Tag: Divulgação Científica

14 fev 2024

O DIVULGADOR CIENTÍFICO: UMA FUNÇÃO IMPORTANTE PARA A SOCIEDADE

Resumo: Este artigo pretende trazer uma discussão reflexiva sobre a necessidade de formar Divulgadores Científicos e de como melhorar a Divulgação Científica no país. É preciso preparar gente específica para desenvolver a tarefa de Divulgar Ciência e não temos tido a devida preocupação com essa questão.


Ainda que, a priori, a ciência seja um atributo exclusivo dos cientistas, as consequências dessa exclusividade e as respectivas aplicabilidades tecnológicas dos novos conhecimentos desenvolvidos pelos cientistas, na verdade não pertencem a eles, mas sim a humanidade. A geração de determinado conhecimento pode ser de um ou de poucos, mas a utilização humanitária desse mesmo conhecimento tem que ser para todos. Nesse sentido, torna-se fundamental que todo conhecimento científico agregado seja informado e incutido nas comunidades e nas atividades interessadas e ainda seja divulgado de maneira clara e correta para a sociedade como um todo.

Quer dizer, tudo que é descoberto pela ciência (pelo cientista) necessita, de alguma maneira, ser divulgado, informado e devidamente esclarecido às pessoas. Se não acontecer desta forma, o trabalho desenvolvido pelo cientista não se justifica e consequentemente não faz absolutamente nenhum sentido, haja vista que a ciência, logicamente, deve sempre objetivar o bem maior para toda a humanidade.

Pois então, a grande questão que se quer colocar reside exatamente nesse ponto, haja vista que, particularmente nos últimos tempos, as coisas têm acontecido de maneira diversa do esperado. Existem outros interesses que suplantam as necessidades da humanidade e que se colocam como auto justificáveis em importância e que acabam por assumirem condições prioritárias e secretas, que simplesmente não são divulgados. Na verdade, são presentes de grego que chegam à humanidade como que caídos do céu.

Acredito que esse fato se dá por conta de três condições fundamentais, as quais tentarei demonstrar ao longo desse ensaio.

Primeiro porque o cientista, quando escreve e publica suas descobertas, ele faz isso numa revista que quase ninguém lê. As revistas científicas e os trabalhos científicos, quando muito, são lidos apenas por outros cientistas interessados nos mesmo assuntos específicos tratados no trabalho. Isto é, determinados temas são tão específicos que ninguém fica sabendo da existência deles e principalmente dos novos conhecimentos que lhes são agregados.  

A segunda condição decorre da primeira, porque se ninguém ou quase ninguém lê o que o cientista publica, quase ninguém também conhece o assunto e deste modo, também não é possível fazer divulgação do assunto em questão, por puro desconhecimento. A sociedade permanece sem ficar sabendo daquele assunto, porque não existe divulgação esclarecedora sobre ele.

A terceira é consequência das duas anteriores, pois como o cientista tem dificuldade e não consegue atingir um nível de comunicação com a sociedade, por vários motivos que não convêm serem discutidos no momento, o resultado da pesquisa (da descoberta) é aplicado ou não sem a anuência da própria sociedade. Assim, a humanidade acaba por sofrer os efeitos daquela descoberta, sem entender como, quando, porque isso acontece e principalmente que consequências podem ser oriundas da aplicação. Obviamente isso, por mais benéfico que até possa ser, na realidade acaba sendo uma arbitrariedade que fere os princípios básicos da liberdade humana.

Quer dizer, há necessidade de modificar essa rotina absurda e perversa de não divulgação, que foi estabelecida e que inviabiliza a função precípua do cientista e se impõe de maneira autoritária sobre a sociedade. Quando não há o devido esclarecimento da ação proposta à comunidade interessada e à sociedade como um todo, ocorre, no mínimo, uma ação perigosa e transgressora dos direitos humanos.

Bem, baseado nessas premissas apresentadas, acredito que fica muito clara a necessidade da Divulgação Científica, como mecanismo prévio a qualquer ação oriunda de novas descobertas científicas. A Divulgação Científica é fundamental e necessária para orientação das pessoas. Por outro lado, essa Divulgação também é um mecanismo de prestação de contas do cientista com a sociedade.

Ora, se o cientista não tem condições, pelos mais diversos motivos, como já foi informado acima, de fazer a Divulgação Científica de suas descobertas, tem que existir outro agente social que cumpra essa função. Entretanto, quem é esse alguém? Será que ele pode ser qualquer pessoa? Obviamente, todos devem concordar que a resposta é NÃO, mas eu vou tentar explicar exatamente o porquê.

O Divulgador Científico tem que ser alguém que possua conhecimento e capacidade de escrever e se comunicar de maneira que torne fácil e adequado o entendimento daquela pesquisa realizada pelo cientista. Esse indivíduo não pode ser um curioso qualquer midiático, que muitas vezes não conhece absolutamente nada sobre aquele assunto que está querendo informar sobre o que não entende, como, infelizmente, acontece, na grande maioria das vezes.

A Divulgação Científica no Brasil está a cargo de jornalistas, muitas vezes, totalmente despreparados e desinformados, além de jovens pesquisadores, até bem-preparados, mas, sem a devida bagagem científica. O Divulgador Científico não pode ser apenas um comunicador, ele tem que ser alguém capaz de destrinchar o assunto e transcrever a informação de maneira explicativa e clara para todas as pessoas sejam capazes de entender. Além disso, essa divulgação também precisa ser feita por alguém que tenha conhecimento e tarimba na área científica do assunto tratado.

Em suma, fazer Divulgação Científica não é uma tarefa fácil, como pensam alguns que se atrevem nessa seara. Existe uma exigência de que o Divulgador Científico seja um homem de ciência e capacitado para popularizar a informação científica, sem interferir no sentido real do assunto. Se não for assim, a Divulgação Científica acabará sendo um mecanismo de “desinformação científica”, pois atrapalhará mais, do que auxiliará à sociedade. Então, como será possível resolver esse impasse?

O Divulgador Científico tem que ser um sujeito que tenha conhecimento do assunto em questão e da linguagem científica, que costuma ser difícil ao cidadão comum, para poder digeri-la, absorvê-la e transformá-la de maneira acessível a todos os possíveis interessados. Isto é, o Divulgador Científico, como já foi dito, não pode ser qualquer um, como acontece na maioria das vezes entre nós, aqui no Brasil, onde pessoas totalmente despreparadas emitem opiniões sobre questões sérias e confundem os conceitos, causando mais problemas do que soluções.

Aqui no Brasil, lamentavelmente, qualquer um se sente capaz de falar de qualquer coisa e, o que é pior, deste modo, acaba falando um monte de besteiras, exatamente porque desconhece totalmente do assunto. É nesse momento que surgem os inúmeros achismos e informações indevidas baseadas em erros conceituais básicos, consequente do não conhecimento da questão e muito menos de seus fundamentos científicos. Assim, cria-se uma mistura da realidade com a ficção e o resultado é uma confusão que complica e desinforma coisas que muitas vezes poderiam ser simples.

É triste, mas está cheio disso por aí. Tem até alguns livros escritos e que venderam bastante, baseados em premissas totalmente errôneas e que justificam teorias infundadas e totalmente sem nexo. Pois então, assim, a Divulgação Científica que deveria orientar e educar à Sociedade acaba deseducando, complicando, desinformando e desorientando a sociedade. A realidade é que se divulga ficção científica, como se fosse ciência e muita gente acredita. Essa é uma situação perigosa e lamentável que, muitas vezes, traz conceitos errados e indevidos que se multiplicam no pensamento popular.

Algumas vezes isso acontece por inexperiência, outras por incompetência, mas, na maioria das vezes, isso ocorre intencionalmente, sendo feito propositalmente com a finalidade de justificar outros interesses e colocar ideias infundadas nas mentes das pessoas. Alguns grupos de mídia são especializados em produzir esse tipo de situação e desserviço. Eles se aproveitam das suas condições de comunicadores e da ingenuidade da maioria das pessoas para gerar informações erradas e assim enganar a comunidade próxima e a sociedade como um todo.

Infelizmente, essa é uma técnica malévola, relativamente simples e bastante comum, que funciona mais ou menos assim: estabelece-se um preconceito ou uma controversa a partir de uma informação científica qualquer mal-entendida, mal interpretada ou totalmente errada, ocasional ou propositalmente, e depois reforça-se progressivamente aquele preconceito, até “transformá-lo” num conceito efetivo. É aquela velha história: “uma mentira contada um milhão de vezes acaba virando uma verdade”.

Deste modo, ainda que errado, aquele “conceito” passa a ser difundido como verdadeiro e acaba por ser massificado na população. Isto é um absurdo, mas, lamentavelmente, esta é a situação efetiva de alguns indivíduos “humanos”. Hoje, com a possibilidade de qualquer um escrever e publicar qualquer coisa na INTERNET, essa prática está cada vez mais comum e consequentemente, mais difícil de ser combatida e contida.

É desagradável, mas nossa espécie é assim mesmo. Somos todos humanos e sabemos que nos diferentes grupos humanos, sempre há gente boa e gente má. No grupo dos que atuam como Divulgadores Científicos, obviamente isso não é diferente. Deste modo, há efetivamente alguns indivíduos que são capazes de deliberadamente promover e fazer essas coisas estranhas e contrárias aos próprios interesses da humanidade.

Senhores, precisamos aprender a “separar o joio do trigo”, para minimizar os danos produzidos por esse tipo de situação, mas sabemos que essa é uma tarefa bastante difícil, haja vista que existe uma “indústria da desinformação”, por trás dessas questões, fabricando “fake news” e coisas do gênero, ampliando esses aspectos, com o objetivo exclusivo de “bestializar a sociedade”. Vamos ter que lutar muito para acabar com essa situação vexatória, que só nos diminui na condição de seres humanos pensantes e, o que pior, segundo alguns credos, criados à imagem e semelhança de Deus.

Agora mesmo estamos às voltas com uma Termelétrica sem propósito e muito menos critério, que pretende se estabelecer aqui na região do Vale do Paraíba e estamos com dificuldade de mostrar os absurdos do contexto. E porque isso acontece? Porque parte mídia poderosa, que detém a audiência, faz questão de apresentar uma imagem inverídica e mentirosa do projeto, omitindo as coisas que possam trazer alguma luz e esclarecimento à opinião pública.

Infelizmente, hoje tudo tem um preço e quem paga o preço garante a notícia. Enquanto vivermos nesse comércio dependente de compra e venda da informação, estaremos fadados a ser manobrados pela desinformação. Somente a educação e nesse caso, uma educação científica direcionada e orientada pelos próprios cientistas e por verdadeiros Divulgadores Científicos poderá nos privar desses transtornos causados pelas deficiências intelectuais naturais ou produzidas e pelas “linhas cruzadas” que são condicionadas pelos interesses estritamente econômicos. Apenas, desta maneira, conseguiremos garantir uma identificação efetiva da seriedade na informação.

Ainda bem que a Biologia nos ensina que a semelhança não se define e muito menos se estabelece necessariamente como um tipo de parentesco, porque, se Deus efetivamente existem, esses sujeitos assemelhados ou não a Ele, embora parecidos, certamente esses indivíduos não conhecem o amor e não guardam nenhuma relação com Deus. Por outro lado, a mesma Biologia também nos afirma, que aquele indivíduo que age em contrário aos interesses coletivos de sua própria espécie também tende a perecer. Assim, temos certeza de que tanto Deus, quanto a natureza trabalham conjuntamente contra esses malfeitores, mas nós também precisamos fazer a nossa parte, usando o nosso “desconfiômetro”.

Em suma, precisamos investir em Divulgadores Científicos bons, bem-preparados e sobretudo sérios. Só assim, poderemos garantir que a informação científica seja fornecida à sociedade, dentro do verdadeiro interesse científico e social e com todo respaldo moral que nos coloca na condição básica de seres humanos.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

07 maio 2023
O Peso Diferenciado entre Textos Científicos

O Peso Diferenciado entre Textos Científicos

Resumo: Desta vez, apresento mais um assunto polêmico para reflexão e discussão. Trata-se da questão complicada, entre os diferentes autores que trabalham com a informação científica no Brasil. De um lado aqueles que produzem artigos científicos e do outro aqueles que fazem divulgação científica.


Não sei o porquê, mas para a muitos “cientistas brasileiros”, tudo que não tem o rótulo de científico é pressupostamente mentiroso e isso é, no mínimo, uma ideia arrogante e uma pretensão mesquinha sobre o que as demais pessoas da sociedade são capazes de pensar, de deduzir, de dizer e de escrever sobre aquilo que elas observam em relação às coisas do seu entorno.

Baseado na premissa acima, venho questionar alguns artigos que citam trabalhos que conhecem, simplesmente porque têm o rótulo de “científicos” e deixam de citar outros que, muitas vezes, também conhecem, mas que foram escritos por pessoas que não se utilizam necessariamente desse mesmo rótulo. Deste modo, verdades claras, já publicadas são desconsideradas, simplesmente porque quem escreveu não se intitula deliberadamente “cientista” e muito menos está preocupado em publicar suas ideias, muitas delas originais e verdadeiras em revistas indexadas, ou porque não está diretamente envolvido em grandes centros de pesquisa.

Aliás, esse tipo de revista indexada é muito pouco lida pela sociedade, pois só acaba circulando no “meio científico”, enquanto outras publicações são muito mais democráticas e abrangentes, no que se refere ao restante da sociedade. Assim, é óbvio que a grande maioria dos autores ao fazer as suas pesquisas bibliográficas, tem acesso aos “artigos não científicos” das revistas não indexadas. Entretanto, eles têm vergonha, medo, ou, o que é pior, deliberadamente, omitem suas existências, porque acreditam que isso irá desvalorizar os seus respectivos “trabalhos científicos”, pois afinal esses “artigos não científicos” foram escritos por meros especuladores e não devem ter nenhum crédito científico.

Aliás, cabe lembrar que, muitos dos “artigos científicos” não passam de simples compilações dos trabalhos de informação ou de divulgação e de outros propriamente científicos, que já foram realizados anteriormente por diferentes autores que não andavam por aí à busca de glória, de créditos curriculares ou de outras coisas que os pudessem destacar no meio da “comunidade científica”. Conheço muita gente que se intitula cientista ou pesquisador e que não sabe nada (ABSOLUTAMENTE NADA) de nada, muito menos de ciência. Muitos não sabem, se quer escrever e, mesmo assim, publicam “grandes artigos científicos”, graças às compilações de artigos de outros autores e aos trabalhos quase mágicos realizados pelos revisores das revistas científicas (indexadas ou não).  

Por outro lado, também conheço, muita gente comum que sabe e escreve bastante sobre coisas boas, reais e de cunho científico. Algumas vezes, até coisas que os próprios “cientistas” não conhecem. E eles não conhecem, porque não se interessam e realmente não querem conhecer ou porque acham melhor não dar espaço para esse tipo de gente que escreve sobre ciência, sem ter o “certificado de verdadeiro cientista”. Isto é, sem fazer parte do grupo de elite científica que publica artigos para si mesma e não para a sociedade. É preciso entender que a informação científica pertence a humanidade e não aos indivíduos, em que pese o trabalho autoral e intelectual de quem tenha gerado a informação. Deste modo, a informação científica não pode ser feudo de alguns, porque ela pertence a toda sociedade humana.

Os artigos científicos muito lidos, certamente não foram lidos por mais que umas poucas centenas de pessoas (se tanto), que pudessem estar diretamente interessadas naquele assunto. Por outro lado, os artigos de divulgação e informação científica são lidos por dezenas ou centenas de milhares de pessoas. É óbvio que os artigos de divulgação podem conter e certamente contém erros, mas quem garante que os “artigos científicos” também não contém? É preciso saber separar o joio do trigo, mas isso não quer dizer que só é trigo aquilo que o pretenso “cientista” produz na revista indexada, porque certamente também há muito joio nesse meio.

Artigos de divulgação e informação científica têm muito mais leituras e assim, efetivamente informam quantitativamente mais do que artigos científicos. Será que só os “cientistas” não leem esses artigos de divulgação? É claro que eles leem, até mesmo para criticar, se puderem. Porém, geralmente, eles não assumem publicamente suas leituras e assim não as citam nas suas referências. É preciso que haja coerência científica dos pesquisadores em admitir as informações e atribuí-las aos seus verdadeiros criadores ou identificadores e não ficar inventando subterfúgios para citar outros autores de “fama” nacional ou internacional, mas, talvez, sem conhecimento real da causa em questão.

Sou um homem de ciência e me cansei de ver essa situação absurda ocorrer costumeiramente. Assim, nos últimos 30 anos passei a divulgar aquilo que observo, na condição de simples divulgador científico, ou melhor, na condição de livre pensador daquilo que vivo em minhas experiências profissionais como interessado e estudioso da natureza. Tenho visto inúmeras coisas, inclusive em nível internacional, atribuídas a outros autores, que já identifiquei, afirmei e descrevi há anos atrás e não vejo nenhuma citação de minhas publicações. Eu tenho certeza de que não sou o único sujeito do mundo que vive essa realidade e que obviamente se sente injustiçado, quanto a esse aspecto. Existem muitos estudiosos e livres pensadores que passam por essa mesma situação desagradável e angustiante de ver suas ideias negligenciadas ou atribuídas a outros.

Alguém questionará, mas suas publicações estão em revistas indexadas?  E eu já respondo. Contingencialmente, algumas sim e outras não. Entretanto, eu não acredito que a indexação demonstre, de fato, a importância da publicação e muito menos a qualidade do trabalho ou a seriedade do autor. Esses rótulos têm que acabar para o bem da ciência brasileira, que ainda não entendeu que qualidade e quantidade não são indissociáveis e principalmente que o deve ter peso é o conteúdo do trabalho e sua importância e não o nome do autor ou da revista.

Por outro lado, eu penso que os “cientistas e pesquisadores”, certamente devem ler de tudo que lhes interessa profissionalmente, ou então não podem se assumir na condição de pesquisadores de fato e de direito. Além disso, eles também devem manifestar opinião e dar crédito ao que leem, independentemente de quem escreveu ou de onde veio aquilo que está escrito. Pois então, é aí que a coisa pega e é exatamente aí que surge o grande erro dos “cientistas brasileiros”. Sim brasileiros, porque no resto do mundo se cita tudo que se lê e se atribui o devido valor a todos que escrevem sobre o assunto em questão.

Mas, aqui no Brasil, o “pesquisador” não vai colocar um “desconhecido da ciência” no seu trabalho, porque isso não é interessante para o seu currículo. Desta maneira, quem “faz”, “cria” ou “define” algo importante e significativo cientificamente é, quase sempre, alguém que leu e copiou a ideia de que outro. Esse outro costuma ser alguém menos famoso e sem a pretensa alcunha de “cientista”, mas que, na verdade, foi o gerador da informação em questão.

Pois então, em outros países, muito mais desenvolvidos que o nosso, os cientistas citam desde o jornal do bairro, o boletim da igreja local, até o informativo da ONG que trata diretamente daquele assunto que está sendo discutido. O pesquisador faz uma verdadeira revisão da literatura e respeita a sua devida cronologia, para não cometer erros de pertencimento autoral. Eles citam absolutamente tudo, obviamente, desde que tenha fundamento em relação ao seu trabalho e atribuem o mérito a quem de direito.

O que mais me deixa aborrecido com os pretensos “cientistas brasileiros” e a cara de pau de afirmar verdades dos outros, como se fossem suas ou de transferir verdades para outras pessoas, apenas para esconder o fato de que o conhecimento daquela “grande descoberta”, na verdade, é uma triste falácia. Obviamente, não são todos os cientistas que agem dessa maneira, mas muitos, talvez a maioria, infelizmente, tem agido desse jeito. É claro também, que há muitos que efetivamente não fazem isso de caso pensado, mas são levados por conta da “obrigação de publicar e ter citações de suas publicações”. É preciso estar bastante atento e tomar cuidado, para não cometer esse tipo de coisa de maneira nenhuma.

Eu e muitos outros divulgadores científicos sérios, somos discriminados, exatamente porque não concordamos com essa “coisa nojenta” da ciência ser um feudo que não pode se misturar com a plebe. Obviamente, eu não faço publicação de inverdades e tenho artigos com mais de 20, 30, 50, 80 e até 100 mil leituras e duvido que existam muitos cientistas brasileiros, por mais renomados que possam ser, que tenham seus artigos lidos nesse contingente. Ora, honestamente, o que é mais importante informar ciência para muitos ou para alguns? Trazer as verdades científicas para a sociedade ou para um grupo social de “seletos amigos”?

A linha imaginária que separa a ciência e a divulgação científica é realmente imaginária, porque ela não existe. O que existe são pessoas ligadas ao conhecimento científico utilizando ou fingindo que usam o método científico e outras pessoas que observam as coisas e propõem determinadas explicações dos fenômenos. As primeiras se dizem cientistas e podem cometer inverdades em nome da ciência, desde que suas publicações sejam indexadas. As outras que não têm pretensões a títulos, a cargos ou a concursos especiais não podem nem dizer verdades sobre a ciência. O pior é que quando dizem verdades, muitas dessas verdades são atribuídas a outras pessoas que nada fizeram sobre aquilo, apenas foram mais “espertas” (ladras) e assumiram aquelas verdades como se fossem suas.

Senhores “cientistas”, façam suas revisões bibliográficas e olhem atentamente às datas das publicações antes de afirmarem quem gerou aquela informação que você está citando e atribuindo a um determinado autor. Veja bem se, antes dele, alguém, nem que seja numa folha de papel simples, já não havia escrito aquilo que você está citando e atribuindo a determinado autor. Você, como pretenso “cientista” tem a obrigação de tomar esse cuidado.    

Reconhecer o verdadeiro autor de alguma coisa é o mínimo que se espera de quem trabalha com essa coisa. Podem ter certeza de que isso não vai diminuir ninguém, ao contrário, talvez sirva para engrandecer alguns, que observam mais, estudam mais e, muitas vezes, até pensam mais que pretensos cientistas que usam o método, mas não entendem nada nada sobre ele.

A observação é a primeira etapa a ser considerada no método científico e muitas vezes, apenas uma simples observação já é suficiente para permitir algumas conclusões, sem grandes experimentos ou cálculos probabilísticos. “Quando a maçã caiu na cabeça de Newton, ele simplesmente entendeu que as coisas caem porque a Terra às puxam” e assim se fez comprovou a força da gravidade. Se não fosse o fato de Fleming observar que fungos tinham atacado as feridas cheias de bactérias, talvez ele jamais teria descoberto a penicilina.

Mendel jamais seria o “pai” da Genética, se Hugo de Vries não fosse um cientista sério, porque Mendel nunca foi cientista. Mendel gostava de cruzar ervilhas, ele observava e anotava os resultados dos cruzamentos e publicou tudo num boletim dos padres gregorianos, que provavelmente só era lido pelos próprios padres. Anos depois, De Vries encontrou, por acaso, o boletim com a anotações de Mendel, e ninguém sabia cientificamente de sua existência, entretanto De Vries citou as informações como sendo efetivamente de Mendel.

Ora, se De Vries fosse outro “cientista”, teria omitido Mendel e o hoje o “pai” da Genética, hoje, seria De Vries. Pois então, De Vries, deu o mérito a quem de direito que era Mendel. O próprio De Vries, apenas confirmou que aqueles dados eram verdadeiros, mas não se assumiu “dono” deles.  Mendel só é famoso, porque De Vries era um cientista sério e sobretudo, honesto e citou a fonte original dos seus trabalhos, que provinham de um informativo que não tinha nada a ver com ciência.

Darwin, não fez nenhum experimento para propor sua explicação para a Evolução das Espécies com base na Seleção Natural. Além disso, Wallace também apenas observando, chegou as mesmas conclusões que Darwin. E nenhum dos dois leu nada do outro. Ou melhor, apenas Darwin, leu uma carta de Wallace. A propósito, e o próprio Darwin cita esse fato na sua obra magistral: “A Origem das Espécies”, que constitui-se no livro não religioso mais lido da história da humanidade.

Newton, Fleming, Mendel, De Vries, Darwin, Wallace e outros grandes homens de ciência do passado, talvez não fossem considerados cientistas hoje, exatamente porque apenas observaram, discutiram sobre aquilo que observaram, depois pensaram e concluíram grandes verdades. A propósito, cabe lembrar que, naquelas épocas, até mesmo as simples cartas ou boletins de agremiações, escritas à mão ou impressos grotescamente, eram citados e seus autores intelectuais eram referenciados nas diferentes pesquisas científicas, como Darwin fez com Wallace e como De Vries fez com Mendel.

No momento atual em que se discute sobre as “fake news” e sobre os absurdos científicos é inadmissível que se deixe de lado os autores intelectuais de qualquer propositura que seja verdadeira ou falsa, até para que se separe devidamente o joio do trigo. Tem mentira científica virando verdade e verdade científica virando mentira, apenas dependendo de que está fazendo a afirmativa. Isso tem que acabar. Se a sociedade ainda é incapaz de analisar e assim não pode julgar quem está realmente com a verdade, o cientista tem a obrigação de mostrar sua cara e apresentar o seu pensamento, dando o devido crédito a quem merece.

Senhores cientistas, pensem nisso e procurem ser mais verdadeiros, mais generosos, mais honestos e menos pretenciosos. Afinal, se a ciência procura a verdade, o cientista que não faz uso da verdade nas suas ações científicas não pode ser considerado realmente um cientista.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo), Professor e Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

21 maio 2015

A Importância Social da Divulgação Científica

Resumo: O texto trata de um assunto que embora seja muito importante e pouco discutido em nosso país, que é a Divulgação Científica e possivelmente por conta dessa carência de informação científica é que a população brasileira permaneça no marasmo em relação a outros povos. O artigo aborda o conceito de Divulgação Científica e as dificuldades metodológicas e operacionais de introduzir essa ferramenta valiosa e necessária de comunicação social nas diferentes comunidades brasileira.


A Importância Social da Divulgação Científica

Obviamente todo cidadão coerente e consciente sabe que a ampliação do conhecimento humano é consequência da progressão efetiva da Ciência e de sua aplicabilidade, isto é, daquilo que modernamente se convencionou chamar de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Por sua vez, a Ciência é um atributo próprio e particular do Cientista (Pesquisador) e ela possui linguagem, foro de discussão, local de publicação próprios e muitas vezes, bastante distantes e diferentes dos padrões comunitários e sociais mais comuns. Quer dizer, a Ciência é desenvolvida para o benefício da sociedade, mas essa mesma sociedade, muitas vezes (na maioria delas), nem mesmo conhece aquilo que a Ciência produz ou está produzindo para tentar melhorar a vida social humana, porque em geral o cientista costuma ser um cidadão bastante distante do cidadão comum nas comunidades particulares e na sociedade como um todo.

Desta maneira, a sociedade que paga a Ciência e o cientista para que sejam desenvolvidas coisas e situações melhores na vida das pessoas da própria sociedade, acaba não tendo nenhum conhecimento sobre o que a Ciência e o cientista efetivamente fazem. Pois então, na grande maioria das vezes a sociedade para qual a ciência existe, não tem nenhuma noção sobre o que e em que a ciência está trabalhando e produzindo. Isso acontece porque, em certo sentido, a ciência é muito elitizada ou, pelo menos, muito fechada em seu próprio meio e a maioria da sociedade não consegue penetrar nesse “mundo diferente”, que é o meio científico.

Mesmo os diferentes setores da ciência acabam não conversando entre si e assim tudo é realmente muito estranho no ambiente científico, mesmo entre diferentes grupos de cientistas. A informação é limitada àquelas pessoas que dependem e que de alguma forma dominam parte dessa mesma informação. É como se as demais pessoas dos demais grupos da sociedade não existissem, porque de fato, essas pessoas não têm nenhum tipo de relacionamento com o meio científico específico.

Geralmente, quando uma nova descoberta (informação) foge ao controle acima estabelecido e acaba atingindo o nível social, chegando ao conhecimento público (popular), essa descoberta já está quase que arcaica no meio científico específico no qual ela foi gerada. Obviamente existem raras e importantíssimas exceções a essa situação, que ocorrem quando a informação científica em questão está relacionada com um assunto de destaque e de grande visualização na mídia, mas isso é raro. O crescimento científico geralmente acontece através de várias situações de tentativas e erros, os quais gradativamente vão ampliando o nível do conhecimento sobre a determinada questão ou área, até que se cria uma nova ideia, que produz um nova informação, que gera um novo conceito, a desenvolve uma “nova verdade”. Em outras palavras, o conhecimento científico raramente produz grandes efeitos ou grandes saltos em pouco tempo, porque o conhecimento científico é cumulativo e assim o desenvolvimento da ciência é progressivo e gradual.

Desta maneira a Sociedade em geral, que banca e paga a Ciência e o cientista, quase nunca interfere na atividade científica em si. Na maioria das vezes, somente alguns setores do governo e do próprio meio científico são aqueles sujeitos que atuam nessa linha tênue que determina o hiato entre o que a ciência pode e deve fazer e o que efetivamente ela faz. Talvez a leitura do livro de Bernard Dixon (“Para que serve a Ciência?”), que foi escrito, em 1976, seja oportuna para permitir que os interessados possam entender um pouco melhor sobre essa questão.

O crescimento científico só é claramente percebido pela sociedade quando produz um efeito altamente significativo, isto é, um resultado positivo para muitas pessoas ao mesmo tempo. Assim, toda a trama da pesquisa científica até a “descoberta final”, parece que não são socialmente importantes, apenas o “grande resultado final” é o que importa. Nesse sentido, a ciência parece “coisa do outro mundo”, que de repente produz mágicas e os cientistas se assemelham com “super homens” que certamente não fazem parte da mesma sociedade que os demais seres humanos.

Para tentar demonstrar a veracidade desse pensamento será destacado um exemplo que deverá clarificar um pouco mais a sua abrangência. Desta maneira, imagine que hoje a grande mídia internacional anunciou a descoberta de uma nova vacina que irá currar uma moléstia até então sem cura e que por isso mesmo já havia dizimado muitas vidas humanas. Jornais, revistas, rádios, televisões, internet, enfim todo mundo informa sobre a “nova descoberta” e assim grande parte da sociedade é informada sobre a mesma. Isso acontece como se todo o processo da descoberta tivesse sido planejado, desenvolvido e concluído naquele mesmo dia, ou seja, hoje, no exemplo em questão. É como se houvesse um esquecimento de que, muito provavelmente aquela vacina estava sendo estudada, preparada, desenvolvida e testada há vários anos e o sucesso da sua criação hoje, certamente é consequência de inúmeros insucessos e de vários pequenos sucessos que ocorreram ao longo desses anos.

É exatamente assim que acontece, ou seja, tudo ocorre e a sociedade que financiou e que será a beneficiária da descoberta normalmente não fica sabendo de nada sobre esse período intermediário e dos acontecimentos que nele tenham ocorrido. Mas, esse fato gera algumas dúvidas e alguns problemas: porque a sociedade não fica sabendo o que acontece? Porque ela não quer? Ou porque “não acham” que ela deva saber? Ou porque de fato esses acontecimentos intermediários não são realmente importantes? Ou será uma mistura de todos esses motivos? Por fim, a pergunta maior é a seguinte: quem é que determina e valoriza todos esses motivos?

Por outro lado, existe uma outra questão não menos interessante e nem menos importante que são as novas terminologias e conceitos oriundos das novas descobertas ou criados a partir das novas linhas de pensamentos e novos mecanismos desenvolvidos. Essas palavras e seus respectivos significados devem e têm que ser popularizados (socializados) e entendidos ao longo do tempo, porque muitas vezes envolvem novos procedimentos e novos qualificativos específicos, sem os quais talvez não seja possível desenvolver alguma atividade consequente. Mais um exemplo provavelmente deverá permitir que se esclareça melhor o problema.

Imagine que de repente uma determinada palavra surge do nada, como se antes nada relacionado a ela existisse e começa a ser repetida inúmeras vezes aleatoriamente e as pessoas se acostumam com seu uso e seu conceito se espalha na população. Mas, se esse conceito não estiver bem estabelecido e definido, muitas vezes ele se vulgariza, de deturpa e sua aplicabilidade acaba sendo um tiro pela culatra, que ao invés de ajudar atrapalha mais a noção que se queria ter sobre a questão. Esse fato também produz uma outras perguntas: de quem é a culpa da popularização errônea e indevida do conceito, da ciência ou de quem socializou a informação? Será que essa ideia errônea não foi feita propositalmente, a fim de defender algum outro interesse?

Conforme foi tentado demonstrar, existem várias maneiras da informação científica ser apresentada e consequentemente popularizada, porém é preciso ter cautela, porque todas essas maneiras envolvem questões que podem produzir dúvida, confusão, ou mesmo erro, por causa do grande afastamento entre a Ciência e a Sociedade. Por conta disso, a informação científica precisa ser passada à Sociedade de forma clara, objetiva, com linguagem simples e verdadeira. Pois então, esse mecanismo de transmitir a informação científica à sociedade é o atributo maior da Divulgação Científica.

Para que a Sociedade e a Ciência possam caminhar lado a lado, mais intimamente ligadas e relativamente bem unidas é fundamental aquilo que se convencionou chamar de Divulgação Científica, que, na verdade, é o principal mecanismo de popularização da Ciência. A Divulgação Científica consiste em produzir informações populares sobre as informações científicas. Isto é, trazer a linguagem científica em linguagem simples, através de publicações periódicas populares não científicas, a fim de permitir que a Sociedade possa efetivamente se apropriar e tomar conhecimento da Ciência que ela financia e também sobre as questões específicas de cunho científico que possam interessar aos diferentes segmentos sociais.

Além disso, a Divulgação Científica também deve desenvolver mecanismos que estabeleçam e esclareçam os termos novos que são inseridos no meio social em função dos avanços científicos e principalmente os seus respectivos conceitos, de maneira tal que não produzam noções dúbias ou mesmo errôneas. Os termos científicos, que, a princípio são difíceis, estranhos e até aparentemente desagradáveis aos ouvidos, devem ser popularizados sem perder seus respectivos fundamentos. A sociedade deve receber o novo termo com a verdadeira noção que ele traz, sem qualquer facilitação que possa imperfeiçoar essa noção. As metáforas auxiliam bastante, pois servem para esclarecer e às vezes são muito bem vindas, porém existem determinadas situações em que elas acabam atrapalhando e assim prejudicando o conceito. É preciso ter bastante cuidado com o uso das metáforas para esclarecer questões científicas.

A Divulgação Científica é uma atividade social extremamente importante e precisa ser melhor utilizada, tanto pela mídia, quanto pela educação em geral, porque é através dela que os novos mecanismos científicos, as novas formas de pensar, agir e expressar metodológica e cientificamente são inseridos e agregados à Sociedade. Sem a Divulgação Científica a Ciência continua isolada e fechada em si mesma, como algo independente da Sociedade. A popularização do conhecimento científico é o principal atributo da Divulgação Científica e também é tarefa vital para a evolução social da humanidade como um todo, pois o conhecimento científico é também um conhecimento social e, desta maneira pertence e precisa estar disponível para todos os humanos.

Como hoje o mundo vivencia uma Sociedade com forte caráter científico e tecnológico, há necessidade que esta Sociedade esteja efetivamente mais informada cientificamente, até mesmo para poder colaborar com a Ciência em determinadas atividades que possa ser convidada a participar mais especificamente. Assim, a Divulgação Científica assume caráter preponderante, pois certamente será ela que deverá prestar as noções básicas que poderão nortear essas atividades.

É exatamente aqui nesse ponto que existem dois grandes problemas a serem equacionados e resolvidos: quem deve fazer e como deve ser passada a Divulgação Científica?

Na área restrita da Comunicação Social, o Jornalismo Científico existe quase que exclusivamente para fazer a Divulgação Científica. Assim, não há como negar que a mídia seja responsável por esse mecanismo, entretanto há de se ter a devida cautela, porque muitas vezes, em situações científicas em que há necessidade de um conhecimento específico maior da questão, a mídia acaba desinformando mais do que informando e assim atrapalha mais do que ajuda. Embora obviamente isso não possa ser considerado como uma regra, haja vista que grande parte dos jornalistas são extremamente responsáveis. Mas, a questão é que aqui não pode haver erro, pois esses erros certamente vão levar as comunidades mal informadas a situações progressivamente mais difíceis.

Alguns indivíduos que tenham conhecimento específico da área científica em questão, talvez sejam bons instrumentos para fazer a Divulgação Científica, mas, algumas vezes, esses indivíduos não têm a disponibilidade ou mesmo a habilidade necessária para fazer a comunicação com a devida eficiência. Muitas vezes é difícil para um cientista escrever ou mesmo falar de maneira não científica, isto é, eles apresentam dificuldade para falar ou escrever numa linguagem simples ou para se comunicar de maneira clara e isso também dificulta a Divulgação Científica.

Por outro lado, existem algumas pessoas de boa formação e com considerável carga de conhecimento científico, que trabalham ou já vivenciaram atividades associadas à pesquisa científica e que estão disponíveis. Algumas dessas pessoas tem razoável habilidade como comunicadores, além de boa capacidade para escrever e por isso mesmo, podem (devem) ser indicadas para fazer essa ligação entre o meio científico e a sociedade em geral. Vários são os exemplos de pessoas que se enquadram nesse perfil e têm atuado efetivamente como divulgadores científicos, produzindo resultados excelentes.

Enfim, a Divulgação Científica é um setor que ainda precisa crescer muito no Brasil, principalmente no que se refere a algumas áreas como as Questões Climáticas e Ambientais, a Biodiversidade, a Sustentabilidade, a Bioengenharia, a Tecnologia de Informática, a Astrofísica e a Genética as quais, em última análise, estão, por questões óbvias, mais em voga na atualidade. Aqui no Brasil, salvo raríssimas exceções, infelizmente algumas revistas do setor que deveria ser de Divulgação Científica, não condizem bem com esse propósito. Além de propaganda em excesso, essas revistas trazem matérias muito mais relacionadas à pseudociência, às crendices e ao sensacionalismo, do que propriamente à Divulgação Científica. Como eu disse anteriormente, acabam desinformando mais do que informando.

A Ciência, seja ela qual for, é uma condição do natural e do real, por isso mesmo tem que ser passada e demonstrada sem paixão e sem exageros, mas infelizmente não é isso que se tem visto por aí. Outros interesses, infelizmente não científicos, acabam sendo os fins mais imediatos de algumas dessas revistas que se dizem de Divulgação Científica.

As respostas para muitas das perguntas lançadas aqui nesse pequeno ensaio, devem ser encontradas em artigos de Divulgação Científica sérios que esclareçam as questões e que não tomem nenhum partido, além daquele que a ciência em questão demonstra. É difícil pensar numa atividade humana em que não se estabeleçam as paixões, mas é assim que tem que ser feita a Divulgação Científica. Depois de popularizada, qualquer que seja a ideia, é possível sim, que seja até mesmo mais salutar, ter opiniões e paixões, mas aí, essa ideia já deixou de ser uma questão da Ciência e passou a ser um mecanismo de comunicação social como outro qualquer e assim, sujeito a todas as vicissitudes da sociedade humana.

A Ciência precisa atingir o nível social, mas tem que chegar lá, com base científica e não mitológica ou carregada de sentimentos. Entretanto, depois que a sociedade recebe a informação (Divulgação Científica) se ela quiser tratar a questão como um mito ou como algo impregnado de paixão, aí será um problema da sociedade, mas essa contingência posterior que não pode, de maneira nenhuma, ser uma posição inicial oriunda do divulgador científico que servirá como norteador dessa ou daquela tendência na sociedade.

O divulgador científico, assim como a Ciência, tem que ser neutro, pelo menos, enquanto está agindo como divulgador científico, porque a opinião pública deve ser estabelecida e desenvolvida a partir da informação e não da carga sentimental que nela estiver envolvida. Quando se vislumbra uma informação já viciada por paixões e crendices pessoais, na verdade produz um processo maior que conduz à massificação daquilo que realmente deveria ser apresentado e isso não é bom, pois cria uma deturpação da informação, que pode levar a um preconceito, antes mesmo que o conceito real da questão possa ser estabelecido.

Infelizmente, o fato acima descrito tem ocorrido num número significativo de vezes com assuntos relacionados à divulgação científica, por conta de grupos sociais específicos e interessados em dificultar o entendimento de certas questões de cunho científico. Obviamente isso tem trazido problemas sociais maiores, porque se cria uma verdade social a partir de uma mentira real, o que é, no mínimo, um contra senso social e que gera uma anomalia (deformação) na sociedade.

De qualquer maneira, com ou sem problemas, a Divulgação Científica é uma atividade que ainda necessita crescer bastante em nosso país, porque é preciso melhorar o conhecimento científico e tecnológico da população brasileira e consequentemente o envolver mais as comunidades com as questões científicas. Esse é um desafio do governo e de toda a sociedade brasileira, porque o mundo moderno tem sido orientado e tem caminhado na direção do progresso da Ciência e o Brasil para conseguir ocupar o seu lugar entre as grandes nações do planeta, não pode continuar perdendo o trem da história, por falta de informação de seus cidadãos, em consequência da carência de Divulgação Científica.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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