Tag: Recuperação Planetária

05 jun 2020
ALVÍSSARAS AOS FUTUROS DIAS INTERNACIONAIS DO MEIO AMBIENTE

ALVÍSSARAS AOS FUTUROS DIAS INTERNACIONAIS DO MEIO AMBIENTE

Resumo: O artigo traz umpequeno resumo histórico da degradação ambiental planetária causada pela espécie humana desde o surgimento de nossa espécie até hoje. Como esta situação é impossível de ter continuidade, é considerado que daqui para frente as coisas terão que caminhar de maneira diferente, pois a vida e o planeta deverão passar a ser as prioridades nas ações humanas.


“Ainda há tempo para a Humanidade aqui na Terra, mas temos que parar de andar na contramão da história e do planeta” “A Humanidade, que tem um só planeta, também precisava ter, apenas e tão somente, um único povo”
(Luiz E. Corrêa Lima, 2020) (Luiz E. Corrêa Lima, 2020)

Meus amigos, hoje é dia 05 de junho, data dedicada ao Meio Ambiente, pela Organização das Nações Unidas, desde 1972, portanto, como estamos em 2020, podemos dizer que o Meio Ambiente no mundo está completando oficialmente 48 anos hoje, ainda que a história do planeta tenha cerca de 5 bilhões e que os seres humanos e, em especial a nossa espécie tenha algo em torno de 350 mil anos. No início nossa espécie era uma espécie nômade, composta de caçadores e coletores, que caminhavam e sobreviviam em pequenos grupos, sem causar grandes danos ambientais, pois o efeito era apenas local e logo se dispersava, quando o grupo, por algum motivo ia embora dali.

A fase mais antiga da Pré-história, que vem desde o surgimento dos primeiros hominídeos (até cerca de 13 mil anos A.P.) é o momento da diáspora dos diferentes grupos humanos e da produção de suas diversas características fundamentais. Esses grupos se espalharam pela África e acerca de 75 a 70 mil anos já existia humanos na Ásia e a 40 mil anos estavam na Europa. Aqui na América a chegada dos humanos ainda é muito discutida, mas certamente não se deu há menos de 10 mil anos.

Entre 60 e 50 mil anos, ainda no Período Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada, que durou até próximo de 10 mil anos a.C., o ser humano aprendeu a utilizar o fogo, desenvolveu significativo grau de interação social e cultural. Nessa época, além da comunicação com linguagem gestual, possivelmente passou a desenvolver também a linguagem oral. Progressivamente criou e aperfeiçoou ferramentas, sempre usando pedras e desenvolveu a música, as crenças e arte de fazer pinturas rupestres.

No Período Mesolítico (entre 13 a 9 mil anos a.C.), ocorre a supremacia das populações dos caçadores coletores sobre os essencialmente caçadores, possivelmente por conta da resistência maior à carência de alimento nos locais onde as glaciações foram mais intensas. Nesse período, parece também terem sido desenvolvidas as cerâmicas e a tecelagem.

No Período Neolítico ou Idade da Pedra Polida (até 3mil a.C.) surgem a escrita e a agricultura, esta última é seguida pela domesticação dos animais para uso agrícola (tração animal) e também para locomoção e transporte. Como consequência dessas coisas que passam a garantir a produção de alimento, cresce a possibilidade de sedentarização.  Deste modo, surge a arquitetura, as primeiras construções de pedra e se desenvolvem as primeiras vilas e cidades. Ao final do Neolítico (Idade dos Metais) progressivamente ocorre a substituição da pedra pelo metal e consequentemente o desenvolvimento da metalurgia.

Mas se, considerarmos os tempos históricos, a partir do surgimento da escrita, como fazem alguns historiadores, podemos considerar as implicações humanas efetivas, desde 4 mil anos antes de Cristo. Deste modo, os quatro períodos fundamentais da História: Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea, se estabelecem de 4 mil anos a.C. até hoje.

Sempre utilizamos, os recursos naturais planetários e assim, de alguma forma sempre impactamos o ambiente, retirando coisas, mudando paisagens e criando novas imagens, mas certamente nossas ações só começaram a ser ambientalmente mais danosas, a partir do final da Idade Moderna e se acentuaram bastante pela Idade Contemporânea, quando nossos problemas ambientais começaram a ter significado planetário mais efetivo e contundente.

Na Idade Antiga, os seres humanos ocupavam ainda uma pequena faixa de terras planetárias às margens de grandes rios, mas as populações ainda eram muito pequenas para produzir grandes danos ambientais e a própria condição natural planetária era capaz de resolver a grande maioria dos problemas que pudessem existir. Excetuando as questões ligadas a exploração mineral, que ainda eram rudimentares naquela época, o planeta ainda não tinha porque reclamar das ações humanas até então.

Na idade Média, além das inúmeras guerras, que acabaram por devastar algumas áreas relativamente importantes, também ocorreram muitos desmatamentos para a retirada da madeira a ser utilizada na construção e na queima para a produção de energia. Além disso, a exploração mineral se acentua e foram produzidas inúmeras mudanças de paisagens para fins agrícolas, como formação de hortas e pomares, mormente na Europa. Mas, ainda assim, o dano era pouco significativo, pois tudo ocorria na base da picareta e do machado, além do que, as populações não eram grandes.

As necessidades energéticas eram baixas e as técnicas para produção de energia ainda eram insipientes, se limitavam a exploração e retirada do carvão ou da retirada e queima do carvão vegetal. Além de algumas poucas tarefas caseiras, o artesanato e a manufatura eram as únicas atividades que dependiam de energia. Assim, a necessidade era pouca e havia muita possibilidade de regeneração das áreas florestadas. O que passava a ser mais complicado e cada vez mais significativo era a exploração mineral, mas a Terra ainda não se demonstrava incomodada com as ações humanas.

Quer dizer, nós começamos realmente a fazer mal ao planeta, na Idade Moderna, por volta de 1750, com a Primeira Revolução Industrial e continuamos mais drasticamente pela Idade Contemporânea. Ou seja, foi apenas nesses últimos 250 anos, particularmente nos últimos 70 anos, que nossa espécie dizimou minerais, plantas, animais e conturbou de vez toda a dinâmica planetária. Aliás, nos últimos 70 anos se degradou mais o planeta do que em toda a história humana.

Pois então, de qualquer maneira, independentemente da data considerada, para definir desde quando efetivamente fazemos danos irreversíveis no planeta, temos uma certeza. O nosso atraso no que tange ao cuidado com o planeta e com as questões ambientais é realmente imenso. Temos um passivo ambiental enorme e se não bastasse isso, de 1972 para cá, apesar de todo o avanço científico e tecnológico que conseguimos obter, nesses 48 anos, principalmente no que diz respeito às ações erradas que cometemos ambientalmente, quase nada mudou no nosso comportamento em relação ao planeta e às demais criaturas nele existente.

Nesses 48 anos, continuarmos aumentando a população humana absurdamente e assim as necessidades de recursos naturais só se ampliaram e nós não pararmos de degradar o planeta. Ao contrário, nós acentuamos drasticamente a destruição dos ambientes naturais, porque além de retirar os recursos, nós modificamos fisionômica e fisiologicamente os ambientes, cada vez mais. Exploramos e deixamos à mingua todos os minerais possíveis de serem explorados. Com essa exploração mineral absurda, temos marcado a superfície do planeta com cicatrizes perpétuas, muitas vezes sem necessidade, porque o minério não tem como sair dali por si só, apenas para garantir um patrimônio econômico maior.

Desmatamos quase todas as Florestas Naturais à busca de madeiras nobres para os mais diversos fins e queimamos a mata baixa de várias regiões para fazer áreas de pastagens para o gado, sem nos importarmos com as milhares de espécies de organismos vivos que são mortas nesses processos.  As poucas espécies que sobram, matamos aleatoriamente ou vendemos nos comércios ilegais de organismos vivos, particularmente o tráfico ilegal de fauna silvestre, que é o terceiro maior negócio econômico do mundo.

Contaminamos a água com esgoto doméstico lançado diretamente nos cursos de água sem nenhum tratamento e envenenamos esses mesmos cursos de água com componentes químicos industriais, mormente metais pesados e resíduos dos mais diversos pesticidas e fertilizantes organoclorados. Além de possuirmos o mal hábito de jogar tudo que não nos interessa nos cursos da água, o que tem levado à morte de vários rios. Aquecemos as águas por conta de efluentes e emissários de indústrias e usinas que utilizam água quente em seus processos, matando inúmeros organismos e mudando gradativamente a biota aquática, nos cursos de água que recebem essa água aquecida.

Por outro lado, transformarmos os oceanos em grandes lixões, principalmente devido à grande quantidade de plásticos e outras coisas indesejáveis, que têm causado, além da poluição, a morte de inúmeros animais marinhos. Isso sem contar os constantes derramamentos de cargueiros carregados de petróleo, que causam contaminação indescritível.  Os grandes vertebrados marinhos e particularmente as aves aquáticas têm sido os animais mais prejudicados com esses absurdos, mas todo o ambiente marinho sofre, até porque as cadeias alimentares são intensamente prejudicadas, haja vista que o óleo acumulado na superfície das águas acaba impedindo a entrada de luz e consequentemente inviabilizando a fotossíntese das algas fitoplanctônicas.

Destruímos o solo com a imensa variedade de agrotóxicos que são aplicados, muitas vezes sem nenhuma necessidade, apenas para manter alta produtividade, o que hoje é muito questionável, pois já existem várias técnicas agrícolas que permitem produzir mais sem uso desses venenos. Muitos solos foram totalmente destruídos e estão estagnados devido ao excesso de exploração, ou estão em processo de desertificação por conta desse mal uso dos agrotóxicos e implementos agrícolas.

Poluímos o ar das cidades com as fuligens e particulados de hidrocarbonetos oriundos das queimadas ou dos processos industriais das fábricas e também com inúmeros compostos químicos gasosos indesejáveis, como Monóxido de Carbono (CO), Óxidos de Nitrogênio (NOx), Óxidos de Enxofre (SOx) e Ozônio (O3), por conta da queima de combustíveis fósseis. Esses gases, além de tóxicos, como o CO, os NOx e o O3, outros podem causar Chuvas Ácidas (SOx).

Por outro lado, a queima de combustíveis orgânicos, também libera (Dióxido de carbono) CO2 e como as queimas não param, a taxa de CO2 na atmosfera, tem crescido indefinidamente, o que causa aumento progressivo da temperatura planetária, o tão falado Aquecimento Global. A redução da taxa de CO2 depende direta e exclusivamente dos organismos fotossintetizantes (principalmente plantas e algas), mas como o homem vem, cada vez mais, desmatando e destruindo plantas e poluindo as águas, a taxa de CO2 só tem aumentado e o aquecimento global também.  

Cabe ressaltar que existe outro gás, resultante de queima e decomposição orgânica, cuja a taxa ainda é pouco significativa na atmosfera, mas que tem crescido progressivamente é o Metano (CH4). Esse gás, junto com o CO2, constituem os principais responsáveis pelo Efeito Estufa, que embora seja um processo natural importantíssimo para permitir e manter a vida no planeta, também atua no aumento da temperatura. Se a taxa de Metano aumentar muito a questão pode se complicar mais drasticamente porque ele é 20 vezes mais eficiente como gás de efeito estufa que o CO2.

Reduzimos fortemente alguns Biomas e até extinguimos alguns ecossistemas naturais inteiramente. Ambientes que a natureza levou milhares de anos para produzir, foram totalmente modificados e hoje não mais existem. Assim, estamos descaracterizando toda a biodiversidade planetária e exterminando os bancos genéticos naturais com a extinção progressiva de espécies parcial ou totalmente. Enfim, os absurdos nunca pararam de acontecer.

Por sua vez, a natureza ultimamente tem se demonstrado irada e tem tratado de produzir respostas cada vez mais violentas e significativas, porque o planeta, simplesmente, não aguenta mais de tanta degradação. Desta maneira, as catástrofes são cada vez mais comuns e mais drásticas. As enchentes são grandiosas, as secas são terríveis, os furacões mais destruidores, os terremotos mais arrasadores, os tsunamis mais violentos e as erupções vulcânicas mais contundentes. E se não bastasse, novas doenças são cada vez mais frequentes, novos vírus surgem e causam moléstias de fácil disseminação, criando epidemias cada vez mais arrebatadoras e complicadas.

Nem bem resolvemos os problemas oriundos da ação do Vírus H1N1 e apareceu o Corona Vírus (COVID 19), que está por aí fazendo vítimas em todo mundo. A espécie humana, que não via uma grande pandemia desde 1918, quando começou a Gripe Espanhola, que se alastrou até 1920 e infectou mais de 500 milhões de pessoas, matando cerca de 50 milhões, está novamente abalada e assustada com o COVID 19. Embora sua capacidade de letalidade seja relativamente baixa, seu grau de contaminação é extremamente grande.

Segundo dados publicados pela BBC News Brasil, em 02 de junho de 2020, que foram fornecidos pela Universidade Johns Hopkins (Baltimore, EUA), até o dia 31 de maio, o COVID 19 já havia superado a marca de 6.200.000 de infectados e 375.000 mortos no mundo. Aqui no Brasil, já passamos de 500.000 infectados e temos quase 30.000 mortos e os números não param de crescer. Todos estamos querendo saber, como e quando isso vai parar.

Já existem vários estudos provando e assim, não há mais dúvidas de que essas grandes catástrofes atuais e a plêiade de novas doenças infecciosas de origem zoonótica, inclusive o COVID 19, são consequências direta do tratamento irresponsável que a humanidade tem dado ao Meio Ambiente e às questões ambientais. Agora resta saber, o que estamos realmente querendo para o futuro? Queremos que as catástrofes e doenças continuem, cada vez mais drásticas e violentas? Ou que as coisas possam voltar a ser mais brandas e ocasionais dentro da normalidade que sempre existiu?

A resposta à essas perguntas dependerá exclusivamente do caminho que a humanidade tomará após à passagem do COVID 19. Mas, tenhamos certeza, que se continuarmos pensando em crescimento econômico ilimitado num planeta que é finito, do qual retiramos todos os recursos que usamos, estaremos fadados a permanecer no caos e progressivamente aumenta-lo, até a nossa extinção. A tecnologia pode até fazer alguns milagres, mas não consegue multiplicar as coisas e assim, fisicamente é impossível tirar mais do que o que existe num determinado local.

A Terra é uma só e tudo que tivemos, temos e teremos certamente veio, vem e continuará vindo daqui mesmo. Pode ser que descubramos outros mundos, mas, por enquanto, temos que nos manter e dar direito às gerações futuras de também se manterem, com as coisas que estão aqui na Terra. Agora parece que está mais claro para todos os seres humanos, que o nosso procedimento com o planeta sempre esteve errado. E cabe lembrar o velho ditado que diz: “não se resolvem coisas novas com receitas velhas”. Assim, vai ser necessário mudar de pensamento, criar nova filosofia e sobre tudo, desenvolver novas posturas comportamentais.

O futuro da humanidade, terá que vir fortemente carregado de biocentrismo. Isto é, a vida deve ser o valor primeiro e deve estar no centro de todas as preocupações e ações humanas. Nada, absolutamente nada, poderá fugir a esse contexto. O planeta e todas as formas de vida nele existentes terão que ser consideradas e respeitadas pela humanidade. O uso dos recursos naturais tem que ser parcimonioso e a economia, por mais importante que ainda possa continuar sendo, terá que ser relegada a segundo plano. O decrescimento de André Gorz, terá que deixar de ser apenas um conceito, para passar a ser uma filosofia de vida efetiva, que deverá ser seguida por toda humanidade. A Terra não vai mudar, mas o homem pode, deve e na condição atual, necessita realmente mudar, porque está é a última alternativa da humanidade sobreviver. Apenas cuidando da Terra e da Vida é que ainda poderemos ter continuidade planetária. Precisamos urgentemente reavaliar os nossos valores e colocar em prática uma nova realidade, que não tenha a economia como referencial primário, para que todos os dias passem a ser considerados como o Dia internacional do Meio Ambiente. Não há como ser de outra maneira.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)