Categoria: Artigos

Artigos Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima

01 jul 2022
Educação e Valores Humanos

A Educação e os Valores Humanos

Resumo: O artigo chama a atenção para a falta de seriedade e da desvalorização generalizada que a Educação tem recebido historicamente no país. No Brasil, temos priorizado tudo que não importa nas escolas e com isso temos trocados os valores da sociedade. Acredito que esse desrespeito coletivo interfere drástica e diretamente na condição ética e moral dos brasileiros. 


O Brasil necessita urgentemente de Educação verdadeira. Temos muitos prédios escolares, mas temos poucas escolas. Tem muita gente ministrando aulas, mas tem poucos professores efetivamente ensinando. Tem muitos alunos nas escolas, mas tem poucos estudantes realmente querendo aprender. Tem muitos burocratas na educação, mas têm poucos educadores e pessoas preocupadas com a educação atuando no ensino. Enfim, na educação brasileira tem bastante de quase tudo, mas, tem efetivamente muito pouco daquilo que deveria ter.

Este país continua no marasmo educacional exatamente pelo simples fato de que não se encara a educação com devida e necessária seriedade, tampouco se investe em trabalho efetivo para mudar essa situação. A verdade é muito clara: enquanto existirem Alunos, Professores, Diretores e Reitores, querendo a volta de um sujeito amoral, ladrão e apedeuta à Presidência do país, não existe como melhorar a educação. Estamos num mato sem cachorro e a questão que fica é a seguinte: como fazer para acabar com essa situação incoerente?

Temos transitado estranha e perigosamente numa linha em que não se define bem aquilo que se quer e onde o que importa é somente o dinheiro que se irá conseguir com a ação.  É como se o dinheiro fosse realmente a coisa mais importante para a humanidade. Historicamente tenho feito a seguinte pergunta aos meus alunos no primeiro dia de aula: o que é que todo mundo quer? Em quase todas as respostas, mais de 95%, dizem quase que automaticamente, é dinheiro. Ocasionalmente aparece alguns que citam, a sorte, outros dizem, o trabalho, outros ainda respondem, a saúde e mais raramente ainda, alguém lembra da felicidade.

Pois então, a felicidade, que é a resposta esperada, é sempre a menos citada. Ora se a humanidade quer dinheiro e não quer felicidade o mundo está perdido. Pois é, a noção de ser feliz, talvez tenha sido modificada em ter dinheiro, o que é uma grande idiotice, porque o dinheiro não garante a felicidade de ninguém. O que todo mundo quer é ser feliz e o dinheiro pode até ajudar a que se atinja esse intento, mas o dinheiro sozinho não permite a felicidade de ninguém. Infelizmente a humanidade cometeu o ledo engano de trocar os valores morais e vitais, pelos valores e custos monetários e, deste modo, grande parte das pessoas acham que o dinheiro é o melhor negócio para todos.

Particularmente, aqui no Brasil, as escolas “entraram diretamente pelo cano” ao também assumirem que o dinheiro é melhor que a felicidade e os alunos não gostam da escola porque perdem tempo e não ganham dinheiro com esse “tempo perdido”. O pior é que o sistema reforça esse pensamento absurdo, quando desqualifica profissões e profissionais, em prol de publicidades medíocres sobre profissões que não exigem conhecimento e que geram grandes possibilidades econômicas. Assim se esquece do valor da escola e se trabalha pelo preço daquilo que se pode ganhar por estudar. Infelizmente, quando se coloca essas coisas numa balança, acaba se concluindo que estudar não vale o preço.

A diferença entre o valor e o preço é que o preço é estimável em maior ou menor, mas o valor é inestimável e por isso mesmo, o valor não tem preço. O valor é próprio, único e indistinto e assim, não varia não como o preço. Alguém já disse: “o valor não vale, o valor é”. Em suma, é impossível calcular o valor, mas sempre é possível imaginar alguns preços para certas coisas e infelizmente, isso também é verdadeiro para certas pessoas. Pois então, a educação está cheia de coisas e pessoas com preço, mas que estão muito carentes de valor.

A crise que a humanidade vive é consequência única do que foi dito acima. Isto é, as pessoas se vendem por qualquer preço, deixando de ter valor e passando a ser moeda de barganha dos interesses e das negociatas, na mão de quem quer que seja. Esta irresponsabilidade coletiva gera uma situação triste, mas real, de carência moral, que tem, historicamente, causado grandes males a humanidade, mormente nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

O ser humano, cada vez mais, desconhece a importância e o verdadeiro valor de algumas peculiaridades humanas necessárias à vivência social, como a ética, o comprometimento e a lealdade. Enquanto perdurar esta falsa realidade, do humano valer menos que a o interesse econômico de quem quer que seja, a humanidade não terá descanso, não progredirá e a paz entre os povos estará sempre mais longe.

Alguns mudam o foco e a responsabilidade, falando que Deus está vendo e que só Ele pode resolver a questão, mas, ainda que eu não seja religioso, tenho certeza de que Deus não tem nada a ver com isso e mesmo que Ele exista e que esteja vendo, Ele não irá interferir nos problemas estritamente humanos. Nossos problemas são terrenos e causados por nós mesmos não têm nenhuma relação com Deus. É preciso que mudemos o foco e objetivemos um mundo com pessoas de valor, isto é, com pessoas educadas e isso começa na família e se aprimora e continua pela escola.

Quer dizer, ou a humanidade aprende a viver educadamente com todos os humanos ou não existe humanidade. Acredito que enquanto o ser humano continuar sendo esse estranho ser que confunde valor com preço será impossível que a humanidade possa se manter proativa na direção da paz. Infelizmente, se não tomarmos posturas ética no interesse humanitário, sempre haverá situações conflitantes em que questões econômicas terão peso maior e assim, obviamente serão priorizadas pela sociedade.

O único caminho possível para tentar equilibrar essa questão é a crescer na educação e na formação das pessoas. Deste modo, necessitamos de uma educação que demonstre aos seres humanos, que em qualquer situação ou momento, a vida humana deve ser a única prioridade real. Não importa raça, sexo, ideologia, religião ou qualquer outro fator, a vida humana, seja ela qual for, é o mais importante, porque ela é um valor e como tal, é inegociável e não tem preço.

Somos seres humanos e deveríamos investir e aproximar cada vez mais uma postura altruísta e fraternal entre os humanos e não desenvolver as progressivas maneiras segmentárias e separatistas que temos criado e ampliado na sociedade moderna. Temos desenvolvido, através de um pretexto social e ambientalmente correto, mas que no fundo é apenas uma maquiagem política que serve ao interesse de alguns, uma maneira segmentadora da sociedade e destruidora da humanidade.

Estamos caminhando na contramão das necessidades da humanidade e os politiqueiros, os embusteiros e os maus-caracteres de plantão se aproveitam desse fato para piorar aquilo que já não é bom, na base do quanto pior melhor. Desta maneira as relações humanas ficam perigosamente mais comprometidas e com fortes tendências às rupturas. Quer dizer, atualmente, alguns dos “seres humanos”, não se satisfazem em apenas andar na contramão da humanidade e ainda jogam gasolina no fogo para complicar mais a situação.

É preciso que se esclareça de uma vez por todas que, independentemente de qualquer característica que tenhamos ou que professamos, somos pessoas. Todos os seres humanos são pessoas e como tal, devem ser orientadas nos seus deveres e respeitadas nos seus direitos. Entretanto, aqui reside outro grande problema, pois parece que perdemos a noção exata de deveres e direito humanos. Nesta sociedade corrompida e consequentemente corroída que vivemos, direitos e deveres são privilégios que servem apenas aos interesses dos poderosos, que fazem o que querem, como querem e quando querem.

A sociedade se deturpou por conta do preço e a humanidade se degradou por conta da perda do seu valor primário e ímpar, o ser humano.  O “rei dinheiro” e o “trono ganância” superaram largamente o fundamento da vida e necessidade da ética. A humanidade está pobre de valores morais e podre de sentimento e envolvimento coletivo. Somos apenas um bando de criaturas irresponsáveis e cegas, ocupando um mundo em que os indivíduos não veem nada ou, quando muito, cada um consegue apenas ver o próprio umbigo.  

É bastante triste e preocupante a situação debilitada do ser humano nos tempos atuais. Ao que parece a humanidade está caminhando rápida e irreversivelmente para o caos. Se não bastasse nossa podridão humana, também destruímos o planeta, o único que temos e que nos fornece absolutamente todos os recursos naturais que utilizamos. Ou seja, somos humanos podres, caminhado num planeta que também tornamos cada vez mais podre. Em suma, nossa irresponsabilidade é total, pois não ligamos para nossa vida, para nossa espécie e ainda destruímos a nossa única casa.

Como disse no início deste texto, somente a educação pode nos livrar dessa situação sofrível ou, pelo menos, minimizar os danos produzidos por ela. Não existe outra saída possível! E o que estamos fazendo sobre isso? Infelizmente, não temos feito absolutamente nada.

As nossas escolas têm apenas discutido outras questões, infinitamente menos importantes, pouco significativas, nada prioritárias e que não agregam valor nenhum à humanidade e nem a educação brasileira. Nossos alunos estão alheios a realidade humana e são progressivamente mergulhados em idiotices e coisas inúteis às necessidades da humanidade. Nossos professores defendem argumentos e teses inexpressivas, que não se justificam nos interesses coletivos maiores da humanidade. Nossos dirigentes escolares estão preocupados apenas com a manutenção de seus cargos, cuja origem é principalmente política e assim, tudo fazem, apenas para garantir suas respectivas permanências nos mesmos.

É claro que existem honrosas exceções, mas infelizmente, são apenas exceções, porque não têm força funcional e muito menos política, consequentemente não conseguem mudar a situação imperante. A mídia, por sua vez, também não cumpre seu papel e acaba por demonstrar, cada vez mais, o seu interesse na continuidade dessa conjuntura degradante e assim, faz coro para o que está errado, trabalha contra as mudanças necessárias e ainda interfere bastante produzindo informações que só ampliam a degradação educacional e humana.

O mais estranho de tudo isso, é que tem muita “gente” que acredita e age como se tudo estivesse bem e que defende a manutenção desse “status quo”.  As escolas não são mais capazes de trabalhar para formar pessoas, porque estão preparadas apenas para produzir coisas que produzam lucro para alguém. A educação é uma falácia, um conto de fadas triste, onde não vai haver final feliz, porque, de fato, não se quer educar e nem formar ninguém. Sempre gosto de lembrar Darci Ribeiro, quando ele dizia: “No Brasil, a crise educacional, não é uma crise e sim um projeto”. Eu me permito ir além e tristemente afirmo que esse é o único projeto brasileiro que tem tido continuidade nos últimos anos.

Assim, concluo que a atual e evidente degradação humana é resultado de planejamento trabalhado por especialistas em criar humanos piores, através da “educação”, pelo menos aqui no Brasil. Transformaram a sociedade e fizeram com que grandes massas de seres humanos virassem marionetes no interesse puramente político de alguns. Esqueceram que a humanidade se compõe de pessoas e destroem essas pessoas como se fossem coisas inservíveis, sem sentimentos, sem valores morais e sem nenhuma condição ética.

Até quando continuaremos seguindo nessa direção, que transforma os valores, reverte a ordem e perverte a população, particularmente a juventude brasileira?

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

Artigo publicado em 23/01/2022 no “site” https://oblogdowerneck.blogspot.com e readaptado para esta publicação.
30 maio 2022

USINA TERMELÉTRICA: CUIDADO, O PERIGO ESTÁ RONDANDO A REGIÃO!

Resumo: Este texto visa chamar a atenção das populações da região do Vale do Paraíba, em particular dos municípios de Caçapava e Taubaté, por conta da pretensa instalação de uma grande Central Termelétrica na região, composta por 3 usinas na divisa entre os dois municípios citados. A capacidade de geração de energia do complexo é cerca de 1.740 Megawatts, ou seja, uma central termelétrica gigantesca. O potencial poluidor desse monstrengo é imenso, por isso mesmo, a Central Termelétrica não pode prosperar. 

‐————————————————————–

Enquanto a cidade e as pessoas boas e pacatas dormem, os inimigos comuns dos cidadãos de bem, os embusteiros e picaretas de plantão, andam por aí à espreita e assim, na surdina, estão tentando aprontar mais uma contra a nossa querida cidade de Caçapava e a região do Vale do Paraíba. Desta feita, trata-se da pretensa implantação de um conjunto de usinas termelétricas (três usinas) que no total produzirão cerca de 1.750 Megawatts de potência.

Quer dizer, uma super central termelétrica que, se efetivada, obviamente poderá causar uma poluição atmosférica gigantesca e quase imensurável de Dióxido de Carbono (CO2), Óxidos de Nitrogênio (NOx), Óxidos de Enxofre (SOx), Ozônio (O3), Particulados e Hidrocarbonetos. Isso sem falar no grande aquecimento e na imensa perda de água por evaporação em consequência do processo de esfriamento das caldeiras.

Ou seja, os picaretas de plantão, estão imaginando um monstro energético nunca visto e nem pensado aqui para a região e muito menos aqui para nossa Caçapava. Certamente nós vamos lutar contra e não deixaremos que esse monstro saia da imaginação dos infelizes que foram capazes de sonhar com sua existência em nossa cidade. População de Caçapava, fiquem atentos, porque uma nova guerra contra a implantação de termelétrica está começando a acontecer.

Quero lembrar aos incautos e aos desinformados que está será a sexta tentativa de implantação de grandes termelétricas aqui na região do Vale do Paraíba. Nas cinco primeiras tentativas o empreendedor acabou não conseguindo o seu intento e a população local saiu vitoriosa, garantindo a manutenção da qualidade de vida da região, pelo menos no que se refere a esse aspecto. Esperamos que dessa vez não seja diferente.

Os incautos, além da não conhecerem a nossa região e suas limitações para esse tipo de empreendimento, também não sabem que a população valeparaibana já está mais que vacinada contra esses absurdos ambientais e que lutará para impedir que o monstro se instale mais uma vez. Por outro lado, os picaretas enganam os incautos e se aproveitam do desconhecimento deles para conseguir algumas benesses em seus próprios interesses.

O que é difícil de entender é que os poderes constituídos e as autoridades locais e regionais ainda permitam que esse tipo de situação se evidencie, mesmo sabendo que a implantação de termelétricas seja algo extremamente comprometedor na região do Vale do Paraíba e que assim seja quase impossível a viabilização desse tipo de empreendimento na região. É bom lembrar que todas as cinco tentativas de implantação de termelétricas na região que ocorreram nos últimos 30 anos foram frustradas.   

Todos sabem, ou deveriam saber, exceto os empreendedores, que são ludibriados pelos picaretas de plantão, por questões geomorfológicas e geodinâmicas, nossa região não aceita esse tipo de empreendimento por vários fatores ambientais. A população local há muito tempo já sabe que esse tipo de empreendimento não se adequa à região e certamente não vai querer um monstro com todo esse tamanho e seu imenso potencial poluidor aqui ao Vale do Paraíba.

Por outro lado, mesmo que a região fosse adequada para receber esse tipo de usina, a condição de poluição aérea e aquática produzida por esse tipo de empreendimento é totalmente incompatível com os interesses regionais. Em tempos de sustentabilidade não se pode pensar em instalação de termelétrica numa região que concentra cerca de 5 milhões de pessoas e que é responsável pela água que alimenta mais de 30 milhões.

A insalubridade que pode ser produzida por uma grande central termelétrica, além de ser uma transgressão das possibilidades ambientais do Vale do Paraíba, é principalmente um crime contra a vida de parte da população paulista e da quase totalidade da população fluminense. Quer dizer, não se trata apenas de uma mera questão ambiental e de um alarde de mais um “ecochato”. Na verdade, trata-se de garantir a vida atual e das gerações futuras do Vale do Paraíba e de todos que dependem da água da Bacia do Rio Paraíba do Sul.

Senhores moradores da região e de Caçapava em particular, preparem-se para a batalha e doravante acompanhem bem as ações e as posturas assumidas pelos políticos locais no que se refere a essa questão. É possível que muitos desses políticos estejam “convencidos” de que termelétricas na nossa região e na nossa cidade sejam bons negócios.

De repente eles vão começar a falar que a implantação das termelétricas na região vão dar conta da necessidade de geração de energia no país, vão ampliar a geração de empregos na região, vão falar que não há risco porque haverá absoluto controle da poluição e principalmente vão dizer que isso trará riqueza à região, pois produzirá um significativo aumento dos recursos econômicos para os municípios ou para toda a região do Vale do Paraíba. Entretanto, é preciso ficar claro que mesmo que essas fossem indagações verdadeiras, o risco socioambiental oriundo de um complexo termelétrico como o que está sendo proposto, certamente não compensa.

 Então, é preciso deixar claro que por vários aspectos, essas são efetivamente grandes mentiras. Essas outras afirmativas não passam de argumentos falaciosos e fictícios para enganar a população. A verdade é que no Vale do Paraíba não pode existir termelétricas e no caso específico do município de Caçapava, de acordo com a Lei Orgânica, para implantar uma termelétrica, haverá necessidade de um plebiscito. Isto é, somente a população poderá determinar se haverá ou não termelétrica na cidade.

Por outro lado, há necessidade de se questionar, ainda que se essas pretensas afirmações fossem verdades e não são, as questões que ficariam, seriam as seguintes: Vale à pena, matar muitos pelo benefício de poucos? Vale à pena, poluir, degradar e descaracterizar o ambiente em que seu filho, seu neto ou bisneto vai viver? Vale à pena correr esse risco?

Por fim, apesar de todas as dificuldades e a periculosidade, se esse absurdo vier a ser implantado, ninguém sabe o que realmente vai acontecer, mas a gente sabe o que costuma acontecer quando os interesses particulares e escusos suplantam os interesses comunitários, principalmente aqui no Brasil. Assim, deixo aqui também o meu alerta às cidades vizinhas, mormente aquelas que estão mais próximas de Caçapava e que possuem as maiores populações da região, ou seja, Taubaté e São José dos Campos, que juntas somam cerca de 1 milhão de habitantes.

Cabe lembrar ainda, que a poluição não será apenas para Caçapava, pois os efeitos maléficos de uma termelétrica, creio que todos já saibam, mas sempre é bom ressaltar, certamente é regional. Quer dizer, todos nós estamos todos no mesmo barco e no meio do mesmo furacão, principalmente as duas cidades citadas acima que são lindeiras à Caçapava, mas é preciso termos mente que todo o Vale do Paraíba pode estar à deriva.

Fiquem atentos, porque Usina Termelétrica, embora possa ser uma boa negociata para alguns, aquela minoria que só pensa em dinheiro no bolso, certamente é uma insanidade e um péssimo negócio para todos que esperam viver bem, em paz e com qualidade de vida. Já temos muitos problemas por aqui, sendo assim, nossa Caçapava, nosso Vale do Paraíba e as pessoas que aqui vivem, não merecem mais essa desgraça.

Meus amigos, por favor, TERMELÉTRICA NO VALE DO PARAÍBA, NUNCA!

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista; Foi Vereador (1998 a 2004) e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava (2001 e 2002); Conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente de São Paulo – CONSEMA/SP (1996 a 2002 e 2018 a 2020), Conselheiro e Primeiro Presidente do Conselho Municipal do Meio Ambiente de Caçapava – CONDEMA (1990 a 1992) e Conselheiro do Conselho Municipal do Meio Ambiente de Lorena – COMMAM (2008 a 2010); é Membro Efetivo do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul – CBH-PS (desde 1999 até o presente) e da Câmara Técnica de Institucional do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul – CEIVAP (1999 a 2001 e 2021 a 2023); Membro associado de várias ONGs Ambientalistas da Região, inclusive da ECO VITAL de Caçapava.

15 maio 2022

O que está acontecendo com o uso da Língua Portuguesa?

Resumo: Neste artigo procuro chamar a atenção sobre o atual desprestígio da Língua Portuguesa pelas pessoas e sobre os problemas oriundos dessa constataçãoTento demonstrar que a população brasileira está esquecendo a importância da língua pátria e que esse fato se constitui num fator de significativo empobrecimento cultural que necessita ser extinto para o engrandecimento da Brasil. 

Agora, depois de quase um ano e meio sem trabalhar, ou melhor, sem ministrar aulas regulares, por estar aposentado e inativo, na minha função precípua de Professor, tenho conversado mais com outras pessoas, apesar de todas as dificuldades impostas pela pandemia do COVID 19. Desta maneira, tenho tido mais tempo para observar e reparar melhor o comportamento dessas pessoas. Pois então, tenho me preocupado em observar, principalmente os hábitos de falar, o uso das palavras e à utilização da nossa língua portuguesa.

Então, foi neste contexto que surgiram duas questões fundamentais, as quais têm me chamado bastante a atenção. O que está acontecendo com o povo brasileiro, em relação à Língua Portuguesa, que está sendo cada vez mais esquecida? Será que os brasileiros, dentre outras coisas, também estão ficando progressivamente mais mudos, quanto ao nosso querido português? Deste modo, vou comentar um pouco do meu pensamento sobre o que pode estar acontecendo.

Para começar, devo dizer que minhas observações têm me permitido chegar a conclusões preocupantes e algumas delas até estarrecedoras sobre o forte incremento da superficialidade no conhecimento linguístico dos indivíduos brasileiros e talvez mesmo, sobre o crescimento exponencial da bestialidade humana, porque às vezes penso que esse pode não ser somente um problema brasileiro, mas, quem sabe uma questão mundial de “emudecimento humano”. Pude identificar que a maioria das pessoas é incapaz de estabelecer frases e resolver questões linguísticas simples. Muitas pessoas também são incapazes de criar e realizar ações práticas e funcionais comuns que envolvam a fala e principalmente a escrita, pelos mais diversos motivos.

A meu ver, isso acontece, primeiramente porque, simplesmente, algumas dessas pessoas foram levadas a acreditar que ser superficial e que não opinar são boas características humanas na atualidade. Por outro lado, também parece que enriquecer o vocabulário pessoal ou se envolver em questões linguísticas são condições pouco importantes para o ser humano. Deste modo, as pessoas imaginam que questões relacionadas a capacidade de fala humana não precisam ser condizentes com os interesses delas.

Diz o ditado que: “quem fala o que quer, ouve o que não quer”. O problema é que atualmente quase ninguém fala e consequentemente quase ninguém ouve e assim também quase não se ensina e quase não se aprende, porque falar, além de difícil, é perigoso é vexatório para muitos. Tem gente que prefere ficar calado porque “quem fala muito acaba dizendo besteiras”; entretanto, é preciso lembrar que “quem cala, consente” e que se “em boca fechada, não entra mosquito”, certamente também não entra cultura.

Outras pessoas consideram que “essas coisas” linguísticas, terminológicas, gramaticais, semânticas e principalmente relacionadas à concordância são bastante complicadas e dão muito trabalho para serem organizadas. Assim, preferem desconsiderá-las descaradamente, sem nenhum constrangimento. Outras, ainda porque elas sabem que, de fato, elas não possuem base intelectual linguística para planejar e desenvolver tais feitos. Essas pessoas são conscientes de suas limitações e preferem ficar caladas por pura opção.

Ainda que todas as possibilidades citadas sejam terríveis, infelizmente a última, pelo menos na minha maneira de pensar, é a mais comprometedora, porque incide exatamente na possibilidade de pensar que a língua, além de não ser importante, não compromete a formação intelectual e mesmo construtora da comunicação entre os indivíduos. Tenho medo de imaginar a que ponto chegaríamos se todas as pessoas começassem a simplesmente não falar ou apenas dizer coisas sem noção e sem sentido. Ou seja, como se falar fosse simplesmente emitir sons e fazer barulhos sem nenhuma logicidade.

Os brasileiros precisam entender que o simples ato de falar, além de ser a nossa principal maneira de comunicação, também é um mecanismo fundamental para o crescimento intelectual e cultural do ser humano e isso precisa ser divulgado para que se aprenda e se procure conhecer cada vez mais corretamente a nossa língua oficial. É preciso que haja um investimento educacional sério para o uso cotidiano regular da língua portuguesa, tanto falada, quanto escrita.

Estamos vivendo um momento da história, em que a humanidade desenvolveu bastante a sua capacidade de comunicação e assim deveria se esperar que a comunicabilidade entre as pessoas fosse maior, melhor e sobretudo mais efetiva, porém, não é isso que se percebe. A comunicação está ficando mais fácil para os mais próximos e mais afins, por conta de outros códigos comunicativos, mas a comunicabilidade está ficando mais difícil entre os diferentes grupos, porque o entendimento tem piorado drástica e progressivamente.

As “tribos”, quase, só conseguem se comunicar nas próprias “tribos”, ou seja, entre si. Assim, as palavras são menores, as falas estão cada vez mais curtas, os assuntos mais restritos e exigindo menor conhecimento de tudo, inclusive e principalmente da língua pátria, do nosso bom e velho idioma português. Na linguagem escrita, as construções são muito pobres e repetitivas. As preocupações com a maneira correta de escrever inexistem. A concordância não tem mais nenhuma importância. Os acentos atualmente são objetos de luxo da língua, pois não costumam mais serem empregados. Assim, usa acento quem quer e geralmente usa errado.

Em outras palavras, estamos criando dialetos e determinando códigos e simbolismos, cada vez mais específicos e exclusivos de interesses dos grupos sociais específicos e, deste modo, mesmo com todas as facilidades atuais, temos diminuído muito a nossa verdadeira capacidade de comunicação. Embora isso soe mal e pareça muito estranho, é exatamente o que tem acontecido. A verdade é que estamos falando pouco, conversando pouco e consequentemente ouvindo pouco. E, por outro lado, também estamos lendo menos e escrevendo muito menos ainda.  

Por incrível que pareça, o português, que está oficialmente em 4 continentes da Terra, em 9 países e atualmente é a quinta língua mais falada no mundo, exatamente por conta do grande contingente populacional brasileiro. Como contrassenso, o português está morrendo principalmente aqui no Brasil. Agora criamos siglas para tudo e entenda quem quiser ou puder. O “internetês” também tem atuado para ampliar essa situação, mas quero deixar claro que o problema é bem maior e que as siglas e o “internetês” não são os únicos culpados.

Em suma, acredito que a Comunicação entre os diferentes grupos sociais humanos, pelo menos aqui no Brasil, está cada dia pior e isso precisa mudar. Cabe ressaltar que, embora existam várias espécies, onde os indivíduos têm a capacidade de se comunicar entre si, a possibilidade de falar, a imensa diversidade de sons produzidos, além dos diversos tipos de códigos e simbolismos na comunicação humana são fatores fundamentais que efetivamente demonstram nossa superioridade evolutiva em relação às demais espécies vivas.

Os seres humanos estão cada vez mais próximos dos objetos e das questões de seus interesses do que das demais pessoas. Quando eu digo isso, não me refiro apenas à proximidade espacial, mas também a proximidade parental efetiva, pois parece haver uma necessidade progressiva e perigosa de se envolver menos com as pessoas de outros grupos sociais. Esse fato, além ampliar o emburrecimento linguístico coletivo, também acaba por aumentar o egoísmo, o individualismo e o corporativismo, características que conduzem a outros males bem maiores e muito mais comprometedores à nossa espécie.

Estamos deixando de ser humanos e nos tornando quase objetos, talvez tipos especiais de máquinas. A tecnologia, que na sua raiz, veio para auxiliar os seres humanos na realização dos trabalhos, assumiu, por conta de outros interesses sociais, a função maior de orientar a vida da humanidade e isso está emburrecendo o homem. A humanidade está, cada vez mais, idiotizada e perdendo a capacidade de pensar, de falar, de escrever, de discutir, enfim de criar e de demonstrar os principais atributos da espécie humana. Somos diferentes das demais formas animais vivas, exatamente por conta desses atributos especiais que adquirimos ao longo da nossa evolução biológica e que estamos progressivamente perdendo. A capacidade de falar talvez seja o principal desses atributos

Passei 45 anos ministrando aulas e sempre me considerei um excelente professor, porque além de cumprir com responsabilidade, afinco e firmeza o meu trabalho no magistério, na pesquisa e na orientação de jovens, eu também sempre me preocupei em tratar bem os meus alunos, colegas e demais pessoas do convívio escolar e, além disso, em todos esses 45 anos, sempre fui de alguma maneira homenageado pelo meu trabalho, pelos meus alunos, ou pelos meus colegas de profissão, ou mesmo pelas instituições onde trabalhei. Ou seja, além de eu me achar competente, as pessoas à minha volta e diretamente ligadas ao meu trabalho, aparentemente também pensavam da mesma maneira.

Enfim, minha carreira como Professor e Pesquisador parece ter sido aquilo que costumamos chamar de sucesso e de minha parte, mesmo sendo suspeito por falar de mim mesmo, eu penso que foi um grande sucesso mesmo a minha carreira profissional. Entretanto, tenho observado que gente como eu e alguns outros “dinossauros” que ainda se encontram por aí, certamente serão totalmente extintos nos próximos anos. E aí, automaticamente eu me pergunto: o sucesso de minha carreira só serviu para mim? Se for assim mesmo, então minha carreira foi um verdadeiro fracasso e não um sucesso, porque, aquilo que eu sempre entendi como sucesso, na verdade nunca existiu.

Meus alunos, colegas e instituições foram meus camaradas ao me incentivarem e homenagearem, pois eles já imaginavam que eu era algo diferente, um ser estranho dos demais, porque eu argumentava e sabia sobre o que argumentava e ainda procurava esclarecer sobre aquilo que argumentava, usando a Língua Portuguesa. Pois então, esse tipo de pessoa preocupada em informar, orientar e sobretudo esclarecer e contextuar o assunto, no meu caso específico como professor, mas esse tipo de pessoa existe (existia) em qualquer profissão ou em qualquer área do saber, agora está em extinção, porque hoje é difícil encontrar alguém que ainda se expresse e se faça entender corretamente em bom Português.

Atualmente pessoas do tipo acima citado são verdadeiras raridades, pois são entidades diferentes da realidade sociológica que se propaga. A Sociedade hoje, investe pesadamente num padrão bastante diferente desse, onde o conhecimento, mormente linguístico, e tudo que ele produz de bom ao indivíduo humano não consiste mais numa característica essencial e importante dos indivíduos de nossa espécie, pelo menos aqui no Brasil. Não precisamos conhecer basicamente mais nada, basta apenas existir e sobreviver.

Pois então, como eu não concordo com essa vida insignificante e sem sentido da atualidade, que desprestigia o conhecimento e prioriza futilidades, eu tenho que confessar que estive tremendamente enganado ao longo de minha vida. Eu pensava que agradava com meus discursos e minhas preleções, onde, aparentemente, todos ficavam extremamente atentos, mas na verdade a maioria dos espectadores apenas escutava (se é que escutava mesmo) as minhas palavras e talvez imaginava algo sobre minha pessoa. Hoje eu sei que a grande maioria desses espectadores, nunca foram expectadores, porque nunca houve expectativa, pois de fato eles não me ouviam, eles apenas visualizavam a minha fala.

Na verdade, talvez, eles apenas admirassem a minha capacidade de colocar as palavras e demonstrar o meu conhecimento sobre um determinado assunto abordado, mas na mente deles, esse conhecimento, que era exclusivamente meu, constituía-se numa grande bobagem, porque o conhecimento para eles está no computador e infelizmente eles são incapazes de querer pensar de outra forma. Quer dizer, a atenção era resultante do espanto de ver que alguém é capaz de saber alguma coisa, às vezes, até muita coisa, independentemente da existência ou não do computador. Possivelmente, alguns nem imaginem, que quem criou as informações e colocou-as dentro do computador foram seres humanos como nós.

Para esse tipo de espectador, o “Tio Google” é um gênio, que nasceu sozinho, culto e inteligente e o “Tio Luiz” é um infeliz que estudou e trabalhou muito porque alguém impôs, ou porque ele queria ser melhor que os outros, ou porque não havia coisa melhor para fazer com o seu tempo, ou ainda porque não havia outra forma de ser, mas hoje tudo isso é dispensável e ninguém precisa obter conhecimento, porque o Google já tem toda a informação necessária. É lamentável, mas esta é uma triste realidade.

Pois então, o perigo reside exatamente nesse aspecto, ou seja, na coletividade acreditar que ter conhecimento é algo dispensável. Tem muita gente achando que, como a informação está no computador, ninguém mais precisa se preocupar mais com ela e muito menos em adquiri-la. Desta maneira, “adquirir conhecimento passou a ser uma grande perda de tempo, que não serve para nada”.

O resultado desse descalabro social é o desprezo pelo conhecimento e por qualquer atividade intelectual, principalmente linguística, e o consequente crescimento da bestialidade social, que só se importa com amenidades. Infelizmente a cultura linguística virou sinônimo de futilidade. Como já dizia o saudoso Sérgio Porto (“Stanislaw Ponte Preta”), no seu FEBEAPA (Festival de Besteiras que Assola o País), lá na década de 1960, os erros linguísticos são terríveis. Se os erros já eram terríveis e inadmissíveis naquela época, agora então, o que dizer?

Pois então, as coisas continuam piorando e as perspectivas estão cada vez mais desagradáveis e comprometedoras para a própria sociedade brasileira, que está intelectualmente e linguisticamente cada vez mais pobre. É claro que a língua é dinâmica e obviamente muda com o tempo. Porém, ao contrário do que está acontecendo, a língua, deveria crescer e mudar para melhor, se tornando mais rica com o tempo e essa sua diversidade crescente deveria ser algo natural e inspirador. 

Entretanto, o que se tem, tristemente, observado é uma redução da diversidade língua e da capacidade de comunicação falada e escrita no idioma pátrio. Isto é, a língua portuguesa está cada vez mais pobre, mais generalizada (vulgarizada) e pouco falada e menos escrita ainda. Na verdade, aqui no Brasil hoje, se fala um tipo de “idioma” que consiste numa mistureba de gírias ilógicas, incrementada por palavras de outros idiomas, principalmente o Inglês, que gera uma coisa terrível e quase ininteligível para algumas pessoas, principalmente aquelas mais velhas.

E vejam que eu não estou nem me referindo a essa questão de acabar com o conceito linguístico do gênero das palavras e outros absurdos que estão sendo propostos por alguns analfabetos funcionais, manuseados por outros interesses e envolvidos com outras questões sob o comando de quem quer que seja. Enfim, a bestialidade só aumenta, o país claudica, a nação emburrece e a Língua Portuguesa, lamentavelmente, acaba sendo, quem mais sofre e o que menos importa a todos.

Por outro lado, ainda cabe dizer que essa linguagem diferente e estranha é um “idioma” progressivamente mais bagunçado e sem sentido, que esconde e nega a verdadeira língua portuguesa, além de deformar as demais línguas envolvidas, com criação de termos totalmente incongruentes e teratológicos. Por exemplo, aqui no Brasil se estraga o português e o inglês ao mesmo tempo, quando se cria uma palavra como “X burguer”, porque, ao menos no sanduiche, o cheese do queijo em inglês já virou “X” no português e assim, tem gente comendo sanduiche de” X com hamburguer”, pensando que é queijo com hamburguer.

Eu sinceramente acredito que deveria existir um certo limite para tanto absurdo linguístico e entendo que a própria sociedade deveria se unir no sentido de dar um basta nesta situação que não agrega nenhuma valor à nação brasileira. Ao contrário isso leva a uma situação lamentável e vexatória, que apenas demonstra o quanto a sociedade brasileira ainda está longe de entender os valores nacionais primários.

Franz Kafka, um cidadão da República Tcheca afirma que: “a única coisa que temos que respeitar, porque ela nos une, é a língua”; “Fernando Pessoa, um cidadão Português, disse que: “minha pátria é minha língua”, aquela mesma língua que Olavo Bilac, um cidadão brasileiro chamou de: “a última flor do Lácio”, inculta e bela” e afirmou que: “a pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo”.

Pois é, foi nessa mesma língua portuguesa que Rui Barbosa se tornou o “Águia de Haia” e afirmou que: “a palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade”. Infelizmente, na atualidade, grande parte dos brasileiros não consegue perceber os grandes significados contidos em cada uma dessas curtas sentenças e assim destroem propositalmente o nosso querido idioma pátrio e agem para que o país siga seu rumo sempre atrás de outras nações.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista. É Membro da Academia Caçapavense de Letras (ACL), da Academia de Letras de Lorena (ALL) e da Academia Rotária de Letras do Vale do Paraíba (ABROL-Vale do Paraíba)

25 abr 2022
O Emburrecimento da Humanidade e a Falta de Juízo Rumo ao Fim do Mundo

O Emburrecimento da Humanidade e a Falta de Juízo Rumo ao Fim do Mundo

Resumo: Neste artigo estou procurando chamar a atenção da sociedade sobre a fragilidade e a desvalorização da vida humana na atualidade. Tento demonstrar que a humanidade se perdeu e que a vida humana passou a ser mera contingência da existência e não faz nenhum sentido. A vida se resume unicamente a trabalhar e continuar vivendo à espera da morte. 


Atualmente ter algum conhecimento acima da média, embora ainda não seja considerado crime e nem pecado, certamente já é algo desinteressante ou, pelo menos, pouco desestimulante e constrangedor. Se você demonstra que sabe alguma coisa numa determinada área já lhe tacham como um sujeito presunçoso, que pensa ser uma “enciclopédia ambulante”. Hoje saber sobre algo não parece ser uma coisa boa. E como foi que chegamos nesse lamentável nível?

Bem existem várias maneiras de tentar explicar a questão, mas vou ser bastante direto e resumir tudo numa única frase. Hoje, o que vale é a capacidade que o indivíduo tem de fazer alguma coisa. Não importa quem ou o que seja ele, desde que ele se disponha a assumir uma determinada tarefa, com o sem conhecimento, ele tem utilidade à sociedade. Na verdade, sempre foi assim, mas antes, se colocavam níveis de diversidade e esses níveis eram baseados no conhecimento. Hoje, o conhecimento é o que menos importa.

Assim, se o indivíduo faz alguma coisa. Não precisa saber exatamente o que é essa coisa, basta fazê-la, que esse indivíduo terá o seu espaço como ator social garantido. Se o espaço é bom ou ruim é outra questão, mas existe a garantia desse espaço. É tudo muito simples, mecânico e automático. Se faz serve e se pensa não serve. Por conta disso, temos presenciado um progressivo emburrecimento intelectual coletivo da humanidade. Pior é que tem muita gente acreditando que esse é um bom negócio.

As escolas, principalmente as Instituições de Ensino Superior – IES, deixaram de ser centros formadores de pessoas e passaram a ser “grande linhas de montagens de robôs”. Estudantes viraram autômatos ou simulacros de seres humanos. Os simples e importantíssimos atos de pensar e refletir não tem mais sentido e nem significância na escola e muito menos nas diferentes atividades das vidas humanas, mormente a partir da Pandemia do COVID 19.

Acabaram a poesia, o belo, o amor e o lirismo. Agora é na base do “fazejamento” sem entendimento. Se até existe planejamento da ação, esse planejamento se apoia no para quê e no como, mas não considera importante o porquê e nem considera saber ou se preocupar com ele. O conhecimento perdeu a importância e o sujeito culto em alguma área chega quase a ser pecaminoso, além de chato e acaba ficando numa situação vexatória.

Há uma total inversão de valores. Assim, se o sujeito faz alguma coisa ele já é bom, mas se esse sujeito é apenas bom, então ele não presta, porque não serve à sociedade. É como se servir à sociedade fosse apenas fazer algo concreto para ela, como prestar um favor qualquer. O fazer simplesmente superou o ser, que já havia sido superado também pelo ter. Em suma a pessoa hoje está em terceiro lugar, depois da coisa e do custo. Que espécie de homem estamos produzindo? Que sociedade construímos?

A vida humana perde importância e cada vez mais o ser humano conhece menos de outro ser humano. Não existe fraternidade efetiva entre os seres humanos. Ou seja, a humanidade caminha a passos largos para o fim, nesse mundo estranho e desconexo que estamos estabelecendo. A lógica do mundo atual diz, mais ou menos, assim: “o novo (moderno e tecnológico) tudo pode e faz, enquanto o velho (antigo e detalhado) que se dane, porque só faz o que pode, sem transcender a lógica do conhecimento”.

Ora, quem vai contar a história que está dentro do computador? Alguns dirão: o próprio computador, mas isso é falso, porque o computador apenas guarda a informação. O computador não fala e não questiona, ao contrário, ele só responde às perguntas. Alguém já disse, responder é fácil, difícil é fazer perguntas. Pois então, ficarão faltando as perguntas, porque os novos não pensam e certamente isso não é uma incapacidade ou um defeito natural, é apenas um modismo, um mal jeito da nossa sociedade deturpada, que deu ao jovem muito poder, antes de lhe cobrar qualquer dever. É sabido que o excesso de liberdade traz preguiça, ociosidade e libertinagem. Onde vamos parar?

A vida humana atual, se resume em “trabalhar” (produzir) e “brincar” (divertir). Não há mais reflexão e nem contemplação. A felicidade tão sonhada pelos “velhos” é apenas mais um produto que sai da linha de montagem e que se consome muito rapidamente. Sonhos são violências mentais que precisam ser reprimidos, numa realidade sempre mentirosa de que a imagem da pessoa é sempre mais que a própria pessoa. A coisa que eu faço (represento) é mais importante que aquilo que eu sou, isto é, o personagem suplanta a pessoa do ator.

Aliás, cumpre lembrar, imagem é tudo nessa sociedade fotográfica, cinematográfica e visual que hoje vivemos. Não importa a canalhice, pois o importante é manter a boa imagem. Ninguém quer efetivamente saber de nada, além daquilo que possa lhe trazer alguma vantagem mercantil imediata e ilusória. O ser humano virou migalha do egoísmo e trabalha ativamente para que essa migalha vire pó e que desapareça no ar como fumaça. O ser humano está cada vez mais estranho e menos humano.

Desde que o sujeito faça alguma coisa “útil” para si próprio e para o seu grupo de interesse, ele pode tudo. Ninguém precisa e nem deve pensar e refletir sobre a sociedade atual, basta fazer e continuar sempre fazendo aquilo que lhe mantém na condição, de acordo com os interesses próximos. Já viramos máquinas de traquinagem e embustice há muito tempo.

O maior problema é que a educação e os educadores também estão nessa situação de picaretas de plantão ao desserviço da sociedade, alguns por descrédito, outros por conivência e outros ainda por isonomia ou por quaisquer ideais sociais infelizes e impraticáveis dentro da condição fraterna que deveria existir entre seres humanos. Infelizmente, a escola, mormente as IESs, como já foi dito, mas que precisa ser ressaltado, está progressivamente deixando de preparar seres humanos (pessoas) e ninguém quer perceber esse fato.

Uma máscara imaginária cobriu o rosto de todos e a capa do super-homem fez com que o ser humano ligado à educação, queira ser apenas um super-herói de si mesmo, sem caráter e sem causa social comum. Ou seja, e escola hoje é um arremedo do herói que historicamente foi e que deveria continuar sendo. A escola deveria ser a fonte de resistência da boa conduta social e não o avesso disso, como tem acontecido ultimamente.

Muitas escolas viraram balcões de negócios para alguns e espaços de arbitrariedades para outros, quando deveriam ser centros de prosperidade e integridade para todos. Voluntarismo, benemerência, filantropia, que foram palavras costumeiras nas escolas, hoje, salvo raras e insignes exceções, só são encontradas nos dicionários, que ninguém mais lê e quando lê se assusta, porque não conseguem conceber os seus significados. Onde vamos parar?

Nesse exato momento, vivemos numa Pandemia, onde milhões de pessoas já morreram pelo mundo afora, mas a grande maioria dos “seres humanos” não está nem aí e continua brincando com a vida e com a sociedade, como se tudo fosse muito simples e burlescamente divertido. O natural se confunde com a vulgar e o trivial com o ordinário. Nesse mundo da imagem fotográfica, a vida humana é apenas um mero detalhe perdido na história, onde o que vale é a artificialidade e a necessidade de aparecer sempre mais, para agradar o ego e a alguns afetos e interessados.

Os poderosos brincam com a população que se deleita ou se perde em falsas notícias de soluções mágicas e muito duvidosas. Como consolo, muitos ainda dizem, para reforçar a crença, “tudo bem, a vida é assim mesmo e se eu não morrer, chego lá”. Mas, onde fica lá? Isso ninguém sabe e nem explica! Na verdade, não existe projeto, nem rumo de viagem e muito menos existe o porto de chegada.

Não há esperança, além do não morrer ou do morrer mais tarde possível. Viver é uma simples questão cotidiana ilógica e impensada desse ser humano indolente e cada vez mais frio e menos humano. A realidade mais dolorosa já não causa dor nenhuma, nesse infeliz e aí ele diz: “amanhã, se eu ainda estiver vivo e tiver condições, vou pensar em fazer alguma coisa pela sociedade, mas hoje eu só quero trabalhar, ganhar dinheiro e me divertir”. É triste, mas esse ser existe e ele é fisicamente semelhante a qualquer outro ser humano. Entretanto, falta-lhe exatamente a humanidade. Não há nenhum projeto, além do hoje e do agora.

Que os “velhos” pudessem pensar assim, eu, mesmo não concordando, até entenderia, porque a maioria deles já viveu bastante. Esses “velhos” já fizeram suas histórias, contaram outras e certamente já deram a sua colaboração à sociedade de várias maneiras. Mas, os “jovens” necessitam agir de maneira diferente. No entanto, são exatamente os “jovens” que estão agindo como “velhos” nesse mundo incoerente e insano que só emburrece e se torna insistentemente mais desumano.

São “jovens” que estão destinados a permanecer nesse mundo sem história e sem sentido. Ou melhor, são “jovens”, que embora conheçam as escolas, estão totalmente desorientados na vida e cujo único objetivo é o próprio umbigo, ou, quando muito algum umbigo próximo e comum. Todos esqueceram e apagaram o que já existe e criam outra realidade a partir do nada, como se o passado, mesmo o deles, nunca tivesse existido. Entendem o futuro como uma simples continuidade contingencial do presente, que não precisa de nenhuma programação.

Não há sonhos e nem planos, existe apenas conformidade de que tudo vai acabar mesmo, dentro de um niilismo tão profundo que assustaria o próprio Nietzsche. Então, para esses “jovens” não há nenhuma coerência e nem faz sentido pensar no bem, pois a morte é certamente o único sentido da vida. E Deus e a religiosidade, onde ficam nessa história? Infelizmente, Deus também é só mais um detalhe insignificante e quase desprezível para a grande maioria.

Nem Deus e nem as religiões têm conseguido mudar o caos, haja vista que mesmo nessas questões religiosas, apenas dois lados atuam significativamente: os fanáticos e os descrentes, que agem de maneira a manter a condição imperante. Por outro lado, a grande maioria, que transita entre os dois extremos citados, simplesmente não se envolve, possivelmente, porque em algum momento da história, alguém disse: “religião não se discute”. Os “jovens” estão perdidos e ainda não sabem, porque eles acreditam piamente que estão bem, permanecendo longe da discussão religiosa.

Meus amigos, como eu já disse, aparentemente estamos caminhando para o fim e voltando ao caos. Quer dizer, está parecendo que o juízo final será semelhante ao caos inicial. A pandemia do COVID 19 resplandeceu a ironia de Voltaire e todo mundo está podendo dizer e fazer o que quiser numa desordem generalizada. O mundo emburrece, muita gente diz coisas, mas ninguém está fazendo realmente nada para mudar esse quadro lamentável. Ou a humanidade reencontra o fio da história e começa a agir em prol da recuperação dos verdadeiros valores humanos ou o juízo final está mais próximo do que muitos podem pensar.

LUIZ EDUARDO CORRÊA LIMA (66) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

21 jan 2022
A Situação Atual da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul

A Situação Atual da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul

Resumo: Neste artigo o autor apresenta uma pequena viagem histórica, sobre os 400 anos de ocupação da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, sua consequente degradação e chama a atenção para a necessidade dos cuidados que visam permitir a garantia de água para a gerações atuais e futuras na região.


(Texto base para a Palestra Proferida no Rotary Club do Rio de Janeiro)

Era uma vez um Rio, que nascia no topo de uma serra (Serra do Mar), no município de Areias/SP, com o nome de Rio Paraitinga, a menos de 100 quilômetros do Oceano Atlântico e que, um pouco mais à frente, ainda nessa mesma serra, se encontrava com outro, o Rio Paraibuna, e assim se formava o Rio Paraíba do Sul. Ele segue, descendo esta serra, em sentido Sudoeste, até esbarrar num maciço rochoso intransponível de outra Serra, (Serra da Mantiqueira) e assim é obrigado a mudar de rumo passando a se dirigir para o norte.

A partir daí, em sua caminhada, este rio atravessa toda região do Vale do Paraíba Paulista, adentra o estado do Rio de Janeiro e segue entre essas duas serras, recebendo contribuição de alguns afluentes, margeando o estado de Minas Gerais, até transpor de vez no Rio de Janeiro e seguir em direção sudeste até o Oceano Atlântico, alcançando a praia de Atafona, no município de São João da Barra. Desde seu surgimento até o encontro com o oceano, este rio segue um percurso total de aproximadamente 1.150 quilômetros e sua bacia hidrográfica abrange uma área total com mais de 55 000 Km².

Pois então, no início este rio só conhecia a água que conduzia e as espécies vivas que havia dentro dessa massa de água, além, é claro, das margens que se ampliavam ou diminuíam, de acordo com a quantidade maior ou menor de água que existia, em função das chuvas. Seu entorno era basicamente uma floresta de galeria (mata ciliar) e alguns poucos animais que chegavam às suas margens e obviamente os poucos humanos nativos, os Puris, que já existiam na região.

Por volta de 1560, esse cenário começa a se modificar, com a chegada, ainda escassa e pouco significativa do homem branco. Entretanto, no início do século XVII (1620), essa calmaria se transforma progressiva e rapidamente, porque a presença do homem branco é cada vez maior e suas atividades, a princípio apenas agrícolas e mineradoras de subsistência. Depois o comércio se intensifica, as populações crescem, ampliando as vilas e as cidades que surgem e crescem cada vez mais. Porém, o cenário segue ainda pacato e bucólico.

Passam o ciclo da cana e a rota do ouro e aí, pouco depois de 1800, vem o café, o “ouro verde”. Nesse momento a fisionomia da região se transforma grandemente e o rio Paraíba do Sul, rapidamente também começa a mudar significativamente, porque tudo o que sobra, isto é, todo o resíduo vai diretamente parar em suas águas, que, nessas alturas, já não são tão limpas e vão ficando pior.

Nessa época os empregos eram quase todos agropastoris, e depois de 1880 a ferrovia assumiu alguns trabalhadores e as olarias, as tecelagens, as fábricas de pólvora e os pequenos comércios mealhavam outros. Depois de 1920 o café, que já vinha em declínio, desde 1880, praticamente acabou. Os ricos ou foram embora ou ficaram pobres e os pobres ou morreram ou ficaram miseráveis.

Os negros, não mais escravizados, desde 1888, com a Lei Aurea e sim trabalhadores reforçados pela República em 1889 e a Constituição de 1891, agora não tinham mais empregos, porque o café que ocupava quase toda a mão de obra não existia mais e os demais empregos eram muito raros. Deste modo, as cidades entraram em declínio, a ponto do célebre escritor Monteiro Lobato denominar um grupo delas, localizadas no chamado fundo do vale, de “Cidades Mortas”, haja vista que decresceram grandemente. Em, 1870, por exemplo, a cidade de Silveiras tinha 25.000 e hoje apenas 6.500.

Novas tentativas surgiram, a partir de 1925 veio a exploração do gado leiteiro, num solo pobre por conta do uso excessivo na monocultura do café, e aí esse solo não aguentou com o pisoteio do gado, produzindo algumas pequenas manchas desérticas na região, que até hoje são visíveis. Veio o “crash” (quebra) da bolsa de Nova Iorque (1929) e partir de 1940, iniciou-se o período de Industrialização da região do Vale do Paraíba e daí para frente a Bacia do Paraíba do Sul passa por transformações drásticas e continuas que se sucedem até hoje.

Vou citar, algumas das coisas que aconteceram ao longo desse período, sem nenhuma preocupação com as consequências para o Rio Paraíba do Sul e toda área da Bacia. A Guerra Paulista ou Revolução Constitucionalista (1932) e a consequente implantação da AMAN (1944) em Resende, o que desenvolveu a instalação de uma série de quartéis na região e o incremento da poluição bélica na região, com inúmeras fábricas de armamentos. Ocorreu a implantação de CSN (1946) e os inúmeros represamentos para garantir energia para a megaempresa. Depois vieram as implantações de diques e a retificação do curso natural do Rio Paraíba do Sul (1949); a implantação do CTA (1949), a Transposição para o Rio de Janeiro (1953) e a represa do Ribeirão das Lajes.

Também houve a opção pelas rodovias (“Governar e construir Estradas” – Washington Luiz- 1928) e a vinda da Estrada Rio – São Paulo (1928) e a Rodovia Presidente Dutra (1951) e atrás delas as grandes empresas montadoras de automóveis GM (1959), da FORD (1974) e da VOLKS (1976) e recentemente inúmeras outras. Enquanto a Europa rica, andava de trem, o Brasil pobre investiu em carros. Aconteceu a criação da Petrobrás (1953) e das Refinarias REDUC (1961) e REVAP (1980); a criação da EMBRAER (1969) e suas inúmeras subsidiárias.

Para garantir a água e a energia e ainda para controlar as enchentes houve a formação e a implantação dos reservatórios de Santa Branca (1958), de Funil (1969), de Paraibuna (1970), do Jaguari (1981), inúmeras indústrias Químicas entre 1950 e 1970, a implantação das Indústrias Nucleares do Brasil – INB (1988) e várias outras coisas, todas extremamente comprometedoras da qualidade do meio ambiente e da água da Bacia. Cabe lembrar ainda que nesse período também houve a segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), que, embora longe, do outro lado do atlântico, dificultou mais ainda o que já não ia bem por aqui.

Com isso, a poluição hídrica industrial e orgânica passou a crescer exponencialmente, houve aumento da necessidade progressiva de energia elétrica, as populações das cidades que já estavam dentro das várzeas do Rio Paraíba do Sul e outros rios menores cresceram muito e as manchas urbanas ficaram imensas e com conurbação em vários trechos. Cabe lembrar, que, além disso, a partir de 1990 ainda vieram implantação da monocultura do eucalipto, a instalação das Pequenas Centrais Hidrelétricas (2009), a fatídica transposição para São Paulo (2015) e mais uma série de coisas não muito bem explicadas.

Que fique claro que muitas dessas ações, obras e empresas foram necessárias, porque muitas delas foram e são efetivamente essenciais ao desenvolvimento da região. Assim, aqui não vai simplesmente crítica a existência delas, mas sim a falta total de critérios e o desrespeito ambiental ao longo de suas respectivas implantações e mesmo de alguns de seus processos operacionais que acontecem até hoje. Como, por exemplo, cabe citar as várias tentativas de implantação de Mega termelétricas no Vale do Paraíba.

É claro que também aconteceram coisas boas, a criação dos Parques Nacionais do Itatiaia (1937) e da Bocaina (1971) e finalmente depois da década de 1990 alguns projetos de recuperação florestal, a implantação legal do licenciamento ambiental, mas que lamentavelmente ainda ocorre à “meia boca” em muitos casos. Vieram as Leis ambientais e a lei da água em 1997, além de algumas práticas de produção mais limpa e de controle da poluição pelas indústrias e ainda as instalações de Estações de Tratamento de Água – ETAs e Estações de Tratamento de Esgoto – ETEs, também por algumas empresas estaduais ou municipais da região.

Ou seja, dos 400 anos dessa história, apenas nos últimos 30 anos, passamos a estar efetivamente mais preocupados com a qualidade ambiental da região e com a água que ela nos fornece. Há de se convir, que ainda é muito pouco e necessitamos fazer mais, para garantir nossa manutenção e das gerações futuras. A Sustentabilidade não pode ser apenas um modismo, ela tem que ser um compromisso da sociedade e um mecanismo efetivo e eficaz, do qual todos temos que tomar parte.

Enfim, aquela região que outrora era bucólica banhada por aquele rio que era calmo e sereno, cheio de meandros, de velocidade bastante baixa, o que fazia com que as águas subissem muito na época das cheias e inundassem grandes áreas marginais e enriquecesse as várzeas de nutrientes se transformou totalmente. Assim, agora, depois da retificação e do crescimento das cidades e das diversas atividades sem nenhum critério ambiental, ele está poluído, corre rápido e suas cheias são complicadas e trazem doenças, situações calamitosas e outros grandes problemas, tanto nas cheias, quanto nas baixas (crise hídrica). 

Em suma, o Rio Paraíba do Sul, certamente não é mais aquele rio do início da história, hoje ele é outro rio e sua bacia também está muito diferente daquela que existia. Pois então, em pouco mais de 400 anos, nós humanos mudamos quase tudo e nos esquecemos do Rio e de sua Bacia Hidrográfica, que nos alimentam e nos mantêm, pois são fonte de toda água que tanto necessitamos e que, já faz algum tempo, começamos a ter carência. A cada dia que passa essa carência só aumenta e nós continuamos seguindo despreocupadamente como se nada estivesse acontecendo.

Entretanto, nós temos que responder a quatro perguntas simples e fundamentais:

1 – Qual a real situação atual da Bacia?

A Bacia está comprometida, sua segurança hídrica está ameaçada e ela tem que atender o segunda maior concentração humana e o segundo maior parque industrial do país. As Nascentes que geram a água estão secando, o Desmatamento e desbarrancamento das margens e o Assoreamento dos rios, as Cidades dentro dos Rios e Inundações cada vez maiores, a Poluição química industrial está relativamente controlada, mas existe, a poluição química por agrotóxicos e a poluição orgânica chegam a níveis absurdos (falta de tratamento de água e de esgoto). Muito Veneno nas águas, muita gente e muitos usos e pouca água. A conta acaba sendo sempre negativa aos interesses da própria Bacia Hidrográfica e obviamente para quem depende dela, ou seja, todos nós. 

2 – É essa situação que nós queremos?

Se a resposta for sim, então tudo bem, sigamos a caravana para ver onde vamos chegar. Mas, se a resposta for não, então temos que responder a outras perguntas:

3 – Então, já que não queremos o que temos, como devemos proceder para mudar?

Cuidar, essa é a palavra, o verbo, a ação que deve prevalecer antes de qualquer outra no que tange a água da região.  Nossa responsabilidade é proteger e recuperar nascentes, restaurar áreas florestadas, implantar estações de tratamento, desenvolver novas tecnologias industriais (reuso), priorizar as águas para o abastecimento humano conforme está na lei e não permitir usos duvidosos e muito menos indevidos. É claro que todas essas ações envolvem, antes de qualquer coisa, vontade política e governança.

4 – Quais são as nossas perspectivas futuras?

Ou fazemos o dever de casa e cuidamos da Bacia ou não teremos alternativas na região, porque não temos de onde retirar água, a não ser que se invista em grandes projetos de dessalinização, o que é um absurdo num país como o Brasil, que tem o maior contingente de água continental do planeta (13%).

O Brasil tem muita água no Norte, mas o Sudeste e a cidade do Rio de Janeiro, em especial, não tem, porque não tem grandes rios: a cidade, embora esteja fora de sua abrangência, depende das águas da Bacia do Paraíba do Sul. São Paulo, por sua vez, tem rios caudalosos e muita água, mas hoje é o segundo estado mais carente de água do país, porque é o que mais usa e necessita de água. Temos que cuidar desse recurso natural sempre, tendo ou não tendo ele em quantidade.

Para concluir, é preciso lembrar que sem água não existe vida, principalmente vida humana que, além de tudo, depende de um tipo de água especial (a água potável). O Rotary International como entidade humanitária e preocupada com o Meio Ambiente, a Sustentabilidade e a qualidade de vida, tem que ser agente efetivo na cobrança das políticas públicas e, quando possível, no apoio à produção de mecanismos que visem minimizar a degradação ambiental da região e em particular, aqueles mecanismos e ações que garantam a água em quantidade e de qualidade para toda a população.

Bem, essa era a história que eu tinha para contar e agora penso que devamos discutir sobre ela.

Muito obrigado pela atenção.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Palestra Virtual (Plataforma ZOOM) no Rotary Club do Rio de Janeiro, em 19 de janeiro de 2022

10 jan 2022
100.000 visualizações

Agradecendo 100.000 visualizações

Resumo: Amigos, meu “blog” (www.profluizeduardo.com.br)  atingiu as marcas de 100.000 VISUALIZAÇÕES E 75.000 SESSÕES e 65.000 USUÁRIOS. Muito obrigado a todos!


Meus amigos, após logos 7 anos e 5 meses (89 meses), meu “blog” (www.profluizeduardo.com.br)  finalmente atingiu a significativa e impressionante marca histórica de 100.000 (CEM MIL) VISUALIZAÇÕES E MAIS DE 75.000 (SETENTA E CINCO MIL SESSÕES) e 65.000 (SESSENTA E CINCO MIL) USUÁRIOS e obviamente, eu só tenho a agradecer aos usuários e leitores conhecidos e a grande maioria dos desconhecidos, que me permitiram alcançar tão considerável marca.

Hoje, lá estão publicados 160 textos de minha autoria, muitos dos quais também publicados em outros locais e meios (eletrônicos e impressos). Até aqui mantive uma média geral de mais de 1.123 visualizações por mês, mas certamente, se considerar apenas os três últimos anos a média está acima de 1.250 por mês e tem crescido bastante nos últimos tempos. Além disso, o “blog” recebe um público de 75% de leitores efetivos e quase 87% dos 65.000 usuários que visitaram o “blog”, certamente leram algum texto. 

Se for considerar todas as leituras de meus artigos em “sites”, “blogs” e periódicos impressos, certamente, há muito tempo já passei das 500.000 mil leituras. Só no Portal do Recanto das Letras, onde publiquei 114 artigos e um “E-book”, desde agosto de 2008 até julho de 2014 (quando comecei meu “blog), tenho mais de 284.000 (duzentas e oitenta e quatro mil) leituras. Há, inclusive, um texto com mais de 88.500 (oitenta e oito mil e quinhentas) leituras e outros também na casa das dezenas de milhares de leituras e ainda outros tantos na casa dos milhares.

Então, embora eu não seja um grande “blogger”, nem tenha pretensão de ser um bloguista famoso, quero apenas ser um blogueiro que trata seu “blog” como um local de informação e opinião. Além de amigos e prazer pessoal, nunca ganhei absolutamente nada, do ponto de vista econômico, com meu “blog” ou com minhas outras publicações. Além disso, não escrevo textos pequenos e vazios, para serem lidos por muitos, ao contrário, escrevo textos grandes e repletos de informação, o que acaba sendo “chato” para muita gente.

Não, definitivamente meu “blog” não é para me promover e muito menos para me enriquecer, ele apenas pretende ser um foro de discussão sobre assuntos de interesse. Graças a Deus, eu já passei dessa fase de investir na minha autopromoção apenas para ganhar dinheiro há muito tempo. É claro que quero ser lido, mas não compro leitores e nem vendo informações, continuo sendo um sujeito que gosta de escrever, além de Cientista (Biólogo) que quer aprender mais sobre as coisas e um Professor que quer dividir o conhecimento que pode adquirir ao longo de mais de 45 anos de exercício da pesquisa e do magistério.

Meu “blog” tem sido somente para aqueles que querem informação e conhecimento sobre determinados assuntos que escrevo, principalmente Biologia, Ciência, Educação, Ensino e Meio Ambiente e ainda, que querem conversar sobre esses assuntos. Deste modo, logicamente não posso me comparar com os bloguistas que estão na casa dos milhões de visitas, mas estou extremamente satisfeito com os resultados que tenho conseguido até aqui.

Assim, quero dizer que vou continuar com meu trabalho de produzir textos e mais uma vez, quero agradecer aos usuários e leitores, além convidá-los a continuar apoiando esse pequeno, mas significativo trabalho que tenho desenvolvido. Minha busca continua sendo aprender e informar pessoas e manifestar minhas opiniões sobre determinadas questões cotidianas que, a meu ver, necessitam ser mais bem discutidas por toda a sociedade, para que a humanidade e particularmente o Brasil possa ser melhor no futuro.

Para encerrar, quero dizer que continuo contando com a colaboração dos leitores e por isso mesmo, solicito que continuem lendo, discutindo, compartilhando e divulgando os artigos que, de alguma maneira, acharem interessantes. Mais uma vez, muito obrigado a todos e sigamos no caminho para os duzentos mil.

Prof. Luiz Eduardo Corrêa Lima

25 nov 2021
A Escola Brasileira, seus Atores Sociais e sua Possível Recuperação

A Escola Brasileira, seus Atores Sociais e sua Possível Recuperação*

Resumo: O texto apresenta uma exposição generalizada sobre a instituição social escolae sugere concretamente algumas possíveis soluções para minimizar a atual situação de degradação que essas instituições vem sofrendo no Brasil e quem sabe melhor viabilizar a educação no país. 


INTRODUÇÃO

Primeiramente é preciso que se discuta sobre o que é exatamente aquilo que chamamos de Escola, suas funções específicas, sua necessidade comunitária e importância social. Para muitos a escola ainda é aquela casa onde ficam os estudantes; para outros tantos, a escola é apenas o lugar, uma casa, para que os alunos, principalmente os jovens, possam aprender; outros ainda acreditam que a escola é uma entidade para orientar e informar as pessoas. Entretanto, todas essas maneiras de pensar estão erradas, porque a escola é uma instituição que se presta a fazer muito mais do que essas pequenas coisas.

A concepção de escola deve ter uma abrangência muito mais ampla e mais significativa no contexto maior da sociedade. Afinal, a escola, é a segunda maior entidade social, vindo logo depois da família, mas diferente dessa, a escola não se restringe ao corpo familiar ou ao grupo próximo. A escola vai muito além daquilo que é próximo e busca exatamente demonstrar que existem outras coisas, além daquelas que estão próximas do indivíduo e de sua comunidade.

A escola é uma instituição fundamental das sociedades humanas, suas funções atingem os indivíduos no momento presente e transcendem esse instante, visando também preparar os indivíduos para o futuro. A escola busca a capacidade de integrar os seres humanos às diferentes formas de sociedades no espaço e principalmente no tempo. Sem escola não há sociedade humana verdadeira, embora possa haver um agregado de pessoas, formando comunidades que trocariam aprendizados entre si.  Somente a escola pode conferir e transgredir o limite comunitário e projetar o conhecimento abrangente do mundo e de todas as ações da humanidade.

Deste modo, assumindo tamanho grau de importância, parece incrível, mas tem muita gente, até mesmo dentro das escolas, que ainda não se deu conta do verdadeiro valor desse tipo fundamental de instituição social, que além de tudo é quase uma exclusividade das sociedades humanas, isto é, uma particularidade da espécie humana. Não fosse a escola e as interações humanas que ela permite, talvez ainda estivéssemos bem próximo à vida que tínhamos na idade da pedra. O desenvolvimento social da humanidade é consequência direta e obrigatória da existência da escola e de seu desenvolvimento como instituição social.

Nosso objetivo nesse ensaio é exatamente refletir e demonstrar nosso ponto de vista sobre esse fato importante, discutindo um pouco sobre a questão e referenciando os atores sociais, suas funções e principalmente porque estamos, aparentemente, tão longe da realidade necessária que deveria existir na dimensão efetiva daquilo que se espera da escola.

OS ATORES SOCIAIS DA ESCOLA

Na escola existem 3 tipos fundamentais de atores sociais: o aluno, o professor e o funcionário. Obviamente existem outros atores transitórios e temporários (“stakeholders”), que fazem parte, ainda que indiretamente, da comunidade escola, entretanto, esses outros atores não serão considerados aqui, exatamente porque eles não têm significado imediato e nem ação intrínseca na função precípua de entidade social escola.

O agente principal e o próprio fundamento da escola como entidade social é o aluno, aquele sujeito que a escola quer preparar para ser um indivíduo melhor à sociedade. Pode se dizer que, primitivamente, a escola se desenvolveu única e exclusivamente para servir ao aluno. Deste modo, se não existisse aluno, possivelmente não haveria escola. Pois então, nossa realidade atual, deixa transparecer que o aluno, objeto primário da escola, está cada vez mais desinteressado sobre ela. Vejam bem, o aluno não se interessa pela escola, que existe por causa dele. Em certo sentido, é o mesmo que dizer que a escola está morrendo, porque, como já foi dito, não existe escola sem aluno e se o aluno não quer a escola ela não precisa existir.

Outro ator da escola é o professor, que, embora não seja a causa da existência da Escola, em muitos casos e situações, ele pode ser o ator que justifica a continuidade e o desenvolvimento da escola. O professor é o sujeito que cria as condições para que o aluno possa aprender e se aprimorar na escola e na vida. Assim, cumpre ao professor a tarefa maior de manter a escola ativa e funcionando, porque é ele que pode manter o interesse e o envolvimento do aluno com a escola. Sem professor a escola não funciona, porque não haverá quem oriente o aluno e assim, sem professor a escola também deixa de existir.

A outra categoria de atores, muitas vezes desconsiderada na sua importância, é o funcionário. Aqueles sujeitos que mantém a estrutura operacional da escola e que garantem as condições de funcionamento do prédio escolar, com todas as suas peculiaridades. Obviamente a escola não precisa deles para funcionar integralmente na sua função precípua, mas, por outro lado, se eles não existirem a escola vai definhar progressivamente até acabar. A importância dos funcionários transcende ao interesse primário da escola, mas eles são fundamentais para a continuidade das ações escolares.

Assim, temos nesses três elementos supracitados diferentes graus de importância para que a escola continue existindo e prestando seus serviços à sociedade. Agora vamos discutir sobre esses respectivos serviços, respondendo às seguintes questões: quando e por que a sociedade se viu na necessidade de inventar a escola? Para que efetivamente serve a escola? A escola continua cumprindo sua missão primária? 

FUNÇÕES SOCIAIS DA INSTITUIÇÂO ESCOLA

Acredito que prioritariamente a escola surgiu e se desenvolveu pela necessidade da transmissão dos conhecimentos e consequente aprendizagem de determinadas ações humanas. Desde a Grécia Antiga, já existiam “escolas”, porém ainda não havia uma publicidade da condição escolar. Na idade Média, o aprendizado escolar era para poucos abastados e mesmo os “professores” eram poucos e o ensino basicamente acontecia em casa. Apenas no final do Século XVI, na Europa, é que começou a surgir a prática da educação pública universal e obrigatória. A partir de então, as escolas, como entendemos se multiplicaram, principalmente depois do final do século XVII e durante o século XVIII com o iluminismo.

Essa escola, que é a que existe até hoje, com algumas poucas modificações depois do surgimento da chamada Escola Moderna, no início do século XX, foi criada e desenvolvida com o intuito básico de cinco ações imediatas, além de socialmente interessantes e fundamentais: ensinar o jovem (aprendiz); preparar (construir) um ser humano melhor; criar (desenvolver) o cidadão; formar (produzir) o profissional e socializar (integrar) os indivíduos para a vida em coletividade. 

Imagino, que possa existir aqui e ali, alguns pequenos detalhes e ajustes, mas são as funções da escola até hoje e a meu ver devem continuar sendo. Entretanto, parece estar cada dia mais difícil manter essa condição, porque outros interesses têm falado mais alto e a essência da escola tem sido relegada a segundo plano, pelo menos aqui no Brasil. Suas atribuições infelizmente não aparentam estar condizentes com as prioridades humanas nacionais e assim, cada vez mais, se observa menos a importância da escola em nosso país. 

Temos problemas em todos os níveis, desde o acesso dos alunos e ingresso nas escolas, passando pela formação dos professores e na especificação das atividades dos funcionários. Além disso, a questão dá pouca ênfase, leva ao desinteresse dos alunos, que aprendem coisas mais interessantes fora da escola e mesmo dos professores, que obtém melhor condições de trabalho e subsistência em outras funções. Como as escolas decrescem, os funcionários também são cada vez menos necessários. 

Em outras palavras, as escolas estão ruindo pelo país afora. Quero lembrar mais uma vez que esse é um artigo de opinião e esse é a opinião de alguém que está dentro da escola desde o final da década de 1950, como aluno, e que também têm mais de 45 anos como professor. Ou seja, alguém que viveu (está vivendo) a vida toda dentro da escola. Mas, por que será que isso está acontecendo? Será que é possível voltar aos trilhos? Afinal, o que fazer? 

Será que os Atores Sociais da Escola Brasileira estão cumprindo os seus respectivos e devidos papéis? Será que a Instituição Social Escola, aqui no Brasil, está atuando efetivamente dentro das necessidades estabelecidas pela sua existência? Ou melhor, temos verdadeiramente escola no Brasil? 

Posso estar errado, mas Infelizmente penso que a resposta para ambas as perguntas acima é não. Estamos longe do que deveria ser uma escola em quase todos os sentidos, porque hoje (já faz algum tempo) o aluno deixou de ser o principal objetivo da escola e o professor deixou de ser o principal veículo para desenvolver o aluno. Além disso, os funcionários passaram a ser simples agentes passivos que fazem parte do sistema por mera contingência, apenas compõem o quadro, mas não têm importância para o sistema e só interessam a eles mesmos e assim, se tornaram pessoas de dentro da escola, mas alheias à instituição e seus interesses.

Pobre escola que se acabou por conta do descaso das autoridades, do desinteresse da comunidade próxima e principalmente do desleixo da sociedade em geral. Precisamos voltar às origens e recuperar a verdadeira noção de escola refazê-la na sua essência, como instituição social fundamental à formação e ao desenvolvimento do cidadão brasileiro.

RELACIONAMENTOS SOCIAIS NA ESCOLA

Os diferentes atores sociais da escola se relacionam e esses relacionamentos se distribuem pela sociedade. Existem três níveis de relacionamentos possíveis: “Indivíduo x Indivíduo”; “Indivíduo X Comunidade” e “Indivíduo x Sociedade”. No primeiro caso, as relações podem ocorrer entre: Aluno x Aluno; Aluno x Professor; Aluno x Funcionário e Professor X Funcionário. No segundo caso, as relações podem ocorrer entre: Aluno x Escola; Professor x Escola e Funcionário x Escola. No Terceiro caso, as relações podem ocorrer entre: Aluno x Sociedade; Professor x Sociedade e Funcionário x Sociedade. Vamos comentar um pouco sobre essas relações e seus desgastes na escola brasileira atual. 

A relação Aluno X Aluno ainda é que se mantém mais forte dentre todas as relações. Entretanto ela está enfraquecendo progressivamente, por conta da influência externa à escola sempre crescente, em função da INTERNET das Redes Sociais Eletrônicas virtuais que se multiplicam e são cada vez mais efetivas na aglutinação de pessoas, em especial, dos jovens. Esse fato obviamente traz reflexos nas relações reais, mas, aparentemente, os alunos ainda se relacionam bastante entre si. 

A relação Professor x Aluno, foi a que mais sofreu e com isso a escola perdeu muito. Além do hiato etário, existe também o hiato intelectual, porque os professores de hoje são, em sua grande maioria, carentes de cultura geral e de difícil capacidade de atrair e convencer os alunos. Mas, a questão mais importante não se limita a isso. O que aconteceu de pior é que o respeito e a consideração que não só mantinham, mas que principalmente condicionavam a relação Professor X Aluno foram quase totalmente perdidos.

Infelizmente, pelas mais diversas razões, a figura do Professor não é mais vista como fora outrora, nem pelos alunos e muito menos pelos pais dos alunos. Aquela figura culta que estava preocupada com a educação e com a formação dos jovens e que tinha apoio quase incondicional dos pais, lamentavelmente quase não existe mais. Os filhos superprotegidos tomaram o lugar de qualquer boa intenção dos professores. O professor hoje é visto com um profissional de segunda categoria, que não serviu para outra coisa melhor e que por acaso está naquela escola ministrando aulas para o “meu filho”. Esse fato, aliado a algumas leis absurdas e bestiais, que limitaram o exercício da autoridade do professor, acabou com a liderança e o respeito na maioria dos casos. Muitas aulas são verdadeiros antros de tudo que a escola não deveria possuir, ou melhor, daquilo que deveria combater. O pior é que, cada vez mais, se faz vista grossa desses erros.

É claro que há exceções boas e efetivas, mas é preciso mudar algumas tendências e condições para que possa retornar à situação anterior. Mas, o tempo passa e isso parece ficar cada vez mais difícil. O que se vê é professor sendo agredido por aluno e vice-versa, além de também existir inúmeros professores abandonando a escola e o magistério por causa de aluno e alunos abandonando a escola por conta de professor. A intolerância, oriunda principalmente da falta de respeito, das duas partes, é a característica maior nas relações, que estão realmente muito estremecidas. 

A relação Aluno X Funcionário que sempre foi a mais frágil, hoje praticamente não existe, porque os alunos entendem que os funcionários são seus empregados e tudo tem que acontecer a tempo e a hora. O conflito é muito grande. No que tange aos professores e funcionários a situação também caminha para um colapso, porque os funcionários se sentem humilhados e os professores também e assim, a situação fica bastante desagradável. Ainda existem bons relacionamentos, mas eles são muito supérfluos e frágeis. 

Desta maneira, a relação de ambos, alunos, professores e funcionários com a escola, a comunidade escola está muito ruim e o que deveria caminhar para o paraíso, está muito próximo do inferno. Alunos, professores e funcionários se tropeçam, se suportam, se aturam e convivem na escola, na maioria das vezes, apenas e tão somente, por contingências ocasionais ou por conta da obrigação. Na verdade, acabaram com a escola e esqueceram que a ela era um local de EDUCAÇÃO. Isto implica no fato de que a comunidade escola está muito indo de mal a pior. 

Ora, se a comunidade escola, está nessa condição péssima, a sociedade onde ela está inserida não pode estar tendo benefícios com sua presença e atuação. A sociedade que, em certo sentido, dependente das comunidades escolas está perdida, porque não tem mais o respaldo social que a escola deveria fornecer. Nem mesmo a função fundamental de apenas ensinar está sendo realizada a contento.

Alunos entram e saem da escola de Ensino Básico analfabetos e depois chegam e às vezes saem das faculdades ainda analfabetos. O pior é que depois disso, muitos vão ser “profissionais” nas mais diversas áreas e alguns até serão “professores”. O sistema parece que apoia essa situação lastimável, porque muito pouco tem sido feito para tentar frear esse quadro e quando se tenta fazer algo de positivo, a mídia entra em cena para manter o “status quo”. A situação está realmente periclitante e infelizmente, parece estar caminhando para a insolubilidade. 

Pois então, a Sociedade brasileira, por várias causas, está doente, mas certamente uma dessas causas e talvez a mais importante delas é o fato de que A ESCOLA BRASILEIRA ESTÁ DOENTE e piorando progressivamente. Outras instituições sociais e outros interesses tornaram a escola um lugar que não se justifica mais, dentro do objeto de sua criação, porque hoje ela tem sido quase tudo, menos escola. Obviamente, estou me referindo a ideia real e efetiva de uma escola e é lógico que existem exceções, mas infelizmente são exceções, quando deveriam ser a regra. E aí, eu pergunto: como podemos nos preparar para mudar a escola e torná-la novamente numa escola?

PROPOSTAS DE SOLUÇÕES

Bom, mas é óbvio que devem existir soluções e vou até me atrever aqui a citar algumas delas, correndo o risco de ser tachado como louco ou como coisa pior. Mas, se quando jovem, eu já não tinha preocupação em agradar a todos, na minha idade atual é que isso não vai fazer nenhum sentido para minha pessoa. Penso que as soluções existem e são extremamente simples, elas requerem apenas um pouco de boa vontade, além de interesse efetivo e determinação em melhorar e educação no país.

Proposta I

A meu ver a coisa só vai começar a funcionar quando voltar a autoridade do professor e para isso é simples, basta rever, SEM DEMAGOGIA, a legislação e devolver o direito dos professores e dos alunos, sem qualquer benefício de qualquer parte ou setor, por qualquer interesse externo à própria escola como instituição. Aluno é aluno e professor é professor, não importa quem, onde ou como. Se fez tanta concessão que o professor não pode nada e alguns alunos podem tudo, inclusive impedir o professor de tentar ministrar a sua aula. Ora, isso é mais que absurdo, mas está é a realidade imperante e precisa deixar de ser. 

Aluno que não quer aprender não precisa vir na escola e pai de aluno não pode de maneira nenhuma ter poder dentro da escola, além daquele que lhe é pertinente como pai. Isto é, seu poder se limita aos seus filhos e isso não pode lhe permitir interferir nas questões escolares. Se não concorda com o que a escola faz, coloque seus filhos em outra escola, mas a escola não pode ficar mudando para atender a interesses de pais. A escola já tem muito que se preocupar e não pode se preocupar com questões externas.

Não quero voltar à palmatória ou a ficar de joelho no milho, mas é preciso estabelecer a ordem na escola e a hierarquia do trabalho. O aluno tem de seguir algumas normas estabelecidas e não pode fazer o que quer e obviamente o professor também não. A escola envolve alguns compromissos de ambas as partes, que são fundamentais e precisam ser cumpridos para o bom andamento das atividades escolares e do processo ensino-aprendizagem. A libertinagem que acabou sendo implantada nas escolas favorece a desordem de ambos os lados e isso não é bom para a escola e assim, também não pode ser bom para a sociedade. 

Proposta II

Lembrar que na escola existe uma ordem a ser mantida para o bem de todos e que esse ordenamento é o que justifica e projeta os fundamentos da escola com entidade social. Esses fundamentos, já foram ditos, mas cabe repeti-los aqui para que fique bem claro. São eles: ensinar o jovem (aprendiz); preparar (construir) um ser humano melhor; criar (desenvolver) o cidadão; formar (produzir) o profissional e socializar (integrar) os indivíduos para a vida em coletividade. Se não tomarmos esses fundamentos como obrigação, não há necessidade de ordenamento, mas aí também não faz nenhum sentido a existência da escola. 

Temos que parar com esse negócio de que na Instituição Social Escola pode tudo. Ou melhor, dependendo do momento até pode ser, mas tem que existir ordem. Tudo pode, mas na hora e no local devido, fora disso não deve existir nada que prejudique o bom andamento dos trabalhos escolares. A aula e qualquer atividade pedagógica pode ser alegre e pode ter piada sim, mas não pode fugir do assunto prioritário e virar roda de bate papo, a não ser que a roda de bate papo seja o tema desenvolvido ou a metodologia empregada naquela aula. 

E preciso ficar claro que a escola não é um centro comercial ou um ponto de encontros sociais, onde se pode realizar qualquer coisa que se queira a qualquer momento. Não, definitivamente não. Na escola a prioridade tem que ser o trabalho educacional e se existirem momentaneamente outras situações, essas devem ser ligadas diretamente a esse trabalho educacional para que possam justificar sua existência.

Proposta III

O uso de instrumentos e ferramentas acessórias é útil e fundamental nas aulas, entretanto sua utilidade deve ser apenas e tão somente para fins pedagógicos. Qualquer outra função é inadmissível na escola. Se o pai quer falar com o filho, ele liga na secretaria e não no celular do filho, que deverá estar desligado ou que poderá até estar ligado, porque será utilizado em alguma atividade pedagógica. Essa coisa de aluno e professor ficara atendendo celular dentro da sala de aula para resolver questões particulares tem que acabar. A propósito, isso também vale para jogos e conversas paralelas na sala de aula. 

As ferramentas eletrônicas, cada vez mais comuns, são realmente ótimas e obviamente ajudam muito ao processo ensino-aprendizagem, entretanto não há cabimento em promover, durante as aulas, certas posturas que só prejudicam ao aprendizado, à comunidade escola e consequentemente à sociedade como um todo. 

Nessas alturas, já tem gente dizendo, mas professor, “escola não é quartel”. Eu sei, mas escola também não é circo e nem teatro, isto é, não é local de diversão, embora a diversão possa e deva fazer parte da escola em dados momentos. A essência da escola é séria e precisa continuar sendo. O trabalho escolar tem que ser privilegiado acima de tudo na escola, pelo menos essa tem que ser a ideia básica. 

Proposta IV

Funcionário da escola é colaborador do processo e deve ser tratado com respeito por todos, principalmente pelos alunos que são os que mais precisam dessa colaboração. Mas, os professores também têm que compreender que o funcionário não é dele é da escola e, portanto, sua obrigação é com o trabalho escolar e não com o interesse ou a particularidade desse ou daquele indivíduo. A escola tem que funcionar e isso se deve aos funcionários, mas eles também não são obrigados a fazer mais do que aquilo que têm a obrigação de fazer. 

Os serviços especiais e suplementares podem existir, mas esses serviços são gentilezas e não obrigações, nem para alunos e muito menos para professores ou outros funcionários. A escola é um local de trabalho efetivo. Assim, é preciso fiscalizar alunos, professores e funcionários nos seus respectivos compromissos com a escola e com a educação e quem não está em acordo com aquilo que é pretendido deve ser afastado do contexto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Bem, eu acredito que somente com essas quatro propostas já vai ser possível fazer uma verdadeira “revolução nas escolas”. Mas cabe lembrar, nas escolas públicas o Diretor tem que lembrar que ele é apenas Diretor da escola e não o dono dela, até porque ela é pública e como tal pertence à coletividade. Nas escolas particulares, o proprietário, sendo o Diretor ou não, ele é o dono da escola, mas como dono da escola não pode dar palpites sobre nada na instituição e como Diretor tem que entender que é apenas uma peça administrativa e fundamental que existe na engrenagem, mas não é melhor do que ninguém. Na verdade, o Diretor é um professor com viés de funcionário responsável por questões administrativas específicas e em particular, pelo bom andamento dos trabalhos da escola. 

É preciso entender que comandar, gerenciar, gerir ou administrar a escola é uma função da escola, do Diretor da escola, que deve ser alguém muito bem-preparado para ocupar o cargo e não do proprietário de um prédio. Não é bom que o proprietário e o Diretor sejam a mesma pessoa, porque isso acaba sempre complicando mais a questão, entretanto ainda que essa condição não seja impossível, se me permitem, eu até quero recomendar que o dono da escola nunca seja o Diretor, porque isso certamente trará conflitos de interesse e quem perde é a escola como instituição. 

Vou sugerir que o proprietário contrate alguém para exercer essa função de Diretor e que não faça uso da condição de dono para influenciar nas atividades do Diretor, porque assim haverá muita confusão entre as funções verdadeiras da escola e os interesses pessoais do proprietário. O Diretor tem funções reais na escola, mas o proprietário só tem interesses e se os interesses se misturam com as funções aí é o mesmo que colocar um lobo para tomar conta das ovelhas. Nesse caso, a educação vai se complicar muito mais e a escola não vai funcionar a contento. 

Vejam bem, além da necessidade de mudança na legislação, eu nem me referi aos políticos e administradores, porque penso que a escola tem que existir e cumprir o seu papel como instituição social, apesar e independentemente da existência desses indivíduos. Eles precisam deixar o pessoal da área trabalhar, sem ficar promovendo problemas adicionais. Se eles não atrapalharem, certamente já prestarão um excelente serviço e favorecendo significativamente à melhora educacional e escolar.

Esse país até tem alguns bons políticos e uns deles também são bons educadores, mas é melhor que esses sujeitos não queiram reinventar a roda mais uma vez, porque eles, bem ou mal-intencionados, quase sempre acabam fazendo besteiras. Para os políticos o meu recado é o seguinte, acabem ou melhorem muito (enxuguem o que não faz sentido) com esse maldito estatuto do menor e do adolescente, parem de procurar pelo em ovo e tratem as pessoas, qualquer pessoa, (criança, adolescente, jovem, adulto ou idoso), independentemente de qualquer aspecto (cor, raça, religião, sexo, condição social) apenas como pessoas, pelo menos dentro das escolas, que deste modo, tudo irá se resolver de forma tranquila e natural. 

Muito se fala de igualdade, alguns até exigem igualdade e muitas vezes com razão. Mas, então, que haja igualdade efetiva nas escolas, porque certamente é isso que está faltando na educação. Na escola não deve haver privilégio. Se todos envolvidos na escola passarem a cumprir suas respectivas funções. Isto é, se aluno for apenas aluno; professor for apenas professor e funcionário for somente funcionário a escola brasileira estará salva e todos nós, cidadãos brasileiros, poderemos voltar nos educar de maneira correta, como antes acontecia. É claro que também haverá necessidade de administradores públicos sérios e com vontade de efetiva de ver o povo brasileiro realmente se desenvolver. 

Peço vênia pela minha ousadia, mas alguém precisa falar essas coisas à sociedade. Quem sabe alguma alma boa e realmente interessada em mudar a cara do país, resolva escutar e tentar fazer o que estou proponho ou alguma coisa parecida, só para ver o que acontece. Tenho certeza de que se, por acaso, isso ocorrer, certamente irá produzir melhoras significativas na escola e na educação brasileira. 

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

*Artigo anteriormente publicado em https://oblogdowerneck.blogspot.com/2020/12/a-escola-brasileira-seus-atores-sociais-e-sua-possível-recuperação.html, 19 de dezembro de 2020.

15 out 2021
Dia do Professor

Até quando o “Dia do Professor” continuará sendo uma ilusão?

Resumo: O texto traz uma crítica referente a grande farsa representada na comemoração do Dia do Professor aqui no Brasil, em consequência do sucateamento desta profissão e deste profissional, que estão cada vez mais desprestigiados pela sociedade, pelos dirigentes políticos e administradores neste país.  


Mantendo a tradição dos últimos 40 anos, estou aqui mais uma vez trazendo meu artigo para lembrar do Dia do Professor. Como de costume, vou rememorar e lamentar a mesma história de sempre, ou seja, o mal uso da data ou o uso apenas político desta data que deveria homenagear a ilustre profissão de professor. Todo mundo, no mês de outubro, lembra da data do Dia do Professor. No mundo a data é comemorada internacionalmente no dia 05 de outubro, por ato da UNESCO, em 1994 e aqui no Brasil, por força do Decreto Lei 52.682, de 14 de outubro de 1963, a comemoração acontece no dia 15 de outubro.

No resto do mundo eu não sei e nem ouso afirmar nada sobre a comemoração do Dia do Professor, mas, aqui no Brasil, a lembrança da data, na verdade, ao invés de uma comemoração, parece mais um motivo para esquecer, definitivamente, que essa é a profissão mais importante que existe, porque sem ela não existiriam as outras. Deste modo, o profissional da educação e do ensino, o professor, deveria ser o profissional mais respeitado e mais prestigiado de todos. Entretanto, aqui no Brasil, esse fato, além de não ser estimulado como verdadeiro, também está muito longe de qualquer coisa parecida.

Nosso país, além de não prestigiar, como deveria, em absolutamente nada profissão de Professor, também está muito longe de qualquer mérito no que diz respeito às áreas de trabalho do professor, ou seja, a educação e o ensino, nos últimos anos totalmente sucateadas no país. Assim, quando se fala na comemoração do dia professor nesse país, só pode ser pura demagogia, porque na verdade os governos e a sociedade brasileira, costumeiramente, não têm achado nada importante a educação e muito menos a profissão de professor. Aliás, pelo contrário, de maneira geral, a educação tem piorado progressivamente e a profissão de professor, sob todos os sentidos, tem valido menos.

Sou suspeito para falar dessa questão, porque sou professor e me orgulho imensamente de ter exercido essa ilustre profissão ininterruptamente por longos 45 anos (1976 a 2020). Aliás, eu continuaria exercendo, se não fosse exatamente a má vontade o desinteresse efetivo de algumas instituições de ensino do país na educação e o desinteresse particular por aqueles professores que acreditam e defendem a educação e que entendem o exercício da função de professor, deveriam ser prioridade nesse país.

Isto é, ultimamente, por questões outras, que embora injustificáveis do ponto de vista educacional, ainda interferem bastante em muitas instituições de ensino. Dessa maneira, muitas vezes a educação tem trabalhado contra a ilustre figura do professor e consequentemente contra a própria educação. Bem, mas, deixemos isso de lado e vamos voltar ao objeto desse artigo que é o Dia do Professor.

O Dia do Professor, foi criado para lembrar da importância do profissional de educação e de ensino. Embora, por um lado, tenha sido uma tarefa bastante árdua e trabalhosa, principalmente, por conta das dificuldades operacionais e trabalhistas em relação à profissão. Mas, por outro lado, certamente muito prazerosa e gratificante, particularmente quando se tem o devido reconhecimento por parte da maioria dos alunos e o incentivo por parte de muitos colegas de profissão.

Esta data, que deveria ser um marco educacional nacional, apenas tem servido para que os professores demonstrem anualmente o seu descontentamento e a sua angústia quanto à sua situação profissional e quanto ao descaso da educação no país, como eu estou fazendo, mais uma vez, nesse momento. O Brasil, depois de uma série de erros ocasionais e mesmo intencionais dos governos que se sucederam nos últimos 30 anos, só caminhou para trás na área educacional.

Diante dessa situação caótica, o coitado do verdadeiro professor ficou perdido no exercício da sua função e na sua capacidade de reivindicar, porque qualquer picareta passou a ter direito de assumir a condição de professor e com isso, cada vez mais o verdadeiro professor foi desqualificado como profissional. Infelizmente, na atualidade, na situação funcional do professor profissional tem sido possível encontrar de tudo. Deste modo, tem muita gente por aí “ministrando aulas” e “ensinando”, sem nenhuma condição.

Ou seja, o professor verdadeiro, está diluído no meio de outros profissionais e assim as questões profissionais da categoria se dispersaram no contexto. Quando se comemora o Dia do Professor, na verdade se comemora o dia de uma série de outros profissionais que ministram aulas das mais diversas matérias, muitas vezes sem as mínimas condições cognitivas e profissionais. É claro que também há muita gente competente nesse rol, porém a maior parte não está nem aí com a educação, o ensino e com a profissão de professor. É exatamente por conta disso que a profissão de Professor não se fortalece e o Dia do Professor fica cada vez mais lendário.

Não sei até quando o país seguirá nessa tendência de progressivamente acabar com o Professor e não posso afirmar até quando a população brasileira consciente conseguirá aguentar essa triste contingência. Também não sei até quando os verdadeiros professores vão continuar resistindo a esse descalabro, mas tenho certeza de que essa situação necessita ser modificada para o bem do país. É preciso reencontrar o fio da história e voltar a situação de ter a educação como prioridade nacional e o professor como o principal agente profissional do processo de educar e ensinar, para que o Brasil possa chegar ao lugar que merece no cenário internacional.

Se esse fato acontecer com o Brasil voltando a entender que a educação deve ser o fundamento primário de qualquer país, aí sim o professor poderá passar efetivamente a comemorar o seu dia de maneira devida. Caso contrário, continuaremos na nossa hipocrisia, “enxugando gelo” e enganando a população, fazendo festa por uma data que não se justifica, porque ela é uma mera ilusão, que serve apenas para mascarar a triste realidade da educação nacional.

Alguns loucos, dentro os quais eu me coloco, estão reclamando por isto há muito tempo, mas parece que ninguém quer ouvir. Nós, continuamos aguardando que aqueles que detém o poder, parem de discutir inutilidades e que se envolvam efetivamente naquilo que é importante. Por outro lado, esperamos também, que a sociedade passe a se manifestar mais e atue de maneira mais efetiva, exatamente na única questão que pode nos tornar um povo melhor, isto é, na educação.

É fundamental que nós não nos esqueçamos de que existe um profissional específico para essa área de atuação, que é o Professor. Além disso, também é importante considerar que esse sujeito tem que ter as devidas qualificações para exercer o magistério: vocação, conhecimento específico da matéria, cultura geral, didática e capacidade de argumentação. Os picaretas do magistério que estão por aí, algumas vezes até com apoio das próprias instituições de ensino, porque custam menos aos cofres dessas instituições, precisam ser banidos da educação. 

Somente assim, lá na frente, poderemos novamente comemorar, de fato e de direito, o Dia do Professor, porque aí a data terá sentido verdadeiro. Por enquanto, seguimos por aqui, esperando e torcendo para que haja luz na mente dos brasileiros, em especial nas mentes daqueles que detém o poder e dos que atuam como dirigentes das instituições de ensino desse país. A incerteza e a desconfiança com muitos dos profissionais que atuam na Educação, talvez sejam as principais causas da má qualidade do ensino no Brasil e as autoridades precisam estar atentas a esse fato.

A Educação é uma tarefa fundamental para a sociedade e por isso mesmo, deve ser realizada por profissionais capacitados e devidamente habilitados e esses profissionais devem comemorar o seu dia com alegria, entusiasmo e otimismo e não com tristeza, indiferença e pessimismo. Assim, com muita ponderação, eu quero deixar aqui os meus Parabéns aos verdadeiros professores do país por mais uma 15 de outubro: “Dia do Professor”.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

15 ago 2021

UMA ESPÉCIE SÓ, COM UMA VIDA APENAS, NUMA TERRA ÚNICA

Resumo: No artigo é questionada a postura dos seres humanos em relação ao planeta aos longo do tempo e considerada a necessidade premente de mudança no comportamento humano para que a Terra, que continua sendo o único lugar que temos para viver, possa continuar permitindo a existência da Humanidade. 


Nós humanos, somos uma espécie única, que habita o planeta há cerca de 250 mil anos, um tempo relativamente pequeno, se comparado a outras espécies vivas que também habitam a Terra. Nesse período existiram outros Hominídeos, mas só nós, a espécie Homo sapiens permaneceu.

Milhões de planetas no universo, apenas 9 deles estão no nosso Sistema Solar, mas a Terra, ao que parece, é o único planeta em que a vida se formou e evoluiu. Pelo menos a vida como conhecemos e concebemos. A Terra abriga milhões de espécies vivas, mas o Homo sapiens é uma espécie única, que surgiu entre 300 e 250 mil anos. Um tempo relativamente pequeno, para um planeta com pouco mais de 4,5 bilhões de anos, no qual a vida começou a se desenvolver a mais ou menos 3,5 bilhões e a vida pluricelular a pouco menos de 700 milhões.

Quer dizer, a espécie humana é quase insignificante no tempo geológico da Terra. Entretanto, no pouco tempo de nossa existência mudamos progressiva e drasticamente a fisionomia do planeta, mormente nos últimos 250 anos. Essa mudança foi tão significativa que hoje compromete a própria estabilidade planetária para grande parte das espécies vivas, inclusive e principalmente, a própria espécie humana.

Como qualquer coisa viva, só vivemos uma vez e a única certeza que temos como organismos vivos é que certamente vamos morrer. Aliás, é bom que fique claro, que vamos morrer tanto como indivíduos, quanto como espécie viva, porque a extinção é um processo natural e tudo que existe certamente um dia deixará de existir. Essa é uma regra, uma lei natural, que aprendemos desde cedo: qualquer organismo vivo, nasce e morre.

Porém, para algumas formas vivas o tempo é bem generoso e para outras nem tanto. Por exemplo, os tubarões, estão por aí faz, pelo menos, 400 milhões de anos, enquanto os Hominídeos (seres humanos) estão há apenas 7 milhões. Obviamente muitas espécies de tubarões se extinguiram nesse período, mas ainda existem várias espécies viventes. Mas dos seres humanos, como já foi dito, só sobrou o Homo sapiens, que surgiu muito recentemente.

É claro que não existem regras lineares, nem absolutas para o tempo de vida de qualquer espécie viva, umas formas vivem mais e outras vivem menos, mas certamente o uso dos recursos naturais é um fator importante nessa contagem de tempo. Assim, há de se convir, que historicamente não tratamos bem os nossos recursos naturais, porque 250 mil anos é muito pouco tempo se fizermos uma comparação com a grande maioria das espécies de animais vertebrados existentes no planeta. Nossa postura com a Terra sempre foi predatória e degradadora. Na verdade, nós nunca respeitamos o planeta e as demais espécies vivas.

Só temos uma vida e só temos uma casa, a Terra, onde podemos viver. E por que não cuidamos bem dessas duas coisas: a nossa Vida e a nossa casa (Terra)? Essa é a grande questão, que tem borbulhado na cabeça dos maiores pensadores ao longo da história. Por que o ser humano, aparentemente, não dá a mínima importância para o Planeta e para a Vida?

Tomamos o planeta de assalto, nos assumimos como seus donos e seguimos fazendo qualquer coisa para manter essa condição. Se, por acaso, outros humanos não concordam conosco, então entramos em guerra contra eles (matamos ou morremos deliberadamente) e quem ganha a guerra fica com o lugar que era do outro.

A História humana está cheia de passagens desse tipo. Parece que nós não aprendemos nunca e desta maneira, vamos caminhando, a trancos e barrancos, enquanto o planeta suporta. Mas, ainda assim, nossa espécie se reproduziu rápida e assustadoramente sobre a Terra e ocupamos cada vez mais o espaço planetário.

Verdade é que, da mesma forma que não nos incomodamos, com os outros humanos, também não nos incomodamos com as outras espécies vivas e nunca nos importamos com o planeta. Fomos ocupando e destruindo progressivamente sem nenhuma preocupação com as consequências que poderiam advir dessas atitudes.

Recentemente, apenas nos últimos 50 anos, alguns de nós finalmente descobriram que essa situação não pode continuar nesse ritmo frenético de guerrear, destruir e ocupar, até porque só temos um planeta e tudo, absolutamente tudo, acontece exatamente aqui mesmo. É daqui que tiramos todos os nossos recursos para viver e sobreviver. Do jeito que estamos caminhando não teremos, como espécie, muito tempo de vida pela frente.

Não sei, mas me parece óbvio que, se eu atear fogo na minha casa, ela irá se incendiar e eu não terei onde morar. Então, por que o ser humano está ateando fogo na Terra? Será que somos uma espécie suicida? Por outro lado, o planeta certamente também não “gosta” dos seres humanos e assim, ao se defender das ações maléficas da humanidade, acaba trabalhando para extingui-los o mais rápido possível. Quer dizer, estamos numa “sinuca de bico” e única solução possível é mudarmos de postura e investirmos ativamente em ações que visem as melhoras das condições planetárias.

Somos uma espécie só, temos uma vida só e vivemos no único planeta que permite a vida (pelo menos até onde sabemos). Assim, já passou da hora do ser humano assumir a sua responsabilidade e passar a cuidar melhor da sua vida, entendendo que para cuidar da vida humana é necessário, antes de qualquer coisa, respeitar os demais seres humanos e as demais espécies vivas, além de estabelecer limites para o uso dos recursos e para a ocupação dos espaços físicos do planeta.

Nossa espécie só sobreviverá um pouco mais aqui na Terra, se assumirmos as nossas obrigações planetárias doravante. Os futuros seres humanos, estão esperando que nós cumpramos com nosso dever agora. É bom lembrar que a sustentabilidade deixou de ser balela ou apenas uma maneira de pensar romântica que alguns sujeitos chatos inventaram para incomodar os outros.

Hoje, a sustentabilidade é uma necessidade para que se possa tentar garantir a continuidade da humanidade. Portanto, devemos trabalhar cotidianamente na criação das condições que permitirão a vida dos seres humanos de amanhã. Quem sabe, agindo assim, ainda teremos tempo, até mesmo para procurar outros lugares para vivermos no futuro, se houver necessidade.

Mas, é preciso ter em mente que tudo é finito. Deste modo, mesmo que encontremos outros mundos, onde a continuidade da vida seja possível, nossa postura deverá continuar nos conduzindo sempre numa visão de sustentabilidade. Isto é, quem vem depois, ou seja, nossos descendentes têm os mesmos direitos que nós temos, para utilizar os recursos naturais, os espaços físicos e serem felizes, aqui na Terra ou em qualquer outro lugar.

Hoje, ainda temos uma casa (Terra) só e se, porventura, lá na frente tivermos outros espaços para ocupar, ainda assim, temos que ter em mente que o uso de qualquer espaço será sempre limitado.  Entretanto, não podemos nos esquecer que ao longo desses 250 mil anos foi a Terra nos deu tudo e nos manteve vivos como indivíduos e como espécie.

Obviamente, se mudarmos de atitude, a Terra ainda pode nos dar muito mais, porém, independente de qualquer situação futura, cumpre a nós, no presente, a obrigação de garantir que ela continue nos fornecendo as condições de viver como indivíduos e de sobreviver como espécie. Por enquanto, temos que agir com sapiência, fazendo jus ao nome de Homo sapiens e deste modo, estando mais atentos e mais preocupados com o fato de que somos uma espécie só, cujos indivíduos vivem uma vida apenas e que a Terra, a nossa casa, também é única.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.