A Esculhambação com a nossa Língua Pátria II

A Esculhambação com a nossa Língua Pátria II

Resumo: O artigo tem como objetivo chamar a atenção do fato de que se está progressiva e perigosamente complicando e desvalorizando cada vez mais a nossa Língua Portuguesa, assim, é preciso fazer um alerta à sociedade brasileira sobre o risco lamentável que essa situação representa para a população e para o país.  


Há cerca de um mês atrás publiquei um artigo aqui mesmo nesse site, intitulado “A Esculhambação com a nossa Língua Pátria” e recebi vários comentários que faziam referências a uma questão que propositalmente evitei de comentar naquele momento. Porém, informei a todos que me interpelaram, que estaria fazendo outro artigo para abordar exatamente aquela questão que estava sendo solicitada. Bem, eis o artigo.

Depois que tivemos uma Presidente da República que se autointitulava “Presidenta”, mas que, para muitos, estava mais próxima de “Presidanta”. Espero que as antas que me perdoem pela comparação. Mas, creio que todos se lembram da imensa dificuldade, da citada “Presidanta”, em concatenar ideias, articular palavras e construir frases coerentes na língua portuguesa. Pois então, eis que surge agora um novo problema linguístico, para esculhambar de vez com o nosso idioma pátrio. Deus que nos perdoe e “São Rui Barbosa” que nos ajude a livrar de mais esse castigo, sugerido pelos “gênios do mal” que assolam esse país e que estão iludindo muitos e investindo seriamente nesta propositura absurda.

Certamente, o leitor já sabe que estou me referindo a pretensa relativação (minimização) do pronome indefinido “todo” ou “todos” (no plural), tornando-o definido ou menos abrangente em seu significado primário. Pois então, tem gente querendo que o pronome “todos”, agora possa ser sinônimo de uns, de alguns, de poucos e até de muitos, porém jamais terá o significado de total ou completo, será sempre parte de um contingente maior e mais abrangente, a não ser quando exclusivamente indicado ao gênero masculino.

Isto é, o “todo” agora só engloba uma parte, que é parte masculina, como ocorre com o seu feminino “toda”, que cabe ao gênero feminino, como, aliás, sempre aconteceu. Entretanto, agora surge um terceiro pronome “todes” ou “todxs”, que engloba os “demais pretensos gêneros linguísticos”, que NÃO EXISTEM e nem podem existir na língua portuguesa, até porque também inexistem na realidade biológica. Todos, todas, “todes”, todxs” “tutti” ou “toddy” dá tudo no mesmo, desde que não seja em português, mas na nossa boa língua portuguesa tem que ser todos.

Vejam bem, eu não estou me referindo aos gêneros humanos, que as pessoas normais e eu também só conhecemos dois. Entretanto, hoje em dia, tem gente que admite vários, mas esse é outro problema que discutirei mais à frente. De qualquer maneira, é preciso ficar claro que na língua portuguesa, nós não fazemos e nem devemos fazer esta distinção de pretensos gêneros, porque, de fato, ela não nos leva a lugar nenhum. Ora, isso só pode ser brincadeira e de muito mal gosto, além de ser uma tremenda irresponsabilidade e uma falta total de conhecimento da língua portuguesa.

Das muitas bobagens que algumas pessoas, que infelizmente ainda existem na sociedade brasileira, desocupadas e pouco preocupadas com as questões mais sérias que o país enfrenta, agora também existe essa questão, que, embora recente, já está causando conflito em alguns setores. A tão comentada questão da pretensa inclusão de um pronome neutro na Língua Portuguesa, que alguns desses ilustres idiotas estão defendendo, não passa de uma grande absurdo. Essa ideia, concentra tanta incoerência e tolice que está deixando muita gente boa e séria efetivamente incomodada e com uma pulga atrás da orelha, haja vista que vivemos no país do absurdo.

Vejam bem meus amigos, a Língua Portuguesa não pode simplesmente ser mudada porque alguns “gênios do mal” querem ou pensam que isso deva acontecer. A última flor do Lácio, no dizer de Olavo Bilac, não merece esse tipo de tratamento, por gente que, pelo que se vê, não conhece realmente nada de Português e quer falar da maneira como bem entende, usando a língua no seu interesse particular. Aliás, peço vênia, porque acredito que essas pessoas possam realmente falar da maneira como bem entenderem, porém, o que elas certamente não podem, é querer que essa idiotice seja assumida compulsoriamente pelas demais pessoas do país e quiçá do mundo, que têm o Português como língua oficial.

O pior de tudo é que a questão deriva de outra, ainda mais absurda e ilógica, que a ideia dos vários gêneros humanos, o que, obviamente, não existe, como já citei acima. Mas, cabe explicar melhor. A espécie humana é bissexuada (com dois sexos) e com dimorfismo sexual bastante evidente na maioria das vezes. Desta maneira, assim como outras espécies dioicas, apresenta dois tipos morfológicos fundamentais de indivíduos: o masculino e o feminino. Aliás, é bom que se diga que em toda a natureza só existem, de fato, dois sexos e dois gêneros. Qualquer coisa diferente disso é balela e não cabe nenhuma discussão séria.

O problema ocorre porque alguns dos “gênios do mal”, defensores dessa ideia maluca, conseguiram incutir na mente de alguns de seus seguidores que na espécie humana existem vários gêneros, possivelmente para que fosse possível tentar justificar suas respectivas e diferenciadas opções sexuais. Deste modo, cada opção se achou no direito de requerer o status de um gênero diferente para a sua condição sexual e acredita que uma “simples” mudança linguística resolveria o problema, no que diz respeito a maneira específica de tratar ou de se referir as pessoas envolvidas nessa questão.

Vejam bem, que fique claro que eu não tenho absolutamente nada contra a opção sexual de quem quer que seja e respeito todas as pessoas como pessoas, independentemente da raça, da religiosidade, da condição social e principalmente de como, de onde ou com quem se relacionem ou durmam.  Aliás, muito pelo contrário, entendo que cada um tenha realmente o direito de optar pela orientação sexual que quiser, porque acredito que toda e qualquer pessoa deve ser, antes de qualquer coisa, livre e respeitada como pessoa e tratada de maneira igual a todas as demais pessoas. Assim, ressalto que minhas referências aqui estão relacionadas única e exclusivamente com a integridade da língua portuguesa escrita e falada, que é a única língua oficial do Brasil.

Por outro lado, deve estar bem claro também, que a língua não pode ser utilizada como mecanismo orientador de resolução ou mesmo de simples minimização de conflitos e questões sociais menores, pois a amplitude linguística é maior, já que ela é para todos e não apenas para alguns. Grupos étnicos ou grupos sociais diferentes podem, devem e muitas vezes têm linguagens diferentes entre si, mas eles não podem impor as suas respectivas linguagens aos outros grupos.

Uma minoria social não pode condicionar grandes mudanças linguísticas apenas por simples vontade, capricho ou pirraça. Aliás, se isso virar moda teremos tantos idiomas quantos forem os diferentes grupos sociais. Desta maneira, sugiro aos interessados, que usem a linguagem que quiserem, mas não tentem mudar aquilo que não faz sentido à língua pátria e à grande maioria da população que, até aqui tem se entendido muito bem, na língua que conheceram e assumiram cultural e historicamente.

Apenas para lembrar, devo dizer que, no mundo, a Língua Portuguesa existe oficialmente há mais de 800 anos, quando foi feito, em português, o Testamento do terceiro Rei de Portugal (Dom Afonso II), que assim oficializou documentalmente a língua, em 1214. Entretanto, cabe ressaltar que o português falado remonta aos séculos VI ou VII e deste modo, tem cerca de 1.500 anos. Quer dizer, a língua tradicional é um patrimônio nacional e não deve ser utilizada como um mero objeto de interesse de alguns. Como disse Fernando Pessoa: “minha pátria é minha língua”.

Nossa língua portuguesa é bastante antiga e não vai ser um modismo qualquer, nem uma questão semântica particular do interesse estrito de algumas pessoas do final do século XX ou do início do século XXI, que poderão modificá-la e deformá-la arbitrariamente. Qualquer mudança na língua portuguesa só poderá ser estabelecida após o uso consumado pela população nativa e depois de muitas discussões e acordos linguísticos internacionais entre os linguistas dos vários países lusófonos. É preciso ter em mente que a língua oficial de uma país vai muito além dos meros interesses grupais e com a língua portuguesa isso, obviamente, não é diferente.

Portanto, é importante que aqueles que continuam querendo propor mudanças no idioma entendam que essa é uma tarefa complexa que envolve outras questões, além da própria questão linguística. Particularmente, quando se trata de uma língua como a nossa, que hoje está distribuída em 4 continentes (Europa, América, África e Ásia) em nove países e em alguns estados isolados e insulares, essas questões passam a ser muito mais complicadas. Além disso, a língua portuguesa é a nona mais falada no mundo por falantes totais e a quarta mais falada no mundo por falantes nativos, segundo a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP (05/05/2022) e assim as possíveis mudanças envolveriam muita gente (cerca de 300 milhões de pessoas).

Desta maneira, baseado na dimensão e nas complexidades relacionadas com a língua portuguesa, pessoalmente não acredito que a maioria dos países envolvidos na questão vai concordar em mudar o idioma, somente por conta do interesse específico e, talvez, sem fundamento, de um determinado e pequeno grupo de pessoas. Até porque, historicamente, os países sempre procuram agir de maneira conservadora e assim contrária a esse tipo de situação proposta. Ou seja, os países costumam considerar como prioritários os interesses gerais da própria língua e sua devida significância para a maioria da comunidade lusófona.

Se não bastasse isso, ainda tem uma questão eminentemente técnica e bastante importante. Talvez, a mais importante de todas. A língua portuguesa não possui um pronome neutro na sua concepção e por isso não há necessidade de um sujeito quando se emprega um verbo impessoal. Já a língua inglesa, por exemplo, possui um pronome neutro e assim, mesmo no uso de um verbo impessoal, sempre existe a necessidade de um sujeito e aí que entra o substantivo neutro “it”. Por exemplo, em português você diz, “está chovendo” (sem sujeito porque chover é impessoal) e em inglês você diz “it is raining” (com o pronome “it” como sujeito).

A explicação acima implica no fato de que a mudança pensada pelos “gênios do mal” não é simplesmente criar um pronome neutro, mas mudaria muita coisa em toda a língua, como consequência desse fato. Na verdade, acabaria tendo que ser criada outra língua, muito diferente do atual português, porque haveria interferência em quase toda a estrutura linguística. Assim, talvez a melhor solução para esse pessoal interessado no pronome neutro, seja efetivamente aproveitar a língua inglesa e utilizá-la como sendo a sua “língua oficial”, porque aí não haveria nenhum impedimento e tampouco seriam criados problemas adicionais.

Com certeza ninguém reclamaria, porque o inglês já é a língua oficial do planeta e como esse pessoal quer mesmo é aparecer, eu acredito que aparecer em inglês é melhor, porque, além de ser inglês, atinge mais gente, aparece mais e dá mais status.  Entretanto, é importante salientar que isso levará necessariamente os interessados a outro grande problema, que é a necessidade de saber a língua inglesa. Pois então, se grande parte desse pessoal não costuma saber nem o próprio português que é romano e nativo, certamente o pessoal deverá ter muito mais problemas para aprender o Inglês que é exótico e germânico.

Bem, mas essa é outra história e certamente esse não é um problema meu, nem dos demais brasileiros que falam e querem continuar falando o bom e tradicional português nativo, a língua de Camões, sem desenvolver nenhum absurdo linguístico. Aquele português com dois gêneros e onde a citação do gênero masculino engloba o feminino nos empregos coletivos, sem invenções e sem tolices, como um pretenso “machismo da língua” e que não mudam absolutamente nada no relacionamento entre as pessoas, os seres humanos, independentemente de opção sexual, e que realmente não podem levar a lugar nenhum.

Aliás, bobagem por bobagem, se houvesse machismo linguístico de fato, deveríamos chamar de “o língua portuguesa” ou masculinizar o termo língua, criando “o línguo português”. Fica estranho, não é? Pois então, isso é tão ilógico e sem nexo quanto “todes” ou “todxs”, como está sendo proposto por alguns.

Se quisermos verdadeiramente sugerir mudanças linguísticas importantes, acredito que primeiro devemos começar por alfabetizar todas as pessoas em língua portuguesa, o que lamentavelmente ainda está muito longe de acontecer em nosso país. Sabemos que jovens saem do nono ano do Ensino Fundamental sem nenhuma alfabetização, passam pelo Ensino Médio tentando aprender um pouco da língua e chegam às Faculdades semianalfabetos, sendo incapazes de interpretar os textos que têm que ler. Além disso, não se posse deixar de citar o fato de que infelizmente a maioria das pessoas desse país escreve errado e fala errado. Essas questões sim é que nós efetivamente precisamos mudar e corrigir, para o bem das pessoas e do país.

Quer dizer, já temos preocupações reais, maiores e antigas com a língua portuguesa e não faz sentido produzirmos outras por puro capricho. Depois que resolvemos nossos problemas básicos e fizermos o nosso dever de casa, aí sim, poderemos aprender ou discutir qualquer coisa sobre a língua portuguesa e até fazer algum diletantismo sobre a nossa bela e importantíssima língua nativa. Mas, por enquanto, eu continuo achando que essa ideia da criação e inclusão de um pronome neutro na língua portuguesa, consiste numa tolice, que não pode e certamente não vai prosperar.

Quero crer que o problema maior não esteja na língua, o problema maior está nas pessoas e nas suas índoles, que as levam a querer a todo custo satisfazer as suas próprias necessidades e interesses, independentemente da coletividade. Muitas agem pensando que são as “donas do mundo” e que podem estabelecer qualquer critério para qualquer atividade ou situação que queiram, mas a verdade é que as coisas não podem acontecer assim.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66), Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

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