O Peso do Tempo Sobre a Vida do Homem

O Peso do Tempo Sobre a Vida do Homem

Resumo: Nesse artigo, procuro fazer uma reflexão oportuna sobre as preocupações comuns da vida humana, sua temporalidade frágil, sua condição compulsória natural e a consequente preocupação humana generalizada com o “pouco tempo” para o desenvolvimento e a realização da grande maioria das coisas.  


O tempo talvez seja a única coisa que todos nós temos de maneira exatamente igual, mas infelizmente a maioria de nós não se percebeu desse fato e se contradiz a cada instante, perdendo esse precioso tempo que todos realmente dispomos, com coisas menores e às vezes sem nenhuma significância. A vida é feita para ser vivida em sua integralidade e o tempo é para ser consumido com as coisas que efetivamente importam na vida. Entretanto, parece que nossa vivência conturbada e efêmera de viver, nos coloca diante de tantas picuinhas que a maioria de nós acaba trocando os valores das coisas e terminamos não tendo tempo para aquilo que é realmente importante. Por que será que agimos assim?

Eu realmente não sei como responder à pergunta acima, mas vou apresentar algumas ideias que possam tentar ajudar no esclarecimento da mesma e quem sabe possam até permitir algumas projeções próximas das possíveis verdades por trás de nossa “tendência natural” ao mal uso que fazemos do precioso tempo que temos. Até porque, eu acredito que o tempo seja valoroso demais para ser mal utilizado ou perdido inconsequentemente como lamentações.  Mas, é claro que eu não sou dono da verdade e nem conselheiro mor de ninguém. Estou aqui apenas para dizer o que acredito e para dar alguns palpites que podem ser interessantes.

Vivemos num mundo louco e veloz, além disso partimos da premissa que nossa vida é curta e assim fazemos de tudo para esticar a vida e aumentar o tempo disponível, mas, na verdade, só ampliamos a velocidade do tempo perdido. Nós não assumimos diretamente, mas em nosso íntimo, nós temos a absoluta certeza de que queremos realizar mais do que efetivamente podemos. Isso acontece, porque obviamente sempre faltará tempo para fazer alguma coisa, de tudo aquilo que queremos fazer.

Em contra partida, a vida tem que ser vivida de uma maneira boa, ou pelo menos, da forma mais razoável e satisfatória possível, pois sabemos que ela é curta e que ali na frente ela terminará. Sendo assim, fazemos de tudo para que as coisas aconteçam dentro dos nossos interesses primários da maneira mais imediata. Pois então, é exatamente aí que nós “damos com os burros n’água” e nos estrepamos, porque como temos pressa, na maioria das vezes acabamos não conseguindo fazer as coisas corretamente.

Assim, comemos com pressa, dormimos com pressa, amamos com pressa. Fazemos tudo com pressa e esquecemos que a natureza não tem pressa e que o tempo é uma espécie de observador ilustre, perene e contínuo que acompanha todas as coisas naturais ou não. Isto é, o tempo, sempre está ali, dono de si mesmo e, em certo sentido, manobrando toda situação. O tempo não tem pressa e atua sempre da mesma maneira, numa constância e numa monotonia que chegam a dar nojo a quem observa ou depende dele e nós, seres imperfeitos, que ainda não estamos preparados para essa frieza do tempo, atropelamos tudo e deixamos as coisas imperfeitas por sua causa.

A natureza é perfeita e o homem, ao longo da história, tem tentado imitá-la nas mais diversas situações e muitas vezes quase tem conseguido, desenvolvendo modelos e mecanismos tecnológicos progressivos, que cada vez mais, se comparam com os padrões naturalmente estabelecidos. Em alguns casos, certos humanos, até acham que são capazes de superar a condição natural. Entretanto, isso é um ledo engano, pois quando muito alcançamos apenas o plano básico do delineamento das ações e atividades naturais. Chegamos apenas a fazer sombra, uma imitação grotesca dos padrões naturais, mas, eu quero crer, que poderíamos ser efetivamente bem melhores do que temos sido até aqui.

Pois então, o que não nos permite ser melhores é exatamente a fatídica pressa, em consequência da nossa preocupação e da nossa briga particular e constante contra o tempo. Se tivéssemos menos envolvidos em correr e mais preocupados em aprender e interessados efetivamente em fazer corretamente, não nos importaríamos muito com o tempo e assim apenas faríamos as coisas e, embora ainda ficássemos muito longe dos padrões naturais, certamente estaríamos caminhando bem mais próximos daquilo que é real e efetivamente natural.

Vivemos buscando milagres e padrões diferenciados de comportamentos, de posturas, de procedimentos e de condutas que possam nos permitir viver mais, para podermos fazer mais. Enfim, queremos esticar a vida e viver eternamente, mas isso é impossível. Isso é uma falácia comercial para iludir aqueles que estão muito preocupados com o tempo. O que podemos é tentar utilizar melhor o tempo, sem pressa com parcimônia e com coerência, realizando as coisas sempre da melhor maneira possível. Entretanto, necessitamos entender que nosso limite não nos permitirá superar nunca os limites naturais. Somos apenas parte da natureza e não senhores dela.

Não tenham dúvida, que quando fazemos qualquer ação com dedicação, respeitando os nossos limites e sem a preocupação de acabar logo, o resultado é sempre melhor e rende mais, pois “o tempo nos ajuda”, ou melhor, “o tempo não nos atrapalha”. Diz o ditado que:  “a pressa é a maior inimiga da perfeição”, mas isso não é verdade, pois a pressa é apenas inimiga do tempo e a perfeição, como já foi dito, é impossível para qualquer um de nós.

A natureza desprezou o tempo e por isso ela alcançou grandes resultados, nós, as diferentes sociedades humanas, estamos tão atrelados ao tempo que acreditamos que não temos tempo para realizar as coisas e ficamos eternamente presos a essa ideia que nos martiriza triste e violentamente. Precisamos entender, antes de qualquer coisa, que nosso tempo é definido e compulsório e que nós não vamos viver mais do que aquilo que for possível. Assim, devemos fazer do tempo uma questão de vontade e desta maneira quanto mais vontade de realizar, maior será o tempo para fazer e consequentemente mais coisas serão realizadas.

Nossa busca da felicidade nos levou a esse embate infrutífero com o tempo e certamente não haverá jeito de ganharmos a contenda, porque certamente vamos ficar e ele vai seguir. Em função disso temos que procurar viver independentemente de nossa inquietação com relação ao tempo. Cada minuto vivido é único e fundamental, por isso mesmo deve ser intenso. Cada minuto deve ser vivido como se fosse o último, pois esse minuto só terá valor para nós, se chegarmos a viver o minuto seguinte. Esse objetivo só será conseguido se desfrutarmos cada minuto intensamente, sem nenhuma preocupação com o que virá daí para frente, porque esse não é problema nosso e sim uma contingência natural de nossa existência.

Não temos nenhum domínio sobre o futuro, nós apenas podemos e obviamente devemos sonhar, pensar, imaginar e até projetar o futuro, mas efetivamente não saberemos nunca o que de fato vai acontecer. Diz o ditado que: “devagar se vai ao longe”. Então, por que e para que tanta pressa?  

Como disse Mario Lago: “Eu fiz um acordo com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Qualquer dia a gente se encontra e dessa forma, vou vivendo intensamente cada momento”. Acredito que essa deveria ser uma regra fundamental e absoluta para todos os seres humanos. Entretanto, acredito que esse pensamento só faça sentido real, se houver efetiva preocupação com a humanidade, porque viver, simplesmente por viver, não nos remete a condição de verdadeiros seres humanos.

A continuidade física da vida é apenas uma questão da natureza e nós podemos espernear à vontade, mas infelizmente não temos e nunca teremos o poder sobre a vida e a morte, como gostaríamos de ter e certamente o tempo também não tem nada a ver com isso. A única certeza é que: tudo o que está vivo, um dia vai morrer. O tempo apenas segue seu curso e nos acompanha ou nos persegue, como preferem entender alguns de nós. A morte é compulsória, mas o que fazemos enquanto estamos vivos é algo que só depende única e exclusivamente de cada um de nós.

A princípio, o tempo é igual para todos, embora alguns vivam mais e outros menos. Entretanto, o que se precisa é usar o tempo da maneira mais adequada e abrangente, pois ele sempre será escasso e pequeno aos nossos interesses, porém será longo e grande na medida das diferentes coisas que fizermos com ele, ao longo de nossa vida. Por outro lado, também é fundamental lembrar que nós não precisamos, necessariamente, estar vivos para que continuemos tendo qualquer relevância ou sendo importante nos diferentes motivos ou atividades humanas.

Sendo assim, deixar um legado significativo, talvez possa ser a melhor maneira de aproveitar bem o tempo que se tem ou a melhor maneira de se manter “vivo” ao longo do tempo, mesmo após à morte. A memória humana e a história da humanidade são os grandes depositários do tempo e muitos humanos, que já viveram em outros tempos, continuam “vivos” até hoje, graças aos seus respectivos legados. Deixe de preocupar com o tempo e invista seriamente em deixar um legado à humanidade, que desse modo, você caminha para a eternidade.

Talvez, se parássemos de querer competir com o tempo e apenas nos associássemos a ele, possivelmente teríamos algumas vantagens. O tempo é eterno e nós, somos reles mortais, mas podemos ser levados por ele à eternidade. Estejam certos de que nossas ações definirão nosso verdadeiro valor e nosso mérito pessoal e temporal, independentemente da quantidade de tempo que vivamos.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

4 comentário(s)

  1. Parece ter sido escrito para mim,como eu critico o pouco tempo que aparentemente tenho , e isso me causa intensa angústia. Parabéns peloa profunda analise feita sobre o tempo.

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    1. Valeu Claudete, muito obrigado pelo comentário.

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  2. Parabéns pelo artigo mestre! Se vivêssemos mil anos talvez seriamos diferentes. O tempo pode ser nosso amigo ou inimigo, e temos que lidar com ele de forma sincera e atraente. Esse artigo me fez lembrar de um filme chamado “O preço do amanhã”. Vale a pena assistir.

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    1. Valeu garoto, muito obrigado pelo comentário.

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