O DIVULGADOR CIENTÍFICO: UMA FUNÇÃO IMPORTANTE PARA A SOCIEDADE

Resumo: Este artigo pretende trazer uma discussão reflexiva sobre a necessidade de formar Divulgadores Científicos e de como melhorar a Divulgação Científica no país. É preciso preparar gente específica para desenvolver a tarefa de Divulgar Ciência e não temos tido a devida preocupação com essa questão.


Ainda que, a priori, a ciência seja um atributo exclusivo dos cientistas, as consequências dessa exclusividade e as respectivas aplicabilidades tecnológicas dos novos conhecimentos desenvolvidos pelos cientistas, na verdade não pertencem a eles, mas sim a humanidade. A geração de determinado conhecimento pode ser de um ou de poucos, mas a utilização humanitária desse mesmo conhecimento tem que ser para todos. Nesse sentido, torna-se fundamental que todo conhecimento científico agregado seja informado e incutido nas comunidades e nas atividades interessadas e ainda seja divulgado de maneira clara e correta para a sociedade como um todo.

Quer dizer, tudo que é descoberto pela ciência (pelo cientista) necessita, de alguma maneira, ser divulgado, informado e devidamente esclarecido às pessoas. Se não acontecer desta forma, o trabalho desenvolvido pelo cientista não se justifica e consequentemente não faz absolutamente nenhum sentido, haja vista que a ciência, logicamente, deve sempre objetivar o bem maior para toda a humanidade.

Pois então, a grande questão que se quer colocar reside exatamente nesse ponto, haja vista que, particularmente nos últimos tempos, as coisas têm acontecido de maneira diversa do esperado. Existem outros interesses que suplantam as necessidades da humanidade e que se colocam como auto justificáveis em importância e que acabam por assumirem condições prioritárias e secretas, que simplesmente não são divulgados. Na verdade, são presentes de grego que chegam à humanidade como que caídos do céu.

Acredito que esse fato se dá por conta de três condições fundamentais, as quais tentarei demonstrar ao longo desse ensaio.

Primeiro porque o cientista, quando escreve e publica suas descobertas, ele faz isso numa revista que quase ninguém lê. As revistas científicas e os trabalhos científicos, quando muito, são lidos apenas por outros cientistas interessados nos mesmo assuntos específicos tratados no trabalho. Isto é, determinados temas são tão específicos que ninguém fica sabendo da existência deles e principalmente dos novos conhecimentos que lhes são agregados.  

A segunda condição decorre da primeira, porque se ninguém ou quase ninguém lê o que o cientista publica, quase ninguém também conhece o assunto e deste modo, também não é possível fazer divulgação do assunto em questão, por puro desconhecimento. A sociedade permanece sem ficar sabendo daquele assunto, porque não existe divulgação esclarecedora sobre ele.

A terceira é consequência das duas anteriores, pois como o cientista tem dificuldade e não consegue atingir um nível de comunicação com a sociedade, por vários motivos que não convêm serem discutidos no momento, o resultado da pesquisa (da descoberta) é aplicado ou não sem a anuência da própria sociedade. Assim, a humanidade acaba por sofrer os efeitos daquela descoberta, sem entender como, quando, porque isso acontece e principalmente que consequências podem ser oriundas da aplicação. Obviamente isso, por mais benéfico que até possa ser, na realidade acaba sendo uma arbitrariedade que fere os princípios básicos da liberdade humana.

Quer dizer, há necessidade de modificar essa rotina absurda e perversa de não divulgação, que foi estabelecida e que inviabiliza a função precípua do cientista e se impõe de maneira autoritária sobre a sociedade. Quando não há o devido esclarecimento da ação proposta à comunidade interessada e à sociedade como um todo, ocorre, no mínimo, uma ação perigosa e transgressora dos direitos humanos.

Bem, baseado nessas premissas apresentadas, acredito que fica muito clara a necessidade da Divulgação Científica, como mecanismo prévio a qualquer ação oriunda de novas descobertas científicas. A Divulgação Científica é fundamental e necessária para orientação das pessoas. Por outro lado, essa Divulgação também é um mecanismo de prestação de contas do cientista com a sociedade.

Ora, se o cientista não tem condições, pelos mais diversos motivos, como já foi informado acima, de fazer a Divulgação Científica de suas descobertas, tem que existir outro agente social que cumpra essa função. Entretanto, quem é esse alguém? Será que ele pode ser qualquer pessoa? Obviamente, todos devem concordar que a resposta é NÃO, mas eu vou tentar explicar exatamente o porquê.

O Divulgador Científico tem que ser alguém que possua conhecimento e capacidade de escrever e se comunicar de maneira que torne fácil e adequado o entendimento daquela pesquisa realizada pelo cientista. Esse indivíduo não pode ser um curioso qualquer midiático, que muitas vezes não conhece absolutamente nada sobre aquele assunto que está querendo informar sobre o que não entende, como, infelizmente, acontece, na grande maioria das vezes.

A Divulgação Científica no Brasil está a cargo de jornalistas, muitas vezes, totalmente despreparados e desinformados, além de jovens pesquisadores, até bem-preparados, mas, sem a devida bagagem científica. O Divulgador Científico não pode ser apenas um comunicador, ele tem que ser alguém capaz de destrinchar o assunto e transcrever a informação de maneira explicativa e clara para todas as pessoas sejam capazes de entender. Além disso, essa divulgação também precisa ser feita por alguém que tenha conhecimento e tarimba na área científica do assunto tratado.

Em suma, fazer Divulgação Científica não é uma tarefa fácil, como pensam alguns que se atrevem nessa seara. Existe uma exigência de que o Divulgador Científico seja um homem de ciência e capacitado para popularizar a informação científica, sem interferir no sentido real do assunto. Se não for assim, a Divulgação Científica acabará sendo um mecanismo de “desinformação científica”, pois atrapalhará mais, do que auxiliará à sociedade. Então, como será possível resolver esse impasse?

O Divulgador Científico tem que ser um sujeito que tenha conhecimento do assunto em questão e da linguagem científica, que costuma ser difícil ao cidadão comum, para poder digeri-la, absorvê-la e transformá-la de maneira acessível a todos os possíveis interessados. Isto é, o Divulgador Científico, como já foi dito, não pode ser qualquer um, como acontece na maioria das vezes entre nós, aqui no Brasil, onde pessoas totalmente despreparadas emitem opiniões sobre questões sérias e confundem os conceitos, causando mais problemas do que soluções.

Aqui no Brasil, lamentavelmente, qualquer um se sente capaz de falar de qualquer coisa e, o que é pior, deste modo, acaba falando um monte de besteiras, exatamente porque desconhece totalmente do assunto. É nesse momento que surgem os inúmeros achismos e informações indevidas baseadas em erros conceituais básicos, consequente do não conhecimento da questão e muito menos de seus fundamentos científicos. Assim, cria-se uma mistura da realidade com a ficção e o resultado é uma confusão que complica e desinforma coisas que muitas vezes poderiam ser simples.

É triste, mas está cheio disso por aí. Tem até alguns livros escritos e que venderam bastante, baseados em premissas totalmente errôneas e que justificam teorias infundadas e totalmente sem nexo. Pois então, assim, a Divulgação Científica que deveria orientar e educar à Sociedade acaba deseducando, complicando, desinformando e desorientando a sociedade. A realidade é que se divulga ficção científica, como se fosse ciência e muita gente acredita. Essa é uma situação perigosa e lamentável que, muitas vezes, traz conceitos errados e indevidos que se multiplicam no pensamento popular.

Algumas vezes isso acontece por inexperiência, outras por incompetência, mas, na maioria das vezes, isso ocorre intencionalmente, sendo feito propositalmente com a finalidade de justificar outros interesses e colocar ideias infundadas nas mentes das pessoas. Alguns grupos de mídia são especializados em produzir esse tipo de situação e desserviço. Eles se aproveitam das suas condições de comunicadores e da ingenuidade da maioria das pessoas para gerar informações erradas e assim enganar a comunidade próxima e a sociedade como um todo.

Infelizmente, essa é uma técnica malévola, relativamente simples e bastante comum, que funciona mais ou menos assim: estabelece-se um preconceito ou uma controversa a partir de uma informação científica qualquer mal-entendida, mal interpretada ou totalmente errada, ocasional ou propositalmente, e depois reforça-se progressivamente aquele preconceito, até “transformá-lo” num conceito efetivo. É aquela velha história: “uma mentira contada um milhão de vezes acaba virando uma verdade”.

Deste modo, ainda que errado, aquele “conceito” passa a ser difundido como verdadeiro e acaba por ser massificado na população. Isto é um absurdo, mas, lamentavelmente, esta é a situação efetiva de alguns indivíduos “humanos”. Hoje, com a possibilidade de qualquer um escrever e publicar qualquer coisa na INTERNET, essa prática está cada vez mais comum e consequentemente, mais difícil de ser combatida e contida.

É desagradável, mas nossa espécie é assim mesmo. Somos todos humanos e sabemos que nos diferentes grupos humanos, sempre há gente boa e gente má. No grupo dos que atuam como Divulgadores Científicos, obviamente isso não é diferente. Deste modo, há efetivamente alguns indivíduos que são capazes de deliberadamente promover e fazer essas coisas estranhas e contrárias aos próprios interesses da humanidade.

Senhores, precisamos aprender a “separar o joio do trigo”, para minimizar os danos produzidos por esse tipo de situação, mas sabemos que essa é uma tarefa bastante difícil, haja vista que existe uma “indústria da desinformação”, por trás dessas questões, fabricando “fake news” e coisas do gênero, ampliando esses aspectos, com o objetivo exclusivo de “bestializar a sociedade”. Vamos ter que lutar muito para acabar com essa situação vexatória, que só nos diminui na condição de seres humanos pensantes e, o que pior, segundo alguns credos, criados à imagem e semelhança de Deus.

Agora mesmo estamos às voltas com uma Termelétrica sem propósito e muito menos critério, que pretende se estabelecer aqui na região do Vale do Paraíba e estamos com dificuldade de mostrar os absurdos do contexto. E porque isso acontece? Porque parte mídia poderosa, que detém a audiência, faz questão de apresentar uma imagem inverídica e mentirosa do projeto, omitindo as coisas que possam trazer alguma luz e esclarecimento à opinião pública.

Infelizmente, hoje tudo tem um preço e quem paga o preço garante a notícia. Enquanto vivermos nesse comércio dependente de compra e venda da informação, estaremos fadados a ser manobrados pela desinformação. Somente a educação e nesse caso, uma educação científica direcionada e orientada pelos próprios cientistas e por verdadeiros Divulgadores Científicos poderá nos privar desses transtornos causados pelas deficiências intelectuais naturais ou produzidas e pelas “linhas cruzadas” que são condicionadas pelos interesses estritamente econômicos. Apenas, desta maneira, conseguiremos garantir uma identificação efetiva da seriedade na informação.

Ainda bem que a Biologia nos ensina que a semelhança não se define e muito menos se estabelece necessariamente como um tipo de parentesco, porque, se Deus efetivamente existem, esses sujeitos assemelhados ou não a Ele, embora parecidos, certamente esses indivíduos não conhecem o amor e não guardam nenhuma relação com Deus. Por outro lado, a mesma Biologia também nos afirma, que aquele indivíduo que age em contrário aos interesses coletivos de sua própria espécie também tende a perecer. Assim, temos certeza de que tanto Deus, quanto a natureza trabalham conjuntamente contra esses malfeitores, mas nós também precisamos fazer a nossa parte, usando o nosso “desconfiômetro”.

Em suma, precisamos investir em Divulgadores Científicos bons, bem-preparados e sobretudo sérios. Só assim, poderemos garantir que a informação científica seja fornecida à sociedade, dentro do verdadeiro interesse científico e social e com todo respaldo moral que nos coloca na condição básica de seres humanos.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

2 comentário(s)

  1. Caro amigo, Professor Luiz Eduardo:

    Artigo importante pois expõe uma necessidade atual que falta, para que a sociedade organizada ou não, possa agir em defesa própria.
    Conheço muito poucos divulgadores da nossa ciência, “tradutores” da informação científica.
    Um deles é o Professor Fernando Fernandez, Biólogo da Conservação da UFRJ. Publica livros e artigos de divulgação a respeito do que conhece. Isso é raro. Outro, e o Físico Marcelo Gleiser.
    Você tem razão. Eu consegui lembrar o nome de dois brasileiros que publicam em português e o restante são estrangeiros, com livros traduzidos. Porém, divulgadores cientistas para o público, sobre questões ambientais cotidianas e presentes, não conheço.
    O seu trabalho por isso, torna-se muito importante, especialmente na região em que atua. Parabéns!

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    1. Valeu, meu amigo. Muito obrigado pelo comentário.
      Um grande abraço.
      Luiz Eduardo

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