Os Biólogos Brasileiros precisam atuar mais nas questões nacionais de interesse biológico

Meus companheiros, mais uma vez estamos aqui para comemorar o nosso dia 03 de setembro, afinal são 34 anos de regulamentação de nossa profissão e quem estava presente naquela época lembra da luta que foi. Assim, obviamente devemos mesmo comemorar a data. No meu caso específico, completo em 18 de dezembro, 35 anos de formado e posso garantir que valeu a pena, ou melhor está valendo. Assim, quero desejar um Feliz Dia do Biólogo e parabéns para todos nós pela data.

Entretanto, nem tudo são flores e penso que devemos também ter a coragem de refletir e admitir que não estamos sendo muito coerentes com a nossa responsabilidade como Biólogos e particularmente com a nossa missão precípua de “Guardiões da Biodiversidade Brasileira”, porque até aqui, como profissionais, temos sido omissos sobre as inúmeras irregularidades produzidas pelo Governo Brasileiro, no que diz respeito à proteção da nossa Biodiversidade e do nosso Patrimônio Natural. Certamente nós sabemos o que representa a Biodiversidade Brasileira, mas os nossos dirigentes ainda não entenderam ou não querem entender que a Biodiversidade desse país é a maior riqueza que possuímos.

Ao longo do tempo e com a nossa anuência, o Governo Brasileiro têm dilapidado o nosso Patrimônio Natural e a nossa Biodiversidade de forma abrupta, ilógica e inconsequente. O pior é que não vejo os nossos Conselhos de Biologia se manifestar de maneira contrária a esses infelizes absurdos. Assim, lamento dizer, mas estamos sendo coniventes com o que acontece, porque o nosso silêncio é a nossa concordância com o que está acontecendo.

Nós Biólogos sabemos que o Brasil é um país de Megabiodiversidade. Aliás, cabe ressaltar, para que a gente não se esqueça, o Brasil é o país de maior Biodiversidade do planeta, abrigando quase 20% de tudo que é vivo na Terra e nós, Biólogos Brasileiros, temos um compromisso com a manutenção dessa condição ímpar. Nós temos que lutar para garantir que essa condição que foi estabelecida naturalmente seja mantida, apesar das históricas e estapafúrdias ações do Governo Brasileiro em sentido contrário.

Enquanto a ONU, ano após ano, declara temas ligados a Biodiversidade como seus temas anuais para destacar a relevância da questão, nós aqui no Brasil temos andado na contramão da História e fazemos coisas que destoam dos interesses das Nações Unidas. Recentemente aprovamos um Novo Código Florestal absurdo, onde perdoamos dívidas de destruidores da natureza, além de autorizarmos a possibilidade deles desmatarem e degradarem ainda mais os nossos ambientes naturais. Por outro lado, cabe ressaltar que está tramitando também o novo Código Minerário, que traz um amontoado muito maior de incoerências e que se for aprovado da maneira como está provocará imensos danos a biodiversidade brasileira.

O Governo Brasileiro está brincando com fogo e nós Biólogos estamos aqui olhando a banda passar como se não tivéssemos nada a ver com a questão. Nós somos cidadãos brasileiros e talvez sejamos os únicos que possamos, de fato, opinar sobre a questão da perda da Biodiversidade, porque não atrelamos nossa opinião sobre essa questão a nenhum fator econômico ou a outros interesses quaisquer, que não sejam a manutenção da vida, à preservação dos bancos genéticos dos Biomas brasileiros e dos ecossistemas naturais neles contidos. Estamos preocupados com a Biodiversidade apenas e tão somente por conta da própria Biodiversidade.

A Biodiversidade Brasileira tem sido significativamente destruída, porque os governantes não se sabem direito e parece que nem querem saber, o que é esse negócio. Assim, as listas de espécies ameaçadas de extinção só aumentam, as áreas naturais são destruídas e os organismos nelas viventes não têm como sobreviver. Várias espécies animais e vegetais estão à mingua. Todos grandes vertebrados desse país estão extremamente ameaçados e alguns já se extinguiram totalmente em determinadas áreas, por conta de obras infundadas e projetos absurdos de implantação de grandes hidrelétricas, de transposições inconsequentes, de práticas agrícolas insanas e de construções de estradas e outros grandes empreendimentos ilógicos. É preciso dar um basta nessa situação e creio que o Conselho Federal de Biologia e os Conselhos Regionais deveriam se manifestar de maneira mais ativa e contundentemente contrária a essas imensas incongruências ambientais que têm ocorrido em determinadas regiões do país.

Como Biólogos, aqui no Brasil, ainda não conseguimos o respeito que a nossa profissão alcançou em outros países pelo mundo afora. Infelizmente, ainda falta muito. Como profissionais nós estamos muito longe de chegar onde queremos, merecemos e devemos. Entretanto se quisermos mesmo atingir o nível desejado, temos que parar de fazer concessões e de fazer de contas que não estamos vendo as coisas erradas que acontecem por aí. Nossa postura precisa mudar. Afinal já são 34 anos e continuamos na mesma, ou seja, enquanto o mundo respeita os Biólogos, aqui no Brasil somos considerados pelas “autoridades” como sendo poucos mais que “meros idiotas”. Mas, isso acontece porque sempre agimos isoladamente, não nos organizamos, como grupo social ativo e funcional. Infelizmente, apenas alguns de nós se manifestam e dão os seus palpites e opiniões sobre o que acontece. Dessa maneira, agindo individualmente, não temos força e fica efetivamente muito fácil desconsiderar cada uma das nossas posições.

Por outro lado, quero salientar que a opinião pública, de maneira geral, parece estar conosco. Isto é, os Biólogos são profissionais muito bem vistos pela população e nós precisamos passar a tirar vantagens desse detalhe importante. Temos que confrontar o governo nas suas impropriedades naturais, tentando fazer com que a população se sensibilize às nossas reivindicações. Nesse sentido é que vejo como fundamental a ação dos nossos Conselhos Profissionais na busca de unir os Biólogos brasileiros em torno de temas que possam produzir campanhas nacionais e que reivindiquem situações que tragam à luz as insanidades que os Governos, principalmente o Governo Federal, vêm causando a maior riqueza do país que a nossa Biodiversidade.

Acredito que o contingente de Biólogos brasileiros devidamente registrados já é mais que suficiente para opinar ativamente sobre questões de interesse e mesmo para propormos e até mesmo bancarmos campanhas nacionais em prol da defesa de nossa Biodiversidade e não tenho dúvida que a população brasileira caminhará lado a lado conosco, porque como já foi dito, nós somos muito bem vistos pela comunidade em geral. Nossa profissão tem um grande trunfo que ainda não explorou, que é o uso da opinião pública a nosso favor.

Penso que está na hora de começarmos a mudar essa situação de desmando que impera no país historicamente no que diz respeito a manutenção da biodiversidade e quiçá, até mesmo de outros temas de interesse biológico. Aliás, penso mesmo que já passou da hora dos Biólogos brasileiros se unirem em torno de alguns interesses comuns. Precisamos deixar de ser os “bobinhos de plantão”, para sermos os profissionais respeitados que queremos ser. É óbvio que nós só conseguiremos atingir os nossos objetivos como profissionais, se começarmos a mostrar que efetivamente existimos e que somos um grupo social ativo de cidadãos da sociedade brasileira. Enquanto continuarmos quietos não seremos considerados.

Bem, fica aqui o meu recado aos Conselhos de Biologia e principalmente o meu manifesto de repúdio contra as situações degradantes que os ambientes naturais brasileiros tem passado, além do meu protesto veemente contra a ignorância dos governantes brasileiros, quanto a importância da preservação da biodiversidade do Brasil.

Mais uma vez, eu quero parabenizar a todos pelos nosso 34 anos de profissão, mas quero ressaltar que não existe glória sem luta e que o único lugar em que o prazer e o sucesso vêm antes do trabalho é no dicionário e por isso mesmo quero lembrar de novo que é preciso mais ação, mais atuação e mais luta, para sermos os verdadeiros profissionais da vida e da natureza, ou como eu disse no início os “Guardiões da Biodiversidade Brasileira”.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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