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11 ago 2022
Mensagem aos “Seres Humanos de Pouca Idade”

Mensagem aos “Seres Humanos de Pouca Idade”

Resumo: Este artigo discute sobre a incoerência no desrespeito atual e comum dos humanos mais jovens em relação aos humanos mais velhos. Além disso, se chama a atenção para o fato de que aqui no Brasil, a mídia parece reforçar essa infeliz tendência, ao invés de tentar combatê-la. 


Introdução

Depois que presenciei uma cena desagradável, a qual não comentarei exatamente porque acho ultrajante e assim totalmente desnecessária, na qual um grupo de jovens, deliberadamente debochavam acintosa e intensamente de alguns senhores da chamada “terceira idade”, apenas porque esses senhores não foram felizes em realizar determinada ação. Segundo os jovens em questão, a referida ação não poderia ser desenvolvida por pessoas de mais idade, pois apenas os mais novos são capazes de tal ato e isso lhes dava o direito de gozar dos mais velhos.

Esse fato me deixou bastante constrangido, por também ser mais velho, por não concordar com o acontecido e principalmente por nada poder fazer para resolver a questão naquele momento. Além disso, fiquei tremendamente preocupado ao perceber como está o andamento das coisas nessa sociedade mal-educada, informatizada e pré-fabricada, em que vivemos hoje em dia. Essa sociedade caótica que é cada vez mais injusta e que está totalmente manipulada por ideologias duvidosas.

A mídia, por sua vez, dentre outras coisas erradas, engana e endeusa os mais moços, que passaram a ser sinônimos de vigor e beleza e marginaliza os mais idosos, que passaram a ser sinônimos de feiura e fraqueza. O pior é que os objetivos destas ações são puramente comerciais ou, o que torna a situação mais desagradável ainda, é que, muitas vezes, tem o intuito único de tentar manobrar as atitudes e o comportamento dos mais moços e menos experientes na vida, para mantê-los alheios à realidade.

Aliás, aqui cabe salientar que essa mídia que está escancarada por aí, só almeja, de fato, manter o jovem cada vez mais alienado e desvinculado do mundo real. Deste modo, essa mídia maldosa cria as mais diversas situações para corromper as boas ações, visando a levar o jovem a acreditar em futilidades e coisas totalmente sem nexo. Se não bastasse isso, ainda faz coro com os malfeitores e tenta perverter os valores morais dos poucos jovens que ainda conseguem se manter dentro dos padrões agradáveis aos interesses da sociedade e ao respeito com os demais seres humanos.

Esclarecimentos Fundamentais

Para começar, quero dizer que juventude não tem absolutamente nada a ver com a idade. Juventude tem a ver com estado de espírito ativo e com vontade de viver bem e ser feliz. Deste modo, tem gente que nunca foi jovem, apesar de moço, e tem gente que está sempre jovem, independentemente da idade que tenha. Isto é, há muita gente de mais idade que é bastante jovem nos bons pensamentos e nas boas ações e há muito jovem que é extremamente arcaico e até carente desses nobres aspectos.

Por outro lado, é preciso dizer que os mais maduros constituem o cabedal ético, moral, intelectual e cultural da sociedade, pois nenhum moço aprende sozinho e alguns desses moços, muitas vezes se esquecem que o aprendizado é passado pela experiência dos temporalmente mais vividos. Ninguém, absolutamente ninguém, aprende nada sozinho. Na melhor das hipóteses, pelo menos, é preciso ler o que alguém escreveu, falou ou desenvolveu antes, mas geralmente é preciso muito mais que apenas isso. Quer dizer, a informação e o aprendizado que chega aos moços é necessariamente dependente de precursores, que, por óbvio, etariamente, são sempre os mais velhos. Aliás, é bom ressaltar que essa é uma regra na humanidade de abrangência universal.

Deste modo, é lamentável observar que está faltando, além de boa vontade, gentileza e bondade, principalmente de inteligência a muitos jovens que têm, tristemente, tratado os mais maduros como lixo social, inclusive com frases do tipo “velho tem que morrer”. O jovem precisa entender que o “velho” é um jovem que deu certo. Isso mesmo, porque só fica “velho” aquele jovem que dá certo. Depois que o indivíduo nasce, a única certeza que ele tem é de que vai morrer, todo o resto é dúvida. Alguns não dão certo e infelizmente morrem cedo, outros dão certo e morrem mais tarde.

A morte não é opcional, ao contrário ela é condicional e compulsória para qualquer ser vivo. Entretanto, no caso do ser humano, a maneira de chegar até a morte, na maioria das vezes, é uma escolha que se faz com a vida que se tem. Alguns encaram a vida com seriedade e trabalham com afinco para viver bem e outros apenas passam rapidamente pela vida, sem viver verdadeiramente, sua existência é apenas e tão somente uma consequência de ter nascido.  

Somente alguns daqueles jovens que trabalham com afinco para viver conseguem chegar a condição de ficar “velhos”, os demais geralmente acabam morrendo antes, ou seja, ainda “jovens”. Isto é, esses jovens acabam não dando certo e tem sua existência encurtada. Senhores jovens, por favor, pensem nisso e procurem investir mais seriamente em agir para viver mais e ser mais feliz.

A felicidade é muito mais do que apenas viver alegremente. A felicidade é transcendental e muitas vezes faz com que as pessoas se sintam sempre bem, ou melhor, se sintam sempre “jovens”, porque estão sempre buscando algo. Sonhar é algo que mantem a mente e o corpo do ser humano sempre na “juventude”, independentemente da idade cronológica. Contudo, é preciso acreditar e viver a plenitude do sonho de acordo com a realidade da vida que se tem.

Quer dizer, tem que sonhar com o pé no chão, objetivando alcançar e trabalhando com afinco para o sonho aconteça e se torne realidade. Pense que sua felicidade é uma ação coletiva, que envolve você e tudo à sua volta, ao longo de sua vida. Quer dizer, quando você está feliz, todos à sua volta também parecem estar felizes e, na verdade, estão mesmo e assim, tudo acontece progressivamente melhor.

De alguma maneira, parece que toda a sociedade está encantada e enganada pela mídia e acaba achando normal e aceitando os absurdos que acontecem. Assim, obviamente a culpa não é exclusiva dos jovens. Talvez, os jovens, pela própria pouca idade, ainda não possam, por si só, entender a verdadeira questão e cumpre aos demais membros da sociedade tentar acordá-los para a vida real, que precisa ser vivida com seriedade.

Afinal, cabe lembrar que, os jovens existentes são os filhos, netos e bisnetos dos mais maduros e todos nós juntos compomos a sociedade.  Entretanto, dá a impressão de que grande parte da sociedade está doente e por isso quase nada acontece em contrário aos visíveis absurdos que temos visto acontecer.  

Por conta dos aspectos acima citados, resolvi escrever esse pequeno texto e aproveitarei o espaço para fazer alguns questionamentos e deixar alguns recados aos cidadãos mais jovens do país. Sou ciente que não sou nenhum “Messias” e que não poderei resolver todos os problemas do mundo, mas quero manifestar minha opinião, haja vista minha convivência cotidiana com os mais jovens durante quase 50 anos na minha atividade profissional como professor.

Demonstrando os Fatos e Destacando os Problemas

Meus caros leitores, então entremos diretamente no assunto. Para não criar mais problemas e amenizar possíveis confusões interpretativas, quanto as minhas intenções nesse texto, doravante tratarei, aqui, os cidadãos mais jovens como “seres humanos de pouca idade” e os mais velhos como “seres humanos de mais idade”. Bem, então, vamos lá.

Começarei por citar 5 contatações mais que óbvias da humanidade.

1 – Todo ser vivo tem necessariamente antepassados, progenitores e genitores.

2 – Com os seres humanos, obviamente a condição da afirmativa acima não é diferente.

3 – Assim, todos nós temos antecedentes familiares, pais, avós, bisavós e por aí afora.

4 – É certo que nem todos os seres humanos conheceram todos os seus antecedentes, mas em algum momento obviamente eles existiram.

5 – Todo ser humano, que conviveu algum tempo com algum desses seus antecedentes, de alguma maneira e em dado momento, se relacionou positivamente com alguns deles.

Pois então, os seres humanos, tanto os de pouca idade, quanto os de mais idade, de maneira geral, costumeiramente têm excelentes relações com seus avós. Eu não sei o porquê, mas isto é um fato. Lembro aqui que os avós são os pais dos pais dos seres humanos de pouca ou de mais idade. Deste modo, cabe perguntar a qualquer ser humano: você respeita e gosta de seus avós? Você se dá bem com seus avós? Sua relação com seu avós é boa? Enfim, certamente na esmagadora maioria das vezes, tenho absoluta certeza de as respostas serão positivas.

Traduzindo isso, acredito que seja possível dizer que a esmagadora maioria dos seres humanos gosta e se relaciona bem com seus avós. Gravem bem essa afirmativa, porque ela é superimportante, haja vista que ela serve para nos comprovar que o problema não está na idade, pois ao avós são quase sempre seres humanos de mais idade e os netos são quase sempre seres humanos de pouca idade. Penso que a afinidade real está mais relacionada à proximidade familiar. Isto é, em geral, a maioria pensa assim: “os meus avós são bons, são alegres, são legais, são interessantes, mas os avós dos outros são feios, chatos, bobos, tristes e desinteressantes”.

Infelizmente, a maioria das pessoas aceita, os de mais idade que estão mais próximos, ou seja, que são do seu relacionamento, ainda que, algumas vezes, por pura obrigação e repudia os de mais idade que estão distantes ou que não são do seu relacionamento. Sinto afirmar, mas a palavra que melhor explica esse fenômeno é preconceito. Existe um preconceito contra os seres humanos de mais idade e geralmente só se aceitamos aqueles que, de alguma maneira, têm certa relação conosco.

É triste admitir, mas existe sim um preconceito contra os seres humanos de mais idade e isso precisa acabar para o bem da sociedade brasileira e quiçá, de toda humanidade. Como eu já disse, em geral, nós aceitamos os nossos, mas rejeitamos os demais. Isso é particularmente marcante nos seres humanos de pouca idade. O pior é que a mídia acaba reforçando esse lamentável contexto, com ações maldosas no que se refere aos de mais idade e a sociedade, além de não se manifestar contra esse tipo de ação absurda, ainda costuma achar tudo isso muito engraçado.

Entretanto, é exatamente aqui que surgem outras questões. Se a maioria das pessoas respeita e gosta de seus próprios avós, por que muitas delas, principalmente seres humanos de pouca idade, pelo menos, não respeitam os avós das outras pessoas? Por que esses seres humanos de pouca idade preferem fazer graça com os seres humanos de mais idade que não sejam próximos deles? O que os seres humanos de pouca idade imaginam para tratarem de maneira diferente os seres humanos de mais idade e socialmente distantes, daqueles seres humanos de mais idade socialmente próximos?

Eu realmente não consigo entender e acredito que eu não seja apenas o único a ter dificuldade no entendimento desse aspecto, que considero um “mal sociológico” e bastante crescente na modernidade. Entretanto, penso que esse “mal sociológico”, que é visível na sociedade brasileira necessita ser esclarecido e trabalhado, no sentido de que precisam ser envidados esforços para que esse mal hábito social costumeiro, possa ser evitado e, se possível, banido.

Deixando os Devidos Recados

A partir disso, creio que agora posso deixar aqui os meus recados para os seres humanos de pouca idade. Primeiramente devo dizer que qualquer ser humano, independentemente da idade, antes de qualquer coisa é um ser humano, uma pessoa, e não merece e nem pode ser desconsiderado e desrespeitado apenas por conta da idade que aparente ter ou que tenha efetivamente. É absurdo que a mesma sociedade que vive criando argumentos importantes para combater o preconceito contra várias questões (sexo, raça, religião, etc.), agora venha fortalecendo o preconceito contra a idade.

Em segundo lugar, devo dizer ainda que, os seres humanos de mais idade, mesmo não sendo seus avós ou pessoas próximas de vocês, muitos deles também são avós e certamente eles também são pessoas próximas de outros seres humanos de pouca idade como vocês. Por conta disso, merecem ser, pelo menos, respeitados pelos demais seres humanos, já que são seus semelhantes.

Em terceiro lugar, tente se lembrar que da mesma forma que vocês gostam e respeitam seus avós, os demais seres humanos de pouca idade também devem gostar e respeitar dos avós deles e assim, procure seguir aquela regra que diz: “não faça aos outros aquilo que você não quer para si mesmo”. Se você não quer que tratem mal os seus avós, então também não trate mal os avós dos outros seres humanos. Ou será que você só liga para seus avós quando está perto deles?

Em quarto lugar, procure se lembrar que você hoje é um ser humano de pouca idade, mas se você der certo, chegará também a ser um ser humano de mais idade e até poderá ser também o avô de alguém. Se isso acontecer, e eu sinceramente espero que aconteça, você não vai gostar que um ser humano de pouca idade fique gozando de sua cara, pelo simples fato de você ser um humano de mais idade. Isto é, dele estar gozando de um ser humano mais velho e que nesse caso é você mesmo.

Em quinto e último lugar, resta dizer que você, se quiser e se efetivamente vir a dar certo um dia, com o tempo você deixará de ser um ser humano de pouca idade e progressivamente se tornará um ser humano de mais idade. Nesse processo natural certamente você entenderá que idade é uma grande bobagem, porque você de fato nunca se sentirá efetivamente “velho” (de mais idade). Em condições normais, sua mente não permitirá que você se sinta incapaz para nada, ao contrário, sua mente terá necessidade de aprender sempre.

É claro que fisicamente o seu corpo irá progressivamente ganhar sempre mais problemas, porque esta é uma realidade física e biológica que nunca poderá ser totalmente resolvida. Ou seja, a idade realmente traz o enfraquecimento físico, que passa a ser cada vez mais visível, mas isso é natural e esse fato não lhe transforma num “ser menos humano”. A verdade é que nossa mente trabalha em função da nossa capacidade de conhecimento e quanto mais você aprende, mais você se sente “jovem”, independente da própria condição biofísica e da idade que possua.

Entretanto, apenas aqueles seres humanos que já viveram mais, aqueles que você chama de “velhos”, conseguem compreender melhor esse fato simples e até bestial, porém, como você ainda não viveu o bastante, talvez não entenda direito o que acontece. Invista no seu aprendizado, pesquisa mais sobre essa questão e procure viver bem como ser humano, que sua mente fará o resto e aí você comprovará o que estou dizendo.

Se você está aborrecido agora e querendo acabar comigo, não só porque sou “velho”, mas porque estou lhe orientando ou, se preferir, “dando conselhos”. Não se preocupe, porque no futuro você ficará ainda mais aborrecido, ao descobrir que, além de ter sido um “velho” quem lhe disse essas coisas, esse “velho” sabia o que estava falando e ele só sabia delas, exatamente por que era “velho”. Isto é, porque já tinha vivido algumas experiências que você ainda nem sabe que existem. Ou seja, qualquer ser humano de pouca idade tem muito que aprender, antes de criticar, gozar ou fazer chacota com qualquer ser humano de mais idade, sejam eles quem forem.

Por fim, quero dizer mais uma verdade insofismável para os seres humanos de pouca idade. Se, de fato, vocês quiserem viver bem, terem vida longa e chegarem à condição de seres humanos de mais idade, vocês precisam respeitar e sobretudo ouvir mais aqueles seres humanos de mais idade, como o “Tio Luiz” aqui, porque, independente do “Tio Google” e de toda informação nele contida, os seres humanos de mais idade são os arquivos vivos e verdadeiros do conhecimento humano.

É óbvio que dados são importante e certamente o “Tio Google” acumula muito mais dados que o “Tio Luiz”, entretanto o “Tio Google” não possui vivência sobre nenhum dos dados que pode descrever e assim certamente não é capaz de ensinar como o “Tio Luiz” e outros seres humanos são. A mídia em geral e o “Google”, em particular, são apenas ferramentas de uso informativo da Humanidade e não podem ser mais importantes do que as pessoas que vivenciam realmente os fatos. Desta maneira, a Humanidade não pode continuar sendo guiada por coisas, ideias ou máquinas que dizem (repetem) informações, mas que não sentem e não percebem, de fato, porque não têm nenhuma relação direta com essas informações.

Os seres humanos de mais idade e o conhecimento que acumularam em vida, certamente são melhores professores que os computadores para informar e ensinar aos seres humanos de pouca idade e precisam ser respeitados. Essa verdade precisa ser estabelecida na visão de nossa sociedade moderna, pois só assim garantiremos a efetiva humanidade dos seres humanos de pouca idade do presente e, principalmente, do futuro. 

Podem estar certos de que os seres humanos de mais idade sempre terão realmente muita coisa para ensinar aos seres humanos mais jovens e certamente serão seus melhores mestres, porque eles são seres humanos como vocês. Eles têm sensibilidade, falam, ouvem, conversam, orientam e discutem, além de simplesmente expor uma informação. Os “velhos” contam histórias emocionantes que o “Google” não conhece, porque o “Google” não é humano e não possui sentimentos.

Tem um ditado que diz que a gente aprende pelo amor ou pela dor. Eu sei que o “Google” e a mídia não doem, mas é óbvio que eles também não amam, porque eles são apenas mecanismos transmissores de informações “precisas” e vazias, que muitas vezes não servem para nada, principalmente em tempos de “fake news”. O “Google” é incapaz de criar uma situação que esclareça sua dúvida. É óbvio que ele até informa correto, mas não explica coisa nenhuma.  A mídia até poderia esclarecer algumas questões, mas geralmente ela tem outros interesses e assim, também age na contramão das verdadeiras explicações, como já foi dito, principalmente em tempos de “fake news”.

Conclusão

De qualquer maneira, a escolha será sempre da sociedade em que se vive, de sua cultura e de seus costumes. Assim, meus queridos e preclaros seres humanos de pouca idade, é óbvio que sempre será necessário que vocês, efetivamente, queiram continuar a aprender e adquirir novos conhecimentos e sobretudo, queiram continuar sendo seres humanos. O primeiro passo para que isso seja possível é o respeito e a consideração aos seres humanos de mais idade, pela história pessoal que cada um deles construiu ao longo do tempo de suas respectivas vidas.

Por fim, da próxima vez que você encontrar um ser humano de mais idade numa situação inusitada e desagradável, ao invés de rir, de gozar ou mesmo de menosprezar, procure ajudar e entender. A propósito, procure se lembrar também que, lá na frente, se você viver bastante, por questões biofísicas e puramente naturais, talvez, você possa viver aquela mesma situação e que certamente ficará magoado por ser humilhado por um ser humano igual a você, simplesmente por conta daquela fortuita ocorrência.

 É claro que existe uma forma de você ter certeza absoluta de que o fato não acontecerá com você: basta você morrer com pouca idade. Entretanto, acredito que você, assim como eu, também não pense que esta seja a melhor solução, mas acredite, ela é a única que existe. Desta maneira, faça o possível para viver mais tempo, seja ético e trate sempre muito bem os seres humanos de mais idade, ou como você prefere, “os velhos”, porque se você não morrer cedo, necessariamente você está caminhando para se tornar um deles.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo; Professor, Pesquisador, Escritos, Revisor e Ambientalista; Acadêmico da Academia Caçapavense de Letras – ACL, da Academia de Letras de Lorena – ALL e da Academia Rotária de Letras do Vale do Paraíba – ABROL Vale.

01 jul 2022
Educação e Valores Humanos

A Educação e os Valores Humanos

Resumo: O artigo chama a atenção para a falta de seriedade e da desvalorização generalizada que a Educação tem recebido historicamente no país. No Brasil, temos priorizado tudo que não importa nas escolas e com isso temos trocados os valores da sociedade. Acredito que esse desrespeito coletivo interfere drástica e diretamente na condição ética e moral dos brasileiros. 


O Brasil necessita urgentemente de Educação verdadeira. Temos muitos prédios escolares, mas temos poucas escolas. Tem muita gente ministrando aulas, mas tem poucos professores efetivamente ensinando. Tem muitos alunos nas escolas, mas tem poucos estudantes realmente querendo aprender. Tem muitos burocratas na educação, mas têm poucos educadores e pessoas preocupadas com a educação atuando no ensino. Enfim, na educação brasileira tem bastante de quase tudo, mas, tem efetivamente muito pouco daquilo que deveria ter.

Este país continua no marasmo educacional exatamente pelo simples fato de que não se encara a educação com devida e necessária seriedade, tampouco se investe em trabalho efetivo para mudar essa situação. A verdade é muito clara: enquanto existirem Alunos, Professores, Diretores e Reitores, querendo a volta de um sujeito amoral, ladrão e apedeuta à Presidência do país, não existe como melhorar a educação. Estamos num mato sem cachorro e a questão que fica é a seguinte: como fazer para acabar com essa situação incoerente?

Temos transitado estranha e perigosamente numa linha em que não se define bem aquilo que se quer e onde o que importa é somente o dinheiro que se irá conseguir com a ação.  É como se o dinheiro fosse realmente a coisa mais importante para a humanidade. Historicamente tenho feito a seguinte pergunta aos meus alunos no primeiro dia de aula: o que é que todo mundo quer? Em quase todas as respostas, mais de 95%, dizem quase que automaticamente, é dinheiro. Ocasionalmente aparece alguns que citam, a sorte, outros dizem, o trabalho, outros ainda respondem, a saúde e mais raramente ainda, alguém lembra da felicidade.

Pois então, a felicidade, que é a resposta esperada, é sempre a menos citada. Ora se a humanidade quer dinheiro e não quer felicidade o mundo está perdido. Pois é, a noção de ser feliz, talvez tenha sido modificada em ter dinheiro, o que é uma grande idiotice, porque o dinheiro não garante a felicidade de ninguém. O que todo mundo quer é ser feliz e o dinheiro pode até ajudar a que se atinja esse intento, mas o dinheiro sozinho não permite a felicidade de ninguém. Infelizmente a humanidade cometeu o ledo engano de trocar os valores morais e vitais, pelos valores e custos monetários e, deste modo, grande parte das pessoas acham que o dinheiro é o melhor negócio para todos.

Particularmente, aqui no Brasil, as escolas “entraram diretamente pelo cano” ao também assumirem que o dinheiro é melhor que a felicidade e os alunos não gostam da escola porque perdem tempo e não ganham dinheiro com esse “tempo perdido”. O pior é que o sistema reforça esse pensamento absurdo, quando desqualifica profissões e profissionais, em prol de publicidades medíocres sobre profissões que não exigem conhecimento e que geram grandes possibilidades econômicas. Assim se esquece do valor da escola e se trabalha pelo preço daquilo que se pode ganhar por estudar. Infelizmente, quando se coloca essas coisas numa balança, acaba se concluindo que estudar não vale o preço.

A diferença entre o valor e o preço é que o preço é estimável em maior ou menor, mas o valor é inestimável e por isso mesmo, o valor não tem preço. O valor é próprio, único e indistinto e assim, não varia não como o preço. Alguém já disse: “o valor não vale, o valor é”. Em suma, é impossível calcular o valor, mas sempre é possível imaginar alguns preços para certas coisas e infelizmente, isso também é verdadeiro para certas pessoas. Pois então, a educação está cheia de coisas e pessoas com preço, mas que estão muito carentes de valor.

A crise que a humanidade vive é consequência única do que foi dito acima. Isto é, as pessoas se vendem por qualquer preço, deixando de ter valor e passando a ser moeda de barganha dos interesses e das negociatas, na mão de quem quer que seja. Esta irresponsabilidade coletiva gera uma situação triste, mas real, de carência moral, que tem, historicamente, causado grandes males a humanidade, mormente nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

O ser humano, cada vez mais, desconhece a importância e o verdadeiro valor de algumas peculiaridades humanas necessárias à vivência social, como a ética, o comprometimento e a lealdade. Enquanto perdurar esta falsa realidade, do humano valer menos que a o interesse econômico de quem quer que seja, a humanidade não terá descanso, não progredirá e a paz entre os povos estará sempre mais longe.

Alguns mudam o foco e a responsabilidade, falando que Deus está vendo e que só Ele pode resolver a questão, mas, ainda que eu não seja religioso, tenho certeza de que Deus não tem nada a ver com isso e mesmo que Ele exista e que esteja vendo, Ele não irá interferir nos problemas estritamente humanos. Nossos problemas são terrenos e causados por nós mesmos não têm nenhuma relação com Deus. É preciso que mudemos o foco e objetivemos um mundo com pessoas de valor, isto é, com pessoas educadas e isso começa na família e se aprimora e continua pela escola.

Quer dizer, ou a humanidade aprende a viver educadamente com todos os humanos ou não existe humanidade. Acredito que enquanto o ser humano continuar sendo esse estranho ser que confunde valor com preço será impossível que a humanidade possa se manter proativa na direção da paz. Infelizmente, se não tomarmos posturas ética no interesse humanitário, sempre haverá situações conflitantes em que questões econômicas terão peso maior e assim, obviamente serão priorizadas pela sociedade.

O único caminho possível para tentar equilibrar essa questão é a crescer na educação e na formação das pessoas. Deste modo, necessitamos de uma educação que demonstre aos seres humanos, que em qualquer situação ou momento, a vida humana deve ser a única prioridade real. Não importa raça, sexo, ideologia, religião ou qualquer outro fator, a vida humana, seja ela qual for, é o mais importante, porque ela é um valor e como tal, é inegociável e não tem preço.

Somos seres humanos e deveríamos investir e aproximar cada vez mais uma postura altruísta e fraternal entre os humanos e não desenvolver as progressivas maneiras segmentárias e separatistas que temos criado e ampliado na sociedade moderna. Temos desenvolvido, através de um pretexto social e ambientalmente correto, mas que no fundo é apenas uma maquiagem política que serve ao interesse de alguns, uma maneira segmentadora da sociedade e destruidora da humanidade.

Estamos caminhando na contramão das necessidades da humanidade e os politiqueiros, os embusteiros e os maus-caracteres de plantão se aproveitam desse fato para piorar aquilo que já não é bom, na base do quanto pior melhor. Desta maneira as relações humanas ficam perigosamente mais comprometidas e com fortes tendências às rupturas. Quer dizer, atualmente, alguns dos “seres humanos”, não se satisfazem em apenas andar na contramão da humanidade e ainda jogam gasolina no fogo para complicar mais a situação.

É preciso que se esclareça de uma vez por todas que, independentemente de qualquer característica que tenhamos ou que professamos, somos pessoas. Todos os seres humanos são pessoas e como tal, devem ser orientadas nos seus deveres e respeitadas nos seus direitos. Entretanto, aqui reside outro grande problema, pois parece que perdemos a noção exata de deveres e direito humanos. Nesta sociedade corrompida e consequentemente corroída que vivemos, direitos e deveres são privilégios que servem apenas aos interesses dos poderosos, que fazem o que querem, como querem e quando querem.

A sociedade se deturpou por conta do preço e a humanidade se degradou por conta da perda do seu valor primário e ímpar, o ser humano.  O “rei dinheiro” e o “trono ganância” superaram largamente o fundamento da vida e necessidade da ética. A humanidade está pobre de valores morais e podre de sentimento e envolvimento coletivo. Somos apenas um bando de criaturas irresponsáveis e cegas, ocupando um mundo em que os indivíduos não veem nada ou, quando muito, cada um consegue apenas ver o próprio umbigo.  

É bastante triste e preocupante a situação debilitada do ser humano nos tempos atuais. Ao que parece a humanidade está caminhando rápida e irreversivelmente para o caos. Se não bastasse nossa podridão humana, também destruímos o planeta, o único que temos e que nos fornece absolutamente todos os recursos naturais que utilizamos. Ou seja, somos humanos podres, caminhado num planeta que também tornamos cada vez mais podre. Em suma, nossa irresponsabilidade é total, pois não ligamos para nossa vida, para nossa espécie e ainda destruímos a nossa única casa.

Como disse no início deste texto, somente a educação pode nos livrar dessa situação sofrível ou, pelo menos, minimizar os danos produzidos por ela. Não existe outra saída possível! E o que estamos fazendo sobre isso? Infelizmente, não temos feito absolutamente nada.

As nossas escolas têm apenas discutido outras questões, infinitamente menos importantes, pouco significativas, nada prioritárias e que não agregam valor nenhum à humanidade e nem a educação brasileira. Nossos alunos estão alheios a realidade humana e são progressivamente mergulhados em idiotices e coisas inúteis às necessidades da humanidade. Nossos professores defendem argumentos e teses inexpressivas, que não se justificam nos interesses coletivos maiores da humanidade. Nossos dirigentes escolares estão preocupados apenas com a manutenção de seus cargos, cuja origem é principalmente política e assim, tudo fazem, apenas para garantir suas respectivas permanências nos mesmos.

É claro que existem honrosas exceções, mas infelizmente, são apenas exceções, porque não têm força funcional e muito menos política, consequentemente não conseguem mudar a situação imperante. A mídia, por sua vez, também não cumpre seu papel e acaba por demonstrar, cada vez mais, o seu interesse na continuidade dessa conjuntura degradante e assim, faz coro para o que está errado, trabalha contra as mudanças necessárias e ainda interfere bastante produzindo informações que só ampliam a degradação educacional e humana.

O mais estranho de tudo isso, é que tem muita “gente” que acredita e age como se tudo estivesse bem e que defende a manutenção desse “status quo”.  As escolas não são mais capazes de trabalhar para formar pessoas, porque estão preparadas apenas para produzir coisas que produzam lucro para alguém. A educação é uma falácia, um conto de fadas triste, onde não vai haver final feliz, porque, de fato, não se quer educar e nem formar ninguém. Sempre gosto de lembrar Darci Ribeiro, quando ele dizia: “No Brasil, a crise educacional, não é uma crise e sim um projeto”. Eu me permito ir além e tristemente afirmo que esse é o único projeto brasileiro que tem tido continuidade nos últimos anos.

Assim, concluo que a atual e evidente degradação humana é resultado de planejamento trabalhado por especialistas em criar humanos piores, através da “educação”, pelo menos aqui no Brasil. Transformaram a sociedade e fizeram com que grandes massas de seres humanos virassem marionetes no interesse puramente político de alguns. Esqueceram que a humanidade se compõe de pessoas e destroem essas pessoas como se fossem coisas inservíveis, sem sentimentos, sem valores morais e sem nenhuma condição ética.

Até quando continuaremos seguindo nessa direção, que transforma os valores, reverte a ordem e perverte a população, particularmente a juventude brasileira?

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

Artigo publicado em 23/01/2022 no “site” https://oblogdowerneck.blogspot.com e readaptado para esta publicação.
01 maio 2020
Quando o ser humano se tornará realmente humano?

Quando o ser humano se tornará realmente humano?

Resumo: Nesse artigo procuro tratar do descaso da Humanidade em relação ao Planeta e a Vida, tentando relacionar esse fato com o aumento das catástrofes naturais e a postura egoísta da maioria dos Seres Humanos e também retomo o sentimento de generalizado medo produzido na maioria dos humanos pelo COVID-19 e o quase prazer de outros “humanos” que se aproveitam da humanidade aterrorizada. Discuto sobre o risco, a ignorância, imprudência dos humanos e as possíveis consequências disso nas relações humanas e concluo que a solução para essas questões está na maior humanização.


Se lavarmos em conta toda a história da humanidade, observaremos que sempre existiram pessoas que tinham e têm medo de alguma coisa. Tem gente que tem medo de fantasmas, de sapo, de cobra, de assalto, de bomba atômica, enfim existe medo de tudo. Mas fantasmas, não existem, o sapo é inofensivo, poucas cobras são efetivamente perigosas e a bomba atômica não explode por si só, para ser detonada ela precisa da vontade e da ação de um ou mais seres humanos. Agora a humanidade está com medo de um vírus, pois é, um simples e pequenino vírus. Uma entidade na fronteira bioquímica entre os organismos vivos e os minerais é o terror da humanidade no momento, mas essa entidade é real e pode ser letal.

Ora, se um diminuto vírus sem motivo próprio, pode repentinamente produzir tanto medo na humanidade, imaginem então uma revolução de elefantes, aborrecidos por matarem seus semelhantes apenas para poder tirar o marfim de suas presas, o problemão que causaria. Entretanto, alguém automaticamente me corregeria, dizendo o seguinte: “mas os elefantes são bonzinhos”. E eu pergunto, e quem pode afirmar que os vírus são deliberadamente “maus”, se nem organismos vivos eles de fato são. Um vírus é uma entidade química replicável dentro de células vivas e não têm nenhum poder de discernimento. Pois então, o problema que estamos enfrentando é exatamente esse. Quem é “bom” e quem é “mau” nessa história?

Historicamente temos achado que as coisas da natureza, sejam elas quais forem são e estão aí, porque simplesmente estão e nós continuamos nossa vida, seguindo em frente, sem nos importarmos com essas coisas, apesar delas existirem. Lamentavelmente, nós ignoramos e não costumamos dar muita importância à maioria das coisas, nos importamos, apenas e tão somente, conosco. Grandes episódios da natureza que têm acontecido, como terremotos, maremotos, tsunamis, avalanches e grandes movimentos de terras, queimadas naturais, grandes tempestades são considerados eventos normais. E se esses eventos normais, o aumento significativo deles também deve ser normal e não deve haver nenhum motivo para preocupação. Pois é, ninguém está nem aí com nada, pois tudo é normal.

 Mas, de repente, num certo dia, uma dessas coisas que nós ignoramos aparece como um anteparo à nossa marcha ou aos nossos interesses em continuar seguindo a trilha. Somente aí é que nós vamos procurar saber exatamente o que é aquilo e o que pode estar acontecendo exatamente naquele momento. É mais ou menos assim, andamos de olhos fechados, até tropeçarmos em alguma coisa e feliz ou infelizmente, como tropeçamos pouco, não atentamos para a maioria das coisas à nossa volta.

O COVID-19 (Corona Vírus), embora pequeno, sem fazer barulho e sem destruir grandes áreas, é um tipo desses anteparos que sempre esteve aí; se não ele propriamente, mas outros vírus muito semelhantes; mas nós não fomos capazes de ver ou não quisemos enxergar e nem de nos preocuparmos com ele. Entretanto, agora nós estamos vendo e sentindo o estrago que esse vírus é capaz de produzir e aí surge o medo. Ficamos apavorados com essa terrível virose que, embora pouco violenta, se comparada a outras bem piores e mais agressivas, se alastra rápido e pode acabar sendo fatal ao organismo humano.

Meus caros, o medo é consequência do risco, que, por sua vez, é filho natural da imprudência. O risco sempre existe, pois viver é um risco que só leva a uma certeza, que é a morte. Pode demorar mais ou menos, mas a morte é compulsória, não tem preconceito e certamente ela virá. Entretanto, a gente finge que não sabe disso e sempre espera que seja o mais tarde possível. A imprudência é o descrédito do risco, isto é, quem não acredita no risco, acaba sendo imprudente. Nesse instante, temos que citar uma outra personagem, muito comum entre os seres humanos, a ignorância.

Como dissemos acima, geralmente o ser humano ignora e não se preocupa com a grande maioria das coisas à usa volta, até o dia em que necessita de alguma informação sobre essas coisas. A ignorância, às vezes até faz com que alguns seres humanos nem imaginem que podem morrer a qualquer momento e que estar vivo é menos provável do que não estar. Pois então, a maioria dos seres humanos aparentemente não conhece (ignora) riscos e assim, não está preocupada com eles e por isso mesmo, comete muita imprudência. Quer dizer, agimos desta maneira, ignoramos tudo e somos imprudentes até que o acaso surge e nos prega uma peça de terror e aí, finalmente acordamos para a realidade.

Se viver é mesmo um risco, nós temos que ser prudentes para corrermos menos riscos de morrer, já que queremos continuar vivos. Como o elefante é grande, forte, bem visível e até tangível conhecemos e respeitamos o elefante, mas ele costuma ser “bom”. Entretanto, de forma antagônica, alguns de nós não conhecem o vírus, embora imagina que ele seja “mau”, mas como é pequeno, invisível e intangível, ele acaba sendo simplesmente ignorado. Assim, nossa ignorância não nos coloca na verdadeira dimensão entre o elefante e o vírus, além do tamanho, da conspicuidade e da “maldade” ou “bondade” que imaginamos de ambos.

Achamos os elefantes “bons”, porque quase nunca ouvimos falar de elefantes matando pessoas e desdenhamos os vírus ou os consideramos “maus”, simplesmente porque não os conhecemos ou porque já sabíamos que alguns podem causar doenças. A propósito, o vírus aqui é só um exemplo genérico porque certamente existem milhares de outras coisas que simplesmente ignoramos e outras que efetivamente não conhecemos e por isso mesmo não nos preocupamos com elas, até o momento em que elas aparecem na nossa frente e descobrimos que essas coisas podem nos matar.

Foi assim com a bomba atômica, foi necessário que alguém, lamentavelmente, explodisse duas bombas atômicas seguidas para que a gente (a humanidade) passasse da ignorância, para o medo, por conta da imprudência desse alguém ter descartado o risco e explodido a bomba. Na maioria das vezes nem precisa isso, o medo aparece sempre que ignoramos alguma coisa, mas temos certeza, ainda que muito parcialmente, de que essa coisa existe. Quer dizer, a dúvida sobre algo desconhecido, muitas vezes, pode causar um medo muito pior. É o que acontece com as infelizes das cobras, como não se sabe quais são as perigosas a opção acaba sendo: temer e matar todas.

Pois então, da mesma forma que passamos a ter mais medo das bombas depois que foram explodidas duas bombas atômicas, passaremos agora a ter grande medo quando ouvirmos falar de vírus. E mais, o nosso medo é tal que, de tanto ouvir falar sobre o COVID-19 (Corona Vírus), até já estamos sendo capazes de entender que existem coisas bem piores do que a bomba atômica ou algumas cobras. Mas, e daí, o que podemos fazer a esse respeito? Pois então, essa é exatamente a grande questão atual!

E enquanto isso, a promiscuidade de uns se aproveita da situação catastrófica e da idiotice de outros e fica discutindo direita e esquerda, socialismo e capitalismo, mas o vírus, que é real e contundente, segue por aí, matando gente no mundo todo. Ele não tem preconceito, não quer dinheiro, não defende nenhuma ideologia e nem faz parte de qualquer partido político, ele apenas segue seu caminho na sua condição de vírus, tentando reproduzir e continuar sendo vírus. O mundo, assim como o vírus é real, enquanto as ideologias são virtuais.

Ora, não é possível ficar discutindo ideologia, enquanto o mundo padece por conta de um inimigo que, a priori, é comum, porque mesmo que alguém defenda a teoria da conspiração, a virose mata gente de todos os lados e isso não é bom para ninguém, a não ser que o vírus “saiba”, antecipadamente, a quem tem que atacar, o que, por razões óbvias, é impossível, embora possam existir alguns imbecis que até admitam essa possibilidade. Ainda que eu não veja quase nenhuma chance disso ser verdade, o vírus até pode ter sido desenvolvido em algum laboratório, entretanto não é possível controlar sua ação.

Opa! Assim, de repente, num passe de mágica, o vírus superou tudo, ficou maior e mais assustador que qualquer anteparo, particularmente a bomba, porque ela certamente foi usada por um lado contra o outro e não aleatoriamente. Ou seja, o vírus tornou-se muito maior que a manada de elefantes, que a bomba, que a ideologia e que a economia e assim, nessa atitude inócua, a ignorância de parte da humanidade apavorada fica bem mais explicita. As “pragas divinas” e o “fim do mundo” estão chegando, que Deus nos ajude, pois o pandemônio aconteceu.

Entretanto, para outros “humanos”, não existe mais risco e não existindo risco não há porque haver prudência e muito menos haverá medo. Muitos no mundo estão assim, bestializados e quase sem medo de um risco que é efetivo e real. Isso é muito pior, é perigosíssimo. O perigo é algo que favorece ao risco, anima o medo e prescinde de maior prudência, mas essa parte da humanidade está cega. Esse tipo de ser humano se esqueceu das duas coisas fundamentais que habitam em seu interior: o ser e o humano. Devido a isso, ele está contrariando qualquer noção de lógica, por questões que não cabem nos preceitos biológicos e físicos primários. Os valores desses sujeitos não permitem enquadrá-los mais como seres humanos.

Em que pese o fato de também existirem alguns seres humanos diferentes, os cientistas, que ainda estão conscientes e não foram “drogados” pela insanidade, nem pela bestialidade e que, por isso mesmo tendem a ser sabedores das reais condições de risco que o vírus oferece. Mas, lamentavelmente os coitados desses cientistas são quantitativamente poucos e geralmente não são ouvidos pelos demais humanos. Para muitos, os cientistas, são seres humanos estranhos, meio loucos e assim, eles não costumam ter muito valor nesse mundo idealizado e idiotizado. Consequentemente, muitos cientistas acabam sendo utilizados apenas como massa de manobra para servir aos interesses das diferentes ideologias.

Por outro lado, ainda existem alguns falsos cientistas, que criam e justificam o uso de regras pretensamente gerais, mas que jamais poderão ser aplicadas à toda a humanidade, por conta da existência natural de uma série de diversidades sociais e mesmo estruturais planetárias. Não pode haver regra única num planeta tão diverso climaticamente, estruturalmente e socialmente. E no meio de toda a celeuma está a maior parte da humanidade aterrorizada e incapaz de entender o que efetivamente é verdade.

Entretanto, há muito tempo existe consenso entre os verdadeiros cientistas, de que a situação está muito feia, do ponto de vista planetário. A Terra não aguenta mais o ser humano. Mas, isso quase não interessa, nem às ideologias, nem aos regimes de governo e parece que infelizmente nem à grande parte da população humana, pois ninguém quer ouvir sobre esse tipo de assunto. Deste modo, como os governos não ouvem ou fingem que não sabem, as populações não exigem, as entidades sociais não se organizam, nem se encontram e por conseguinte também nada pedem, pois cada uma delas só consegue se dedicar ao seu interesse particular e assim, nada acontece.

O egoísmo impera e a “caravana do primeiro eu e a minha turma”, segue em frente e de preferência, sempre na frente. De repente, de uma hora para outra, pimba! Apareceu um vírus desconhecido e descabido, de fácil contaminação e bastante complicado, que acaba interferido seriamente em tudo e todos no planeta. Não quero nem discutir se tem ou não conspiração por trás disso, porque o que importa no momento é o fato do vírus está aí e não como ele chegou ou quem colocou ele no mundo. Essa questão, embora possa ser considerada importante, deverá ser discutida depois. Primeiramente vamos cuidar da virose e depois vamos procurar os culpados, antes que morra mais gente indevidamente.

Mas, não é isso que acontece e nós vamos apenas contar os mortos e, se possível, tratar dos doentes e rezar para não estarmos entre esses dois grupos. Assim, a história humana segue seu curso, até que o acaso traga novo tormento: uma nova bomba ou um novo vírus, até a possível extinção total da espécie. Ninguém se sente responsável por nada. Ao contrário, o tempo passa, a caravana humana na Terra continua caminhando e absolutamente nada acontece em prol da melhoria da qualidade de vida humana e de toda vida planetária. A besta humana está cada vez mais besta e menos humana.

A coisa já aconteceu, então, o vírus que não é uma manada de elefantes e nem uma bomba atômica, que é apenas um desprezível vírus, assola o mundo e mostra que tamanho não é documento e que o grande e poderoso ser humano é pequeno e pode ser muito menor que um pequeníssimo vírus. Alguns poderosos resolvem se animar e de uma hora para outra, os cientistas são chamados a opinar e passam a ser sujeitos importantes outra vez. Entretanto, agora o fogo já tomou conta do planeta e só nos resta tentar combater o incêndio, porque todos, além dos cientistas sérios, foram ignorantes e imprudentes; não consideraram o risco e obviamente não tiveram, a priori, nenhum medo. Só agora, depois do incêndio alastrado e do dano produzido é que o medo aparenta ter reaparecido.

E assim, depois que morrer muita gente e a crise (pandemia) finalmente passar, se e quando passar, será que a humanidade vai mudar de comportamento? Ou será que vai continuar tudo como dantes no quartel de Abrantes e a caravana seguirá, como se nada tivesse acontecido, até o próximo elefante, a próxima bomba ou o próximo vírus aparecer? Eu tenho muito medo, não só desse vírus, do elefante ou da bomba. Eu tenho mais medo da própria humanidade, porque parece que quase nenhum ser humano está, de fato, preocupado com nada, além do seu próprio umbigo.

O descaso com o outro tem sido mais uma característica desagradável, perniciosa e marcante do ser humano. Essa é a única e grande verdade e isso precisa ser mudado urgentemente. Enquanto a humanidade não trabalhar pela própria humanidade, ou melhor, enquanto cada pessoa continuar tratando e cuidando apenas e tão somente de si e seus interesses pessoais, nada, absolutamente nada, vai mudar até o fim, ou seja, a extinção total da espécie humana. Tomara que eu esteja errado, mas tenho forte suspeita de que falta muito pouco para que esse lamentável fim se estabeleça.

Por favor, não me falem de Deus, porque, se Ele existe e tomara que exista, mas Ele também já deve estar cansado da irresponsabilidade humana com o planeta e com a vida da própria humanidade e das demais criaturas da Terra. Deus está em outro plano e o nosso problema é terreno e não celestial. Nós até podemos precisar de Deus para muitas coisas, mas não precisamos de Deus para sermos coerentes, bons e fazermos o bem, principalmente no relacionamento com outros humanos, porque isso deveria ser uma obrigação moral. Para sermos bons e fazermos o bem, nós precisamos é de vergonha na cara, de mais humanidade, mais humildade, mais altruísmo, mais fraternidade e menos egoísmo.   

O dia que o ser humano passar a ser realmente humano, todos os problemas da humanidade estarão resolvidos, inclusive os medos, porque haverá menos riscos e menos imprudência. Quando formos realmente humanos, outro humano sempre estará muito próximo e pronto a ajudar e defender, independentemente das discussões ideológicas que possam existir. Entretanto, eu vejo que esse dia está cada vez mais distante, porque as prioridades humanas, lamentavelmente continuam não sendo os seres humanos. O fazer ideal, a melhor maneira de fazer, a ideologia, pode e deve ser discutida, mas ela não pode ser motivo para deturpar e muito menos para comprometer as relações entre os seres humanos e permitir a degradação do planeta e a consequente extinção de nossa espécie.

Caçapava, 05/04/2020

Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)