formatura damasco 2019

Discurso de Formatura – Damasco 2019

Resumo: Nesse discurso histórico como Paraninfo da última turma de Ensino Médio da Escola Professora Francisca Salles Damasco de Caçapava, faço referência direta aos jovens formandos e suas preocupações com os seus direitos e a pouca ou nenhuma importância com os deveres e chamo a atenção dos mesmos solicitando que fiquem atentos as novas situações que estão por vir e que eles provavelmente nunca imaginaram que viriam, porque a tutela e a proteção paterna escondia a realidade.


Senhoras e Senhores.

Primeiramente quero agradecer aos alunos por escolherem este “velho mestre” ou “mestre velho”, pois no meu caso, o sujeito e o predicado se confundem, como Padrinho desta bela turma de Ensino Médio que tivemos a felicidade de acompanhar por três longos anos. Aliás, é bom que seja dito, que essa é efetivamente uma das turmas que está entre as melhores que já passaram pela nossa Escola Damasco, pelo menos, nesses 31 anos que estou por aqui, tentando ensinar um pouco de Biologia e demonstrar que essa é uma ciência importante na vida de qualquer ser humano, até porque nós e as demais espécies do planeta nada mais somos do que Biologia.

É óbvio que nem tudo que aconteceu nesses três anos foi maravilhoso, porque em todas as coisas, sempre existem aspectos positivos e negativos. Entretanto, tenho certeza que o saldo foi bastante positivo no caso específico dessa turma e eu estou realmente muito envaidecido pela homenagem, pois me mostra que, apesar de todos os problemas, meu trabalho ainda está bom, a ponto de agradar jovens como vocês. Muito obrigado, esse incentivo me dá mais forças para seguir na minha lida de Professor de Biologia, mesmo depois de 43 anos de pleno exercício profissional.

Por outro lado, quero dizer para vocês que “a sopa acabou” e que agora está na hora de vocês terem que se virar sozinhos. Isto é, a responsabilidade de cada um de vocês acaba de aumentar tremendamente. Não, seus pais não vão manda-los embora de casa. Não o mundo também vai acabar agora. Não, não se preocupem porque não é nada disso. O que estou querendo dizer é que a vida de cada um de vocês, a partir desse momento, em que concluem o Ensino Médio, certamente tomará um “novo rumo”. E vejam bem, quando eu digo “novo rumo”, quero dizer exatamente isso, no sentido mais amplo que a expressão possa ter.

A partir de agora vocês terão que dar as respostas que vida lhes propuserem por si sós. Repito, mais uma vez, obviamente seus pais não lhes abandonarão, mas eles não poderão mais estar sempre presentes e mesmo que eles estejam sempre presentes, depois que todos vocês completarem a tão sonhada “maior idade”, os 18 anos, as respostas serão exclusivamente de vocês. Alguns de vocês, já completaram a “maior idade” e falta muito pouco para os outros.

A partir dessa fatídica data, os 18 anos, todos vocês serão legalmente considerados cidadãos responsáveis por seus atos e seus pais ou responsáveis não terão mais os encargos e nem a obrigação individual de responder pelas ações de vocês. Isto é, finalmente vocês terão atingido, além do Ensino Médio, o tão sonhado nível de “donos dos seus narizes”, o que, para a maioria de vocês, parece ser a solução de todos os problemas existentes. Mas, eu quero aqui, assumir a condição de “advogado do diabo” e afirmar taxativamente que essa forma de pensar é um grande engano, porque agora é que seus problemas irão aumentar e se complicar bastante. Talvez, vocês nunca tivessem parado para pensar nesse detalhe e nesse momento, mas eu vou tentar clarear e refrescar um pouco mais as suas mentes.

Não se esqueçam, que a sociedade funciona e tramita entre os direitos e os deveres e que esses direitos e deveres que vocês têm e que, até aqui, eram responsabilidade de seus tutores (pais ou responsáveis), depois dos 18 anos, passarão a ser, apenas e tão somente seus. Quer dizer, agora os seus problemas realmente aumentarão e isso pode ser bom ou ruim, em função, única e exclusivamente, de que problemas serão esses. As respostas também não dependem mais de seus pais ou responsáveis, os quais obviamente poderão e certamente deverão opinar nas suas respectivas ações, mas, eles não serão mais seus tutores, porque a partir de agora, como eu já disse: “a sopa acabou” e vocês serão “os donos dos seus narizes”.

Só para dar alguns exemplos, olhem só algumas perguntas e reflexões que alguns de vocês certamente nunca fizeram, mas que agora irão necessariamente ter que começar a fazer: vou continuar estudando ou vou trabalhar para ganhar meu próprio dinheiro e comprar as coisas que preciso? E se eu resolver estudar, o que vou estudar? Se eu resolver trabalhar, como arrumar emprego?  Se eu não trabalhar, vou continuar na dependência financeira de meus país e talvez eles não possam me dar o que eu acho que preciso. Será que meus pais vão concordar com isso? Vou continuar morando na casa dos meus pais ou vou morar em outro lugar? Mas, se eu for morar em outro lugar, obviamente terei que estar trabalhando para poder me manter. Então, talvez seja melhor eu continuar estudando e trabalhar ao mesmo tempo. Mas, será que eu aguento essa dureza de vida?

Mas, não para por aí, porque existem outros aspectos e outras perguntas. Por exemplo: bem agora que eu já sou “o dono do meu nariz”, o que acontecerá se eu me meter numa situação ruim? É bom lembrar que, depois dos 18 anos, qualquer um pode ser efetivamente preso e dependendo do tipo de situação, ninguém (nem os tutores) poderá fazer nada. E a minha namorada ou o meu namorado, vem comigo, na minha nova empreitada, ou eu vou deixar ela ou ele sozinha? E a minha família o que pensa disso? Eles não são mais meus tutores, mas continuam sendo minha família e a opinião deles deve importar ou não? E ela ou ele e as suas respectivas famílias o que pensam disso? Se eles não concordarem, nós iremos fugir? Mas, e aí, como iremos sobreviver?

Enfim, não estou querendo assustá-los, mas é bastante complicado e o que estou tentando dizer é que a vida é exatamente isso, ou seja, perguntas e respostas que se transformam em ações, que se enquadram em direitos e deveres individuais. Alguém já disse que: “a vida é feita de escolhas”. Pois então, eu só estou querendo que atentem para que essas ações sejam efetivamente bem escolhidas, pensadas e realizadas dentro da sobriedade devida, porque eu sei que a maioria dessas perguntas nem existiam quando vocês ainda estavam cursando o Ensino Médio, mas as respostas, cada uma a seu modo, precisarão ser dadas coincidentemente logo depois que vocês concluem essa etapa de formação.

Meus queridos, a verdade é que agora vocês estão natural e socialmente deixando de ser crianças, concluindo o Ensino Médio e estão atingindo a “maior idade”, sendo cidadãos, homens e mulheres de fato e de direito. A vida é assim mesmo e tudo é muito rápido, nem dá tempo para refletir e certamente vocês ainda não tiveram tempo de reparar nesse fato. Aí, eu pergunto: será que vocês estão devidamente preparados para esse salto de seriedade, de compromisso e de responsabilidade?              

Embora vocês talvez não tenham percebido, a Escola Damasco, com certeza, fez o que pode e trabalhou sério para preparar vocês, do ponto de vista educacional, intelectual e até moralmente, para esse momento crucial. Mas, a Escola Damasco também era um tipo de tutor e desta maneira, também tem seus limites estabelecidos por direitos e deveres e não podia ir além de certo nível. Não temos dúvida de que formamos bem, porque trabalhamos direito e fizemos o melhor possível, mas temos dúvidas, se o que fizemos está efetivamente dentro daquilo que é esperado por cada um dos senhores e suas famílias.

Nós procuramos dar os exemplos certos, mas não existe uma obrigatoriedade da concordância total com esses exemplos ao longo da vida de vocês. Certo ou errado é uma questão de maneira de pensar, de agir, de tratar culturalmente e algumas vezes é até uma questão biológica dos diferentes grupos sociais. Bem, mas, eu vou parando por aqui e não vou mais “colocar minhocas na cabeça” de vocês, porque tenho certeza que, para muitos, o meu discurso já está chato demais e eu já disse o que pretendia.

Assim, para terminar, eu quero apenas esclarecer que só estive aqui fazendo a minha parte, dando o meu recado, na condição de Paraninfo, escolhido por vocês, porque desejo realmente que vocês sejam homens e mulheres felizes. Por favor, pensem e reflitam bastante nas decisões que vocês tomarão daqui para frente e, se porventura, tiverem qualquer dúvida na hora de tomar uma decisão, contem sempre com o apoio dos seus tutores (pais e responsáveis), inclusive com a Escola Damasco e com esse “velho mestre”. Porém, lembrem-se que a responsabilidade, doravante, será sempre e tão somente de cada um de vocês.

Bem-vindos à vida adulta. Um forte abraço em cada um, sucesso e felicidade.

Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima

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