EXISTE DIFERENÇA ENTRE FAZER E DIVULGAR CIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR?

Existe diferença entre fazer e divulgar ciência no ensino superiro?

Resumo: A exigência histórica imposta pelo MEC nas Avaliações das Instituições de Ensino Superior, quanto à necessidade de publicação de artigos científicos por parte do corpo docente dessas instituições.


Introdução

Hoje em dia, a questão que mais se discute nos meios acadêmicos é a produção de publicações do professor e mesmo quem nunca produziu absolutamente nenhuma linha de nada está às voltas com a mesma obrigação dos outros e agora também tem que produzir alguma coisa. Caramba! Esse negócio, está virando um negócio de fato e já tem gente até pagando para que outros produzam suas publicações. Mas, além das publicações, agora também são necessárias as citações das mesmas nas publicações de outros autores. Isto é, não adianta “apenas” escrever os artigos, também é necessário que alguém leia e cite (referencie) o artigo em questão.

Ora, se o pessoal, de uma maneira geral, já não gosta muito de escrever, imagina então que agora, pois depois de escreverem a contragosto, ainda terão que ser obrigatoriamente lidos e citados por outros autores. Enfim, na atualidade o que interessa são os números dos artigos produzidos e o número das citações desses artigos. Aliás, não sei e não consigo entender o porquê, porém mais recentemente as citações estão sendo consideradas muito mais importantes que os próprios artigos.

Essa história, além de estranha e engraçada, certamente também é bastante absurda, mas infelizmente o pessoal que realiza as avaliações dos professores nos meios acadêmicos está cada vez mais preocupado com essa questão, ao invés de se preocupar com a qualidade do Ensino Superior, que está cada vez pior. Nesse pequeno artigo, vou tentar discutir e, se possível, esclarecer ou complicar mais ainda, um pouco dessa história da necessidade quantitativa das publicações e citações.

Primeiramente eu quero manifestar alguns questionamentos que me angustiam, no que diz respeito a essa problemática: por que têm que existir as publicações dos professores do ensino superior? Qual o verdadeiro objetivo das publicações dos diferentes documentos produzidos pelos professores de ensino superior? As publicações são efetivamente os melhores qualificativos para avaliar os professores do ensino superior?

Bem, de qualquer maneira as publicações obviamente sempre existem e eu entendo que, por mais que se queira criar situações diferenciadas entre os diferentes tipos dessas publicações, elas podem ser resumidas fundamentalmente em três condições básicas com objetivos distintos.

 A primeira é produzir resultados das pesquisas científicas e isso geralmente é feito através de publicações em revistas científicas indexadas que identificam e quantificam as publicações. A segunda é produzir artigos de divulgação científica, procurando levar a informação às diferentes comunidades que interagem com os meios acadêmicos e também a população em geral que se interessa pela ciência, procurando promover, descomplicar e popularizar o conhecimento científico. A terceira é gerar relatórios técnicos e mesmo livros das atividades didático-pedagógicas que estão sobre as suas devidas afinidades e responsabilidades, demonstrando o conjunto dos trabalhos desenvolvidos e as consequências oriundas desses trabalhos. 

Qualquer outra situação adicional que se queira discutir, certamente poderá ser enquadrada numa dessas acima. Assim, vou discutir e apresentar meus argumentos, considerando essa três situações fundamentais.

Artigos (Trabalhos) Científicos

Os artigos ou trabalhos científicos são documentos produzidos a partir das conclusões totais ou parciais das pesquisas desenvolvidas pelos professores em suas respectivas áreas de atuação e linhas de pesquisa científicas. Obviamente, do ponto de vista quantitativo, deve ser esperado que o número de artigos com resultados de pesquisas científicas seja proporcionalmente menor, haja vista que a pesquisa requer maior tempo e trabalho para sua elaboração e assim, os resultados das pesquisas devem, a priori, ser menos frequentes.

Entretanto não é isso que sido visto nos últimos tempos. Atualmente é possível observar que tem pesquisador que produz dezenas de artigos científicos num único ano e orienta outras dezenas de alunos, os quais também produzem os seus trabalhos científicos, naquele mesmo ano. Assim, no fim do ano o professor em questão publica dezenas de artigos científicos. Ora, isso só pode ser uma grande inverdade ou uma mera brincadeira. Mas, o negócio é produzir e assim, o que importa são os números e não existe muita (nenhuma) preocupação com a qualidade ou mesmo com a possibilidade física e operacional da realização de todos esses trabalhos e das respectivas publicações em tão pouco tempo.

Os artigos científicos constituem o mecanismo pelo qual o cientista se comunica com a comunidade científica e deveria também se comunicar com a comunidade próxima, entretanto esses artigos dificilmente são entendidos e muito menos assimilados pela população em geral. A linguagem própria das diferentes áreas da ciência, o texto técnico, específico e pouco conhecido são fatores que dificultam o fácil entendimento dos artigos científicos pelo cidadão comum. Assim, na grande maioria das vezes, há necessidade de que alguém, outro autor ou outro veículo de comunicação, facilite as coisas e coloque o texto numa maneira mais palatável e inteligível.

Artigos de Divulgação Científica

Esses artigos são aqueles que se preocupam em informar ao público em geral sobre questões da ciência ou que propõem discutir sobre essas questões, tentando envolver as comunidades nos assuntos de interesse científico. A divulgação científica é uma forma de informação dos acontecimentos científico às comunidades. Sem a divulgação científica a sociedade, que em última análise é quem financia a ciência e o cientista, não seria informada sobre os acontecimentos científicos.

No que tange aos números, os artigos de divulgação devem ser quantitativamente mais numerosos, até porque eles diretamente não envolvem pesquisas, pois são apenas relatos menos técnicos das ideias contidas nos artigos científicos ou resultam da somatória do conhecimento acumulado pelo professor daquela área da ciência sobre um ou mais determinados assuntos.  Muitas vezes os artigos de divulgação acabam sendo mais importantes que os artigos científicos, porque são eles que levam a informação científica até as comunidades e assim acabam por popularizar o conhecimento científico, transformando-o em atividade cotidiana e comum. A divulgação científica não é menos importante do que a descoberta científica em si, porque sem divulgação a ciência se mantém acadêmica e não ingressa e nem caminha no seio da humanidade.

Aqui é bom que se seja dito que a pesquisa é feita pelo cientista, mas ela não pertence a ele, pois a pesquisa é uma atividade da sociedade e portanto quando um artigo é publicado, o seu autor, embora dono intelectual, não é mais o proprietário daquela informação, que passa a ser pública, isto é, de uso comum. A descoberta é do pesquisador, mas o conhecimento produzido é da humanidade. Pois então, o que, ou o como, ou ainda o quanto a comunidade próxima ou a humanidade como um todo se beneficiam de uma pesquisa e do novo conhecimento que a mesma traz é o que que deveria ser analisado numa avaliação e não quantos trabalhos ou quantas citações quem quer que seja teve.

O verdadeiro significado e a efetiva importância daquilo que o Professor (autor) produziu é que deveria estar sendo avaliado e não apenas a quantidade das publicações em si e quantas vezes essas teriam sido referenciadas por outros autores. Muitas vezes os resultados de uma ou mais pesquisas assemelhadas só conseguem ser entendidas pela sociedade e passam a adquirir capilaridade pelas comunidades quando apresentadas de uma maneira menos técnica e mais simplificada e isso só é possível com artigos de divulgação científica. O cientista, aquele que produz o trabalho científico ainda é um sujeito que está muito longe da sociedade, enquanto o divulgador científico, aquele que conta a história e que faz os relatos das descobertas é muito mais próximo e fala muito mais na linguagem que o cidadão comum pode compreender e absorver.

Relatórios Técnicos e Obras Científicas

Os relatórios técnicos são obras e textos produzidos em função de análise comparativa das diferentes atividades exercidas pelo professor ou da experiência e do acúmulo de informação sobre determinado assunto (área), que permite condensar a informação e produzir textos documentos abrangentes sobre as mais diversas situações.

Os documentos desse terceiro grupo estão relacionados as atividades desenvolvidas e assim estão diretamente ligados ao que é feito pelo professor na sua área específica e nas diferentes atividades operacionais que desenvolve em sua instituição de trabalho e obviamente isso varia, no que se refere ao tempo, a função, a capacidade e mesmo a vontade pessoal do professor em publicar. Isto é, em determinado momento podem existir muitos relatórios, muitas obras e informações, mas em outros momentos existem poucos e isso é o que menos deveria importar na hora da avaliação.

Mas, esses documentos também são produção do professor e precisam ser considerados com publicações, porque envolvem tempo, trabalho e principalmente eles são as provas efetivas das atividades desenvolvidas pelos diferentes professores, além de serem suas contribuições pessoais ao ensino superior e à educação como um todo. Ou será que ministrar aulas, desenvolver funções administrativas, promover eventos e participar de congressos e similares, fornecer entrevistas à imprensa, atender público interno e externo, orientar alunos em diferentes níveis, desenvolver ações comunitárias e outras inúmeras coisas são atividades menos importantes da função de professor universitário? 

Bem, eu acredito que depois dessa pequena síntese, deva ter ficado evidente que quem mais produz no ambiente universitário não é necessariamente quem mais publica, haja vista que a universidade tem inúmeras atividades e que cada professor está mais afeito e envolvido com algumas delas e assim não é possível que sejam avaliados exclusivamente pelas suas “publicações científicas”. As aspas aqui são propositais, porque também tem o fato de que muitas dessas pretensas publicações científicas não saem da mesmice, não têm nada de científicas e muitas vezes chegam às raias do ridículo.

De qualquer maneira, é preciso deixar evidente que existem outros aspectos a serem considerados e discutidos, como por exemplo, os seguintes: para quem são feitas as publicações científicas? Quem, de fato, lê as publicações e os artigos científicos? E por que as pessoas leem, se é que leem esses artigos?   

Analisando e Discutindo a Questão

Em geral um artigo científico só é lido e entendido por outro especialista da área de quem escreveu, ou mais raramente por um especialista de área próxima. Deste modo, a artigo científico é lido por pouquíssimas pessoas e em muitas situações um artigo científico não é lido efetivamente por quase ninguém. Eu vou tentar ser um pouco mais claro no que estou afirmando e no significado dessa afirmativa. Para cada assunto específico, dentro de uma determinada área de conhecimento, certamente não existe no mundo nem 1000 pessoas interessadas diretamente, isto é, leitores em potencial e obviamente nem todas essas 1000 pessoas lerão todos os artigos escritos.

Assim, eu efetivamente tenho muitas dúvidas se, apenas produzir e ler artigos científicos, mesmo de boa qualidade, seja uma forma correta e eficaz de avaliar o potencial de um professor ou de uma Instituição de Ensino Superior, pois geralmente os cientistas só leem exatamente sobre aquilo que eles escrevem e quantitativamente isso é insignificante. Além disso, devo dizer ainda que economicamente falando, muitas vezes essa publicação é muito cara e não compensa o trabalho envolvido e muito menos o custo operacional de sua realização. Sempre é bom lembrar que quem paga a pesquisa e consequentemente o cientista também é a sociedade e sendo assim, a sociedade tem que ser informada sobre o andamento daquilo que o cientista faz.

Por outro lado, a divulgação científica atinge certamente dezenas, centenas de milhares de pessoas e muitas vezes até milhões. Ora, então o que faz mais sentido? A publicação científica pura e técnica ou a publicação da divulgação científica adaptada à realidade de entendimento da população? Notem bem, eu não estou querendo desprestigiar a ciência e nem o cientista, mas estou chamando a atenção da realidade. Ou seja, estou querendo esclarecer que a publicação científica, efetivamente não é lida por quase ninguém e mesmo que fosse lida, talvez não pudesse ser entendida. Assim, certamente ela não atinge o interesse maior da própria ciência que é orientar e informar a sociedade e consequentemente melhorar a vida da humanidade.

É necessário que se diga que sem a divulgação científica o conhecimento científico não penetra e nem caminha no pensamento popular. Isto é, sem a divulgação científica a descoberta científica não existe de fato, embora ela já possa ter acontecido de fato e de direito a sua inserção na vida cotidiana das comunidades, porém torna-se difícil e em muitos casos, até mesmo impossível identificar o avanço (a melhoria) produzida. Derrubar crendices, por exemplo, é uma tarefa bastante difícil da divulgação científica e que só se torna possível com a popularização demorada e tardia de alguns fatos científicos

Por incrível que pareça, as publicações científicas só alcançam as pessoas, nos artigos de divulgação, nos livros e relatórios técnicos em que são apresentadas, porque é nesse momento que elas tem contato com a realidade cotidiana e a com a linguagem popular. Mas, é bom que se diga que quem faz essas “atividades secundárias” também são professores universitários e cujo valor é lamentavelmente considerado inferior. Eu até posso entender que exista menos brilho no divulgador do que no descobridor, mas não acho que haja importância menor. Até porque o autor da descoberta sempre será o autor da descoberta, independentemente de quem esteja falando dessa descoberta.

Entretanto, fazer a descoberta ser assumida pela comunidade é uma tarefa que muitas vezes o cientista (pesquisador) não consegue (não sabe) fazer e necessita de alguém que possa colaborar nesse sentido. Às vezes a imprensa comum consegue dar o recado, mas na maioria das vezes existe necessidade de artigos de divulgação científica para tentar esclarecer melhor o assunto, haja vista que os repórteres e jornalistas nem sempre (na maioria das vezes) são capazes de explicar certas questões científicas.

O cientista (pesquisador) aquele que faz (produz) ciência tem seu artigo citado em outros artigos científicos, enquanto o divulgador científico, o escritor e o administrador público acaba não tendo a mesma sorte e assim, o pesquisador que é lido por meia dúzia de pessoas tem inúmeras citações e é considerado importante, enquanto os outros que foram lidos por milhares de pessoas, simplesmente não pessoas que não existem nos processos de avaliação do ensino superior. Meus amigos isso, como eu já disse, é um grande absurdo e precisa ser revisto.

Se o MEC, a CAPES ou o CNPq não veem essa deformação do processo de avaliação, as Instituições de Ensino Superior (IES) têm que ver e precisam trabalhar ativamente para acabar com esse absurdo, pelo menos nos seus espaços internos elas devem acabar com essa situação esdrúxula. Situação na qual o indivíduo (professor) que ninguém conhece, que ganha várias horas de pesquisa no salário para não fazer absolutamente nada, alegando fazer “pesquisas”, sendo sempre citado, apenas por si mesmo e pelos seus alunos e enquanto aquele outro indivíduo (também professor) que todos conhecem, que produz muito para a instituição e que não ganha nada além de suas aulas, apenas porque não faz e nem finge fazer as tais “pesquisas”.

Vou me usar como exemplo para demonstrar o que estou tentando dizer. Tenho alguns livros, vários trabalhos de extensão produzidos, inúmeros relatórios e centenas de artigos, muitos dos quais já foram lidos, consultados e referidos mais de 10 mil vezes, mais de 50 mil vezes, alguns até mais de 100 mil vezes e essas consultas simplesmente não aparentam ter nenhum valor. A propósito, eu não estou inventado números, existe registro contábil dessas informações nos locais onde elas estão publicadas. Mas, é como se esses registros, essas consultas e as leituras não existissem, porque não estão registradas nas chamadas revistas indexadas.

Ora bolas! O que importa é se alguém lê alguma coisa ou se o “Doutor Fulano de Tal”, lê e cita alguma coisa? Aliás, essa é outra questão que precisa ser discutida, está cheio de “Doutor” por aí, que não sabe absolutamente nada de nada, produzindo “ciência” e eu conheço vários desse tipo. Mas, deixemos isso para outro momento e voltemos ao assunto em baila.

Um pesquisador que foi lido por três pessoas e referenciado pelas mesmas três numa revista indexada, mesmo que essas três pessoas sejam ele mesmo e dois de seus alunos, tem uma consideração profissional maior do que aquele que foi lido por mais de 100 mil pessoas, num único artigo. Aqueles mais 100 mil leitores que, por exemplo, leram um de meus artigos, são idiotas que andam lendo bobagens, mas aqueles 3 que leram o “trabalho científico” são seres humanos superiores e mais esclarecidos, porque leram o trabalho do “Doutor Fulano de Tal”.

Caramba! Isso não faz absolutamente nenhum sentido e não traz nada de benéfico à ciência ou ao ensino superior, ao contrário cria monstros que, além de não saberem nada sobre coisa nenhuma, se acham superiores aos demais colegas de trabalho, os quais muitas vezes são infinitamente mais competentes do que esses infelizes senhores “pesquisadores”. Alguém precisa olhar esse negócio mais proximamente e com urgência, porque a coisa está ficando insuportável e quem está perdendo é o Brasil, a educação brasileira e o estudante de nível superior.

É sabido que o ensino superior se embasa em três aspectos fundamentais o ensino, a pesquisa e a extensão. A avaliação docente deve se pautar nessas três esferas e não deve priorizar esse ou aquele aspecto em relação as demais. A produção científica é apenas um aspecto, dentro de uma das três áreas e não pode ser considerada mais importante que as demais atividades. Cada aspecto tem que ser analisado no seu todo e não é possível que seja dado destaque para um determinado efeito na hora de avaliar o professor ou mesmo a instituição, principalmente no caso de IESs pequenas e particulares, onde as dificuldades são inúmeras e onde quem faz alguma coisa é porque gosta e porque sabe fazer aquilo, independentemente de quanto receba ou não para fazer tal coisa. Mas, o pior não é o fato de deixar de ganhar por aquilo que faz bem e sim saber que tem gente ganhando pelo que não faz ou faz mal e enganando a Instituição, o CNPq, a CAPES, aos alunos, a direção da instituição e a outros tantos envolvidos direta ou indiretamente no processo.

Quando será que as escolas de Ensino Superior no Brasil passarão a ser somente escolas, preocupadas com a melhoria da educação da população brasileira e com a formação de bons profissionais? Quando será que um Professor de Ensino Superior, seja ele quem for, passará a ser avaliado apenas pelo seu trabalho e sua competência como Profissional de Ensino Superior? Quando será que a pretensa produção científica de alguns deixará de ser uma mentira que interessa a grande parte dos envolvidos no Ensino Superior?

Considerações Finais

Infelizmente eu creio que não viverei para poder ver a resposta de quase nenhuma dessas questões, mas sugiro que o MEC e as IES comecem a trabalhar nesses assuntos e procurar tais respostas para melhorar o Ensino Superior do Brasil e acabar com essa disparidade absurda que só causa prejuízo ao ensino, a formação dos alunos e principalmente, que desqualifica cada vez mais o Ensino Superior do país.  O Brasil precisa de cientistas, mas a população precisa saber o que os cientistas andam fazendo e como estão fazendo as coisas e os cientistas não podem e nem devem ser as pessoas indicadas para falar diretamente com a população.

No que se refere a pesquisa científica é preciso esclarecer, de uma vez por todas, aos avaliadores do Ensino Superior que o Brasil necessita de pesquisa, de pesquisadores e de suas publicações, mas necessita principalmente que se divulgue essas pesquisas e que se popularize a ciência para que as comunidades possam compreender sua importância. Além disso deve ser lembrado que qualquer documento sério produzido por um professor deve ser considerado dentro de sua produção intelectual, pois isso faz parte do contexto do ensino superior.

Por outro lado, também é preciso ser entendido que nossa carência científica, antes de ser quantitativa é qualitativa e que a necessidade não é fazer muito, mas sim fazer bem. Não são os números que dirão se estamos no caminho certo, mas sim a qualidade do trabalho científico é que poderá nos levar a um patamar superior no cenário internacional. A mera consulta e consequente citação de um trabalho não credencia o trabalho em questão como algo muito importante e tampouco a não consulta e não citação de um trabalho deve ser necessariamente considerada como uma reprovação.

Por fim, é necessário ficar claro de uma vez por todas, que aquele professor que não é pesquisador não pode ser avaliado e entendido como sendo inferior aos colegas, apenas por não produzir ou não escrever artigos científicos em revistas indexadas, até porque sua tarefa, seja ela qual for, no ensino, na extensão ou mesmo na administração, certamente é um tarefa bastante relevante dentro do processo do ensino superior como um todo.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)

2 comentário(s)

  1. Infelizmente, nos nossos dias, a ciência se tornou mais um produto fabricado em um sistema fordista e com prazo de validade. Ciência demanda tempo, e as pessoas não querem esperar, o que torna grande parte das pesquisas um aglomerado de coisas e nada mais. O professor do Ensino Superior precisa se desdobrar para mostrar resultados e, na verdade, mal consegue ver os resultados em seus próprios alunos (“porque nós não queremos alunos, queremos seres autodidatas que precisam apenas de um auxiliador, não de alguém que detém o conhecimento”). Lamentável. Espero que possamos recuperar o espírito do que foi a ciência até algum tempo atrás.
    Parabéns pelas palavras, professor!

    Responder
    1. Minha cara Liliane, que bom quando se consegue encontrara alguém que fala a mesma língua que a gente. Eu tenho dito exatamente isso. Hoje qualquer um faz qualquer coisa muito rapidamente, sem nenhum conhecimento, e se diz pesquisador e aí surgem publicações e mais publicações… Entretanto não há pesquisa e assim não há avanço científico de fato. os professores estão preocupados em “produzir” e os alunos em “fazer currículo” e todo mundo “produz”, existe uma grande “Linha de Produção”, mas não existe Ciência.
      Muito obrigado pela leitura e pelo comentário.
      I

      Responder

Write a Comment