Dia da Educação Ambiental
Resumo: Neste artigo faço uma pequena Reflexão sobre a Verdadeira Educação Ambiental que precisa ser ensinada à sociedade. E questiono o que tem sido feito até agora, com o nome de Educação Ambiental.
Nesta semana, temos duas datas “comemorativas” importantes, no dia 05 de junho, o Meio Ambiente, completará oficialmente 53 anos no mundo, embora a Terra (o ambiente que nos abriga) tenha 5 Bilhões. Já, no dia 03 de junho a Educação Ambiental Nacional. A primeira data já é tradicional, mas a segunda data, que foi estabelecida, pela Lei 12.633, tristemente, ainda é pouco conhecida da grande maioria dos brasileiros.
Embora haja uma data Mundial também para a Educação Ambiental, desde 1975, dia 26 de janeiro, que este ano completou 50 anos, aqui estamos pensando na Educação Ambiental mais recentemente e a nossa data está completando apenas 13 anos, ou outros 37 anos podem ser considerados como a inércia nacional em relação ao tema.
O Dia Nacional da Educação Ambiental foi criado de 14 de maio de 2012, para comemorar os 20 anos da Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92 ou Eco 92). Entretanto, se pouco tem sido feito pela própria Educação Nacional, como um todo, imaginem então, a situação da Educação Ambiental, particularmente. Essa é mais uma data, como tantas por aí, que são criadas no país, para agradar alguém ou alguma coisa, por simples formalidade, por puro modismo ou ainda para justificar o injustificável.
No caso específico da Educação Ambiental, continuamos falando e fazendo bobagem e a “moda” já pegou, mas o conhecimento em si, está muito longe do que precisa ser. É um tal de reciclagem disso, proteção ambiental daquilo, preservação ambiental daquilo outro, mas é tudo falácia, sem nenhum critério e, o que é pior, sem nenhuma logicidade e sem qualquer conhecimento de causa.
E, de repente, isso passou a ser chamado de “Educação Ambiental”. E os coitados dos estudantes são quem mais sofrem, porque ficam por aí, fazendo coisas sem entender nada, haja vista que ninguém explica. Há um “fazejamento” generalizado de coisas sem nexo, tanto educacional quanto ambientalmente e, desta maneira, sem nenhuma conotação efetiva com a Educação Ambiental em si, a coisa tem seguido seu caminho.
Primeiramente, eu quero falar um pouco do que seja efetivamente essa tal de Educação Ambiental. A priori, a Educação Ambiental é uma maneira lógica de tratar o ambiente, seja ele qual for, e se você já começa reciclando é porque já fez coisa errada antes, porque só se recicla resíduo ou sobra de algo. Reciclar o resíduo é bom e necessário. Entretanto, se sobrou alguma coisa é porque se produziu mais do que, na verdade, se necessitava.
A Educação Ambiental, tem tudo a ver com o verbo necessitar. O objetivo primário da Educação Ambiental deve ser usar o mínimo, ou melhor, usar apenas o necessário, cuidando dos espaços físicos e dos recursos naturais neles existentes, dentro dos limites estritamente necessários para não produzir resíduos e nem sobras.
Quer dizer, o ponto de partida da Educação Ambiental consiste, a meu ver, em quatro princípios fundamentais:
1 – fazer o ser humano, independentemente da idade, entender que ele não é dono de nada, além de sua própria vida;
2 – fazer o ser humano, independentemente da idade, entender que todo ambiente (espaço físico) necessita ser respeitado e usado com parcimônia e critério;
3 – fazer o ser humano, independentemente da idade, entender que o planeta é um só e que todas as coisas materiais que existem no planeta são limitadas e finitas. Ou seja, que nada dura para sempre, nem o planeta, nem as coisas e nem as espécies vivas inclusive a nossa espécie.
4 – a partir desse entendimento, a sociedade deve ser ensinada, sobre os modos de como trabalhar ativa e efetivamente para continuar mantendo esse status quo idealizado em todas as situações, momentos e lugares.
Peço vênia, mas qualquer coisa diferente disso, certamente não é Educação Ambiental. Embora, algumas coisas que são feitas, até possam ter uma relação operacional e direta com a Educação Ambiental, a grande maioria do que se vê não protege o ambiente e não educa ninguém na direção de garantir a qualidade da vida e continuidade dos recursos naturais. E deste modo, não podem ser consideradas como formas de Educação Ambiental.
Pois então, temos visto muita gente operacionando em diversas áreas de interesse da Educação Ambiental, sem, entretanto, se preocupar com os 4 pontos de partida citados acima descritos. Chega-se mesmo a ponto de alguns dizerem que é necessário ter “lixo” (resíduo) para poder haver reciclagem e para que alguém possa ganhar algum dinheiro. Ou seja, a preocupação não é ambiental e muito menos educacional.
Quer dizer, quem pensa assim, não sabe, nem de longe, o que seja Educação Ambiental. Tem gente que diz ser educador ambiental, mas que continua “atirando o pau no gato” até hoje, chamando minhocas e lesmas de “bichinhos nojentos”, insetos de “animais nocivos”, sapo de “bicho feio”, barata de “ser inútil”, cobra de “animal terrível” e algumas plantas que liberam toxinas de “plantas perigosas”. Por outro lado, os seres humanos que matam outros seres humanos são considerados “pobres coitados” e vítimas da sociedade.
A Educação Ambiental tem sim, a ver com tudo isso, mas muitos “educadores ambientais” nem desconfiam desse fato. É preciso entender bastante de Educação e de Meio Ambiente para se fazer Educação Ambiental e não apenas “macaquear” coisas que estão na moda. O ser humano é um ser pensante e precisa entender aquilo que faz, respondendo fundamentalmente: por que? Para quê? Como? Onde? Qual o objetivo que fundamenta a ação que se quer produzir?
Não basta apenas, por exemplo, separar latinhas ou coisa parecida e vender, apenas porque alguém vai ganhar algum dinheiro com isso. Tem que saber de onde vem a latinha, sua origem material, como ela é feita, quanta energia e água é gasta na sua produção e quanto se economiza quando se recicla a latinha, porque, por vários aspectos, é mais barato reciclar do que gerar novas latinhas. Não há necessidade de retirar, nem transportar e nem trabalhar a bauxita para fazer o alumínio, não há necessidade de gastar tanta água e tanta energia como na produção inicial. Isto é, parte do projeto já está andado e assim, a natureza ganha e a economia também. Reciclar é importante, mas não é fundamental.
Ao contrário do que a grande maioria pensa, reciclar latinha não dá lucro. Reciclar latinha diminui o prejuízo ambiental planetário. O reciclador ganha, mas antes dele, a natureza perdeu e alguém que produziu a latinha também perdeu e o que reciclador ganha nem chega perto do que foi perdido. É preciso entender que sempre há perda, embora haja algum lucro para quem apenas se utiliza da parte final do sistema.
Eu usei o exemplo da latinha, mas isso acontece com qualquer outra coisa reciclada. É claro que o reciclado sempre é mais barato do que o original, porque ele não sai diretamente da natureza e assim sua reutilização, além de não necessitar da retirada do recurso da natureza, também envolve menos trabalho Entretanto, os custos operacionais da produção daquela peça inicial estão sempre contidos nela.
Por outro lado, também é preciso entender que não há “lixo” na natureza e que há coisas que são naturalmente recicláveis e que ninguém quer reciclar, porque apodrece e, muitas vezes, cheira mal. Embora essas coisas não sirvam, diretamente, para ganhar dinheiro, elas servem para não gastar mais dinheiro e eu entendo que se deixar de gastar, já consiste num grande lucro. Estou me referindo ao material orgânico, a sobra de comida, que é 100% reciclável, pois pode ser utilizada para fazer compostagem e consequentemente para produzir novos alimentos sem deixar qualquer resíduo.
Meus amigos, Educação Ambiental é entender o que pode ser feito e trabalhar nos processos de realmente fazer aquilo que é necessário, desde a retirada do recursos da natureza até o seu descarte ou reaproveitamento. Entretanto, antes disso, é preciso que se avalie bem a verdadeira necessidade do recurso natural em questão. Não é possível utilizar qualquer recurso só por puro prazer. A natureza levou muito tempo para produzir as riquezas naturais e não é certo nós as destruirmos por diletantismo, muito menos, que consumamos os recursos naturais por simples prazer.
Essa é verdadeira Educação Ambiental que precisa ser ensinada à sociedade, demonstrando que qualquer ambiente, a sua modo, tem uma maneira especial de ser entendido e posteriormente ocupado e consequentemente utilizado. Aliás, essa deveria ter sido a maneira de ocupar o planeta desde o início, no entanto, a humanidade extrapolou as ações, se apoderou do planeta e foi simplesmente retirando o que lhe interessava a bel-prazer e, infelizmente, degradando e destruindo progressivamente todos os espaços planetários.
Pois então, antes nós não sabíamos das limitações e não entendíamos nada de Ecologia, Ecossistemas, Biomas, ocupação dos espaços e uso dos recursos naturais e assim, erramos muito. Todavia, hoje nós já sabemos como devemos fazer para garantir a continuidade e a questão que fica é a apenas uma: por que continuamos fazendo errado? E, o que pior, continuamos ensinando a fazer errado e ainda chamamos de Educação Ambiental.
Precisamos de uma Educação Ambiental, de fato, para trabalhar em prol da proteção dos espaços planetários naturais e artificiais, para que possamos imaginar (sonhar) um futuro sustentável para os seres humanos que virão. Nós, historicamente, já fizemos tudo errado. Agora, temos que nos corrigir o que ainda é possível e começar a fazer direito, tratando o ambiente com o devido cuidado e toda parcimônia necessária.
Apenas assim, desenvolveremos a verdadeira Educação Ambiental e estaremos orientando a sociedade coerentemente na proteção dos espaços físicos do Planeta Terra. A propósito, é necessário também que se entenda que esta será uma tarefa contínua, que não pode parar de acontecer doravante. Esta situação nos levará a tão sonhada e falada consciência ecológica, que até aqui existe apenas na mente de alguns samaritanos e nas ações de certos abnegados que têm se preocupado com a qualidade de vida e sua continuidade no planeta.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (69) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.