DITADOS POPULARES E A LIÇÃO DE CASA PELA VIDA HUMANA NA TERRA

DITADOS POPULARES E A LIÇÃO DE CASA PELA VIDA HUMANA NA TERRA

Resumo: O artigo confronta alguns velhos ditados com a realidade presente, no que tange ao comportamento humano em relação à vida e ao Planeta, questionandoo desleixo dos dirigentes com as Questões Climáticas e o Aquecimento Global.


Diz o ditado que: “quem planta colhe”, entretanto, isso não é necessariamente uma verdade e muito menos absoluta, como pretendem algumas pessoas. Eu prefiro dizer que: “quem planta tende a colher”, haja vista que a colheita jamais será uma certeza, porque várias coisas podem acontecer ao longo do caminho entre plantar e colher. Nossa parte, como plantadores e interessados na colheita, é trabalhar para garantir a colheita possa acontecer. Esta é exatamente a metáfora que vou tentar traçar e discorrer nesse artigo.

A Biologia, como ciência, nos ensina que, do plantio a colheita, existem várias etapas de desenvolvimento e crescimento que têm que acontecer com aquilo que é plantado e mais ainda, nos diz também, que em cada uma dessas fases podem surgir inúmeras situações, que também podem levar à morte daquilo que foi plantado. Deste modo, me parece evidente que a colheita nunca é certa e, sendo assim o “quem planta tende a colher”, deveria ser um ditado mais ajustado ainda. Consequentemente, não basta plantar para colher é preciso cuidar e ter muita sorte, porque a chance de colher é relativamente pequena e não acontecerá se houver qualquer desastre natural ou não e, principalmente, se não forem tomados os devidos cuidados.

Vejam bem, quando se planta algo, aquilo que se plantou está sujeito as mais diversas ações das intempéries, dos predadores, dos parasitas, dos acidentes fortuitos e ainda do vandalismo. Por conta disso, o cuidado é preponderante para que possa existir a colheita, mas, ainda assim, não há certeza de nada. Cuidar, talvez, acabe sendo mais importante do que simplesmente plantar. Nessa condição, o ditado, mais uma vez deveria ser mudado, e poderia passar a ficar assim: “quem planta, cuida e tem sorte, muito provavelmente deverá ser capaz de colher aquilo que plantou”.

Pois então, meus amigos, isso é porque na natureza é sempre assim, tudo é fortuito e imprevisto. Não existem certezas e tudo é dúvida sempre. Entretanto o ser humano insiste em querer ser capaz de mudar e domar as coisas e ter a natureza sob seu comando. Deste modo, ele segue sua vida tentando enfrentar a natureza e, obviamente, consegue alguns paliativos, mas na maioria das vezes, acaba quase sempre fazendo grandes bobagens. A cada problema “resolvido” surgem outros problemas para “resolver” oriundos daquilo que já se pensava estar “resolvido” e as verdadeiras e efetivas resoluções quase nunca chegam.

Ora, quando vamos aprender que tem coisas que transcendem a nossa capacidade, que não dependem de nós e que não temos nenhuma condição de superar certas questões. Temos que entender que, embora nossas possibilidades criativas sejam brilhantes, também somos limitados e que há coisas que não temos como resolver, porque são contingências naturais violentas e somos obrigados a ter que conviver com elas. Quando muito, o que devemos fazer é procurar tomar o devido cuidado, tentando evitar, minimizar ou contornar certos problemas e situações.

Vivemos num momento em que as Mudanças Climáticas e o Aquecimento Global estão nos assombrando e assustando seriamente e cada vez de maneira mais contundente. Há muito já estamos sentido e vivenciado as consequências trágicas desses fenômenos. Já deveríamos, todos nós, estarmos cientes de que nossa sobrevivência como espécie, está claramente em risco. Nossa postura, que deveria ser de cuidar para que esse processo fosse menos violento para a humanidade, continua sendo de apenas discutir se o óbvio existe e se é o ser humano quem causa o óbvio, para depois tentar “resolver” o problema em si. Meus amigos, o Aquecimento Global é um fato incontestável e se suas causas são naturais ou são consequências das ações do homem é o que menos importa.

Culpados ou não pela existência do Aquecimento Global, obviamente somos responsáveis por seu significativo agravamento. Na verdade, todos nós sabemos, há muito tempo, que estamos aumentando muito a quantidade de gás carbônico (CO2) na atmosfera, com a queima excessiva de combustíveis fósseis e que temos minimizado rapidamente a única possibilidade natural de retirar esse excesso de CO2 da atmosfera, com o continuo desmatamento do planeta. Sendo assim, se não causamos, certamente aceleramos bastante o processo natural de aumento de CO2. Isso não é lenda e isso não cabe discussão, porque é um fato conhecido e entendido por todos.

Tem outro ditado falacioso que diz: “contra os fatos não há argumentos”. Esse ditado, também é falacioso, porque em qualquer questão, os argumentos sempre poderão existir, o que talvez não exista seja embasamento lógico nesses argumentos. Desta maneira, mais uma vez, teremos que propor mudanças no ditado, que agora poderia ficar assim: “contra os fatos, ainda que possam existir argumentos contrários, esses argumentos nunca serão capazes de negar os fatos em si”.  Quer dizer, se qualquer argumento que contaria os fatos é inverídico, logicamente deve ser descartado, como um mecanismo de orientação para proceder às ações minimizadores dos efeitos daquele fato.

Isto é, temos que parar de discutir as causas do Aquecimento Global e temos que partir ativamente para as ações que possam fazer com que seus efeitos sejam sentidos numa escala cada vez menor pelo planeta como um todo e pela humanidade em especial. Entretanto, enquanto discutimos balelas, fica a pergunta: o que temos feito de fato, sobre isso? Eu respondo, infelizmente muito pouco, quase nada. Basicamente nos limitamos a continuar produzindo reuniões, apresentando belos textos e maravilhosos discursos políticos, onde os safados e picaretas têm todo espaço do mundo para fazer suas falácias, tal qual aos ditados citados aqui e nada se “resolve”. 

São conversas que se arrastam, ao longo das cinco últimas décadas, sem nenhuma consequência global prática e direta, no que diz respeito a minimização da questão e obviamente, enquanto isso, o Aquecimento Global só aumenta. Quer dizer, o Aquecimento é Global, mas a prática no tratamento (cuidado) dele é, quando muito localizada, aqui e ali. Todo mundo reclama, que a Terra está aquecendo, mas quase ninguém faz o dever de casa que é trabalhar para que a parte que nos cabe, o aceleramento efetivo do processo no planeta, seja progressivamente minimizado, haja vista que, efetivamente, não podemos acabar com o aquecimento em si. Nós sabemos o que temos e como devemos proceder, mas preferimos continuar conversando e seguimos fazendo as mesmas coisas erradas que sempre fizemos.

Vejam bem Senhores, somos cientes dos fatos que nos confirmam que não temos como “resolver” o problema e que também somos cientes dos fatos que nos informam que podemos agir no intuito de lançar menos e retirar mais CO2 da atmosfera e, mesmo assim, nós ainda continuamos marcando reuniões para discutir o que vamos fazer. Ora, isso parece piada de mau gosto! Não é possível, deve existir alguma coisa muito errada na espécie humana, porque, desta maneira, ela trabalha contra o planeta e contra ela mesma.

Mesmo que consideremos novamente o ditado: “quem planta colhe”, certamente, do jeito que estamos seguindo, nós só vamos colher nossa extinção prematura, porque, sequer, estamos fazendo o nosso dever de casa. Continuamos com longas reuniões infelizes e ineficazes, onde se perde bastante tempo, se gasta muito dinheiro, onde políticos infelizes e incapazes falam inúmeras idiotices e não são capazes de tentar nem, ao menos, criar mecanismos eficazes e efetivos para fazer aquilo que se pode, ou melhor, que o fato pede que se faça. Ou seja, trabalhar para diminuir progressivamente o excesso de CO2 que colocamos na atmosfera.

Somos cientes de que não vamos “resolver” o problema, mas vamos fazer a nossa parte e, quem sabe, ainda possamos garantir um pouco mais de tempo para nós e algumas espécies do planeta, que tem resistido às nossas ações brutais, absurdas e cotidianas. Meus amigos, nós já sabemos que: “contra os fatos, ainda que possam existir argumentos contrários, esses argumentos nunca serão capazes de negar os fatos”. Vamos deixar de lado as conversas inócuas e aborrecedoras aos verdadeiros interesses do assunto e vamos começar logo a colocar as mãos na massa, atuando nas únicas coisas que, de fato, têm sentido e que, de fato, são aquelas que, podemos e devemos fazer.

Isto é, devemos parar de queimar combustíveis fósseis, investindo e trabalhando mais com energias alternativas que não queimam substâncias orgânicas e plantando mais árvores para tentar absorver o excesso de CO2 que já produzimos e distribuímos na atmosfera até aqui. Temos um passivo de contaminação ambiental muito grande e não podemos mais nos darmos ao luxo de continuar criando um presente que trará mais passivo de CO2 para o futuro. Precisamos tirar a quantidade extra de CO2 que já colocamos na atmosfera e parar de aumentá-la progressiva e perigosamente.

Outro ditado diz que: “devagar se vai ao longe”, mas também não é bem assim, pois nesse caso específico, se formos “devagar”, certamente nós não chegaremos a lugar nenhum. Ou melhor, “devagar” nós apenas aceleraremos o nosso processo natural de extinção. Não temos tempo para ir “devagar”, ao contrário, já deveríamos estar desesperados e com muita pressa. Já passou da hora de realizarmos ações verdadeiras e o nosso futuro como espécie viva, já está bastante comprometido.

Por outro lado, também não se trata de “ir ao longe”, pois temos certeza de que isso não acontecerá, haja vista que, além do Aquecimento Global e das suas consequência climáticas, também existe o alto grau de comprometimento que produzimos nos recursos naturais do planeta. Nossa dependência planetária é total, mas nós não queremos enxergar a realidade à nossa volta e seguimos duvidando e “empurrando com a barriga”, como se tudo estivesse normal e esperando para ver no que vai dar.

No momento, nós deveríamos apenas querer sobreviver um pouco mais e garantir que estaríamos prolongando o nossa temporada planetária como espécie viva e assim, estaríamos ajudando as gerações futuras a ter uma chance maior de existir. Além disso, obviamente estaríamos também auxiliando na manutenção da vida das demais espécies planetárias que ainda ficariam na Terra depois de nossa extinção. Sempre é bom lembrar aos incautos, que o planeta certamente sobreviverá sem o homem e que a vida continuará, independente de nossa existência.  

A propósito, para os mais desligados e pouco entendidos na questão, devo dizer que a nossa extinção também é um fato natural que certamente acontecerá com todas as espécies vivas, inclusive a nossa. A única dúvida é quanto tempo ainda nos resta na Terra. Trabalhemos para alongar nossa estadia planetária e não para encurtá-la. Quero acreditar que todos gostariam de que esse tempo ainda fosse longo, muito longo., mas na prática o que se vê não é isso. A espécie humana historicamente tem andado na contramão do planeta e da sua própria sobrevivência e precisa mudar de comportamento para, pelo menos, garantir um final menos infeliz.

Não se assustem, nós não vamos ver esse final, ela não vai ocorrer de hoje para a manhã. Entretanto, temos que entender que isso é um fato natural, que em dado momento irá acontecer. Podem ter certeza de que se continuarmos nessa apatia e nesse comportamento insano, de continuar apenas conversando e não fazendo nada, os próximos anos vão ser cada vez piores e mais tristes. Tenho pena dos que virão, porque eles tendem a sofrer muito mais que nós.

Antes de terminar deixo aqui, mais um ditado que diz: “Deus ajuda a quem cedo madruga”. Meus amigos o dia já está amanhecendo e por mais paciente que Deus seja, creio que Ele não vai querer perder mais tempo conosco, haja vista que não estamos fazendo a nossa parte devidamente. Mesmo aqueles que não acreditam na existência de Deus, devem procurar entender que sem continuidade, seu legado, sua descendência e sua história simplesmente também deixam de existir. Ou seja, sua vida, rica ou pobre, bela ou feia, interessante ou medíocre jamais poderá ser contada e você viveu à toa e para nada. Será que é isso mesmo que nós esperamos de nossa existência na Terra?

Senhores governantes e dirigentes das diferentes nações planetárias terrestres, parem de brincar, pois vocês também vão morrer e muitos de seus descendentes futuros também não nascerão e se nascerem não terão um planeta em condições para que possam viver. A humanidade e o restante da vida no planeta necessitam, urgentemente, que os Senhores trabalhem mais e conversem menos. Assim, esqueçam quaisquer outras questões e atuem ativamente no sentido de garantir a manutenção da vida aqui na Terra, pois essa é a coisa mais importante hoje e sempre. Qualquer outra questão certamente é menos relevante e pode esperar. Parem de se preocupar com as picuinhas e tirem um tempo para pensar na questão da continuidade da vida humana mais seriamente.

Para terminar, devo dizer que se os Senhores plantarem e cuidarem, obviamente a colheita poderá ser benéfica, mas como tudo é naturalmente incerto, ainda assim correremos riscos. Entretanto, como sabemos que contra fatos os argumentos são inúteis e que precisamos continuar seguindo em frente para podermos ir ao longe, com Deus ao nosso lado, sempre nos ajudando e que só existe uma solução. Nós precisamos que os Senhores sejam mais competentes e responsáveis na condição especial que ocupam, como líderes das nações humanas que habitam o nosso “pálido ponto azul” do Universo.

Por fim, é preciso lembrar ainda de mais alguns ditados verdadeiros, que dizem o seguinte: “o primeiro passo é sempre o mais importante” e “hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas”. Deste modo, façamos bom uso desse nosso primeiro dia, dando o nosso primeiro passo e “não deixando para amanhã, o que pode e deve ser feito hoje”. Nós, não podemos voltar ao início e apagar os erros do passado, mas, certamente, nós podemos trabalhar na construção de um novo futuro que permitirá um final diferente daquele que está se apresentando.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

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