Responsabilidade Socioambiental, um conceito que veio para ficar

Resumo: Desta feita estou comentando sobre a Responsabilidade Socioambiental. Esse é um tema que tem estado muito presente na mídia nos últimos anos e que diz respeito à postura das empresas quanto à Sociedade e ao Meio Ambiente. Além da necessidade real de tratar esses aspectos da maneira mais correta possível, existe também a tarefa de buscar produzir o crescimento empresarial dentro dos preceitos da Sustentabilidade, através de práticas efetivas e contínuas de mecanismos que potencializem o Desenvolvimento Sustentável.


Responsabilidade Socioambiental, um conceito que veio para ficar

Introdução

Se voltarmos num tempo relativamente recente, talvez tenhamos uma grande surpresa no que se refere a atividade social das empresas e suas relações com a comunidade próxima, além da preocupação sempre crescente com os recursos naturais e com a localidade, isto é, o ambiente onde está inserida. Para que seja possível identificar o simples conceito do que era entendido como responsabilidade social no campo empresarial naquele momento, bastava apenas lembrar que uma empresa era apenas mais uma entidade social, que gerava empregos e cujo objetivo principal era produzir produtos e lucro. Hoje, certamente houve significativa mudança de postura e grande evolução na visão social das empresas. Naquela época, apenas se cumpriam leis e normas regimentais trabalhistas existentes no interesse quase que exclusivo do lucro, o que se diferencia muito da tendência clara que se manifesta no momento atual.

Atualmente, o lucro obviamente ainda continua sendo o principal interesse de qualquer empresa, principalmente numa condição capitalista como a que é vivenciada aqui no Brasil. Mas, além do lucro, hoje existem outras questões que também estão em jogo e desta maneira, passou a ser fundamental que se realize o dever de casa com atenção, presteza e eficácia para não se perder concorrência e por conta disso, também acabar perdendo crédito público, competitividade e terminar caindo no nível mercadológico e consequentemente diminuindo o lucro. Em síntese, hoje o lucro faz parte de um todo maior, que qualifica a empresa, melhora o processo e a produção, além de propiciar a capacidade de incrementar mais ainda o próprio lucro da empresa. É um tipo de mecanismo “ganha-ganha”, onde a empresa se engrandece, a sociedade se beneficia e o meio ambiente é tratado com o devido respeito.

Nenhuma empresa sobrevive sem lucro e por isso mesmo nenhuma empresa pode deixar de agir em função desse mesmo lucro. Entretanto, a maneira pela qual o lucro pode ser garantido e mantido ao longo do tempo, depende muito de como a empresa trata algumas das outras questões relacionadas com o seu processo de produção, além de puramente se preocupar com os números específicos da economia e do capital monetário. O valor tornou-se algo muito maior do que apenas custo econômico (preço) e dinheiro. As empresas passaram a buscar esse valor maior, pois a partir dele conseguem satisfazer seus clientes, competir com as outras, vender seus produtos, além de gerar mais lucro e rendimento para os seus acionistas. A ideia contida no conceito de Responsabilidade Socioambiental passa exatamente por essas outras questões que levaram as empresas a galgar a aquisição desse valor diferenciado. O grau de importância da empresa para a sociedade cresceu bastante com essa nova visão, pois ela deixou de ser uma mera geradora de emprego e passou a fazer parte integrante e significativa de todas as ações comunitárias.

Abordagem Histórica e Situação Atual

A partir da década de 1970, a humanidade começou a criar novos padrões daquilo que, num primeiro momento, resolve-se inicialmente denominar de responsabilidade empresarial e que, posteriormente, com o crescimento e aperfeiçoamento passou a ser chamado pelo termo Responsabilidade Social. Naquela época as empresas, principalmente as megaempresas multinacionais, foram consideradas e certamente elas eram mesmo, as grandes vilãs da degradação ambiental planetária. Hoje, por mais vilãs que muitas continuem sendo, existe a possibilidade delas se manifestarem de uma maneira menos drástica o que, em alguns casos, serve como maneira de mascarar sua irresponsabilidade, mas em outros é efetivamente um mecanismo que justifica e minimiza os padrões perversos de produção.

Esse novo modelo de empresa toma cuidado com o meio ambiente, fazendo gestão ambiental e buscando a certificação pela Norma ISO 14000, além de tratar bem as pessoas com quem se relaciona (empregados, distribuidores e fregueses), algumas vezes, também querendo conseguir a certificação pela ISO 26000. Pois então, é esse ideal básico que ampara a noção maior daquilo que se estabeleceu como Responsabilidade Socioambiental. As empresas têm como base corporativa a obrigação maior (responsabilidade) de gerar lucro para si, seus empregados e seus acionistas, porém respeitando as pessoas e o meio ambiente, dentro do preceito maior de sustentabilidade. Isto é, garantindo a continuidade do processo e mantendo a qualidade de vida para as futuras gerações.

O Relatório do Clube de Roma (Os Limites do Crescimento), publicado em 1972, expos claramente a situação do planeta, no que diz respeito a limitação dos recursos naturais e da consequente possibilidade real de extermínio total desses recursos. A partir desse relatório passou a surgir uma cobrança popular maior sobre os governos, os quais, por sua vez, passaram a manifestar maior preocupação com as questões ambientais e com os recursos naturais, endurecendo a legislação e exigindo das empresas maiores compromissos e obrigações. Logo depois, também ocorreu uma preocupação maior das empresas com os seus funcionários e com todo o pessoal envolvido nos seus respectivos processos. Foi dessa maneira que se notabilizou o conceito de Responsabilidade Socioambiental.

As empresas modernas, longe de querer serem malvistas e odiadas, como aconteceu no passado recente, têm agora uma nova imagem na opinião pública e melhoram progressivamente essa condição. Algumas dessas empresas, às vezes até assumem a obrigação dos governos e criam mecanismos que tentam impedir ou minimizar os danos ambientais e ampliam as possibilidades de vantagens aos seus funcionários e demais colaboradores, demonstrando suas respectivas preocupações com o ambiente e com a sociedade, além, obviamente, de seu interesse econômico primário. A Responsabilidade Socioambiental também está diretamente associada a esta preocupação econômica e visa garantir resultados sempre positivos, para manifestar na população e na opinião pública uma visão favorável e positiva sobre a empresa. Com a Responsabilidade Socioambiental surgiu uma nova visão de empresa que é capaz de produzir mais, gerando mais dinheiro, gastando menos recursos e respeitando o meio ambiente e a sociedade, em particular o seu entorno e a sua comunidade próxima.

A Sustentabilidade e a Responsabilidade Socioambiental

Como foi dito anteriormente a Responsabilidade Socioambiental guarda uma relação direta e progressiva com a o Desenvolvimento Sustentável e consequentemente com a Sustentabilidade. As empresas que trabalham dentro do padrão da Responsabilidade Socioambiental necessariamente são empresas sustentáveis ou que estão caminhando fortemente nessa direção, pois atuam de acordo com o tripé que norteia o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade: o ambiente, a sociedade e a economia. Assim, muitas dessas empresas já galgaram e conseguiram suas certificações pelas Normas da série ISO 14.000 e ISO 26.000, que tratam diretamente dos assuntos em questão e aquelas já engajadas, mas que ainda não estão certificadas, certamente estão buscando conseguir seus certificados. Assim, a natureza (o Planeta Terra) e a sociedade (a Humanidade) é quem saem ganhando.

Os programas de gestão ambiental em acordo com os preceitos da Série de Normas ISO 14000, foram criados para diminuir o impacto provocado pelas empresas sobre o meio ambiente e assim, preconizam o uso responsável dos recursos e minimizam o desperdício e a produção de resíduos. Muitas empresas que utilizam recursos naturais e geram poluição ou causam danos ambientais através de seus processos de produção, estão desenvolvendo novos padrões de produção e tecnologia de produção mais limpa (P + L), visando melhorar o trato com os recursos naturais e com o ambiente. Seguindo o que está estabelecido nas normas ISO 14000, muitas dessas empresas podem, devem e têm conseguido reduzir significativamente os danos ao meio ambiente. As Normas determinam, entre outras coisas, que a empresa tenha que tratar os recursos naturais (matéria prima) de seus produtos dentro dos preceito estabelecidos pela legislação vigente e de maneira sustentável.

Por sua vez a ISO 26000, determina que sejam respeitados 7 princípios fundamentais para o cumprimento da responsabilidade social das empresas, são eles: 1 – convém que a organização preste contas e se responsabilize por seus impactos na sociedade, na economia e no meio ambiente; 2 – convém que uma organização seja transparente em suas decisões e atividades que impactam na sociedade e no meio ambiente; 3 – convém que uma organização comporte-se eticamente; 4 – convém que uma organização respeite, considere e responda aos interesses de suas partes interessadas; 5 – convém que uma organização aceite que o respeito pelo estado de direito é obrigatório; 6 – convém que uma organização respeite as normas internacionais de comportamento, ao mesmo tempo em que adere ao princípio de respeito pelo estado de direito; 7 – convém que uma organização respeite os direitos humanos e reconheça tanto sua importância como sua universalidade.

Obviamente as empresas tem investido tempo, trabalho e recursos financeiros na busca do atendimento das orientações previstas nas normas e os resultados têm sido cada vez mais promissores. Os avanços, ainda que relativamente distintos em diferentes setores, em função da própria diversidade industrial são notórios. De qualquer maneira, a onda que se estabeleceu no mundo empresarial por conta da Responsabilidade Socioambiental, parece uma tsunami de bons resultados, que não para de crescer. Enquanto o mundo está preocupado com as catástrofes ambientais cada vez mais significativas, o setor industrial está investindo bastante nessa catástrofe do bem que é a Responsabilidade Socioambiental.

Considerações Finais

Enfim, a Responsabilidade Socioambiental empresarial está aí e certamente está estabelecendo um momento novo na história do desenvolvimento industrial, no qual a empresa e a sociedade têm caminhado em comum, visando o respeito básico e a preservação do meio ambiente e dos recursos naturais, tentando garantir os interesses coletivos e a principalmente a qualidade de vida. Ao que parece, esse modelo veio para ficar e não será apenas mais um modismo. Aos poucos, as empresas estão se adaptando e a Responsabilidade Socioambiental está se consolidando não só como um novo modelo empresarial, mas como a única forma possível que as indústrias possuem para tentar agir de maneira efetivamente sustentável.

Claramente o direcionamento em prol da Responsabilidade Socioambiental aparenta ser um caminho sem volta e as empresas que seguirem esse caminho obviamente continuarão crescendo. Por outro lado, aquelas empresas, que por algum motivo, ainda não se direcionaram para esse novo caminho, deverão correr rapidamente para ele, porque do contrário tendem a desaparecer.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Referências

ABNT: NBR ISO 14.001 – Sistemas da gestão ambiental – Requisitos com orientações para Uso, 2004.

ABNT: NBR ISO 26.000 – Diretrizes sobre a Responsabilidade Social, 2010.

LEMOS, H.M. As Normas ISO 14.000, Instituto BRASIL PNUMA, 2013.

MEADOWS, D.; MEADOWS, D.; RANDERS, J. & BEHRENS III, W. W. The Limits to growth, New American Library, New York, 1972


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