Resumo: O Prof. Luiz Eduardo apresenta mais uma Curtinha, dessa vez para discutir um pouco mais a velha questão entre o ser e o ter, apresentando categoricamente o seu pensamento a respeito dessa eterna questão, que tanto preocupa alguns segmentos da humanidade. O texto é curto, conciso e procura deixar claro o porquê da necessidade de priorizar o ser. Tenham uma boa leitura e reflitam comigo.
O “SER” E O “TER”*
Ao longo dos anos, a história humana tem registrado a eterna polêmica do homem entre a relação “Ser” X “Ter”. Quanto mais recente a parte da história considerada, maior é o conflito, porque maiores são os valores atribuídos ao “Ter”. Parece que a humanidade tem vivido exclusivamente preocupada com o “Ter” e se esqueceu, ao longo da história, que para “Ter” alguma coisa é preciso “Ser” alguém. Talvez, este seja o grande problema, a busca da identidade humana ao longo da história e até aqui essa identidade não parece ter sido encontrada.
Enquanto o homem evoluiu, sociologicamente, preocupado com o “Ter”, o “Ser” humano ficou relegado a um segundo plano e a valorização do homem pelo próprio homem tem deixado de existir. A natureza do homem, como entidade biológica viva, perdeu importância para outros valores no decorrer da história.
Partindo da premissa acima é possível questionar: qual a razão desse fato? Por que o homem esqueceu-se do homem? Por que o homem esqueceu-se da vida? Por que o homem valorizou mais o “Ter” do que o “Ser”?
A racionalidade do homem fez com que, historicamente, a necessidade de melhorar a sua condição social crescesse na sua mente e há de se convir, que isso deve ter produzido biológica e evolutivamente algumas vantagens para a espécie. Porém, por outro lado, essa mesma racionalidade não permitiu ao homem, observar o custo natural de suas ações ao planeta. Até porque, ainda que o homem tivesse a “razão”, ele não tinha conhecimento suficiente e não podia saber que estava agindo erradamente.
É bom lembrar que o conceito de razão independe do conceito de conhecimento, porém quanto maior o conhecimento adquirido, maior será a possibilidade de avaliar a razoabilidade de uma determinada questão. A questão ambiental como um problema crucial para a humanidade e para o planeta só começou a preocupar o homem nos últimos 100 anos e só se tornou clara para grande parte da sociedade, há pouco mais de 30 anos. Talvez, isso justifique os erros do passado, mas, certamente, não justifica os erros atuais.
O “Ser” precisa estar no primeiro plano no pensamento humano, enquanto o “Ter” deverá ocorrer como mera contingência da condição do “Ser”. É evidente que a melhora do “Ser” seja também, em parte, condicionada pelo “Ter”, porém esta não pode ser a base do desenvolvimento humano, nem pelo lado social e muito menos pelo lado natural.
Somos “Seres Vivos” e precisamos continuar sendo para podermos “ter” alguma coisa, do contrário não teremos nada, pois não seremos “seres vivos”. Quem “tem” alguma coisa está (“é”) vivo, pois só o que está vivo “é”, e só o que “é” vivo pode continuar “sendo”. O homem precisa se conscientizar que o “Ter” depende do “Ser” e não o contrário.
Luiz Eduardo Corrêa Lima
*Trecho retirado do Livro de minha autoria e modificado para esta publicação: “Trilhando o Futuro: A Biologia e a Sociedade na Civilização Pós-Moderna”, Editado pela Cabral Livros Técnicos Editora, Taubaté, 2002.]]>