A Biologia e as Próximas Eleições

Resumo: O texto em questão é um lamento e ao mesmo tempo uma chamada aos Biólogos e pessoas sérias desse país, para que procurem votar coerentemente e de acordo com as necessidades efetivas do Brasil, considerando, além da falácia dos candidatos, principalmente os aspectos naturais e particularmente biológicos envolvidos nas suas respectivas candidaturas.


A BIOLOGIA E AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES

Meus amigos Biólogos, colegas de profissão, chegamos a mais um dia 03 de setembro e completamos 39 anos que a nossa profissão está regulamentada no Brasil, entretanto isso ainda não possibilitou que a maioria de nós, biólogos, se tornasse capaz de viver e sobreviver satisfatoriamente. Nesse país de complicações inúmeras, ainda continuamos buscando nossa posição de destaque entre as diferentes profissões de curso superior. Ainda somos vistos apenas como uns “carinhas românticos” que estudamos muito para não fazermos nada de importante, ou seja, a formação em Biologia é considerada como uma profissão menor ou puro diletantismo e isso precisa ter fim. Quero aqui lembrar ainda que não faço distinção entre os Biólogos da Educação (Licenciados) ou da Pesquisa (Bacharéis), porque tenho certeza que todos nós pensamos e atuamos da mesma maneira fundamental, isto é colocando a vida antes de qualquer outro aspecto. E não posso admitir que quem se dedica ao estudo da coisa mais importante que existe, a vida, seja considerado como coisa sem importância no cenário de um país, mormente num país como o Brasil, onde a vida pulula e diversifica mais que qualquer outro lugar no planeta. Por conta do que foi dito acima, estou aqui, mais uma vez, para lembrar e dizer que essa condição absurda de “paria da sociedade brasileira” ou de “inútil fiscal da natureza” tem me preocupado muitíssimo e mais, que eu não vou descansar enquanto essa imagem totalmente estereotipada não for mudada e banida do pensamento coletivo nacional. No momento, ainda não sei se choro raiva ou se dou gargalhadas de alegria, mas certamente estarei rindo no futuro, dos muitos idiotas que puderam pensar que fariam de nossa profissão uma “lona de circo”. Nós Biólogos, profissionais da Biologia, somos hoje, os sujeitos mais importantes do planeta e temos que fazer o Brasil também entender e acreditar nisso. Só para lembrar um pouco de outros textos que produzi e publiquei, ao longo dos meus 40 anos como Biólogo, devo ressaltar que tenho escrito muito sobre os seguintes fatos: 1- O Brasil é um país de Megabiodiversidade, a maior do planeta; 2 – Os Biólogos são os profissionais que deveriam estar cuidando desse fato ativamente; 3 – A Biologia é reconhecidamente no mundo inteiro a “mãe das ciências” na atualidade; 4 – A população brasileira ter grande afinidade pelo trabalho dos biólogos; 5 – Os Biólogos são os guardiões da vida no planeta.  Entretanto, nada disso tem importado e muito menos justificado o nosso crescimento como profissão nesse país. Os nossos problemas maiores acabam sendo com os governos (em todos os níveis) e com certos setores empresariais. Os governos porque parecem não querer ver a importância no fato de possuirmos a maior biodiversidade planetária e nem na nossa existência profissional, que deveria estar cuidando ativamente desse patrimônio. Os empresários porque muitos deles pensam que nós não queremos deixá-los ganhar mais dinheiro, quando na verdade o nosso objetivo é exatamente o contrário disso, pois queremos que todas as pessoas ganhem muito dinheiro, inclusive os empresários. Bem, mas e daí? Por que será que, nesse momento, eu resolvi lembrar e comentar sobre essas coisas? Meus amigos, estamos às vésperas de mais um grande pleito eleitoral, no qual deveremos eleger o novo Presidente da República, novos Governadores, 2/3 de novos Senadores, novos Deputados Federais e novos Deputados Estaduais. Pelo que temos visto, em consequência do mar de lama que o Brasil se transformou, por conta da comprovação de inúmeros casos de corrupção e de várias prisões de políticos, o país inteiro está clamando por mudanças políticas, ou pelos menos mudanças nas posturas dos políticos. Embora muitos de nós Biólogos, lamentavelmente, sejamos avessos à política, temos que nos conscientizar de que é a política quem decide o caminho do país e assim temos que ter em mente de que a nossa participação e seriedade dentro desse processo eleitoral será de fundamental importância, para que a mudanças requeridas sejam efetivadas e quiçá para que nossos anseios específicos sejam ao menos minorados. Assim, dentro dessa mudanças, precisamos incluir também uma importância maior para a Biologia como ciência e à ação dos Biólogos como profissionais da Biologia, pois talvez sejamos uma das partes mais fundamentais das mudanças que se fazem necessárias, até porque somos os únicos profissionais capazes de solucionar certos problemas. Nesse sentido, nós precisamos estar atentos às escolhas que iremos fazer. A rigor, temos três caminhos que poderemos seguir: ou pensamos somente em nós e nossos interesses profissionais; ou pensamos somente no país e suas macro necessidades; ou fazemos uma mescla unindo as duas primeiras situações. Eu, particularmente, acho a terceira opção mais interessante, porque entendo que não devamos pensar apenas como Biólogos, porque também somos cidadãos brasileiros e devemos lutar para o desenvolvimento sustentável do país e para o bem cada vez maior da população brasileira. Obviamente, nós sabemos que é muito difícil conciliar os interesses estritamente biológicos com os demais interesses nacionais, mas temos que procurar ser sensíveis e coerentes com a maioria da população e pensar, talvez um pouco mais, no macro nível das necessidades nacionais, enquadrando a maior parte possível dos nossos interesses específicos dentro dessas necessidades. Historicamente o nosso país e a nossa população nunca foram muito preocupados com Ciência, Educação, Cultura, Tecnologia, Meio Ambiente e Biodiversidade, ou seja, as nossas áreas de interesse profissional, nunca foram nacionalmente interessantes, ou pelo menos, não foram interessantes até aqui, mas nós temos conseguido sobreviver. Os políticos brasileiros, ao contrário de políticos de outros países, não têm o hábito de ouvir os profissionais das diferentes áreas, e no nosso caso específico, quase sempre são avessos aos nossos reclamos, porque os “lobbies” sempre são na direção contrária e nós não podemos esperar que as coisas mudem radicalmente, da água para o vinho, numa única tacada. Seja lá quem for que vier presidir o país, com ou sem mudança aparente, certamente não acontecerá imediatamente nada de muito diferente do que temos visto até aqui, mormente no que se refere à Biologia e aos recursos naturais e aos interesses biológicos. Desta maneira, pensar no nível nacional parece ser mais interessante “a priori”, pois tentando garantir a melhoria do país, consequentemente estaremos criando condições e maiores espaços para melhorar também os nossos interesses profissionais. Considerando o que foi dito, devemos nos dirigir mais as candidaturas que tenham um viés genérico mais nacionalista do que um viés mais estritamente setorizado. Não devemos priorizar puramente os interesses biológicos, mas devemos priorizar os interesses nacionais de cunho biológico primariamente. Eu sei que é difícil colocar isso numa balança, mas essa é a função do âmago de cada um de nós quando votamos. Meus amigos, o Brasil tem jeito, até porque conhecemos uma infinidade de outros países que, apesar de tudo, tiveram jeito. Porém, o Brasil precisa de nós e de nossos votos para caminhar na direção correta e até mesmo de nosso interesse profissional. Assim, reflitam bem, antes de definir seus respectivos votos e votarem, antes de fazer qualquer bobagem em nome de ser contra os políticos e a política. É bom lembrar que a política não tem nada a ver com os políticos. A política é boa e necessária, os políticos é que costumam ser ruins e desnecessários, eles são colocados na condição de políticos, porque alguém (alguns de nós) vota neles. Talvez, apenas talvez, nós Biólogos possamos nos tornar os profissionais mais importantes do país, como acontece no resto do mundo, mas isso não acontecerá se virarmos as costas para a eleição e se o Brasil continuar sendo conduzido como tem historicamente tem sido até aqui. Se você quer mudança seja a mudança, mas se você é indiferente, por favor não reclame daquilo que virá. Você, amigo Biólogo, tem nas mãos a decisão sobre o que pode acontecer. É claro que eu sei que você sozinho não irá decidir uma eleição com cerca de 150 milhões, mas por favor, faça a sua parte coincidentemente. Isso será bom para o país, para você e para a sua profissão. Poderemos nos tronar, a exemplo do mundo, nos profissionais maia importantes do país, mas isso não acontecerá se o Brasil continuar sendo conduzido como foi até aqui e se nós não nos manifestarmos politicamente.  Amigos, só para lembrar, nós estamos vivos e somo sensíveis precisamos demonstrar isso claramente. Somos poucos em número, mas podemos ser muitos em ações e precisamos acreditar nisso para o nosso bem e o bem do país. Nossa Megabiodiversidade, nossa florestas, nossa fauna, nossos ambientes naturais, nosso ar, nossos recursos hídricos, enfim, nossa natureza depende de nós, dependem de nossa ação política ou, pelo menos, da expressão de nossa vontade política. Obviamente o nosso contingente não é significativo ao ponto de definir as eleições do Presidente, ou dos Governadores e Senadores, mas podemos e certamente devemos fazer bem as nossas escolhas para Deputados Federais e Estaduais, porque aí podemos interferir no resultado significativamente e assim garantir as eleições de alguns desses candidatos interessantes, considerando os nossos interesses nacionais e profissionais. O que a maioria dos brasileiros ainda não entendeu é exatamente isso: mais importante do que o voto para presidente é o voto para deputado, porque, num estado democrático de direito, são os deputados que decidem o que o Presidente vai fazer ou não. Se escolhermos pessoas boas, preocupadas com os interesses nacionais, certamente elas estarão preocupadas com os nosso interesses profissionais, porque o Brasil depende imensamente de seu patrimônio natural e de sua biodiversidade. Até onde eu sei, dos que estão aí, praticamente nenhum deles se mostrou efetiva e seriamente preocupado com o meio ambiente e com a biodiversidade brasileira, que deve ser a nossa meta primária, e tampouco com os profissionais Biólogos desse país. Assim, entendo que nenhum deles, a priori, salvo melhor juízo, mereça os nossos votos. Entretanto, independentemente disso, alguém será eleito e por isso temos que votar e votar bem. É preciso que escolhamos bem e que votemos e tenhamos critério, colocando o Brasil e a Megabiodiversidade Brasileira como condição básica e fundamental para a escolha de cada um de nossos candidatos, antes da definição do voto em si. Precisamos votar clara e objetivamente naquele sujeito que seja nacional e respeite o Brasil e que entenda que o Brasil só não é a mais importante nação do mundo se não quiser, porque detém o maior patrimônio natural planetário e por isso mesmo precisa ser respeitado pelo resto do mundo. A valorização de nossa profissão depende muito disso, portanto pesquisem a fundo a vida e os reais interesses do candidatos, antes de definirem seus votos. Independentemente dos resultados, que o Brasil possa sair vencedor e que a Biologia como Ciência possa ficar mais conhecida prelos políticos que virão, do que até aqui tem sido. Assim, talvez, a nossa profissão possa deslanchar no Brasil e atingir o seu verdadeiro local de destaque aqui no Brasil, como acontece pelo mundo afora. Estou casado de sermos vistos como “bonzinhos” e “pessoas muito bem intencionadas” pela comunidade; por “bobos da corte” ou “idiotas de plantão” pelos empresários e principalmente por “grandes idiotas românticos” pelos administradores públicos. Meus amigos, chega! Eu quero ser reconhecido pela importância do trabalho que exerço nesse país, por todos os setores nacionais e espero que os Biólogos, como eu, realmente passem a pensar da mesma maneira. Acreditemos na nossa força e independentemente do que alguns possam dizer ou do que a imagem ainda possa transparecer. Vamos continuar a nossa luta por importância para a sociedade e para o planeta e vamos, sobretudo, ocupar o nosso espaço profissional e desbancar tudo que nele existe atualmente. Mas, principalmente, vamos votar seriamente nas próximas eleições. Nós, melhor que ninguém, sabemos que na natureza tamanho não é documento e que podemos demonstrar, até mesmo inferiorizados numericamente, a nossa importância antrópica e nossa condição intelectual e sensitiva maior. Por favor, os Senhores não têm que concordar comigo, mas pensem nisso que acabam de ler e ótima eleição para todos vocês.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (62) Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista; Presidente da Academia Caçapavense de Letras.

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