Tag: ensino

26 abr 2021

Desabafo de um “Velho Mestre”

Resumo: O artigo chama a atenção para o fato de que muitas das pretensas “modernidades educacionais” que estão sendo apresentadas para melhorar a Educação, não passam de mera enganação e de maquiagem que servem apenas para esconder a péssima qualidade da Educação no país, além de  desprestigiar os professores e de favorecer a outros interesses não ligados à Educação. 


Ultimamente tenho pensado bastante a respeito do que estão atualmente chamando de “Metodologias Ativas” para a Educação e sinceramente não estou vendo nada que eu, com todo meu conservadorismo, já não tenha feito há, pelo menos, 50 anos atrás.  Na verdade, o que mudou foram os alunos e a escola que, querendo, não sei o porquê, evoluir, acaba ficando cada vez mais retrógrada, quando precisa se modernizar. A propósito modernizar a escola não é fazer modismos na escola ou na sala de aula. Mudar a escola é tentar trazê-la para a realidade do seu tempo, sem comprometer seus interesses primários, isto é, o processo ensino-aprendizagem e a educação como um todo. 

Pelo que tenho observado, em muitos casos, a escola está querendo deixar de ser escola para virar espetáculo artístico e muitas vezes circense, mas não vamos discutir sobre esse aspecto nesse momento. Cabe apenas lembrar que, o professor e a sala de aula, dentro ou fora da escola, são os mesmos e as metodologias, os artifícios e mecanismos para ensinar, também são os mesmos que sempre existiram, pois ensinar continua sendo, apenas e tão somente ensinar. Quer dizer, a escola em essência não mudou e nem pode mudar, porque se isso acontecer ela em entrará em contraste com seus preceitos básicos.

O que tem mudado bastante são as tecnologias aplicáveis ao ensino e algumas destas realmente são muito boas, para quem sabe fazer uso delas. Eu confesso que tenho imensa dificuldade com certos materiais, mas não me sinto inferior por causa disso, até porque costumo saber do que estou falando, quando ministro minhas aulas, o que, infelizmente, não costuma ser verdade para grande parte dos professores que andam por aí. Assim, a ferramenta, o acessório e toda parafernália instrumental que deveria favorecer ao processo ensino-aprendizagem, acaba não funcionando da maneira como seria esperado e consequentemente atrapalhando, porque não existe mágica. 

A verdade é uma só, ninguém é capaz de ensinar aquilo que não sabe, com ou sem parafernália tecnológica e o que temos visto por aí é um festival de absurdos, onde os materiais acessórios atrapalham mais que ajudam, por conta da incapacidade profissional de muitos “professores”, além da passividade e do desinteresse da maioria dos alunos. O que está faltando, de fato, é conhecimento por parte de quem deveria ensinar e vontade de adquirir conhecimento por parte de quem deveria aprender.

É claro que eu sei e todo mundo sabe, que os tempos são outros, que os jovens de hoje têm pensamentos e anseios diferentes e que existe muita dificuldade de atraí-los para as aulas, até porque, para muitos, “aula é uma coisa chata”, “estudar toma tempo e é bastante complicado” e várias outras coisas poderiam ser ditas para confirmar que, lamentavelmente, hoje existem inúmeras opções mais atraentes para os alunos do que a escola e as aulas. O problema está exatamente aí: como fazer para tornar as aulas e as escolas mais interessante aos alunos, sem ridicularizar a escola como entidade formadora de indivíduos melhores moral, social e culturalmente?

Certamente o aluno é o sujeito mais importante da escola e isso não é moderno, pois só existe escola porque existem alunos. Ao aluno se deve todo o processo educacional, então esse sujeito foi, continua sendo e sempre será a parte mais fundamental no processo. Entretanto, o aluno atual tem visado outros interesses, deixando a escola para planos inferiores na sua escala de prioridades. Cabe ao professor a missão de redirecionar o aluno aos interesses primários da escola e obviamente a parafernália instrumental pode e deve ajudar nessa missão. Mas, a figura do professor deve dirigir os instrumentos de acordo com os objetivos do ensino e não fazer espetáculos tecnológicos infundados.

Não existe essa história de que a escola hoje é centrada no aluno e a escola de ontem era centrada no professor, pois escola nenhuma nunca foi centrada no professor. Se existiu escola assim, em algum momento, ela estava muito errada e desconexa de seu interesse primário. O que talvez existisse, no passado, era uma pretensa “superioridade” do professor como indivíduo, sobre o aluno, o que também, na minha maneira de entender, sempre foi uma falácia desagradável, perigosa e que contraria a própria noção de educação.

Outra coisa que também poderia ser considerada, é que antes o respeito à pessoa do professor era muito maior e hoje, em muitos casos, simplesmente esse respeito deixou de existir. Mas, eu quero crer que isso também tenha a ver, lamentavelmente com a falta de competência do próprio professor. Entretanto, não vou me ater a essas discussões no momento e vou deixá-las para outra oportunidade. Vamos em frente.

Ainda que o aluno seja o sujeito mais importante em qualquer escola, o agente principal da sala de aula sempre foi e continuará sendo é o professor. As técnicas didático-pedagógicas podem e devem mudar e evoluir sempre, mas o professor continuará sendo imprescindível. Pois então, o que está faltando nas escolas é mais trabalho profissional efetivo dos professores, que hoje, na maioria das vezes, são pessoas totalmente despreparadas e, o que é pior, sem conhecimento efetivo de sua matéria e sem cultura geral. 

Lamentavelmente, a própria profissão de professor está bastante desgastada pela sociedade, pois atualmente, para a maioria das pessoas, o professor é tido como alguém que não conseguiu fazer outra coisa mais importante e assim foi “ministrar” aulas. Infelizmente a má qualidade do professor é que acaba sendo realmente o grande problema, porque quando o professor tem interesse real e prazer em ensinar, ele procura efetivamente saber o que tem que saber e aí, com ou sem ferramentas de última geração, ele consegue ensinar. Com seriedade profissional, algumas vezes, ele consegue ensinar até mesmo aquele aluno que não quer aprender.

Cabe lembrar que esse tipo de aluno que, não quer aprender, sempre existiu. O que acontece é que hoje o contingente é aparentemente maior, porque a escola concorre e obviamente acaba perdendo de longe para outras coisas mais interessantes no pensamento do aluno. Coisas, que lamentavelmente são reforçadas pela sociedade atual, principalmente através da mídia e que acabam tomando grande parte do lugar que deveria ser ocupado pela escola, como já foi dito. 

Por outro lado, não adianta toda a parafernália instrumental se o professor não conhece do assunto que deveria ensinar. É triste o quadro, mas hoje, infelizmente, qualquer um está ministrando aula de qualquer coisa, em qualquer lugar e, dessa maneira, realmente não é possível continuar, principalmente no terceiro grau, onde é relativamente comum encontrarmos professores lendo “slides” para os alunos e coisas parecidas. Tudo bem; quer dizer, na verdade, tudo mal; porque existem muitos alunos que são analfabetos funcionais no Ensino Superior e assim, não sabem ler, mas isso, além de ser uma incongruência, também é uma enorme indecência que a escola e o sistema educacional permitem. Mas, essa também é outra história que fica para depois.

Uma aula tradicional, sem enganação, ainda é capaz de atrair muitos alunos, mas uma aula tecnológica sem coerência, sem lógica e sem relacionamento, certamente não atrai ninguém. Ou melhor, talvez atraia apenas aos “festeiros de plantão”. Qualquer aula necessita ser estimulante para vencer a concorrência, mas o estímulo tem que ser dado pelo professor e não pela parafernália instrumental. O professor como principal agente do processo educacional tem a obrigação de criar os mecanismos para atrair o público da escola presente na sua aula, mas obviamente sem exageros.

Cabe lembrar que não é qualquer um que pode ser professor. Em toda área profissional existem exigências mínimas para o exercício profissional, porque com a função de professor essa questão é diferente. O verdadeiro professor tem que ser um sujeito devidamente preocupado com a educação e preparado para ensinar, possuindo conhecimento efetivo de sua disciplina e visão genérica do processo educacional. Ser professor vai muito além de estar à frente de uma turma e tentar ministrar aulas.

Então, me desculpem, mas essas “Metodologias Ativas” não existem, o que existe é incompetência generalizada e por isso se criou um subterfúgio para mascarar as deficiências do ensino. É claro que muitas vezes funciona, se quem aplica é sério, tem conhecimento de sua área, sabe o que faz na aplicação do recurso e está mesmo a fim de ensinar. Entretanto, na maioria das vezes é só mais uma enrolação moderna sem tamanho, acerca de coisa nenhuma, como sempre existiu, mas agora com muito atrativo, que acaba sendo uma cilada da alta tecnologia moderna. 

Na verdade, muitas vezes o professor acaba esquecendo que está numa escola e procura chamar a atenção dos alunos, apenas para os modismos tecnológicos, que são interessantes e algumas vezes até fantásticos, mas que, sozinhos, não têm capacidade de levar ninguém a aprender alguma coisa se esse alguém não quiser. Aliás, pelo que tenho visto, para enganar, de ambos os lados fundamentais da escola, o aluno ou o professor, com tecnologias brilhantes é mais fácil e mais interessante do que parece. 

Talvez, por isso o mundo esteja cheio de mascates, mercadores, marreteiros, embusteiros, “hackers” e outros picaretas tecnológicos, vendendo bugigangas para as escolas. Além disso, sempre é bom lembrar que, para muitas escolas, isso acaba sendo bastante interessante, haja vista que investir na aquisição dessas bugigangas costuma ser mais barato, a longo prazo, do que pagar melhor os professores e possuir em seu quadro profissionais mais competentes. Mas, essa também é outra história. 

A tecnologia compõe-se de algumas ferramentas muito boas, mas elas devem ser usadas e tratadas apenas como ferramentas para auxiliar ao processo de ensino-aprendizagem e não como truque fantástico de ilusionismo. Essas ferramentas devem ser usadas por quem sabe, para servir ao interesse a que se propõem, no caso os interesses da Educação, mas infelizmente não é isso que se tem observado, em grande parte das “escolas modernas”. 

Em alguns casos e momentos o “professor” fica totalmente dependente da ferramenta e passa, desgraçadamente, a ser ele a ferramenta. Isto é, o sujeito vira objeto e assim, a ferramenta passa a ser o ator mais importante da escola. O pior é que no meio do caminho tem o aluno e entre esses alunos, existem alguns que realmente querem aprender, mas não encontram base e nem respaldo na figura do professor, que está ali apenas para “quebrar um galho” ou para “ganhar um dinheirinho” que lhe permita sobreviver.

Ensinar é uma tarefa nobre e algo realmente prazeroso e sensacional, mas precisa de gente séria, bem-intencionada, bem-preparada, com capacidade e sobretudo com conhecimento de causa, o resto se consegue na conversa, na troca de informação, com os alunos. Obviamente que: uns vão aproveitar e outros não vão. Sempre foi assim e continuará sendo, mas a escola tem que parar de querer justificar o injustificável e transferir problemas inventando novos nomes para coisas velhas que e sempre existiram. 

O uso do computador, do celular, da INTERNET e dos mais diversos recursos audiovisuais são excelentes para auxiliar as aulas e facilitar o processo de ensino-aprendizagem. Particularmente nesse momento, em que temos que trabalhar com aulas remotas, por conta a da quarentena condicionada pelo Pandemia de Corona Vírus (COVID-19), toda parafernália de material tecnológico tem sido grande aliada e tem demonstrado sua importância à educação. Porém, é preciso que fique claro, que todas essas coisas são ferramentas e como tal, devem ser usadas com parcimônia e coerência. 

Por outro lado, é fundamental que se entenda e que não se deixe de dar a devida importância a principal ferramenta para o ensino e que por isso mesmo, é a mais importante ferramenta para que a escola possa cumprir bem a sua missão de ensinar, que é o professor. O professor sempre foi e certamente continuará sendo, a única ferramenta efetivamente capaz de cumprir a missão de ensinar a alguém.

Então, ao invés de ficar dando nomes novos a coisas velhas e de ficar desenvolvendo novos programas de informática e novas técnicas eletrônicas, talvez fosse muito melhor investir mais na formação de professores de qualidade e respeitar um pouco mais aos “velhos” professores. Isto é, se preocupar em adquirir e manter professores que tenham conhecimento e que sejam capazes de ensinar sem a mágica da tecnologia. Cabe lembrar que, o professor, independente da sua área específica de conhecimento, tem que ter conhecimento geral, tem que ter cultura, pois só quem tem cultura pode realmente ensinar. 

Temos que parar com esse negócio de achar que qualquer um pode ensinar, porque na verdade, ninguém ensina aquilo que não sabe. Muitas vezes o espetáculo (“show”” teatral) da aula é muito bom, mas não há aprendizado absolutamente nenhum, porque a aula (qualquer aula em qualquer nível) não é e não pode ser apenas um “show” teatral, principalmente quando está se falando em formação de novos professores. Aula tem que ser coisa séria, que pode e deve até ser alegre e divertida, mas não pode fugir ao seu propósito fundamental de ensinar e formar o aluno. 

As técnicas obviamente são importantes, mas elas não são preponderantes, pois a importância maior, salvo melhor juízo, tem que estar a cargo do professor, seu conhecimento e toda sua bagagem cognitiva. O exercício da atividade profissional de professor exige profissionais competentes e cônscios da importantíssima função social que é atribuída ao magistério. Assim, a prática efetiva do magistério não pode ficar à mercê de qualquer curioso ou picareta ornamentado de parafernálias eletrônicas.

O dia que todos os envolvidos na escola, inclusive os alunos em todos os níveis de ensino e formação, estiverem realmente preocupados com a escola e com suas respectivas formações, certamente as coisas começarão a acontecer de maneira correta e obviamente os resultados do processo ensino-aprendizagem serão melhores. Entretanto, eu penso que isso ainda seja uma utopia, porque estamos falando de seres humanos e nada é mais complexo do que o ser humano, particularmente o ser humano brasileiro. 

O ser humano é dotado de vontade e deve ser sempre respeitado nesse direito. Mas, por outro lado, é preciso ficar evidente à toda sociedade que o direito de um termina quando começa o do outro. Na escola o direito é estudar e o aluno que não quer estudar, não deve, a priori, fazer parte da escola. Da mesma forma, o professor que não quer ou que não pode ensinar, também não pode estar na escola e a escola que não quer formar bem seus alunos não deve existir. O resto é balela. As coisas só funcionarão bem quando a principal preocupação de todos na escola for, apenas e tão somente, a educação para fazer o aluno estudar e aprender. 

Deste modo, peço vênia pelo meu radicalismo, pela minha impetuosidade e pela minha veemência nessas afirmativas, mas acredito que as mudanças necessárias efetivas não são de “Metodologias Ativas” ou de “Técnicas Modernas de Ensino”, mas sim de comportamento, de interesse real, de comprometimento, de seriedade e de competência de todos envolvidos no processo educacional. Ou seja, eu acredito que se existirem governantes sérios, dirigentes comprometidos, professores capacitados e alunos ávidos por saber, com ou sem parafernália tecnológica, conseguiremos fazer uma escola de qualidade. 

Mas, a pergunta que fica é seguinte: será que existe interesse verdadeiro e efetivo de que essa escola de qualidade realmente exista no Brasil? Ou será que, como disse o saudoso e eterno Darcy Ribeiro: “a crise da educação no Brasil, não é uma crise, é um projeto”?

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65)

17 set 2016

APRENDER FAZENDO: UMA PREMISSA PERIGOSA

Resumo: Este artigo diz respeito ao risco que se anda correndo com a aplicação da metodologia intitulada “aprender fazendo”, que, para muitos, desobrigou o professor da condição de ter que ensinar e o aluno de ter aprender, bastando apenas repetir determinada ação. Entendo que essa metodologia, da forma como está sendo conduzida em muitos casos, seja muito perigosa, porque traz um retrocesso no processo de ensino-aprendizagem e na formação intelectual do aluno e assim, esse mecanismo precisa ser melhor trabalhado para que seja evitada a tendência que se observa de “coisificação do ensino” e a “robotização do aluno”.


APRENDER FAZENDO: UMA PREMISSA PERIGOSA

Nos últimos tempos, não sei bem o porquê, mas a maioria dos professores, educadores e outros profissionais ligados direta ou indiretamente à Educação têm reforçado a ideia de que “aprender fazendo” é a melhor maneira de aprender. Eu confesso que tenho minhas dúvidas sobre isso e, por isso mesmo, estou aqui para dar minha modesta opinião sobre a questão e colocar minha cara exposta aos tapas, embora saiba que as críticas muito provavelmente virão.

Para começar, eu quero dizer que o ser humano é uma entidade biológica dotada de uma grande massa cefálica, a qual, dentre outras coisas, lhe permite a capacidade de pensar e que essa capacidade deve ser incentivada, pois o ser humano precisa utilizar bastante essa massa cefálica, até mesmo para se completar como humano. Por outro lado, embora seja inquestionável a nossa condição animal, não devemos ser tratados como animais de circo ou coisas semelhantes, cujo treinamento e a repetição leva ao “aprendizado”, sem o uso da massa cefálica, ou seja, que permite a realização das coisas, porém sem quase nenhuma atividade neurossensorial que justifique o entendimento dessas coisas.

Nós humanos não nascemos para ser apenas adestrados a fazer coisas. Penso que nascemos principalmente para pensar, criar e aplicar ações sobre as diversas coisas e questões, exatamente nessa ordem. Isto é, primeiro pensamos e entendemos, depois criamos e por fim aplicamos o conhecimento pensado. Aliás, me parece que é exatamente isso mesmo que nos difere dos demais animais, ou seja, a nossa capacidade efetiva de aprender e ter a consciência real (conhecimento) daquilo que verdadeiramente aprendemos. Adestramento não é algo bom para os seres humanos, ou, pelo menos, não deveria ser, porque certamente não é bom para humanidade, haja vista que não agrega nenhum valor a nossa verdadeira condição de seres humanos.

Cada um de nós tem, ao seu modo, necessidade de aprender e de entender as coisas e os seus respectivos porquês. Isso é intrínseco de nossa espécie, pois somos curiosos e criativos por natureza. Temos necessidade de compreender para que serve? Onde se aplica? Como se aplica? E qual o resultado efetivo daquilo que estamos aprendendo e de sua aplicação? Precisamos saber se o desenvolvimento dessa prática terá um resultado positivo ou negativo para os demais humanos. A teoria aliada à prática é fundamental para que seja possível completar o aprendizado.

Infelizmente, acho que as pessoas estão confundindo o objetivo verdadeiro das ideias John Dewey* de ensinar através de projetos com esse tipo de “aprender fazendo”, pois eu tenho observado muitas situações em que o aprendiz tem sido levado a resolver problemas (fazer coisas) sem nenhuma preocupação com as causas e nem com as consequências desses problemas, pois as atividades são meras formalidades impostas para serem resolvidas, apenas se faz e não se discute e obviamente assim não se entende, de fato, aquilo que se faz. Essa é uma prática viciante e infundada, que, embora possa produzir um resultado efetivo, no que se refere ao trabalho, não gera praticamente nenhuma cognitividade. Ora, me desculpem os leitores, mas efetivamente esse procedimento não implica em aprender e assim também não pode descrito como “aprender fazendo”. Isso é apenas e tão somente repetição sem discussão e essa repetição não agrega conhecimento nenhum, apenas “macaqueia” algo que já existe.

Assim, a meu ver, esse “aprender fazendo” é muito pouco, porque muitas vezes não permite ao aprendiz, a possibilidade de responder nenhum dos questionamentos citados acima. “Aprender fazendo”, muitas vezes, apenas coloca o aprendiz na condição de resolver (geralmente sem entender) uma determinada situação, sem qualquer consideração ulterior. Assim, penso que essa situação de “aprender fazendo” é uma possibilidade real de “fazejamento” (desculpem o termo) sem planejamento, o que acaba levando a acabamento sem envolvimento e o que é pior, sem nenhum entendimento, o que me parece ser indesejável e extremamente perigoso à mente humana, principalmente as mentes dos mais jovens, que tendem a ficar viciadas ao repetir ações inconsequentemente.

Desta maneira, embora eu seja ciente de que é fundamental fazer, pois, como disse Aristóteles: “é fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer”.  Entretanto, por outro lado, sempre será necessário um mínimo de informação sobre aquilo que se faz, pois do contrário, a emenda pode sair pior que o soneto e ao invés de levar o indivíduo a aprender, se desperdiça a capacidade de aprendizado, pois se acostuma com a realização da ação e se pensa que sabe, quando na verdade, se desaprende, porque apenas se repete algo que não se é capaz de explicar. Não há conhecimento nesse tipo de situação, ocorre apenas um praticismo. O que é mais significativo desse fato é que, na verdade, se desaprende cada vez mais, exatamente aquilo que nem se quer se foi capaz de tentar aprender, porque apenas se repetiu.

Vou esclarecer melhor, porque está parecendo muito confuso, mas essa questão é confusa mesmo. O que eu quero dizer é o seguinte: “pior do que não saber e achar que se sabe alguma coisa, quando se é capaz de resolver algumas questões puramente operacionais sobre essa coisa”. Esse conhecimento puramente empírico nos permite “alguns direitos”, nos evidencia “alguns poderes” e, por conta disso mesmo, infelizmente também nos leva a cometer inúmeros erros, muitos dos quais, talvez, por força do hábito, ocasionalmente condicionem à compreensão e entendimentos errados, a partir de procedimentos corretos.

Em suma, entendo que a ideia de “aprender fazendo”, em certo sentido e em muitos casos, acaba sendo uma falácia do aprendizado que não condiz com a realidade necessária ao indivíduo humano e nem mesmo justifica, muitas vezes, à realidade que se objetiva alcançar. “Aprender fazendo” pode ser e lamentavelmente muitas vezes é, apenas um mero adestramento do ser humano para uma determinada função que ele passa a exercer como um autômato qualquer.

Baseado nos argumentos apresentados e como já foi dito, ciente de que sofrerei muitas críticas, eu quero chamar a atenção para algumas situações reais que têm decorrido dessa pretensa condição de “aprender fazendo”, que tem sido estabelecida por muitos profissionais da educação, sem a devida preocupação do aprendizado em si.

Os Padrões Curriculares Nacionais (PCNs) em todos os seus diferentes textos disciplinares falam constante e repetidamente em contextualizar o conteúdo, o que obviamente é muito importante e necessário na formação do aprendiz, além de condizer com a realidade cotidiana necessária. Entretanto também é necessário se mentalizar o conceito que se quer manifestar por trás do contexto, pois é isso que na verdade justifica a necessidade, além de implicar e induzir à sua aplicabilidade, além de apresentar e demonstrar os efeitos costumeiros das atividades. Contextualizar não é apenas praticar, mas é traduzir uma ação real e próxima do cotidiano do indivíduo. Para que essa tradução se dê a contento é preciso conhecimento e discussão do ambiente, da parafernália instrumental e de todas as questões envolvidas.

Quando o aluno apenas repete e não faz nenhuma reflexão devida sobre aquela aplicação da realidade à sua volta, não está havendo contextualização efetiva, está acontecendo apenas e tão somente uma atividade prática, muitas vezes viciada que, além de não determinar nenhum tipo de aprendizado real, “coisifica” a pessoa que a pratica e não condiz com a necessidade efetiva do entorno. Aquela ação se repete sem controle e o que é pior, sem causa e nem consequência aparente. Não existe nenhuma aquisição de conhecimento na repetição de uma prática efetuada, apenas e tão somente, pela simples repetição. Essa ação é, quando muito, mais um treinamento, um adestramento de uma técnica que não agrega valor intelectual a quem pratica e principalmente não fornece nenhuma vantagem perceptiva aos demais seres humanos envolvidos direta ou indiretamente.

Vou dar um exemplo bem brasileiro, para tentar esclarecer melhor o que estou tentando dizer.

Jogar futebol é uma prática interessante e existem alguns indivíduos que são efetivamente fantásticos e geniais com essa prática, mas muitos desses indivíduos, a despeito de toda as qualidades técnicas que possuem, não conseguem, se quer, entender dos seus instrumentos de trabalho, ou seja, do campo, da tática, da bola, do juiz etc…. O jogador precisa saber que todas essas coisas, além do fato dele ser um excelente prático (habilidoso jogador de futebol), atuam no intuito de transformar a habilidade prática que ele possui a seu favor, ou melhor, a favor de seu time, já que futebol é um esporte coletivo, ou mesmo a favor da sua torcida ou de toda a comunidade envolvida.

Entender que o futebol é um esporte coletivo e que não dá para ganhar qualquer partida sozinho por mais qualidade técnica que qualquer jogador tenha, é uma condição fundamental para quem joga futebol, independentemente da capacidade prática que qualquer jogador possa ter. Entender também que o futebol é uma atividade que envolve milhões de pessoas e uma infinidade de recursos, além daquelas que estão em campo é fundamental para que o jogador possa ter sucesso pessoal e profissional.

Em suma, o melhor jogador do mundo, não venceria no pior time, nem num país pobre de futebol e sem nenhuma torcida. Posso até estar errado, mas contextualizar para mim é isso, ou seja, é trazer a maior abrangência possível daquilo que faz, para que haja compreensão exata da importância da ação que se desenvolve e isso só pode ser possível com algum entendimento da ação. Um grande jogador, além de técnica apurada, tem que conhecer um mínimo sobre o futebol, tem que se enquadrar em algumas normas regimentais do futebol e também tem que ser capaz de opinar e discutir sobre sua função como jogador de futebol na sociedade. Não basta apenas, correr atrás da bola, dar belos dribles e fazer gols.

O comprometimento, o profissionalismo, a ética, a intelectualidade são valores pertinentes ao humano, que precisam estar envolvidos em qualquer ação antrópica. Nenhum jogador de futebol e nenhum outro profissional de qualquer área pode ser um idiota, que faz, mas não sabe explicar o que faz. Nenhum ser humano se basta por si só, apenas fazendo algo. Com certeza, qualquer questão relacionada com a aprendizagem, que é uma atividade humana fundamental e característica de nossa espécie, pois nos difere dos demais animais, obviamente acontece a mesma coisa, inclusive com o agravo de que o aprendiz, como o próprio nome diz, ainda está efetivamente aprendendo a fazer algo.

Um aluno (aprendiz), a priori, não pode apenas responder questões corretas ou realizar tarefas, pois é fundamental que ele seja capaz de saber porque está respondendo as questões e realizando as tarefas e ainda, quais são as aplicabilidades atuais e futuras que elas atividades podem ter. Ou seja, onde essas respostas e tarefas se inserem dentro dos interesses humanitários e sociais. Alguém já disse que: “mais difícil do que dar respostas é fazer perguntas” e eu quero aqui também afirmar que “mais difícil do que fazer tarefas e saber porque elas são feitas”. Certamente, apenas o conhecimento permite a elaboração de perguntas diversas e esclarecedoras sobre os determinados assuntos e também a elaboração de tarefas convenientes à sociedade. O ser humano só começa a entender, quando é capaz de questionar (fazer perguntas) e saber por que, para que e para quem servem as questões e tarefas desenvolvidas

Respostas corretas e ações óbvias nem sempre são mecanismos oriundos de atividades compreendidas mentalmente, porque muitas vezes são ações mecânicas e automatizadas que não garantem a existência de nenhum incremento intelectual no âmago do aluno (aprendiz). Desta maneira, como já foi dito, a ideia pura de “aprender fazendo”, pode ser apenas um vício que se tem, que se repete e que até se pode melhorar progressivamente, mas que na verdade não se conhece e consequentemente não se é capaz de entender e muito menos de explicar.

Resumindo, eu quero dizer que a ideia de “aprender fazendo”, embora possa ser boa por um lado, é sim, por outro lado, uma ideia perigosa, que embora possa produzir excelentes práticos, tende a produzir também muitos profissionais intelectualmente inferiores e creio que a humanidade não precisa trabalhar para produzir seres humanos desse naipe. Isto é, “gente que sabe fazer, mas não sabe explicar conceitualmente aquilo que faz”. Ao contrário, a humanidade deve procurar produzir seres humanos progressivamente mais capazes. Por conta disso, certamente existe necessidade de se avaliar e se adequar melhor um verdadeiro mecanismo de “aprender fazendo”, para evitar a má formação e mesmo a “coisificação” da pessoa por trás do estudante (aprendiz), do técnico ou do profissional, seja ele qual for.

Humanos não podem e nem devem ser adestrados, entretanto no mecanismo proposto de simplesmente “aprender fazendo”, pelo que pude observar em várias situações reais, na vida escolar cotidiana, pelo menos, em tese, existe grande possibilidade de que isso ocorra. Não somos autômatos, nem animais de circo, ao contrário, somos seres pensantes e capazes de criar novos mecanismos a partir do conhecimento que temos e precisamos trabalhar isso cada vez mais e não nos limitarmos a somente repetir coisas.

As escolas, os educadores e os professores sejam eles quais forem, têm um compromisso com a humanidade de trabalhar para criar homens cada vez melhores e mais capazes e não apenas de tentar favorecer condições para manter os homens sempre iguais. O desenvolvimento do conhecimento humano é o que permite o verdadeiro crescimento da humanidade e precisamos investir todos esforços possíveis nessa realidade. Temos que buscar sempre o aprimoramento e a melhora do conhecimento humano e nada que seja diferente disso pode prosperar no que se refere ao aprendizado.

 

*Leitura Recomendada
DEWEY, John. Experiência y Educación, Buenos Aires: Editorial Losada, 1958, 125p.
DEWEY, John. Democracia e Educação, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959, 3a. edição. 416p.
DEWEY, John. Vida e Educação, São Paulo: Melhoramentos; Rio de Janeiro: Fundação Nacional de Material Escolar, 1978, 113p.
 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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30 nov 2014

Particularidades sobre o Ensino de Ciências

Resumo: Dessa vez o Professor Luiz Eduardo traz sua opinião, acumulada ao longo dos mais de 38 anos de experiência no Ensino de Ciências e de Biologia especificamente, onde ele aproveita para chamar a atenção de algumas situações existentes no cotidiano escolar sobre as disciplinas da área de Ciências. São descritos alguns problemas e comentadas algumas situações interessantes. Para aqueles que estão atuando ou que pretendem atuar nessa área, certamente esse é um recado interessante e importante que valerá a pena ser lido, comentado e assumido pela vida profissional.


Particularidades sobre o Ensino de Ciências

O ensino de Ciências, mais que qualquer outra área do conhecimento, depende diretamente das conceituações básicas existentes em cada um dos diferentes ramos das Ciências que se queira ensinar. Sem essas conceituações, o Ensino de Ciências passa a ser mera repetição de coisas, sem nenhum sentido prático. Ou seja, o Ensino de Ciências sem esses conceitos é, quando muito, mero diletantismo por um lado ou uma inútil macaquice por outro. Além disso, não se deve perder de vista que um erro conceitual primário, na maior parte das vezes, leva a um erro de entendimento e em Ciências isso produz consequências danosas, haja vista que o conhecimento científico é, necessariamente, contínuo e se faltar uma base sólida, todo o resto ficará comprometido.

Desta forma, torna-se fundamental que o estudante de Ciências tenha a noção exata dos conceitos que envolvem o assunto que se queira trabalhar, a fim de que haja entendimento pleno e não apenas a repetição do citado assunto. Debates e discussões são muito interessantes nesses momentos, haja vista que oferecem grande quantidade de posicionamentos, permitindo demonstrar a diversidade de situações pelas quais passa a conclusão sobre o assunto. Porém, essa é uma problemática muito difícil de ser resolvida, em função da dificuldade operacional de professores e alunos e das estruturas administrativas das escolas, as quais, na maioria das vezes, ainda andam na pré-história da educação.

No que se refere especificamente ao Ensino de Ciências e suas peculiaridades, podem ser levantadas várias causas que, direta ou indiretamente, conduzem a esta situação de dificuldade e que fazem com que o Ensino de Ciências seja muito precário no país. Vejamos algumas dessas causas.

1 – Primeiramente devem ser considerados os problemas existentes de cunho estritamente burocrático e operacional das escolas que, na maioria das vezes não possuem condições mínimas para permitirem o desenvolvimento de aulas de Ciências. Por exemplo, há escolas em que não existem laboratórios, outras que têm laboratórios, mas não tem nenhum tipo de material, pois o laboratório é uma espécie de dispensa onde são guardadas todas as coisas que não prestam. Outras ainda têm algum material espalhado, o qual às vezes permite algum trabalho. Outras até oferecem condições razoáveis para o desenvolvimento de algumas atividades. Enfim, tudo é possível e cada caso é um caso a ser resolvido no momento em que ele surge.

2 – Outro exemplo são as escolas em que o Diretor, ou a autoridade maior da escola, não acha importante certos mecanismos educacionais e entende que aula é professor falando e aluno copiando e que aula de Ciências é coisa inventada para burlar as normas e motivo para deixar de ministrar a aula. Pasmem, mas ainda existe gente que “pensa” assim. Nesse caso, ou o Professor de Ciências encara a briga e faz o que pode por sua conta ou obedece à direção e nada acontece.

3 – Há casos em que não existe estrutura física, mas existe boa intenção e, por exemplo, há um jardim onde os estudantes podem ser levados (quando o Diretor permite) para observar os organismos vivos que lá se encontram, sendo possível traçar algumas ideias e demonstrar alguns conceitos, principalmente na Biologia. No caso da Biologia, também é possível combinar com os alunos e realizar algumas excursões de campo que produzem excelentes resultados. Mas, as questões da Física e da Química que quase sempre necessitam de material específico e espaço físico devido, acabam ficando prejudicadas e nada pode ser desenvolvido.

4 – Algumas vezes a capacidade de compreensão do estudante, particularmente o jovem, ainda não permite o total entendimento do fenômeno, em função de sua visão restrita sobre o assunto e, principalmente da dificuldade de fazer o seu relacionamento com outros aspectos do cotidiano. É preciso que se encontre a ligação entre aquilo que se quer ensinar e a realidade que norteia o estudante, a fim de inserir o novo conhecimento (conceito) como uma complementação daquilo que o estudante já conhece da sua vivência cotidiana. Em Ciências nem sempre isso é possível, haja vista a singularidade de alguns dos fenômenos que às vezes precisam ser discutidos e ensinados. Além disso, há também a dificuldade, cada vez maior, do interesse dos estudantes por questões teóricas e pouco atraentes para os seus respectivos interesses particulares. Tornar as Ciências mais atrativas ao interesse dos estudantes também é uma tarefa a ser desenvolvida pelo professor de Ciências.

5 – Outras vezes a imagem preconcebida sobre determinado assunto é muito diferente da realidade científica que se quer ensinar. Há situações em que o antagonismo é total entre a crendice popularizada de um assunto e a verdade científica sobre o mesmo. Nesses casos, quanto maior for a distância entre a realidade científica e a imagem preconcebida e irreal que o aluno tem sobre este, maior será o conflito criado na mente do estudante e também a dificuldade de entendimento e a consequente formação dos conceitos. Por conta disso, torna-se fundamental, dentre outras coisas, que se acabe peremptoriamente com as crendices e os preconceitos, no que se refere ao Ensino de Ciências. Também se torna necessário que sejam desenvolvidos mecanismos adicionais que permitam demonstrar a veracidade científica e que possam refutar qualquer ideia inverídica sobre os diferentes assuntos. Novas práticas de Ciências e novos experimentos precisam estar sendo desenvolvidos constantemente para tentar suprir essa necessidade.

6 – Muitas vezes há dificuldade do próprio professor em entender determinado conceito, o que torna praticamente impossível ensiná-lo ao estudante. Não há como ensinar aquilo que não se sabe. Nessa situação, quando muito, o Professor repete aquilo que está escrito em um “livro didático”, apenas para cumprir uma formalidade programática. Mas, na maioria das vezes, o assunto é esquecido e passa-se por cima como se ele não existisse. Isso é inadmissível, não só em Ciências, como em qualquer outra área de Ensino. Mas, lamentavelmente, isso acontece em muitos casos. Desta maneira, só existem duas saídas: ou se aprende aquilo que se tem que ensinar ou não se pode ministrar as aulas, mormente de Ciências.

7 – Outras vezes, o professor até conhece determinado conceito, mas tem muita dificuldade em esclarecê-lo ao estudante. Isto ocorre quando falta “bagagem” ao professor. Ou seja, falta embasamento teórico (falta leitura) e consequentemente falta capacidade argumentativa que possam permitir ao professor explicar o conceito e tentar incuti-lo na mente do estudante. Lamentavelmente, esse tem sido o mais comum dos casos e isso nos leva a refletir sobre outros problemas: quem são e qual a formação teórico-cultural dos professores de Ciências do país?

8 – Outras vezes é o próprio Professor, por incrível que pareça, quem é preconcebido em relação a determinado assunto e não aceita, por questões culturais (principalmente religiosas), discutir e ampliar os seus horizontes sobre o mesmo. Esta situação tem que ser banida, pois traduz uma postura incompatível com um professor de Ciências, o qual deve, antes de tudo, estar com a cabeça aberta para o novo conhecimento científico. Um professor de Ciências tem que ser alguém interessado no seu enriquecimento científico e cultural. Desta forma, tem que estar predisposto às novas informações, refutando-as ou aceitando-as através de argumentação científica relevante. Um professor de Ciências não pode simplesmente se recusar a discutir determinado conceito, porque ele não acredita naquilo, ou porque a sua religião não permite tal mecanismo. O professor de Ciências tem que estar pronto para estudar, ensinar e discutir sobre Ciência, independentemente de qualquer outra coisa. Se não for assim, não terá como ser professor de Ciências.

Neste momento, é preciso esclarecer uma questão bastante comum.

O professor de Ciências é um ser humano como outro qualquer e sendo assim sofre todas as mazelas que qualquer outro humano, tendo, inclusive, o direito de ter as suas crendices e sua fobias, por mais absurdas que elas possam ser. Entretanto, o professor de Ciências não tem direito e nem pode, de maneira nenhuma, transferir as suas crendices e fobias para os seus alunos. Há necessidade de que o professor de Ciências mascare o seu eu pessoal em determinadas ocasiões, para que o ensino de Ciências seja compatível com o que se espera dele. Para ficar mais claro o que estou tentando dizer, vou dar um exemplo simples dessa situação.

Imagine que um determinado professor de Ciências tenha medo de sapos, o que não faz nenhum sentido científico, pois o sapo é um animal totalmente inofensivo, mas essa é uma coisa muito comum entre os seres humanos, inclusive muitos dos professores de Ciências têm essa fobia. Então, certo dia, um determinado aluno desse professor resolve, por qualquer motivo, levar um sapo para a aula. Nesta situação, o professor de Ciências fica enrascado, mas não pode justificar o seu medo com posturas não científicas e também não pode querer que os seus alunos tenham medo de sapo só porque ele tem. O medo de um humano não tem que ser o de outro e no caso particular do professor de Ciências, o medo não deve existir ou, se existir, não deve aparecer, pelo menos na frente dos seus alunos.

Entretanto, se não houver jeito e o medo aparecer, ele deve ser justificado com um argumento sociológico e não científico. É preciso acabar com a má influência dada por alguns professores de Ciências que inventam histórias e reforçam coisas absurdas para justificar os seus medos particulares. Se o professor de Ciências tem medo, que assuma o seu medo sem comprometer a realidade científica. O objetivo de qualquer ciência é demonstrar a realidade natural aos estudantes e não as crendices. O professor de Ciências tem que procurar acabar com a ignorância e não reforçá-la na sociedade.

9 – Outro aspecto interessante que às vezes acontece, diz respeito ao próprio conceito em si mesmo. Quando o conceito não está muito claro, pois há muitos pontos de vista divergentes entre os autores que trataram o assunto, há uma tendência natural de que o professor tome uma posição em relação à questão e assuma essa posição como verdadeira, mas isso não deve ser de todo correto, pois se o conceito é discutível então, desde que o estudante dê uma informação compatível com a discussão, por menos que o professor concorde, ele precisa aceitar a posição do estudante. Porém, há muitos professores que não estão dispostos aceitarem aquilo que não concordam e assumem uma postura totalmente anticientífica, a qual é incompatível com o ensino de Ciências.

10 – A situação acima pode se inverter e num determinado momento o professor está ensinando sobre determinado conceito consagrado cientificamente, mas o aluno descobre uma referência contrária ou uma posição pessoal contrária emitida por outro professor de Ciências sobre aquele assunto. Isso acontece com conceitos que mudaram mais recentemente e que ainda circulam referências bibliográficas antigas sobre a questão. Esse caso é sério e aí não há como fugir ao embate e à discussão, a qual poderá ser até vantajosa para a formação do aluno, pois servirá para demonstrar-lhe que Ciência é exatamente isso, ou seja, discussão, tergiversação e troca de ideias e opiniões, que levem ao melhor entendimento de uma determinada questão. Todavia, é fundamental que se chegue a uma conclusão com base científica e não a um simples acordo de cavalheiros no fim da discussão.

Enfim, como já foi dito, existem várias dificuldades. Entretanto, elas não podem se constituir em empecilhos ou barreiras intransponíveis para que o ensino de Ciências se desenvolva a contento. O professor de Ciências tem que usar toda sua criatividade, tem que ser capaz de superar as dificuldades e fazer com que seus alunos tenham acesso aos conceitos fundamentais.

A partir da conceituação básica, a observação e a experimentação passam a ser os caminhos a serem seguidos, conforme determina o método científico. Mas, ao longo desse caminho, certamente surgirão gargalos a serem transpostos, pois a observação nem sempre é possível e a experimentação, na maior parte das vezes, é impossível, pelo menos nas escolas públicas. Quer dizer, em geral ensinamos Ciências na base do “ouvi dizer que”, ou do “alguém disse que”, mas não temos, nem de longe, como tentar demonstrar ou comprovar o que estamos dizendo. Nessas ocasiões analogias costumam dar bons resultados, mas isso depende muito da bagagem cultural e principalmente da criatividade do professor.

O ensino de Ciências fica muito difícil para o aluno e complicado para o professor, o qual tem que “fazer das tripas coração” para levar o seu aluno a “acreditar” em coisas que, muitas vezes, ele não tem como provar. Isto é, o professor de Ciências ensina sua matéria na base do “acredite em mim e vamos em frente”, como se fosse o “dono da verdade”. Aliás, é bom lembrar, mais uma vez, que esta é uma postura totalmente contrária aos interesses da Ciência, pois não existem “donos de verdades” em Ciências.

Por outro lado, em determinadas situações em que é possível fazer observações e até mesmo experimentações, é preciso que se tenha o devido cuidado com a maneira que se procede, para não se cometer erros grosseiros. A observação, embora seja um ato relativamente simples, é, talvez, a mais importante parte das atividades científicas e desta forma, também do ensino de Ciências. É através da observação que surgem os questionamentos e é na busca das respostas que as Ciências progridem. Entretanto, para tal é muito importante que a observação seja abrangente, detalhada e crítica o suficiente para permitir algum questionamento científico.

Ensinar Ciências no mundo moderno, com tanta diversidade de coisas produzidas pelo desenvolvimento científico e tecnológico, deveria ser uma tarefa cada vez mais simples, pois estamos cercados de ciências por todos os lados, mas a realidade tem demonstrado o contrário. O professor de Ciências, como facilitador do entendimento científico para jovens estudantes, tem que estar devidamente ciente da missão que assumiu quando resolveu ministrar aulas de Ciências. Urge que se formem professores de Ciências adaptados ao seu tempo, ou seja, inseridos na vida científica e tecnológica atual e com uma visão eclética e realista do mundo, pois só assim poderemos sair do marasmo científico em que nos encontramos em relação ao resto do mundo.

Só poderemos formar os bons cientistas que o país precisa, quando tivermos produzindo bons professores de Ciências. Lamento dizer, mas parece que ainda estamos muito longe do que precisamos no que se refere ao ensino de Ciências e a consequente formação de cientistas. De qualquer maneira, ainda que vagarosamente, estamos caminhando e certamente chegaremos lá.

 Luiz Eduardo Corrêa Lima

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22 out 2014

O Peso dos Professores e das Disciplinas devem ser todos iguais

Resumo: Nesse artigo, o Prof. Luiz Eduardo propõe uma discussão interessante entre uma questão arcaica, mas que vem se arrastando no pensamento coletivo dos professores ao longo do tempo e que precisa ser esquecida para o bem do Processo Educacional e da Educação como um todo. Trata-se da priorização de certas disciplinas e da consequente minimização de outras em função das pretensamente mais importantes. Essa prática, além de totalmente infundada, prejudica enormemente o processo de aprendizagem e a formação integral dos alunos, embora ainda existam até setores dos governos que defendem esse absurdo.


O Peso dos Professores e das Disciplinas devem ser todos iguais

Sou professor há mais de 38 anos e tenho sido muito homenageado por meus alunos ao longo desses anos. Penso que isso me credencia, ou se não credencia, pelo menos me mantem no direito de emitir uma opinião sobre a postura de alguns colegas professores, na hora de avaliar definitivamente os seus respectivos alunos, seus colegas de profissão, suas disciplinas específicas e em última análise a si mesmos. Acredito que falta bom senso e de um pouco mais de humildade em alguns colegas professores, os quais não só agem incoerentemente, como aparentemente se sentem numa posição muito acima aos demais professores das outras disciplinas, pois realmente assumem uma postura de superioridade como se fossem os “reis da cocada preta” e atuam como se avaliar pessoas não fosse algo extremamente complexo.

Aliás, esses professores interagem como se as demais coisas e pessoas que atuam no processo educacional, principalmente os seus alunos e os demais professores, não existissem e assim não seriam importantes nos seus respectivos processos de avaliação. A avaliação é um problema exclusivamente deles e só a eles cabe o direito sagrado de avaliar e decidir sobre a condição do aproveitamento de seus alunos e nem mesmo esses alunos (vítimas ou réus no processo), têm o direito de questionar os seus respectivos veredictos. Esses professores manifestam um absolutismo tal, que chegaria a causar inveja ao próprio Hitler ou mesmo a envergonhar alguns tiranos e ditadores de tão indubitável e seguro. Desculpem-me pelo aparente exagero, mas essas figuras ainda existem e estão presas a valores passados, mas que ainda são muito fortes no ranço de determinadas escolas e de alguns setores escolares.

No passado, mormente quando eu ainda estava cursando o antigo curso primário (Ensino Fundamental), portanto há cerca de 50 anos atrás, por muitas vezes ouvi alguns professores dizerem que “Português e Matemática eram as disciplinas mais importantes dos conteúdos escolares”. Mas é claro que hoje, a maioria de nós educadores, sabemos que isso é uma falácia, que além de antiga, é ilógica e principalmente inverídica. Esse tipo de afirmativa pode ter feito algum sentido no passado distante, mas hoje em dia, apesar de ainda existirem alguns defensores de argumentos desse tipo, cada vez mais isso se desmistifica e assume a condição de mera tolice.

Embora, algumas vezes, a gente ainda ouça aquelas coisas assim: “mas o fulano passou em tudo até mesmo em Matemática e Português, como é que pode ter ficado só em Biologia?” Como se Biologia fosse menos importante do que Matemática e Português. Na verdade, hoje nós professores temos (ou deveríamos ter) consciência de que não existe disciplina mais ou menos importante, pois todas são igualmente importantes e necessárias na formação do indivíduo em qualquer nível de ensino e mais particularmente no Ensino Médio, o qual por definição deve procurar ser o mais eclético e abrangente possível, buscando dar todos os horizontes e dimensões disponíveis para ampliar a visão do educando.

Por outro lado, é claro que a capacidade de recepção, isto é, a resposta dada pelos alunos às diferentes disciplinas é muito diversificada e assim nem sempre é a mesma. Aliás, a diversidade de respostas é de tal dimensão que quase nunca é a mesma. Alguns alunos têm notoriamente maior facilidade de entendimento e habilidade com algumas disciplinas e maior dificuldade e mesmo interesse pessoal com outras. É preciso que fique claro na cabeça de todos os professores que essa é a regra e não a exceção e que esse é um fato natural, independente da vontade e do desejo pessoal do professor e também do amor que ele tenha por sua própria disciplina. Pois então, é nessa mesma diversidade natural de interesses, habilidades, facilidades e saberes que se desenvolve a capacidade cognitiva e o conhecimento efetivo de cada aluno, que produzem a formação final do indivíduo como pessoa educada e como cidadão inserido na sociedade.

Pois bem, esses fatos aqui citados me parecem apresentar um modelo mínimo e sensato de razoabilidade que se espera no processo pedagógico educacional e que resulta na capacitação intelectual final do indivíduo aluno e da sua percepção de discrepâncias e da sua condição de discernimento entre elas, as quais são características fundamentais na identidade e na personalidade da pessoa humana na sociedade. Quaisquer que sejam os professores e quaisquer que sejam suas disciplinas específicas, eles deverão estar cientes desses fatos e por menos que possam concordar, eles devem considerar esses aspectos como premissas fundamentais na avaliação do aluno. A escola hoje é democrática e assim, todas as disciplinas são iguais, todas as pessoas envolvidas na educação e na formação dos alunos devem atuar ativamente no processo de avaliação escolar e todas têm o mesmo nível de poder.

Todos nós, seres humanos, de uma maneira ou de outra, fomos intelectualmente “produzidos” (formados e desenvolvidos) dentro de um padrão geral educacional único, independentemente dos locais por onde tenhamos passado e das demais pessoas com quem tenhamos vivido e aprendido. Ou seja, o processo que nos moldou foi e continua sendo quase sempre o mesmo, embora a metodologia específica aplicada possa ser oriunda de locais e pessoas distintas. Assim, o “produto final”, isto é, o “homem educado”, embora nunca seja o mesmo indivíduo, sempre será bastante parecido, qualquer que seja a pessoa humana em questão. Em suma, o processo que nos organiza e compõe como seres sociais e intelectualmente ativos na sociedade é bastante similar, embora possam haver nuances metodológicas distintas, os objetivos a serem alcançados são os mesmos e assim os resultados finais são praticamente idênticos.

Por outro lado, como Biólogo, posso garantir que não existem biologicamente seres humanos iguais, mesmo sabendo como professor que seguramente o processo de desenvolvimento educacional dos indivíduos dentro da sociedade humana, que os leva a formação sociológica como pessoas é praticamente o mesmo em todos os grupos sociais humanos. Se minha premissa for verdadeira, então, somos diferentes na Biologia (Genética), mas somos, ou deveríamos ser iguais (muito parecidos), na Sociologia, ou pelo menos na nossa vivência social. Desta maneira, se não tivermos uma base comportamental oriunda da Genética muito diferente e certamente não temos, então não podemos desenvolver comportamentos genéricos muito diferentes, apesar das diferentes culturas desenvolvidas e adquiridas pelos grupos sociais humanos.

Desta maneira, somos o resultado comportamental de nossa Genética e de nossas vivências sociais como aprendizes de seres humanos. Por outro lado, por termos sido moldados de maneira semelhante aos nossos mestres, acabamos por sermos “produzidos” como cópias genéricas deles. Quer dizer, do ponto de vista do comportamento social, cada pessoa humana é, além da Genética, a somatória intelectual de outras pessoas produzidas da mesma maneira que ela. Assim, do ponto de visto do comportamento, por mais diferentes que possamos ser, de fato, somos sempre muito semelhantes, porque somos oriundos do mesmo padrão de formação. Historicamente, há, em última análise, um conservadorismo muito grande no processo de socialização do indivíduo humano e eu particularmente suspeito que isso tenha um significativo valor de sobrevivência para nossa espécie.

Mas, ainda assim, alguns de nós têm insistido em querer se manifestar como pessoas diferentes e fora do padrão humano. Aliás, essas pessoas não querem apenas ser diferentes. Esses humanos de comportamento estranho querem ser efetivamente anômalos e entendem que estão acima (ou abaixo) do bem e do mal e pensam que aquilo que se propõem a fazer certamente deve ser a coisa mais importante do mundo. Infelizmente, algumas pessoas têm o dom de achar que o mundo se resume a elas ou ao interesse delas. Assim, as coisas mais importantes para essas pessoas, passam a ter que ser também as coisas mais importantes para todas as outras pessoas do planeta. Aqueles indivíduos e atores sociais que estão mais próximos dessas pessoas são os que mais sofrem com essa psicose acentuada que elas apresentam. Algumas vezes essa psicose se acentua a tal ponto que passa a ser uma doença comportamental grave ou gera uma esquizofrenia profunda e irreversível. A pior situação acontece quando um desses indivíduos por acaso é um professor e aí, coitados dos seus alunos.

Na verdade, todos nós, seres humanos, em certo sentido, temos um pouco dessa anomalia e agimos um pouco assim, até por questões naturais de autodefesa, o que é compreensível e em certo sentido até benéfico para nós. Entretanto, a maioria de nós também deveria lembrar que hoje existem mais de 7 (sete) bilhões de pessoas no planeta, além de cada um de nós e que esse contingente populacional cresce assustadoramente. Essa população planetária imensa, como já foi dito, é constituída por pessoas diferentes, mas que são formadas no mesmo padrão, sendo por isso mesmo são muito conservadoras, mas que têm interesses diversos e obviamente atribuem graus de importância qualitativa e quantitativa variados em relação às coisas, por conta de condições diversas e fatores culturais próprios.

Em suma, nós humanos, prioritariamente nós professores, precisamos entender de uma vez por todas, que naquilo que diz respeito às pessoas como indivíduos e suas respectivas vontades, tudo (absolutamente tudo) é possível, independentemente do que pensa o restante da sociedade e por isso mesmo devemos aceitar essa diversidade como algo inato aos seres humanos, principalmente quando os humanos em questão são os nossos alunos. O respeito às pessoas e às suas diferenças individuais tem que ser prioridade nas atividades e nas entidades sociais humanas, mormente nas escolas, onde se busca formar o “homem educado”.

Enfim, profissionalmente falando, o professor deveria ser um humano que fizesse exceção óbvia a essa idéia de querer ser superior aos demais humanos. O professor, aquele indivíduo que trabalha exatamente com a diversidade humana, não deveria procurar estar acima dessa diversidade e deveria começar desconsiderando qualquer tipo de preconceito. Além disso, ele deveria ser capaz de tentar minimizar e, se possível, desmistificar essa situação comportamental conflitante. Mas, infelizmente, nem sempre é assim. Continuam existindo professores que acham e por isso mesmo querem e alguns até exigem, que seus alunos sejam semelhantes entre si e mais, que os alunos reproduzam exatamente aquilo que esses professores querem. Isto é, esses professores atribuem um grau muito alto de valor às suas respectivas pessoas e por extensão às suas respectivas disciplinas. Quer dizer, além de reforçar o erro, falta modéstia e humildade a esses professores para ensinar aos seus respectivos alunos e assim contribuir com a melhoria da sociedade humana.

Aliás, quero crer que esses professores não devam ensinar, até porque o ensinamento é um processo de compreensão mútua que envolve dois lados que precisam chegar ao mesmo nível de entendimento, ainda que até em tempos diferentes. Na verdade, esses professores que se acham “os donos da bola” e querem continuar sendo assim, não são educadores, embora até possam tentar ser instrutores e até mesmo domadores de outras pessoas. Nas aulas desses professores não há participação, não há democracia, não há troca com seus alunos e assim, não pode haver ensinamento e nem aprendizagem. Desta maneira, só pode haver treinamento e adestramento e embora até possam ser desenvolvidas algumas coisas no que refere à aprendizagem, na verdade, não se desenvolve o intelecto humano que é aquilo que gera a liberdade individual e que se desmembra em criatividade e evolução cognitiva, que são os objetivos maiores e que, na minha maneira pessoal de entender, constituem o cerne da educação da pessoa humana.

Em última análise, esses professores, talvez nem devam ser chamados de professores e muito menos de educadores, porque não fazem educação e não produzem avanço na condição cognitiva dos seus respectivos alunos. As características de ser igual, de ser humilde e de ser participativo são fundamentais aos professores e, a meu ver, sem elas não pode haver o exercício do magistério. Como esses professores não possuem e nem utilizam tais características, eles não se enquadram na condição mínima para serem considerados professores.

Precisamos banir de nossas escolas aqueles professores que ainda pensam de maneira retrógrada e que se intitulam “os gênios do saber, os pais da matéria mais difícil e mais importante”. Nosso pensamento como educadores deve ser proativo e deve projetar a melhoria do conhecimento da humanidade. Esse pensamento básico deve buscar a formação de novos homens, com novos ideais e novas visões. A minha verdade como professor deve ser buscar que o meu aluno venha a ser melhor do que eu possa ter sido, porque só assim haverá progresso educacional e esta é a verdadeira necessidade da sociedade humana. Se não for assim não haverá evolução no processo educacional e não caminharemos na direção da liberdade.

Alguém já disse que o conhecimento é a única e verdadeira forma de liberdade, então se eu limito o conhecimento de qualquer ser humano com quem convivo àquilo que eu sei ou àquilo que já está estabelecido, eu estou cerceando a liberdade das demais pessoas a minha volta. No que diz respeito à educação, não progredir é necessariamente sinônimo de regredir, porque o conhecimento se faz sobre o conhecimento pré-existente e quando o conhecimento estaciona toda a sociedade anda para trás e se priva da possibilidade de liberdade maior.

Colegas professores, por favor, pensem nisso, façam uma reflexão profunda sobre esta questão e me digam se estou certo ou errado. Eu sei que é difícil mudar de comportamento, principalmente quando se está habituado a determinados modelos e condições “didáticas” e “pedagógicas”, mas se você chegar à conclusão de que eu possa estar certo no meu pensamento e que você se enquadra nesse padrão que precisa ser mudado, então faça a sua tentativa de mudança. Penso que se houver pelo menos a possibilidade de investir na tentativa de fazer diferente essa deverá ser efetuada e creio mesmo que só com isso já estará havendo algum progresso, porque o aluno perceberá e isso certamente será bastante benéfico ao processo educacional. Se você achar que eu estou louco e devo ser internado, peço, desde já, que me desculpe por sonhar uma educação melhor, por chamar a atenção para a doença que está aí, por colocar o dedo na ferida e pedir uma colaboração maior dos meus colegas, professores como eu.

Mas, se existe uma coisa que eu tenho certeza é que a escola tem que crescer independentemente de mim e daquilo que eu penso e espero que você também pense assim a esse respeito, porque a educação precisa disso e com certeza a educação é maior que a escola e que todos nós juntos. A Educação desse país está carente de valores e precisa de um choque profundo para voltar aos trilhos. O que estou propondo, obviamente não é solução do problema, o qual é grave e muito enraizado em outras questões, e talvez nem seja uma das únicas alternativas, mas certamente melhorará o processo educacional, minimizará conflitos e assim trará bons resultados à Educação como um todo. A regra futura deve ser objetivar sempre em crescer a Educação, porque só assim estaremos agindo no interesse de uma sociedade humana planetária cada vez melhor, mais igual e mais justa.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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08 out 2014

O Professor e a Caixa de Fósforos


O Professor e a Caixa de Fósforos

Assim como é uma caixa de fósforos com seus respectivos palitos incineráveis, também é o professor com o seu conhecimento e sua capacidade de ensinar. Ambos têm um grande potencial para “botar fogo”, o fósforo nas coisas e o professor nas pessoas. Entretanto, se ambos não forem estimulados, apesar do potencial que possuem, nada acontece.

O tempo passa, novos mecanismos incineradores surgem, mas na hora de acender o cigarro, de produzir um fogueira para o churrasco, na hora de queimar qualquer um objeto qualquer, enfim, na hora de “botar fogo” em alguma coisa, a primeira ideia que se tem em mente é sempre aquela da caixa de fósforos, ainda que hoje em dia, possam existir inúmeros aparelhos e mecanismos, cada vez mais modernos para produzir a incineração.

Com o professor acontece, ipsis litteris, a mesma coisa. Os mecanismos de ensino, os chamados multimeios, estão aí, cada vez mais diversificados e mais sofisticados, entretanto ninguém pensa neles antes do professor, porque eles não são capazes de realizar nada sozinhos. Apenas o professor é capaz de ensinar e os multimeios, que até podem ser ferramentas úteis, sempre necessitam do professor.

Se até aqui, apesar das novidades, não trocamos as caixas de fósforos, também não podemos e nem devemos trocar os professores, haja vista que ambos são essenciais ao bom andamento das coisas e, em certo sentido, acabam sendo vitais às necessidades em que atuam. A figura do professor, com seus multimeios ou não, da mesma forma que a caixa de fósforos com seus palitos incineráveis, também é uma ideia simples, porém insubstituível, como dizia uma antiga propaganda de caixa de fósforos.

Entretanto, ultimamente, temos tido, infelizmente, algumas ideias absurdas quanto aos professores e suas maneiras de atuar, porque diferentemente dos palitos de fósforos que têm que ser acionados mecanicamente por ação externa humana, bastando apenas riscar o palito, os professores são humanos e precisam de uma série de outras coisas para funcionar, as quais são independentes de um simples ato mecânico. Os professores pensam, sofrem, amam e principalmente têm vontade própria para agir e qualquer ato mecânico, do mais simples até o mais extremamente complexo, depende dessa vontade.

Pois então, a vontade é o agente detonador da atividade do professor e obviamente de todo e qualquer ser humano. É através da vontade que o professor pode buscar todas as outras qualidades que necessita para desenvolver bem o seu ofício de ensinar. É através da vontade que o professor estuda, aprende e ensina. O professor, antes dos multimeios, precisa ter algum conhecimento e muita vontade para poder ensinar.

Ora, mas então, como fazer explodir essa vontade internamente no professor para que ele possa “botar fogo” nos seus alunos, produzindo uma boa qualidade de ensino?

Imagino que sejam necessárias algumas condições físicas e psíquicas, mais precisamente considero pelo menos quatro condições fundamentais, as quais podem agir como estimuladoras ideais da vontade do professor.

Primeiramente é fundamental que se tenha condições infraestruturas mínimas para exercer um bom trabalho, quais sejam: local de trabalho limpo e asseado, segurança garantida, material funcional disponível dentro da necessidade mínima do uso. Depois, vejam bem depois e não antes, é fundamental um salário compatível e digno, ao menos satisfatório para o exercício da função e organizado numa grade que permita vislumbrar uma condição de crescimento funcional na profissão. O salário tem que ser consequência do trabalho e não o contrário. Sendo assim, primeiro é preciso pensar no trabalho para depois pensar no salário, mas para que o trabalho se desenvolva a contento, há necessidade de que existam algumas condições físicas ideais.

Num segundo momento, é importante lembrar que o professor precisa gostar de ser professor. Ensinar é um ofício que tem peculiaridades como outro qualquer e exige cultura e curiosidade razoável, além de grande capacidade de argumentação, de conversação e de convencimento. Embora essas características andem bastante escassas nos tempos atuais, os professores não podem abdicar das mesmas para o cumprimento do bom exercício de suas respectivas funções. Professor que não se adequa a essas peculiaridades, que não gosta do que faz e que está dando aula por falta opção melhor precisa ser banido dos meios educacionais.

Outra coisa muito importante é que o professor, além de culto e curioso, como já foi dito, seja também conhecedor de sua matéria e que esteja sempre atualizado em relação a mesma. Para tanto torna-se necessário que existam cursos de extensão, de atualização, de reciclagem e de aperfeiçoamento que o professor possa cursar por conta dos empregadores, mas também por suas próprias expensas, haja vista que o interesse em melhorar profissionalmente deve ser, de forma precípua, do próprio professor. É fundamental que o professor saiba muito bem sobre aquilo que fala, pois ele tem que convencer ao aluno quando está falando e só quem conhece tem segurança e produz convencimento. Sem conhecimento não se cria bagagem, não se está seguro, não se desenvolve capacidade argumentativa e assim não é possível ensinar e muito menos convencer quem quer que seja.

Por fim, também é muito importante que o outro lado, os alunos, se predisponham a receber a informação e que vislumbrem aquele conhecimento contido na informação como fonte de interesse para sua vida individual ou social, tanto do pontos de vista teórico, prático, funcional, filosófico, ético e moral. Se o aluno não der importância ao ensino, certamente o ensino não acontece, porém o professor tem que procurar demonstrar essa importância que o aluno precisa ver e que muitas vezes ele infelizmente não quer. Embora o aluno deva vir para a escola cônscio de sua parte no processo educacional, a tarefa de motivar, em certo sentido, também pertence ao professor. Cabe a ele tornar a sua aula interessante para despertar um pouco mais o interesse de seu aluno.

Não sei se isso é bom ou ruim e nem vou discutir esse fato aqui, porque foge ao interesse deste modesto ensaio. Porém, a verdade é que no ensino privado as condições acima descritas estão mais bem estabelecidas do que no ensino público e assim fica fácil entender porque o ensino privado está significativamente melhor que o ensino público, embora isso não seja uma regra absoluta. Todavia, faço questão de lembrar que no passado a verdade era outra e ocorria exatamente ao contrário do que hoje acontece e muitos de nós, inclusive esse escriba, tiveram seus ensinamentos básicos em escolas públicas. Aliás, é bom ressaltar, que as vagas nas escolas públicas eram disputadas através de concursos e só os melhores, a partir de uma nota mínima estabelecida anteriormente ao concurso, conseguiam ingressar nessas escolas.

A caixa de fósforos exige condições especiais para produzir o efeito esperado, por exemplo, para “botar fogo” é preciso haver oxigênio no ambiente onde a riscagem do palito de fósforo acontece. Além disso, é necessário que o palito de fósforo e o local da riscagem na caixa estejam secos. Se essas condições mínimas forem estabelecidas e o ato mecânico que estimula o efeito se efetivar, certamente a incineração sempre acontecerá.

Com os professores a questão é bastante diferente, embora eles também sejam profissionais que têm necessidades especiais, não basta apenas satisfazer essas necessidades para que a ação esperada se realize. Os professores trabalham com um material que é especial, o aluno, o qual também é um ser humano. Como já vimos, esse tipo de material, o aluno, assim como o professor, tem vontade própria e essa característica pode mudar tudo, independentemente das condições ideais estarem todas estabelecidas. Ao contrário do que muita gente pensa, ensinar é uma tarefa muito difícil e não é qualquer um que pode estar em condições de desenvolver essa função, há necessidade de um bom preparo, de uma boa qualificação e sobre tudo de muita vontade.

Em suma, se todas as condições básicas forem satisfeitas e se os alunos e os professores tiverem vontade reciprocamente, os professores poderão “produzir boas chamas”, dar boas aulas e assim formar bons alunos. Porém, se não houver vontade, mesmo que todas as condições estejam estabelecidas, o palito que produziria a chama da Educação não se incinerará e as chamas não se formarão. Ou seja, sem vontade não há ensino. Aliás, sem vontade não há nada.

Então meus amigos, acabo finalmente de chegar onde eu queria. Estamos vivendo um momento em que somos cientes da necessidade dos professores como profissionais, porque estamos carentes de informação e de conhecimento. E mais, temos certeza de que a Educação é o único caminho que poderá nos levar a uma condição melhor. Entretanto, estamos fazendo a coisa errada, pois estamos tentando acender palitos de fósforos molhados e o que é pior, no vácuo. Desse jeito vamos ter que destruir muitas caixas de fósforos e gastar muitas vezes mais energia do que conseguiremos produzir. Isso admitindo que sejamos capaz de conseguir produzir alguma coisa, o que, pelo andar da carruagem, é bem pouco provável, para não dizer impossível.

Gente, está na hora de melhorar as escolas, mas de colocar gente boa e capaz dentro delas, de remunerar e qualificar melhor os professores, de questionar os pais para que ajudem a motivar seus filhos, de aprovar os bons e de reprovar os maus alunos, pois só assim, vamos poder “botar fogo” na educação do país, produzindo um ensino de boa qualidade que nossa gente tanto necessita. Chega de conversa mole, pois na vida tudo se põe à prova, até mesmo uma simples caixa de fósforos, se está em desacordo é descartada, então porque com a Educação, que certamente é a mais fundamental das atividades humanas, temos tentado mascarar a realidade e agir diferente.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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