Tag: Profissão de Professor

15 out 2023
DIA DO PROFESSOR: 60 ANOS DE “FESTA”

DIA DO PROFESSOR: 60 ANOS DE “FESTA”

Resumo: Proponho uma análise reflexiva sobre algumas atividades que atualmente estão sendo desenvolvidas por muitos professores. Entendo que a educação é a base do desenvolvimento sustentável de um país e o professor que deveria ser artífice desse mecanismo, em grande parte, tem caminhado no sentido errado, quando valoriza algumas peculiaridades, deixando de lado o todo da população.


Há exatos 60 anos, o então Presidente da República Federativa do Brasil João Goulart, através do Decreto 52.682 de 14 de outubro de 1963, estabeleceu o dia 15 de outubro como o Dia do Professor. De lá para cá, a data tem sido comemorada, cada vez com menos pujança, haja vista que a profissão e seu prestigio profissional seguem em decadência vertiginosa no país. A data escolhida em alusão a criação do Ensino Elementar no Brasil, através da Lei de 15 de outubro de 1827, estabelecida pelo Imperador Dom Pedro I e que criou a obrigatoriedade do ensino de primeiras letras em todos os lugarejos do território nacional.

Como forma de lembrar a data e sua história, eu resolvi aproveitar este momento “festivo” para propor à toda sociedade, em particular aos colegas e amigos professores, para que façam comigo uma reflexão, no sentido de tentar salvar aquilo que nos resta como verdadeiros profissionais da educação. Depois de quase 70 anos de vida e quase 50 anos de exercício efetivo do magistério, acredito que posso emitir alguma opinião sobre o que está acontecendo no país, em relação ao sucateamento da educação e da nossa nobre profissão de professor.

Os professores do passado queriam mostrar às pessoas e ao mundo as inúmeras possibilidades, considerando a grande mágica que a educação poderia fazer na vida de cada ser humano. Entretanto, na atualidade, os professores estão longe daquela pretensa vontade. Tristemente a visão dos últimos anos tem sido outra.  Atualmente muitos dos professores, aparentemente, querem apenas uniformizar e, se possível, igualar mesmo toda a sociedade, numa condição de mesmice generalizada e indistinta. Se antes o desafio era mostrar a diversidade e sua importância para o aprendizado e à vivência social entre os seres humanos, tentando conviver mais e melhor, com e apesar dessa mesma diversidade. Agora está tudo muito diferente e a realidade é bem outra, pois agora a diversidade é usada como “arma” contra os que são menos diversos.

Hoje a diversidade tenta se impor como condição especial nas escolas e a história humana vai se fazendo por conta de intrigas e questões sociais criadas para transformar em problemas as diferenças naturais entre os seres humanos. E os professores assistem a tudo como se isso fosse normal, quase sem interferência ou com interferência comprometida. Os poucos que tentam interferir coerentemente acabam sendo massacrados por forças estranhas à educação.

Na atualidade as pessoas significam pouco ou nada, o que importa são as suas características distintas. Deste modo, quanto mais características distintas e peculiares, maior é a importância dos indivíduos e isso acaba sendo reforçado nas suas respectivas mentes, pela escola, pelo professor e principalmente pela mídia maldosa e nojenta que domina o cenário e investe maciçamente na segregação da sociedade. Nossa sociedade caminha através da criação de problemas oriundos diretamente ou intensificados pela mídia impiedosa que apenas quer ver “o circo pegar fogo”.

O desafio do professor atual é ser e fazer de maneira diferente desse padrão ilógico e anti-humano que se estabeleceu, tentando demonstrar que se somos tão bons tendo tais características diversas, podemos ser muito melhores se não nos objetivarmos especificamente a elas. Isto é, devemos tratar nossas características naturalmente, haja vista que elas são naturais, entendendo que nem eu e muito menos o outro ser humano, tem qualquer culpabilidade causal pela existência dessa característica. Tudo é consequência da diversidade natural da própria humanidade e que ninguém é melhor ou pior por apresentar o aspecto A, B ou C, pois somos todos seres humanos.

Nossa humanidade deve suplantar a nossa vontade e sobretudo, o nosso egoísmo. Não se trata aqui de deixar de lado as coisas para criar mártires, mas sim de produzir pessoas melhores e mais envolvidas com os demais seres humanos, apesar de todas as diferenças possíveis e existentes na sociedade. Está faltando humanidade e sobrando arrogância e egoísmo nos diferentes grupos sociais e isso começa pelas escolas na presença dos professores. A sociedade está em guerra por questões pouco importantes para os seres humanos e que não têm, verdadeiramente, nenhum significado para melhoria da vida de todos.

Considerando que os professores são os principais artífices da mudanças na sociedade, cabe a eles, mais diretamente, a responsabilidade maior, pela condução das mudanças que deve interferir positivamente nesse quadro social esdrúxulo e confuso. Entretanto, é preciso que os professores queiram efetivamente fazer isso e para tanto algumas coisas têm que acontecer. Será necessário exterminar essas escolhas inúteis e nefastas de criar seres humanos piores ou melhores aqui e ali, para atender aos interesses de alguns malfeitores poderosos, cujo interesse único é contaminar a sociedade cada vez mais para beneficiar os seus próprios interesses.

Os professores são os únicos profissionais capazes de cumprir essa árdua tarefa, mostrando a sociedade que a diversidade é salutar e que devemos conviver perfeitamente com ela, sem preconceitos, sem exageros e principalmente sem arbitrariedades sociais para justiçar esse ou aquele fim. A função dos professores é lembrar a todos os alunos e demais membros da escola que, antes e acima de tudo, somos todos seres humanos e que só evoluiremos como humanos, se respeitarmos os direitos dos demais seres humanos. Não devemos investir em guerras sociais, mas sim em consensos humanitários mais significativos.

Essa tarefa complicada será realmente um grande desafio, no atual estágio em que a humanidade se encontra e se alguém pode fazer isso acontecer, certamente é o profissional da educação, ou seja, o verdadeiro professor. Cabe ressaltar que o professor é o agente que convive com toda a diversidade social e atua na orientação e na instrução da sociedade. A escola, local de trabalho do professor, é um minimodelo da sociedade e os professores, que são os mantenedores desse modelo, podem e devem, obviamente se quiserem, tomar as rédeas desse compromisso e tornar a situação bem melhor do que o que temos visto.

Por conta disso, é que precisamos, cada vez mais, de professores capacitados e eficientes. Professores desvinculados de obrigações sociopolíticas e versados na verdadeira história da humanidade e não em interesses particulares de quem quer que seja. O futuro que nos aguarda, depende exatamente dos professores compromissados com a humanidade e atuantes nas questões disciplinares e sociais, sem paixões e principalmente sem vínculos doutrinários, para poder garantir a instrução às pessoas e a educação ao seres humanos e a humanidade como um todo.

Aqui, é bom lembrar que ensinar não é sinônimo de educar. Ainda que quem educa certamente ensina, a recíproca não é verdadeira. Educar, antes de tudo, envolve na liberdade de escolha e ação do educando, enquanto ensinar envolve em instruir e treinar para fazer algo, independentemente da escolha. A instrução é programada e espera um resultado, mas a educação transcende qualquer limite programado e ela só se dá efetivamente, quando o educando é capaz de se realizar por si só, quando o educando não mais precisa do educador e quando ele é capaz de modificar e de reverberar a partir daquela ideia inicial. Educar é muito mais do que ensinar e instruir.

Por outro lado, a diversidade humana é fundamental para nos permitir mais acertos do que erros no aprendizado das inúmeras ações sociais e humanitárias. Entretanto, como, atualmente, alguns resolveram priorizar certas diversidades e enfatizar suas existências, como se fossem “modelos sociais” a serem estabelecidos e obviamente a coisa tem fugido da lógica. Esses “modelos sociais” passaram a exigir regras precípuas, haja vista que certas características da diversidade humana que eles possuem, acabaram sendo entendidas como “superiores” e assim eles querem ter estabelecidas suas vantagens sociais.

Ora, discutir diversidade dessa maneira, numa sociedade plural, onde há diversidade em tudo e em quase todos, além de não fazer nenhum sentido, não pode ser um bom negócio para a própria sociedade. Isso só pode gerar conflito, porque obviamente, todos querem ter um direito a mais e um dever a menos. Desta maneira a sociedade se transforma numa verdadeira Torre de Babel, onde cada qual cuida de falar a sua língua e o outro que de se vire. Isso só serve para individualizar e a corporativar mais as relações que cada vez são menos públicas e mais particulares.

Deste modo, precisamos de seres humanos melhores, mais preocupados com a humanidade e não de pessoas robotizadas ou autômatos que desempenham uma função, mas que não sabem o porquê de cumprirem aquela determinada função dentro da sociedade. Consequentemente, a reflexão, o entendimento, a compreensão e a criação consequente, que são os principais frutos da educação e que são fundamentais para a melhoria das pessoas e da sociedade, não conseguem ser efetivados.

Pois então, o professor, que deveria ser o profissional capaz e responsável por construir e aperfeiçoar essa sociedade, infelizmente está cada vez mais raro, pois hoje qualquer instrutor (adestrador) sem nenhuma vergonha, se entende como um professor, mesmo quando apenas repete e exige o que não conhece e, o que é pior, a sociedade concorda com isso. A verdade é que, tristemente, as escolas estão cheias de picaretas travestidos de professores.

Deste modo, as pessoas (alunos), quando muito, são apenas treinadas para fazer (repetir) coisas. Não importa se essas coisas são boas ou ruins para a sociedade e muito menos para humanidade. A prática usual da coisa é o que importa. As consequências advindas não interessam a ninguém, ou interessam apenas a alguns privilegiados da sorte pela diversidade. Ora, me desculpem, mas quem age assim, não é um professor de fato, quando muito será um instrutor de qualidade bastante questionável, que até poderá, ocasionalmente, formar bons profissionais, mas jamais ensinará a pensar e muito menos refletir no interesse humanitário.

As escolas e as salas de aulas estão cheias de gente assim, “ministrando aulas” e isso tem favorecido drástica e acentuadamente a ruptura da sociedade e complicado bastante a nossa condição de ser humano. Essa situação tem feito muitas pessoas assumirem posturas e condutas sociais que não trazem nenhum benefício social e, o que é pior, que geralmente causam imensos conflitos e acabam sendo anti-humanas. Os professores poderiam e deveriam intervir na amenização desses problemas, mas muitos deles assumem posições que só servem para acirrar as batalhas, ao invés de atenuá-las, porque eles estão diretamente envolvidos nessas respectivas questões.

Senhores, vamos refletir sobre essa situação complicada e procurar atuar na sua resolução, através da orientação de uma convivência pacífica entre os diferentes grupos e interesses sociais. Todos nós temos preferências e prioridades, mas nenhum de nós é mais importante que qualquer um de nós na sociedade. Ninguém pode se assumir como dono absoluto dos direitos, da verdade e que o resto que se dane. É na escola que essa particularidade tem que voltar a ser ensinada e o verdadeiro professor é o sujeito social que pode, se quiser, começar a resolver essa questão.

Professores melhores, levarão às escolas melhores e às sociedades melhores, sem discriminação e sem qualquer viés ideológico. Valorizemos a diversidade humana e convivamos bem com ela. Certamente quase ninguém aceita integralmente todas as peculiaridades sociais, pelos mais diversos motivos, mas todos têm ciência de que dependem da sociedade para continuar se sentindo vivo e da humanidade para continuar se sentindo humano. A única maneira de conseguirmos atender os nossos anseios socio-humanitários e respeitando os direitos e os deveres de toda a sociedade, sem privilégios e sem desprestígio de quem quer que seja. Somos todos humanos e temos apenas que nos respeitar dentro dessa condição que é (deveria ser) igual para todos.

As diversidades e variedades sociais, morfológicas, comportamentais, ideológicas e psíquicas são consequência da existência da própria humanidade e isso nós não podemos mudar. Assim, nós devemos conviver bem com todas essas variantes se quisermos continuar sendo humanos. Precisamos cuidar para que não nos transformemos em monstros sociais e assim atuemos para favorecer o aumento do conflito social e consequentemente para o fim progressivo de nossa espécie. Nos denominamos Homo sapiens, então vamos fazer valer a nossa sabedoria em prol de nós mesmos.

Parabéns a todos os professores pelo Dia dos Professores e espero que todos se lembrem da responsabilidade que nós temos com nossa profissão, com a sociedade brasileira e com a humanidade. Não podemos deixar que continuem nos enganando e criando questões sociais para justificar o abandono generalizado das escolas e a desvalorização sempre maior de nossa profissão, que, apesar de todas as dificuldades, continua sendo a mais importante de todas e não pode se sujeitar a mesquinhez, a indignidade e a imoralidade de alguns.

Professores, deixem de ser marionetes e deixem de torcer para esses “oportunistas sociais” que estão por aí, apenas para criar problemas. Vamos acordar para a realidade brasileira e vamos trabalhar para atender as necessidades nacionais e realizarmos festas efetivas para a nossa profissão doravante.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo; Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

26 abr 2021

Desabafo de um “Velho Mestre”

Resumo: O artigo chama a atenção para o fato de que muitas das pretensas “modernidades educacionais” que estão sendo apresentadas para melhorar a Educação, não passam de mera enganação e de maquiagem que servem apenas para esconder a péssima qualidade da Educação no país, além de  desprestigiar os professores e de favorecer a outros interesses não ligados à Educação. 


Ultimamente tenho pensado bastante a respeito do que estão atualmente chamando de “Metodologias Ativas” para a Educação e sinceramente não estou vendo nada que eu, com todo meu conservadorismo, já não tenha feito há, pelo menos, 50 anos atrás.  Na verdade, o que mudou foram os alunos e a escola que, querendo, não sei o porquê, evoluir, acaba ficando cada vez mais retrógrada, quando precisa se modernizar. A propósito modernizar a escola não é fazer modismos na escola ou na sala de aula. Mudar a escola é tentar trazê-la para a realidade do seu tempo, sem comprometer seus interesses primários, isto é, o processo ensino-aprendizagem e a educação como um todo. 

Pelo que tenho observado, em muitos casos, a escola está querendo deixar de ser escola para virar espetáculo artístico e muitas vezes circense, mas não vamos discutir sobre esse aspecto nesse momento. Cabe apenas lembrar que, o professor e a sala de aula, dentro ou fora da escola, são os mesmos e as metodologias, os artifícios e mecanismos para ensinar, também são os mesmos que sempre existiram, pois ensinar continua sendo, apenas e tão somente ensinar. Quer dizer, a escola em essência não mudou e nem pode mudar, porque se isso acontecer ela em entrará em contraste com seus preceitos básicos.

O que tem mudado bastante são as tecnologias aplicáveis ao ensino e algumas destas realmente são muito boas, para quem sabe fazer uso delas. Eu confesso que tenho imensa dificuldade com certos materiais, mas não me sinto inferior por causa disso, até porque costumo saber do que estou falando, quando ministro minhas aulas, o que, infelizmente, não costuma ser verdade para grande parte dos professores que andam por aí. Assim, a ferramenta, o acessório e toda parafernália instrumental que deveria favorecer ao processo ensino-aprendizagem, acaba não funcionando da maneira como seria esperado e consequentemente atrapalhando, porque não existe mágica. 

A verdade é uma só, ninguém é capaz de ensinar aquilo que não sabe, com ou sem parafernália tecnológica e o que temos visto por aí é um festival de absurdos, onde os materiais acessórios atrapalham mais que ajudam, por conta da incapacidade profissional de muitos “professores”, além da passividade e do desinteresse da maioria dos alunos. O que está faltando, de fato, é conhecimento por parte de quem deveria ensinar e vontade de adquirir conhecimento por parte de quem deveria aprender.

É claro que eu sei e todo mundo sabe, que os tempos são outros, que os jovens de hoje têm pensamentos e anseios diferentes e que existe muita dificuldade de atraí-los para as aulas, até porque, para muitos, “aula é uma coisa chata”, “estudar toma tempo e é bastante complicado” e várias outras coisas poderiam ser ditas para confirmar que, lamentavelmente, hoje existem inúmeras opções mais atraentes para os alunos do que a escola e as aulas. O problema está exatamente aí: como fazer para tornar as aulas e as escolas mais interessante aos alunos, sem ridicularizar a escola como entidade formadora de indivíduos melhores moral, social e culturalmente?

Certamente o aluno é o sujeito mais importante da escola e isso não é moderno, pois só existe escola porque existem alunos. Ao aluno se deve todo o processo educacional, então esse sujeito foi, continua sendo e sempre será a parte mais fundamental no processo. Entretanto, o aluno atual tem visado outros interesses, deixando a escola para planos inferiores na sua escala de prioridades. Cabe ao professor a missão de redirecionar o aluno aos interesses primários da escola e obviamente a parafernália instrumental pode e deve ajudar nessa missão. Mas, a figura do professor deve dirigir os instrumentos de acordo com os objetivos do ensino e não fazer espetáculos tecnológicos infundados.

Não existe essa história de que a escola hoje é centrada no aluno e a escola de ontem era centrada no professor, pois escola nenhuma nunca foi centrada no professor. Se existiu escola assim, em algum momento, ela estava muito errada e desconexa de seu interesse primário. O que talvez existisse, no passado, era uma pretensa “superioridade” do professor como indivíduo, sobre o aluno, o que também, na minha maneira de entender, sempre foi uma falácia desagradável, perigosa e que contraria a própria noção de educação.

Outra coisa que também poderia ser considerada, é que antes o respeito à pessoa do professor era muito maior e hoje, em muitos casos, simplesmente esse respeito deixou de existir. Mas, eu quero crer que isso também tenha a ver, lamentavelmente com a falta de competência do próprio professor. Entretanto, não vou me ater a essas discussões no momento e vou deixá-las para outra oportunidade. Vamos em frente.

Ainda que o aluno seja o sujeito mais importante em qualquer escola, o agente principal da sala de aula sempre foi e continuará sendo é o professor. As técnicas didático-pedagógicas podem e devem mudar e evoluir sempre, mas o professor continuará sendo imprescindível. Pois então, o que está faltando nas escolas é mais trabalho profissional efetivo dos professores, que hoje, na maioria das vezes, são pessoas totalmente despreparadas e, o que é pior, sem conhecimento efetivo de sua matéria e sem cultura geral. 

Lamentavelmente, a própria profissão de professor está bastante desgastada pela sociedade, pois atualmente, para a maioria das pessoas, o professor é tido como alguém que não conseguiu fazer outra coisa mais importante e assim foi “ministrar” aulas. Infelizmente a má qualidade do professor é que acaba sendo realmente o grande problema, porque quando o professor tem interesse real e prazer em ensinar, ele procura efetivamente saber o que tem que saber e aí, com ou sem ferramentas de última geração, ele consegue ensinar. Com seriedade profissional, algumas vezes, ele consegue ensinar até mesmo aquele aluno que não quer aprender.

Cabe lembrar que esse tipo de aluno que, não quer aprender, sempre existiu. O que acontece é que hoje o contingente é aparentemente maior, porque a escola concorre e obviamente acaba perdendo de longe para outras coisas mais interessantes no pensamento do aluno. Coisas, que lamentavelmente são reforçadas pela sociedade atual, principalmente através da mídia e que acabam tomando grande parte do lugar que deveria ser ocupado pela escola, como já foi dito. 

Por outro lado, não adianta toda a parafernália instrumental se o professor não conhece do assunto que deveria ensinar. É triste o quadro, mas hoje, infelizmente, qualquer um está ministrando aula de qualquer coisa, em qualquer lugar e, dessa maneira, realmente não é possível continuar, principalmente no terceiro grau, onde é relativamente comum encontrarmos professores lendo “slides” para os alunos e coisas parecidas. Tudo bem; quer dizer, na verdade, tudo mal; porque existem muitos alunos que são analfabetos funcionais no Ensino Superior e assim, não sabem ler, mas isso, além de ser uma incongruência, também é uma enorme indecência que a escola e o sistema educacional permitem. Mas, essa também é outra história que fica para depois.

Uma aula tradicional, sem enganação, ainda é capaz de atrair muitos alunos, mas uma aula tecnológica sem coerência, sem lógica e sem relacionamento, certamente não atrai ninguém. Ou melhor, talvez atraia apenas aos “festeiros de plantão”. Qualquer aula necessita ser estimulante para vencer a concorrência, mas o estímulo tem que ser dado pelo professor e não pela parafernália instrumental. O professor como principal agente do processo educacional tem a obrigação de criar os mecanismos para atrair o público da escola presente na sua aula, mas obviamente sem exageros.

Cabe lembrar que não é qualquer um que pode ser professor. Em toda área profissional existem exigências mínimas para o exercício profissional, porque com a função de professor essa questão é diferente. O verdadeiro professor tem que ser um sujeito devidamente preocupado com a educação e preparado para ensinar, possuindo conhecimento efetivo de sua disciplina e visão genérica do processo educacional. Ser professor vai muito além de estar à frente de uma turma e tentar ministrar aulas.

Então, me desculpem, mas essas “Metodologias Ativas” não existem, o que existe é incompetência generalizada e por isso se criou um subterfúgio para mascarar as deficiências do ensino. É claro que muitas vezes funciona, se quem aplica é sério, tem conhecimento de sua área, sabe o que faz na aplicação do recurso e está mesmo a fim de ensinar. Entretanto, na maioria das vezes é só mais uma enrolação moderna sem tamanho, acerca de coisa nenhuma, como sempre existiu, mas agora com muito atrativo, que acaba sendo uma cilada da alta tecnologia moderna. 

Na verdade, muitas vezes o professor acaba esquecendo que está numa escola e procura chamar a atenção dos alunos, apenas para os modismos tecnológicos, que são interessantes e algumas vezes até fantásticos, mas que, sozinhos, não têm capacidade de levar ninguém a aprender alguma coisa se esse alguém não quiser. Aliás, pelo que tenho visto, para enganar, de ambos os lados fundamentais da escola, o aluno ou o professor, com tecnologias brilhantes é mais fácil e mais interessante do que parece. 

Talvez, por isso o mundo esteja cheio de mascates, mercadores, marreteiros, embusteiros, “hackers” e outros picaretas tecnológicos, vendendo bugigangas para as escolas. Além disso, sempre é bom lembrar que, para muitas escolas, isso acaba sendo bastante interessante, haja vista que investir na aquisição dessas bugigangas costuma ser mais barato, a longo prazo, do que pagar melhor os professores e possuir em seu quadro profissionais mais competentes. Mas, essa também é outra história. 

A tecnologia compõe-se de algumas ferramentas muito boas, mas elas devem ser usadas e tratadas apenas como ferramentas para auxiliar ao processo de ensino-aprendizagem e não como truque fantástico de ilusionismo. Essas ferramentas devem ser usadas por quem sabe, para servir ao interesse a que se propõem, no caso os interesses da Educação, mas infelizmente não é isso que se tem observado, em grande parte das “escolas modernas”. 

Em alguns casos e momentos o “professor” fica totalmente dependente da ferramenta e passa, desgraçadamente, a ser ele a ferramenta. Isto é, o sujeito vira objeto e assim, a ferramenta passa a ser o ator mais importante da escola. O pior é que no meio do caminho tem o aluno e entre esses alunos, existem alguns que realmente querem aprender, mas não encontram base e nem respaldo na figura do professor, que está ali apenas para “quebrar um galho” ou para “ganhar um dinheirinho” que lhe permita sobreviver.

Ensinar é uma tarefa nobre e algo realmente prazeroso e sensacional, mas precisa de gente séria, bem-intencionada, bem-preparada, com capacidade e sobretudo com conhecimento de causa, o resto se consegue na conversa, na troca de informação, com os alunos. Obviamente que: uns vão aproveitar e outros não vão. Sempre foi assim e continuará sendo, mas a escola tem que parar de querer justificar o injustificável e transferir problemas inventando novos nomes para coisas velhas que e sempre existiram. 

O uso do computador, do celular, da INTERNET e dos mais diversos recursos audiovisuais são excelentes para auxiliar as aulas e facilitar o processo de ensino-aprendizagem. Particularmente nesse momento, em que temos que trabalhar com aulas remotas, por conta a da quarentena condicionada pelo Pandemia de Corona Vírus (COVID-19), toda parafernália de material tecnológico tem sido grande aliada e tem demonstrado sua importância à educação. Porém, é preciso que fique claro, que todas essas coisas são ferramentas e como tal, devem ser usadas com parcimônia e coerência. 

Por outro lado, é fundamental que se entenda e que não se deixe de dar a devida importância a principal ferramenta para o ensino e que por isso mesmo, é a mais importante ferramenta para que a escola possa cumprir bem a sua missão de ensinar, que é o professor. O professor sempre foi e certamente continuará sendo, a única ferramenta efetivamente capaz de cumprir a missão de ensinar a alguém.

Então, ao invés de ficar dando nomes novos a coisas velhas e de ficar desenvolvendo novos programas de informática e novas técnicas eletrônicas, talvez fosse muito melhor investir mais na formação de professores de qualidade e respeitar um pouco mais aos “velhos” professores. Isto é, se preocupar em adquirir e manter professores que tenham conhecimento e que sejam capazes de ensinar sem a mágica da tecnologia. Cabe lembrar que, o professor, independente da sua área específica de conhecimento, tem que ter conhecimento geral, tem que ter cultura, pois só quem tem cultura pode realmente ensinar. 

Temos que parar com esse negócio de achar que qualquer um pode ensinar, porque na verdade, ninguém ensina aquilo que não sabe. Muitas vezes o espetáculo (“show”” teatral) da aula é muito bom, mas não há aprendizado absolutamente nenhum, porque a aula (qualquer aula em qualquer nível) não é e não pode ser apenas um “show” teatral, principalmente quando está se falando em formação de novos professores. Aula tem que ser coisa séria, que pode e deve até ser alegre e divertida, mas não pode fugir ao seu propósito fundamental de ensinar e formar o aluno. 

As técnicas obviamente são importantes, mas elas não são preponderantes, pois a importância maior, salvo melhor juízo, tem que estar a cargo do professor, seu conhecimento e toda sua bagagem cognitiva. O exercício da atividade profissional de professor exige profissionais competentes e cônscios da importantíssima função social que é atribuída ao magistério. Assim, a prática efetiva do magistério não pode ficar à mercê de qualquer curioso ou picareta ornamentado de parafernálias eletrônicas.

O dia que todos os envolvidos na escola, inclusive os alunos em todos os níveis de ensino e formação, estiverem realmente preocupados com a escola e com suas respectivas formações, certamente as coisas começarão a acontecer de maneira correta e obviamente os resultados do processo ensino-aprendizagem serão melhores. Entretanto, eu penso que isso ainda seja uma utopia, porque estamos falando de seres humanos e nada é mais complexo do que o ser humano, particularmente o ser humano brasileiro. 

O ser humano é dotado de vontade e deve ser sempre respeitado nesse direito. Mas, por outro lado, é preciso ficar evidente à toda sociedade que o direito de um termina quando começa o do outro. Na escola o direito é estudar e o aluno que não quer estudar, não deve, a priori, fazer parte da escola. Da mesma forma, o professor que não quer ou que não pode ensinar, também não pode estar na escola e a escola que não quer formar bem seus alunos não deve existir. O resto é balela. As coisas só funcionarão bem quando a principal preocupação de todos na escola for, apenas e tão somente, a educação para fazer o aluno estudar e aprender. 

Deste modo, peço vênia pelo meu radicalismo, pela minha impetuosidade e pela minha veemência nessas afirmativas, mas acredito que as mudanças necessárias efetivas não são de “Metodologias Ativas” ou de “Técnicas Modernas de Ensino”, mas sim de comportamento, de interesse real, de comprometimento, de seriedade e de competência de todos envolvidos no processo educacional. Ou seja, eu acredito que se existirem governantes sérios, dirigentes comprometidos, professores capacitados e alunos ávidos por saber, com ou sem parafernália tecnológica, conseguiremos fazer uma escola de qualidade. 

Mas, a pergunta que fica é seguinte: será que existe interesse verdadeiro e efetivo de que essa escola de qualidade realmente exista no Brasil? Ou será que, como disse o saudoso e eterno Darcy Ribeiro: “a crise da educação no Brasil, não é uma crise, é um projeto”?

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65)

14 out 2015

COMO MUDAR A REALIDADE DO PROFESSOR NO BRASIL?

Resumo: Por conta de estarmos na semana em se comemora o Dia do Professor, nesse artigo é apresentada uma abordagem da situação lastimável em que a profissão de professor foi colocada e também é solicitado um envolvimento maior da população no sentido de tentar minimizar o desleixo das autoridades constituídas sobre a questão profissional do professor, quando se compara essa profissão com outras. É preciso que sejam analisadas as causas e corrigidas as pendências que produziram essa situação.


COMO MUDAR A REALIDADE DO PROFESSOR NO BRASIL?

Nesta semana estaremos vivenciando mais um 15 de outubro. Desde de 1963, nessa data, comemora-se o Dia do Professor no Brasil, portanto nesse dia 15 de outubro, nós professores deveríamos estar em festa, porque estamos oficialmente completando 52 anos da nossa data comemorativa e que, no passado, já foi motivo de orgulho, de festa e de júbilo para muitos professores como nós. Entretanto, hoje é apenas mais uma data marcada no calendário, a ser comemorada por alguns obstinados e outros poucos “loucos e idiotas”, como eu, que ainda acreditam na Educação como solução e que sabem que sem o professor a Educação é apenas uma balela dos inúmeros politiqueiros de plantão que existem no Brasil. Entretanto precisamos ir em frente, pois temos um país e mais de 205 milhões de almas para melhorar de vida em todos os níveis e sem educação isso efetivamente será impossível.

Agora nossos “brilhantes” dirigentes inventaram o Plano Nacional de Educação (Lei 13.005 de 25/07/2014), que se compõe basicamente de 20 metas para serem implantadas e estabelecidas entre 2014 e 2024 e mais uma vez, esse plano “fantástico e revolucionário” envolve muito pouco a figura do professor. Apenas as metas 15, 16, 17 e 18 abordam alguma coisa sobre a profissional do magistério. Entretanto, somente as metas 17 e 18 falam alguma coisa, mas muito genericamente, sobre a questão salarial, o que é muito pouco. Meta 17: valorizar os(as) profissionais do magistério das redes públicas de educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos(as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE.

Meta 18: assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a existência de planos de Carreira para os(as) profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de Carreira dos(as) profissionais da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art.06 da Constituição Federal”.

Em suma, criar um Plano Nacional de Educação sem atribuir a devida importância ao professor é o mesmo que querer jogar futebol sem ter contato com a bola, ou seja, mais uma vez não deverá funcionar.

Ora, só pode ser piada querer falar de Educação, sem, se quer, discutir detalhadamente a melhoria das condições de trabalho e principalmente de salário do professorado nacional. Nesse país, que me desculpem as funções úteis e os seus profissionais sérios, mas, nesse país, onde a grande maioria dos profissionais ganha o suficiente para sobreviver, o professor tem que ganhar a sua vida nos bicos que consegue fazer, porque a educação, que é a área de atuação do professor, não é tratada a sério. Assim, o trabalho do professor é uma atividade quase voluntária, um sacerdócio como diziam os antigos, no qual ele se oferece prontamente por conta da paixão que tem pelo trabalho que executa e não exige nada em troca. É preciso acabar com essa lenda de achar que o professor é um tipo diferente dos demais e que não está sujeito às mesmas necessidades dos outros seres humanos.

A coisa já começa errada quando a gente observa que sempre, em qualquer profissão, alguém vende alguma coisa, mas o professor não vende nada, o professor dá aulas. (Grifo proposital do autor.) Está mais que na hora desse negócio mudar e a função de ministrar aulas passar a ser um negócio efetivo, onde o professor deverá entrar com o seu conhecimento e sua didática para vender alguma informação e produzir algum conhecimento no seu aluno, mas principalmente onde deverá ser pago condizentemente por aquilo que faz.

Cabe aqui lembrar que segundo a Constituição da República Federativa do Brasil, em seu Artigo sétimo, que trata sobre os direitos dos trabalhadores, e o professor obviamente é um trabalhador, traz estabelecido em seu inciso IV o seguinte texto: “salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim”. Assim, o salário é muito mais que um direito, ele é sagrado e tem que ser suficiente para suprir as necessidades mínimas de quem o recebe, mas essa não tem sido a realidade para muitas profissões e muitos profissionais, principalmente para os professores, que têm necessidades específicas nas suas respectivas formações e na grande maioria das vezes, não recebem condizentemente com a formação que possuem.

Entra ano e sai ano, entra político e sai político e a situação salarial do professor nunca é resolvida. Por que isso acontece? Por que tanto desprestígio com a profissão de professor, num país onde a educação ainda é a maior carência nacional? Que mal histórico os professores fizeram aos políticos e dirigentes desse país? Só pode haver uma resposta para as perguntas acima: educação não é algo realmente que possa interessar a quem administra o Brasil e já faz muito tempo que a realidade é essa.

Mas, por que a educação não é importante para um país de mais de 205 milhões de habitantes?  Também só existe uma resposta para essa pergunta: os poderosos preferem manter o “status quo” de uma população ignorante para continuar dominando a massa idiotizada nacional. Quanto mais ignorante for a população, melhor será para quem administra, pois a fiscalização popular será sempre menor e a capacidade de cometer absurdos administrativos (leia-se roubos e falcatruas) com a conivência, ou pelo menos sem a devida cobrança da população, será sempre maior.  Os indivíduos que se sucederam no comando do país vêm, há muito tempo, trabalhando direitinho para manter esse “status quo”. Vou fazer 60 anos e não vi ninguém, ao longo desses anos, absolutamente nenhum dirigente nacional, independentemente de partido político, tentar mudar efetivamente a situação salarial do professor. Ou melhor, mudou sempre para pior. Quer dizer: ou os dirigentes são todos indivíduos de mal caráter ou são todos indivíduos contrários à profissão de professor.

Analisando friamente as duas possibilidades, eu chego à conclusão que mesmo que todos fossem realmente sujeitos de mal caráter, eles certamente teriam amigos e parentes professores e assim, mesmo por puro nepotismo, não seriam tão maldosos o quanto efetivamente são com os professores. Sendo assim, a única explicação é a segunda, isto é, os dirigentes são indivíduos contrários à profissão de professor. Mas, por que esses indivíduos teriam uma briga específica contra a profissão de professor? Talvez, porque essa é a única profissão que pode demonstrar à população, o quanto muitos desses sujeitos são canalhas e safados. Além disso, existem muitos que não eram primitivamente canalhas e nem safados, mas que são ludibriados e ficam magicamente iludidos pelos cargos que ocupam, quando se assumem dirigentes. Obviamente, todos esses indivíduos, direta ou indiretamente, temem que a população possa saber a realidade que acontece com eles.

Espera aí Luiz: você está afirmando que todos, efetivamente todos, sem exceção, todos os dirigentes do país são sujeitos canalhas e safados, que não querem ver, ou bobos que são levados a não querer ver a população brasileira ficar mais esclarecida e melhor preparada para ajudar o país a se desenvolver sustentavelmente? Infelizmente, é exatamente isso que acontece.

Obviamente muitos desses indivíduos não chegaram ao poder pensando assim, mas ao atingirem o topo, foram obrigados a assumir uma postura que privilegia tudo, menos a educação e o infeliz do professor é quem paga o pato, exatamente porque ele é o sujeito que vive em função direta da educação. Essa postura que o país apresenta e que no primeiro momento pode até não ser culpa do dirigente, mas que acaba sendo principalmente dele, em consequência de suas ações, voluntárias ou não, contra a educação e contra o professor é que precisa ser combatida. As organizações em defesa da profissão de professor têm que lutar frontalmente contra esse aspecto para que a situação econômica do professorado possa melhorar.

A propaganda, o marketing, o consumo, enfim as empresas e atividades que promovem e dependem de ações que cegam a população e apresentam inverdades como formas de felicidade é que devem ser combatidas para melhorar a educação a situação dos professores. São essas empresas e atividades que invertem a realidade e que mentem veementemente sobre as necessidades que levam alguns dos governantes a vender a alma e esquecer que foram eleitos para tentar melhorar a vida das pessoas e do lugar. O poder dessas instituições físicas e principalmente jurídicas na compra de opinião pública e na capacidade de manipular os interesses governamentais é que mascara o interesse da educação e que inibe a possibilidade de transformar o professor num profissional como outro qualquer.

Veja bem, não quero que o professor seja melhor que ninguém, só quero que ele receba o mesmo tratamento dos demais. Por que a hora de trabalho de determinados profissionais no serviço público vale R$100,00 (cem reais) e a hora da grande maioria dos professores gira entorno de R$10,00 (dez reais)? Alguma coisa está errada com esse país ou com esses profissionais, porque a diferença, nesse caso, é da ordem de 10 vezes mais. Se isso é legal, certamente não é moral. Acho que o sujeito que recebe R$100,00 reais por hora ganha de mais e o recebe R$10,00 por hora ganha de menos. Mas, eu não quero e não vou discutir sobre esse aspecto absurdo agora.

Para essas entidades do mal, aquelas que mentem para a população, o professor é realmente um monstro que precisa ser combatido, porque ele traz problemas aos seus interesses escusos e exclusivamente econômicos. As instituições que atuam na defesa dos profissionais de educação devem declarar guerra contra essas entidades, ou então a educação continuará andando na contramão e os professores, que hoje já estão na pobreza, estarão fadados a miserabilidade eterna. Os políticos sérios, que eu acredito que ainda existem, por sua vez têm que ficar atentos às manobras dessas entidades que chegam sorrateiramente evidenciando outras importâncias e esquecendo cada vez mais a educação e o infeliz do professor. Esses políticos devem tomar cuidado e se vacinarem, para também não serem infectados pelos vírus do fim da educação e da pobreza eterna dos professores.

São 52 anos da data, porém, nos últimos 40 anos, certamente só andamos na contramão, mas ainda é possível mudar a história e melhorar a vida de nossos 205 milhões de almas penadas. Entretanto isso só acontecerá, quando a educação for realmente prioridade e quando esse momento chegar (se chegar), obviamente o professor passará a ser prioridade também, porque não existe educação sem escola, da mesma forma que não existe escola sem aluno e não existe aluno sem professor.

A história recente do Brasil trabalhou para extinguir o professor e não conseguiu e nem vai conseguir nunca, porque a escola, mesmo essa escola mentirosa que está aí, também depende desse infeliz que ensina e que tenta transformar para melhor a vida das pessoas. Se nessa escola ruim o professor já é indispensável, imaginem então, quando o Brasil tiver uma educação de verdade, como esse profissional será extremamente necessário. Senhores, busquemos pois, a verdadeira educação, sem a intromissão de mídia e dos picaretas de plantão que estão historicamente fazendo desse país um local digno de pena e motivo de chacota internacionalmente.

Um pais que se estabelece entre os 10 primeiros na economia mundial, mas que está próximo de ser o centésimo em qualidade de vida e bem depois dessa condição de centésimo quando se avalia apenas a educação. Um país que possui a quinta maior população do planeta, que tem centenas, talvez milhares de Universidades, (estão cadastradas cerca de 2.400 instituições de ensino superior no Brasil), mas em que a maior e a principal delas (USP) não se encontra nem entre as 100 primeiras do mundo. Um país efetivamente carente de Educação como o nosso, precisa investir muito no professor para tentar mudar de cara e se desenvolver com toda a sustentabilidade que o mundo necessita.

O professor é certamente o único profissional que pode mudar a realidade educacional do Brasil, mas é preciso que as pessoas que atuam na área queiram verdadeiramente ser profissionais professores. Com o salário que se paga ao professor, infelizmente, só alguns “loucos” e muitos incompetentes, que não servem às outras profissões, têm se manifestado no interesse de trabalhar nessa “profissãozinha”. Se quisermos mudar essa situação, temos que melhorar a situação profissional, particularmente a situação financeira da profissão de professor, que urge por ser mais valorizada pelo bem da educação nacional.

É bom lembrar que o professor é profissional que forma todos os outros e assim, se o professor é ruim, os demais profissionais certamente também serão. Acho que o Brasil precisa refletir mais e rapidamente sobre esse significativo aspecto. (Grifo proposital do autor.)

Feliz 15 de outubro para aqueles professores que, como eu, ainda acreditam que as coisas podem mudar, que esse país tem jeito, desde que os professores competentes, os políticos sérios, a população pensante e decente queiram efetivamente se envolver na melhoria da educação nacional. Ainda poderemos viver verdadeiramente felizes dias dos professores no futuro, pois tudo pode ser melhor para a Educação, para nós professores e para o Brasil.

Referências:
BRASIL, 2012. Constituição da República Federativa do Brasil - 1988 (35ª Edição), Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados, Centro de Documentação e Informação, Brasília, 446p.
BRASIL, 2014. Planejando a próxima década: conhecendo as 20 metas do Plano Nacional de Educação, MEC/SASE, Brasília, 62 p.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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