Profissão Professor: afinal qual é o segredo?

Resumo: O Prof. Luiz Eduardo apresenta mais um artigo, onde aproveita o dia do Professor para fazer uma reflexão sobre a Profissão de Professor e as necessidades para o exercício dessa profissão, que é responsável pela formação básica de todas as pessoas e também pela formação de todos os profissionais das outras profissões.


Profissão Professor: afinal qual é o segredo?

Introdução

Inicialmente quero falar um pouco de História. Não sou historiador, mas sou um ser humano e por isso mesmo sei que a História faz parte de mim e de toda a humanidade. Minha condição cultural como ser humano é consequência da História da Humanidade. Aliás, penso mesmo que o homem se torna mais humano a partir de cada dia que é acrescentado à sua História.

A História é fundamental, porque é ela quem relata e retrata todas as passagens da atividade antrópica sobre o planeta e talvez a grande diferença do homem para os demais animais esteja aí demonstrada, até porque biologicamente não existem grandes diferenças. Apenas os aspectos anatômicos divergem, mas a fisiologia animal é sempre a mesma. Assim, o homem se diferencia dos demais animais, nessa experiência humana que é única no planeta, pela possibilidade de contar, de refazer, de ensinar, de errar, de aprender, de corrigir e de mudar as coisas e as situações ao longo do tempo. Toda a Cultura da Humanidade reside na capacidade do homem de aprender, ensinar, modificar e transmitir.

Assim, talvez fosse possível dizer que sem ensinamento não haveria Cultura, não haveria História e assim o homem não seria intelectualmente tão diferente dos demais animais que habitam o planeta. O registro histórico é uma questão fundamental para a própria busca humana do conhecimento e do aprimoramento. Se a humanidade não aprendesse, guardasse e transmitisse as informações ao longo do tempo, certamente ela não teria caminhado de maneira tão significativa.

Aquilo que hoje, aliás, já faz algum tempo, nós chamamos de Educação, na verdade é o que garante a continuidade histórica e cultural da humanidade. Ou melhor, aquilo que nos últimos anos temos chamado de desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade, resulta dos processos básicos de criação, ensinamento, aprendizagem e transmissão da informação. É isso que a História nos conta e é isso que agrega Cultura ao acervo intelectual da nossa espécie ao longo do tempo. Embora isso seja aparentemente óbvio, sempre é bom, como educadores que somos, nós nos lembrarmos desse fato e dessa característica social humana. Somos o produto da quantidade acumulada e adquirida de informação ao longo de nossa História Natural na Terra.

O Professor, aquele indivíduo que professa e ensina uma ciência, uma arte ou uma técnica, seja ele quem for, é o sujeito mais importante da História Humana, porque sem ele não haveria o transporte e a continuidade do conhecimento ao longo da História e sem isso não existiria Cultura e nós não seríamos absolutamente nada de especiais como seres humanos sem essa condição. Seríamos animais efetivamente iguais aos demais, sem nenhuma conotação diferenciada. Em suma, o Homo sapiens sapiens jamais teria saído das cavernas, talvez nem tivesse entrado nas cavernas e talvez nem mesmo tivesse continuado sua existência no planeta até aqui, se não fosse a passagem gradativa do conhecimento acumulado pelas gerações das diferentes civilizações.

Bem, senhores, peço que me desculpem pelo detalhamento, talvez excessivo, mas considero que esse preâmbulo seja realmente necessário para dar andamento as minhas elucubrações sobre a Profissão de Professor, entretanto, não é exatamente sobre isso que queremos e devemos conversar nesse artigo. Porém, por outro lado, eu não poderia me esquecer sobre essa verdade histórica e sobre a importância de nossa profissão na História Humana e na permanência da Humanidade sobre a superfície da Terra.

Como ninguém nasce sabendo, obviamente é necessário aprender e o aprendizado se dá basicamente através da transmissão da informação. A profissão de Professor é aquela que garante a transmissão da informação e que ajuda a passar o conhecimento e produzir todas as outras profissões que existem. Certamente, não há nenhum indivíduo humano que não tenha participado da experiência de ter sido ensinado por um Professor, pois todo e qualquer ser humano sempre teve que aprender alguma coisa com outro ser humano que o ensinou. Esse outro ser humano que ensinou alguma coisa a alguém, de uma forma ou de outra, profissional ou não, certamente foi um Professor. Pois então, é sobre esse sujeito, essa figura ímpar, de importância relevante e fundamental em todas as sociedades humanas e em todos os momentos da história da humanidade, o Professor, que eu passarei a discorrer agora.

Atributos Fundamentais do Professor

Quando se pensa ou se fala sobre a função de Professor, algumas palavras e alguns requisitos automaticamente são lembrados e isso não é mera coincidência, ao contrário isso é uma contingência natural do exercício do Magistério. Ensinar profissionalmente exige alguns preceitos básicos, os quais estão subentendidos por alguns conceitos teóricos incluídos e abrangidos principalmente nas palavras a seguir: Cultura, Inteligência, Liderança, Criatividade e Sabedoria.

Esses são requisitos fundamentais e qualidades indispensáveis para qualquer indivíduo que manifeste a intenção de abraçar o Magistério Profissional e assumir a condição de ser Professor. Essas cinco palavras e seus respectivos conceitos precisam estar em consonância com as três qualidades necessárias ao Professor para o bom exercício de sua atividade profissional.

As Três Necessidades Fundamentais do Professor

Conhecimento – Estudar para conhecer bem sua área de atuação ou sua disciplina e poder opinar e discutir um pouco sobre as demais. Como foi dito acima, o Professor tem que ter Sabedoria, Cultura, Inteligência, Criatividade e Liderança. O Professor tem que ser um indivíduo generalista e tem que acumular saberes e conhecer um pouco de tudo, mas é preponderante que ele tenha domínio de sua área específica do conhecimento.

Além disso, também é fundamental que ele efetivamente seja capaz de demonstrar esse domínio, buscando exemplos, criando situações, simulando problemas e condições para que seu aluno perceba que “ele é o cara”. Pode ter certeza que é isso que ele quer, pois ele adora dizer: “Fui aluno do fulano de tal: o cara é fera!” Entretanto, o Professor precisa investir toda a sua capacidade intelectual para demonstrar que é mesmo a “fera” que seu aluno quer que ele seja.

Comunicação – Argumentar e Informar de maneira clara, objetiva, atraente e abrangente. A aula é o negócio do Professor, portanto ele precisa cuidar muito bem dela! Ela tem que ser interessante e chamativa, porque sempre haverá outras coisas que certamente poderão interessar mais e o Professor não pode perder a atenção do aluno.

A capacidade comunicativa é talvez a principal característica do “Bom Professor”. Um “Bom Professor” necessariamente tem que ser um bom comunicador. Não adianta ter muito conhecimento se não houver mecanismos de comunicação e transmissão capazes de levar esse conhecimento para os alunos de maneira clara, simples e agradável.

Segurança (Convicção e Poder de Convencimento) – O Professor tem que ter e tem que saber demonstrar que possui toda segurança sobre aquilo que fala. É igual aquela história da mulher de César, que não basta ser direita, mas tem que parecer direita. Em suma, o Professor tem que encantar, além de convencer o seu aluno. Se você é um “Bom Professor”, você sabe o que estou querendo dizer e sabe que isso, embora difícil, é possível e necessário.

O Professor na sala de aula é o protagonista de uma grande peça teatral e ele tem que efetivamente “dar o seu show”. Isto é, o Professor tem que manter o aluno atento e fazer com que ele se envolva naquele momento como se fosse um espectador totalmente encantado e vivendo aquela situação. Isso só é possível, quando se tem o total domínio da plateia e esse domínio é conquistado por convencimento e não por pressão, ameaças ou excesso de autoritarismo, como lamentavelmente ainda fazem alguns sujeitos.

O Professor tem que demonstrar sua autoridade através da sua capacidade de convencer. O aluno tem que acreditar naquilo que o professor está dizendo, pelo simples fato de que é o Professor quem está dizendo. Autoridade é algo que se conquista por mérito cotidiano e não que se impõe por força de vez em quando. Não há receita pronta, mas a melhor maneira de conquistar o aluno é sendo, educado, agradável, competente e convincente. Não há necessidade de bajular ou ser ridículo para agradar e convencer, basta apenas o Professor demonstrar educada e graciosamente que efetivamente sabe daquilo que está falando e seu aluno ficará maravilhado com você. Ser piegas é tudo que o Professor não pode ser, pois aí sua autoridade jamais se manifestará.

 

E então, qual é o grande segredo para ser um “Bom Professor”?

Meus amigos não há segredo nenhum. É óbvio que, como já foi dito, existem algumas exigências mínimas para ser um “Bom Professor”, mas todas essas exigências são possíveis de serem conquistadas e mesmo suplantadas por aqueles que tiverem interessados e quiserem atingir o êxtase do prazer, o verdadeiro orgasmo de ser Professor. Entretanto, é preciso gostar muito e querer mais. Freud já dizia a sua maneira que: sem vontade e sem prazer nada é possível. Ter vontade e fazer com prazer são atributos fundamentais para qualquer coisa e aqui no exercício do Magistério não é diferente. Talvez, sejam esses os grandes segredos, que permitem superar as dificuldades do exercício da Profissão de Professor: a força de vontade e a busca do prazer.

Mas, alguns colegas dirão, mas que vontade devo ter para trabalhar nas condições em que trabalho e para ganhar o salário de fome que eu ganho? Que prazer devo ter para continuar trabalhando feito um miserável, como eu tenho que trabalhar?

Bem, essa é uma questão que cada um deve responder a sua maneira. Não sei, mas, no meu caso específico, talvez eu seja meio (ou muito) masoquista ou mesmo louco, porém depois de mais de 38 anos efetivos de exercício do Magistério Profissional, eu continuo adorando o que faço e fazendo a cada dia com mais prazer. Em contra partida, tenho sido homenageado todos os anos ininterruptamente, pelo menos até aqui, pelos meus alunos nas diferentes escolas e nos diferentes cursos em que atuei. Ora, que prazer maior eu posso querer ter? Que maravilha, faço o que me dá prazer e ainda me pagam e me homenageiam por isso!

Meus colegas Professores, nenhuma profissão pode dar isso que a nossa nos concede. Trabalhamos com pessoas e essas pessoas nos admiram e nos adoram ou não, simplesmente pelo que somos e nós certamente não somos super heróis. Não prometemos nada, não damos nada, não fazemos nada que possa ser avaliado com algum valor venal, apenas procuramos ensinar e ver aquele indivíduo crescer e ser melhor. Isso nos coloca numa condição de altruísmo tal, que aquele indivíduo que recebe o nosso trabalho geralmente nos supervaloriza, desde que sejamos merecedores e efetivamente capazes de realizar um bom trabalho. Só depende de nós mesmos e para isso precisamos apenas trabalhar com seriedade e entender que, em certo sentido, o exercício do Magistério acaba sendo isso mesmo, uma doação altruísta que fazemos e um investimento no futuro da Humanidade para que a Cultura se estabeleça cada vez mais e que a História continue, como eu já disse lá no início do texto.

Estudar, aprender e ensinar, essas são verdadeiramente as palavras, os três verbos, as três ações, que nos devem atrair mais que quaisquer outras, pois o nosso negócio, a Educação, está basicamente contido nessas três palavras mágicas. Se fizermos essas coisas com prazer e vontade, certamente seremos “Bons Professores” e os nossos alunos continuarão nos homenageando eternamente. Sim eternamente, pois mesmo depois de mortos, nós continuaremos sendo lembrados e tendo grande importância na vida de cada um de nossos alunos e nós continuaremos falando (ministrando aulas) para outras pessoas através deles. Pense um pouco e você certamente verá que eu tenho razão, pois você, de repente, está quase sempre pensando e lembrando aquele “Bom Professor” que você teve em dado momento e que lhe ensinou uma determinada coisa ou lhe forneceu certa informação. Pense mais e você verá que, de vez em quando, você cita uma frase, uma fala, um mote, ou qualquer coisa que você aprendeu com algum Professor. Existem inúmeras pesquisas que comprovam que os Professores são os profissionais que mais marcam na vida da grande maioria das pessoas.

Meu amigo, meu colega Professor, o seu aluno é gente como você e sofre as mesmas vicissitudes e vive no mesmo tempo histórico que você e se ele não vive necessariamente a mesma História, pelo menos vive na mesma trilha histórica que você e também deverá lembrar eternamente de você como Professor. É bom lembrar que é até possível que ele não se lembre do seu nome, mas certamente ele se lembrará do Professor daquela matéria que lhe disse aquela determinada coisa. Mas, isto só acontecerá, se você for, de fato, um “Bom Professor”, porque não existe nenhuma lembrança significativa sobre os outros. A escolha é sua.

Por favor, se você optar por não ser um “Bom Professor”, então desista desde já do Magistério e procure outra coisa para fazer enquanto você ainda tem tempo, porque o aluno, da mesma maneira que adora, idolatra e venera, também deprecia, odeia e repudia. Faça um exame de consciência e busque a satisfação e o prazer, mas seja Professor por inteiro, Professor com “P” maiúsculo, como escrevi essa insigne palavra todas às vezes no transcorrer desse texto.

 Luiz Eduardo Corrêa Lima

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1 comentário(s)

  1. OBRIGADO pelo ótimo texto. Talvez quem, diferente de mim, nunca teve a feliz oportunidade de assistir ao seu “show” em sala de aula, possa achar esse seu prazer por ensinar manifesto no texto um certo eufemismo frente a realidade vivida pelo Professor brasileiro, mas eu posso garantir, esse prazer é real sim e pode ser facilmente percebido e absorvido. E é por essa percepção e absorção do prazer em ensinar que serei eternamente grato, pois além do modo extremamente natural que o conhecimento é passado por professores como o sr. (os quais infelizmente são poucos), é esse tal prazer percebido pelo aluno que muitas vezes serve como combustível para a continuidade na busca infinita por conhecimento, ressaltando ainda que essa condição é ainda mais importante quando os alunos em questão também serão professores e indispensável quando esses professores terão de ter esse tal prazer por ensinar como o seu principal pagamento, visto que outros quesitos como salário, reconhecimento e condições de trabalho são extremamente desanimadoras. Por fim obrigado pelo texto e muito obrigado por nos demonstrar cada dia mais que essa “droga” chamada SER PROFESSOR além de crucial para se curar quase todos, senão todos, os males da humanidade, pode e deve ser usadas por aqueles que realmente estejam dispostos a se viciar nos prazeres de seu uso.

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