência e ampliando a temporalidade da espécie humana.

A Igreja Católica Brasileira e a CNBB estão de parabéns por assumirem mais um tema ecológico, mas principalmente por terem a coragem de determinar e definir um tema mais natural e menos social, para ue toda a comunidade católica do Brasil possa entender que, embora Deus nos acompanhe, do ponto de vista físico, toda humanidade vem de um berço que é antes natural e que a essência primária da natureza é o meio ambiente e seus Biomas naturais. Com a graça de Deus, surgimos na Terra e somente a Terra pode fisicamente nos garantir continuidade. Deus nos deu a Terra para cultivar e guardar a criação, inclusive e principalmente a nossa criação, e agora parece que estamos, pelo menos os católicos estão, começando a tentar compreender que a base da vida é o planeta, o Bioma, o Ecossistema e que somente protegendo esses Biomas e Ecossistemas é que manteremos a nossa vida.

Católicos do Brasil ouçam o apelo da CNBB e se envolvam direta e efetivamente na Campanha da Fraternidade 2017, pois a humanidade depende muito de que isso aconteça e nós ambientalistas de todas as religiões estamos aqui de braços abertos para somar e colaborar com vocês.

Muito obrigado.

LUIZ EDUARDO CORRÊA LIMA

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