Qualidade de Vida e Continuidade da Espécie: uma Questão de Escolha

Resumo: Considerando que na vida temos que fazer escolhas, nesse artigo o Prof. Luiz Eduardo, através de algumas analogias interessantes e lembrando que já perdemos tempo demais fazendo coisas erradas, propõe que façamos uma reflexão de nossa postura histórica e que optemos por uma nova escolha que priorize o planeta e a vida, pois só assim garantiremos a sustentabilidade e continuidade de nossa existência aqui na Terra.


Qualidade de Vida e Continuidade da Espécie: uma Questão de Escolha

Dizem que a vida é feita de escolhas e segundo algumas religiões, nós escolhemos até mesmo os locais e as família onde queremos nascer e crescer. A partir daí, dessa escolha, desenvolvemos toda nossa vida, procurando atender aos compromissos planejados enquanto ainda estávamos na “outra dimensão”. Bem, se isso for mesmo verdade, eu acho que eu transcendi o limite do imaginário ou fui além daquilo que os “indivíduos normais” da espécie humana podem efetivamente oferecer a si mesmos e aos seus semelhantes, porque tenho certeza que penso de maneira muito diferente a maioria dos seres humanos que conheço. Ou então, simplesmente fiz a escolha errada ao ter nascido. Ou, melhor ainda, quem sabe a escolha certa teria sido exatamente, não ter nascido. Mas, eu sou muito teimoso e acabei nascendo.

Digo isso também, porque eu estou realmente bastante preocupado com o caminhar da humanidade e dos cuidados que ela tem tido com o planeta. Tenho feito a minha parte, tentando informar e difundir as ideias, nas quais acredito piamente. Isto é, de que precisamos tratar bem os demais humanos e todas as demais criaturas do planeta e sobretudo, de que precisamos proteger o planeta e salvaguardar o patrimônio natural, antes que seja tarde demais. Ajo assim, já faz mais de 40 anos e ainda não perdi a esperança. Quer dizer, eu ainda não mudei a minha escolha.

Bem, mas vamos deixar minha situação pessoal de lado. Não importam as elucubrações que podemos e que, em alguns casos, até devemos fazer, mas é fundamental e verdadeiro que, de qualquer maneira, tanto a vida real, quanto a vida fictícia, são feitas efetivamente a partir das escolhas que fazemos. Por conta disso, alguns de nós continuamos agindo ativamente pela melhoria da qualidade de vida e pela continuidade de nossa espécie no planeta Terra.

Pois então, ao que parece, a maioria dos seres humanos, pelo menos até o momento presente, tem feito sempre escolhas erradas, no que diz respeito ao planeta Terra e à continuidade da vida nele existente, inclusive e principalmente, a vida da nossa espécie. Temos caminhado sempre na contramão dos interesses planetários e dos nossos interesses evolutivos, o que nos coloca na condição de infratores e talvez até mesmo criminosos, haja vista que trafegar na contramão é uma infração grave, prevista pelo Código Nacional de Trânsito.

Será que gostamos de viver perigosamente e que temos realmente uma tendência natural para o mal? Será que Konrad Lorenz* estava efetivamente correto, quando afirmou que nossa espécie é naturalmente agressiva e que temos evoluído em consequência dessa agressividade? Sinceramente eu não sei, mas prefiro acreditar que haja mais alguma coisa além dessa simples proposta da Genética Evolutiva no nosso modo de ser. Não creio somente na arrogância e na agressividade como mecanismos básicos para a evolução da vida humana, até porque esse padrão não tem sido comprovado integralmente na natureza.

Por outro lado, eu também não penso que Lorenz esteja totalmente errado, até porque existem indivíduos efetivamente de má índole na nossa espécie. Assim como, também existem maças podres e más formações genéticas em outras espécies de organismos vivos. Entretanto, nem mesmo os predadores mais ferozes e letais são organismos de má índole, pois suas respectivas ações ferozes terminam quando suas fomes (seus desejos maiores) são saciados.

Pois então, é exatamente nesse ponto que eu penso que os seres humanos são bastante diferentes das demais espécies animais. O desejo humano é progressivamente crescente e não parece ter fim. Isto é, a “fome humana” não sacia jamais. Nós queremos sempre mais e tomara que aja alguém ou algo para nos possa fornecer um pouco mais daquilo que queremos.  O desejo humano parece não ser nada de específico, pois apenas temos uma vontade absurda de gerar outros humanos e obter sempre algo mais de qualquer coisa que quisermos. Isto é, nossos desejos (“nossa fome”) são reproduzir e consumir.

Ao que parece, somos naturalmente “máquinas reprodutoras cosmopolitas” e “maquinas consumistas contumazes”, que resolvemos historicamente ocupar e consumir o planeta Terra e estamos trabalhando com todo afinco possível nessa direção, pois cada vez reproduzimos mais, aumentando absurdamente a população humana planetária e consumimos os recursos planetários sem nenhuma coerência ou parcimônia, como se eles fossem infinitos. Reproduzimos e consumimos efetivamente sem nenhuma preocupação ou critério, como qualquer criança brincando com o presente novo no dia de natal.

Crescemos a população de maneira absurda e matematicamente improvável. Ocupamos os espaços mais diversos de maneiras mais diferentes, usando esses espaços ao nosso bel-prazer, sem nos importarmos com o que antes lá havia. Acabamos com inúmeras áreas de vegetações naturais e extinguimos grande quantidade de espécies animais e vegetais. Exaurimos indiscriminadamente muitos dos recursos minerais, alguns por puro diletantismo. Praticamente exterminamos todo carvão mineral para produzir energia e estamos usando inadvertida e perigosamente o petróleo e os gases naturais do subsolo. Nossa última vítima tem sido as reservas de água doce, a qual, já que não podemos efetivamente acabar, estamos degradando, poluindo, contaminando e modificando drasticamente, à custa de nossa própria desgraça.

Enfim, “nossa fome” é progressiva e não termina nunca. Continuamos reproduzindo e aumentando a nossa mancha sobre o planeta. Ocupamos, matamos, destruímos e vamos em frente, sem querer olhar para trás, a fim de que possamos enxergar o tamanho da destruição que estamos cometendo.  Na verdade, não olhamos nem para trás e nem para frente, porque ali na frente vai acabar tudo mesmo, inclusive nós, porque não teremos mais de onde tirar nada e sem “comer” não poderemos nem reproduzir. Assim, os nossos “brinquedos” estarão todos quebrados.

Entretanto, como dissemos no início do texto, a vida é feita de escolhas e eu penso que temos que escolher outros “brinquedos”, outras coisas para destruir, porque o planeta, que é único, já tem dado inúmeros sinais de que não aguenta mais a nossa incomoda maneira de viver. O pior é que o planeta tem “reclamado” bastante de nossas “brincadeiras” e tem, até mesmo, se “aborrecido seriamente” com algumas dessas atividades desagradáveis e produzido, em contra partida, algumas respostas catastróficas. Mas, nós continuamos “dando de ombros”, como se não tivéssemos nada a ver com o problema.

Então, será que já não está na hora de, finalmente, fazermos uma escolha certa e de começarmos a parar de reproduzir e de consumir aleatoriamente? Será que já não temos que arrumar outros desejos menos perigosos e mais prazerosos ao planeta e a nós mesmos?

Ao que parece, as escolhas que fizemos até aqui, já não são mais viáveis e precisamos de um novo modelo de vida e obviamente para isso temos que ter novos desejos. Precisamos de modelos de desejos que garantam a tão falada e pouco entendida sustentabilidade. Nossa espécie só terá continuidade na Terra com o desenvolvimento de práticas sustentáveis doravante.

Como dissemos no início, tudo é uma questão de escolha. O caminho certo nós já sabemos que não é esse que temos trilhado e que nos trouxe até aqui. Mas, será que nós, seres pensantes, vamos continuar fazendo a escolha errada? O que acontecerá com aqueles seres humanos mais jovens, os nossos filhos e netos, que já colocamos no mundo?

Bem, independentemente da escolha que fizermos, o tempo certamente nos dará a resposta. Entretanto, é bom lembrar que o tempo não tem escolha e ele é nosso grande adversário, porque além de estar sempre correndo, infelizmente ele corre contra nós.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Referência Bibliográfica
*LORENZ, K., 1963. A Agressão: uma História Natural do Mal, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
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8 comentário(s)

  1. Belo texto tio Luiz, ele retra muito bem o reflexo do consumismo de nossa sociedade, alguns pensamentos religiosos dizem: ” O mundo irá acabar” longe de mim querer contradizer ou criticar tal pensamento, mas penso que na verdade quem vai acabar com o mundo é o homem. Abraço, parabéns pelo texto.

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    1. Meu caro Ricardo, muito obrigado pela leitura. Realmente você tem razão o
      mundo efetivamente não irá acabar, o que vai acabar é a espécie humana.
      O mundo vai continuar existindo além de nós e a Terra especificamente,
      graças ao Sol, ainda durará alguns bilhões de anos. O problema que me
      aflige não é esse, o problema que me aflige é que o homem não parece
      querer continuar existindo. Vamos ser extintos naturalmente, como
      qualquer espécie viva, porém nossa passagem pela Terra está sendo muito
      rápida e culpa é exclusivamente nossa. Assim, o que poderia levar alguns
      milhões de anos, não levará nem meio milhão.
      Um abraço.

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  2. Bom dia Luiz Eduardo Corrêa Lima!!! Muito legal seu texto. Pessoalmente, concordo com você com relação a destruição do planeta pelo homem. Porem, a questão de que nós realizamos escolhas certas e erradas para mim é controversa. Creio que dentro do sistema que o homem vive a séculos, temos somente a ilusão de que escolhemos nossos rumos, quando na verdade não escolhemos, somos manipulados e levados a acreditar que fomos autônomos nisso. Claro que me refiro ao contexto macro… o ajuste fino de nossas vidas nos mesmo fazemos, porem, sempre direcionados a algo no contexto macro. Parabéns pelo texto! Continue nos presenteando! Abraço!

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    1. Meu caro Rodrigo, você está parcialmente certo, quando diz que somos
      manipulados, porque a maioria dos humanos é dominada. Entretanto, é bom
      lembrar que quem domina esses humanos são outros humanos e isso pode ser
      mudado se houver real interesse dos que são manipulados. O problema é
      que não parece haver esse interesse e assim acabamos sendo manipulados
      porque deixamos, porque não fazemos nada para deixar de ser, porque não
      conhecemos a força que temos e nem o que somos. Somos manipulados porque
      não acreditamos no que podemos, se, de fato, quisermos. Na verdade,
      antes de sermos manipulados, somos acomodados e não fazemos
      absolutamente nada para mudar o status quo imperante. O que está
      faltando é exatamente isso. Entretanto eu tenho que concordar com você,
      que essa mudança de comportamento acaba sendo uma utopia, porque
      infelizmente parece que vamos continuar sendo manipulados até o fim. Abraços.

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  3. Boa Luiz… muito bom o texto! E ao meu modo grosso e chulo de ver a situação, ainda aponto o egoísmo de uma pequena porcentagem da sociedade prevalecer … e o que é imposto por essa minoria que se enriquece sem pensar nas outras pessoas e nas próximas gerações, devasta e favorecem a si próprios com leis. Agridem o planeta e a maioria da população, ignoram futuras gerações com atividades poluidoras e apresentam voracidade com os recursos naturais.
    É preciso conhecer onde você está, ou onde escolher estar. Saber oque te beneficia para qualidade da vida. Conhecer seu clima, sua água, seus recursos, sua biodiversidade e a política local, assim poder ter uma consciência para preservar, e cobrar essas autoridades por uma gestão justa … fazer valer e acontecer de fato o “Desenvolvimento Sustentável”. Ao contrário nos tornaremos nômades, refugiados ambientais, migrando constantemente para temporários “oásis” … até tudo acabar…

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    1. Pois é, meu caro Badah, o que me preocupa mesmo é o descaso das autoridades (poderes constituídos internacionalmente), que ficam discutindo “abobrinhas” e não resolvem porcaria nenhuma. Veja agora mesmo o que acaba de acontecer com o COP 20, mais um fiasco, onde se comeu, bebeu, passeou e conversou muito e nada se fez pelo planeta ou pela vida. É meu amigo, a linha do tempo está curta para a espécie humana.
      Um abraço e muito obrigado pela leitura e pelo comentário.

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      1. COP 20… e tudo fica pra se discutir e quissá praticar em 2020 … aff…

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        1. Pois é, meu caro Badah e nesse interim, de repente, tudo já era.
          Um abraço.

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