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Posturas em Debates e Eventos Públicos

Resumo: O autor emite sua opinião sobre que postura as pessoas devem tomar quando estão participando de um evento (seminário) qualquer. Eventos abertos em plataformas virtuais pela INTERNET são cada vez mais comuns, entretanto a qualidade desses eventos não tem melhorado na mesma proporção da quantidade. Acredito que isso se deva a certos detalhes (“males sociológicos”), alguns dos quais resolvi comentar nesse artigo.


“TODO EVENTO TEM DOIS LADOS, O APRESENTADOR E OS EXPECTADORES E NUMA MESMA PALESTRA, O INDIVÍDUO SÓ PODE ESTAR NUM DESSES LADOS. ASSIM, PARA O BOM FUNCIONAMENTO E EFETIVO SUCESSO DE QUALQUER EVENTO, É PRECISO QUE CADA LADO SAIBA EXATAMENTE SUA FUNÇÃO NO EVENTO”.
L.E.C. LIMA

INTRODUÇÃO

Ao longo de minha vida participei de centenas de eventos e de atividades, nas quais ocorreram inúmeros debates e discussões, muitas vezes interessantes e fundamentais para o meu aprendizado e dos participantes. É bom que saibam ainda, que como a maioria dos senhores leitores, participei ativamente dos dois lados desse tipo de situação. Isto é, atuei tanto na função de palestrante, como na de espectador. Assim, penso que posso emitir alguma opinião sobre essa questão, cada vez mais comum na modernidade.

Por outro lado, também devo dizer que, quanto mais velho eu fico, mais chato e impaciente eu estou. Talvez, por isso mesmo é que cada vez mais, eu fico incomodado com a atitude de certas pessoas ao longo da palestra, da conferência, do debate ou de qualquer discussão nesses eventos onde existe uma troca de informações ou um diálogo qualquer. As discussões estão progressivamente mais incomodas, mais longas e menos efetivas e, sobretudo, menos objetivas. Muitas acabam virando diálogos particulares, onde se discute sobretudo, menos sobre o tema e o resto da plateia que se lasque.

Os palestrantes, salvo alguns profissionais específicos dessa área, infelizmente são pessoas cada vez são mais superficiais, limitadas, menos profícuas e pouco eficazes. A maioria deles parece estar mais a fim de agradar a plateia do que de apresentar e discutir sobre o assunto em pauta. Por sua vez, os espectadores estão cada vez mais desinteressados, confusos e menos contundentes e assim, são pouco eficientes nas suas respectivas funções como participes dos eventos. Em suma, ao longo do tempo, o diálogo tem sido empobrecido e cada lado tem a sua parte na culpa dessa constatação. Obviamente, é claro que ainda existem exceções a esse fato, mas essas exceções estão ficando mais raras.

Nos tempos atuais, por conta da pandemia, e pelo que parece, daqui para frente mesmo sem essa mazela, cada vez mais as palestras serão feitas através de plataformas virtuais. Ora, se o tempo já era importante nas atividades reais, agora nas virtuais ele é fundamental. Tudo tem que estar planejado e muito bem definido, para que não haja problemas. Além disso, ainda existe a necessidade de contar com a sorte da INTERNET não cair e de não haver nenhum problema técnico na aparelhagem. Desta maneira, o tempo é cada vez mais escasso e precioso, por isso precisamos ter maior objetividade nos eventos para a efetividade, eficiência e eficácia deles.

Assim, após de pensar bastante, resolvi assumir a posição de “advogado do diabo” e vou dizer o que penso sobre essa questão. É bem provável que eu arrume novos inimigos, depois que alguns dos meus amigos tenham contato e leiam esse pequeno artigo. Às vezes, alguém tem que colocar a cara para bater, para que as coisas comecem a acontecer de maneira mais eficiente. Que fique claro, desde já, que não estou procurando briga com ninguém, apenas estou tentando chamar a atenção de todos os envolvidos, para tentar melhorar o padrão de nossas palestras e discussões.

O PALESTRANTE

A regra fundamental para qualquer palestrante é estar atento ao fato de que: conceitos e definições existem para serem utilizados, desde que estejam entendidos, pois do contrário serão apenas palavras estranhas e diferentes perdidas no meio do discurso. É muito comum o palestrante (professor, orador ou instrutor) falar palavras pouco comuns para a grande maioria dos espectadores na plateia, como se fossem termos corriqueiros.O palestrante precisa saber que geralmente grande parte da plateia nunca ouviu aquela palavra e por isso ela precisa ser definida e, às vezes até esclarecida detalhadamente. Portanto, sempre que o palestrante se utilizar uma palavra ou termo técnico qualquer é fundamental que seja feita a sua definição e o esclarecimento sobre sua utilização naquele momento. Esse cuidado deve ser tomado, mesmo quando o palestrante esteja falando para pessoas que teoricamente já deveriam conhecer aquele conceito.

Outras coisas comuns que o palestrante costuma fazer, além da automatização de ideias e conceitos, dizem respeito a utilização de siglas sem esclarecê-las. Existem siglas em todas as áreas, muitas delas exatamente iguais e somente as pessoas das respectivas áreas tem conhecimento dessas siglas. Quando o palestrante fala, por exemplo, a sigla “ABC”, ele sabe ao que está se referindo, mas quem houve não tem a obrigação de saber, portanto o palestrante tem a obrigação de dizer do que se trata, porque “ABC” pode ter vários significados e o espectador precisa saber o correto para aquele momento.

Por outro lado, se o expectador nunca tiver ouvido a sigla “ABC”, ele continuará sem saber do que se trata, isso é, continuará não significando nada para ele. Assim, é fundamental, em qualquer situação e numa palestra principalmente, que antes de assumir o uso de uma sigla, o palestrante, deva explicar o seu significado exato, para identificar precisamente do que se trata e assim, não confundir o espectador e evitar possíveis problemas posteriores.
Evitar gírias e palavras de baixo calão, a não ser para fazer uma piada ou algo jocoso que possa ser traduzido como um mecanismo adicional de auxílio à aprendizagem naquele contexto específico. Aliás, piadas quase sempre são bem-vindas, mas é preciso que se esteja atento ao fato de que a palestra é uma atividade séria e muita graça pode comprometer a seriedade do trabalho.

Os espectadores são atraídos às palestras pelos mais diversos interesses e curiosidades e geralmente a maioria da plateia está composta de expectadores que não têm domínio daquele assunto. Por conta desse fato, que é real, o palestrante sempre deve partir do princípio de que a maioria da plateia não sabe nada, absolutamente nada, sobre o assunto que você ele está abordando e sobretudo, deve ter efetivamente em mente que o óbvio não existe. O que é óbvio para você, quase nunca é óbvio para outra pessoa, principalmente se ela trabalhar numa área de atuação diferente da sua.

Um palestrante tem a função de tentar informar algo a quem não sabe e não pode partir do pressuposto de que as pessoas que estão na plateia já têm certo conhecimento sobre algumas das coisas que deverão ser ditas. Assim, o palestrante deve procurar ser efetivamente claro, o mais claro possível. Isto é, se for necessário seja até detalhista. Mas, não se esqueça que clareza e detalhe não são sinônimos de redundância, portanto não subestime a inteligência das pessoas e nem seja muito repetitivo no seu discurso.

Algumas vezes a repetição pode até ser útil, mas somente como maneira de chamar a atenção sobre um detalhe específico do assunto em questão. Assim, ao contrário da repetição ineficaz, seja coerente e sempre o mais objetivo possível que puder ser. Na grande maioria das vezes, o exemplo, depois da definição, além de ilustrar o conceito, também é melhor do que qualquer simples repetição para esclarecer sobre um determinado conceito.

O palestrante deve ser capaz de tomar a palavra de quem fala o que não deve e de recusar-se a responder uma pergunta fora do assunto em discussão. Obviamente, esse tipo de postura poderá ser considerado como uma grosseria ou uma deselegância, mas a vale a pena ser deselegante em benefício do aproveitamento da maioria efetivamente interessada no assunto. Lembre-se que o palestrante é um instrutor e deste modo, sua função é informar e instruir, portanto ser agradável, embora seja benéfico e salutar, não é sua obrigação, enquanto palestrante. Não se preocupe muito em “rasgar seda” para a plateia, pois vale mais, para tudo e para todos no evento, que o palestrante seja coerente e objetivo.

O ESPECTADOR

Primeiramente vou me ater as questões básicas que devem ser consideradas pelo espectador durante os eventos virtuais, pois como o expectador está literalmente em casa (no seu espaço), muitas vezes ele acredita que esteja sozinho. Entretanto, é bom lembrar que, na verdade, todos que estão naquele evento podem ouvir ou ver o que se passa com todos, se não forem tomados alguns cuidados básicos. Portanto, existem algumas observações importantes quanto à postura dos expectadores frente ao computador ou ao celular durante os eventos.

É fundamental os cuidados com a aparência, principalmente com a vestimenta, com a manutenção do microfone desligado, para evitar sons estranhos à palestra, com as pessoas do local, onde o expectador se encontra e suas possíveis passagens na frente da câmera. Talvez a utilização de um ambiente isolado e a manutenção da câmera desligada também sejam de bom alvitre, para evitar situações constrangedoras, como conversas paralelas ou imagens desagradáveis e garantir a segurança quanto ao áudio e o vídeo durante o evento. Uma coisa que ajuda bastante, é utilizar o fone de ouvido ligado ao computador, porque assim fica garantida e certeza de que sons estranhos não serão passados ao público do evento.

Como espectador num evento, o indivíduo deve ter em mente que a regra básica de qualquer evento em que ele está presente na plateia, é lembrar que o expositor é o palestrante e não você, portanto limite-se a falar apenas o necessário e somente quando for autorizado, para não prejudicar o andamento do evento. Assim, quando for fazer uma pergunta ou comentário, espere a autorização para fazer uso da palavra, mantenha-se efetivamente no tema em questão e não divague, pois o tempo é fundamental em qualquer evento.

Infelizmente é muito comum os espectadores, antes de objetivarem as suas perguntas ou comentários, fazer saudações às autoridades, parabenizar o palestrante e os organizadores do evento, além de uma série de pequenas práticas desnecessárias, que só atrasam, atrapalham e comprometem a qualidade do evento. Essas práticas, podem ser formalmente interessantes, mas têm que ser definitivamente abolidas das falas de qualquer expectador. As autoridades já foram nominadas e os parabéns podem ficar escritos no “chat” (bate papo) e não há nenhuma necessidade de ficar repetindo. Se vinte espectadores falam, os vinte fazem as mesmas saudações. Isso é uma grande bobagem do passado, que precisa ser esquecida nos tempos atuais.

Outra coisa fundamental, o espectador deve fazer todo esforço possível para evitar falar de si mesmo. Questões pessoais não interessam aos outros, principalmente num evento aberto ao público. Então, o espectador não deve se usar como exemplo de nada, a não ser se for realmente inevitável para esclarecer determinada situação, pois é bem possível que a experiência dele e seus problemas particulares não interessem a mais ninguém da plateia, além dele mesmo, pelo menos naquele momento.

Algumas pessoas gostam de falar, o que pode ser bom, porém elas têm muita dificuldade para serem objetivas e às vezes falam muito, enrolam, enrolam, complicam e acabam não dizendo nada, numa pergunta e principalmente conseguem dizer menos ainda, quando resolvem fazer algum comentário sobre o assunto em questão. Infelizmente, essas coisas costumam ser mais comum do que possam parecer a princípio. É preciso ser claro, objetivo, ter noção de ridículo e senso de coerência ao fazer uma pergunta ou um comentário qualquer.

Se o espectador foi mal-entendido, ou se tomou uma “paulada”, ele deve calar a boca e evitar ampliar a discussão. Quando muito, o expectador deve agradecer a oportunidade de falar. Depois do evento o expectador pode comentar o que quiser, com quem quiser, mas ele não pode estragar o evento com discussões infundadas, de maneira nenhuma, pois existem inúmeras pessoas envolvidas, além do expectador aborrecido e do palestrante. É realmente difícil, mas é necessário respeitar o direito da maioria, que está ali para participar do evento. Assim, considere que se a sua fala não irá colaborar, sempre será melhor não dizer nada.

Se o espectador costuma ser um desses indivíduos enrolados ou que tem dificuldade de se expressar quando fala e quer fazer uma pergunta ou um comentário, sempre será mais interessante escrever aquilo que se quer dizer e apenas ler o que está escrito ou mandar pelo “chat” (bate papo), sem fazer qualquer comentário adicional. Essa atitude certamente evita problemas subsequentes. O tempo que se perde com discussões ineficazes, por conta de perguntas sem nenhuma coerência e comentários irrelevantes é exatamente o que determina a qualidade de um bom evento, de uma boa palestra ou de uma discussão qualquer.

CONCLUSÕES

1 – Daqui para frente cada vez mais teremos eventos virtuais com discussões e assim é fundamental que sejamos capazes de falar apenas e tão somente o necessário.
2 – Nossa fala deve estar restrita aos interesses do evento, qualquer questão ou comentário além desse limite deverá ser considerada uma postura inoportuna, indesejável ao evento e por isso mesmo deve ser desconsiderada e descartada.
3 – A organização do evento, pode e deve impedir qualquer postura do expectador que contrarie o interesse do evento ou atrapalhe a participação dos demais espectadores, inclusive cortando a fala daqueles que estejam eventualmente provocando os problemas.
4 – Por outro lado, o próprio palestrante também pode e muitas vezes até deve, excluir-se terminantemente de responder perguntas e recusar os comentários desvinculadas com o assunto em questão.
5 – O espectador deve se colocar única e exclusivamente na condição de assistente durante todo o transcurso do evento e assim, sua participação deve se limitar, quando for possível, aos questionamentos e discussões, os quais devem visar sempre melhorar e não complicar os trabalhos.
6 – Essas tarefas parecem ser relativamente fáceis, mas como o ser humano é bastante eficiente em criar problemas, precisamos nos policiar cada vez mais, para evitar ou, pelo menos, minimizar a quantidade desses problemas.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.

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