Meio Ambiente, muito além da Proteção à Natureza

Meio Ambiente, muito além da Proteção à Natureza

Resumo: Nesse artigo, trago reflexões sobre o a importância da Sustentabilidade como mecanismo preponderante à Proteção do Meio Ambiente. Destaco a necessidade de mudança nessa situação, antes que seja tarde demais. 


Foi logo depois do fim da Segunda Guerra Mundial (1945), nas década de 1950 e 1960, que parte da humanidade parece ter acordado para as questões ambientais, porém de uma maneira ainda muito romântica e pouco real. De repente, por conta de alguns fatores e em particular, pelo estrago causado pelas duas Bombas Atômicas lançadas no Japão e o estabelecimento da Guerra Fria, a humanidade acordou e começou a ocorrer uma comoção mundial, no que diz respeito ao pacifismo, ao desarmamento nuclear e à Proteção da Natureza. Era um tal de gente abraçando árvores para que não fossem derrubadas, de grupos criando campanhas para defender determinados animais e para proteger as áreas naturais e conservar a natureza, porque precisávamos “salvar o planeta”.

Entretanto, toda essa avalanche de ações não envolvia diretamente o “bicho-homem”, que, até então, era considerado como uma entidade à parte dentro do mundo natural. O “Homo social”, parecia estar esquecendo o “Homo natural”. Se falava muito em Ecologia e se esquecia que o ser humano também faz parte da natureza, que ele, além de ser o principal responsável pelos nefastos acontecimentos, também era somente ele quem poderia ser capaz de mudar o rumo das coisas e reverter a situação. O ser humano não era a parte que corria mais risco, porque o planeta é que estava em perigo, haja vista que nós estávamos degradando-o progressivamente.

Hoje, setenta anos depois, continuamos degradando o planeta e a maioria dos humanos, parece acreditar que estávamos errados naquela época. Contudo, ainda tem gente achando que Meio Ambiente é apenas proteger “bichinhos e plantinhas”, porque a Terra precisa ser salva. Ora bolas! A Terra não precisa do homem e a Terra certamente tem como “se salvar” das ações humanas. O homem é quem precisa da Terra e sem a Terra, o homem não tem salvação.

Cuidar de Terra é cuidar de tudo, inclusive e principalmente, de nós mesmos.  Ainda tem muita gente por aí, esquecendo que o ser humano também é natureza e precisa sobreviver, que a espécie humana é cosmopolita e que, de alguma maneira, está presente e interfere (mal ou bem) em todos os Biomas e Ecossistemas Planetários naturais ou produzidos e mantidos pelas ações da própria humanidade, como as cidades e as fazendas. É preciso que se diga e se demonstre essa verdade para todas as populações humanas pelo mundo afora. Nós também somos organismos vivos dependentes do planeta e como tal sofremos da mesma forma e estamos sujeitos aos mesmos riscos que as demais formas vivas.

A humanidade tem que reconhecer que nós somos a espécie mais prejudicada com a degradação planetária e com todas as ações ambientalmente incorretas e infundadas que produzimos. Nós não precisamos apenas nos preocupar em defender a natureza e o planeta. Nós precisamos entender que somos natureza e que temos de defender a humanidade também. Aliás, somos a única espécie que tem capacidade de entender esse fato e de poder interferir diretamente nessa questão. Portanto, nossa responsabilidade é maior do que apenas proteger os ambientes naturais. Nós temos que cuidar da Terra como um todo, porque assim, também cuidamos de nós.

A Ecologia como ciência e as questões ambientais como atividades sociais globais vão muito mais além do que proteger a espécie “A”, ou o Ecossistema “B” ou ainda o Bioma “C”. Na verdade, os problemas planetários estão tão conectados e interrelacionados que não é possível separar o ser humano e os demais organismos vivos. Todas as formas vivas do planeta, inclusive a espécie humana, estão ameaçadas. Aliás, certamente somos, talvez, a espécie mais ameaçada diretamente, por conta de nossas próprias ações. Somos nós, os humanos, quem mais usamos recursos naturais e somos nós quem mais dependemos e ocupamos os espaços do planeta. Se faltar espaço ou recurso a nossa espécie certamente não tem como sobreviver.

Ora, então nós não devemos ficar preocupados com questões pontuais aqui e ali. Nós temos que pensar globalmente nas diferentes ações que empreendemos e colocar essas ações no interesse do planeta e da humanidade. Não degradar, não poluir e não produzir resíduos é tão importante quanto proteger as espécies vivas. Assim como, não explorar e tão importante e necessário quanto não consumir exageradamente e manter a sustentabilidade dos ecossistemas naturais e artificiais.

Desenvolver novas tecnologia ecologicamente corretas e desenvolver a economia circular é tão importante quanto conservar e recuperar a água, o solo ou as florestas. Guardar as cidades e os seus cinturões verdes são tão importantes quanto manter um ecossistema natural. Aprimorar os processos de restauração florestal natural e tão importante quanto manter a arborização urbana compatível com a qualidade de vida necessária para as cidades. Quer dizer, quando se trata de Meio Ambiente, a regra única é a seguinte: “tudo tem a ver com tudo”. Deste modo não se pode pensar em ações isoladas e desconexas do todo.

Isto é, não adianta muito produzir grandes investimentos numa questão específica e deixar de se fazer outras coisas relacionadas direta ou indiretamente a essa mesma questão. Pois então, é exatamente nesse ponto que a coisa fica mais séria e perigosa, porque muitos ainda pensam assim: “se eu já faço isso, porque é que eu também tenho que fazer aquilo”? Sim, você tem que fazer porque a Terra e a Humanidade precisam. As questões ambientais são grandes “icebergs” e geralmente a parte visível e chamativa representa muito pouco (quase nada) do tamanho real dele.

A terceira Lei de Newton, nos mostrou que não existe ação sem reação. Deste modo, ou se consideram todas as possibilidades que envolvem uma determinada ação e suas consequentes reações ou não se deve desenvolver a ação. E esta tem sido a grande dificuldade da humanidade ao longo da história e particularmente no presente momento, onde já conhecemos bem os nossos erros. Geralmente nossas ações só identificam e atuam nas partes objetivas mais interessantes dos problemas, a parte visível do “iceberg”, e não nos preocupamos com as consequências, que, na verdade, sempre são bem maiores do que é imaginado.

No que diz respeito às ações ambientais, as relações com outras questões e suas consequências, muitas vezes acabam sendo preponderantes para permitir ou não o desenvolvimento daquela determinada ação. No passado, fizemos muitas coisas erradas, porque nós ainda não tínhamos essa visão, mas atualmente nós já temos conhecimento suficiente para conseguir avaliar se determinada ação ambiental será efetivamente benéfica ou maléfica. Nós só precisamos é ter a devida coragem de definir as nossas prioridades sempre procurando garantir ações ambientalmente corretas.

Alguns humanos continuam protegendo “bichinhos e plantinhas”, outros estão reciclando materiais, outros estão consumindo o estritamente necessário, outros ainda assumiram posturas de não comer determinados alimentos, enfim tem muita gente fazendo muita coisa, mas os resultados ainda são precários, porque, na verdade, o que precisamos é que todos façam tudo de maneira ambientalmente correta. Precisamos de cuidado, reflexão, parcimônia e de considerar a amplitude antes de estabelecer qualquer ação. Demoramos muito para entender, mas creio que já entendemos, que não adianta nada fazer parte de alguma coisa sem se preocupar com a coisa toda.

Tudo se extingue e certamente daqui a mais alguns milhões de anos o planeta também vai extinguir, mas obviamente antes se extinguirão as coisas que existem nele. Essa é a regra natural e não há como ser diferente. Deste modo, ao contrário do que se pensava anteriormente, o planeta vai sobreviver por muito tempo ainda, as espécies é que não sobreviverão em consequência das diferentes carências produzidas no planeta e, aleatoriamente irão se extinguindo com o passar do tempo, em graus e diversidades diferentes em função de suas necessidades. Se faltar espaço geográfico e recursos naturais, certamente a espécie, seja ela qual for, inclusive o Homo sapiens, terá complicações e caminhará para a extinção.

Pois então meus amigos, como já foi dito, a espécie humana é a que mais precisa dos recursos planetários. Isto é, ela é a espécie mais dependente do planeta e quanto mais ela usa o planeta indevidamente, mais ela depende e mais ela antecipa seu processo de extinção. Não existe nenhuma maneira de evitarmos essa verdade, porque esse é o processo natural. Entretanto, existe uma possibilidade de nós retardarmos o tempo necessário para que esse processo possa ocorrer. A expressão mágica que pode nos permitir isso é a “Sustentabilidade” e essa é uma atividade que só depende da vontade própria humanidade. Nós podemos e devemos definir as nossas prioridades de ocupar espaços e utilizar os recursos dentro dos preceitos estabelecidos por elas, no interesse maior do planeta e da humanidade.

Voltemos concomitantemente todas as nossas ações para o tripé da Sustentabilidade, identificando e considerando todos os aspectos possíveis. Nada de exageros, ambientais, sociais ou econômicos. Utilizemos a Lei do Mínimo como um princípio fundamental nesses três aspectos e postergaremos a possibilidade de extinção de vários recursos naturais, de utilidade para a nossa espécie e para várias outras espécies vivas do planeta. Já exaurimos muitos recursos naturais vivos (renováveis ou não) e não vivos que não deveríamos ter sido extinguido. Doravante, temos que frear o nosso ímpeto exploratório no que diz respeito a esses recursos naturais do planeta, se é que almejamos ser uma espécie de vida planetária um pouco mais longa. Essa é a tarefa de casa obrigatória, que precisamos envidar esforços para conseguir alcançar.

Trabalhemos para o planeta e consequentemente trabalharemos para a vida atual e para as futuras gerações, tanto de nossa espécie, quanto das demais espécies de organismos que ainda vivem aqui na Terra. O planeta tem sofrido muito por conta de nossa ganância econômica, de nosso descaso ambiental, de nossa irresponsabilidade planetária e de nossa incompetência na ocupação dos espaços e de ineficiência exploratória dos recursos naturais. Nossa espécie está efetivamente correndo sério risco de não encontrar soluções para sobreviver no futuro e essa situação de risco está se ampliando muito mais rápido do que, aparentemente, temos sido capazes de perceber.

A proteção da natureza é realmente uma questão fundamental para o Meio Ambiente planetário, mas ela é apenas mais uma das muitas questões ambientais. A possível resolução de toda a problemática ambiental certamente depende de várias outras questões. Se quisermos realmente começar a solucionar a problemática ambiental planetária, devemos começar a tratar o Meio Ambiente como prioridade efetiva para a humanidade. Todas essas questões ambientais têm que ser consideradas e os interesses antrópicos naturais (ambientais) precisam ser priorizados em relação aos interesses sociais e econômicos. Caso contrário, não vamos resolver nada e continuaremos carregando a pecha de que somente queremos proteger “bichinhos e plantinhas”. Se continuarmos agindo desta maneira, o fim da nossa espécie está logo ali.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

2 comentário(s)

  1. Parabéns pelas reflexões, Prof Luiz Eduardo.

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    1. Muito obrigado pela leitura e pelo comentário Co. Gov. Jpper.
      Um abraço.
      Luiz Eduardo

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