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Artigos Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima

13 jun 2023
População Humana, Crescimento Populacional, Manutenção da população

REFLEXÕES SOBRE O CRESCIMENTO POPULACIONAL HUMANO CONTÍNUO

Resumo: Nesse artigo apresento algumas reflexões sobre o Crescimento Populacional Humano e dos riscos consequentes desse crescimento aleatório e insano que até agora tem acontecido. Destaco a necessidade de mudança nessa situação, antes que seja tarde demais. 


Ultimamente tenho pensado muito sobre a questão do crescimento populacional humano aleatório e contínuo. Tenho lido e refletido bastante sobre esta questão e cheguei à conclusão de que existe muita gente boa, séria e até bem-intencionada, misturando as coisas, falando e fazendo muita besteira sobre aquilo que não entende perfeitamente. Deste maneira, pude concluir que grande parte dessas pessoas, sem saber, está sendo usada como massa de manobra por interesses políticos partidários, para criar problemas oriundos de factoides relacionados ao crescimento populacional humano.   

Para começar eu quero dizer que também sou ciente de que o crescimento aleatório da população humana no planeta é realmente um grande problema, em alguns casos, chega a ser um absurdo e precisa efetivamente ser discutido, reavaliado e minimizado. Entretanto, é preciso que sejam respeitados tanto os limites físicos e químicos que mantém a capacidade biológica do ambiente, quanto os diferentes interesses nacionais dos espaços a serem ocupados. Acredito que países como a Índia, a Indonésia e a Nigéria têm que estar atentos as suas limitações espaciais e consequentemente as suas limitações populacionais. Por outro lado, países como o Brasil, a Austrália, o Canadá e a Rússia, certamente ainda podem e devem tentar ocupar melhor os seus respectivos espaços físicos, porque certamente ainda falta muita gente em algumas de suas regiões.

Bem, dito isso, acredito que agora posso continuar com minha argumentação. Deste modo, eu vou partir do suposto que os países são soberanos sobre seus territórios e devem tratar as questões populacionais dentro de suas necessidades e interesses, mas ressalvando que o planeta é o lugar comum de outros inúmeros países, os quais também têm direito ao uso do espaço e dos recursos planetários. Isto é, a preocupação nacional de quem quer que seja, não pode interferir na segurança maior da humanidade e assim, o espaço físico e os recursos naturais neles existentes devem ser proporcionais às necessidades coletivas e não aos interesses apenas nacionais. Uma coisa é ser dono de um determinado espaço ou de certo tipo de recurso, outra coisa e acreditar que por ser o dono de algo é possível ser irresponsável na sua explotação.

É preciso que se entenda de uma vez por todas que, embora existam inúmeros países, a Terra é uma só e todo ser humano, independentemente de sua nacionalidade tem direito, de acordo com as normas legais internacionais, de viver e usar os espaços terrestres e os diferentes recursos neles encontrados, independentemente de sua nacionalidade. Aliás, não só os seres humanos têm esse direito, como também as demais criaturas existentes no planeta e por isso mesmo, esse direito deve também ser estendido e garantido a todas as criaturas vivas. Além disso, cabe lembrar que os seres humanos também devem legalmente tutelar e cuidar das demais espécies e por isso mesmo é que existem as leis de proteção à fauna e à flora, porque se não fosse assim, tais leis não fariam nenhum sentido.

Quando se discute sobre o crescimento populacional humano devem ser feitas três perguntas fundamentais. A primeira pergunta que deveria ser feita é a seguinte: o crescimento populacional humano é realmente um problema? Sim, certamente é um grande problema, mas não é tão grande e tão impossível de ser resolvido como pretendem alguns mais radicais, que propõem soluções absurdas e infelizes. Uma segunda pergunta questionaria se esse problema pode ser solucionado sem grandes transtornos?  E a resposta, por incrível que pareça, também é sim.  A terceira pergunta que deveria ser feita é a seguinte: esse problema atingiria todas as populações vivas ou só a algumas? O problema, como dissemos acima, atinge a todas as espécies vivas do planeta, haja vista a condição cosmopolita e a forte condição modificadora do meio ambiente desenvolvida pela população dos seres humanos.

Então, a partir dessas três questões que nós certamente já sabíamos as respostas, embora fingíamos não saber, decorre uma quarta pergunta: onde estão as justificativas para assumir situações extremas e descabidas ou para se omitir nas discussões sobre os problemas relacionados ao crescimento aleatório e exagerado das população humana no planeta? E eu respondo: exatamente na falta de bom senso e no desconhecimento específico da maioria das pessoas sobre esse assunto, que embora muitas falem, na verdade, pouquíssimas realmente entendem e outros nem querem entender. Por conta disso, resolvi escrevi esse artigo e possivelmente servir de alvo de possíveis ataques de muitos desses falsos profetas que andam por aí cometendo e comentando inverdades sobre a questão do crescimento populacional humano.

Antes de continuar, necessito fazer um pequeno esclarecimento sobre três conceitos ecológicos básicos e importantíssimos para o efetivo entendimento desse assunto, são eles a Lei do Mínimo, a flutuabilidade populacional e a capacidade de suporte do meio. Esses conceitos se constituem definitivamente em critérios ecológicos fundamentais para a possibilidade de manutenção e continuidade da uma espécie viva em qualquer espaço físico planetário. Dito isto, sem ser técnico demais, vou fazer um breve esclarecimento sobre esses conceitos, pois tenho certeza de que elas serão novidades para muitos dos leitores e talvez, até para muitos pretensos conhecedores do assunto.

A Lei do Mínimo (Lei de Liebig) diz que sempre existe um mínimo de recursos necessários à sobrevivência de uma população em um determinado ambiente. A flutuabilidade populacional informa que as populações oscilam entre uma quantidade ideal de indivíduos ao longo do tempo. E a capacidade de suporte afirma que o meio não pode suportar mais indivíduos do que aquele contingente existente no pico máximo da população e que é exatamente esta flutuabilidade que garante a sobrevivência e a manutenção de uma espécie naquele determinado ambiente. Pois então, a população de indivíduos da espécie humana não foge as regras ecológicas planetária e assim, nossa população também tem que se estabelecer de acordo com os preceitos desses três critérios ecológicos fundamentais.

Assim, fica fácil entender que se tivermos um população muito grande dentro de um espaço muito pequeno, certamente irá faltar recursos e assim a mortalidade se ampliará e se a situação persistir naquele espaço a população desaparecerá. E isso, bem simples mesmo. Essa é uma lei natural e verdadeira, não é uma falácia Por exemplo, se utilizarmos todo o oxigênio de um determinado espaço, o oxigênio acaba e todos os dependentes de oxigênio que existem naquele espaço morrem. Isso acontece assim mesmo, com qualquer população natural que seja privada de recurso fundamental.

Na Terra existem várias coisas que são recursos utilizados e disputados pelas diferentes espécies vivas e a manutenção desses recursos é fundamental para a manutenção de todas as espécies que habitam os diferentes ecossistemas da Terra. Se faltar algum desses recursos, isto é, se o mínimo necessário de recursos não se estabelecer, a população da espécie tenderá a declinar até finalmente se extinguir naquele local (espaço). Cabe ressaltar que só existe uma Terra. Aliás, A TERRA É UMA SÓ E A ESPÉCIE HUMANA TAMBÉM E NOS DOIS CASOS NÃO HÁ PLANO “B”.  A situação se resolverá aqui ou aqui. Isto é, ou vivemos aqui, ou morremos aqui.

Deste modo, o meio ambiente (espaço físico e seus recursos) é o fator preponderante para limitar o crescimento populacional das diferentes espécies vivas, as quais, por isso mesmo tem que se adaptar e assim essas populações flutuam entre um máximo e um mínimo de um nível populacional satisfatório e imaginário (população ideal). Quem determina efetivamente se uma população cresce ou não é um conjunto de fatores, que envolvem a capacidade reprodutiva da própria espécie, os seus predadores e competidores, as suas doenças, o clima, e sobretudo, a capacidade de suporte que indica resistência do meio (resistência ambiental).  

Mahatma Gandhi já dizia que: “o mundo (a Terra) é grande o suficiente para atender as necessidades de todos, mas sempre será demasiado pequeno, para a ganância de alguns”. A Humanidade precisa entender que gente não é apenas um produto a ser reproduzido e que a Terra não existe apenas para os seres humanos se espalharem ocasionalmente e a bel-prazer sobre seus diferentes espaços. A população humana não é um mero acaso oriundo da reprodução e da vontade humana ou apenas mais uma questão puramente social ou política. A população humana é o maior contingente específico de organismos de grande porte sobre a superfície do planeta, tendo causado grandes e significativos impactos ambientais na Terra. A mancha populacional humana é diretamente responsável por muitas coisas que acontecem na Terra.

A reprodução humana está sujeita as mesma causas físicas naturais que interferem nas demais populações e que não permitem sempre mais indivíduos no mesmo espaço. Em algum momento não haverá mais espaço ou acabarão os recursos existentes naquele espaço e aí a extinção da espécie efetivamente começa a acontecer. Não há mágica, isso é natural e o homem, querendo ou não, também está sujeito as leis da natureza. E mais, nossa responsabilidade é muito maior, porque, muito provavelmente, sejamos a única espécie do planeta que tem ou que deveria ter consciência desse fato. No entanto, muitos de nós, continuam dando de ombros para a realidade natural e achando que os humanos são diferentes das demais coisas vivas.

É claro que eu também acredito que já tem muitos seres humanos no planeta Terra e que esse imenso contingente é perigoso para a sobrevivência de nossa espécie. Afinal, já ultrapassamos os 8 bilhões de indivíduos. Mas, nem por isso, estou pensando em matar ninguém, como tristemente imaginam alguns “seres humanos” radicais. Aliás, ao contrário, penso que quem já está por aqui, tem um valor fundamental para tentar mudar o quadro atual e agir ativamente na garantir da continuidade dos demais seres humanos. Quem está vivendo e usufruindo dos espaços e dos recursos do planeta, precisa trabalhar para manter e estender as possibilidades das condições vitais planetárias para os outros seres humanos, principalmente aqueles que ainda vão nascer.

O que realmente se precisa é ocupar de maneira melhor, mais adequada e mais inteligente, os espaços e distribuir os recursos naturais de um forma mais equitativa entre todos os seres humanos do planeta. Na verdade, há necessidade de se compreender que a divisão política criada pelo homem, na realidade não condiz em absolutamente quase nada da composição natural do planeta e assim, a distribuição dos recursos planetários, muitas vezes, é totalmente injusta e que somente a humanidade pode, se quiser, estabelecer a justiça nessa situação. Entretanto, é necessário ficar claro que a culpa disso não é da natureza, mas sim da própria arbitrariedade humana.

Além disso, a humanidade também criou outros valores, totalmente artificiais (dinheiro, poder, conforto, fama), que, muitas vezes, acabaram por assumir importância maior e mais contundente para os seres humanos, o que aumentou a especulação e interferiu mais significativa e ativamente na ocupação dos espaços e na utilização dos recursos naturais.  E se isso fosse pouco, ainda há que se considerar as inúmeras populações locais e espécies planetárias que foram e estão sendo extintas por conta do desleixo e da irresponsabilidade humana com o planeta e com as demais criaturas vivas. O “bicho-homem” se transformou na maior praga do planeta e precisa deixar de ser assim.

Talvez, o que precisemos discutir seja exatamente isso: como organizar o planeta de uma maneira satisfatória e benéfica, na qual tudo seja suficiente para todos, deixando de lado os valores artificiais? Hoje um desses principais problemas artificiais é, por exemplo, o dinheiro, que qualifica os países em pobres e ricos. A ganância pelo dinheiro costuma ser a causa mais comum dos desacertos humanos, haja vista que os ricos querem se manter ricos e os pobres, por mais que lutem, quase nunca conseguem deixar de ser pobres. Essa competição cria e amplia os conflitos humanos e obviamente isso também interfere nas populações, mas a maioria dos humanos ainda não quer discutir essa questão agora.

Certamente é possível controlar a ganância humana se houver interesse verdadeiro nesse aspecto. Entretanto, até aqui, apenas estamos egoisticamente tirando recursos uns dos outros e nunca tentamos nos preocupar com todos os humanos do planeta. Infelizmente sempre temos nos dedicado apenas em buscar alcançar a nossa parte e os nossos interesses, lamentavelmente, esta situação ainda persiste, se agrava progressivamente e como a população não para de crescer, cada vez a coisa piora um pouco mais. Até quando?

O mal da humanidade no planeta não é a falta de espaço, de recursos naturais e de riqueza para muitos. Os males maiores da humanidade no planeta são a ganância e o egoísmo de alguns “seres humanos”, que simplesmente se esquecem que existem outros seres humanos e outras espécies vivas na Terra. Por isso é que a população da espécie humana cresce de maneira absurda e inconsequente, os espaços são ocupados sem nenhum critério geomorfológico e os recursos são usados de maneira arbitrária e inconsequente. A geopolítica de ocupação dos espaços e utilização dos recursos servem apenas a alguns grupos e alguns interesses, mas certamente não servem à humanidade. Não há nenhuma preocupação com a verdadeira dimensão da necessidade humana e nenhum respeito ao planeta que nos abriga.

Por outro lado, além de tudo isso, ainda deixamos um imenso rastro de lixo e sujeira daquilo que resta de nosso despojamento planetário. Esses resíduos vão se acumulando aleatoriamente e sempre poluindo novos espaços no planeta. Quanto mais gente, mais espaço, mais recursos, mais lixo e consequentemente menos humanidade e menos qualidade de vida às espécies.  As necessidades naturais são sempre as mesmas e não se ampliam, mas as necessidades artificiais são cada vez maiores, para tentar suprir as carências oriundas das tentativas inúteis de resolução dos problemas.  Grande parte da humanidade ainda não aprendeu que não se resolvem problemas novos com soluções velhas. Há necessidade de novos mecanismos para produzir resultados diferentes.

Por fim, a coisa está muito feia, mas apesar de tudo, eu insisto de que é possível ser solucionada. Basta querer, de fato. Não é querer e cruzar os braços, tem que querer e atuar. Arregacemos as mangas e comecemos verdadeiramente o trabalho de restauro de nosso comportamento em relação ao planeta e assumamos a nossa responsabilidade como espécie consciente e pensante. Para tanto, precisaremos apenas de muito bom senso, um pouco de altruísmo e de melhores políticas humanitárias entre as nações.

Aproveito o momento para sugerir algumas coisas que podem minimizar o absurdo e efetivamente melhorar de maneira progressiva a situação. Vamos procurar investir em políticas públicas e ações que propiciem boas práticas para um crescimento consistente e equilibrado das populações humanas nas diferentes localidades, sempre respeitando os princípios ambientais básicos. Estimulemos práticas naturais de controle consciente da taxa de natalidade e favoreçamos a ocupação de áreas pouco habitadas para que haja verdadeira dimensão da mancha produzida pela população humana no planeta e para que se evite a formação de áreas com grandes densidades demográficas.

Dediquemos o nosso tempo às causas de interesse para toda a humanidade e não às causas imediatas e mesquinhas pessoais ou de alguns grupos de indivíduos, geralmente mal-intencionados. Identifiquemos áreas e interesses comuns e cultivemos mecanismos mútuos de utilização dos espaços e dos recursos naturais, objetivando o interesse coletivo da humanidade.  Além da Terra e de todos os organismos planetários estarem aguardando que cumpramos o nosso compromisso planetário, a humanidade também necessita que assumamos a nossa condição efetiva de seres humanos e cuidemos dos nossos semelhantes. As gerações futuras merecem o direito à vida de qualidade e nós temos que trabalhar nessa direção.

Por fim, certamente há áreas e regiões em que as populações não podem mais ser ampliadas e o espaço físico precisa ser recuperado e restaurado de maneira efetiva. Nessas regiões é fundamental que se intensifique a orientação sobre os malefícios das grandes concentrações humanas ao planeta e a própria humanidade, a fim de que seja possível evitar a degradação e a poluição mais significativas e mesmo a extinção da vida humana local, pelas mais diversas formas de contaminação e pela progressiva perda da qualidade de vida dessas áreas.

Não tenho dúvida de que a Terra saberá como conduzir o trabalho de recuperação, o ser humano só precisa ajudar, minimizando a pressão na ocupação dos espaços e no uso dos recursos e facilitando a retomada em busca da melhoria do planeta e da perenidade maior da própria humanidade. Como eu disse antes, A TERRA É UMA SÓ E A ESPÉCIE HUMANA TAMBÉM E NOS DOIS CASOS NÃO HÁ PLANO “B”. Se continuarmos separados em nossos interesses a coisa pode ficar drástica e irreversível, mas juntos, planeta e humanidade, seremos eficazes e possivelmente imbatíveis.

Assim, recuperaremos grande parte do que já foi degradado e seguiremos um pouco mais nessa caminhada pelo nosso planeta azul. Não temos que nos preocupar seriamente com o encontro de novo planeta que possa nos receber no futuro, temos sim que nos preocupar com a relação de equilíbrio de nossa mancha populacional sobre o nosso planeta Terra.  Devemos respeitar mais e cuidar melhor do planeta que nos acolhe, nos abriga, nos fomenta e que, deste modo, até aqui, tem permitido que nos mantenhamos como organismos vivos ao longo nossa, relativamente curta, história evolutiva.

Nossa passagem planetária deve continuar, mas, para que isso aconteça a contento, será preciso ficar claro para toda humanidade que: “a Terra não precisa do homem, o homem é que precisa da Terra”. A partir desse entendimento temos que minimizar nossa pressão sobre os espaços planetários, sobre o uso dos recursos naturais e sobre a produção de resíduos. Para que que isso aconteça, o crescimento da população humana tem que entrar num processo progressivo que viabilize sua estabilização, dentro das possibilidades que a Terra ainda possa nos suportar e manter.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

07 maio 2023
O Peso Diferenciado entre Textos Científicos

O Peso Diferenciado entre Textos Científicos

Resumo: Desta vez, apresento mais um assunto polêmico para reflexão e discussão. Trata-se da questão complicada, entre os diferentes autores que trabalham com a informação científica no Brasil. De um lado aqueles que produzem artigos científicos e do outro aqueles que fazem divulgação científica.


Não sei o porquê, mas para a muitos “cientistas brasileiros”, tudo que não tem o rótulo de científico é pressupostamente mentiroso e isso é, no mínimo, uma ideia arrogante e uma pretensão mesquinha sobre o que as demais pessoas da sociedade são capazes de pensar, de deduzir, de dizer e de escrever sobre aquilo que elas observam em relação às coisas do seu entorno.

Baseado na premissa acima, venho questionar alguns artigos que citam trabalhos que conhecem, simplesmente porque têm o rótulo de “científicos” e deixam de citar outros que, muitas vezes, também conhecem, mas que foram escritos por pessoas que não se utilizam necessariamente desse mesmo rótulo. Deste modo, verdades claras, já publicadas são desconsideradas, simplesmente porque quem escreveu não se intitula deliberadamente “cientista” e muito menos está preocupado em publicar suas ideias, muitas delas originais e verdadeiras em revistas indexadas, ou porque não está diretamente envolvido em grandes centros de pesquisa.

Aliás, esse tipo de revista indexada é muito pouco lida pela sociedade, pois só acaba circulando no “meio científico”, enquanto outras publicações são muito mais democráticas e abrangentes, no que se refere ao restante da sociedade. Assim, é óbvio que a grande maioria dos autores ao fazer as suas pesquisas bibliográficas, tem acesso aos “artigos não científicos” das revistas não indexadas. Entretanto, eles têm vergonha, medo, ou, o que é pior, deliberadamente, omitem suas existências, porque acreditam que isso irá desvalorizar os seus respectivos “trabalhos científicos”, pois afinal esses “artigos não científicos” foram escritos por meros especuladores e não devem ter nenhum crédito científico.

Aliás, cabe lembrar que, muitos dos “artigos científicos” não passam de simples compilações dos trabalhos de informação ou de divulgação e de outros propriamente científicos, que já foram realizados anteriormente por diferentes autores que não andavam por aí à busca de glória, de créditos curriculares ou de outras coisas que os pudessem destacar no meio da “comunidade científica”. Conheço muita gente que se intitula cientista ou pesquisador e que não sabe nada (ABSOLUTAMENTE NADA) de nada, muito menos de ciência. Muitos não sabem, se quer escrever e, mesmo assim, publicam “grandes artigos científicos”, graças às compilações de artigos de outros autores e aos trabalhos quase mágicos realizados pelos revisores das revistas científicas (indexadas ou não).  

Por outro lado, também conheço, muita gente comum que sabe e escreve bastante sobre coisas boas, reais e de cunho científico. Algumas vezes, até coisas que os próprios “cientistas” não conhecem. E eles não conhecem, porque não se interessam e realmente não querem conhecer ou porque acham melhor não dar espaço para esse tipo de gente que escreve sobre ciência, sem ter o “certificado de verdadeiro cientista”. Isto é, sem fazer parte do grupo de elite científica que publica artigos para si mesma e não para a sociedade. É preciso entender que a informação científica pertence a humanidade e não aos indivíduos, em que pese o trabalho autoral e intelectual de quem tenha gerado a informação. Deste modo, a informação científica não pode ser feudo de alguns, porque ela pertence a toda sociedade humana.

Os artigos científicos muito lidos, certamente não foram lidos por mais que umas poucas centenas de pessoas (se tanto), que pudessem estar diretamente interessadas naquele assunto. Por outro lado, os artigos de divulgação e informação científica são lidos por dezenas ou centenas de milhares de pessoas. É óbvio que os artigos de divulgação podem conter e certamente contém erros, mas quem garante que os “artigos científicos” também não contém? É preciso saber separar o joio do trigo, mas isso não quer dizer que só é trigo aquilo que o pretenso “cientista” produz na revista indexada, porque certamente também há muito joio nesse meio.

Artigos de divulgação e informação científica têm muito mais leituras e assim, efetivamente informam quantitativamente mais do que artigos científicos. Será que só os “cientistas” não leem esses artigos de divulgação? É claro que eles leem, até mesmo para criticar, se puderem. Porém, geralmente, eles não assumem publicamente suas leituras e assim não as citam nas suas referências. É preciso que haja coerência científica dos pesquisadores em admitir as informações e atribuí-las aos seus verdadeiros criadores ou identificadores e não ficar inventando subterfúgios para citar outros autores de “fama” nacional ou internacional, mas, talvez, sem conhecimento real da causa em questão.

Sou um homem de ciência e me cansei de ver essa situação absurda ocorrer costumeiramente. Assim, nos últimos 30 anos passei a divulgar aquilo que observo, na condição de simples divulgador científico, ou melhor, na condição de livre pensador daquilo que vivo em minhas experiências profissionais como interessado e estudioso da natureza. Tenho visto inúmeras coisas, inclusive em nível internacional, atribuídas a outros autores, que já identifiquei, afirmei e descrevi há anos atrás e não vejo nenhuma citação de minhas publicações. Eu tenho certeza de que não sou o único sujeito do mundo que vive essa realidade e que obviamente se sente injustiçado, quanto a esse aspecto. Existem muitos estudiosos e livres pensadores que passam por essa mesma situação desagradável e angustiante de ver suas ideias negligenciadas ou atribuídas a outros.

Alguém questionará, mas suas publicações estão em revistas indexadas?  E eu já respondo. Contingencialmente, algumas sim e outras não. Entretanto, eu não acredito que a indexação demonstre, de fato, a importância da publicação e muito menos a qualidade do trabalho ou a seriedade do autor. Esses rótulos têm que acabar para o bem da ciência brasileira, que ainda não entendeu que qualidade e quantidade não são indissociáveis e principalmente que o deve ter peso é o conteúdo do trabalho e sua importância e não o nome do autor ou da revista.

Por outro lado, eu penso que os “cientistas e pesquisadores”, certamente devem ler de tudo que lhes interessa profissionalmente, ou então não podem se assumir na condição de pesquisadores de fato e de direito. Além disso, eles também devem manifestar opinião e dar crédito ao que leem, independentemente de quem escreveu ou de onde veio aquilo que está escrito. Pois então, é aí que a coisa pega e é exatamente aí que surge o grande erro dos “cientistas brasileiros”. Sim brasileiros, porque no resto do mundo se cita tudo que se lê e se atribui o devido valor a todos que escrevem sobre o assunto em questão.

Mas, aqui no Brasil, o “pesquisador” não vai colocar um “desconhecido da ciência” no seu trabalho, porque isso não é interessante para o seu currículo. Desta maneira, quem “faz”, “cria” ou “define” algo importante e significativo cientificamente é, quase sempre, alguém que leu e copiou a ideia de que outro. Esse outro costuma ser alguém menos famoso e sem a pretensa alcunha de “cientista”, mas que, na verdade, foi o gerador da informação em questão.

Pois então, em outros países, muito mais desenvolvidos que o nosso, os cientistas citam desde o jornal do bairro, o boletim da igreja local, até o informativo da ONG que trata diretamente daquele assunto que está sendo discutido. O pesquisador faz uma verdadeira revisão da literatura e respeita a sua devida cronologia, para não cometer erros de pertencimento autoral. Eles citam absolutamente tudo, obviamente, desde que tenha fundamento em relação ao seu trabalho e atribuem o mérito a quem de direito.

O que mais me deixa aborrecido com os pretensos “cientistas brasileiros” e a cara de pau de afirmar verdades dos outros, como se fossem suas ou de transferir verdades para outras pessoas, apenas para esconder o fato de que o conhecimento daquela “grande descoberta”, na verdade, é uma triste falácia. Obviamente, não são todos os cientistas que agem dessa maneira, mas muitos, talvez a maioria, infelizmente, tem agido desse jeito. É claro também, que há muitos que efetivamente não fazem isso de caso pensado, mas são levados por conta da “obrigação de publicar e ter citações de suas publicações”. É preciso estar bastante atento e tomar cuidado, para não cometer esse tipo de coisa de maneira nenhuma.

Eu e muitos outros divulgadores científicos sérios, somos discriminados, exatamente porque não concordamos com essa “coisa nojenta” da ciência ser um feudo que não pode se misturar com a plebe. Obviamente, eu não faço publicação de inverdades e tenho artigos com mais de 20, 30, 50, 80 e até 100 mil leituras e duvido que existam muitos cientistas brasileiros, por mais renomados que possam ser, que tenham seus artigos lidos nesse contingente. Ora, honestamente, o que é mais importante informar ciência para muitos ou para alguns? Trazer as verdades científicas para a sociedade ou para um grupo social de “seletos amigos”?

A linha imaginária que separa a ciência e a divulgação científica é realmente imaginária, porque ela não existe. O que existe são pessoas ligadas ao conhecimento científico utilizando ou fingindo que usam o método científico e outras pessoas que observam as coisas e propõem determinadas explicações dos fenômenos. As primeiras se dizem cientistas e podem cometer inverdades em nome da ciência, desde que suas publicações sejam indexadas. As outras que não têm pretensões a títulos, a cargos ou a concursos especiais não podem nem dizer verdades sobre a ciência. O pior é que quando dizem verdades, muitas dessas verdades são atribuídas a outras pessoas que nada fizeram sobre aquilo, apenas foram mais “espertas” (ladras) e assumiram aquelas verdades como se fossem suas.

Senhores “cientistas”, façam suas revisões bibliográficas e olhem atentamente às datas das publicações antes de afirmarem quem gerou aquela informação que você está citando e atribuindo a um determinado autor. Veja bem se, antes dele, alguém, nem que seja numa folha de papel simples, já não havia escrito aquilo que você está citando e atribuindo a determinado autor. Você, como pretenso “cientista” tem a obrigação de tomar esse cuidado.    

Reconhecer o verdadeiro autor de alguma coisa é o mínimo que se espera de quem trabalha com essa coisa. Podem ter certeza de que isso não vai diminuir ninguém, ao contrário, talvez sirva para engrandecer alguns, que observam mais, estudam mais e, muitas vezes, até pensam mais que pretensos cientistas que usam o método, mas não entendem nada nada sobre ele.

A observação é a primeira etapa a ser considerada no método científico e muitas vezes, apenas uma simples observação já é suficiente para permitir algumas conclusões, sem grandes experimentos ou cálculos probabilísticos. “Quando a maçã caiu na cabeça de Newton, ele simplesmente entendeu que as coisas caem porque a Terra às puxam” e assim se fez comprovou a força da gravidade. Se não fosse o fato de Fleming observar que fungos tinham atacado as feridas cheias de bactérias, talvez ele jamais teria descoberto a penicilina.

Mendel jamais seria o “pai” da Genética, se Hugo de Vries não fosse um cientista sério, porque Mendel nunca foi cientista. Mendel gostava de cruzar ervilhas, ele observava e anotava os resultados dos cruzamentos e publicou tudo num boletim dos padres gregorianos, que provavelmente só era lido pelos próprios padres. Anos depois, De Vries encontrou, por acaso, o boletim com a anotações de Mendel, e ninguém sabia cientificamente de sua existência, entretanto De Vries citou as informações como sendo efetivamente de Mendel.

Ora, se De Vries fosse outro “cientista”, teria omitido Mendel e o hoje o “pai” da Genética, hoje, seria De Vries. Pois então, De Vries, deu o mérito a quem de direito que era Mendel. O próprio De Vries, apenas confirmou que aqueles dados eram verdadeiros, mas não se assumiu “dono” deles.  Mendel só é famoso, porque De Vries era um cientista sério e sobretudo, honesto e citou a fonte original dos seus trabalhos, que provinham de um informativo que não tinha nada a ver com ciência.

Darwin, não fez nenhum experimento para propor sua explicação para a Evolução das Espécies com base na Seleção Natural. Além disso, Wallace também apenas observando, chegou as mesmas conclusões que Darwin. E nenhum dos dois leu nada do outro. Ou melhor, apenas Darwin, leu uma carta de Wallace. A propósito, e o próprio Darwin cita esse fato na sua obra magistral: “A Origem das Espécies”, que constitui-se no livro não religioso mais lido da história da humanidade.

Newton, Fleming, Mendel, De Vries, Darwin, Wallace e outros grandes homens de ciência do passado, talvez não fossem considerados cientistas hoje, exatamente porque apenas observaram, discutiram sobre aquilo que observaram, depois pensaram e concluíram grandes verdades. A propósito, cabe lembrar que, naquelas épocas, até mesmo as simples cartas ou boletins de agremiações, escritas à mão ou impressos grotescamente, eram citados e seus autores intelectuais eram referenciados nas diferentes pesquisas científicas, como Darwin fez com Wallace e como De Vries fez com Mendel.

No momento atual em que se discute sobre as “fake news” e sobre os absurdos científicos é inadmissível que se deixe de lado os autores intelectuais de qualquer propositura que seja verdadeira ou falsa, até para que se separe devidamente o joio do trigo. Tem mentira científica virando verdade e verdade científica virando mentira, apenas dependendo de que está fazendo a afirmativa. Isso tem que acabar. Se a sociedade ainda é incapaz de analisar e assim não pode julgar quem está realmente com a verdade, o cientista tem a obrigação de mostrar sua cara e apresentar o seu pensamento, dando o devido crédito a quem merece.

Senhores cientistas, pensem nisso e procurem ser mais verdadeiros, mais generosos, mais honestos e menos pretenciosos. Afinal, se a ciência procura a verdade, o cientista que não faz uso da verdade nas suas ações científicas não pode ser considerado realmente um cientista.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo), Professor e Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

22 mar 2023
30 anos do Dia Mundial da Água

30 anos do Dia Mundial da Água

Resumo: Mais uma vez, estou aqui para lembrar que não adianta ter um “Dia Mundial da Água”, se continuamos cuidando mal desse recurso vital. Precisamos compreender que sem água não existe vida e que somos os responsáveis pela manutenção da quantidade e da qualidade da água no planeta. Temos que trabalhar seriamente nesse compromisso. 


Estamos no mês de março, o mês internacionalmente dedicado a água, desde 1993. A data foi recomendada durante uma reunião ocorrida na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CONUMAD), conferência que ficou conhecida como Rio 92 ou Eco 92 e que aconteceu em junho de 1992 na cidade do Rio de Janeiro. A data foi efetivamente assumida pela ONU, em 21 de fevereiro de 1993. Assim, essa data começou a ser oficial em 22 de março no ano de 1993. Portanto, neste mês estamos oficialmente completando 30 anos de Dia Mundial da Água. Antes de qualquer coisa quero fazer um pequeno comentário sobre a água, que embora eu acredite que todos saibam, parece que quase ninguém se lembra.

É engraçado, que a água, sendo a substância que compõe o meio congênito que foi capaz de produzir a vida no planeta, tenha sido relevada a condição vulgar de mais uma mera substância química pela humanidade. Todos sabem que, se não existisse água não existiria a vida, pelo menos, a vida como conhecemos e entendemos aqui na Terra.  Pois então, essa mesma água que está no planeta desde os primórdios da Terra, há mais de 5 bilhões de anos, só teve sua importância decretada internacionalmente há apenas 30 anos. Essa é uma daquelas questões de valores que a gente não entende e que deveria ser extremamente trágica, se não fosse tristemente cômica.

Vou falar um pouco de água, mas não vou fazer um artigo técnico ou coisa parecida. Também não vou me referir aos usos múltiplos da água e suas diferentes aplicações para a humanidade. Não vou fazer nada disso. Vou somente mencionar a água como água em seu valor absoluto, qual seja, uma substância fundamental para a formação e a continuidade de TODA a vida no planeta Terra, mais particularmente a vida humana.

A água é a substância mais abundante e uma das substâncias mais importantes do planeta, por ter sido o ambiente básico que propiciou a formação e por manter toda a vida no planeta. A repetição é proposital, para ver se as pessoas se tocam, passem a entender, se acostumem efetivamente com essa ideia e vislumbrem a verdadeira importância da água.

 Como a água, que é disputada até belicamente em algumas regiões do mundo, necessitou levar tanto tempo para ser considerada como uma substância importante? Como a água foi, ao longo da história, tão desprezada e tão pouco valorizada pelo ser humano? Por que ainda tem tanta gente que não dá o devido valor a água? É muito difícil entender e responder a essas perguntas.

Além disso, ainda cabe lembrar, que a espécie humana é apenas mais uma das milhões de espécies de organismos vivos que são totalmente dependente da água existente no planeta. Mas, também é necessário ressaltar que a espécie humana é aquela mesma que se autointitula como a única racional e, por isso mesmo, se acha superior as demais. E, o pior ainda é que, para muitos, a espécie humana foi feita à imagem de Deus e por isso mesmo, deve ser a “dona absoluta” de todas as coisas existentes no planeta e deve se utilizar de tudo na Terra a seu bel prazer, inclusive e principalmente da própria água. Bem, chega de ficar citando esses absurdos que infelizmente muita gente acredita e defende e vamos em frente.

Historicamente, no mundo todo, a água sempre foi tratada como mais uma “coisa qualquer” que existe no planeta para o ser humano usar, esbanjar e poluir, ainda que tanto seu excesso, como sua carência, possam ser causas de terríveis catástrofes, de inúmeras mortes e muitas guerras em vários momentos e situações da História. Aliás, é bom lembrar que até hoje, ainda existem centenas de conflitos por conta da posse e do uso da água. Esses conflitos vão desde simples discussões locais, ou pendengas regionais, ou ainda embates interestaduais em diversos países e até mesmo guerras internacionais pelo planeta afora.

Pois é, meus amigos, a água é uma só, mas a distribuição da água planetária é desigual e enquanto uns esbanjam e jogam água fora outros carecem e até morrem de sede. Enquanto secas castigam parte da humanidade, enchentes também castigam outras partes. Enquanto alguns sujam a água, outros precisam utilizar essa mesma água imunda para continuar vivendo. Cabe lembrar que a água também é a fonte de transmissão da maioria das doenças conhecidas. E estranhamente, nós, os seres humanos “superiores”, passamos toda nossa curta história, sem reconhecer a devida importância à água.

Bem, de qualquer maneira, embora tarde, depois de 15 mil anos de história, parece que o homem moderno está começando a compreender que água não é apenas uma substância importante. A Água é preponderante, água é fundamental. Assim, a Organização das Nações Unidas resolveu atribuir uma data mundial para a água. Como diz o ditado, antes tarde do que nunca. Mas, é daí? O que temos feito nesses 30 anos?

Depois que a ONU descobriu a água, certamente mais gente descobriu ou foi induzido a descobrir e algumas coisas começaram a acontecer no planeta visando a proteção desse líquido precioso. Parte da humanidade procurou poluir menos, usar melhor, não desperdiçar, recuperar e proteger os mananciais e, sobretudo, não criar dependências hídricas e reutilizar a água o mais possível, mormente na área industrial. Essas ações têm efetivamente crescido pelo mundo afora, porém a população humana aumenta rápida e progressivamente e as necessidades hídricas também. Desta maneira temos conseguido pouca melhora e ainda estamos muito longe da condição ideal no trato cotidiano e necessário com a água.

Os países desenvolvidos, principalmente os europeus, têm relativamente minimizado seus problemas e aproveitado o pouco de água que lhes restaram. Os países da América do Norte e Central ainda têm suficiente quantidade de água e seguem com rigor as normas de uso e saneamento dos recursos hídricos. Na Ásia, a exceção da China, a maioria vai de mal a pior, pois a poluição hídrica é terrível. Mesmo na China, que tem muita água, a maior parte dessa água está comprometida e poluída. Os países da África sofrem muito com as secas prolongadas em várias regiões e os países do Oriente Médio não têm praticamente nenhuma água.

Na Austrália a carência é grande, mas lá também existe bastante responsabilidade com a água. Aqui, na América do Sul, quantitativamente a coisa ainda vai relativamente bem. No Brasil, não deveríamos ter problemas, pois possuímos a maior quantidade de água no estado líquido do planeta, porém, historicamente, cuidamos mal de nosso patrimônio hídrico e assim, qualitativamente, também temos muitos problemas, com poluição orgânica, devido à falta saneamento e com desperdício exagerado. 

Em suma, o mundo descobriu que a água é fundamental, mas ainda precisa acreditar nesse fato e agir de acordo e com às condições ambientais de cada região, respeitando as necessidades e procurando garantir os recursos hídricos para todos. Isto é, garantir água para as gerações atuais e principalmente as gerações futuras, porque se não nos dispusermos a garantir água hoje, certamente irá faltar água amanhã.

Cabe relembrar que, sem água não há vida. O ser humano “racional e superior” precisa justificar esse insigne rótulo, que ele mesmo se deu, e usar os recursos hídricos com sabedoria. Se isso não acontecer, mesmo com a ONU decretando “O Dia Mundial da Água”, algumas regiões do planeta continuarão à mercê de possíveis carências e mesmo ausências da água. Se isso acontecer mais significativamente teremos agravado o quadro de perda de vidas humanas por conta de falta de água e isso certamente é algo desinteressante para a Humanidade e mais ainda para o planeta.

No nível tecnológico em que o mundo se encontra hoje, onde o ser humano é capaz de realizar quase tudo, certamente temos que ser capazes de garantir água em quantidade e qualidade para toda a Humanidade. Assim, perder vidas humanas por questões hídricas é mais que um absurdo e deveria ser considerado um “crime de descaso”. Não podemos deixar essa situação crescer ainda mais. Já sabemos, como, onde e o que fazer para resolver os possíveis problemas, precisamos apenas cumprir com as nossas obrigações humanitárias.

Temos que entender definitivamente que TUDO AQUI NO PLANETA TERRA É LIMITADO, inclusive o próprio planeta, e temos que trabalhar para que, mesmo sabendo das limitações, tudo possa ser perpetualizado o mais possível. Isto é, a luta maior da humanidade é tentar manter e ampliar cada vez mais o tempo de vida de todas as coisas, porque assim também ampliaremos as possibilidades de manutenção da vida orgânica, inclusive e principalmente, da vida humana. 

No que tange aos recursos hídricos, o ser humano é tão ou mais frágil, que qualquer outro organismo vivo do planeta, porque a nossa dependência imediata da água é proporcional e significativamente maior que a dos outros organismos planetários. Além disso, sempre é bom ressaltar que nós, talvez, sejamos os únicos organismos que temos a exata dimensão dessa nossa dependência hídrica e isso nos impõe uma responsabilidade maior em relação à água.

Meus amigos, faz 30 anos que começamos a pensar mais sério sobre a água, entretanto ainda estamos trabalhando pouco nesse assunto vital. Doravante, temos que efetivamente agir muito mais sério, para garantir água para todos e para sempre. O cuidado com a água tem que ser eterno. Criamos um “Dia Mundial da Água”, mas precisamos entender e assumir que precisaremos de água todos os dias.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Professor e Pesquisador), Escritor, Revisor e Ambientalista; Membro Titular do Comitê das Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul – CBH-PS e Presidente da Comissão de Meio Ambiente do Distrito 4.571 de Rotary International

07 mar 2023

Buscando o Melhoramento do Gerenciamento dos Recursos Hídricos

Resumo: Mais uma vez, estou chamando a atenção para o processo de esvaziamento da comunidade nos Comitês de Bacia e consequentemente na Gestão dos Recursos Hídricos. Embora o trabalho de gestão da água esteja seguindo bem, há necessidade de que a comunidade se envolva mais no processo, para que ocorra maior respaldo das atividades desenvolvidas e melhor conhecimento das ações dos comitês.


Estamos comemorando o mês da água e por isso mesmo vou aproveitar o momento para comentar, mais uma vez, sobre uma questão que tem me preocupado bastante no que tange a gestão de recursos hídricos no país como um todo e na nossa Bacia do Paraíba do Sul, em particular. Continuamos progredindo na gestão, entretanto, a participação da sociedade nos comitês ao invés de se ampliar, tem diminuído significativamente. Isso não me parece ser um bom sinal e resolvi voltar a lembrar que precisamos melhorar também essa situação da participação comunitária nos comitês. Porém, antes de tratar diretamente desse assunto, sempre cabe destacar um esclarecimento geral sobre a gestão da água no Brasil.   

Embora o Estado de São Paulo tenha saído na frente, no que se refere aos Recursos Hídricos, com a publicação da Lei Estadual 7.663/1991, pouco depois o restante do país também seguiu à mesma linha, com a edição e aprovação da Lei Federal 9.433/1997. Esta lei estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos e determinou o que deveria ser feito em relação a água no Brasil. Pouco depois, através da Lei Federal 9.984/2000, foi criada a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SINGREH) para implantar efetivamente a Política Nacional de Recursos Hídricos no país.

Somente a partir desse momento foi que as coisas realmente começaram a acontecer no que tange aos recursos hídricos nacionais. Pois então, isso significa dizer que começamos a falar nacionalmente sério, sobre as questões relacionadas à água no Brasil, faz pouco mais de 25 anos. Ao longo desse tempo, apesar de alguns percalços, aparentemente o país tem trabalhado bem no que se refere a gestão dos recursos hídricos.

Além da legislação já citada, ainda cabe destacar a Resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos nº 58, de 30 de janeiro de 2006, que implantou o Primeiro Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), cuja vigência prevista era até 2020, e ainda determinou que o documento fosse revisado a cada 4 anos, como aconteceu. Em 2020, deveria ter sido implantado o Novo Plano Nacional de Recursos Hídricos, com vigência prevista até 2040, contudo, por conta da Pandemia de COVID-19, o plano antigo foi prorrogado até 31 de dezembro de 2021 e o novo plano só passou a vigorar a partir de janeiro de 2022, quando foi definitivamente implantado.

Sendo assim, estamos há pouco mais de 1 ano, sob a égide legal do atual e elaboradíssimo Plano Nacional de Recursos Hídricos 2022-2040. Obviamente, no decorrer dos 25 anos que antecederam à sua implantação, houve um imenso aprendizado e a gestão dos recursos hídricos se desenvolveu e avançou bastante em todo o país. Não se mexeu mais na estrutura e nem nas diretrizes básicas, que se mantém as mesmas estabelecidas pela Lei 9443/1997, mas, certamente, temos evoluído muito no gerenciamento da água.

O aprendizado foi imenso e possibilitou evoluir bastante, quanto as funções do Plano Nacional e das questões ligadas a implementação e orientação dos Planos Estaduais e Regionais, procurando aparar as arestas e tentando fazer as devidas adequações estruturais e legais. Além disso, foram criadas regras de monitoramento, através de indicadores que têm sido desenvolvidos e utilizados a partir dos próprios acontecimentos oriundos dos gerenciamentos existentes. Ou seja, a gestão, de maneira inteligente, tem crescido em cima do seu próprio trabalho e de sua experiência.

Em suma, estamos trabalhando muito bem e o trabalho geral de Gestão de Recursos Hídricos no Brasil está seguindo uma linha constante de melhoras subsequentes. Os comitês se multiplicam pelo país afora e a gestão é cada vez mais democrática e participativa, o que conduz a trabalhos quase sempre melhores e mais eficientes. O uso dos recursos financeiros e o monitoramento das ações têm sido realizados dentro de princípios e padrões bastante satisfatórios e progressivamente mais eficazes. Existe uma procura efetiva de gastar com austeridade o dinheiro público, fazendo uso do melhor custo-benefício possível nas diferentes ações.

Ontem mesmo (01/03/2023), tive o prazer de assistir uma palestra, com a participação de aproximadamente, outros 40 atores, também envolvidos na gestão da água e nos comitês de bacias. Foi uma palestra excelente e bastante explicativa, promovida e ministrada pelo pessoal técnico em gestão em recursos hídricos da ANA, em atendimento a uma solicitação do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul (CEIVAP), referente a Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos 2 (UGRHI 2).

A apresentação comentou e discutiu sobre a metodologia empregada na implementação e no monitoramento do PNRH, de acordo com o Manual para a Avaliação da Implementação de PRHs, que foi estabelecido a partir do conhecimento adquirido pela ANA até agora. Realmente a assistência presente concordou plenamente que está tudo caminhando muito bem no que se refere ao trabalho de gerenciamento e que as coisas tendem a ficar excelentes com a implantação de novos Comitês da Bacia Hidrográficas, que ainda são necessários no país.

Pois então, embora esteja tudo caminhando muito bem, existe um ponto, de certa maneira mais externo à gestão, mas que, a meu ver, também influi e pode conduzir a resultados ainda melhores.  A superação desta questão específica, tende a democratizar mais a gestão e minimizar vícios metodológicos e funcionais consideráveis.  Acredito que, talvez por isso, a situação que foi apresentada ainda não possa ser considerada perfeita, porque andamos bem, trabalhamos corretamente, mas divulgamos mal. E exatamente nesse ponto, a divulgação, que estamos muito deficitários. A gestão vai bem, mas, por outro lado, a população desconhece o excelente trabalho que é voluntariamente produzi do pelos comitês e essa mácula necessita ser apagada.

É um absurdo, porém depois de mais de 30 anos, ainda tem muita gente nesse país que ainda não sabe e nem imagina o que é e muito menos o que faz, um Comitê de Bacia Hidrográfica.  Estamos pecando por omissão, na divulgação das ações desenvolvidas nesses colegiados importantes, que definem o que fazer com a água. Infelizmente, as pessoas que têm acento nos comitês e nas suas Câmaras Técnicas, tem atuado para as comunidades, mas tem falado do trabalho efetuado, apenas internamente, ou seja, dentro do próprio grupo que, de alguma maneira, faz parte do próprio comitê. Isto é, os comitês não informam, não transferem e não projetam suas ações para fora dos comitês. Não há divulgação dos comitês e muito menos de suas ações.

Deste modo, as pessoas das comunidades locais e a sociedade como um todo, acabam não conhecendo os comitês e os seus valorosos trabalhos. O pior é que, como não há divulgação correta das ações, as poucas pessoas que pensam que conhecem o trabalho dos comitês, acabam produzindo informações totalmente deturpadas a respeito dos próprios Comitês e da Gestão dos Recursos Hídricos. Na verdade, os Comitês de Bacias Hidrográficas são grandes desconhecidos das comunidades, como já citei em artigo anterior (LIMA, 2020).

Se considerarmos a organização estrutural e paritária na representatividade dos comitês, onde devem estar representados os vários segmentos da sociedade, com equivalência relativa proporcional da representação, visando exatamente estabelecer uma condição democrática e participativa efetivamente. Entretanto, essa condição obrigatória da organização estrutural dos comitês não chega na opinião pública e se chega, não se condiciona como princípio democrático fundamental. Em consequência disso, a orientação democrática e participativa dos comitês não fica evidente para as comunidades e assim, não reflete o compromisso efetivo de garantir água em quantidade e da melhor qualidade para todos, que o objetivo primário dos comitês.

É por isso que a divulgação dos comitês e de seus trabalhos voluntários, participativos e sócio comunitários no interesse da coletividade local e da sociedade em geral é fundamental. Assim, é preciso que os comitês sejam mais bem conhecidos e que seus trabalhos tenham mais visibilidade nas suas respectivas bacias hidrográficas. Vou tentar explicar melhor o que estou querendo dizer.

Tristemente a maioria da sociedade continua achando que os comitês constituem um simples amontoado de pessoas próximas (amigas), ligadas a partidos e setores políticos. Essas pessoas atuam em conluio para conseguir dinheiro público e consequentemente utilizar esse dinheiro como acharem mais indicado, sem nenhum critério técnico, apenas considerando alguns interesses políticos ideológicos, exclusivamente pessoais ou, quando muito, comunitários corporativistas. Nós, as pessoas que atuam nos comitês, que dispomos, voluntária e gratuitamente, de nosso tempo, de nosso trabalho e de nosso intelecto para o funcionamento dos comitês e de suas diferentes Câmaras Técnicas, ainda somos considerados como embusteiros comuns, que fazemos negociatas para aprovar esse ou aquele projeto e reprovar outros.

A Divulgação do trabalho dos comitês, do funcionamento, da transparência e a participação, necessária e cada vez mais efetiva, da sociedade civil organizada são fundamentais para que as pessoas acreditem integralmente nesse tipo de colegiado, onde não há poderosos. Temos que fazer alguma coisa no sentido de ampliar a participação social nos comitês e, principalmente, de aumentar a sua credibilidade. Ou seja, temos que popularizar mais os comitês, informando e demonstrando claramente à população que é possível ter um órgão público funcional gerido pela própria sociedade, que funciona e onde não existe trambique oficial.

A sociedade precisa saber que os Prefeitos, Deputados, Vereadores, Secretários e outros políticos ou administradores públicos não têm nenhum poder individual maior dentro de qualquer Comitê de Bacia Hidrográfica. Os comitês são abertos às comunidades e cada membro de um comitê é apenas um membro do comitê como outro qualquer, sem nenhuma vantagem adicional. A gestão se faz realmente através da participação democrática de todos os envolvidos no processo e as comunidades precisam estar sempre sendo informadas desse fato. As reuniões são abertas e deveriam ser sempre acompanhadas pela comunidade interessada, mas isso é um acontecimento muito raro.

Há necessidade de se abrir mais as portas dos comitês para todos as entidades, mas o que temos visto é que continuamos sendo sempre os mesmos. Ou melhor, às vezes mudam as entidades, mas as pessoas envolvidas são quase sempre as mesmas Se esta limitação acontecesse por competição política na vontade de muitos que quisessem participarem seria bom, porém, na verdade, a situação acontece por carência de pessoal interessado em participar, provavelmente por falta de conhecimento sobre os comitês. Assim, as mudanças de pessoal são tão poucas e insignificantes, que geralmente só são percebidas depois de muito tempo. Por favor, não me entendam mal, não tenho objetivo de fazer crítica a quem participa, só estou dizendo que a participação precisa ser progressivamente maior e mais diversificada.

Caramba! Existe um órgão Federal ou Estadual que gerencia e financia recursos materiais e financeiros, oriundos do estado e da bacia hidrográfica local para serem usados na minoração das necessidades locais e as pessoas não se envolvem nisso. Não é possível consigo que essa situação ocorra somente por desinteresse. Essa ausência está relacionada a falta de informação e ao consequente desconhecimento do assunto. Deste modo, temos pouca gente envolvida tanto nas proposituras (projetos apresentados), quanto nas definições de possíveis soluções das questões.

A falta de participação ainda pode causar outro problema. Algumas vezes, quem pode acabar decidindo sobre as questões nem conhece exatamente os problemas que existem no local. Isso não pode acontecer, porque não é esse o objetivo da gestão dos recursos hídricos e principalmente porque esse também não é o objetivo da existência dos próprios comitês de bacias como órgãos gestores. Muitas vezes se prioriza e se decide por análises estritamente técnicas, entretanto as questões técnicas, exatamente por serem técnicas, muitas vezes não identificam ou não levam em consideração as questões comunitárias e suas necessidades, assim, muitas vezes, as prioridades se confundem e isso também precisa ser discutido.

Como membros dos Comitês, temos que fazer alguma coisa que nos permita ser mais conspícuos na comunidade e que traga a comunidade para mais próximo, ou melhor, para dentro dos comitês. Aumentar a participação e a diversidade dos comitês é fundamental para melhorar as suas capacidades de trabalho. Eu não tenho dúvidas de que isso tornará a gestão muito mais eficiente e desta maneira, a opinião pública será muito mais conhecedora das atividades e consequentemente, muito mais envolvida em colaborar e trabalhar pelos recursos hídricos que lhes são servidos.

Em que pese a nossa excelente gestão de recursos hídricos e sua condição progressiva e qualitativamente melhor, ainda temos um problema crônico a resolver, para podermos deslanchar e garantir a água diária que tanto defendemos e necessitamos. A Gestão de Recursos Hídricos precisa ter a comunidade diretamente envolvida nos seus trabalhos objetivos e específicos do gerenciamento, ou seja, participando ativamente das atividades discutidas e desencadeadas dentro dos comitês. Se o trabalho tem sido bom sem a participação maior da comunidade e com a opinião pública contra, imaginem o quanto ele será melhor, se for possível trabalhar com apoio da comunidade e com a opinião pública estando a favor. 

Referências

BRASIL, 1997. Lei Federal 9.433, de 08 de janeiro de 1997 (Lei das Águas). Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Diário Oficial da União, Brasília, 09/01/1997.

BRASIL, 2000. Lei Federal 9.984/2000, de 17 de julho de 2000. Dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas – ANA, órgão federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de elaboração do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras providências. Diário Oficial da União – Seção 1 – 18/7/2000.

BRASIL, 2006. Resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos nº 58, de 30 de janeiro de 2006. Aprova o Primeiro Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH).

LIMA, L.E.C., 2020.  A Necessidade da Divulgação dos Comitês de Bacias Hidrográficas, www.profluizeduardo.com.br, 17/05/2020.

SÃO PAULO, 1991. Lei Estadual 7.663/1991, de 30 de dezembro de 1991. Estabelece normas de orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos bem como ao Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Assessoria Técnico-Legislativa, aos 30 de dezembro de 1991.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67), Biólogo (Professor e Pesquisador), Escritor, Revisor e Ambientalista

01 mar 2023

Os malefícios de um população sem noção, massificada e inconsequente

Resumo: Estou trazendo um tema que precisa ser discutido, para que se estabeleça uma melhor noção da realidade do país para o povo brasileiro. O país não segue patinando e não sai do lugar, por conta da falta de noção da realidade na população brasileira. Infelizmente os brasileiros não conhecem, nem são levados a conhecer o Brasil e enquanto essa situação continua, seguimos parados no tempo e no espaço.


Estou muito longe de ser um estudioso do comportamento humano, mas não sou cego e nem completamente ignorante. Sendo assim, sou capaz de observar as pessoas à minha volta, de imaginar o que elas pensam e como se sentem, ao menos, nos momentos de convivência mútua com cada uma delas. Aliás, qualquer ser humano normal, por mais idiota que seja, se quiser, também pode ser capaz de manifestar esse tipo de mecanismo perceptivo em relação a outros seres humanos.

Por outro lado, como as pessoas de uma comunidade, no que diz respeito aos seus comportamentos, em geral são muito parecidas, haja vista que, infelizmente, essas pessoas, têm sido tratadas como marionetes pelos formadores de opinião. De maneira geral, as pessoas têm sido utilizadas como um produto vulgar controlado pela mídia safada, que está aí apenas para criar e transformar as mentes humanas, com objetivos espúrios ou de interesses puramente econômico. Assim, acaba não sendo muito difícil identificar os valores, as ideias, os comportamentos da grande maioria das pessoas.

E depois de comparar umas com as outras, acredito que a conclusão quase unanime será de que: “a maioria dos seres humanos que estão à nossa volta é tristemente composta de indivíduos egoístas, egocêntricos, limitados ou totalmente incapazes, desligados, invejosos, vingativos e, o pior de tudo, inconsequentes, porque elas nem imaginam os resultados daquilo que fazem”. Obviamente existiram honrosas exceções, mas será apenas exceções.

Infelizmente, a maioria dos indivíduos simplesmente fazem as coisas, de acordo com a orientação direta ou indireta dada pela mídia e não se questionam sobre os resultados produzidos por essas coisas. Por conta desse mal sociológico, eles acabam também fazendo mal ao meio ambiente e à comunidade em que se encontram e assim, estão também fazendo mal ao planeta e à sociedade como um todo. Os seres humanos atuais têm os olhos semicobertos e orientados fortemente pela mídia e deste modo, não costumam ver quase nada, além de seus próprios umbigos.

Da maneira como coloquei, talvez possa estar parecendo que existe maldade ou segunda intenção na minha afirmativa, mas quero deixar claro que não tenho esse objetivo e vou explicar melhor. Eu não acredito que todas as pessoas sejam delibera e efetivamente mal-intencionadas, embora algumas realmente sejam, mas certamente penso que a maioria das pessoas é do bem. Sou humano e acredito que o ser humano é primitivamente bom e que esta humanidade atual certamente tem solução, desde que se trabalhe em prol disso.

O problema é que temos visto, ao longo da história, exatamente o contrário, por conta de interesses midiáticos e de outros interesses políticos escusos, onde as aparências valem mais que a verdade. As aparências parecem ser mais importantes que a própria vida de cada indivíduo. Com esse truque fantástico, a população, de maioria boa, é ludibriada e acaba sendo levada a cometer erros e agir inconsequentemente. Assim, a maioria boa, que é manobrada pela minoria ruim, acaba fazendo o mal também. O mais trágico é que isso parece ser uma regra progressiva e sempre mais eficaz.

Pois então, é deste modo que a maioria das pessoas, muitas vezes, sem maldade nenhuma, fazem o mal sem saber, porque não percebem o significado de suas ações. Por outro lado, as poucas que até podem perceber, geralmente não estão nem aí, porque orientadas pela mídia, também querem, literalmente, que a Sociedade se dane. Quer dizer, é uma irresponsabilidade coletiva, por desconhecimento de uns, ilusões de outros e prazer de alguns, que leva a uma série de pequenas coisas errados ou, pelo menos, disformes e diferentes do padrão esperado e coerente aos interesses de todos, que geram consequências maléficas e produzem grandes conflitos sociais e trazem enormes problemas à humanidade. Infelizmente, muitos de nós, já perderam o senso de colaboração e companheirismo.

A inconsequência humana, talvez seja o pior mal da humanidade. A inconsequência é muito mais danosa que a impunidade, porque se impunidade não pune quem erra, a inconsequência nem discute a questão do erro e continua permitindo que ele sempre aconteça, sem demonstrar que ele seja realmente um erro. Não punir quem errou é um grave defeito social, mas permitir que quem errou nem saiba que está errando é um “pecado mortal”. Entretanto, a sociedade em que vivemos, não só permite esse triste e grave defeito social, como reforça a sua ocorrência com o apoio da mídia e certos setores político-administrativos do país.

O inconsequente é aquele sujeito, muitas vezes bem-intencionado, mas que é incapaz de julgar, que aquilo que ele faz intencionadamente pensando no bem, muitas vezes, pode causar transtornos outros, os quais ele não ele nem imaginava. Ou seja, o inconsequente, não pensa e nem dimensiona sobre as possíveis consequências de suas “boas” ações. Pois então, meus caros leitores, é exatamente aí que mora o perigo. Quando surgem as consequências dos atos é que alguns, isso mesmo apenas alguns, porque a maioria continua desligada, acabam percebendo que fizeram bobagem e, geralmente, não é mais possível corrigir o erro.

Vou dar alguns exemplos, para que os senhores possam entender que não há nenhuma falácia e muito menos inverdades no que estou afirmando.  Sou tão brasileiro e interessado em viver melhor, quanto qualquer outro brasileiro, mas não posso mais suportar o que acontece com esse enorme contingente de descalabros que se sucedem diuturnamente no país. Vamos aos exemplos.

Quem não sabia, há cerca de 10 ou 15 anos atrás que viria uma grande Pandemia em breve? Quem não sabia que a Rússia iria invadir a Ucrânia de uma hora para outra? Quem não sabia que os mal políticos brasileiros, ligados ao narco tráfico estavam trabalhando para ganhar mais espaço? Quem não sabia que quando a Xuxa, começou a colocar a letra “x” em tudo, criaria um mal negócio para a língua portuguesa? Quem não sabia que mudar o foco das informações era uma política interessante já programada para enganar as pessoas? Quem não sabia que falar da Amazônia lá no Norte era um mecanismo simples para destruir a Mata Atlântica do Leste e o Cerrado do Centro-Oeste? Quem não sabia que falar da grande quantidade de água que o Brasil possui, era um grande negócio para poder aumentar a crise hídrica, criando projetos hidrelétricos totalmente absurdos?

Quem não sabia que o Brasil seria a maior fronteira agrícola do mundo se as coisas continuassem no modelo proposto pelo Ministro Alysson Paulinelle (1974 a 1979) no governo Geisel? Aliás, cabe ressaltar que esse trabalho, que está culminando atualmente, também foi responsável pela indicação do Ministro Alysson Paulinelle para receber o Prêmio Nobel da Paz, nos anos de 2021 e 2022. Entretanto, a grande mídia nefasta “brasileira” não publicou nenhuma linha sobre esse importantíssimo fato. É triste que a nossa maior universidade não apareça nem entre as 100 primeiras do mundo. É muito triste não termos um Prêmio Nobel até hoje, porém é mais triste ainda, quando a imprensa brasileira nem informa que estávamos concorrendo à conquista desta láurea.

Quem não sabia que alguém iria propor um grande absurdo linguístico para justificar outros interesses, quando o Brasil começou a criar problemas com Portugal por conta da língua portuguesa? Quem não sabia que a França é o país que mais se preocupava com o crescimento do Brasil? E quem ainda não sabe que o Brasil é o país que tem a maior fronteira com a França (mais de 700 Km) através da Guiana Francesa, que se localiza em plena região amazônica?

Quem não sabe que a mesma Alemanha que reclama das nossas queimadas, foi a primeira a voltar a queimar carvão por conta da Guerra da Ucrânia?  Essa mesma Alemanha que nos vendeu um projeto arcaico de Usina Nuclear para nos manter dependentes e que rapidamente resolveu reativar as suas Usinas Nucleares quando se viu sem energia? Quem não sabe que a China quer que o Brasil pare de crescer, porque isto atrapalha os seus interesses e por isso mesmo tratou de comprar e assumir grandes empresas brasileiras com o aval de alguns picaretas para manter o status quo que lhe interessa? 

Enfim, há vários outros exemplos, mas eu vou parar por aqui, porque é mais que óbvio, que fomos levados até aqui, por interesses outros e sobretudo, antinacionais. Meus amigos, não há nenhuma novidade naquilo que estamos vendo, porque tudo isso é parte de um grande projeto desenvolvido ao longo de décadas. O que me preocupa não são os brasileiros que não vêm, mais aqueles que vêm e apoiam essa situação ou fingem que está tudo bem.

Existe uma cambada de lesa-pátria que está se lixando para o país, desde que consigam ganhar algum dinheiro extra. Nessa corriola, merecem destaque os inúmeros políticos sem escrúpulos e artistas nojentos, todos cretinos e hipócritas, que pregam uma coisa e fazem outra, iludindo as pessoas, para roubar descaradamente a nação. Os políticos criando leis que conduzem a vantagens pessoais e os artistas usando e abusando da picaretisse escondida, por exemplo, atrás da Lei Rouanet, para se locupletarem sempre mais. Obviamente, existem outros mal feitores, que não vou citar aqui, senão posso correr o risco de ser preso, pelo crime de dizer a verdade.

Meus amigos, os exemplos estão aí e as ações que comprovam eles também estão. Pois é, tudo que temos hoje são consequências de 10, 20, 30, 40, 50 e até 60 anos passados, de coisas erradas acontecendo, de ilogicidades se ampliando e ninguém reclamando efetivamente, até recentemente. Foi tudo planejado e a procissão seguiu em frente, sem ninguém se manifestar contrariamente aos fatos. O povo elegeu bandidos e derrubou bandidos, por conta do interesse exclusivo da mídia, de seus magnatas, seus articuladores e dos grandes donos do poder econômico.

O população desse país, tristemente disse amém àquilo que, a priori, não tinha maldade, mas que tinha, sobretudo, consequências maléficas, muitas já previsíveis e obviamente programadas e mal-intencionadas na origem. Pois é meus caros leitores, hoje, aliás, já faz algum tempo, estamos vivendo dessas consequências maléficas oriundas de alguns picaretas e de gente pretensamente muito bem-intencionada, mas que levou o país na direção errada e continua levando cada vez mais. Onde vamos parar?

Meus amigos, eu não queria falar diretamente de política, mas vou citar uma frase bem conhecida de todos, atribuída Martin Luther King: “o que me preocupa não é o grito dos maus, mas sim no silêncio dos bons”. Se queremos um país melhor e se queremos viver melhor, temos que fazer a nossa parte, isto é, temos que fazer mais barulho e trabalhar duro para tentar impedir as consequências da maldade, natural ou programada, que tristemente controla a população brasileira e assola esse país.  

O Brasil é sabida e seguramente o celeiro alimentar, mineral e energético do planeta, o que facilmente o conduzirá à condição de primeiro país da Terra. O mundo inteiro tem consciência desse fato e todos os países ricos, a seu modo e interesse, estão de olho no nosso território e nas nossas riquezas naturais. Esses países, direta ou indiretamente, continuarão investindo para que mantenhamos a nossa população mal-educada, apática e indiferente ao potencial brasileiro no cenário internacional.

Senhores, enquanto o povo brasileiro, continuar sendo iludido e manuseado por essa mídia imprestável e vendida, além de tristemente administrado e dirigido por comprovados políticos safados e ladrões, que não se importam e se fazem de desentendidos com o que vem acontecendo nos últimos 60 anos, infelizmente, seguiremos nesse marasmo. Precisamos acabar com isso e trazer luz e realidade à população brasileira.

Vamos acordar nação brasileira, temos que voltar a ordem e o progresso grafados em nossa bandeira. Para tanto, basta começar a colocar ordem na casa, que o progresso será a consequência benéfica e imediata que estamos precisando e que nos permitirá o afastamento dos malfeitores que assolam o país. Comecemos exigindo dos poderes constituídos o investimento sério numa educação de qualidade para todos os brasileiros e ações efetivas que visem a garantia da segurança de nosso território e de nossas riquezas naturais. O povo esclarecido, educado e não massificado pela mídia, entenderá a realidade e certamente fará o resto, levando o Brasil ao lugar que merece.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67), Biólogo (Professor e Pesquisador), Escritor, Revisor e Ambientalista.

08 fev 2023
A Esculhambação com a nossa Língua Pátria II

A Esculhambação com a nossa Língua Pátria II

Resumo: O artigo tem como objetivo chamar a atenção do fato de que se está progressiva e perigosamente complicando e desvalorizando cada vez mais a nossa Língua Portuguesa, assim, é preciso fazer um alerta à sociedade brasileira sobre o risco lamentável que essa situação representa para a população e para o país.  


Há cerca de um mês atrás publiquei um artigo aqui mesmo nesse site, intitulado “A Esculhambação com a nossa Língua Pátria” e recebi vários comentários que faziam referências a uma questão que propositalmente evitei de comentar naquele momento. Porém, informei a todos que me interpelaram, que estaria fazendo outro artigo para abordar exatamente aquela questão que estava sendo solicitada. Bem, eis o artigo.

Depois que tivemos uma Presidente da República que se autointitulava “Presidenta”, mas que, para muitos, estava mais próxima de “Presidanta”. Espero que as antas que me perdoem pela comparação. Mas, creio que todos se lembram da imensa dificuldade, da citada “Presidanta”, em concatenar ideias, articular palavras e construir frases coerentes na língua portuguesa. Pois então, eis que surge agora um novo problema linguístico, para esculhambar de vez com o nosso idioma pátrio. Deus que nos perdoe e “São Rui Barbosa” que nos ajude a livrar de mais esse castigo, sugerido pelos “gênios do mal” que assolam esse país e que estão iludindo muitos e investindo seriamente nesta propositura absurda.

Certamente, o leitor já sabe que estou me referindo a pretensa relativação (minimização) do pronome indefinido “todo” ou “todos” (no plural), tornando-o definido ou menos abrangente em seu significado primário. Pois então, tem gente querendo que o pronome “todos”, agora possa ser sinônimo de uns, de alguns, de poucos e até de muitos, porém jamais terá o significado de total ou completo, será sempre parte de um contingente maior e mais abrangente, a não ser quando exclusivamente indicado ao gênero masculino.

Isto é, o “todo” agora só engloba uma parte, que é parte masculina, como ocorre com o seu feminino “toda”, que cabe ao gênero feminino, como, aliás, sempre aconteceu. Entretanto, agora surge um terceiro pronome “todes” ou “todxs”, que engloba os “demais pretensos gêneros linguísticos”, que NÃO EXISTEM e nem podem existir na língua portuguesa, até porque também inexistem na realidade biológica. Todos, todas, “todes”, todxs” “tutti” ou “toddy” dá tudo no mesmo, desde que não seja em português, mas na nossa boa língua portuguesa tem que ser todos.

Vejam bem, eu não estou me referindo aos gêneros humanos, que as pessoas normais e eu também só conhecemos dois. Entretanto, hoje em dia, tem gente que admite vários, mas esse é outro problema que discutirei mais à frente. De qualquer maneira, é preciso ficar claro que na língua portuguesa, nós não fazemos e nem devemos fazer esta distinção de pretensos gêneros, porque, de fato, ela não nos leva a lugar nenhum. Ora, isso só pode ser brincadeira e de muito mal gosto, além de ser uma tremenda irresponsabilidade e uma falta total de conhecimento da língua portuguesa.

Das muitas bobagens que algumas pessoas, que infelizmente ainda existem na sociedade brasileira, desocupadas e pouco preocupadas com as questões mais sérias que o país enfrenta, agora também existe essa questão, que, embora recente, já está causando conflito em alguns setores. A tão comentada questão da pretensa inclusão de um pronome neutro na Língua Portuguesa, que alguns desses ilustres idiotas estão defendendo, não passa de uma grande absurdo. Essa ideia, concentra tanta incoerência e tolice que está deixando muita gente boa e séria efetivamente incomodada e com uma pulga atrás da orelha, haja vista que vivemos no país do absurdo.

Vejam bem meus amigos, a Língua Portuguesa não pode simplesmente ser mudada porque alguns “gênios do mal” querem ou pensam que isso deva acontecer. A última flor do Lácio, no dizer de Olavo Bilac, não merece esse tipo de tratamento, por gente que, pelo que se vê, não conhece realmente nada de Português e quer falar da maneira como bem entende, usando a língua no seu interesse particular. Aliás, peço vênia, porque acredito que essas pessoas possam realmente falar da maneira como bem entenderem, porém, o que elas certamente não podem, é querer que essa idiotice seja assumida compulsoriamente pelas demais pessoas do país e quiçá do mundo, que têm o Português como língua oficial.

O pior de tudo é que a questão deriva de outra, ainda mais absurda e ilógica, que a ideia dos vários gêneros humanos, o que, obviamente, não existe, como já citei acima. Mas, cabe explicar melhor. A espécie humana é bissexuada (com dois sexos) e com dimorfismo sexual bastante evidente na maioria das vezes. Desta maneira, assim como outras espécies dioicas, apresenta dois tipos morfológicos fundamentais de indivíduos: o masculino e o feminino. Aliás, é bom que se diga que em toda a natureza só existem, de fato, dois sexos e dois gêneros. Qualquer coisa diferente disso é balela e não cabe nenhuma discussão séria.

O problema ocorre porque alguns dos “gênios do mal”, defensores dessa ideia maluca, conseguiram incutir na mente de alguns de seus seguidores que na espécie humana existem vários gêneros, possivelmente para que fosse possível tentar justificar suas respectivas e diferenciadas opções sexuais. Deste modo, cada opção se achou no direito de requerer o status de um gênero diferente para a sua condição sexual e acredita que uma “simples” mudança linguística resolveria o problema, no que diz respeito a maneira específica de tratar ou de se referir as pessoas envolvidas nessa questão.

Vejam bem, que fique claro que eu não tenho absolutamente nada contra a opção sexual de quem quer que seja e respeito todas as pessoas como pessoas, independentemente da raça, da religiosidade, da condição social e principalmente de como, de onde ou com quem se relacionem ou durmam.  Aliás, muito pelo contrário, entendo que cada um tenha realmente o direito de optar pela orientação sexual que quiser, porque acredito que toda e qualquer pessoa deve ser, antes de qualquer coisa, livre e respeitada como pessoa e tratada de maneira igual a todas as demais pessoas. Assim, ressalto que minhas referências aqui estão relacionadas única e exclusivamente com a integridade da língua portuguesa escrita e falada, que é a única língua oficial do Brasil.

Por outro lado, deve estar bem claro também, que a língua não pode ser utilizada como mecanismo orientador de resolução ou mesmo de simples minimização de conflitos e questões sociais menores, pois a amplitude linguística é maior, já que ela é para todos e não apenas para alguns. Grupos étnicos ou grupos sociais diferentes podem, devem e muitas vezes têm linguagens diferentes entre si, mas eles não podem impor as suas respectivas linguagens aos outros grupos.

Uma minoria social não pode condicionar grandes mudanças linguísticas apenas por simples vontade, capricho ou pirraça. Aliás, se isso virar moda teremos tantos idiomas quantos forem os diferentes grupos sociais. Desta maneira, sugiro aos interessados, que usem a linguagem que quiserem, mas não tentem mudar aquilo que não faz sentido à língua pátria e à grande maioria da população que, até aqui tem se entendido muito bem, na língua que conheceram e assumiram cultural e historicamente.

Apenas para lembrar, devo dizer que, no mundo, a Língua Portuguesa existe oficialmente há mais de 800 anos, quando foi feito, em português, o Testamento do terceiro Rei de Portugal (Dom Afonso II), que assim oficializou documentalmente a língua, em 1214. Entretanto, cabe ressaltar que o português falado remonta aos séculos VI ou VII e deste modo, tem cerca de 1.500 anos. Quer dizer, a língua tradicional é um patrimônio nacional e não deve ser utilizada como um mero objeto de interesse de alguns. Como disse Fernando Pessoa: “minha pátria é minha língua”.

Nossa língua portuguesa é bastante antiga e não vai ser um modismo qualquer, nem uma questão semântica particular do interesse estrito de algumas pessoas do final do século XX ou do início do século XXI, que poderão modificá-la e deformá-la arbitrariamente. Qualquer mudança na língua portuguesa só poderá ser estabelecida após o uso consumado pela população nativa e depois de muitas discussões e acordos linguísticos internacionais entre os linguistas dos vários países lusófonos. É preciso ter em mente que a língua oficial de uma país vai muito além dos meros interesses grupais e com a língua portuguesa isso, obviamente, não é diferente.

Portanto, é importante que aqueles que continuam querendo propor mudanças no idioma entendam que essa é uma tarefa complexa que envolve outras questões, além da própria questão linguística. Particularmente, quando se trata de uma língua como a nossa, que hoje está distribuída em 4 continentes (Europa, América, África e Ásia) em nove países e em alguns estados isolados e insulares, essas questões passam a ser muito mais complicadas. Além disso, a língua portuguesa é a nona mais falada no mundo por falantes totais e a quarta mais falada no mundo por falantes nativos, segundo a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP (05/05/2022) e assim as possíveis mudanças envolveriam muita gente (cerca de 300 milhões de pessoas).

Desta maneira, baseado na dimensão e nas complexidades relacionadas com a língua portuguesa, pessoalmente não acredito que a maioria dos países envolvidos na questão vai concordar em mudar o idioma, somente por conta do interesse específico e, talvez, sem fundamento, de um determinado e pequeno grupo de pessoas. Até porque, historicamente, os países sempre procuram agir de maneira conservadora e assim contrária a esse tipo de situação proposta. Ou seja, os países costumam considerar como prioritários os interesses gerais da própria língua e sua devida significância para a maioria da comunidade lusófona.

Se não bastasse isso, ainda tem uma questão eminentemente técnica e bastante importante. Talvez, a mais importante de todas. A língua portuguesa não possui um pronome neutro na sua concepção e por isso não há necessidade de um sujeito quando se emprega um verbo impessoal. Já a língua inglesa, por exemplo, possui um pronome neutro e assim, mesmo no uso de um verbo impessoal, sempre existe a necessidade de um sujeito e aí que entra o substantivo neutro “it”. Por exemplo, em português você diz, “está chovendo” (sem sujeito porque chover é impessoal) e em inglês você diz “it is raining” (com o pronome “it” como sujeito).

A explicação acima implica no fato de que a mudança pensada pelos “gênios do mal” não é simplesmente criar um pronome neutro, mas mudaria muita coisa em toda a língua, como consequência desse fato. Na verdade, acabaria tendo que ser criada outra língua, muito diferente do atual português, porque haveria interferência em quase toda a estrutura linguística. Assim, talvez a melhor solução para esse pessoal interessado no pronome neutro, seja efetivamente aproveitar a língua inglesa e utilizá-la como sendo a sua “língua oficial”, porque aí não haveria nenhum impedimento e tampouco seriam criados problemas adicionais.

Com certeza ninguém reclamaria, porque o inglês já é a língua oficial do planeta e como esse pessoal quer mesmo é aparecer, eu acredito que aparecer em inglês é melhor, porque, além de ser inglês, atinge mais gente, aparece mais e dá mais status.  Entretanto, é importante salientar que isso levará necessariamente os interessados a outro grande problema, que é a necessidade de saber a língua inglesa. Pois então, se grande parte desse pessoal não costuma saber nem o próprio português que é romano e nativo, certamente o pessoal deverá ter muito mais problemas para aprender o Inglês que é exótico e germânico.

Bem, mas essa é outra história e certamente esse não é um problema meu, nem dos demais brasileiros que falam e querem continuar falando o bom e tradicional português nativo, a língua de Camões, sem desenvolver nenhum absurdo linguístico. Aquele português com dois gêneros e onde a citação do gênero masculino engloba o feminino nos empregos coletivos, sem invenções e sem tolices, como um pretenso “machismo da língua” e que não mudam absolutamente nada no relacionamento entre as pessoas, os seres humanos, independentemente de opção sexual, e que realmente não podem levar a lugar nenhum.

Aliás, bobagem por bobagem, se houvesse machismo linguístico de fato, deveríamos chamar de “o língua portuguesa” ou masculinizar o termo língua, criando “o línguo português”. Fica estranho, não é? Pois então, isso é tão ilógico e sem nexo quanto “todes” ou “todxs”, como está sendo proposto por alguns.

Se quisermos verdadeiramente sugerir mudanças linguísticas importantes, acredito que primeiro devemos começar por alfabetizar todas as pessoas em língua portuguesa, o que lamentavelmente ainda está muito longe de acontecer em nosso país. Sabemos que jovens saem do nono ano do Ensino Fundamental sem nenhuma alfabetização, passam pelo Ensino Médio tentando aprender um pouco da língua e chegam às Faculdades semianalfabetos, sendo incapazes de interpretar os textos que têm que ler. Além disso, não se posse deixar de citar o fato de que infelizmente a maioria das pessoas desse país escreve errado e fala errado. Essas questões sim é que nós efetivamente precisamos mudar e corrigir, para o bem das pessoas e do país.

Quer dizer, já temos preocupações reais, maiores e antigas com a língua portuguesa e não faz sentido produzirmos outras por puro capricho. Depois que resolvemos nossos problemas básicos e fizermos o nosso dever de casa, aí sim, poderemos aprender ou discutir qualquer coisa sobre a língua portuguesa e até fazer algum diletantismo sobre a nossa bela e importantíssima língua nativa. Mas, por enquanto, eu continuo achando que essa ideia da criação e inclusão de um pronome neutro na língua portuguesa, consiste numa tolice, que não pode e certamente não vai prosperar.

Quero crer que o problema maior não esteja na língua, o problema maior está nas pessoas e nas suas índoles, que as levam a querer a todo custo satisfazer as suas próprias necessidades e interesses, independentemente da coletividade. Muitas agem pensando que são as “donas do mundo” e que podem estabelecer qualquer critério para qualquer atividade ou situação que queiram, mas a verdade é que as coisas não podem acontecer assim.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66), Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

09 jan 2023

A Esculhambação com a nossa Língua Pátria

Resumo: O artigo tem como objetivo chamar a atenção do fato de que se está progressiva e perigosamente desvalorizando a nossa Língua Portuguesa, assim, é preciso fazer um alerta à sociedade brasileira sobre o risco lamentável que essa situação representa para a população e para o país.


Vivemos num país em que pouco ou nada se valoriza daquilo que temos desde nossa origem e, por isso mesmo, temos trocado valores muito de nossos ao longo da história. Muitas dessas trocas certamente produziram, além das modificações culturais, problemas e muitas dificuldades sociais e comportamentais para o povo brasileiro, mormente para os cidadãos mais antigos, que se surpreendem sempre mais com as “novidades”.

Aliás, cabe ressaltar que muitas dessas “novidades” são programadas por grupos políticos para induzir questionamentos e sugerir absurdos, fazendo desacreditar princípios que estavam fidelizados nas longínquas comunidades brasileiras. Entretanto, essa questão, embora exista, seja nociva e deva ser discutida, foge ao propósito deste artigo e não será objeto do texto.

Bem, um dos últimos, talvez o último, reduto de sustentação das comunidades contra essas “novidades” esteja preso à língua pátria, o nosso bom e belo, português. Todavia, este baluarte de força que tenta nos garantir a pátria e sua história primordial e cotidiana de mais 5 séculos vividos, também vem sendo agredido e degradado rotineira e continuamente, principalmente nos últimos 60 anos. A nossa ilustre língua portuguesa, que sobreviveu a toda influência da língua espanhola à nossa volta, que resistiu as violentas tacadas da língua francesa e que resistiu ao namoro e as tentativas da língua holandesa, agora está praticamente sendo derrotada e engolida pela língua Inglesa ou, o que é bem pior, uma “coisa” parecida com a língua inglesa, recém-criada e que anda se espalhando por aí, como vou tentar explicar.

Vejam bem, aqui preciso dar algumas esclarecimentos. Primeiramente, quero deixar claro que não tenho nada contra a língua inglesa. Ao contrário, eu tenho grande admiração e sou ciente de sua importância, haja vista ser a língua mais importante e mais falada no mundo. Na verdade, o que me preocupa não é o fato de que as pessoas falem inglês aqui no Brasil também, porque isso é benéfico para o país e obviamente para a nação brasileira. Não sou louco e nem quero que os brasileiros continuem no “terceiro mundo”, sou ciente de que precisamos evoluir e conhecer a língua inglesa é fundamental para a nossa evolução.

Minha preocupação maior, reside no fato de que estamos assumindo com muita facilidade termos da língua inglesa e omitindo (esquecendo) os próprios termos da nossa língua portuguesa. Isso tem se tornado uma prática, cada vez mais comum e de repente estamos assumindo um inglês, seja lá por exigência de mercado, por moda, por condição social ou mesmo por necessidade. Nossa cultura linguística e por abrangência, nossa cultura geral, tristemente, estão sendo abandonadas com anuência da nossa sociedade.

Bem, todos sabem que a língua é uma estrutura dinâmica, que obviamente muda e deve mesmo mudar com tempo, em função dos mais diversos fatores. Então, a minha preocupação também não é somente com as mudanças da Língua Portuguesa, mas sim com a maneira como essas mudanças têm acontecido, tanto na origem da mudança, quanto na coerência que conduzem a elas. Estamos desenvolvendo um “monstrengo linguístico” sem lógica, sem procedência e que não se justifica de maneira nenhuma. Quando muito, esse “monstrengo” que se espalha sorrateiramente por conta do uso massificante sem nenhum critério avaliativo de sua real dimensão linguística, poderia ser explicado pela necessidade de uma comunicação mais moderna e sempre atualizada.

Mas, por outro lado, Portugal e outros sete países lusófonos, além do Brasil, conseguiram estar atualizados sem criar um “monstrengo linguístico” e seguem falando o Português tradicional, sem nenhum grande comprometimento do idioma pátrio. Cabe lembrar aos cidadãos brasileiros, que o Português hoje é a sexta língua mais falada no mundo e isso se deve principalmente aos mais de 220 milhões que hoje compõem a nossa população.

Ou seja, nós, os brasileiros, somos os principais responsáveis diretos pelo crescimento e desenvolvimento contingencial da língua portuguesa no mundo e, por isso mesmo, deveríamos estar mais diretamente interessados em manter a língua portuguesa como uma das nossas prioridades, até pela nossa pretensa condição de destaque no cenário internacional. Valorizar nossa língua deveria ser uma questão precípua para o nosso país. Porém, com nosso desleixo, isso não está parecendo ser uma realidade.

Falar Inglês é uma necessidade no mundo moderno e possivelmente isso não tenha mais retorno. Quer dizer, o mundo todo certamente deverá falar inglês. Aliás, como já começa a ser assim também com o mandarim chinês. Entretanto, aqui no Brasil, nós não precisamos e muito menos não devemos esquecer que nossa língua pátria é o português. Temos que ter em mente que nossa alfabetização e nossa comunicação básica deve ser feita principalmente em português.

Pois então, o que está acontecendo hoje no Brasil é exatamente um fato estranho e contraditório ao esperado. Ao contrário do que deveria estar acontecendo, nós estamos substituindo e assumindo, sem nenhuma cerimônia e muito menos necessidade, as palavras em inglês, para descrevermos e identificarmos coisas e situações que claramente temos condições de definir e de atribuir conceitos a partir de nossa própria língua e deste modo criar os termos devidos.

Há inclusive um agravante terrível desse fato, que é quando estamos não só usando o inglês, como desenvolvendo e promovendo um “falso inglês”. É isso mesmo, nós estamos até inventando uma “nova” língua inglesa aqui no Brasil, para justificar o nosso desleixo linguístico. Quer dizer, nós não falamos o Português e ainda erramos quase que propositalmente no inglês, criando, repetindo, divulgando e multiplicando verdadeiros absurdos idiomáticos que não fazem coerência em nenhuma das duas línguas. Vou exemplificar para esclarecer melhor o que estou querendo dizer.

Sempre gosto de usar o exemplo do “cheeseburger” inglês, que acabou sendo traduzido como “Xburguer” em português, ou seja, o “cheese” (queijo em inglês) virou “X” na tradução para o português. Se nos direcionarmos mais particularmente para as áreas da administração, da economia, ou da informática, encontraremos vários outros absurdos desse tipo. Enfim, essas coisas grotescas existem em todas as áreas do conhecimento.

Por que nós não traduzimos simplesmente as palavras e usamos a tradução? Por que o “site”, não pode ser simplesmente o local ou o sítio? Se é para traduzir a ideia de “site”, a palavra sítio me parece perfeita. Se é para aportuguesar o termo original em inglês, então deveria ser “saite”. Agora, quando se escreve “site” em português e se pronuncia “saite”, como se estivesse em inglês, alguma coisa (na verdade, muita coisa) está errada. Que língua estranha é essa?

Então, minha preocupação reside exatamente nesse aspecto, estamos criando uma outra língua, que nem é Português e nem Inglês. O pior é que a maioria de nós está naturalmente assumindo isso como se fosse correto e sem nenhuma contestação. Já perdemos quase tudo que tínhamos de nossos valores primários, mas não podemos perder também a nossa língua nativa com justificativas mesquinhas e incoerentes para defender outros interesses.

No Português encontrado nos textos da “internet” então, além do inglês predominante, ainda criamos uma série de abreviaturas e reduções linguísticas do português que constituem uma linguagem totalmente distinta e que só pode ser entendida por quem convive diuturnamente com ela. O resultado disso é que quando mandamos qualquer jovem e, infelizmente, também alguns adultos, fazer uma redação ou escrever um texto qualquer, encontramos uma situação aviltada e totalmente degradada da língua, que em alguns casos não pode ser entendida por uma pessoa que só conheça o português normal. Quer dizer, aqui no Brasil “o Português normal já deixou de ser a língua oficial”, pelo menos para parte significativa da população.

Outra coisa absurda é o verdadeiro festival de siglas que são usadas sem nenhuma cerimônia e por qualquer pessoa em qualquer momento. Se o cidadão que for ler a mensagem não conhecer as siglas que o emissor escreveu, ele que se dane, porque ele deveria saber. Deste modo, as siglas são usadas aleatoriamente e muitas das mensagens certamente não são entendidas porque se resumem a siglas que só que escreveu conhece. A comunicação agora também depende da capacidade que as pessoas têm de decorar o significado das milhares de siglas existentes.

Como eu disse no início essa situação, por menos significativa e importante que alguns possam pensar que seja, trata-se na verdade de um grande problema, porque nos remete ao abandono e ao desleixo de um dos mais importantes valores que deveríamos conservar, que é a nossa língua nativa. Não quero fazer renascer um arcaísmo total da língua, mas é preciso que se avalie melhor o que está sendo feito com nosso idioma. Nesse sentido é fundamental que sociedade, principalmente o governo (em todos os níveis), as escolas e os professores de português tomem uma posição mais enérgica no combate contra esse descalabro, essa esculhambação crescente, enquanto ainda há tempo.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Ambientalista, Escritor e Revisor. Membro da Academia Caçapavense de Letras (ACL) e Academia de Letras de Lorena (ALL).

21 dez 2022

PONTO DE VISTA: PREMISSAS BÁSICAS À EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Resumo: Nesse artigo apresento meu pensamento particular sobre o que acredito que deve acontecer para começarmos a resolver a questão educacional brasileira. Pode ser muita loucura, mas penso que seja a única solução possível para sairmos do histórico marasmo educacional em que nos encontramos.


INTRODUÇÃO

Nos últimos tempos, temos visto que a educação tem se deteriorado numa velocidade crescente e mesmo com a gritaria contrária de alguns profissionais que atuam na área, entre os quais eu tenho que me incluir, nada tem acontecido que pareça efetivamente querer mudar essa triste situação. Deste modo, o país segue batendo recordes de piores índices educacionais no mundo. Todavia, muito pior do que os recordes negativos é a certeza de eles são verdadeiros e que estamos caminhando contra os interesses da humanidade, porque estamos progressivamente regredindo a qualidade educacional de nossa gente.

Dito isso, quero ainda me manifestar sobre o fato de que essa verdade infeliz é muito mais desagradável do que possa parecer, pois não se trata apenas de não melhorar a educação, mas sim de progressivamente piorar nossa triste realidade educacional com a anuência de toda sociedade. A escola brasileira tem regredido a passos largos e isso não é um problema apenas governamental, pois a maior parte da sociedade também aparenta estar satisfeita com a situação, haja vista que poucos reclamam do continuo “status quo” de decadência da educação. Ou, se não está satisfeita, a sociedade também não se sente incomodada, porque existe um silencio coletivo e preocupante, além de uma indiferença quase unanime sobre esse assunto.

Desta maneira, como quase ninguém se manifesta verdadeira e efetivamente contra esse descalabro e os poucos que reclamam acabam não sendo ouvidos, porque não há vontade política e nem envolvimento para que as coisas possam fluir melhor, a situação segue cada vez pior. Aqui no Brasil, tristemente a educação ainda é considerada como uma coisa pouco ou nada importante, perto de outras questões. Ser educado ainda é um diletantismo para a grande maioria da população. Essa é uma verdade histórica e lamentável de nosso país, que necessita ser mudada no interesse nacional.

Além dessa terrível constatação, nós temos criado alguns mecanismos que, se já não são bons, onde poderiam até ser úteis, acabam sendo bem piores, onde são efetivamente inúteis, porque gasta-se grande quantidade de dinheiro, perde-se tempo e muito trabalho para nada. O resultado é aquele que já conhecemos, meninos e meninas saindo do Ensino Fundamental não alfabetizados, rapazes e moças saindo do Ensino Médio sem noção de nada, ingressando nas Instituições de Ensino Superior sem nenhuma condição e saindo dessas instituições muitas vezes sem saber o que fazer com o “canudo” que lhes foi entregue, geralmente sem nenhum merecimento.

Meus amigos, essa situação é muito grave e nós sabemos que um país que quer ser vanguarda no cenário mundial, tem que ter a educação como sendo a principal via de transformação de sua sociedade. Depois de mais de 520 anos de história, já deveríamos estar cientes de que a educação é a característica mais importante de qualquer sociedade, que todas as demais questões são secundárias e que a resolução de qualquer problema social dependerá sempre do estágio de desenvolvimento da educação. Entretanto, ainda estamos longe de entender e muito menos de alcançar essa verdade. Infelizmente, como já foi dito, ainda há quem pense que educação seja um luxo, um simples diletantismo, que o povo brasileiro não precisa ter. O pior é que existem muitos políticos e administradores públicos que trabalham no sentido de reforçar esse absurdo.

Pois então, baseado nesses aspectos é que eu, mais uma vez, estou me atrevendo a “colocar o dedo na ferida” e novamente estou chamando a atenção da sociedade sobre a realidade educacional brasileira, sobre a necessidade premente de ações que propiciem mudanças do “status quo” e que possam gerar uma melhoria progressiva de nossa educação. Tomara que alguém me ouça e faça coro comigo nesta luta. Para orientar meu trabalho, vou me ater a quatro premissas que acredito sejam fundamentais para mudar a realidade educacional do Brasil.

Devo deixar claro que essas premissas são opiniões pessoais minhas e resultam apenas e tão somente de minha vivência e minhas observações ao longo de toda minha vida estudantil e de quase 50 anos de exercício do magistério. Talvez, as opiniões aqui emitidas possam não condizer absoluta e totalmente com as reais necessidades educacionais do país, mas tenho certeza de que essas opiniões estão muito próximas ao ideal que se precisa ter para o verdadeiro crescimento moral e intelectual da população brasileira.

AS QUATRO PREMISSAS

1 – Qualquer mecanismo que leve a possibilidade de aprendizagem sem entendimento não é educação, é um simples adestramento ou, quando muito, é um treinamento passivo que cria monstros humanos, fantoches manipulados, a serviço do interesse de algo, uma ideia por exemplo ou mesmo de alguém, outro ser humano, que muitas vezes é maldoso e infeliz. Há necessidade de acabar com esse modelo.

2 – É necessário combater essa maneira de “ensinamento” que existe no Brasil e que faz das pessoas (seres humanos), meros autômatos, que se satisfazem com uma simples instrução e com a possibilidade de repetir as ações consideradas. Considera-se que o intelecto do cidadão brasileiro não precisa existir, haja vista que ele tem apenas que repetir algumas tarefas para sobreviver. Certamente o ser humano tem que ser muito mais que isso.

3 –O ser humano tem que ser capaz de pensar e agir de acordo com suas próprias possibilidades, intenções e interesses, porque é isso que o torna efetivamente humano e o brasileiro não pode ser diferente dos demais seres humanos. Entretanto parece que há um conluio nessa direção retrógada, que visa manter a inferioridade do cidadão brasileiro em relação ao restante do mundo. A sociedade precisa reagir.

4 – Pensar (refletir sobre), discernir (escolher a opção) e concluir (definir a ação) são atitudes fundamentais que permitem a principal característica do ser humano que é a liberdade de intenção e de ação. Enquanto o conhecimento avança rapidamente no mundo inteiro, aqui no Brasil ainda continuamos caminhando lentamente com passos de tartaruga ou mesmo para trás como caranguejo. É preciso caminhar para frente.

OS ARGUMENTOS ESSENCIAIS

Além dessas quatro premissas, eu ainda quero me basear, no que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, estabelecida em 10 de dezembro de 1948, diz, em seu artigo primeiro: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. Pois então, eu acredito que a educação plena da coletividade faz parte desse espírito de fraternidade que deve existir entre todos os seres humanos.

O livre arbítrio, a escolha pela própria vontade, talvez seja a principal característica que permite separar o homem dos demais animais e, deste modo, consiste na única maneira de garantir que o homem assuma integralmente a sua humanidade e o seu direito verdadeiro de liberdade. O conhecimento e a cultura acumulados e passados ao longo do tempo são os fatores que determinam a influência e o grau de importância do livre arbítrio para a humanidade. Um indivíduo carente de educação é um ser humano incompleto e não possui condições mínimas efetivas para exercer o seu livre arbítrio.

Pois então, enquanto a escola como instituição libertadora e a educação como meio de aglutinação humana não puderem trabalhar prioritária e coletivamente no sentido de garantir que o homem assuma sua humanidade plenamente, sempre estará faltando algo.  Quer dizer, enquanto a educação não for a meta para o engrandecimento da pessoa humana, não haverá livre arbítrio e consequentemente, não haverá fraternidade humana. Por outro lado, enquanto a escola não se manifestar como entidade totalmente imparcial e livre para aquisição de conhecimento e de cultura, ela não estará sendo uma escola verdadeira, mas sim um arremedo de entidade educacional, ou, quando muito, um teatro de marionetes mal elaboradas.

Historicamente, a escola brasileira pode ser traduzida exatamente da maneira acima citada, porque não tem educado e nem formado pessoas, quando muito tem treinado alguns indivíduos no desenvolvimento de algumas práticas, muitas delas totalmente deficientes e ultrapassadas. Deste modo, se quisermos realmente crescer como nação, há uma necessidade premente de construirmos um novo modelo de educação e de mudarmos a escola fazendo sua adaptação a esse novo modelo.

Não adianta ficar aqui comparando o Brasil com outros lugares e muito menos copiando esses outros lugares. Nosso contexto é diferente e muito provavelmente nenhum modelo de sucesso se enquadre no nosso país, porque nossa realidade é outra e as nossas necessidades também devem ser. Os números só servem para nos mostrar que estamos mal, qualquer outra projeção certamente é inverídica ou, pelo menos, inexata sobre nossa realidade.

Nosso novo modelo tem que ser efetivamente um modelo novo, total e exclusivamente pensado e adaptado aos interesses do Brasil e do povo brasileiro, com toda sua diversidade natural, social e cultural. Modelos exóticos, por mais que tenham dado certo em seus países de origem, certamente não serão adequados à realidade brasileira. Deste modo, eles não funcionaram devidamente e obviamente não darão certo.

AS AÇÕES DOS ATORES PRINCIPAIS

Recado aos Professores

Senhores professores, por favor, fiquem bem atentos a essas condições primordiais nas suas respectivas escolas e cuidem para que aqueles alunos que foram confiados a vocês, aprendam no sentido lato do termo aprender, ou seja, no verdadeiro sentido de demonstrar suas respectivas humanidades, como cidadãos éticos, cônscios e sobretudo, livres. Se as escolas em que vocês atuam não condizem com a realidade que se quer e se precisa ter, cumpram suas funções de educadores e denunciem. Por favor, não sejam cúmplices desse crime contra a sociedade brasileira.

A capacidade de buscar o aprendizado e consequentemente de aprender, também é um atributo peculiar, quase exclusivo do ser humano. Por isso mesmo, o aprendizado, além de estimulado pela escola, deve ser amplo e gerador de possibilidades coletivamente desafiadoras e individualmente diversas para quem o recebe. A escola que não intriga, não desafia, não permite a competitividade e que não interpela, nem questiona o mundo aos seus alunos, acaba desestimulando a aprendizagem e fugindo ao seu propósito como instituição social.  

Estimular e provocar no aluno a vontade de aprender, talvez sejam atitudes mais importantes ao aprendiz do que simplesmente ensiná-lo a fazer qualquer coisa. Cabe lembrar que o professor é o ser humano que na escola passa a ser o principal responsável pela formação do aluno. Ou seja, é o professor o sujeito que faz a diferença para que seu aluno cresça como ser humano.

Outra questão importante, que está preconizada nas normas educacionais, mas que poucos consideram nas escolas, é a necessidade de contextualização. Converse e discuta com seus alunos sobre problemas e situações que faça algum sentido para eles, isto é, que sejam reais aos sentidos deles. Não adianta você criar exemplos mirabolantes ou longínquos, apresente situações verdadeiras e de preferência, que seus alunos possam viver (sentir e experimentar).

Nós, professores, pecamos muito no processo educacional brasileiro, exatamente porque estamos quase sempre alheios à realidade da maioria dos alunos. Geralmente falamos sobre um mundo, uma realidade, que os alunos não conhecem. O mundo do professor e do aluno precisa ser o mesmo. É preciso acabar com existe esse hiato social que muitas vezes existe entre as duas partes e o professor tem que ser o principal agente provocador dessa ação.

É preciso estar atento ao fato de que o Brasil é um país imenso com uma diversidade fantástica. O que é verdade para um estado brasileiro, muitas vezes só serve como verdade para aquele estado. Muitas vezes o professor trabalha com um livro que foi desenvolvido em outro estado ou região, diferente de onde trabalha e, o que é pior, o professor não sabe criar uma situação similar para aquele lugar. E aí, como contextualizar? Ou o professor mente, ou inventa uma história próxima, ou temos que ter professores regionais (locais) nesse país, para que se possa contar histórias verdadeiras e para que possa existir contextualização. Pense nisso, na próxima vez que for ministrar uma aula.

Eu vou me atrever um pouco mais nessa questão da contextualização e vou discutir alguns exemplos. Bem, talvez os professores de Matemática, de Física e de Química sejam os únicos que poderão dar a mesma aula em qualquer situação ou lugar, mas o de Química ainda terá problemas. Entretanto, os professores de todas as outras disciplinas não podem. Imagine o professor de Biologia, Geografia, História, ou mesmo de Português que nasceu, cresceu, se formou e trabalhou até os 35 anos no litoral Sul do Rio Grande do Sul, na cidade de Rio Grande, por exemplo, e agora terá que ir a ministrar aulas em Manaus, em Teresina ou em Goiânia. Será que ele estará automaticamente preparado para contextualizar suas aulas?

Pois então, esse é o maior problema do Brasil: o país é grande e pensa como pequeno. Se a Finlândia tem a melhor educação do mundo, por outro lado tem um território pequeno, homogêneo, com uma população pequena (certamente menor que qualquer estado brasileiro) e economicamente equilibrado. Num país desses, ter uma boa educação é uma contingência natural, desde que haja vontade de todos. Mas aqui, no Brasil, a realidade é bem outra e fica difícil falar para que todos possam entender. Para aqueles que quiserem conhecer um pouco mais sobre essa questão da contextualização, sugiro a leitura do artigo, que publiquei em meu “site” (LIMA,2018).

Recado aos Alunos

Senhores alunos, é preciso que vocês queiram aprender sempre mais. Não se satisfaçam, não queiram apenas ser capaz de fazer alguma coisa, busquem sempre ir mais além. Procurem saber o que e como fazer as coisas, mas saibam principalmente porque e para que fazer tais coisas. Somente os porquês e suas justificativas dão significado ao conhecimento e somente os porquês se justificam como forma de pensar e de agir.

Na verdade, vocês só conhecem de fato alguma coisa, quando são capazes de conversar livre e independentemente sobre essa coisa, ou seja, quando vocês têm efetiva condição de discutir e emitir opiniões sobre determinados assuntos. E acreditem, essa condição de emitir opinião própria, só é possível para os gênios ou para aqueles que questionam e querem saber os porquês das coisas. Se você não é um gênio, então trate de questionar as situações e as coisas, sejam elas quais forem.

O aluno tem que ser ativo para crescer intelectualmente, pois a passividade não agrega valor ao aprendizado. É preciso buscar sempre mais conhecimento. Assim, nunca se apeguem à prática comum de ser e fazer o mínimo necessário, procurem saber sempre mais, tentando ir além das expectativas. Sejam curiosos, porque foi exatamente a curiosidade do ser humano, que permitiu a humanidade chegar aonde chegou.

Comecem, desde já, a questionar tudo aquilo que já vem pronto na escola, porque a escola existe para construir e demonstrar que nada está totalmente pronto ou acabado. Procurem se lembrar que: “quem pergunta, quer saber” e que fazer perguntas é mais difícil do que dar respostas. As perguntas incomodam porque muitas vezes ninguém quer ou ninguém sabe dar as devidas respostas. 

Quem faz perguntas é alguém que quer sanar uma ou mais dúvidas. Assumam o fato de que, a dúvida talvez seja o maior mecanismo de informação que existe, pois, quanto maior for o número de dúvidas, maior será o número de perguntas e maior também será o número de respostas. Ou seja, a busca da informação traz sempre mais informação. Usem e abusem dos seus respectivos “desconfiômetros” e não aceitem, a priori, qualquer informação que lhes sejam outorgadas como verdadeira, principalmente aquelas que não condizem com a pertinência do assunto em discussão. 

Agindo assim, a vida certamente lhes mostrará que a cada novo conceito, surgirão novas dúvidas, outras ideias e inúmeras possibilidades, sempre mais diversas que as anteriores. Vocês contemplarão que o exercício de questionar e de pensar leva progressivamente à necessidade de pensar e de aprender cada vez mais. Na verdade, o aprendizado é uma imensa “bola de neve” que está sempre crescendo ao longo de nossas vidas ou como um “buraco”, que sempre aumenta, quando se tira algo dele.

Procurem sempre se utilizar das suas respectivas capacidades de raciocínio em prol do engrandecimento de vocês mesmos, de seus afins e de suas comunidades próximas. Exijam que seus professores lhes desafiem sempre mais, propondo novas questões, progressivamente mais complexas. Embora essa situação pareça ser e, de fato seja mesmo, mais difícil e trabalhosa, o resultado também será bem melhor para vocês, porque lhe trará mais cultura e enriquecerá a sua capacidade intelectual.

Também é bom que vocês tenham sempre em mente que, ainda que os erros possam aumentar com essa prática cotidiana, não haverá problemas graves a partir deles, porque a escola é local certo dos erros acontecerem. Além disso, cabe ressaltar que a escola é o local onde os erros devem acontecer e onde devem ser corrigidos, para que não venham acontecer fora dela, ou seja, nas ações efetivas da vida. Quem erra e é corrigido na escola, tem menos chance de errar na vida.

Por outro lado, se o número de erros aumentar nas suas tarefas escolares, com certeza os êxitos também deverão ser progressivamente maiores e muito mais compensadores, o que levará vocês mais próximos do nirvana e certamente os afastará cada vez mais da mediocridade do mundo. Acreditem, vocês vão se sentir muito melhores e superiores, porque o conhecimento faz exatamente isso. O conhecimento nos torna seres humanos melhores, mais seguros, eficientes e corajosos.

Contudo, tomem bastante cuidado com o exibicionismo e o orgulho exacerbado, sejam humildes e continuem crescendo individualmente, mas sempre respeitando as demais pessoas. Não deixem suas respectivas condições de maior conhecimento subir pelas suas cabeças mais do que deve. É de bom alvitre nunca esquecer que você é um ser humano como qualquer outro e que a humildade é prima irmã da razão e da coerência.

Depois que vocês se sentirem no nirvana, procurem juntar todo o conhecimento que adquiriram e identifiquem o seu verdadeiro cabedal. Como já disse, sejam humildes e isso lhes dará sabedoria suficiente para viver e serem felizes. É óbvio que sempre haverá momentos melhores e momentos piores, mas isso é consequência da própria vida. A sabedoria que cada um de vocês acumulou deverá ser suficiente para mostrar os melhores caminhos em qualquer situação. Reflitam sempre e suas respectivas liberdades individuais serão suas melhores conselheiras.

OUTROS COMENTÁRIOS PERTINENTES

Meus amigos, professores e alunos, certamente vocês já ouviram a seguinte expressão: “a educação liberta”. Entretanto, é preciso investir nesse propósito e ter vontade efetiva de se sentir realmente livre. Essa libertação só é possível quando o processo educacional de ensino e aprendizagem é feito de maneira integral. Isto é, quando há participação real, efetiva e conjunta do educando e do educador na tarefa de promover a emancipação humana através do conhecimento, enriquecendo cada ser humano individualmente e a humanidade coletivamente. Se não existe aplicação e questionamento quanto ao saber, não existe educação e não se caminha para a liberdade efetiva da humanidade.

Assim, não fiquem esperando suas possibilidades caírem do céu, porque isso dificilmente irá acontecer. Corram atrás de novas realidades e procurem agir como seres humanos em toda a amplitude dessa expressão. Não se esqueçam que conhecimento nunca é demais e que ele é capaz de transformar o ser humano para melhor. Mas, é preciso querer que essa melhora aconteça.

Outra questão bastante importante é que o conhecimento necessita ser sempre aprimorado, porque as coisas mudam e, mesmo quando não mudam, muitas vezes o entendimento sobre elas muda também. Uma peculiaridade do conhecimento é o seu caráter crescente, isto é, o conhecimento está sempre gerando conhecimento, tanto sobre coisas e questões novas, como sobre verdades que já haviam se estabelecido, mas que sofreram adequações e novas visões.

Além de ser aprimorado, o conhecimento também precisa ser sempre repassado, porque ele não pode ser exclusividade de nenhum indivíduo, ele pertence a toda humanidade. É preciso ter ciência e consciência desse fato. O descobridor é o “pai” de sua descoberta, mas a humanidade é a sua herdeira e verdadeira “proprietária” da mesma e como tal necessita ser informada e atualizada sobre seu patrimônio. A informação sobre o conhecimento humano em qualquer área do saber tem que ser pública, não pode existir nenhum tipo de controle sobre o conhecimento.

Eu particularmente, nos últimos 20 anos, tenho dedicado grande parte de meu tempo à tarefa de socializar e divulgar o conhecimento daquilo que conheço para a humanidade. Obviamente ninguém é capaz de, sozinho, atingir toda a humanidade, mas todos podem falar de suas experiências com a comunidade que está próxima. Se todos que puderem, investirem tempo e trabalho nesse aspecto, a humanidade toda será mais bem informada.

Qualquer novo conhecimento necessita ser divulgado e repartido, porque somente assim ele se universaliza, faz sentido e passa a ser um atributo patrimonial maior para toda humanidade. Quanto mais seres humanos souberem de mais coisas, maior será o grau efetivo de liberdade da humanidade. A História tem nos mostrado que em vários momentos houve a privação das liberdades humanas por vários indivíduos déspotas e dominadores. 

Esses momentos só aconteceram exatamente porque os sujeitos dominadores guardavam o conhecimento apenas para si e alguns de seus seguidores. De maneira nenhuma, os dominadores repartiam o conhecimento que a humanidade possuía em suas épocas com os demais seres humanos. Eles assumiam todo o conhecimento como condição exclusiva deles, simplesmente porque isso lhes garantia a superioridade sobre os demais seres humanos. Hoje ainda há quem pense assim, por isso é fundamental que todos adquiram conhecimento, pois assim é possível evitar o surgimento de novos possíveis dominadores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje, com a INTERNET e com as redes sociais é quase impossível que alguém consiga omitir qualquer informação e assim o conhecimento deve estar mais democratizado entre todos os seres humanos e, deste modo, as liberdades individuais também estão muito mais garantidas. É claro, que ainda existem tiranos e absolutistas controlando povos e países, porém essas são situações especiais que fogem ao interesse desse ensaio, mas, obviamente o futuro da educação brasileira não poderá conceber esses tipos de indivíduos determinando os trabalhos a serem desenvolvidos e nem seus correligionários e asseclas.

De qualquer maneira, pensem nisso que foi dito aqui e procurem se lembrar que a espécie humana surgiu e evoluiu para aprender e viver em liberdade. Nenhum ser humano deve ser mantido contra sua própria vontade por qualquer motivo ou situação. Deste modo, todas as ações educativas devem priorizar esses aspectos. Ser livre, envolve o direito de ser informado, pensar e refletir sobre o conhecimento que se possui e sobre suas possibilidades de aplicação para o bem comum da sociedade e inclusive para a ampliação de mecanismos que favoreçam as liberdades individuais.

Resta ainda ressaltar que a liberdade é um bem e um direito que a humanidade almeja e que o indivíduo luta por possuir, mas que está preso à lei e aos direitos dos demais indivíduos. Numa sociedade todos são iguais perante a Lei e assim têm os mesmos direitos e deveres. Da mesma maneira que não se quer a tirania, também não se deve querer a complacência. O equilíbrio entre a necessidade de conhecer e avaliar o mundo em todas as dimensões científicas e culturais e a necessidade de fazer as ações que perpetuem a humanidade deve ser a tônica na escola, desvinculados de qualquer outra questão.

Por fim, procurem suas respectivas áreas de atuação e identifiquem aquele aspecto que mais lhes interessar e se dediquem a estudá-lo mais detalhadamente, mas, a priori, afastem-se da ideia de serem especialistas. A humanidade necessita de seres humanos cada vez mais generalistas, exatamente para que todos possam entender melhor as necessidades de todos e assim resolver mais facilmente os problemas coletivos que, porventura, possam existir.

Lembrem-se sempre que “um especialista é aquele sujeito que sabe cada vez mais, sobre detalhes cada vez menores, até que muitas vezes, acaba chegando ao cúmulo de saber tudo, sobre nada”. Isto é, quando mais se especializa, mais se restringe a área de ação e menos se integra ao mundo real, que costuma ser conturbado e cheio de inter-relacionamentos e conexões. Pois então, é exatamente nessas áreas e condições interconexas e conturbadas que se aprende mais e se cresce como ser humano.

Mas, se, por acaso, você tiver que ser obrigatoriamente um especialista, então seja eficiente nessa condição e procure usar sua especialidade como mecanismo para abrir sua mente e não para restringi-la. A humanidade não precisa desse tipo de pessoa restritiva, ao contrário, os seres humanos necessitam estar, progressivamente mais abertos à diversidade do contato social e as consequentes dificuldades de convivência.

O futuro da escola dependerá bastante das ações que assumamos hoje em prol da educação brasileira. Estou ciente de que não sou “o dono da verdade”, mas estou propondo aqui algumas sugestões para que seja possível discutir a educação no Brasil, ou pelo menos, a educação que os brasileiros precisam e merecem ter. É claro que, mesmo com as ideias contidas neste ensaio, estou certo de que sempre continuará faltando muito, porque a educação é imensurável, além de ser um processo contínuo e que não pode ter fim.

O objetivo maior deste ensaio é conseguir que se discuta mais sobre essa questão e que novas ideias e propostas possam existir e se estabelecer para a melhoria da educação do povo brasileiro. A população brasileira necessita acreditar mais na educação como mecanismo de melhoria da humanidade. O Brasil tem que deixar de querer ser o país do futuro, temos que cair na real e lutar para ser o país do presente, mas isso só acontecerá quando a educação passar a ser a verdadeira prioridade nacional e entrar definitivamente na pauta, como causa primária no interesse de todos os cidadãos brasileiros. 

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo, Professor e Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

LIMA, L.E.C, 2018. Contextualização e Regionalização da Educação Ambiental, (www.profluizeduardo.com.br), em 30/04/2018.
ONU, 1948. Declaração Universal dos Direitos Humanos, Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, Palais de Chaillot, Paris, 10/12/1948.
17 out 2022
A “Bela da Segunda-feira” e a “Sorte” na vida

A “Bela da Segunda-feira” e a “Sorte” na vida

Resumo: Neste artigo proponho uma reflexão, a partir de uma metáfora que tenta demonstrar que se muitas coisas não acontecem a contento conosco, por conta exclusiva de nossas próprias ações. Acreditar, estar atento e trabalhar com mais foco nas questões pode ser a solução para uma vida melhor e o caminho da felicidade.


Ser feliz é tudo que se quer. Ah! Esse maldito fecho ecler.

Kleiton e Kledir

Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos.

William Shakespeare

Eu vejo a vida melhor no futuro. Eu vejo isso por cima do muro de hipocrisia que insiste em nos rodear.

Lulu Santos

A grande maioria das pessoas costuma ir à praia nos finais de semana e assim, principalmente nos domingos as praias estão, além de repletas de todo tipo de pessoas, também fortemente servidas de mulheres bonitas e de homens interessados nessas beldades. Pois então, a diversidade de rostos e corpos é tal, que se torna muito difícil escolher efetivamente e prosperar na paquera daquele dia, porque a concorrência é muito brande, tanto positiva, quanto negativamente.

Já nos dias de semana, particularmente nas segundas-feiras, as praias costumam estar vazias, com poucos rostos interessantes e com uma raridade de corpos atraentes. Assim, embora com um contingente populacional seguramente mais baixo, a competição para quem frequenta a praia nas segundas, acaba sendo menor e o resultado positivo da paquera tende a ser mais efetivo e profícuo que no domingo, porque se a concorrência é menor provavelmente existe mais chance de sucesso.

Mas, quem frequenta a praia no domingo? Todo tipo de pessoa, tanto boa, quanto ruim. E quem frequenta a praia na segunda-feira? Geralmente a segunda-feira é aquele dia que só estão na praia, os “ratos de praia” de sempre ou então, quem é muito tímido, recatado e envergonhado ou ainda alguém que se acha menos bem dotado de beleza e assim, não se sente bem na presença de muita gente e prefere ir à praia nas segundas-feiras. Pois então, a nossa “Bela da Segunda-feira” é exatamente alguém assim: bela, recatada e muito tímida

Não vou aqui tentar descrever um padrão de beleza, para não criar outros conflitos, mas espero que cada leitor faça sua própria imagem daquela mulher que imagina poder ser aquele “monumento de beleza feminina”. Desde já, tenha certeza de que você dificilmente encontrará essa beldade num domingo. Obviamente, elas existem, mas a concorrência é muito grande. Entretanto, é bem possível e bastante provável que a encontre numa segunda-feira, onde ela se destaca mais e a concorrência é infinitamente menor, por isso mesmo resolvi denominá-la de: “Bela da Segunda-feira”.

Obviamente na praia sempre existem outras mulheres, que aqui estão contidas no grupo que intitulei genericamente como “ratos de praia”, porque vão à praia todos os dias, paparicam todo tipo de homem e assim são bastante conhecidas do público masculino praiano. Grande parte dessas mulheres não costuma ser muito atraente e por isso mesmo, elas criam artifícios e usam todos os mecanismos possíveis para tentar laçar e garantir os seus respectivos “príncipes encantados”.

Geralmente, em função da concorrência, principalmente nos domingos, esses mecanismos não costumam dar muito certo e por isso mesmo elas continuam sempre à procura dos seus “príncipes encantados”. Como quase nunca conseguem encontrar, têm necessidade continuada de voltar à praia todos os dias. Ou então, os mecanismos até dão certo demais e elas estão sempre trocando de homens. Penso que nenhum dos dois casos é agradável. Essas mulheres brigam muito entre si, para ver se conseguem aproveitar alguns dos homens disponíveis, mas a competição é tanta, que cada vez fica mais difícil arrumar um namorado sério ou coisa parecida.

Já a “Bela da Segunda-feira”, além de bela, quase só frequenta a praia nas segundas-feiras. Deste modo, ela é pouco conhecida e quando é vista, sempre acaba sendo muito observada e bastante comentada pelos poucos homens presentes, que de alguma maneira tendem a competir entre si por causa dela. A “Bela da Segunda-feira” costuma ser aquela “mulher ideal” que todo homem quer conhecer e se possível, ter como sua companheira eterna.

Meus amigos, assim como acontece com a “Bela de Segunda-feira” também acontece com as demais coisas. Conquistar a “Bela da Segunda-feira” é a minha metáfora para quem quer obter sucesso na vida. Se a competição para chegar nela é menor, certamente a dificuldade de obtê-la deverá ser muito maior. A vida é assim e as compensações se antagonizam. Nem tudo, por pior que seja, acaba sendo totalmente ruim, da mesma maneira que nem tudo, por melhor que seja, acaba sendo totalmente bom.

Desta maneira, sugiro que você comece a vestir a camisa do seu time e a jogar ao seu próprio favor. Inicie indo à praia no dia certo, porque indo no dia errado, apenas aumentamos a nossa dificuldade de chegar na “Bela da Segunda-feira” e das coisas boas acontecerem. Vamos trabalhar a nosso favor e acreditar que a natureza e a vida sempre vão conspirar no intuito de colaborar com a nossa direção. Nós só teremos sucesso, se buscarmos o sucesso. Ou seja, somos obrigados a agir no nosso interesse.

Mas tem gente que dá “sorte”! É realmente tem gente que dá “sorte”, mas isso é totalmente ocasional e não é possível ficar esperando que o acaso, a “sorte”, venha acontecer. Podem acreditar que a “sorte” costuma ser fruto de muito trabalho e que, na realidade, raramente acontece alguma coisa por pura obra do acaso e mesmo quando isso ocorre, não é possível prever logicamente um mecanismo que condicione a esse fato. Portanto, não fique esperando a “sorte” chegar, trabalhe para que ela chegue. Isto é, busque mais aquilo que você quer.

Lembre-se que para ganhar na loteria é preciso fazer um mínimo necessário que é jogar, ou seja, apostar na loteria. Por outro lado, você pode acreditar piamente, que mesmo jogando sua chance de ganhar será sempre quase impossível, mas, como você fez a aposta, agora você está no jogo. Se você quer ganhar na loteria ou quer conhecer a “Bela da Segunda-feira”, as primeiras coisas a fazer são: jogar na loteria e ir à praia nas segundas-feiras.

Não existe mágica, assim, se você quer ter sucesso caminhe na direção do sucesso que você objetiva. Faça com que a “sorte” possa lhe sorrir, pois só assim você terá realmente alguma chance de que isso aconteça. Nunca se esqueça que, apenas no dicionário, é que o sucesso vem antes do trabalho. É preciso trabalhar duro e com afinco para garantir a sobrevivência e tentar chegar ao sucesso. Qualquer coisa diferente disso é falácia e ilusão.

Por exemplo, aproveitando a proximidade das eleições: da mesma maneira que os domingos estão cheios de belas entre os “ratos da praia” à disposição dos inúmeros interessados, a política brasileira está cheia de pessoas sérias e prontas para servir à comunidade apenas nos domingos. Entretanto, estamos precisando de gente que queira trabalhar para a comunidade durante o ano todo. Assim, me parece, mesmo na eleição, ser melhor optar pela difícil “Bela da segunda-feira”, apesar de ainda existir risco, já que ela também é humana.

Entretanto, ela é real, comedida e certamente também será capaz de satisfazer muitos dos interesses coletivos e, inclusive, alguns dos seus. Os “ratos da praia” da política já são bem conhecidos por todos e se sempre estão sendo eleitos é porque algumas pessoas continuam defendendo absurdos e acreditando naquilo que não deve existir. Ou seja, as dificuldades talvez não estejam nos políticos, mas sim na falta de visão das pessoas que os escolhem, por má orientação ou por razões cômodas e mesquinhas. A maioria das pessoas, ainda acredita em “Papai Noel” e vota em qualquer idiota ou mal caráter, apenas para ganhar mais presentes de Natal.

Em suma, faça sua parte, avalie seriamente, reflita, forme sua opinião, acredite em você e não na “sorte”. Espere muito de você mesmo e espere pouco da “sorte”, da aparência ou da opinião de quem quer que seja. Se a “sorte” vier será ótimo, mas lembre-se que isto não costuma ser uma regra. Deste modo, seja proativo e invista no trabalho sério para que as coisas aconteçam mais facilmente para a vida de todos, porque assim, você também deverá ser beneficiado. Se puder, evite grandes competições ou conflitos, mas não espere moleza e nem acredite somente na “sorte” ou nos “amigos”.

Sonhe muito e parta para a “briga”, mas nunca tire o pé do chão. Entretanto, saiba usar o pé para dar impulso e tome bastante cuidado para não o utilizá-lo como uma âncora. Ah! Também não se esqueça que você é incapaz de voar e, principalmente, que todos nós somos seres humanos e que estamos sujeitos as mesmas mudanças comportamentais, por mais óbvias ou radicais que elas possam ser. Algumas coisas aparentemente muito absurdas, improváveis e difíceis, não são determinadamente impossíveis.

Quer dizer, fique atento e tome cuidado, porque sempre será possível que a “Bela de Segunda-feira” possa se transformar num “rato da praia de domingo” ou vice-versa. De qualquer maneira, tenha certeza de que você sempre será capaz de julgar e de fazer a escolha correta, desde que enfoque vontade e trabalho efetivo na ação. O segredo é cumprir o seu papel com coerência, determinação e eficiência, todo o resto será consequência quase exclusiva de sua boa performance.

Em suma, sua vida, em todos os aspectos, depende apenas e tão somente de você. Sendo assim, para seu próprio bem, seja, sobretudo, observador, trabalhador, prudente, altruísta e invista um pouco mais na “Bela da Segunda-feira”, porque, muito provavelmente, talvez ela seja aquele seu “melhor negócio”. Muitas vezes esse “melhor negócio” está extremamente próximo e você não consegue enxergar, exatamente porque você está ludibriado esperando a “sorte”, em consequência da ilusão produzida pela falsa visão condicionada, a partir da sua observação continuada dos “ratos da praia”.  

Meu amigo, saia desse transe, supere a angústia, acorde para viver a realidade da sua vida e comece a ser efetivamente feliz. Acredite em mim e entenda que, os problemas sempre vão surgir, mas, da mesma maneira que surgirem, você deverá progressivamente vencê-los e assim, eles irão gradativamente desaparecendo. A “Bela da Segunda-feira”, talvez possa ser a “sorte” que você tanto procura.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

11 ago 2022
Mensagem aos “Seres Humanos de Pouca Idade”

Mensagem aos “Seres Humanos de Pouca Idade”

Resumo: Este artigo discute sobre a incoerência no desrespeito atual e comum dos humanos mais jovens em relação aos humanos mais velhos. Além disso, se chama a atenção para o fato de que aqui no Brasil, a mídia parece reforçar essa infeliz tendência, ao invés de tentar combatê-la. 


Introdução

Depois que presenciei uma cena desagradável, a qual não comentarei exatamente porque acho ultrajante e assim totalmente desnecessária, na qual um grupo de jovens, deliberadamente debochavam acintosa e intensamente de alguns senhores da chamada “terceira idade”, apenas porque esses senhores não foram felizes em realizar determinada ação. Segundo os jovens em questão, a referida ação não poderia ser desenvolvida por pessoas de mais idade, pois apenas os mais novos são capazes de tal ato e isso lhes dava o direito de gozar dos mais velhos.

Esse fato me deixou bastante constrangido, por também ser mais velho, por não concordar com o acontecido e principalmente por nada poder fazer para resolver a questão naquele momento. Além disso, fiquei tremendamente preocupado ao perceber como está o andamento das coisas nessa sociedade mal-educada, informatizada e pré-fabricada, em que vivemos hoje em dia. Essa sociedade caótica que é cada vez mais injusta e que está totalmente manipulada por ideologias duvidosas.

A mídia, por sua vez, dentre outras coisas erradas, engana e endeusa os mais moços, que passaram a ser sinônimos de vigor e beleza e marginaliza os mais idosos, que passaram a ser sinônimos de feiura e fraqueza. O pior é que os objetivos destas ações são puramente comerciais ou, o que torna a situação mais desagradável ainda, é que, muitas vezes, tem o intuito único de tentar manobrar as atitudes e o comportamento dos mais moços e menos experientes na vida, para mantê-los alheios à realidade.

Aliás, aqui cabe salientar que essa mídia que está escancarada por aí, só almeja, de fato, manter o jovem cada vez mais alienado e desvinculado do mundo real. Deste modo, essa mídia maldosa cria as mais diversas situações para corromper as boas ações, visando a levar o jovem a acreditar em futilidades e coisas totalmente sem nexo. Se não bastasse isso, ainda faz coro com os malfeitores e tenta perverter os valores morais dos poucos jovens que ainda conseguem se manter dentro dos padrões agradáveis aos interesses da sociedade e ao respeito com os demais seres humanos.

Esclarecimentos Fundamentais

Para começar, quero dizer que juventude não tem absolutamente nada a ver com a idade. Juventude tem a ver com estado de espírito ativo e com vontade de viver bem e ser feliz. Deste modo, tem gente que nunca foi jovem, apesar de moço, e tem gente que está sempre jovem, independentemente da idade que tenha. Isto é, há muita gente de mais idade que é bastante jovem nos bons pensamentos e nas boas ações e há muito jovem que é extremamente arcaico e até carente desses nobres aspectos.

Por outro lado, é preciso dizer que os mais maduros constituem o cabedal ético, moral, intelectual e cultural da sociedade, pois nenhum moço aprende sozinho e alguns desses moços, muitas vezes se esquecem que o aprendizado é passado pela experiência dos temporalmente mais vividos. Ninguém, absolutamente ninguém, aprende nada sozinho. Na melhor das hipóteses, pelo menos, é preciso ler o que alguém escreveu, falou ou desenvolveu antes, mas geralmente é preciso muito mais que apenas isso. Quer dizer, a informação e o aprendizado que chega aos moços é necessariamente dependente de precursores, que, por óbvio, etariamente, são sempre os mais velhos. Aliás, é bom ressaltar que essa é uma regra na humanidade de abrangência universal.

Deste modo, é lamentável observar que está faltando, além de boa vontade, gentileza e bondade, principalmente de inteligência a muitos jovens que têm, tristemente, tratado os mais maduros como lixo social, inclusive com frases do tipo “velho tem que morrer”. O jovem precisa entender que o “velho” é um jovem que deu certo. Isso mesmo, porque só fica “velho” aquele jovem que dá certo. Depois que o indivíduo nasce, a única certeza que ele tem é de que vai morrer, todo o resto é dúvida. Alguns não dão certo e infelizmente morrem cedo, outros dão certo e morrem mais tarde.

A morte não é opcional, ao contrário ela é condicional e compulsória para qualquer ser vivo. Entretanto, no caso do ser humano, a maneira de chegar até a morte, na maioria das vezes, é uma escolha que se faz com a vida que se tem. Alguns encaram a vida com seriedade e trabalham com afinco para viver bem e outros apenas passam rapidamente pela vida, sem viver verdadeiramente, sua existência é apenas e tão somente uma consequência de ter nascido.  

Somente alguns daqueles jovens que trabalham com afinco para viver conseguem chegar a condição de ficar “velhos”, os demais geralmente acabam morrendo antes, ou seja, ainda “jovens”. Isto é, esses jovens acabam não dando certo e tem sua existência encurtada. Senhores jovens, por favor, pensem nisso e procurem investir mais seriamente em agir para viver mais e ser mais feliz.

A felicidade é muito mais do que apenas viver alegremente. A felicidade é transcendental e muitas vezes faz com que as pessoas se sintam sempre bem, ou melhor, se sintam sempre “jovens”, porque estão sempre buscando algo. Sonhar é algo que mantem a mente e o corpo do ser humano sempre na “juventude”, independentemente da idade cronológica. Contudo, é preciso acreditar e viver a plenitude do sonho de acordo com a realidade da vida que se tem.

Quer dizer, tem que sonhar com o pé no chão, objetivando alcançar e trabalhando com afinco para o sonho aconteça e se torne realidade. Pense que sua felicidade é uma ação coletiva, que envolve você e tudo à sua volta, ao longo de sua vida. Quer dizer, quando você está feliz, todos à sua volta também parecem estar felizes e, na verdade, estão mesmo e assim, tudo acontece progressivamente melhor.

De alguma maneira, parece que toda a sociedade está encantada e enganada pela mídia e acaba achando normal e aceitando os absurdos que acontecem. Assim, obviamente a culpa não é exclusiva dos jovens. Talvez, os jovens, pela própria pouca idade, ainda não possam, por si só, entender a verdadeira questão e cumpre aos demais membros da sociedade tentar acordá-los para a vida real, que precisa ser vivida com seriedade.

Afinal, cabe lembrar que, os jovens existentes são os filhos, netos e bisnetos dos mais maduros e todos nós juntos compomos a sociedade.  Entretanto, dá a impressão de que grande parte da sociedade está doente e por isso quase nada acontece em contrário aos visíveis absurdos que temos visto acontecer.  

Por conta dos aspectos acima citados, resolvi escrever esse pequeno texto e aproveitarei o espaço para fazer alguns questionamentos e deixar alguns recados aos cidadãos mais jovens do país. Sou ciente que não sou nenhum “Messias” e que não poderei resolver todos os problemas do mundo, mas quero manifestar minha opinião, haja vista minha convivência cotidiana com os mais jovens durante quase 50 anos na minha atividade profissional como professor.

Demonstrando os Fatos e Destacando os Problemas

Meus caros leitores, então entremos diretamente no assunto. Para não criar mais problemas e amenizar possíveis confusões interpretativas, quanto as minhas intenções nesse texto, doravante tratarei, aqui, os cidadãos mais jovens como “seres humanos de pouca idade” e os mais velhos como “seres humanos de mais idade”. Bem, então, vamos lá.

Começarei por citar 5 contatações mais que óbvias da humanidade.

1 – Todo ser vivo tem necessariamente antepassados, progenitores e genitores.

2 – Com os seres humanos, obviamente a condição da afirmativa acima não é diferente.

3 – Assim, todos nós temos antecedentes familiares, pais, avós, bisavós e por aí afora.

4 – É certo que nem todos os seres humanos conheceram todos os seus antecedentes, mas em algum momento obviamente eles existiram.

5 – Todo ser humano, que conviveu algum tempo com algum desses seus antecedentes, de alguma maneira e em dado momento, se relacionou positivamente com alguns deles.

Pois então, os seres humanos, tanto os de pouca idade, quanto os de mais idade, de maneira geral, costumeiramente têm excelentes relações com seus avós. Eu não sei o porquê, mas isto é um fato. Lembro aqui que os avós são os pais dos pais dos seres humanos de pouca ou de mais idade. Deste modo, cabe perguntar a qualquer ser humano: você respeita e gosta de seus avós? Você se dá bem com seus avós? Sua relação com seu avós é boa? Enfim, certamente na esmagadora maioria das vezes, tenho absoluta certeza de as respostas serão positivas.

Traduzindo isso, acredito que seja possível dizer que a esmagadora maioria dos seres humanos gosta e se relaciona bem com seus avós. Gravem bem essa afirmativa, porque ela é superimportante, haja vista que ela serve para nos comprovar que o problema não está na idade, pois ao avós são quase sempre seres humanos de mais idade e os netos são quase sempre seres humanos de pouca idade. Penso que a afinidade real está mais relacionada à proximidade familiar. Isto é, em geral, a maioria pensa assim: “os meus avós são bons, são alegres, são legais, são interessantes, mas os avós dos outros são feios, chatos, bobos, tristes e desinteressantes”.

Infelizmente, a maioria das pessoas aceita, os de mais idade que estão mais próximos, ou seja, que são do seu relacionamento, ainda que, algumas vezes, por pura obrigação e repudia os de mais idade que estão distantes ou que não são do seu relacionamento. Sinto afirmar, mas a palavra que melhor explica esse fenômeno é preconceito. Existe um preconceito contra os seres humanos de mais idade e geralmente só se aceitamos aqueles que, de alguma maneira, têm certa relação conosco.

É triste admitir, mas existe sim um preconceito contra os seres humanos de mais idade e isso precisa acabar para o bem da sociedade brasileira e quiçá, de toda humanidade. Como eu já disse, em geral, nós aceitamos os nossos, mas rejeitamos os demais. Isso é particularmente marcante nos seres humanos de pouca idade. O pior é que a mídia acaba reforçando esse lamentável contexto, com ações maldosas no que se refere aos de mais idade e a sociedade, além de não se manifestar contra esse tipo de ação absurda, ainda costuma achar tudo isso muito engraçado.

Entretanto, é exatamente aqui que surgem outras questões. Se a maioria das pessoas respeita e gosta de seus próprios avós, por que muitas delas, principalmente seres humanos de pouca idade, pelo menos, não respeitam os avós das outras pessoas? Por que esses seres humanos de pouca idade preferem fazer graça com os seres humanos de mais idade que não sejam próximos deles? O que os seres humanos de pouca idade imaginam para tratarem de maneira diferente os seres humanos de mais idade e socialmente distantes, daqueles seres humanos de mais idade socialmente próximos?

Eu realmente não consigo entender e acredito que eu não seja apenas o único a ter dificuldade no entendimento desse aspecto, que considero um “mal sociológico” e bastante crescente na modernidade. Entretanto, penso que esse “mal sociológico”, que é visível na sociedade brasileira necessita ser esclarecido e trabalhado, no sentido de que precisam ser envidados esforços para que esse mal hábito social costumeiro, possa ser evitado e, se possível, banido.

Deixando os Devidos Recados

A partir disso, creio que agora posso deixar aqui os meus recados para os seres humanos de pouca idade. Primeiramente devo dizer que qualquer ser humano, independentemente da idade, antes de qualquer coisa é um ser humano, uma pessoa, e não merece e nem pode ser desconsiderado e desrespeitado apenas por conta da idade que aparente ter ou que tenha efetivamente. É absurdo que a mesma sociedade que vive criando argumentos importantes para combater o preconceito contra várias questões (sexo, raça, religião, etc.), agora venha fortalecendo o preconceito contra a idade.

Em segundo lugar, devo dizer ainda que, os seres humanos de mais idade, mesmo não sendo seus avós ou pessoas próximas de vocês, muitos deles também são avós e certamente eles também são pessoas próximas de outros seres humanos de pouca idade como vocês. Por conta disso, merecem ser, pelo menos, respeitados pelos demais seres humanos, já que são seus semelhantes.

Em terceiro lugar, tente se lembrar que da mesma forma que vocês gostam e respeitam seus avós, os demais seres humanos de pouca idade também devem gostar e respeitar dos avós deles e assim, procure seguir aquela regra que diz: “não faça aos outros aquilo que você não quer para si mesmo”. Se você não quer que tratem mal os seus avós, então também não trate mal os avós dos outros seres humanos. Ou será que você só liga para seus avós quando está perto deles?

Em quarto lugar, procure se lembrar que você hoje é um ser humano de pouca idade, mas se você der certo, chegará também a ser um ser humano de mais idade e até poderá ser também o avô de alguém. Se isso acontecer, e eu sinceramente espero que aconteça, você não vai gostar que um ser humano de pouca idade fique gozando de sua cara, pelo simples fato de você ser um humano de mais idade. Isto é, dele estar gozando de um ser humano mais velho e que nesse caso é você mesmo.

Em quinto e último lugar, resta dizer que você, se quiser e se efetivamente vir a dar certo um dia, com o tempo você deixará de ser um ser humano de pouca idade e progressivamente se tornará um ser humano de mais idade. Nesse processo natural certamente você entenderá que idade é uma grande bobagem, porque você de fato nunca se sentirá efetivamente “velho” (de mais idade). Em condições normais, sua mente não permitirá que você se sinta incapaz para nada, ao contrário, sua mente terá necessidade de aprender sempre.

É claro que fisicamente o seu corpo irá progressivamente ganhar sempre mais problemas, porque esta é uma realidade física e biológica que nunca poderá ser totalmente resolvida. Ou seja, a idade realmente traz o enfraquecimento físico, que passa a ser cada vez mais visível, mas isso é natural e esse fato não lhe transforma num “ser menos humano”. A verdade é que nossa mente trabalha em função da nossa capacidade de conhecimento e quanto mais você aprende, mais você se sente “jovem”, independente da própria condição biofísica e da idade que possua.

Entretanto, apenas aqueles seres humanos que já viveram mais, aqueles que você chama de “velhos”, conseguem compreender melhor esse fato simples e até bestial, porém, como você ainda não viveu o bastante, talvez não entenda direito o que acontece. Invista no seu aprendizado, pesquisa mais sobre essa questão e procure viver bem como ser humano, que sua mente fará o resto e aí você comprovará o que estou dizendo.

Se você está aborrecido agora e querendo acabar comigo, não só porque sou “velho”, mas porque estou lhe orientando ou, se preferir, “dando conselhos”. Não se preocupe, porque no futuro você ficará ainda mais aborrecido, ao descobrir que, além de ter sido um “velho” quem lhe disse essas coisas, esse “velho” sabia o que estava falando e ele só sabia delas, exatamente por que era “velho”. Isto é, porque já tinha vivido algumas experiências que você ainda nem sabe que existem. Ou seja, qualquer ser humano de pouca idade tem muito que aprender, antes de criticar, gozar ou fazer chacota com qualquer ser humano de mais idade, sejam eles quem forem.

Por fim, quero dizer mais uma verdade insofismável para os seres humanos de pouca idade. Se, de fato, vocês quiserem viver bem, terem vida longa e chegarem à condição de seres humanos de mais idade, vocês precisam respeitar e sobretudo ouvir mais aqueles seres humanos de mais idade, como o “Tio Luiz” aqui, porque, independente do “Tio Google” e de toda informação nele contida, os seres humanos de mais idade são os arquivos vivos e verdadeiros do conhecimento humano.

É óbvio que dados são importante e certamente o “Tio Google” acumula muito mais dados que o “Tio Luiz”, entretanto o “Tio Google” não possui vivência sobre nenhum dos dados que pode descrever e assim certamente não é capaz de ensinar como o “Tio Luiz” e outros seres humanos são. A mídia em geral e o “Google”, em particular, são apenas ferramentas de uso informativo da Humanidade e não podem ser mais importantes do que as pessoas que vivenciam realmente os fatos. Desta maneira, a Humanidade não pode continuar sendo guiada por coisas, ideias ou máquinas que dizem (repetem) informações, mas que não sentem e não percebem, de fato, porque não têm nenhuma relação direta com essas informações.

Os seres humanos de mais idade e o conhecimento que acumularam em vida, certamente são melhores professores que os computadores para informar e ensinar aos seres humanos de pouca idade e precisam ser respeitados. Essa verdade precisa ser estabelecida na visão de nossa sociedade moderna, pois só assim garantiremos a efetiva humanidade dos seres humanos de pouca idade do presente e, principalmente, do futuro. 

Podem estar certos de que os seres humanos de mais idade sempre terão realmente muita coisa para ensinar aos seres humanos mais jovens e certamente serão seus melhores mestres, porque eles são seres humanos como vocês. Eles têm sensibilidade, falam, ouvem, conversam, orientam e discutem, além de simplesmente expor uma informação. Os “velhos” contam histórias emocionantes que o “Google” não conhece, porque o “Google” não é humano e não possui sentimentos.

Tem um ditado que diz que a gente aprende pelo amor ou pela dor. Eu sei que o “Google” e a mídia não doem, mas é óbvio que eles também não amam, porque eles são apenas mecanismos transmissores de informações “precisas” e vazias, que muitas vezes não servem para nada, principalmente em tempos de “fake news”. O “Google” é incapaz de criar uma situação que esclareça sua dúvida. É óbvio que ele até informa correto, mas não explica coisa nenhuma.  A mídia até poderia esclarecer algumas questões, mas geralmente ela tem outros interesses e assim, também age na contramão das verdadeiras explicações, como já foi dito, principalmente em tempos de “fake news”.

Conclusão

De qualquer maneira, a escolha será sempre da sociedade em que se vive, de sua cultura e de seus costumes. Assim, meus queridos e preclaros seres humanos de pouca idade, é óbvio que sempre será necessário que vocês, efetivamente, queiram continuar a aprender e adquirir novos conhecimentos e sobretudo, queiram continuar sendo seres humanos. O primeiro passo para que isso seja possível é o respeito e a consideração aos seres humanos de mais idade, pela história pessoal que cada um deles construiu ao longo do tempo de suas respectivas vidas.

Por fim, da próxima vez que você encontrar um ser humano de mais idade numa situação inusitada e desagradável, ao invés de rir, de gozar ou mesmo de menosprezar, procure ajudar e entender. A propósito, procure se lembrar também que, lá na frente, se você viver bastante, por questões biofísicas e puramente naturais, talvez, você possa viver aquela mesma situação e que certamente ficará magoado por ser humilhado por um ser humano igual a você, simplesmente por conta daquela fortuita ocorrência.

 É claro que existe uma forma de você ter certeza absoluta de que o fato não acontecerá com você: basta você morrer com pouca idade. Entretanto, acredito que você, assim como eu, também não pense que esta seja a melhor solução, mas acredite, ela é a única que existe. Desta maneira, faça o possível para viver mais tempo, seja ético e trate sempre muito bem os seres humanos de mais idade, ou como você prefere, “os velhos”, porque se você não morrer cedo, necessariamente você está caminhando para se tornar um deles.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo; Professor, Pesquisador, Escritos, Revisor e Ambientalista; Acadêmico da Academia Caçapavense de Letras – ACL, da Academia de Letras de Lorena – ALL e da Academia Rotária de Letras do Vale do Paraíba – ABROL Vale.