Tag: Humanidade

11 ago 2022
Mensagem aos “Seres Humanos de Pouca Idade”

Mensagem aos “Seres Humanos de Pouca Idade”

Resumo: Este artigo discute sobre a incoerência no desrespeito atual e comum dos humanos mais jovens em relação aos humanos mais velhos. Além disso, se chama a atenção para o fato de que aqui no Brasil, a mídia parece reforçar essa infeliz tendência, ao invés de tentar combatê-la. 


Introdução

Depois que presenciei uma cena desagradável, a qual não comentarei exatamente porque acho ultrajante e assim totalmente desnecessária, na qual um grupo de jovens, deliberadamente debochavam acintosa e intensamente de alguns senhores da chamada “terceira idade”, apenas porque esses senhores não foram felizes em realizar determinada ação. Segundo os jovens em questão, a referida ação não poderia ser desenvolvida por pessoas de mais idade, pois apenas os mais novos são capazes de tal ato e isso lhes dava o direito de gozar dos mais velhos.

Esse fato me deixou bastante constrangido, por também ser mais velho, por não concordar com o acontecido e principalmente por nada poder fazer para resolver a questão naquele momento. Além disso, fiquei tremendamente preocupado ao perceber como está o andamento das coisas nessa sociedade mal-educada, informatizada e pré-fabricada, em que vivemos hoje em dia. Essa sociedade caótica que é cada vez mais injusta e que está totalmente manipulada por ideologias duvidosas.

A mídia, por sua vez, dentre outras coisas erradas, engana e endeusa os mais moços, que passaram a ser sinônimos de vigor e beleza e marginaliza os mais idosos, que passaram a ser sinônimos de feiura e fraqueza. O pior é que os objetivos destas ações são puramente comerciais ou, o que torna a situação mais desagradável ainda, é que, muitas vezes, tem o intuito único de tentar manobrar as atitudes e o comportamento dos mais moços e menos experientes na vida, para mantê-los alheios à realidade.

Aliás, aqui cabe salientar que essa mídia que está escancarada por aí, só almeja, de fato, manter o jovem cada vez mais alienado e desvinculado do mundo real. Deste modo, essa mídia maldosa cria as mais diversas situações para corromper as boas ações, visando a levar o jovem a acreditar em futilidades e coisas totalmente sem nexo. Se não bastasse isso, ainda faz coro com os malfeitores e tenta perverter os valores morais dos poucos jovens que ainda conseguem se manter dentro dos padrões agradáveis aos interesses da sociedade e ao respeito com os demais seres humanos.

Esclarecimentos Fundamentais

Para começar, quero dizer que juventude não tem absolutamente nada a ver com a idade. Juventude tem a ver com estado de espírito ativo e com vontade de viver bem e ser feliz. Deste modo, tem gente que nunca foi jovem, apesar de moço, e tem gente que está sempre jovem, independentemente da idade que tenha. Isto é, há muita gente de mais idade que é bastante jovem nos bons pensamentos e nas boas ações e há muito jovem que é extremamente arcaico e até carente desses nobres aspectos.

Por outro lado, é preciso dizer que os mais maduros constituem o cabedal ético, moral, intelectual e cultural da sociedade, pois nenhum moço aprende sozinho e alguns desses moços, muitas vezes se esquecem que o aprendizado é passado pela experiência dos temporalmente mais vividos. Ninguém, absolutamente ninguém, aprende nada sozinho. Na melhor das hipóteses, pelo menos, é preciso ler o que alguém escreveu, falou ou desenvolveu antes, mas geralmente é preciso muito mais que apenas isso. Quer dizer, a informação e o aprendizado que chega aos moços é necessariamente dependente de precursores, que, por óbvio, etariamente, são sempre os mais velhos. Aliás, é bom ressaltar que essa é uma regra na humanidade de abrangência universal.

Deste modo, é lamentável observar que está faltando, além de boa vontade, gentileza e bondade, principalmente de inteligência a muitos jovens que têm, tristemente, tratado os mais maduros como lixo social, inclusive com frases do tipo “velho tem que morrer”. O jovem precisa entender que o “velho” é um jovem que deu certo. Isso mesmo, porque só fica “velho” aquele jovem que dá certo. Depois que o indivíduo nasce, a única certeza que ele tem é de que vai morrer, todo o resto é dúvida. Alguns não dão certo e infelizmente morrem cedo, outros dão certo e morrem mais tarde.

A morte não é opcional, ao contrário ela é condicional e compulsória para qualquer ser vivo. Entretanto, no caso do ser humano, a maneira de chegar até a morte, na maioria das vezes, é uma escolha que se faz com a vida que se tem. Alguns encaram a vida com seriedade e trabalham com afinco para viver bem e outros apenas passam rapidamente pela vida, sem viver verdadeiramente, sua existência é apenas e tão somente uma consequência de ter nascido.  

Somente alguns daqueles jovens que trabalham com afinco para viver conseguem chegar a condição de ficar “velhos”, os demais geralmente acabam morrendo antes, ou seja, ainda “jovens”. Isto é, esses jovens acabam não dando certo e tem sua existência encurtada. Senhores jovens, por favor, pensem nisso e procurem investir mais seriamente em agir para viver mais e ser mais feliz.

A felicidade é muito mais do que apenas viver alegremente. A felicidade é transcendental e muitas vezes faz com que as pessoas se sintam sempre bem, ou melhor, se sintam sempre “jovens”, porque estão sempre buscando algo. Sonhar é algo que mantem a mente e o corpo do ser humano sempre na “juventude”, independentemente da idade cronológica. Contudo, é preciso acreditar e viver a plenitude do sonho de acordo com a realidade da vida que se tem.

Quer dizer, tem que sonhar com o pé no chão, objetivando alcançar e trabalhando com afinco para o sonho aconteça e se torne realidade. Pense que sua felicidade é uma ação coletiva, que envolve você e tudo à sua volta, ao longo de sua vida. Quer dizer, quando você está feliz, todos à sua volta também parecem estar felizes e, na verdade, estão mesmo e assim, tudo acontece progressivamente melhor.

De alguma maneira, parece que toda a sociedade está encantada e enganada pela mídia e acaba achando normal e aceitando os absurdos que acontecem. Assim, obviamente a culpa não é exclusiva dos jovens. Talvez, os jovens, pela própria pouca idade, ainda não possam, por si só, entender a verdadeira questão e cumpre aos demais membros da sociedade tentar acordá-los para a vida real, que precisa ser vivida com seriedade.

Afinal, cabe lembrar que, os jovens existentes são os filhos, netos e bisnetos dos mais maduros e todos nós juntos compomos a sociedade.  Entretanto, dá a impressão de que grande parte da sociedade está doente e por isso quase nada acontece em contrário aos visíveis absurdos que temos visto acontecer.  

Por conta dos aspectos acima citados, resolvi escrever esse pequeno texto e aproveitarei o espaço para fazer alguns questionamentos e deixar alguns recados aos cidadãos mais jovens do país. Sou ciente que não sou nenhum “Messias” e que não poderei resolver todos os problemas do mundo, mas quero manifestar minha opinião, haja vista minha convivência cotidiana com os mais jovens durante quase 50 anos na minha atividade profissional como professor.

Demonstrando os Fatos e Destacando os Problemas

Meus caros leitores, então entremos diretamente no assunto. Para não criar mais problemas e amenizar possíveis confusões interpretativas, quanto as minhas intenções nesse texto, doravante tratarei, aqui, os cidadãos mais jovens como “seres humanos de pouca idade” e os mais velhos como “seres humanos de mais idade”. Bem, então, vamos lá.

Começarei por citar 5 contatações mais que óbvias da humanidade.

1 – Todo ser vivo tem necessariamente antepassados, progenitores e genitores.

2 – Com os seres humanos, obviamente a condição da afirmativa acima não é diferente.

3 – Assim, todos nós temos antecedentes familiares, pais, avós, bisavós e por aí afora.

4 – É certo que nem todos os seres humanos conheceram todos os seus antecedentes, mas em algum momento obviamente eles existiram.

5 – Todo ser humano, que conviveu algum tempo com algum desses seus antecedentes, de alguma maneira e em dado momento, se relacionou positivamente com alguns deles.

Pois então, os seres humanos, tanto os de pouca idade, quanto os de mais idade, de maneira geral, costumeiramente têm excelentes relações com seus avós. Eu não sei o porquê, mas isto é um fato. Lembro aqui que os avós são os pais dos pais dos seres humanos de pouca ou de mais idade. Deste modo, cabe perguntar a qualquer ser humano: você respeita e gosta de seus avós? Você se dá bem com seus avós? Sua relação com seu avós é boa? Enfim, certamente na esmagadora maioria das vezes, tenho absoluta certeza de as respostas serão positivas.

Traduzindo isso, acredito que seja possível dizer que a esmagadora maioria dos seres humanos gosta e se relaciona bem com seus avós. Gravem bem essa afirmativa, porque ela é superimportante, haja vista que ela serve para nos comprovar que o problema não está na idade, pois ao avós são quase sempre seres humanos de mais idade e os netos são quase sempre seres humanos de pouca idade. Penso que a afinidade real está mais relacionada à proximidade familiar. Isto é, em geral, a maioria pensa assim: “os meus avós são bons, são alegres, são legais, são interessantes, mas os avós dos outros são feios, chatos, bobos, tristes e desinteressantes”.

Infelizmente, a maioria das pessoas aceita, os de mais idade que estão mais próximos, ou seja, que são do seu relacionamento, ainda que, algumas vezes, por pura obrigação e repudia os de mais idade que estão distantes ou que não são do seu relacionamento. Sinto afirmar, mas a palavra que melhor explica esse fenômeno é preconceito. Existe um preconceito contra os seres humanos de mais idade e geralmente só se aceitamos aqueles que, de alguma maneira, têm certa relação conosco.

É triste admitir, mas existe sim um preconceito contra os seres humanos de mais idade e isso precisa acabar para o bem da sociedade brasileira e quiçá, de toda humanidade. Como eu já disse, em geral, nós aceitamos os nossos, mas rejeitamos os demais. Isso é particularmente marcante nos seres humanos de pouca idade. O pior é que a mídia acaba reforçando esse lamentável contexto, com ações maldosas no que se refere aos de mais idade e a sociedade, além de não se manifestar contra esse tipo de ação absurda, ainda costuma achar tudo isso muito engraçado.

Entretanto, é exatamente aqui que surgem outras questões. Se a maioria das pessoas respeita e gosta de seus próprios avós, por que muitas delas, principalmente seres humanos de pouca idade, pelo menos, não respeitam os avós das outras pessoas? Por que esses seres humanos de pouca idade preferem fazer graça com os seres humanos de mais idade que não sejam próximos deles? O que os seres humanos de pouca idade imaginam para tratarem de maneira diferente os seres humanos de mais idade e socialmente distantes, daqueles seres humanos de mais idade socialmente próximos?

Eu realmente não consigo entender e acredito que eu não seja apenas o único a ter dificuldade no entendimento desse aspecto, que considero um “mal sociológico” e bastante crescente na modernidade. Entretanto, penso que esse “mal sociológico”, que é visível na sociedade brasileira necessita ser esclarecido e trabalhado, no sentido de que precisam ser envidados esforços para que esse mal hábito social costumeiro, possa ser evitado e, se possível, banido.

Deixando os Devidos Recados

A partir disso, creio que agora posso deixar aqui os meus recados para os seres humanos de pouca idade. Primeiramente devo dizer que qualquer ser humano, independentemente da idade, antes de qualquer coisa é um ser humano, uma pessoa, e não merece e nem pode ser desconsiderado e desrespeitado apenas por conta da idade que aparente ter ou que tenha efetivamente. É absurdo que a mesma sociedade que vive criando argumentos importantes para combater o preconceito contra várias questões (sexo, raça, religião, etc.), agora venha fortalecendo o preconceito contra a idade.

Em segundo lugar, devo dizer ainda que, os seres humanos de mais idade, mesmo não sendo seus avós ou pessoas próximas de vocês, muitos deles também são avós e certamente eles também são pessoas próximas de outros seres humanos de pouca idade como vocês. Por conta disso, merecem ser, pelo menos, respeitados pelos demais seres humanos, já que são seus semelhantes.

Em terceiro lugar, tente se lembrar que da mesma forma que vocês gostam e respeitam seus avós, os demais seres humanos de pouca idade também devem gostar e respeitar dos avós deles e assim, procure seguir aquela regra que diz: “não faça aos outros aquilo que você não quer para si mesmo”. Se você não quer que tratem mal os seus avós, então também não trate mal os avós dos outros seres humanos. Ou será que você só liga para seus avós quando está perto deles?

Em quarto lugar, procure se lembrar que você hoje é um ser humano de pouca idade, mas se você der certo, chegará também a ser um ser humano de mais idade e até poderá ser também o avô de alguém. Se isso acontecer, e eu sinceramente espero que aconteça, você não vai gostar que um ser humano de pouca idade fique gozando de sua cara, pelo simples fato de você ser um humano de mais idade. Isto é, dele estar gozando de um ser humano mais velho e que nesse caso é você mesmo.

Em quinto e último lugar, resta dizer que você, se quiser e se efetivamente vir a dar certo um dia, com o tempo você deixará de ser um ser humano de pouca idade e progressivamente se tornará um ser humano de mais idade. Nesse processo natural certamente você entenderá que idade é uma grande bobagem, porque você de fato nunca se sentirá efetivamente “velho” (de mais idade). Em condições normais, sua mente não permitirá que você se sinta incapaz para nada, ao contrário, sua mente terá necessidade de aprender sempre.

É claro que fisicamente o seu corpo irá progressivamente ganhar sempre mais problemas, porque esta é uma realidade física e biológica que nunca poderá ser totalmente resolvida. Ou seja, a idade realmente traz o enfraquecimento físico, que passa a ser cada vez mais visível, mas isso é natural e esse fato não lhe transforma num “ser menos humano”. A verdade é que nossa mente trabalha em função da nossa capacidade de conhecimento e quanto mais você aprende, mais você se sente “jovem”, independente da própria condição biofísica e da idade que possua.

Entretanto, apenas aqueles seres humanos que já viveram mais, aqueles que você chama de “velhos”, conseguem compreender melhor esse fato simples e até bestial, porém, como você ainda não viveu o bastante, talvez não entenda direito o que acontece. Invista no seu aprendizado, pesquisa mais sobre essa questão e procure viver bem como ser humano, que sua mente fará o resto e aí você comprovará o que estou dizendo.

Se você está aborrecido agora e querendo acabar comigo, não só porque sou “velho”, mas porque estou lhe orientando ou, se preferir, “dando conselhos”. Não se preocupe, porque no futuro você ficará ainda mais aborrecido, ao descobrir que, além de ter sido um “velho” quem lhe disse essas coisas, esse “velho” sabia o que estava falando e ele só sabia delas, exatamente por que era “velho”. Isto é, porque já tinha vivido algumas experiências que você ainda nem sabe que existem. Ou seja, qualquer ser humano de pouca idade tem muito que aprender, antes de criticar, gozar ou fazer chacota com qualquer ser humano de mais idade, sejam eles quem forem.

Por fim, quero dizer mais uma verdade insofismável para os seres humanos de pouca idade. Se, de fato, vocês quiserem viver bem, terem vida longa e chegarem à condição de seres humanos de mais idade, vocês precisam respeitar e sobretudo ouvir mais aqueles seres humanos de mais idade, como o “Tio Luiz” aqui, porque, independente do “Tio Google” e de toda informação nele contida, os seres humanos de mais idade são os arquivos vivos e verdadeiros do conhecimento humano.

É óbvio que dados são importante e certamente o “Tio Google” acumula muito mais dados que o “Tio Luiz”, entretanto o “Tio Google” não possui vivência sobre nenhum dos dados que pode descrever e assim certamente não é capaz de ensinar como o “Tio Luiz” e outros seres humanos são. A mídia em geral e o “Google”, em particular, são apenas ferramentas de uso informativo da Humanidade e não podem ser mais importantes do que as pessoas que vivenciam realmente os fatos. Desta maneira, a Humanidade não pode continuar sendo guiada por coisas, ideias ou máquinas que dizem (repetem) informações, mas que não sentem e não percebem, de fato, porque não têm nenhuma relação direta com essas informações.

Os seres humanos de mais idade e o conhecimento que acumularam em vida, certamente são melhores professores que os computadores para informar e ensinar aos seres humanos de pouca idade e precisam ser respeitados. Essa verdade precisa ser estabelecida na visão de nossa sociedade moderna, pois só assim garantiremos a efetiva humanidade dos seres humanos de pouca idade do presente e, principalmente, do futuro. 

Podem estar certos de que os seres humanos de mais idade sempre terão realmente muita coisa para ensinar aos seres humanos mais jovens e certamente serão seus melhores mestres, porque eles são seres humanos como vocês. Eles têm sensibilidade, falam, ouvem, conversam, orientam e discutem, além de simplesmente expor uma informação. Os “velhos” contam histórias emocionantes que o “Google” não conhece, porque o “Google” não é humano e não possui sentimentos.

Tem um ditado que diz que a gente aprende pelo amor ou pela dor. Eu sei que o “Google” e a mídia não doem, mas é óbvio que eles também não amam, porque eles são apenas mecanismos transmissores de informações “precisas” e vazias, que muitas vezes não servem para nada, principalmente em tempos de “fake news”. O “Google” é incapaz de criar uma situação que esclareça sua dúvida. É óbvio que ele até informa correto, mas não explica coisa nenhuma.  A mídia até poderia esclarecer algumas questões, mas geralmente ela tem outros interesses e assim, também age na contramão das verdadeiras explicações, como já foi dito, principalmente em tempos de “fake news”.

Conclusão

De qualquer maneira, a escolha será sempre da sociedade em que se vive, de sua cultura e de seus costumes. Assim, meus queridos e preclaros seres humanos de pouca idade, é óbvio que sempre será necessário que vocês, efetivamente, queiram continuar a aprender e adquirir novos conhecimentos e sobretudo, queiram continuar sendo seres humanos. O primeiro passo para que isso seja possível é o respeito e a consideração aos seres humanos de mais idade, pela história pessoal que cada um deles construiu ao longo do tempo de suas respectivas vidas.

Por fim, da próxima vez que você encontrar um ser humano de mais idade numa situação inusitada e desagradável, ao invés de rir, de gozar ou mesmo de menosprezar, procure ajudar e entender. A propósito, procure se lembrar também que, lá na frente, se você viver bastante, por questões biofísicas e puramente naturais, talvez, você possa viver aquela mesma situação e que certamente ficará magoado por ser humilhado por um ser humano igual a você, simplesmente por conta daquela fortuita ocorrência.

 É claro que existe uma forma de você ter certeza absoluta de que o fato não acontecerá com você: basta você morrer com pouca idade. Entretanto, acredito que você, assim como eu, também não pense que esta seja a melhor solução, mas acredite, ela é a única que existe. Desta maneira, faça o possível para viver mais tempo, seja ético e trate sempre muito bem os seres humanos de mais idade, ou como você prefere, “os velhos”, porque se você não morrer cedo, necessariamente você está caminhando para se tornar um deles.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo; Professor, Pesquisador, Escritos, Revisor e Ambientalista; Acadêmico da Academia Caçapavense de Letras – ACL, da Academia de Letras de Lorena – ALL e da Academia Rotária de Letras do Vale do Paraíba – ABROL Vale.

25 abr 2022
O Emburrecimento da Humanidade e a Falta de Juízo Rumo ao Fim do Mundo

O Emburrecimento da Humanidade e a Falta de Juízo Rumo ao Fim do Mundo

Resumo: Neste artigo estou procurando chamar a atenção da sociedade sobre a fragilidade e a desvalorização da vida humana na atualidade. Tento demonstrar que a humanidade se perdeu e que a vida humana passou a ser mera contingência da existência e não faz nenhum sentido. A vida se resume unicamente a trabalhar e continuar vivendo à espera da morte. 


Atualmente ter algum conhecimento acima da média, embora ainda não seja considerado crime e nem pecado, certamente já é algo desinteressante ou, pelo menos, pouco desestimulante e constrangedor. Se você demonstra que sabe alguma coisa numa determinada área já lhe tacham como um sujeito presunçoso, que pensa ser uma “enciclopédia ambulante”. Hoje saber sobre algo não parece ser uma coisa boa. E como foi que chegamos nesse lamentável nível?

Bem existem várias maneiras de tentar explicar a questão, mas vou ser bastante direto e resumir tudo numa única frase. Hoje, o que vale é a capacidade que o indivíduo tem de fazer alguma coisa. Não importa quem ou o que seja ele, desde que ele se disponha a assumir uma determinada tarefa, com o sem conhecimento, ele tem utilidade à sociedade. Na verdade, sempre foi assim, mas antes, se colocavam níveis de diversidade e esses níveis eram baseados no conhecimento. Hoje, o conhecimento é o que menos importa.

Assim, se o indivíduo faz alguma coisa. Não precisa saber exatamente o que é essa coisa, basta fazê-la, que esse indivíduo terá o seu espaço como ator social garantido. Se o espaço é bom ou ruim é outra questão, mas existe a garantia desse espaço. É tudo muito simples, mecânico e automático. Se faz serve e se pensa não serve. Por conta disso, temos presenciado um progressivo emburrecimento intelectual coletivo da humanidade. Pior é que tem muita gente acreditando que esse é um bom negócio.

As escolas, principalmente as Instituições de Ensino Superior – IES, deixaram de ser centros formadores de pessoas e passaram a ser “grande linhas de montagens de robôs”. Estudantes viraram autômatos ou simulacros de seres humanos. Os simples e importantíssimos atos de pensar e refletir não tem mais sentido e nem significância na escola e muito menos nas diferentes atividades das vidas humanas, mormente a partir da Pandemia do COVID 19.

Acabaram a poesia, o belo, o amor e o lirismo. Agora é na base do “fazejamento” sem entendimento. Se até existe planejamento da ação, esse planejamento se apoia no para quê e no como, mas não considera importante o porquê e nem considera saber ou se preocupar com ele. O conhecimento perdeu a importância e o sujeito culto em alguma área chega quase a ser pecaminoso, além de chato e acaba ficando numa situação vexatória.

Há uma total inversão de valores. Assim, se o sujeito faz alguma coisa ele já é bom, mas se esse sujeito é apenas bom, então ele não presta, porque não serve à sociedade. É como se servir à sociedade fosse apenas fazer algo concreto para ela, como prestar um favor qualquer. O fazer simplesmente superou o ser, que já havia sido superado também pelo ter. Em suma a pessoa hoje está em terceiro lugar, depois da coisa e do custo. Que espécie de homem estamos produzindo? Que sociedade construímos?

A vida humana perde importância e cada vez mais o ser humano conhece menos de outro ser humano. Não existe fraternidade efetiva entre os seres humanos. Ou seja, a humanidade caminha a passos largos para o fim, nesse mundo estranho e desconexo que estamos estabelecendo. A lógica do mundo atual diz, mais ou menos, assim: “o novo (moderno e tecnológico) tudo pode e faz, enquanto o velho (antigo e detalhado) que se dane, porque só faz o que pode, sem transcender a lógica do conhecimento”.

Ora, quem vai contar a história que está dentro do computador? Alguns dirão: o próprio computador, mas isso é falso, porque o computador apenas guarda a informação. O computador não fala e não questiona, ao contrário, ele só responde às perguntas. Alguém já disse, responder é fácil, difícil é fazer perguntas. Pois então, ficarão faltando as perguntas, porque os novos não pensam e certamente isso não é uma incapacidade ou um defeito natural, é apenas um modismo, um mal jeito da nossa sociedade deturpada, que deu ao jovem muito poder, antes de lhe cobrar qualquer dever. É sabido que o excesso de liberdade traz preguiça, ociosidade e libertinagem. Onde vamos parar?

A vida humana atual, se resume em “trabalhar” (produzir) e “brincar” (divertir). Não há mais reflexão e nem contemplação. A felicidade tão sonhada pelos “velhos” é apenas mais um produto que sai da linha de montagem e que se consome muito rapidamente. Sonhos são violências mentais que precisam ser reprimidos, numa realidade sempre mentirosa de que a imagem da pessoa é sempre mais que a própria pessoa. A coisa que eu faço (represento) é mais importante que aquilo que eu sou, isto é, o personagem suplanta a pessoa do ator.

Aliás, cumpre lembrar, imagem é tudo nessa sociedade fotográfica, cinematográfica e visual que hoje vivemos. Não importa a canalhice, pois o importante é manter a boa imagem. Ninguém quer efetivamente saber de nada, além daquilo que possa lhe trazer alguma vantagem mercantil imediata e ilusória. O ser humano virou migalha do egoísmo e trabalha ativamente para que essa migalha vire pó e que desapareça no ar como fumaça. O ser humano está cada vez mais estranho e menos humano.

Desde que o sujeito faça alguma coisa “útil” para si próprio e para o seu grupo de interesse, ele pode tudo. Ninguém precisa e nem deve pensar e refletir sobre a sociedade atual, basta fazer e continuar sempre fazendo aquilo que lhe mantém na condição, de acordo com os interesses próximos. Já viramos máquinas de traquinagem e embustice há muito tempo.

O maior problema é que a educação e os educadores também estão nessa situação de picaretas de plantão ao desserviço da sociedade, alguns por descrédito, outros por conivência e outros ainda por isonomia ou por quaisquer ideais sociais infelizes e impraticáveis dentro da condição fraterna que deveria existir entre seres humanos. Infelizmente, a escola, mormente as IESs, como já foi dito, mas que precisa ser ressaltado, está progressivamente deixando de preparar seres humanos (pessoas) e ninguém quer perceber esse fato.

Uma máscara imaginária cobriu o rosto de todos e a capa do super-homem fez com que o ser humano ligado à educação, queira ser apenas um super-herói de si mesmo, sem caráter e sem causa social comum. Ou seja, e escola hoje é um arremedo do herói que historicamente foi e que deveria continuar sendo. A escola deveria ser a fonte de resistência da boa conduta social e não o avesso disso, como tem acontecido ultimamente.

Muitas escolas viraram balcões de negócios para alguns e espaços de arbitrariedades para outros, quando deveriam ser centros de prosperidade e integridade para todos. Voluntarismo, benemerência, filantropia, que foram palavras costumeiras nas escolas, hoje, salvo raras e insignes exceções, só são encontradas nos dicionários, que ninguém mais lê e quando lê se assusta, porque não conseguem conceber os seus significados. Onde vamos parar?

Nesse exato momento, vivemos numa Pandemia, onde milhões de pessoas já morreram pelo mundo afora, mas a grande maioria dos “seres humanos” não está nem aí e continua brincando com a vida e com a sociedade, como se tudo fosse muito simples e burlescamente divertido. O natural se confunde com a vulgar e o trivial com o ordinário. Nesse mundo da imagem fotográfica, a vida humana é apenas um mero detalhe perdido na história, onde o que vale é a artificialidade e a necessidade de aparecer sempre mais, para agradar o ego e a alguns afetos e interessados.

Os poderosos brincam com a população que se deleita ou se perde em falsas notícias de soluções mágicas e muito duvidosas. Como consolo, muitos ainda dizem, para reforçar a crença, “tudo bem, a vida é assim mesmo e se eu não morrer, chego lá”. Mas, onde fica lá? Isso ninguém sabe e nem explica! Na verdade, não existe projeto, nem rumo de viagem e muito menos existe o porto de chegada.

Não há esperança, além do não morrer ou do morrer mais tarde possível. Viver é uma simples questão cotidiana ilógica e impensada desse ser humano indolente e cada vez mais frio e menos humano. A realidade mais dolorosa já não causa dor nenhuma, nesse infeliz e aí ele diz: “amanhã, se eu ainda estiver vivo e tiver condições, vou pensar em fazer alguma coisa pela sociedade, mas hoje eu só quero trabalhar, ganhar dinheiro e me divertir”. É triste, mas esse ser existe e ele é fisicamente semelhante a qualquer outro ser humano. Entretanto, falta-lhe exatamente a humanidade. Não há nenhum projeto, além do hoje e do agora.

Que os “velhos” pudessem pensar assim, eu, mesmo não concordando, até entenderia, porque a maioria deles já viveu bastante. Esses “velhos” já fizeram suas histórias, contaram outras e certamente já deram a sua colaboração à sociedade de várias maneiras. Mas, os “jovens” necessitam agir de maneira diferente. No entanto, são exatamente os “jovens” que estão agindo como “velhos” nesse mundo incoerente e insano que só emburrece e se torna insistentemente mais desumano.

São “jovens” que estão destinados a permanecer nesse mundo sem história e sem sentido. Ou melhor, são “jovens”, que embora conheçam as escolas, estão totalmente desorientados na vida e cujo único objetivo é o próprio umbigo, ou, quando muito algum umbigo próximo e comum. Todos esqueceram e apagaram o que já existe e criam outra realidade a partir do nada, como se o passado, mesmo o deles, nunca tivesse existido. Entendem o futuro como uma simples continuidade contingencial do presente, que não precisa de nenhuma programação.

Não há sonhos e nem planos, existe apenas conformidade de que tudo vai acabar mesmo, dentro de um niilismo tão profundo que assustaria o próprio Nietzsche. Então, para esses “jovens” não há nenhuma coerência e nem faz sentido pensar no bem, pois a morte é certamente o único sentido da vida. E Deus e a religiosidade, onde ficam nessa história? Infelizmente, Deus também é só mais um detalhe insignificante e quase desprezível para a grande maioria.

Nem Deus e nem as religiões têm conseguido mudar o caos, haja vista que mesmo nessas questões religiosas, apenas dois lados atuam significativamente: os fanáticos e os descrentes, que agem de maneira a manter a condição imperante. Por outro lado, a grande maioria, que transita entre os dois extremos citados, simplesmente não se envolve, possivelmente, porque em algum momento da história, alguém disse: “religião não se discute”. Os “jovens” estão perdidos e ainda não sabem, porque eles acreditam piamente que estão bem, permanecendo longe da discussão religiosa.

Meus amigos, como eu já disse, aparentemente estamos caminhando para o fim e voltando ao caos. Quer dizer, está parecendo que o juízo final será semelhante ao caos inicial. A pandemia do COVID 19 resplandeceu a ironia de Voltaire e todo mundo está podendo dizer e fazer o que quiser numa desordem generalizada. O mundo emburrece, muita gente diz coisas, mas ninguém está fazendo realmente nada para mudar esse quadro lamentável. Ou a humanidade reencontra o fio da história e começa a agir em prol da recuperação dos verdadeiros valores humanos ou o juízo final está mais próximo do que muitos podem pensar.

LUIZ EDUARDO CORRÊA LIMA (66) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

23 jun 2021
Mais Humanidade Real e menos Ilusões Virtuais

Mais Humanidade Real e menos Ilusões Virtuais

Resumo: Agora estou me atrevendo a emitir minha opinião sobre o que acontece com as pessoas muito envolvidas nas redes sociais. Acredito que as pessoas precisam refletir um pouco mais sobre sua verdadeira humanidade, porque acredito que as chamadas redes sociais de INTERNET têm criado mecanismos que levam a criação de fantasias, além de maior divergência e intransigência entre as pessoas. Assim, questiono se a humanidade precisa realmente se envolver nessas redes e sugiro alguns medidas que possam minimizar os problemas. Como eu já disse em outro artigo: “penso que é preciso entrar no mundo real, antes que seja tarde”.


No dia 02 de junho de 2021, o jornalista Alexandre Garcia publicou um artigo (As Bolhas), em vários jornais do país e comentou sobre o citado artigo num vídeo, em seu canal do Youtube. Mas, e daí, o que eu tenho a ver com isso? Pois então, na verdade, eu já estava matutando exatamente sobre essa questão, de que as pessoas, de uma maneira geral, vivem num mundo exclusivo e diferente, que só interessa a elas próprias e os seus amigos ou afins, mais próximos.

Alexandre Garcia chamou isso de “bolha”, eu prefiro chamar de “grande ilusão”.  Embora a ideia seja a mesma, é preciso deixar claro que, com o tempo, a “bolha” sempre acaba estourando, mas a “grande ilusão”, geralmente perdura por toda a vida do indivíduo e isso é bastante ruim, porque, por conta disso, o indivíduo quase nunca consegue assumir a realidade. Em suma, a “bolha”, pelos mais diversos mecanismos, um dia acaba e o indivíduo acorda para a realidade, mas a “grande ilusão” geralmente morre com ele.

Enfim, “bolhas” ou “grandes ilusões” são resultantes de males sociológicos bastante comuns nas sociedades modernas. Doravante tratarei apenas como “grande ilusão”. Muitas vezes, a “grande ilusão” é criada propositalmente por um interesse qualquer dentro do grupo social, a fim de resolver uma determinada situação, como uma espécie de convenção, onde todos passam a assumir aquilo. Outras vezes, ela aparece em consequência da visão limitada do grupo do próprio grupo, que é incapaz de sair de seu mundo restrito e entender que existem outras coisas no entorno.

A diversidade do mundo, as diferentes ações e funções humanas, constituem uma gama impossível de ser analisada e avaliada por um indivíduo qualquer, ou mesmo por um grupo social, porque sempre há algo que não é conhecido e por isso existe necessidade de “especialistas” que possam esclarecer as dúvidas e orientar caminhos. Entretanto, a maioria dos grupos sociais acreditam que eles se bastam e que não precisam da opinião de outros e assim criam seus fantasmas, suas “grandes ilusões” e as assumem como verdadeiras.

Nos assuntos do trabalho essa questão é muitíssimo comum, como bem citou Alexandre Garcia em seu artigo, por exemplo jornalistas só têm contato com jornalistas, médicos com médicos, economistas com economistas e vai por aí. Dessa maneira, parece que o restante do mundo e das funções, simplesmente não existem e assim, todas as verdades são limitadas à capacidade daquele grupo. Pois então, a sociedade está caolha. Aliás, está praticamente cega, porque não enxerga quase nada do real e se ilude com aquilo que pensa ser verdade, dita por algum dos “especialistas”

A constatação acima cria uma série de deformidades, verdadeiras “monstruosidades sociais”, que faz com que, por exemplo, os jornalistas pensem saber mais sobre a medicina do que os médicos, a ponto de apontarem e julgarem as ações médicas dentro de seus parcos conhecimentos jornalísticos. Ora isso, além de ser um abuso e uma arbitrariedade sem tamanho. Mas, o pior de tudo, é que essa deformidade é imposta e distribuída pela mídia como algo concreto e efetivo, tornando-se uma “verdade”.

Por favor, não prejulguem o que eu não disse, com o meu exemplo, até porque isso acontece em qualquer profissão e em qualquer grupo social fechado, onde existam pessoas com interesses comuns e que estejam de alguma maneira isolados de outros grupos. O tamanho desse problema é maior ou menor, quanto maior ou menor for o grau de influência desse grupo na sociedade como um todo.  Infelizmente esse mal sociológico tem aumentado bastante com os grupos nas redes sociais da INTERNET, onde só se discute aquilo que é de interesse do próprio grupo. Qualquer coisa diferente, simplesmente é posta de lado ou totalmente desconsiderada, como se não existisse, e assim, as “verdades” são sempre as mesmas. Quem duvidar, que faça um teste e coloque uma questão diferente dentro de um grupo qualquer, pois aí poderá observar que praticamente ninguém irá se manifestar. Será como se aquilo fosse uma pequena sujeira na tela, mas que não interfere na imagem e assim, logo “desaparece”.

Em tempos de COVID e de muitas mortes, lamentável e tristemente fizemos isso várias vezes. Isto é, fomos informados de tantos doentes e de tantas mortes, que “escolhemos” aqueles com quem efetivamente nos preocupamos, mas a grande maioria passou em brancas nuvens. Vejam bem, eu sei que não existe maldade nesse tipo de ação, o que existe mesmo é falta de envolvimento com o mundo. Todos estão tão envolvidos com suas questões e com seus interesses, que priorizam ações e não dão importância efetiva à outras. É claro que do ponto de vista social, isso não é nada bom e do ponto de vista estritamente humano é pior ainda. Mas, como resolver esse problema?

Obviamente eu não tenho receita de bolo para resolver essa questão, mas imagino que estar atento a tudo que acontece e observar particularmente as opiniões contrárias é o primeiro passo a ser dado. Depois, deve ser feito um esforço para entender que os seus amigos ou os seus grupos sociais (profissionais) são pessoas iguais as demais, obviamente com características próprias, mas não são necessariamente melhores ou piores que outras pessoas e muito menos podem são “os donos das verdades”. As ações e funções, apesar de diferentes daquelas de seus interesses próximos, também são importantes ao todo da sociedade e, deste modo, também precisam ser aceitas e respeitadas. Por outro lado, os espaços físicos, os ambientes, sejam eles quais forem, também merecem cuidado e respeito.   

Se passarmos a investir numa política pessoal de nos antenarmos um pouco melhor com o restante do mundo, certamente isso será bom para todo mundo, mas podem acreditar que será especialmente bom para cada um de nós mesmos. A preocupação com o outro, um pouco mais de humildade e zelo, menos egoísmo e arrogância são características valiosas no trato com o outro, mesmo nos grupos sociais de INTERNET.

Precisamos parar de criar “grandes ilusões”, precisamos ouvir mais para entender mais e aprender efetivamente mais. Nosso grupo social (profissional), por melhor que seja, é apenas mais um dos milhares (milhões) de grupos que existem. Nossos interesses são simplesmente mais alguns dentro da infinidade de interesses que podem ser identificados. Mas tanto nossos grupos, quanto nossos interesses envolvem pessoas, seres humanos, e nossa humanidade é que deve ser sempre valorizada nas relações sociais. Pois então, esse detalhe final, que tem passado despercebido da grande maioria, talvez seja o mais importante de todos.

Antes de terminar, quero deixar quatro sugestões estratégicas, que talvez, possam ser bastante positivas para evitar as “grandes ilusões”, as quais, como foi visto, podem trazer problemas sociais intensos e algumas vezes até causar conflitos mais sérios.

  1. – Antes de emitir uma opinião, por mais certeza que você tenha sobre ela, pense bem na maneira de como ela deve ser referida, às vezes é melhor sugerir uma reflexão sobre o assunto.
  2. – Não assuma verdades pessoais como como situações imutáveis e invioláveis. Aquilo que você crê não tem que ser aquilo que outro tem que crer, seja humilde, principalmente quando o outro parece conhecer mais do assunto em questão que você.
  3. – Diversifique seus grupos sociais, evite as “rodinhas” e as “panelinhas”, diversifique seus contatos e suas relações, porque isso, ao menos teoricamente, lhe tornará naturalmente mais eclético e intelectualmente mais capaz de questionar certas coisas.
  4. – Aprenda um pouco de tudo, mas lembre-se, principalmente, que você não precisa necessariamente emitir opinião sobre tudo. Deixe que os verdadeiros especialistas discutam as questões para as quais se especializaram. Quanto aos outros “especialistas”, talvez seja melhor dar de ombros para eles.

Meus amigos essas sugestões talvez não façam vocês pessoas mais felizes, mas certamente elas ajudaram a que você seja uma pessoa mais agradável às outras pessoas e isso vai naturalmente fazer com que vocês produzam progressivamente menos “grandes ilusões”, o que fará você e seus grupos sociais mais felizes ou, pelo menos, mais capazes de suportar as adversidades da vida, mormente da vida na INTERNET.   

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

12 abr 2020
O Aviso Produzido pelo Corona Vírus (COVID-19)

O Aviso Produzido pelo Corona Vírus (COVID-19)

Resumo: O artigo trata da preocupação com o COVID-19 e sua possível relação com as ações antrópicas planetárias. É sugerido que a partir de agora a humanidade comece realmente a pensar mais sério sobre os problemas ambientais globais, pois esse parece ser o único caminho para a continuidade da espécie humana sobre a superfície do da Terra.


Aproveitando esse momento drástico, além de terrivelmente incomodo e chato, onde todos falam quase que exclusivamente do Corona Vírus (COVID-19), eu vou pegar “carona” e fazer um “convite” para propor uma “virada” e consequente ingresso num novo tempo, numa “Nova Era” planetária no sentido mais amplo e holístico que a expressão puder ter. Já que o conceito de “Nova Era” tem sido, de fato, muito discutido e por isso mesmo é de difícil entendimento, vou tentar ser mais objetivo. Talvez, a ideia contida no livro de Daren Kemp (2004), seja o mais condizente com a minha visão.

Obviamente o planeta não vai mudar para atender aos interesses humanos, até porque isso é ilógico do ponto de vista físico e químico, mas porque é principalmente impossível do ponto de vista operacional. Entretanto, o planeta já mudou e continuará mudando física e quimicamente sempre, por conta de questões climáticas e tectônicas naturais. Entretanto, mais recentemente, surgiu uma outra força, que embora pequena no contexto individual é muito grande no contexto global (planetário) e que tem sido acrescida as ações naturalmente modificadoras do planeta. Essa força chama-se ação antrópica.

Um Químico holandês e um Biólogo americano (Crutzen & Stoermer, 2000) até criaram um novo termo, identificando um novo período geológico separado do Holoceno, para identificar esse momento em que nos encontramos. Segundo esses autores, estamos vivendo o Antropoceno, ou seja, o período que define exatamente o tempo em que as ações humanas começaram a interferir e mudar mais precisamente a realidade natural.

As ações do ser humano tem produzido, mormente nos últimos tempos, uma soma significativa de consequências que têm causado transformações metabólicas profundas no comportamento natural da Terra. Além disso, o homem também tem imposto, reforçado e acelerado, por conta de seus atos ingênuos ou inconsequentes, as consequências dos processos naturais da estrutura, organização e manutenção planetária, o que só amplia as notórias e cada vez mais conspícuas mudanças.

Ao seu modo, o planeta tem reclamado e mandado inúmeros avisos à humanidade, mas nada de importante aconteceu como resposta humana. O ser humano, “dono do planeta” continuou seguindo seu caminho, como se nada estivesse acontecendo. Mas, eis que agora, depois de vários avisos prévios de menor intensidade, a ira planetária se manifestou mais séria e acentuadamente, sob a forma de um vírus, um pequeno e mísero vírus. O vírus é um instrumento bioquímico na fronteira entre um mineral e um organismo vivo, que pode causar moléstias em organismos vivos, inclusive nos humanos. Pois então, um vírus causa uma pandemia, que gera um pandemônio na humanidade e nos mostra os quanto somos frágeis e pequenos perante a natureza.

Penso eu que esse fato certamente deverá levar a termo final algumas práticas antrópicas corriqueiras ilógicas, insensatas e sobre tudo, incabíveis, que vinham sendo comuns na atualidade.  Por outro lado, deverão surgir novas práticas, que reavaliem a ideia absurda de crescimento econômico ilimitado, dentro de um espaço planetário finito e cada vez mais limitado.  Talvez, a ideia de decrescimento de Serge Latouche (2006) tenha, sim, que ser analisada com atenção e bons olhos, para poder ser praticada progressivamente pela humanidade.

A praga humana crescente e destruidora precisava ser contida e o COVID-19, talvez tenha sido o grande plano ou projeto planetário de contenção e defesa que a Terra promoveu para dar o ultimato à espécie humana. Nesse momento a humanidade está sendo “convidada” a repensar, reprogramar e refazer suas noções de desenvolvimento econômico contínuo e perpétuo. Está claro que é impossível um planeta continuar crescendo economicamente com os 8 bilhões de humanos atuais e uma projeção modesta de chegar a 11 ou 13 bilhões até o final do século, sugando cada vez mais as tetas do planeta e promovendo consequentemente as ações e os eventos catastróficos que temos visto recentemente. Isso precisa acabar.

Certos lugares planetários como o Mercado da cidade de Wuhan, na China, onde se compra e vende tudo que é tipo de organismos vivos (animais ou vegetais), vivos ou mortos, para todos os tipos e gostos e para os mais diversos fins, não devem ser benéficos à humanidade, embora posam ser benéficos à algumas pessoas. É bom citar para os incautos, porque eu acredito que a maioria das pessoas não saibam disso. Wuhan não é uma cidadezinha, ao contrário, é uma cidade moderna e a maior cidade da região central da China, possuindo mais de 11 milhões de pessoas e que, compondo uma região extremamente conurbada com outras cidades menores, forma uma concentração de cerca de 20 milhões de seres humanos. Quer dizer, não estamos falando de uma cidadezinha do interior, estamos falando de um dos grandes centros populacionais da chineses.

O mercado de Wuhan, não é um mercado municipal pequeno, como se vê, por exemplo, na maioria das cidades brasileiras pelo interior. Aliás, aquilo nem pode ser chamado de mercado, pois na verdade é um grande centro de contaminação de vírus e bactérias geradoras de doenças. É um centro oficial de transmissão de moléstias, com autorização de uso e sem nenhuma forma de segurança sanitária. Mas, é bom ressaltar que o Mercado de Wuhan, não é o único local da China ou do mundo, em que esse tipo de coisa acontece, porque o ser humano criou vários lugares do tipo Mercado de Wuhan pelo mundo afora. Wuhan é apenas um exemplo infeliz e comprovado dos muitos que existem no planeta. Aqui no Brasil mesmo, guardadas as devidas proporções, temos vários “mercadinhos de Wuhan”.

Até alguns dias estávamos em rota de colisão com o planeta, mas agora parece que efetivamente já colidimos e assim, chegamos a uma situação que exige resposta imediata: ou cuidamos da Terra ou ela “cuidará” de nós.  Dentro dos preceitos estabelecidos pela evolução biológica básica, apenas os aptos se adaptam e sobrevivem. Não quero ser fatalista, mas tenho que ser, porque me parece muito simples, com ou sem teoria da conspiração, a espécie humana necessita se adaptar às condições impostas pelo ambiente planetário ou a extinção será o caminho natural e prematuro de nossa espécie.

O que está errado e necessita ser repensado é o modelo de como a humanidade deveria ter caminhado e deverá estar caminhando doravante. Considerando que agora não estamos mais na fase do que poderá acontecer, pois já aconteceu e estamos presenciando a calamidade criada. O incêndio já aconteceu e está difícil de apagar. O leite já foi derramado e não há como retorná-lo ao recipiente. Daqui para frente, a solução é fazer diferente, para tentar não derramar mais leite. Isso será bom para o planeta e certamente será muito melhor para a humanidade.

As doenças, inclusive muitas viroses, além das últimas de origem chinesa, sempre existiram e obviamente vão continuar existindo, porque isso também faz parte do metabolismo planetário, porém, doravante, a humanidade pode, deve e tem que trabalhar na direção de minimizar essas grandes epidemias (pandemias) e não na direção contrária como vinha fazendo, dando de ombros para esses problemas, ou tratando-os como se fossem questões secundárias ou menos importantes ainda.

A prevenção e o cuidado têm que ser as palavras de ordem na relação Homem-Terra. O célebre chavão que diz: “quem ama cuida”, agora tem que ser regra oficial na nova postura para a “Nova Era” planetária. Tratar o planeta como a nossa casa não é mais uma questão apenas religiosa, mas sim uma necessidade premente, que precisa ser encarada pelos países e suas nações.

O ambiente planetário tem que ser respeitado e as ações humanas têm que ser limitadas àquilo que é estritamente necessário à sobrevivência das pessoas. O consumismo exacerbado que se estabeleceu tem que ter fim. A exploração mineral, animal e vegetal insana e inconsequente, tem que acabar. O uso indiscriminado e absurdo de agrotóxicos tem que ser inviabilizado. A queima de combustíveis fósseis tem que decrescer. Para que essas coisas efetivamente ocorram, o crescimento populacional humana precisa ser contido, o desenvolvimento econômico tem que ser limitado, minimizado ou mesmo extinto em alguns locais.  A verdade é que, não dá mais para tapar o sol com a peneira.

Eu quero deixar claro também, que não se trata aqui de discutir sistemas e regimes de governo ou posições ideológicas dessa ou daquela facção. Na verdade o que todos precisamos é entender o planeta como fonte única de tudo que a humanidade necessita e usa cotidianamente. Depois desse entendimento efetivo, temos que passar a garantir que essa fonte terrestre seja usada e mantida, sem comprometimento dos demais organismos e dos próprios seres humanos, principalmente daqueles que ainda não nasceram.

É evidente que se continuarmos no nível frenético de apropriação e degradação que tivemos até aqui, talvez os futuros seres humanos, nem cheguem a nascer. Basta! Está na hora, ou melhor, já passou da hora de parar de usar inconsequentemente os recursos naturais. O COVID-19 parece ser o aviso planetário derradeiro para que o homem se manifeste pela vida e não pela morte. A mensagem atual é muito simples: “a humanidade tem que cuidar da Terra, para que a Terra possa continuar abrigando e mantendo o homem”.

Não existe nenhum segredo e nenhuma dificuldade. O respeito ao planeta, seus limites e as formas vivas nele contidas é a grande sacada e agora a humanidade não pode dizer que não sabe disso. Não se trata mais do armagedom ou qualquer teorias sobre o fim do mundo, agora é a realidade, ou cuidamos da Terra ou ela irá dar conta de nossa espécie, até porque nós é quem dependemos dela.

A Ciência e os cientistas estão avisando faz muito tempo. A Terra está urrando faz muito tempo. A humanidade estava cega ou não queria enxergar o óbvio faz muito tempo e assim, continuou preferindo pagar para ver. Bom, agora, eu acredito que a humanidade não está gostando do que, infelizmente, está vendo. O mundo está assustado e parado por conta de uma porcariazinha de um medíocre e diminuto vírus. Meus amigos, se um vírus pode parar o mundo, o ser humano certamente também pode parar, basta apenas querer, de fato, e partir para fazer diferente do que sempre fez.  

Novas práticas, cuidado e prevenção, como já foi dito, devem ser a tônica para o futuro, ou então, quem sabe um novo vírus mais perigoso, ou algo maior e muito mais significativo definirá grotesca e compulsoriamente o fim de nossa espécie. O planeta vai continuar sua viagem e a vida vai se modificar um pouco, mas vai continuar. Historicamente nós invertemos a ordem das coisas: o ser humano não faz falta ao planeta, o planeta é quem faz falta ao ser humano. Como o ser humano desprezou o planeta, ele está prestes a deixar de existir e, pior ainda, levará algumas outras formas vivas na sua sombra.

A Evolução Biológica levou bilhões de anos para permitir a formação dos seres humanos e nos trazer até esse momento histórico, e nós com apenas, cerca de 200 mil anos de idade, “estamos querendo” acabar com o trabalho da evolução biológica. Temos trabalhado antagonicamente à Evolução, pois ele nos diz um caminho e traçamos, deliberadamente, outro. Temos contrariado a criação natural e destruído o planeta que sempre nos forneceu tudo, absolutamente tudo. Existe algo errado com nossa espécie!

Assim, o planeta parece que não aguenta mais o ser humano, portanto CUIDADO. O COVID-19 parece ser o aviso final. Tenho medo que daqui para frente não haja mais avisos e sim ações efetivas. Estamos todos na mesma nave espacial e todos perecemos, inclusive o piloto. Pensem nisso autoridades. Pensem nisso países. Pensem nisso pessoas.

Referências Bibliográficas

CRUTZEN, P. J. & STOERMER, E. F. The ‘Anthropocene’, Global Change Newsletter. 41: 17–18, 2000.
KEMP, D. New Age: A Guide: Alternative spiritualties from Aquarian Conspiracy to next age, Edinburgh, Edinburgh University Press, 2004
LATOUCHE, S. Pari de la décroissance, Paris, Editions Fayard, 2006.

Caçapava, 05/04/2020

Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)

20 jan 2020
O Maior Problema da Humanidade ao Longo da História

O Maior Problema da Humanidade ao Longo da História

Resumo: Nesse texto coloco minha impressão do atual estado de degradação da sociedade, em consequência da inversão de valores e da falta de generalizada de consideração do ser humano pelo próprio ser humano. Acredito que esse seja realmente o maior problema da humanidade na atualidade e sugiro que este deve ser o caminho para iniciar a recuperação da sociedade.  


Muita gente costuma afirmar que: “o mal não existe: o mal é uma criação do homem”. Em certo sentido, por mais que muitos não queiram admitir, se acaba mesmo tendo que aceitar essa afirmação como verdadeira e considerando que a maldade é uma questão específica humana. Até porque, embora se observe muita agressividade na natureza, não se vê nenhuma maneira estrita de maldade nas demais espécies vivas do planeta, principalmente no que diz respeito aos seus respectivos semelhantes.

Por outro lado, pelo que tem sido possível observar ultimamente, está parecendo que o mal humano está progressivamente maior, pois a humanidade aparenta estar em guerra contra si e contra o planeta e assim, a maldade tem se demonstrado como uma característica cada vez mais comum da nossa espécie. Mas, será que isso é mesmo uma verdade? Somos, de fato, uma espécie má ou apenas está faltando um pouco mais de coerência, de amor, de respeito e comiseração no tratamento com os nossos semelhantes?

Atualmente as pessoas não querem saber quem são as outras: “todo mundo está aqui, mas parece que não está, quase ninguém se mostra abertamente à sociedade, isto é, ninguém é, nem quer ser coisa alguma num contexto maior, simplesmente para não ter que se explicar e nem ter que se comprometer”. Sendo assim, como ninguém quer se mostrar, acaba sendo melhor também que as pessoas não procurem saber muito sobre as outras. Quer dizer, a coisa é mais ou menos assim: “eu não falo de mim; você não fala de você e assim a gente não se conhece, não se envolve e realmente não se responsabiliza”. “Eu vivo minha vida, você vive a sua e nós seguimos em frente, sem olhar para os lados”. Em outras palavras: o desleixo e o descaso tomaram conta da sociedade, que se despreza e se individualiza cada vez mais.

Por conta disso, hoje, na grande maioria dos grupos sociais, ninguém sabe quem é quem e deste modo apenas se vive de olho no próprio umbigo e não se convive de fato com quem está à volta. Por mais interessante, destacado e até mesmo importante que alguém possa ser num determinado grupo, na maioria das vezes ninguém olha, nem repara, e muito menos se preocupa com esse sujeito. A verdade é que cada indivíduo humano se fechou no seu mundo, olhando apenas para o seu umbigo e ninguém quer saber de nada mais, mormente, do umbigo do outro.

Ora, como é possível conhecer o mundo sem conhecer as pessoas, os demais seres humanos semelhantes a nós, que estão no mundo ou, pelo menos, a nossa volta, no nosso grupo social? Como é possível fazer parte verdadeiramente de um grupo social, se não se procura ter conhecimento real e efetivo das demais pessoas que compõem esse grupo? Pois então, esse é o grande problema, que gera toda a crise e toda aparente e progressiva maldade dos seres humanos.

Todo mundo faz, fala, causa e acontece, independentemente de quem esteja do outro lado, porém ninguém ouve, atende, participa, compartilha com quem está do outro lado. Para a grande maioria dos humanos, as outras pessoas simplesmente inexistem. O outro, aquele que está do nosso lado, tem sido sempre o que menos importa no atual convívio social da humanidade De uma maneira geral, o ser humano está cada vez mais arrogante e menos humilde no relacionamento com seu semelhante. O egoísmo tem sido a marca maior do nosso tempo e tudo se resolve na primeira pessoa do singular, eu. Enquanto essa situação não mudar, será bastante difícil, talvez seja mesmo impossível, modificar o mundo humano e suas terríveis e crescentes tendências à maldade.

As coisas boas que todos dizem querer e o bem maior da sociedade humana, dependem da ação de todos e por isso todos necessitam se conhecer e participar, ou melhor, efetivamente conviver. Cabe lembrar que conviver quer dizer viver junto e viver junto é muito mais do que apenas morar ou habitar junto. Viver junto envolve compromisso de vida junto, ou seja, ser junto e não apenas de estar junto. Conviver é se envolver e compartilhar sentimentos, momentos e atitudes juntamente.

Para conviver tem que conhecer. Pense bem e responda: qual foi a última vez que você pensou em apenas ligar para o seu “amigo”, só para saber como ele está ou o que está fazendo? Para saber como está a saúde daquele filho dele que estava adoentado? Para oferecer uma ajuda voluntária naquele projeto que ele pretendia desenvolver? Pois então, assim é que efetivamente se convive.

Infelizmente, a situação costuma ser assim: o indivíduo que manda sempre um “Bom dia” pela rede social é o mesmo que não cumprimenta seu subalterno, quando chega no seu local de trabalho e finge que não vê aquele vizinho, quando cruza com ele na rua. Ora, alguma coisa está errada com esse tipo de indivíduo, mas é exatamente isso que traz a maldade, porque o outro se sente ofendido e acaba contra atacando. Deste modo, duas pessoas se tornam inimigas, sem nem se conhecerem direito, apenas por mágoa, por precaução ou por se auto defender daquilo que ela pensa que a outra pode fazer. Meus amigos, infelizmente essa é a verdadeira raiz do problema: “está faltando humanidade aos seres humanos”.

Faz muito tempo que já viramos máquinas e só pensamos em ter e poder. Não importa o outro, independentemente de quem seja esse outro, desde que eu possa mais ou que eu tenha alguma vantagem. Não há tempo e nem há direito para quem é diferente daquilo que a minha vontade quer. Quando será que os preocupados em ter entenderão que antes de ter é preciso ser, no nosso caso, ser humano? Quando será que os preocupados em poder entenderão que só existe poder com dominação e se eu posso, alguém necessariamente deixa de poder? Se há quem tem e pode, os “poderosos”, certamente há quem não tem e não pode, os “dominados”. Os poderosos se esquecem costumeiramente, que eles vivem na dependência direta dos dominados e isso gera repulsa e ódio.

Por outro lado, se os dominados, de repente, resolverem cruzar os braços, o que será dos poderosos? Isso também gera repulsa é ódio. O embate se faz e a maldade cresce a partir dessa competição medíocre que existe entre dois seres semelhantes, que deixam de ser humanos, pois não se toleram, exatamente porque inverteram as prioridades e a noção de viver bem.

É claro que essa competição pode produzir muita dor, principalmente para o lado mais fraco, os dominados, mas certamente, se houver interesse, também poderá trazer muito valor a ser descoberto por parte dos poderosos e egoístas.  Pois então, é exatamente isso que está faltando ao mundo, principalmente aos pretensamente poderosos, o valor. Não me refiro ao valor monetário, mais o valor verdadeiro, o valor que realmente é e não o valor que apenas vale.

Estou falando daquele valor que envolve a ética, o direito, a justiça, a igualdade, a decência, o respeito, a moral e sobretudo o altruísmo e a identidade humana. Todos esses adjetivos que mostram que o outro é tão humano, quanto aquele que tem recursos e poder. Esse outro humano, que não tem recursos e poder, também precisa de espaço para sobreviver e principalmente para viver na sociedade, com todos os direitos e deveres que ela possibilitar. A humanidade precisa compreender que o bem maior da sociedade é consequência da prática cotidiana dos bons valores.

Pois então, se o ser humano efetivamente passar sempre a tratar o outro ser humano como, de fato, todos os seres humanos querem e devem ser tratados, tenham certeza que tudo começará a mudar nas relações humanas e a maldade humana passará a ser progressivamente menor. Desta maneira, nós deixaremos de dar efetiva razão a máxima que iniciou esse texto e provaremos que certamente, o mal é indiferente e pode até existir, mas a maldade obviamente não é uma criação humana arbitrária e naturalmente condicionada à nossa espécie, como muitos dizem ser.

A maldade é apenas e tão somente o resultado trágico de uma confusão de ações, oriundas de interesses individuais, criadas pela humanidade, em consequência dos desajustes sociais produzidos, por conta da inversão de valores ao longo da história humana. Sendo assim, a maldade humana não é uma condição definitiva. Ao contrário disso, a maldade humana é uma situação temporária que pode e deve ser modificada no interesse precípuo da própria humanidade.

No dia em que a humanidade compreender claramente esse fato e se propuser a trabalhar ativamente contra essa condição desagradável e degradante da sociedade, a partir desse exato momento, finalmente, nós estaremos começando a extinguir a maldade e nos tornando verdadeiramente seres humanos. Nossa condição de seres humanos melhores ou piores, depende exclusivamente de nós mesmos.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

29 jun 2019
PARA VALORIZAR A MULHER NÃO PRECISA EXCLUIR O HOMEM

Para valorizar a mulher não precisa excluir o homem

Resumo: Um aspecto muito discutido nos últimos tempos que é a Valorização da Mulher, porém o autor avalia que certos grupos sociais parecem estar confundindo a necessária valorização da mulher com uma possível exclusão do homem e alerta que essa atitude acaba sendo um grande mal para a humanidade.


Outro dia participei de um evento muito interessante sobre questões culturais, enfocando principalmente a cultura regional e em dado momento do evento uma determinada mulher, apoiada por duas outras, se levantou e fez questão de dizer, com certo sarcasmo e muito vanglorismo, que havia conseguido promover e realizar uma determinada atividade cultural na sua cidade sem a participação de nenhum homem e que, apesar das críticas e reclamações dos homens, a atividade foi perfeita e que os homens morreram de raiva. Ela disse ainda, que seu grupo está planejando e vai realizar a mesma atividade novamente sem a presença de homens, para comprovar que “eles não são importantes”.  Isso, segundo a oradora, é “para demonstrar a valorização da mulher” e as outras duas concordaram plena e efusivamente com aquela situação.

Confesso que não falei nada naquele momento, porque eu era um estranho no ninho, um convidado de última hora que não conhecia a imensa maioria das pessoas presentes (cerca de 40 pessoas, sendo a maior parte mulheres) e talvez minha fala fosse criar uma situação mais desagradável ainda. Mas, eu não só me senti muito ofendido, como fiquei com uma grande preocupação em relação ao rumo que essa chamada luta pela valorização da mulher está tomando. Sinceramente, acho que devo ser muito burro, pois não consigo entender o porquê do simples fato de excluir os homens de uma atividade qualquer, possa ser a melhor maneira de valorizar a mulher. Por conta disso, resolvi escrever esse texto e apresentar o meu pensamento sobre o assunto.

Antes de qualquer coisa, quero dizer que não tenho absolutamente nada contra a valorização da mulher, até porque vejo que essa é, de fato, uma tarefa bastante importante e necessária. Aliás, penso que, realmente, essa é uma necessidade para a sociedade e também, do ponto de vista estritamente biológico, para a espécie humana. Nesse texto, vou tentar discutir sobre isso mais detalhadamente e obviamente já estou preparado para as críticas que certamente irei receber. Por outro lado também quero deixar claro que não estou querendo criar polêmica, estou apenas fazendo um constatação e demonstrando minha preocupação com a questão.

Assim, devo dizer que entendo que quando se fala de valorizar a mulher, o entendimento deve ser de única e exclusivamente valorizar a mulher. Então, quem quer valorizar a mulher, deve realmente valorizar a mulher como entidade biológica representante da espécie humana, assim como o homem. Entretanto, não é bem isso que se tem visto por aí, porque na grande maioria das vezes que se comenta sobre a valorização da mulher.

Na verdade, está se fazendo a desvalorização do ser humano indiretamente, sob a máscara da pretensão de valorização da mulher. Isso acontece porque se quer tentar, por um lado, valorizar a mulher, o que obviamente é muito bom. Entretanto, por outro lado, muitos se aproveitam, deliberada ou ocasionalmente, para simplesmente desvalorizar e excluir o homem e isso não é bom para a espécie humana, nem do ponto de vista social, pois cria um antagonismo social entre os sexos e muito menos do ponto de vista biológico, porque separa a espécie humana em dois grupos distintos e rivais. Vou tentar esclarecer melhor o que estou querendo dizer.

Quando se quer promover a mulher, muitas vezes se esquece que ela é parte de um todo maior, que é a sociedade humana, a qual se compõe de homens e mulheres. Ou seja, a mulher não está, nunca esteve e jamais estará isolada, ela faz parte de um grupo maior que é a humanidade. Ainda que quantitativamente as mulheres componham a maior parte da humanidade, torna-se imprescindível considerar que a totalidade de seres humanos se compõe indistintamente de mulheres e homens. Feliz ou infelizmente nossa é espécie não é como as espécies de minhocas, por exemplo, onde cada indivíduo apresenta os dois sexos. A espécie humana tem dois indivíduos distintos que a compõem, cada um deles com seu sexo, um é o macho (chamado de homem) e outro é a fêmea (chamada de mulher).

Em Biologia, essa condição é definida como espécie dioica, isto é, que possui dois tipos diferentes de seres. As espécies de minhocas são monoicas, porque apresentam um único tipo de ser que abriga naturalmente os dois genitais e assim possui os dois sexos. Esses seres que apresentam os dois genitais num único corpo são biologicamente denominados de hermafroditas. Desta maneira, as espécies de minhocas são hermafroditas e a espécie humana é unissexuada, isto é, possui os sexos separados.

Assim, as minhocas não necessitam criar um “absurdo sexual” para defender os interesses de suas espécies, até porque os indivíduos das diferentes espécies de minhocas devem ser, antes de qualquer coisa, necessariamente, “pró-minhocas”, já que não tem como existir conflito sexual entre eles, haja vista que apresentam os dois sexos no mesmo corpo. A espécie humana, ainda que ocasionalmente, está tentando criar uma situação “pró-mulher” dividindo a espécie humana, além de biologicamente, também sociologicamente, como se mulher e homem fossem espécies distintas. Ora, isso é um absurdo, pois homem e mulher são biologicamente indivíduos da mesma espécie, a qual, por ser dioica, apresenta seres morfologicamente distintos quanto ao sexo, como já foi dito. 

Alguns segmentos da espécie humana, diferentemente das minhocas, parece que não querem ser “pró-humanos”, porque esses segmentos estão, cada vez mais, tentando ser “pró-sexo feminino”. No passado era o sexo masculino (machismo – “pró-homem”) e agora é o sexo feminino (feminismo – “pró-mulher”). Ora, isso não faz nenhum sentido biológico e acaba sendo uma grande idiotice social. É claro que existe uma triste e lamentável verdade histórica, na qual a mulher foi muito prejudicada pela sociedade machista, mas isso não obriga a essa tentativa atual absurda que alguns têm pleiteado, de criar uma ruptura sociológica contundente da mulher com o homem. Até porque, isso certamente é muito ruim para a espécie humana como um todo.

Com certeza, nesse momento, muita gente já está me xingando e dizendo que estou dizendo essas coisas porque sou homem e ainda que certamente eu não conheço, ou não ligo para as dificuldades das mulheres. Mas, eu quero dizer que penso exatamente ao contrário desse padrão, pois sou extremamente ciente dos males e preconceitos que as mulheres sofreram e muitas ainda sofrem, ao longo da história humana e, como já afirmei no início desse texto, não concordo em absolutamente nada com isso. Entendo que a mulher, deve sim, se valorizar e se mostrar para a sociedade, que lamentavelmente ainda é machista em muitos casos, demonstrando sua importância para a espécie humana, tanto do ponto de vista biológico, como social.

Mas, por outro lado, eu também não acredito que abrindo oficial e declaradamente uma “guerra dos sexos” essa situação (questão) será resolvida. Isso, considerando que exista mesmo uma questão nesse contexto, porque talvez haja apenas rusgas de sentimentos e exageros comportamentais, que lamentavelmente aconteceram e ainda acontecem. Até porque, o fato da história ter dado privilégios ao homem ao longo do tempo, não significa que doravante qualquer indivíduo do sexo masculino deva ser punido ao nascer pelo simples fato de ter nascido homem. É certo que existem homens contrários às mulheres, mas isso não é uma regra atual. Aliás, acredito que nunca foi.  

Em sema, eu não acredito que haja necessidade de querer combater e exterminar os homens, até porque se isso acontecer a nossa espécie, que não consegue se reproduzir por nenhum dos mecanismos de Partenogênese*, acabará se extinguindo. Deste modo, acredito que se vangloriar apenas e tão somente, pelo fato de trabalhar para excluir os homens de determinadas situações não me parece ser correto. Aliás, parece ser algo inútil, além de desagradável, malévolo e muito ruim, que ainda soa mais como uma forma de tentar se vingar dos homens, do que efetiva e propriamente de valorizar as mulheres.

Não vale a pena lutar pela exclusividade feminina, o que vale a pena é demonstrar que a mulher pode fazer certas coisas, em certos momentos, muito melhor que os homens e vice-versa, apenas porque a nossa espécie é assim. Existem homens brilhantes e obviamente também existem mulheres brilhantes e nós não podemos nos esquecer disso e nem tentar impedir que as coisas continuem naturalmente sendo e acontecendo assim, porque essa é uma condição fundamental para a manutenção da espécie humana.

Por favor, pensem nisso e vamos tentar parar com esse negócio absurdo de querer excluir os homens e se vangloriar com isso. Lembrem-se que homens e mulheres são dois lados de uma mesma moeda, que é a espécie humana. Só manteremos a força e o valor dessa moeda se protegermos e preservarmos os direitos individuais de ambos. O melhor para a espécie humana é que o homem e a mulher sejam iguais em direitos e deveres e que esta isonomia passe a ser real e verdadeira em todas as situações. Espero, sinceramente, e sem nenhuma maldade, que minha mensagem aqui expressa seja avaliada e entendida. Somos seres humanos e não apenas homens e mulheres. Toda vez que um homem se vangloria de ser superior a uma mulher ou vice-versa, a espécie humana morre um pouco.

Estou certo de que o feminismo é bom e o antimachismo é melhor ainda para as mulheres, porém a tentativa de prevalência exclusiva de um sexo sobre o outro é um mal lamentável, terrível e perigoso, porque pode produzir o extermínio da nossa espécie muito mais rapidamente do que seria de se esperar pelas condições naturais. Acredito que, nessa questão de valorização da mulher, temos que pensar coletivamente como espécie humana e não como separadamente como indivíduos desse ou daquele sexo da espécie. Tomara que a mulher seja realmente mais valorizada, mas é preciso tomar cuidado para que essa valorização da mulher não implique, ainda que indiretamente, na exclusão do homem.  Somos uma só espécie. Pensem nisso.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)

*Partenogênese é um tipo de reprodução assexuada presente em
inúmeras espécies de animais, na qual as fêmeas dessas espécies se reproduzem
por si sós, isto é, sem nenhuma participação efetiva dos machos, ou seja os
óvulos das fêmeas desenvolvem-se sem ter que ser fecundados pelos machos.
14 abr 2015

Refletindo sobre alguns valores esquecidos pela vida moderna

Resumo: O texto dessa semana traz à baila uma questão séria, que está cada vez mais preocupando algumas pessoas e que precisa ser mais discutida e refletida pela sociedade. Trata-se do uso exagerado das novas tecnologias e do consequente afastamento entre as pessoas que esse uso tem trazido. Com o uso desregrado das tecnologias e com os superpoderes a elas concedidos, a humanidade parece estar perdendo sua relação direta com os ambientes primários da natureza e com os demais seres vivos, inclusive com os próprios seres humanos, o que tem trazido consequências progressivamente mais trágicas para a natureza e mais desagradáveis ao relacionamento humano.


Refletindo sobre alguns valores esquecidos pela vida moderna

Ultimamente tenho me preocupado muito com o rumo dos relacionamentos entre os seres humanos e ainda que eu não possa taxativamente afirmar que a fragilidade desses relacionamentos seja uma verdade mundial, eu tenho quase certeza que os relacionamentos humanos atuais pelo mundo afora são meras externalidades. Com certeza, essa é uma verdade brasileira, porque aqui em nosso país, as pessoas efetivamente, têm progressivamente caminhado para trás, no que diz respeito aos relacionamentos humanos e também às coisas da natureza, das tradições, dos valores culturais e morais em geral.

Também não sei se posso e nem quero considerar como uma verdade absoluta de que a causa dessa condição seja exclusivamente da tecnologia, mas infelizmente, tenho que considerar o fato de que o avanço tecnológico tem ajudado bastante no atual estado da arte e no momento, vou me ater exatamente ao seguinte questionamento: porque a tecnologia parece estar nos arrastando cada vez mais para longe das coisas e dos valores que nos deveriam ser mais importantes?

A propósito, devo dizer que não tenho absolutamente nada contra o avanço tecnológico e nem mesmo sou avesso aos novíssimos e diversificados aparelhos eletrônicos. Ao contrário acho todos eles ferramentas importantíssimas e que bom que nós conseguimos desenvolvê-los para facilitar muitas das diferentes tarefas que temos que resolver. O problema é que muitos de nós somos incapazes de entender que esses aparelhos são apenas e tão somente ferramentas. Esses aparelhos não são e nem podem ser considerados, de maneira nenhuma, como se fossem elementos vitais, que precisamos para continuar vivos, como o ar ou a água, pois já vivíamos anteriormente independentemente da existência deles. Como disse antes, esses aparelhos são úteis, mas certamente não são fundamentais. Obviamente existem alguns casos em que peças tecnológicas foram desenvolvidas exatamente para auxiliar a vida de algumas pessoas, mas essas são situações excepcionais e não regras.

A tecnologia está aí para tentar nos fazer mais capazes, mais eficientes e consequentemente mais felizes e tudo isso é obviamente muito bom num primeiro momento. Entretanto, será que essa felicidade inicialmente prevista tem sido secundariamente uma verdade em si, quando o avanço tecnológico nos leva a esquecer, ou pelo menos, nos afastar de outras coisas que, na nossa condição de seres vivos e principalmente de indivíduos humanos, talvez nos fossem muito mais importantes? Será que o nosso apoderamento tecnológico não nos coloca frente à questões que, talvez, possam estar nos trazendo mais prejuízos do que benefícios, apesar de nos permitir soluções aparentemente mais efetivas? A eficiência tecnológica nem sempre tem se mostrado eficaz sob vários aspectos, principalmente nas questões socioambientais. Bem, vou exemplificar meus questionamentos para tentar ser um pouco mais claro.

Imagine que quando não tínhamos agendas eletrônicas ou objetos semelhantes (alguns de nós nem conseguem imaginar isso), éramos obrigados a guardar os números de telefone, anotando ou mesmo decorando esses números e isso era bom para nós, porque nos forçava a escrever e pensar. E mais, quando íamos ligar para aquele número, necessariamente tínhamos que discar ou digitar, o que nos obrigava também a realizar um exercício físico, ainda que pequeno. Quando queríamos falar com uma pessoa e não podíamos ir à casa dela, nós telefonávamos e conversávamos com essa pessoa. Muitos de nós ficavam horas no telefone, o que era ruim, porque a conta a ser paga era alta. Entretanto, hoje usamos o “Whats App” e não pagamos nada e isso é bom, mas também não conversamos verdadeiramente com ninguém, apenas mandamos mensagens simples, sem qualquer conotação pessoal. Assim, as inter-relações são frias e de pouquíssimo conteúdo. Não escrevemos mais, apenas trocamos recados cheios de frases viciadas, com códigos, abreviaturas e símbolos, muitas vezes insuficientes para definir ou mesmo apenas para indicar uma determinada condição.

Tudo bem, é claro que essas mensagens de internet também são uma forma de linguagem, mas certamente essa não é uma linguagem que sirva para aproximar os seres humanos, porque ela é superficial e não expressa sentimento nenhum. O “internetês” é a comunicação pela comunicação e nada mais que isso e por mais que ele aproxime (facilite) as informações ele afasta as pessoas, que ficam cada vez mais isoladas em seu mundo exclusivo com seu celular, seu “tablet” ou seu computador de última geração. Posso estar errado, mais isso absolutamente não é humano, pelo menos do ponto de vista sensitivo.

Chamamos as redes de “internet” do tipo “facebook” e “linkedin”, por exemplo, de “Redes Sociais”, mas eu pergunto: essas redes são sociais mesmo? Tudo bem, elas envolvem grupos de pessoas da sociedade, mas elas não se comportam como algo que socialize as populações? Não, elas fazem exatamente ao contrário, pois elas excluem pessoas, quando não permitem sua participação em determinados grupos e isso ao meu ver é uma atitude antissocial. Talvez, fosse interessante chamar essas redes de outro nome, porque “Redes Sociais” é que elas não são mesmo. Porém, deixemos essa questão de lado, porque não é disso que quero eu tratar aqui.

Na minha infância, nós convivíamos muito mais com a natureza e com as pessoas do que qualquer criança de hoje em dia, mormente nos últimos anos com o advento da internet. Nós brincávamos de pique, jogávamos futebol, bola de gude, rodávamos pião, soltávamos pipa e várias outras coisas que hoje, tem criança (talvez a maioria delas) que nem sabe do que se tratam essas coisas, simplesmente porque nunca as viram e não têm nenhuma relação com outros humanos, além da internet e das “Redes Sociais”. Quer dizer, quase não há convivência efetiva com outros humanos, a não ser nos meios de transportes, quase sempre particulares e nos ambientes corporativos familiares, escolares, culturais e laborais. Hoje inventamos até “bichinhos virtuais” até para afastar mais as pessoas umas das outras e o que é mais grave, em certo sentido, para afastar as pessoas dos animais também.

Essa situação atual de contraste com que havia em épocas anteriores, pode até ser vantajosa em determinados aspectos, mas certamente é prejudicial em outros tantos. Se for colocado numa balança de custos X benefícios, acredito que certamente há menos vantagens e mais desvantagens no atual modelo, que é resultante do uso inadequado e excessivo da tecnologia.

A meu ver isso tem afastado cada vez mais as pessoas umas das outras e assim também dos valores e das tradições. As diferentes formas de expressões culturais vão ficando esquecidas e a natureza está sempre mais longe e menos importante, pois a vida humana passou a ser quase que exclusivamente urbana e tecnológica. O natural e o rural perderam o sentido e não interessam em praticamente nada na paisagem antrópica atual. Os humanos tendem a viver isolados em seus espaços artificiais.

Esse isolamento, por sua vez, leva cada vez mais ao egoísmo e ao olhar para dentro de si mesmo, o que também aumenta os preconceitos e o medo generalizado das diferenças. O outro humano cada vez importa menos para os humanos. Lamentavelmente, nós temos caminhado no sentido de achar que a felicidade é quase um sinônimo de solidão, porque nos preocupamos apenas conosco e tudo fazemos apenas no nosso interesse individual.

Enfim, reflitam comigo e digam se eu não tenho razão. Penso que está na hora de começarmos a fazer alguma coisa para mudar essa tendência, porque acredito que ela seja muito maléfica aos interesses e valores reais da humanidade. Acredito que nós, os seres humanos, estamos precisando de menos tecnologia e mais humanidade, para podermos engrandecer as nossas vidas, solidificar as nossas sociedades e principalmente estreitar as nossas relações com os demais seres humanos.

Segundo o pensador russo, Lev Semenovitch Vygotsky, nós não nascemos humanos, nós nos tornamos humanos ao longo de nossa vida, pois s nossa humanização é construída progressivamente. Esse mesmo autor vai mais fundo ainda, quando diz que: “o homem só pode se tornar homem na presença de outro homem”, isto é, só nos tornamos homens convivendo com outros homens. Pois então, penso que temos andado na contramão da humanidade e estamos precisando conviver mais com outros humanos para nos humanizarmos mais.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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