Tag: Sustentabilidade

13 dez 2014

O Lixo na Natureza e a Guerra Homem X Terra

Resumo: O Professor Luiz Eduardo recupera um artigo que escreveu faz algum tempo e nos leva a refletir sobre a questão do lixo que nós humanos produzimos e os malefícios que isso traz para o planeta e para nós mesmos. O artigo chama a atenção para o fato de que hoje existe muitas resoluções tecnológicas para a maioria dos problemas que causamos, mas parece, mais uma vez, faltar vontade política de resolver as pendências nessa área. A Política Nacional de Resíduos Sólidos que deveria ter entrado em vigência em agosto passado, ainda se encontra em discussões sobre sua impossibilidade de aplicação pela maioria dos municípios brasileiros e com isso nada se faz. Entretanto, é preciso que as faça alguma coisa e o texto está aí para lembrar que esse assunto não é novo, assim como a falta de vontade política de parte dos governantes desse país.


O Lixo na Natureza e a Guerra Homem X Terra

Todos os organismos vivos sem exceção, de uma forma ou de outra, se utilizam de recursos naturais para sobreviver e todos eles também produzem resíduos. Neste artigo vamos chamar generalizadamente os recursos naturais de “matéria prima” e os resíduos de “lixo”. Em geral, o lixo produzido por qualquer organismo vivo é de alguma maneira degradável e por conta dos mecanismos naturais acaba voltando ao sistema como fonte de matéria prima para novamente ser utilizado nos ciclos biogeoquímicos naturais e servir outra vez para os organismos vivos do ecossistema onde está sendo descartado. Assim, em condições naturais, como todo lixo é reaproveitado, não há acumulo do lixo produzido por praticamente nenhum organismo vivo, exceto o lixo produzido pelos organismos humanos.

Lamentavelmente, o caso humano é muito diferente. Somos uma espécie extremamente curiosa, inteligente, obreira e criadora, que tem a capacidade de modificar certos padrões naturais e mesmo de inventar novos padrões para satisfazer os nossos interesses imediatos. Por conta dessa nossa capacidade criadora cada vez maior, do nosso desenvolvimento científico e tecnológico progressivamente apurado, quimicamente nós somos capazes de criar artificialmente inúmeras substâncias novas e, o que é pior, o poder de resiliência do planeta Terra ainda não conseguiu recuperar e reaproveitar muitos dos ingredientes químicos encontrados nessas substâncias que nós temos fabricado.

Infelizmente, nós inventamos certos lixos que a natureza ainda não conhece e que, por isso mesmo, ela não sabe lidar com os mesmos e assim, geralmente não tem como degradá-los para serem reutilizados como matéria prima. Mesmo quando a natureza consegue produzir algum tipo de degradação, esta costuma ser muito demorada e não é possível o reaproveitamento daquele lixo como matéria prima ainda por bastante tempo. Desta maneira, nós humanos, minimizamos os recursos da natureza, tanto para nós, quanto para os demais organismos vivos, pois diminuímos potencialmente a ação naturalmente recicladora do planeta. Em suma, nós utilizamos (consumimos) os recursos naturais (matéria prima) e nem sempre devolvemos um resíduo (lixo) em condições de ser reaproveitado pelos ecossistemas naturais.

Parece incrível, mas o excesso de lixo é certamente o segundo maior problema que encontramos para a nossa continuidade como espécie viva no planeta Terra. O primeiro, obviamente, é o crescimento demográfico de nossa população, do qual decorrem todos os outros problemas, particularmente o aumento acentuado do lixo. Enquanto não controlarmos o nosso crescimento populacional, tudo sempre será muito mais difícil, em alguns casos será realmente impossível. Isso quer dizer que: o nosso segundo problema é a principal consequência do primeiro e se não resolvermos o primeiro, não teremos como resolver o segundo e também todos os outros que se sucedem.

Mas, a boa notícia é que hoje temos tecnologia para quase todos os males que cometemos. Seguramente 80 a 90% de todos os males causados pelo impacto humano sobre o planeta já têm possibilidade de serem solucionados. Isto quer dizer que a mesma tecnologia que nos trouxe os males, também já desenvolveu mecanismos capazes de minimizar ou mesmo extinguir esses males na grande maioria dos casos. Mas, então por que nós simplesmente não acabamos com os problemas e voltamos a viver em paz com o planeta e com as demais criaturas vivas?

Penso que a resposta para esta questão está relacionada com quatro aspectos: primeiro porque nós já ocupamos espaços demais da Terra com nossa grande população e com tudo que com ela se relaciona; segundo porque precisamos diminuir bastante as diferenças sociais criadas entre os homens ao longo do tempo; terceiro porque precisamos realmente assumir a importância vital dessa questão e querer resolver os problemas de fato e quarto porque necessitamos desenvolver ações de governança que invistam e promovam políticas públicas compatíveis com as reais necessidades das populações humanas, independentemente de custos econômicos. Temos que esquecer, coletivamente, algumas coisas que valorizamos muito, mas que não têm grande importância para a nossa vida e, por outro lado, temos que começar a nos envolver em novos valores que sejam de significado vital para nossa espécie. Esse ideário necessariamente passa por uma mudança de filosofia, que deverá produzir uma mudança de atitude e que finalmente promoverá a uma mudança de comportamento.

Embora isso, em tese, pareça ser relativamente simples, na prática essa questão é bastante complicada, até porque muitos dos governos não estão fazendo e nem têm a pretensão de fazer o dever de casa. Além disso, porque infelizmente a maioria das pessoas não está disposta a modificar os seus hábitos de pensar e consequentemente de agir. De um modo geral, ninguém está muito disposto a fazer coisas diferentes, principalmente no que diz respeito a perder determinados “confortos” que foram adquiridos ao longo da história. Em particular, o grupo dos grandes empresários que detém a maior parte dos recursos econômicos necessários para efetivar as ações, aparentemente, são os menos interessados em resolver os problemas, até porque a maioria dos representantes desse grupo acredita ser os que mais “perderão” com as mudanças.

Infelizmente nossa sociedade não está preparada para o que precisa ser feito e muitos ainda acham que as questões relacionadas com o meio ambiente são balela que não têm nenhum significado e que dinheiro, poder e conforto são efetivamente as únicas coisas que importam à humanidade na busca constante da felicidade. Nossas crenças erradas e nossos maus hábitos não serão facilmente apagados do pensamento coletivo de nossa espécie de uma hora para outra, porém, precisamos começar a pensar diferente. Toda essa mudança é um processo e todo processo é sempre gradativo. Mas, o tempo é insensível, implacável, severo e não para.

De qualquer maneira, nós necessitamos começar o mais rápido possível a fazer algumas coisas que possam minimizar os problemas, porque temos pouquíssimo tempo para tentar solucionar esses problemas, até porque grande parte da situação já está fora de controle. Já superamos em cerca de 30% a capacidade de utilização do planeta e por isso mesmo, já faz algum tempo que estamos efetivamente em guerra contra o planeta. A Terra, por sua vez, também já começou a se defender e em certo sentido está nos contra atacando. Ultimamente as batalhas têm sido muito ruins para nós humanos. As catástrofes são cada vez maiores em tamanho e piores em efeito.

Apesar de todo estrago que fizemos ao longo do tempo, nós não conseguimos e certamente não conseguiremos destruir o planeta, mas aos poucos ele está dando o troco, porque ao tentar se defender de nós, ele agora já está nos destruindo. Quer dizer, como já era esperado pelos mais sensatos, nós estamos começando a perder a guerra. O tempo para o planeta é quase eterno, mas para nós é extremamente curto e passageiro. Assim, ou mudamos de atitude e de comportamento ou simplesmente perecemos. Essa guerra não terá fim, enquanto nós não começarmos a trabalhar e auxiliar na recuperação do planeta. Portanto comecemos logo a fazer o dever de casa, pois a metade ainda cheia da ampulheta para a manutenção da vida humana no planeta está rapidamente se esvaziando. Vamos jogar a tolha e nos associarmos a Terra, enquanto ainda temos oportunidade de termos uma derrota honrosa, com vida. Do contrário, estaremos fadados a uma extinção precoce e extremamente próxima de nossa espécie.

Há urgência na resolução dos problemas e por isso mesmo precisamos partir para resolver aqueles que podem ser resolvidos mais rapidamente. O lixo humano, na minha maneira de entender, é a coisa mais fácil de ser controlada pelos governos e precisamos investir arduamente na tecnologia existente e no desenvolvimento de novas tecnologias para não aumentar a sua produção. A diminuição progressiva do tamanho das populações humanas, obviamente é algo mais complicado, porque é dependente de outros fatores, inclusive aspectos de cunho religioso, mas depende principalmente da vontade humana e precisa ser objeto de pauta e de trabalho dos governos. Com certeza, esse problema levará mais tempo para ser controlado, mas obviamente também deverão ser empregados esforços imediatos na tentativa de resolução dessa questão.

Não tenho dúvidas de que será muito difícil, mas também não tenho dúvidas de que a humanidade viveu dias muito ruins em outros momentos da sua história e até aqui, tem conseguido sobreviver. Estamos precisando apenas de um pouco mais de interesse de todos, de seriedade dos governos, de envolvimento real dos empresários e de empenho e participação das sociedades, para que possamos garantir a sobrevivência de nossa espécie e a qualidade de vida que as populações futuras são merecedoras.

Diz o ditado que: “o futuro a Deus pertence.” Entretanto, eu prefiro acreditar que o futuro se faz e se garante com as ações corretas do presente. Tenho certeza que Deus não vai se importar se começarmos a programar bem o nosso futuro. Aliás, creio mesmo que, ao contrário, se trabalharmos corretamente, Deus nos auxiliará e nos garantirá um futuro com qualidade de vida e com o planeta que desejamos. Se fizermos as ações certas hoje, certamente estaremos muito bem amanhã.

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06 dez 2014

Qualidade de Vida e Continuidade da Espécie: uma Questão de Escolha

Resumo: Considerando que na vida temos que fazer escolhas, nesse artigo o Prof. Luiz Eduardo, através de algumas analogias interessantes e lembrando que já perdemos tempo demais fazendo coisas erradas, propõe que façamos uma reflexão de nossa postura histórica e que optemos por uma nova escolha que priorize o planeta e a vida, pois só assim garantiremos a sustentabilidade e continuidade de nossa existência aqui na Terra.


Qualidade de Vida e Continuidade da Espécie: uma Questão de Escolha

Dizem que a vida é feita de escolhas e segundo algumas religiões, nós escolhemos até mesmo os locais e as família onde queremos nascer e crescer. A partir daí, dessa escolha, desenvolvemos toda nossa vida, procurando atender aos compromissos planejados enquanto ainda estávamos na “outra dimensão”. Bem, se isso for mesmo verdade, eu acho que eu transcendi o limite do imaginário ou fui além daquilo que os “indivíduos normais” da espécie humana podem efetivamente oferecer a si mesmos e aos seus semelhantes, porque tenho certeza que penso de maneira muito diferente a maioria dos seres humanos que conheço. Ou então, simplesmente fiz a escolha errada ao ter nascido. Ou, melhor ainda, quem sabe a escolha certa teria sido exatamente, não ter nascido. Mas, eu sou muito teimoso e acabei nascendo.

Digo isso também, porque eu estou realmente bastante preocupado com o caminhar da humanidade e dos cuidados que ela tem tido com o planeta. Tenho feito a minha parte, tentando informar e difundir as ideias, nas quais acredito piamente. Isto é, de que precisamos tratar bem os demais humanos e todas as demais criaturas do planeta e sobretudo, de que precisamos proteger o planeta e salvaguardar o patrimônio natural, antes que seja tarde demais. Ajo assim, já faz mais de 40 anos e ainda não perdi a esperança. Quer dizer, eu ainda não mudei a minha escolha.

Bem, mas vamos deixar minha situação pessoal de lado. Não importam as elucubrações que podemos e que, em alguns casos, até devemos fazer, mas é fundamental e verdadeiro que, de qualquer maneira, tanto a vida real, quanto a vida fictícia, são feitas efetivamente a partir das escolhas que fazemos. Por conta disso, alguns de nós continuamos agindo ativamente pela melhoria da qualidade de vida e pela continuidade de nossa espécie no planeta Terra.

Pois então, ao que parece, a maioria dos seres humanos, pelo menos até o momento presente, tem feito sempre escolhas erradas, no que diz respeito ao planeta Terra e à continuidade da vida nele existente, inclusive e principalmente, a vida da nossa espécie. Temos caminhado sempre na contramão dos interesses planetários e dos nossos interesses evolutivos, o que nos coloca na condição de infratores e talvez até mesmo criminosos, haja vista que trafegar na contramão é uma infração grave, prevista pelo Código Nacional de Trânsito.

Será que gostamos de viver perigosamente e que temos realmente uma tendência natural para o mal? Será que Konrad Lorenz* estava efetivamente correto, quando afirmou que nossa espécie é naturalmente agressiva e que temos evoluído em consequência dessa agressividade? Sinceramente eu não sei, mas prefiro acreditar que haja mais alguma coisa além dessa simples proposta da Genética Evolutiva no nosso modo de ser. Não creio somente na arrogância e na agressividade como mecanismos básicos para a evolução da vida humana, até porque esse padrão não tem sido comprovado integralmente na natureza.

Por outro lado, eu também não penso que Lorenz esteja totalmente errado, até porque existem indivíduos efetivamente de má índole na nossa espécie. Assim como, também existem maças podres e más formações genéticas em outras espécies de organismos vivos. Entretanto, nem mesmo os predadores mais ferozes e letais são organismos de má índole, pois suas respectivas ações ferozes terminam quando suas fomes (seus desejos maiores) são saciados.

Pois então, é exatamente nesse ponto que eu penso que os seres humanos são bastante diferentes das demais espécies animais. O desejo humano é progressivamente crescente e não parece ter fim. Isto é, a “fome humana” não sacia jamais. Nós queremos sempre mais e tomara que aja alguém ou algo para nos possa fornecer um pouco mais daquilo que queremos.  O desejo humano parece não ser nada de específico, pois apenas temos uma vontade absurda de gerar outros humanos e obter sempre algo mais de qualquer coisa que quisermos. Isto é, nossos desejos (“nossa fome”) são reproduzir e consumir.

Ao que parece, somos naturalmente “máquinas reprodutoras cosmopolitas” e “maquinas consumistas contumazes”, que resolvemos historicamente ocupar e consumir o planeta Terra e estamos trabalhando com todo afinco possível nessa direção, pois cada vez reproduzimos mais, aumentando absurdamente a população humana planetária e consumimos os recursos planetários sem nenhuma coerência ou parcimônia, como se eles fossem infinitos. Reproduzimos e consumimos efetivamente sem nenhuma preocupação ou critério, como qualquer criança brincando com o presente novo no dia de natal.

Crescemos a população de maneira absurda e matematicamente improvável. Ocupamos os espaços mais diversos de maneiras mais diferentes, usando esses espaços ao nosso bel-prazer, sem nos importarmos com o que antes lá havia. Acabamos com inúmeras áreas de vegetações naturais e extinguimos grande quantidade de espécies animais e vegetais. Exaurimos indiscriminadamente muitos dos recursos minerais, alguns por puro diletantismo. Praticamente exterminamos todo carvão mineral para produzir energia e estamos usando inadvertida e perigosamente o petróleo e os gases naturais do subsolo. Nossa última vítima tem sido as reservas de água doce, a qual, já que não podemos efetivamente acabar, estamos degradando, poluindo, contaminando e modificando drasticamente, à custa de nossa própria desgraça.

Enfim, “nossa fome” é progressiva e não termina nunca. Continuamos reproduzindo e aumentando a nossa mancha sobre o planeta. Ocupamos, matamos, destruímos e vamos em frente, sem querer olhar para trás, a fim de que possamos enxergar o tamanho da destruição que estamos cometendo.  Na verdade, não olhamos nem para trás e nem para frente, porque ali na frente vai acabar tudo mesmo, inclusive nós, porque não teremos mais de onde tirar nada e sem “comer” não poderemos nem reproduzir. Assim, os nossos “brinquedos” estarão todos quebrados.

Entretanto, como dissemos no início do texto, a vida é feita de escolhas e eu penso que temos que escolher outros “brinquedos”, outras coisas para destruir, porque o planeta, que é único, já tem dado inúmeros sinais de que não aguenta mais a nossa incomoda maneira de viver. O pior é que o planeta tem “reclamado” bastante de nossas “brincadeiras” e tem, até mesmo, se “aborrecido seriamente” com algumas dessas atividades desagradáveis e produzido, em contra partida, algumas respostas catastróficas. Mas, nós continuamos “dando de ombros”, como se não tivéssemos nada a ver com o problema.

Então, será que já não está na hora de, finalmente, fazermos uma escolha certa e de começarmos a parar de reproduzir e de consumir aleatoriamente? Será que já não temos que arrumar outros desejos menos perigosos e mais prazerosos ao planeta e a nós mesmos?

Ao que parece, as escolhas que fizemos até aqui, já não são mais viáveis e precisamos de um novo modelo de vida e obviamente para isso temos que ter novos desejos. Precisamos de modelos de desejos que garantam a tão falada e pouco entendida sustentabilidade. Nossa espécie só terá continuidade na Terra com o desenvolvimento de práticas sustentáveis doravante.

Como dissemos no início, tudo é uma questão de escolha. O caminho certo nós já sabemos que não é esse que temos trilhado e que nos trouxe até aqui. Mas, será que nós, seres pensantes, vamos continuar fazendo a escolha errada? O que acontecerá com aqueles seres humanos mais jovens, os nossos filhos e netos, que já colocamos no mundo?

Bem, independentemente da escolha que fizermos, o tempo certamente nos dará a resposta. Entretanto, é bom lembrar que o tempo não tem escolha e ele é nosso grande adversário, porque além de estar sempre correndo, infelizmente ele corre contra nós.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Referência Bibliográfica
*LORENZ, K., 1963. A Agressão: uma História Natural do Mal, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
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23 nov 2014

Consumo e Costumes Errados

Resumo: Nossa abordagem está mais uma vez relacionada ao consumismo e suas consequências desagradáveis ao planeta e a nós mesmos. Dessa vez estou me atendo um pouco mais a respeito da influência nefasta da mídia sobre a opinião pública incentivando cada vez mais o consumo e, por outro lado estou chamando a atenção para as respostas catastróficas que o planeta tem dado em relação às nossas ações. Além disso, estou sugerindo uma mudança de hábitos urgentemente para garantirmos nossa continuidade aqui na Terra.


Consumo e Costumes Errados

Não sei o porquê, mas nós humanos temos naturalmente uma tendência a nos atrairmos pelo que é belo e fútil e de nos esquecermos das coisas não tão belas, mas que muitas vezes são úteis e extremamente necessárias. Nossa dificuldade em entender e discernir entre o que é necessário e o que é acessório parece ser cada vez mais incontrolável e assim a maioria de nós se acostumou a simplesmente continuar consumindo as coisas, havendo ou não necessidade. Parece que consumimos pelo simples prazer de consumir ou que assumimos um terrível vício compulsório de consumir indefinida e desesperadamente.

O homem, particularmente aqui, do lado ocidental do planeta, histórica e independentemente do país e do regime político imperante no local onde ele esteja, quase sempre consome de forma errada, ou seja, contra os seus próprios interesses econômicos e principalmente contra os interesses ecológicos planetários. Entretanto, embora tardiamente, parece que mais recentemente, alguns de nós estamos acordando para esse detalhe importante e tentando nos redimirmos dessa situação comprometedora que criamos para nós mesmos e que tem favorecido cada vez mais ao aumento da degradação ambiental e do desperdício e que consequentemente tem posto o planeta e a nossa espécie em risco cada vez maior.

Nosso hábito de consumir, por si só, já não é algo que mereça muito crédito, porque quase sempre consumimos de maneira errada. Além disso, quando se trata de consumir exageradamente e esbanjar recursos naturais sem nenhum critério, o consumo passa a ser uma ação drástica e temerária aos interesses planetários. Na maior parte do mundo ocidental, o capitalismo incentivou tanto o consumismo, que ficamos reféns da necessidade do consumo para continuarmos a manter os empregos e a suficiência econômica.

Temos visto de tudo ó que é possível para o incentivo ao consumo. A Propaganda e o “Marketing” nos ludibriam e entram nas nossas casas nos impelindo a consumir. As crianças têm sido os alvos principais para convencer os mais resistentes ao consumo exacerbado e assim quase ninguém resiste. Infelizmente ainda não temos uma legislação específica que possa coibir esse crime contra a sociedade, mas isso precisa existir brevemente.

É bem verdade que o homem como qualquer espécie planetária precisa de alimentos e de território. Além disso, nós humanos, também precisamos mais especificamente comer, beber, morar, descansar, construir e vestir. Entretanto, não precisamos comer a comida mais cara todos os dias, beber as bebidas mais sofisticadas todos os dias e muito menos comprar roupas novas todos os dias ou ter duas ou mais casas para morar. Mas, é assim que a maioria de nós age, não se satisfazendo com o que tem e querendo sempre ter mais, independentemente de sua necessidade individual, ou mesmo familiar. Assim, o consumo não para. O planeta, as demais espécies vivas e os futuros humanos (aqueles que ainda não nasceram) que se danem para suportar a nossa pressão exploratória e o impacto ambiental progressivo e insano que temos causado a todos.

Estamos viciados em consumir recursos naturais, independentemente de avaliarmos a verdadeira necessidade de quaisquer que sejam esses recursos. Hoje já acabamos com alguns recursos naturais não renováveis, já estamos quase ultrapassando o limite de 50% daquilo que é possível ao planeta regenerar naturalmente, ou seja, os recursos renováveis, e estamos prestes a não conseguir os níveis mínimos de suprimento alimentar e de água potável que precisamos para sobreviver, pelas mais diversas situações.

Agora o planeta também já está cansado e não aguenta mais a nossa pressão exploratória e a nossa apropriação indevida. Alguns alimentos já começam a faltar, a água está ruim e está até mesmo escassa ou ausente em várias regiões. Muitas matérias primas já desapareceram totalmente e outras estão com os dias contados.

Como vamos fazer? Continuaremos comprando bolsas, tênis, sapatos e vestidos, mas morreremos de fome e sede? Continuaremos comprando vinhos e cervejas, mas morreremos de sede? Continuaremos comprando casas e carros, mas não teremos onde morar?

A situação está efetivamente muito complicada. Temos tudo por um lado e não temos nada por outro. O “rei consumo” e o “príncipe dinheiro” não nos permitem resolver as questões mais fundamentais para continuarmos a nossa existência, exatamente porque consumimos mais do que podíamos e muito acima do que devíamos.  Agora nosso caminho, que sempre seguiu na contramão dos interesses planetários, segue também na contramão de nossos próprios interesses como espécie viva. Não sabemos mais se conseguiremos resistir às pressões que nós mesmos impusemos ao planeta e a nós mesmos longo da história. Até porque o planeta também já vem reclamando e, de várias formas, ele está nos dizendo: “parem que eu não aguento mais”.

Diz o ditado que: “o futuro a Deus pertence”. Será que é isso mesmo ou será que nós mesmos deveríamos ser os protagonistas de nosso futuro. Deus talvez nem saiba ao certo sobre todos os males que temos causado ao nosso “planetinha azul”. De qualquer maneira, o futuro está aí batendo à nossa porta e nós estamos com medo de abri-la, porque não sabemos mais o que vai acontecer, pois perdemos o norte e não temos mais controle sobre a maioria das coisas. O aquecimento global é um fato que está aí. As catástrofes e eventos extremos são cada vez maiores e mais significativas. Os desastres ambientais matando seres humanos são cada vez mais comuns.

Em suma, considerando que somos a única espécie pensante e capaz de mudar, precisamos trabalhar no sentido de rever a nossa lógica de prioridades e voltar, enquanto ainda há tempo, para critérios que satisfaçam ao planeta, aos demais organismos vivos do planeta e a nós humanos, pois se mudarmos esta ordem de critério não teremos mais saída desta cilada em que nós mesmos nos inserimos. O uso de recursos naturais tem que ser feito a partir da efetiva necessidade desses recursos, para o nosso bem e principalmente para o bem do planeta e das gerações futuras. É preciso mudar costumes e gerar novas formas de consumo, que considerem prioritariamente a sustentabilidade planetária como mecanismo único a ser levado em consideração.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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15 nov 2014

Desenvolvimento Sustentável X Consumo (In) Sustentável

Resumo: Nosso texto desse sábado diz respeito ao consumismo e suas consequências maléficas à Sustentabilidade e assim à humanidade e ao planeta como um todo. O consumo exacerbado da sociedade moderna precisa ser freado para que os recursos naturais possam ser preservado para as gerações futuras. O poder excessivo de compra precisa ser, de alguma maneira, controlado e o consumo deve limitar-se ao necessário. Nossa cultura esbanjadora necessita ter um fim, antes que seja tarde. A Sustentabilidade e Consumo Excessivo são coisas totalmente antagônicas e se quisermos efetivamente uma delas, teremos que abri mão da outra.


Desenvolvimento Sustentável X Consumo (In) Sustentável

Ultimamente o que mais se ouve falar são as expressões Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade. Entretanto, essa coisa de Desenvolvimento Sustentável, além de não ser tão simples assim, ainda esbarra no forte interesse comercial imperante e no consumismo consequente desse interesse. Infelizmente, embora seja necessária, a Sociedade Moderna ainda não está preparada para a verdadeira Sustentabilidade.

Como é possível falar em Sustentabilidade se os padrões de produção e consumo continuam sempre aumentando indiscriminadamente, se a população continua aumentando descontroladamente, se o lucro continua sendo o objetivo primário de toda a Sociedade? Ora, como falar de Sustentabilidade sem pensar em Conservação de Recursos Naturais? Como falar de Sustentabilidade se só pensamos em gerar energia inundando lugares ou queimando alguma coisa, ou ainda, o que é pior, fundindo núcleos de átomos radiativos? Como falar de Sustentabilidade sem objetivar o controle de resíduos? E principalmente, como falar de Sustentabilidade sem conter o Consumismo exacerbado que se instalou no mundo, por conta de uma visão caótica e deturpada da realidade planetária e de uma cultura errônea e autodestruidora?

A maioria de nós, humanos, somos manobrados e ludibriados por interesses estritamente econômicos e fazemos exatamente o que esses interesses querem. Fazemos dos desejos deles, os nossos desejos e assim somos marionetes na mão dos grandes grupos econômicos, que só objetivam o lucro. Nossas casas são invadidas todos os dias por uma infinidade de propagandas, a maior parte delas mentirosas, e nós como ovelhas desgarradas do bando não resistimos à tentação, somos levados a fazer aquilo que não devemos e o lobo nos engloba e se alimenta de nossa carne. O pior é que muitos (infelizmente a maioria) de nós, ainda acham que isso é um bom negócio.

Talvez o meu exemplo, o predatismo do lobo com a ovelha, não seja o melhor exemplo para explicar o que realmente acontece, por dois motivos: primeiro porque o lobo mata a ovelha imediata e instantaneamente para se alimentar; segundo porque que o lobo só mata a ovelha para porque precisa comer para sobreviver. Um exemplo de parasitismo, talvez seja mais verdadeiro. Pense numa solitária que cresce quase que indefinidamente dentro de um homem, mas que não quer matá-lo, porque a morte do homem é a sua morte também. Assim a solitária vai minando o homem, até que ele acaba mesmo morrendo, porém numa situação doentia deprimente e a solitária já viveu bastante para reproduzir milhões de filhos. A propaganda faz exatamente isso conosco, ela não quer nos matar, pois depende de nós e assim acaba nos matando vagarosamente, tirando tudo que pode até que ficamos à míngua, enquanto ela engordou e se multiplicou.

A ideia de Sustentabilidade requer atitudes harmônicas e assim, depende de ações mutualísticas entre os envolvidos, um ajudando o outro para que todos se mantenham vivos no ambiente e não um destruindo o outro. Não é à toa e nem é uma coincidência que o Desenvolvimento Sustentável seja um mecanismo ecologicamente correto e benéfico, isso é uma necessidade natural que só agora, alguns de nós, estamos começando a compreender. A natureza é harmônica e nós antes de tudo somos seres naturais e por isso precisamos estar em harmonia com o planeta. Temos que tirar os recursos que precisamos para viver como as demais espécies vivas e nada mais, além disso. Entretanto, somos egocêntricos, esbanjadores, compulsivos, alienados, ambiciosos e não conseguimos pensar no interesse coletivo de nós mesmos, de nossos descendentes, das demais espécies e do planeta como um todo.

Vejam bem, a própria noção de Sustentabilidade envolve a necessidade de manter o mundo com qualidade de vida para nós e principalmente para os que ainda virão. Entretanto, como conseguir esse intento, se mesmo a nossa qualidade de vida atual está ameaçada por conta dos erros históricos que temos cometido e que, infelizmente, ainda continuamos a cometer?

A ideia de Sustentabilidade guarda, em seu bojo, alguns atributos interessantes, os quais vão desde a redução dos usos de recursos naturais e minimização dos gastos energéticos, passando pela diminuição da ostentação, do uso de supérfluos e pela derrubada no consumismo, até atingir a redução progressiva do fluxo econômico. Essas coisas dependem fundamentalmente de menor consumo individual e coletivo.

As pessoas têm que pensar menos economicamente e mais naturalmente, ou seja, o poder econômico, representado pelo dinheiro, tem que dar lugar ao verdadeiro poder das coisas naturais, pois estas sim é que têm valor. Para tanto temos que mudar a filosofia de vida predominante na humanidade e certamente essa não é uma tarefa fácil. Aliás, essa tarefa, embora seja necessária, aparentemente é impossível de ser conseguida, principalmente por conta do nosso modo de vida atual. Quer dizer, não é fácil pensar em Sustentabilidade da maneira como a grande maioria dos humanos é levada a ver e entender o mundo atualmente.

No mundo globalizado, falar em diminuir consumo é criar um grande problema, é tentar produzir o maior obstáculo à Economia, porque manter o consumo aquecido é a grande sacada da globalização. Produzir mais, para vender mais, por preços menores e se possível para todos é o grande objetivo. É por conta disso que os produtos acabam ficando escassos no mercado e assim se desenvolvem novos produtos, cada vez um pouco menos obsoletos que substituem os anteriores indefinidamente. O mercado não pode parar de crescer, a tecnologia não pode parar de se sofisticar, novos produtos precisam nascer e a população precisa comprar esses produtos, para que outros produtos possam ser desenvolvidos.

Em suma, nunca se pensa no homem como espécie viva, no planeta como casa de todos e muito menos nas demais espécies com quem dividimos a nossa casa. O pensamento exclusivo é na manutenção do mercado, que gera recurso econômico para continuar mantendo o próprio mercado. O dinheiro só trabalha pelo dinheiro. É bom lembrar para todos que dinheiro não tem vida e para os mais religiosos que ele também não tem alma e nem espírito. Por que não fazemos a mesma coisa que o dinheiro faz e não passamos a trabalhar por nós mesmos, ao invés de trabalharmos também pelo dinheiro?

Infelizmente, a tecnologia tem sua parte de culpa, quando não para de criar e se desenvolver, pois os produtos novos, as novidades, são os maiores chamariscos ao consumo e lamentavelmente nós não paramos de lançar produtos novos no mercado. A tecnologia, que também é um produto do homem, deveria ser utilizada em benefício do homem e não do dinheiro. O “Homo economicus” está mascarando o “Homo faber” e ambos estão destruindo o Homo sapiens e todo o planeta.

O Consumismo é o pior mal da humanidade e para o planeta, porque ele nos mata com nossa autorização, ele destrói o planeta com nossa anuência. Nós, Homo sapiens, deixamos de lado a nossa pretensa sabedoria e voltamos à condição de nosso ancestral mais primitivo o Australopithecus afarensis, pois estamos literalmente enfeitiçados, como seres ignorantes, pelo mal do dinheiro. É difícil para a maioria dos humanos entender que dinheiro não vale nada. O dinheiro é apenas um simbolismo, o que vale é cada um dos diferentes tipos de recursos naturais que necessitamos para viver.

O pior é que o tempo urge e nós não temos agido da melhor maneira possível para mudar o quadro e tentar reverter essa situação. Continuamos falando de Sustentabilidade, mas até aqui, a maioria dos humanos não está, de fato, trabalhando nesse sentido e enquanto continuarmos a priorizar o dinheiro estaremos, cada vez, mais longe da Sustentabilidade e do verdadeiro Desenvolvimento Sustentável.

É fundamental que controlemos o consumo, controlando a produção bens artificiais, impedindo o crescimento população, minimizando o uso dos recursos naturais, decrescendo progressivamente a necessidade de energia, reduzindo significativamente a quantidade de resíduos e principalmente que respeitemos o planeta e a vida daqueles que ainda virão e que têm direito a viver num planeta saudável. Eles não precisarão de dinheiro se lhes dermos um planeta vivo e se começarmos a demonstrar que é possível viver sem consumo excessivo e sem dar valores sobrenaturais ao dinheiro.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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25 out 2014

Sustentabilidade X Sustentação

Resumo: O Prof. Luiz Eduardo propõe uma discussão interessante sobre o sentido errado que tem sido empregado generalizadamente para a palavra sustentabilidade por falta de conhecimento real da sociedade sobre o assunto e chama a atenção da mídia para o cumprimento de seu papel na orientação correta das pessoas no que se refere a temática da sustentabilidade.


Sustentabilidade X Sustentação

Ultimamente, em função do modismo com o termo sustentabilidade, esta palavra tem sido empregada com muitíssima frequência, entretanto o seu sentido real tem sido bastante deturpado. Isto é, o uso do termo, na maior parte das vezes, não condiz com o seu verdadeiro significado. Na verdade, o termo tem sido empregado de maneira muito mais relacionado com a ideia contida na palavra sustentação.

Baseado nesse fato, entendo que cabe discutir um pouco essa questão, para tentar esclarecer melhor as pessoas que sustentabilidade é muito mais do que apenas a manutenção ou a viabilidade de alguma coisa. Sustentabilidade não é apenas alicerce, nem base de apoio e muito menos esqueleto de nada. Sustentabilidade é garantia de continuidade sem prejuízo ambiental, social ou econômico de qualquer empreendimento visando sua manutenção para as gerações futuras. Sustentabilidade não é ficar em pé apenas hoje, mas é manter-se em pé para sempre, respeitando o meio ambiente, incluindo e envolvendo as sociedades e produzindo benefícios econômicos.

Tem sido bastante comum a gente ouvir, por exemplo, a seguinte frase: “tal coisa ou situação é economicamente sustentável”. Ora, na verdade, isso não quer, de maneira nenhuma, dizer que a coisa ou a situação em questão efetivamente tenham sustentabilidade, mas sim que essa coisa ou situação se sustentam e se mantêm, do ponto de vista estritamente econômico. A sustentabilidade não pode ser dissociada em estritamente econômica, ou a situação é sustentável nas três vertentes de abrangência (ambiental, social e econômica) ou ela não é sustentável, apesar de poder ter sustentação em uma das três vertentes individualmente. O fato de alguma coisa ou situação ter sustentação em uma das três vertentes da sustentabilidade não evidencia a existência de uma verdadeira sustentabilidade da coisa ou situação em si, porque faltam as duas outras vertentes.

Em síntese, não existe sustentabilidade econômica, porque o que é apenas econômico não tem sustentabilidade e não se enquadra no conceito explicito do termo. Desta maneira, sempre é preciso que se esteja atento com os vários “projetos sustentáveis” que temos ouvido falar nos últimos tempos e que não passam de meras falácias sobre um termo que está na moda e que parece garantir algum bônus para quem o usa, porque está muito carregado de tendência ambiental e social, mas que nem sempre são reais, mormente no viés de quem está aplicando o termo. Isto é, em tempos de vantagens para questões ecologicamente corretas, falar em sustentabilidade pode ser conveniente na apresentação de um determinado produto, entretanto é preciso tomar cuidado, porque tem muito produto dizendo falsamente que tem sustentabilidade, apenas para garantir marketing ecológico.

A verdadeira ideia de sustentabilidade é algo que lamentável e infelizmente a grande maioria das pessoas, com certeza, ainda não conhece, não sabe definir e muito menos tem condições de diferenciar. Assim, essas pessoas acabam sendo enganadas, pois são levadas a confundir, pelo desconhecimento delas próprias e pela má intenção programada da propaganda, a noção real do termo sustentabilidade que é mascarada pela ideia prática e comercial do termo sustentação. O conceito de sustentabilidade obviamente envolve o de sustentação, porém é muito superior e muito mais abrangente. Ao que parece, a ignorância de alguns e a má intenção de outros tantos são as causas mais óbvias para produzir a confusão entre os dois sentidos, porque tem sido assim que certos setores têm garantido a criação e o desenvolvimento de muitos projetos nefastos e outras coisas absurdas nesse país sem nenhuma preocupação com a sustentabilidade, mas com o interessante e desejável rótulo de sustentável.

Fala-se bastante na sustentabilidade da implantação de determinados programas ou projetos, os quais por si sós, não são nada sustentáveis e muito menos têm qualquer conotação com a verdadeira sustentabilidade. Por exemplo, o desenvolvimento de um novo tipo de agrotóxico é uma situação em que não é possível ter nenhuma sustentabilidade, haja vista de tratar-se de mais um, entre os atuais 15.000 venenos, a ser lançado primeiramente no mercado e posteriormente no ambiente, afetando o solo, a água e a saúde. Porém, esse tipo de situação é “vendida” na propaganda para as pessoas como sendo algo sustentável. É bom que se tenha a consciência de que isso é feito com o credenciamento da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o que dá aval e garante a autorização do governo brasileiro.

Pois então, a palavra sustentabilidade ganhou projeção e popularizou-se, entretanto seu sentido real não alcançou a maioria das pessoas como já foi dito anteriormente. Na verdade se massificou um termo (uma palavra) para mascarar uma ideia (um conceito) e assim as pessoas estão sendo iludidas pela conveniência daquelas outras que têm interesse nessa maquinação. É bom lembrar que, do ponto de vista estritamente ecológico, essa não é a primeira vez que se usa esse estratagema de travestir um conceito a fim de direcionar a informação para outro caminho que se tenha interesse. Aliás, aqui no Brasil, a partir dos governos (em todos os níveis) isso tem sido relativamente comum ultimamente. Foi assim, por exemplo com a “revitalização” do Rio São Francisco, com a “despoluição” da Baia de Guanabara, com a “diminuição” do desmatamento da Amazônia, com a “ampliação” na distribuição de energia e outros tantos exemplos, todos com o rótulo da sustentabilidade, mas que na realidade não possuem nem sustentação ambiental, quanto mais sustentabilidade no seu sentido real.

A mídia séria, se é que ainda existe mídia séria nesse país austral, precisa estar atenta a essas questões maquinadas e precisa cumprir sua função informando devida e corretamente a população e, principalmente, precisa esclarecer as questões dúbias como esta que é determinada pela má aplicação do conceito de sustentabilidade, porque o cidadão comum não costuma se aperceber desse tipo de enganação que lhe é proposta todos os dias pelos aproveitadores e picaretas de plantão. Por outro lado, alguns setores dos diferentes governos devem procurar estabelecer os objetivos de alguns de seus projetos mais claramente, no intuito de não agir contra os interesses maiores da coletividade. Quando o setor privado mente para o público ele deve ser punido e às vezes (raramente) é punido mesmo. Mas, quando é o governo mente para o público que o elegeu para defender os interesses desse mesmo público, o que deve acontecer?

A situação que nos encontramos é exatamente essa, quase todos mentem sobre quase tudo, quando de alguma maneira está envolvido o componente ambiental e no que se refere diretamente à sustentabilidade parece que a mentira virou verdade, pois nada, absolutamente nada, acontece com ninguém quando se está enganando a população nesse contexto.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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26 ago 2014

Existe apenas um Planeta Terra

O título desse artigo, por mais óbvio que possa parecer, de vez em quando precisa ser lembrado, para que todos os humanos possam manter esse pensamento efetivo e ativo nas suas respectivas mentes. Digo isso, porque a grande maioria das pessoas, embora saiba; que existe apenas um Planeta Terra e que todos os recursos naturais que nós humanos utilizamos são tirados direta e exclusivamente desse único planeta que habitamos; parece que se esquece desse detalhe fundamental na sua vida cotidiana e acaba usando os recursos naturais indevida e levianamente, desperdiçando esses recursos absurdamente e, o que pior, produzindo alguns resíduos que a natureza muitas vezes não conhece e que nós humanos resolvemos chamar de resíduos ou simplesmente lixo.

É bom lembrar que na natureza não existe lixo e assim o lixo é um produto de origem exclusiva da espécie humana. Existe uma boa parte desse material, que nós chamamos de lixo, que pode ser reaproveitado e reutilizado para outros fins e hoje há muitos humanos trabalhando no sentido de tratar melhor esses resíduos e conhecer suas diferentes utilidades. Mas, por outro lado, também existe uma boa parte desses resíduos que não pode ser reutilizada e outra que nem a natureza e nem nós mesmos sabemos como usar ou mesmo exterminar. Desta forma, esse tipo de material totalmente inútil e principalmente indesejável, vai se acumulando pelo planeta afora, ocupando espaço e degradando novas áreas que também poderiam ser utilizáveis.

Em suma, cuidamos muito mal do Patrimônio Natural, pois usamos pessimamente os recursos naturais e pioramos a qualidade do meio ambiente e da vida que nele se insere, inclusive e principalmente a nossa. Desta maneira, precisamos estar constantemente nos lembrando que temos apenas um Planeta Terra, do qual tiramos absolutamente tudo o que utilizamos, para sempre tentarmos agir no sentido de garantir que os recursos naturais sejam utilizados de maneira respeitosa, precisa, coerente e, sobretudo, sem desperdício.

O uso do planeta de forma precisa e coerente pelo homem recebeu recentemente o nome de SUSTENTABILIDADE e é sobre isso que vamos conversar um pouco. Primeiramente devo dizer que a Sustentabilidade consiste num princípio básico que determina que nenhuma geração tem direito de esgotar os recursos planetários, pois todos os humanos e as demais criaturas vivas que já viveram, que estão vivos hoje e aqueles que ainda irão viver tem os mesmos direitos ao uso do Planeta Terra e de seus recursos naturais.

A apropriação do planeta não é um direito exclusivo do homem, mormente do homem atual. Nenhuma espécie, em momento nenhum pode se considerar “dona do planeta”, até porque, na verdade nós e as demais coisas vivas é quem pertencemos a Terra. Isto é, a Terra é que a “dona de todos nós”. O Homo sapiens tem um compromisso maior com a preservação do planeta, primeiro porque é quem mais o explora e segundo porque é a única espécie capaz de explorar os recursos planetários até a exaustão, como já aconteceu em alguns casos.

Por outro lado, devo esclarecer que a ideia de Sustentabilidade transcende bastante essa nefasta capacidade de apropriação indébita que a espécie humana assumiu com o Planeta Terra. O conceito de Sustentabilidade tenta conter a progressão e mesmo impedir esse absurdo. A Sustentabilidade está basicamente contida num tripé que envolve o Ambiente, a Sociedade e a Economia, de forma tal que qualquer mecanismo só pode ser considerado sustentável se todos esses três itens estiverem satisfeitos de forma igualitária na sua composição. Sendo assim, não é possível conceber mais, nos tempos atuais, qualquer tipo de mecanismo que prestigie, mas esse ou aquele aspecto do tripé.

Durante muito tempo a humanidade sempre procurou priorizar o lado econômico, como sendo o mais importante para o seu desenvolvimento. Entretanto, nos últimos tempos, por conta da necessidade imperante e do crescimento do pensamento sustentável nas diferentes sociedades humanas, a visão estrita da Economia precisou perder um pouco de sua avidez. Desta maneira, o componente social passou a ser mais bem considerado nas diferentes situações e também, o componente ambiental, que antes nem era pensado pela maioria dos humanos, passou de insignificante para uma posição de igual importância na escala de prioridades a serem atendidas. Assim, o Desenvolvimento Sustentável passou a ser o mecanismo principal para que se possa tentar alcançar e garantir a Sustentabilidade planetária.

Algumas ações individuais e coletivas, não só podem como devem, ser estabelecidas pelas pessoas físicas (indivíduos humanos) e jurídicas (empresas e grupos socais) no sentido de trabalhar em prol da sustentabilidade e dentre essas, podemos destacar as seguintes:

1 – Desenvolver uma postura ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável, visando o interesse das futuras gerações, ou seja, aqueles seres humanos que herdarão o planeta a partir de nossas ações atuais. Lembrar que o mundo não é só meu, nem é só dos outros seres humanos, mas que também existem inúmeras outras formas de vida que tem o mesmo direito que eu tenho ao planeta. Lembrar, principalmente que dinheiro é um meio e não um fim, o qual só interessa ao homem e não serve em absolutamente nada para as demais criaturas do Planeta.

2 – Redução do Consumo de Recursos Naturais, não comprando coisas supérfluas ou desnecessárias, investindo em Reutilização, no Reaproveitamento e na Reciclagem de materiais e minorando a produção de lixo e resíduos indesejáveis. Avaliar efetivamente a real necessidade do produto antes de adquirir. Não comprar por impulso, nem porque está na moda, ou porque o seu amigo tem aquele produto. É bom lembra que essa também é uma das principais causas da violência urbana. Se você tem uma bicicleta e o outro não tem, ele toma a sua.

3 – Redução e racionalização do Consumo de Energia, principalmente a energia oriunda da queima de Combustíveis Fósseis, que geram muita poluição, gases de Efeito Estufa e que atuam fortemente para o Aquecimento Global e consomem Recursos Naturais não renováveis. Reduzir o uso do carro, do chuveiro elétrico, da geladeira e mesmo da pilha e das baterias elétricas, as quais produzem resíduos tóxicos e altamente contaminantes. Se o quarto está vazio, por que a luz está acesa?

4 – Investimento em Tecnologias Limpas que propiciem novas formas alternativas de obtenção Energia não poluentes e que não ofereçam risco à saúde humana ou planetária. Ser proativo em relação a Energia Solar, Eólica, das Marés, das Correntes e outras não poluentes e naturais que possam existir. Ser atuante em práticas ambientalmente corretas. Pequenas ações como apagar a luz e usar mais a luz solar, desligar o computador, a TV e os demais eletrodomésticos quando não estão sendo usados, não desperdiçar água, reaproveitar o papel, as caixas, reduzir, ou mesmo acabar com o uso de sacolas plásticas e outros produtos descartáveis, que têm grande custo energético e levam anos para se decomporem na natureza.

5 – Buscar a ampliação das Áreas de Preservação Naturais e a Recuperação de Áreas Verdes Urbanas, no sentido de garantir a manutenção dos Ecossistemas Terrestres com seus respectivos Bancos Genéticos e sua Biodiversidade e também de melhorar a qualidade do ar nas cidades. Por exemplo, plantar árvores e não cortar as existentes é um mecanismo simples que garante a absorção da água pelo solo, diminui aquecimento global, refresca os ambientes, atrai pássaros e embeleza os ambientes sobremaneira.

6 – Recuperar, dentro do possível, os ambientes naturais degradados, a fim de minimizar as áreas comprometidas com ações antrópicas insustentáveis ocorridas no passado. Reaproveitar áreas antes impermeabilizadas, onde calçamento indevido ocorreu, aumentando as áreas de jardins e quintais. Nas áreas urbanas é onde mais há necessidade de melhorar a qualidade do ar, portanto faça a sua parte para que isso aconteça.

7 – Educar ambientalmente as populações dentro do preceito de que a sustentabilidade é a única maneira possível de garantir a qualidade e a continuidade da vida humana no planeta. A prática educativa tem que trazer no seu bojo os princípios de garantir a manutenção e a continuidade dos recursos naturais não renováveis e a recuperação efetiva dos renováveis; de não degradar; de não sujar e efetivamente de chamar a atenção de quem age de forma contrária aos interesses do Planeta e da Sociedade, independentemente da justificativa apresentada.

8 – Definir criteriosamente as áreas agricultáveis e as culturas nelas desenvolvidas, visando minimizar o uso indiscriminado de Agrotóxicos e Defensivos Agrícolas, garantindo a manutenção dos solos naturais como forma de produção agrícola. Isso começa na sua casa, não usando veneno nas suas plantas ornamentais e também desenvolvendo sua pequena horta orgânica, da qual você pode tirar a sua alface, o seu tomate e outros alimentos.

9 – No plano político-administrativo, devemos procurar apoiar políticos e administradores públicos que estejam determinados a investir em políticas públicas, que favoreçam a sustentabilidade e que priorizem o interesse ambiental planetário, antes de qualquer interesse econômico particular ou qualquer grupo social específico, de acordo com a máxima ambientalista que diz: “agir localmente, pensando globalmente”. Oriente as pessoas de que as suas ações cidadãs em prol do planeta começam nos seus respectivos votos. Lute e trabalhe para que os seus candidatos tenham postura proativa, para que proponham as mudanças devidas que são necessárias à Sustentabilidade.

10 – Enfim, como ação precípua, procure ser um exemplo daquilo que pregar. Ninguém vai acreditar em você, se realmente você não demonstrar aquilo que fala. Acredite e pratique a sustentabilidade em todas as suas ações, pois assim você estará demonstrando que não é impossível, basta apenas vontade, coerência e persistência. Se você consegue, certamente também é possível que outros consigam.

Por fim, quero dizer que é preciso repetir muito a frase: “Existe apenas um Planeta Terra” e esta é a única morada; o único planeta; a única nave espacial dentro da qual estamos todos nós, mergulhados no espaço universal. Todos nós somos passageiros e estamos na mesma viagem dentro do mesmo veículo denominado Terra. Não é muito pedir para que cada um faça a sua parte no processo de garantir que a viagem continue sem conturbações e realmente não é necessário nada mais que isso, porque se cada um fizer efetivamente a sua parte o todo estará sendo feito.

Sempre vale a pena ressaltar que “os maiores interessados em manter o planeta somos nós mesmos”, pois só assim garantiremos a nossa existência. Isto é: “o planeta não depende de nós, nós é que dependemos dele”. Então, cabe lembrar também, que para que o planeta continue seguindo em frente e com segurança, só depende de nós mesmos, os seres humanos. A nossa continuidade no mundo vivo está em nossas mãos, pois só nós temos o poder da escolha e da definição. Nossas atividades atuais definirão sobre a nossa existência planetária futura.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Este artigo foi inicialmente publicado em www.recantodasletras.com.br/autores/profluizeduardo, em 23/06/2011, tendo sido modificado e atualizado para esta publicação.
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